ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 172 ensinamentos”, “seguir as coisas de Deus”, “rezar” entre outras semelhantes (ver tabela 18). Essas concepções remetem para uma noção indicativa de que ser romeiro é sinônimo de ter fé, significa ser devoto do Padre Cícero, ser fiel a um santo ou a Deus. A dimensão de movimento que envolve a romaria é percebida pelos participantes da amostra em 13,61% das respostas que envolvem a noção de viagem e visitação, relacionando-as a conteúdos religiosos, mas principalmente com a idéia de compromisso e ligação com o lugar. Para 6,80% dos participantes da amostra a romaria reveste-se de significados representados como práticas que envolvem algum tipo de conduta moral e compreendem o jeito de ser no cotidiano e um legado de conduta social, relacionado a interações com efeito de alteridade, destacando-se expressões como: “ser bom”, “ter boa vontade”, ‘fazer a coisa certa”, “viver em união”. As demais respostas, correspondentes a 9,5% do total, assumiram um caráter muito aberto e dizem respeito a uma dimensão mais ampla da romaria que reporta ao sentimento de gratidão, tradição, pertença, realização e destino. Ser romeiro f % Ter fé 98 28,99 Disposições religiosas 84 24,85 Fazer penitência 55 16,27 Noção de fluxo e 46 13,61 movimento Disposições morais 23 6,80 Não sabe dizer 9 2,66 Outras respostas 36 10,65 Total 351 Tabela 18: Distribuição da amostra segundo evocação livre da noção de “ser romeiro” Juazeiro do Norte, 2009. Considerando a relação construída entre turismo e romaria e a disposição de metade dos romeiros em compreendê-la como um passeio, a resposta a respeito das aproximações entre essas noções dá conta de uma clara distinção entre os participantes da amostra, ao cotejar esses conceitos segundo pontos de vista nativos. Entre os romeiros da pesquisa, a noção de turismo religioso não se aplica à romaria para 71,01% e, embora possam acontecer no mesmo palco de eventos, tem objetivos opostos (ver Tabela 19). Com explicações sempre espontâneas, turismo
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 173 tem significados de diversão, compreendendo a idéia de festa, passear e conhecer outros lugares, e no qual se destacam as expressões: “é para brincar”, “curtir”, “bagunça”, “folia”, “farra”, “bebedeira” e “é o desmantelo da vida”. Há respostas recorrentes que indicam diferenças entre turismo e romaria, remetendo a características dos lugares que são destinos de viagem e ao tempo de permanência. Assim é que compreendem os lugares de romarias como aqueles que atraem mais visitas: “aqui [Juazeiro] tem mais pessoas”; “aqui a cidade é maior”; no “turismo os espaços são menores”. No comparativo entre romaria e turismo, romaria é considerada em respostas espontâneas, uma ação “melhor” que turismo: “romaria é que é bom”; “romaria faz bem”; “romaria é mais proveito”; “romaria é melhor”; “romaria só encontra felicidade”; “Deus gosta da romaria”; “o certo é fazer romaria”. Há ainda um elenco de diferenças subjetivas que refere-se a condição em que esses eventos são evocados, de forma que “depende da intenção”, pois “os costumes são diferentes” e as “direções [sentidos] diferentes”. Para estes, não são as diferenças de lugares que caracterizam as distinções entre turismo e romaria, mas sim as transformações nos espaços da cidade e o período de tempo despendido na atividade. A cidade muda porque “romaria depende das datas”, e “no turismo a cidade é normal”. A diferença também está no tempo de permanência: “a romaria é só nos quatro dias”. Além de distintas temporalidades, no paralelo turismo/romaria, o turismo se configura nas palavras dos romeiros além de “mais abrangente”, “são mais dias”, como possuidor de uma qualidade fútil, pois “turismo é vaidade”, “no turismo muitas pessoas só compram e bebem”, “turista não reza”, “turismo é descanso”, “turismo é coisa de rico”, “turismo é luxo”, “coisa de quem tem dinheiro”, “é só para gastar”. Turismo é romaria? f % Não 240 71,01 Não sei 67 19,82 Sim 31 9,17 Total 338 100 Tabela 19: Distribuição da amostra segundo evocação livre da noção de “ser romeiro” Juazeiro do Norte, 2009.
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ensinamentos”, “seguir as coisas de Deus”, “rezar” entre outras semelhantes (ver<br />
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santo ou a Deus. A dimensão de movimento que envolve a romaria é percebida<br />
pelos participantes da amostra em 13,61% das respostas que envolvem a noção de<br />
viagem e visitação, relacionando-as a conteúdos religiosos, mas principalmente com<br />
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envolvem algum tipo de conduta moral e compreendem o jeito de ser no cotidiano e<br />
um legado de conduta social, relacionado a interações com efeito de alteridade,<br />
destacando-se expressões como: “ser bom”, “ter boa vontade”, ‘fazer a coisa certa”,<br />
“viver em união”. As demais respostas, correspondentes a 9,5% do total, assumiram<br />
um caráter muito aberto e dizem respeito a uma dimensão mais ampla da romaria<br />
que reporta ao sentimento de gratidão, tradição, pertença, realização e destino.<br />
Ser romeiro f %<br />
Ter fé 98 28,99<br />
Disposições religiosas 84 24,85<br />
Fazer penitência 55 16,27<br />
Noção de fluxo e<br />
46 13,61<br />
movimento<br />
Disposições morais 23 6,80<br />
Não sabe dizer 9 2,66<br />
Outras respostas 36 10,65<br />
Total 351<br />
Tabela 18: Distribuição da amostra segundo evocação livre da noção de “ser romeiro” Juazeiro do<br />
Norte, 2009.<br />
Considerando a relação construída entre turismo e romaria e a disposição de<br />
metade dos romeiros em compreendê-la como um passeio, a resposta a respeito<br />
das aproximações entre essas noções dá conta de uma clara distinção entre os<br />
participantes da amostra, ao cotejar esses conceitos segundo pontos de vista<br />
nativos. Entre os romeiros da pesquisa, a noção de turismo religioso não se aplica à<br />
romaria para 71,01% e, embora possam acontecer no mesmo palco de eventos, tem<br />
objetivos opostos (ver Tabela 19). Com explicações sempre espontâneas, turismo