ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 152 menores índices de escolaridade: 27% nunca frequentaram a escola e 24% apenas sabem ler e escrever. Entre estes prevalecem sentidos conservadores da romaria relacionados à penitência, sacrifício, respeito ao sagrado e comportamento piedoso centrado na prática de orações. A segunda posição diz respeito aos que consideram diversão estar na igreja, assistir missas, rezar e acompanhar a programação religiosa. Ao conceber as práticas religiosas como diversão, essa categoria situa-se de forma intermediária em relação às concepções de romaria, criando uma noção própria de religião como diversão. Entre estes a prática religiosa é prazerosa e capaz de provocar alegria e bem estar. Como se diverte na romaria f % Na igreja, rezando ou na missa 107 31,65 Nas praças 81 23,96 Não me divirto 65 19,23 Passeando ou caminhando 33 9,76 Indo a outras cidades/ balneários 23 6,80 Conversando e conhecendo pessoas 21 6,21 Em bares 16 4,73 Olhar 14 4,14 Outras respostas 31 9,17 Tabela 6: Distribuição da amostra por práticas de diversão durante a romaria. Juazeiro do Norte, 2009. A terceira posição situa aqueles que vivenciam momentos de diversão na romaria distintos das práticas religiosas, compreendendo 55% dos participantes da amostra. Para estes a romaria propicia espaços diferenciados de sociabilidade que favorecem momentos de lazer e diversão, situando-os num cenário que possibilita interações e vivências pessoais indisponíveis no cotidiano, marcando de forma ora implícita, ora explicitamente a romaria como uma experiência significativa do olhar. Essas vivências relacionam-se a permanência em praças, bares, deslocamento a clubes e balneários situados nos sopés da Chapada do Araripe, passeios pela cidade e contemplação do panorama urbano e interações em rodas de conversas com moradores ou outros romeiros. Outros aspectos relacionados à diversão na romaria, situam como respostas mais freqüentes: fazer compras, ir a parques de diversões e cantar nas celebrações.
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 153 Em relação às práticas ou atitudes caracterizadas como típicas da romaria e que ritualizam as relações com o sagrado, as maiores recorrências dizem respeito: 1. Ao recolhimento de água em vários pontos da cidade que é considerada milagrosa e capaz de curar diversas enfermidades; à execução de percurso a pé ao Horto, onde está a estátua do Pe. Cícero em que o percurso feito a pé corresponde a uma espécie de via sacra 112 que marca o sofrimento de Jesus e compreende uma subida relativamente íngreme em estrada de pedra por cerca de dois quilômetros; o oferecimento de velas geralmente para Pe. Cícero e Almas do Purgatório; e uso do chapéu característico do romeiro que é solicitado durante determinado momento do culto como a “Despedida do Chapéu”, quando os romeiros erguem o chapéu e acenam para o alto ao fim das celebrações na romaria (ver tabela sete). Idade De 16 a 30 anos De 31 a 45 anos De 46 a 60 anos De 61 a 75 anos Mais de 75 anos Total Faz algum percurso de joelhos Sobe a colina do Horto a pé Usa alguma vestimenta específica Acende velas Solta fogos Recolhe água com finalidade Mágico/mística Usa chapéu do romeiro Usa rosário no pescoço 2 46 13 44 21 51 29 15 14 52 12 52 28 46 39 11 34 68 18 80 35 82 84 39 20 55 11 69 33 51 74 34 6 10 6 14 8 13 14 8 76 231 60 259 125 243 240 107 Total % 22,49 68,34 17,75 76,63 36,98 71,90 71,01 31,65 Tabela 7: Distribuição da amostra por idade, segundo a realização de práticas características do comportamento romeiro tradicional. Juazeiro do Norte, 2009. O chapéu é considerado uma espécie de símbolo do romeiro, geralmente de palha, é relacionado a uma forma de trajar típica do homem do campo, que o utiliza por precisar permanecer por extensos períodos sob o sol inclemente, durante a sua lida com a terra. Na romaria o chapéu tem uma função quase de marcador da diferença, pois os romeiros são conhecidos pelo seu uso numa terra que há muito se urbanizou, onde não se usa chapéu e cuja população de moradores utiliza 112 A via Sacra do Horto caracteriza-se pela presença de estações representando as principais cenas de Jesus Cristo no calvário. O ritual nesse trajeto consiste em orar diante de cada uma das 12 “estações”. As estações são painéis moldados em concreto medindo cerca de 1 metro de altura por 1,2 metros de largura. A obra, esculpida em areia e cimento, foi realizada originalmente pelo artista local Franciné em 1989 e sofreu várias restaurações após as romarias. Curiosamente, os romeiros continuamente danificam as imagens dos soldados que acompanham o Cristo, quebrando-lhes as mãos e cabeças.
