ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 214 proporções será determinante nos quadros de continuidade ou mudança que marcarão essa sociedade ao longo do tempo. São muitos os fatores que podem influenciar nessa distribuição e estão assentados fundamentalmente em dois panoramas mais amplos, característicos do universo juvenil moderno: 1. A agregação de jovens em meios sociais 142 próprios que lhes permite tanto ampliar a convivência com indivíduos de sua mesma geração, quanto minimizar o poder controlador da família; e 2. O desenvolvimento de atitudes contestativas 143 ante a sociedade (NUNES, 1967). Os jovens romeiros, como geração social, aparecem como elemento central de tensionamento a respeito dos sentidos e ressignificações da romaria. Ao aderirem espontaneamente a práticas mais distanciadas do sentido religioso atribuído tradicionalmente ao evento, constituem-se elementos chaves no fortalecimento de práticas de viagem que se aproximam mais da lógica do mercado e do consumo que de expressões rituais de crenças. Isso não quer dizer que outras faixas etárias não estejam aderindo a práticas mais distanciadas do sentido devocional da romaria, mas o fazem concomitantemente aos compromissos religiosos, que permanecem considerados num plano prioritário de práticas, enquanto as demais assumem um aspecto circunstancial. Por outro lado, permanece um sentido de comunidade latente que estimula o fluxo para a cidade nas mesmas datas determinadas, inclusive com renovadas aderências por curiosidade a respeito da cidade e vontade de fazer romaria numa 142 Os meios sociais a que se refere o autor estão ligados ao avanço tecnológico, que permite a um número crescente de jovens adiar o ingresso no mercado de trabalho; a convivência geracional propiciada pelas instituições de ensino; e a redução das funções educacionais da família. 143 Os fatores que contribuem no surgimento das atitudes constestativas, segundo o autor, referemse: 1. Ao isolamento institucional e cultural em que se assentam determinados sistemas de ensino, que acabam por limitar a percepção dos jovens sobre a realidade e assim fomentar idealismos; 2. Ao progresso do conhecimento e a elevação do nível geral de ensino em contextos onde os jovens têm acesso a maiores níveis de participação na cultura que gerações anteriores; 3. A acentuação das divergências entre pautas reais que mostram como as pessoas agem e as pautas ideais, que apontam como deveriam agir nas sociedades industrializadas, cujo rompimento da passividade e de condutas tradicionais origina comportamentos desviados das pautas ideais; e 4. A aceleração de processos de criação e propagação de inovações, criando contextos diferentes que levam a mudanças na percepção de situações e problemas de uma geração para outra, de forma que os comportamentos e atitudes dos mais velhos parecem sempre ultrapassados, em relação às características da cultura e da sociedade.
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 215 perspectiva de participação da festa e, principalmente, pela influência de relatos de viagem. Eu venho ta pra mais de 12 anos todo ano com mãe pagar uma promessa. [...] Eu tenho que subir no Horto, visitar a estátua e visitar as igrejas [...] Não sei pra que é a promessa, foi meu pai que fez, mas sou eu que pago.[...] Vem a turma também e a gente vem pra tudo. A romaria é para ter fé, crer, não interfere em nada tomar uma cervejinha. A cerveja a pessoa não esquece de tomar. [...] Não posso lhe explicar o que a gente faz de noite. Se pintar... a gente que é jovem não pode negar fogo. [...] Primeiro eu cumpro a obrigação depois pra onde me chamarem eu vou porque a romaria é uma obrigação e um passeio. Mesmo se não tivesse obrigação eu faria todas as visitas que faço hoje, eu gosto de tá no meio do povo (CESAR, 23, 2007). Jovens sempre participaram da romaria, a novidade desse viés está em pensar o deslocamento se efetivando numa perspectiva mais individualista de ver a romaria como um passeio, que agrega atividades diversificadas dentro de um roteiro em que as atividades religiosas são apenas um item. Em paralelo, para gerações anteriores, a romaria acontecia por estímulo e influência da família, mas, acima de tudo, sob o controle desta, que tinha um papel introdutor do jovem romeiro no compromisso religioso da visitação anual. Para os jovens de hoje, há uma tendência de retornar mais estimulado pela repetição da experiência socializadora da festa, do encontro de pessoas e pela possibilidade de desligar-se do cotidiano, que pelo compromisso religioso.
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perspectiva de participação da festa e, principalmente, pela influência de relatos de<br />
viagem.<br />
Eu venho ta pra mais de 12 anos todo ano com mãe pagar uma promessa.<br />
[...] Eu tenho que subir no Horto, visitar a estátua e visitar as igrejas [...] Não<br />
sei pra que é a promessa, foi meu pai que fez, mas sou eu que pago.[...]<br />
Vem a turma também e a gente vem pra tudo. A romaria é para ter fé, crer,<br />
não interfere em nada tomar uma cervejinha. A cerveja a pessoa não<br />
esquece de tomar. [...] Não posso lhe explicar o que a gente faz de noite. Se<br />
pintar... a gente que é jovem não pode negar fogo. [...] Primeiro eu cumpro a<br />
obrigação depois pra onde me chamarem eu vou porque a romaria é uma<br />
obrigação e um passeio. Mesmo se não tivesse obrigação eu faria todas as<br />
visitas que faço hoje, eu gosto de tá no meio do povo (CESAR, 23, 2007).<br />
Jovens sempre participaram da romaria, a novidade desse viés está em<br />
pensar o deslocamento se efetivando numa perspectiva mais individualista de ver a<br />
romaria como um passeio, que agrega atividades diversificadas dentro de um roteiro<br />
em que as atividades religiosas são apenas um item. Em paralelo, para gerações<br />
anteriores, a romaria acontecia por estímulo e influência da família, mas, acima de<br />
tudo, sob o controle desta, que tinha um papel introdutor do jovem romeiro no<br />
compromisso religioso da visitação anual. Para os jovens de hoje, há uma tendência<br />
de retornar mais estimulado pela repetição da experiência socializadora da festa, do<br />
encontro de pessoas e pela possibilidade de desligar-se do cotidiano, que pelo<br />
compromisso religioso.