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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 217<br />

Essa polarização não é nova e as incoerências dizem muito a respeito do<br />

desafio de estabelecer relação entre as muitas possibilidades de experiência social.<br />

O que chama a atenção, contudo, é o assalto desse espaço do “fazer” por agentes e<br />

instituições não religiosas, principalmente pelo poder público, que ao entender a<br />

romaria como evento turístico promove uma série de “atrações” durante a estadia do<br />

romeiro, gerando expectativa de experiências não religiosas e mudanças no<br />

conteúdo das práticas e dos significados. Um exemplo disso é a compreensão da<br />

romaria como passeio, recorrente entre meus interlocutores.<br />

Diante do contexto de romarias, importa pensar que nem a estrutura é um<br />

sistema estático, nem a mudança é um desmantelamento da estrutura (SAHLINS,<br />

1999). Há continuidades, mas também há rupturas criativas. Nos deslocamentos de<br />

romeiros, contextos locais e apropriações do evento por agentes externos dão conta<br />

de movimentos ora de intensificação do religioso, ora de esfacelamento de práticas<br />

tradicionais, para em seguida serem desenvolvidos novos refluxos da atitude<br />

religiosa que se configuram como ajustes da prática a estruturas sociais, contextos<br />

locais e interesses diversos.<br />

Em Juazeiro do Norte, vários fatores se destacam e se agregam no<br />

estabelecimento do contexto atual de relações nas romarias. Destaco a combinação<br />

cidade, romaria e pessoas como eixo fundamental na constituição dos sentidos<br />

representados, por considerar sua inter-relação no jogo permanente entre as forças<br />

estruturadoras do evento. A partir desse feixe de relações, é possível compreender<br />

as romarias de um ponto de vista que descentraliza a noção de sagrado da análise e<br />

possibilita tomar como linha de reflexão elementos que normalmente aparecem de<br />

forma secundária em estudos sobre peregrinação. A cidade, por exemplo,<br />

normalmente é analisada no sentido de espaço sagrado, desconsiderando outros<br />

sentidos que a colocam como espaço de moradia e de práticas cotidianas para seus<br />

habitantes e que são importantes na compreensão das ressignificações das<br />

romarias, a partir do contexto de disputas simbólicas por apropriação que ali se<br />

opera. A cidade que cresce, desenvolve-se e moderniza-se em decorrência das<br />

romarias não é a mesma que é visitada pelos romeiros anualmente, mas é

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