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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 16<br />

possível e perpetuam a existência de tal forma social remete ao núcleo de<br />

representações que, por serem consideradas legítimas por seus participantes,<br />

repercutem na manutenção dessa prática e, como rito, cria um contexto privilegiado<br />

onde se busca respostas às necessidades. De acordo com DaMatta (1997), tal<br />

contexto também oferece condições para a tomada de consciência do mundo,<br />

transformando o natural em social, sem limitar-se à repetição ou a rigidez de um<br />

script; e uma visão alternativa da sociedade para os seus membros, ambígua porque<br />

nem é como o cotidiano, nem como poderia ser, dada a sua condição<br />

essencialmente passageira, mas indica formas de continuidade não rituais através<br />

das experiências que proporciona num contexto ampliado de relações sociais.<br />

Estudar as romarias possibilita uma análise que incorpora, além do lazer e<br />

consumo, as tensões e contradições vivenciadas pelos agentes envolvidos. As<br />

ressignificações do evento adaptadas ao novo tempo de incentivos do turismo e as<br />

formas de relacionamento desses significados foram criando categorias<br />

diferenciadas, mas há um momento em que essas funções sociais se confundem.<br />

Tanto o romeiro é atraído por aspectos lúdicos da viagem como outros participantes<br />

são atraídos pelos próprios romeiros. A trajetória em si, desde a saída de casa até<br />

Juazeiro do Norte delineia um eclético roteiro de visitação, como uma espécie de<br />

remissão daquilo que lhes falta. É nesse aspecto que me inspiro na afirmação de<br />

Geertz (2001, p. 155) de que “o mundo não funciona apenas com crenças. Mas<br />

dificilmente consegue funcionar sem elas”. Embora essa distinção entre a<br />

racionalidade pragmática da versão científica da realidade e a escatologia<br />

vivenciada na religião seja exaustivamente procurada, percebe Geertz que “não há<br />

uma luminosa linha divisória entre as preocupações com o eterno e as do cotidiano,<br />

aliás, praticamente não vemos linha divisória alguma” (GEERTZ, 2001, p. 153).<br />

Em Juazeiro do Norte, sagrado e profano se sobrepõem. Distingui-los implica<br />

em tentativa de compreender as relações e conflitos dessas dimensões. Operar uma<br />

classificação a partir das noções de sagrado e profano, buscando o sentido ou as

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