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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 204<br />

sua mãe falecida, que era devota de Padre Cícero, soprou o nome dele no seu<br />

ouvido.<br />

Embora encerrada no domínio familiar, Orlandina conta que viveu bem a<br />

vida. A diversão de sua juventude eram as novenas de maio e as festas de santo.<br />

Refere-se aos santos juninos e aos festejos com danças, quadrilhas e simpatias<br />

para arranjar marido com olhos risonhos e saudosos. Pra missas “ia uma vez na<br />

vida”, faltava padres nas capelas dos sítios, mas ela sempre rezava uma Ave Maria<br />

antes de dormir para as almas do purgatório.<br />

Quando tinha 25 anos, Orlandina adoeceu “dos nervos” e, por conta do<br />

tratamento, precisou instalar-se na casa de uma parenta na cidade. Ali, conheceu<br />

uma família que viajava todos os anos em romaria para Juazeiro do Norte. A viagem<br />

era longa e cheia de sacrifícios, mas o povo do lugar narrava maravilhas e graças<br />

alcançadas em longos relatos durante as conversas de calçada antes da hora de<br />

recolher-se para dormir. Num momento posterior, Orlandina me confessou que<br />

aqueles relatos faziam-na imaginar Juazeiro como um céu, pois já não lembrava de<br />

sua primeira visita já que era muito pequena. Era tanta história diferente sobre os<br />

“bem feitos” do Padre, que ela sentia-se como uma ingrata de não ter lhe dado a<br />

devoção que ele merecia, por ter lhe valido nas vezes que o invocou. Sentia-se em<br />

débito com ele e a perspectiva de fazer a romaria passou a preencher os seus<br />

pensamentos, mas não tinha dinheiro para fazer a viagem. Ao dizer que queria vir<br />

para Juazeiro, várias pessoas lhe ofereceram dinheiro, até que ela conseguiu 30<br />

cruzeiros novos. A oferta de dinheiro para fazer a viagem foi considerada por ela<br />

uma articulação do Pe. Cícero: “Tudo deu certo para eu vir a Juazeiro, era porque<br />

ele [o padre] me queria aqui, ele tava me chamando”.<br />

A viagem durou dois dias porque o caminhão quebrou no caminho. Tudo que<br />

acontecia o grupo tomava como penitência. Muita gente vinha em jejum pra só<br />

comer quando chegasse a Juazeiro e ninguém passou mal, era rezando o rosário e<br />

fazendo a ladainha de Nossa Senhora e das Almas do purgatório. Orlandina conta<br />

que tudo se passava como num sonho e ela tinha medo de acordar:

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