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 153<br />
Em relação às práticas ou atitudes caracterizadas como típicas da romaria e<br />
que ritualizam as relações com o sagrado, as maiores recorrências dizem respeito: 1.<br />
Ao recolhimento de água em vários pontos da cidade que é considerada milagrosa e<br />
capaz de curar diversas enfermidades; à execução de percurso a pé ao Horto, onde<br />
está a estátua do Pe. Cícero em que o percurso feito a pé corresponde a uma espécie<br />
de via sacra 112 que marca o sofrimento de Jesus e compreende uma subida<br />
relativamente íngreme em estrada de pedra por cerca de dois quilômetros; o<br />
oferecimento de velas geralmente para Pe. Cícero e Almas do Purgatório; e uso do<br />
chapéu característico do romeiro que é solicitado durante determinado momento do<br />
culto como a “Despedida do Chapéu”, quando os romeiros erguem o chapéu e<br />
acenam para o alto ao fim das celebrações na romaria (ver tabela sete).<br />
Idade<br />
De 16 a 30 anos<br />
De 31 a 45 anos<br />
De 46 a 60 anos<br />
De 61 a 75 anos<br />
Mais de 75 anos<br />
Total<br />
Faz algum<br />
percurso<br />
de joelhos<br />
Sobe a<br />
colina do<br />
Horto a pé<br />
Usa alguma<br />
vestimenta<br />
específica<br />
Acende<br />
velas<br />
Solta<br />
fogos<br />
Recolhe água<br />
com finalidade<br />
Mágico/mística<br />
Usa<br />
chapéu do<br />
romeiro<br />
Usa<br />
rosário no<br />
pescoço<br />
2 46 13 44 21 51 29 15<br />
14 52 12 52 28 46 39 11<br />
34 68 18 80 35 82 84 39<br />
20 55 11 69 33 51 74 34<br />
6 10 6 14 8 13 14 8<br />
76 231 60 259 125 243 240 107<br />
Total<br />
% 22,49 68,34 17,75 76,63 36,98 71,90 71,01 31,65<br />
Tabela 7: Distribuição da amostra por idade, segundo a realização de práticas características do<br />
comportamento romeiro tradicional. Juazeiro do Norte, 2009.<br />
O chapéu é considerado uma espécie de símbolo do romeiro, geralmente de<br />
palha, é relacionado a uma forma de trajar típica do homem do campo, que o utiliza<br />
por precisar permanecer por extensos períodos sob o sol inclemente, durante a sua<br />
lida com a terra. Na romaria o chapéu tem uma função quase de marcador da<br />
diferença, pois os romeiros são conhecidos pelo seu uso numa terra que há muito se<br />
urbanizou, onde não se usa chapéu e cuja população de moradores utiliza<br />
112 A via Sacra do Horto caracteriza-se pela presença de estações representando as principais cenas<br />
de Jesus Cristo no calvário. O ritual nesse trajeto consiste em orar diante de cada uma das 12<br />
“estações”. As estações são painéis moldados em concreto medindo cerca de 1 metro de altura por<br />
1,2 metros de largura. A obra, esculpida em areia e cimento, foi realizada originalmente pelo artista<br />
local Franciné em 1989 e sofreu várias restaurações após as romarias. Curiosamente, os romeiros<br />
continuamente danificam as imagens dos soldados que acompanham o Cristo, quebrando-lhes as<br />
mãos e cabeças.