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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 207<br />

Ana Lucia cresceu ouvindo os familiares falarem da romaria, mas o pai, que<br />

era evangélico, nunca quis que ela viesse. “Ele não proibia, mas sempre dizia para<br />

minha vó que religião não é coisa de romeiro, que os romeiros inventaram outra<br />

bíblia pra seguir”. Segundo Ana Lucia, por não querer problema com o genro, a avó<br />

nunca fez muita insistência para levar os netos durante a romaria, mas, depois que<br />

ele morreu, foi a própria Ana Lucia que pediu para vir. Sua motivação se assentava<br />

nas narrações das amigas que já tinham vindo e diziam que era um passeio muito<br />

bom, com muita gente e muita animação. Uma delas, inclusive, estava namorando<br />

um rapaz de Gravatá (PE) que tinha conhecido aqui.<br />

Para Ana Lucia, a primeira viagem não foi muito boa porque fazia muito calor<br />

e faltou água no rancho, mas principalmente porque tinha muitos velhos no grupo<br />

que fez a “excursão”, o que direcionava as atividades durante a estadia para o<br />

objetivo exclusivamente religioso. “É porque os velhos não estão ligados nas outras<br />

coisas da cidade, tem muito mais coisas que igrejas aqui”. Nesse momento, seu<br />

argumento sobre romaria passa a se desenvolver numa noção de que a viagem não<br />

pode ser desperdiçada só com as práticas religiosas, por haver “muita coisa para<br />

aproveitar”. Dessa vez, conheceu o shopping e teve mais oportunidade de<br />

experimentar as coisas da cidade porque tem mais “gente nova” no grupo que “sabe<br />

aproveitar mais a romaria”.<br />

Como romeira, ela me diz que não se sente muito católica, nem evangélica,<br />

“nem nada”. Mas acha que em Juazeiro tem uma força sagrada, “é tanta fé que tem<br />

hora que dá vontade de chorar nas Igrejas e no Horto, eu queria ter essa certeza,<br />

acho que ainda tenho jeito [risos], mas não sinto como minha vó. Juazeiro não é um<br />

céu, é só uma cidade”.<br />

Sobre o Padre Cícero, Ana Lucia o situa como “um homem bom” que<br />

pensava no futuro e dava bons conselhos para o povo e finaliza: “É bom visitar<br />

porque a gente escuta e vê coisas diferentes. Também faz coisas diferentes. Não é<br />

ser turista porque tem a religião e quem quer ser turista não vem pra aqui”.

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