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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 148<br />

ou ajudas inesperadas para fazer a viagem, á ainda compreendido sob a forma de<br />

um desejo intermitente interpretado como voz do divino que fala ao coração:<br />

Teve ano, esse mesmo foi um deles que eu não tive dinheiro para vim, mas<br />

eu disse: eu só não vou se ele não me chamar, e ele me chamou que eu<br />

arrumei o dinheiro, um real aqui, outro ali e vim... [...] O chamado é assim:<br />

Faz de conta que eu moro aqui, certo? Eu to com um problema na minha<br />

perna e a viagem é amanhã, vamos dizer assim uma hora. Tudo vai ao<br />

contrário como se não fosse dar certo,nem dinheiro eu tenho! De repente eu<br />

quero ir e eu tenho fé em meu Padrinho Cícero que eu vou aí peço um real<br />

a um, um real a outro... E dá tudo certo e eu venho. Até porque o melhor da<br />

viagem é você contar com amigos e parentes também (ESMERALDA, 26,<br />

2006).<br />

A noção de tradição familiar ou incentivo familiar para participação da<br />

romaria precisa ser pensada em correlação a outro dado da pesquisa. Aos que<br />

tinham feito a romaria mais de uma vez, havia uma questão específica que<br />

perguntava o motivo da primeira romaria e entre estes, 71 romeiros (21,01%)<br />

atribuíram sua primeira romaria a este motivo. Na tabela quatro esta motivação para<br />

realização da romaria aparece com maior frequência entre os romeiros que estão<br />

fazendo a romaria pela primeira vez. Isso pode indicar duas coisas que procurei<br />

sustentação por meio de entrevistas: 1. A família tinha maior poder de pressão no<br />

passado, impondo de forma direta ou indireta a participação dos filhos na romaria e<br />

marcando com isso a motivação; e 2. A pressão familiar por si só não é responsável<br />

pela manutenção do hábito. O romeiro efetivamente é voluntário e adere à romaria<br />

de acordo com uma disposição que é pessoal, constituindo um compromisso ora<br />

consigo mesmo e sua satisfação, ora com o transcendente.<br />

A motivação que encerra a romaria num quadro de devoção, embora<br />

associada à noção de aliança, aparece distinta de uma condição de obrigação<br />

mútua com o santo e situa-se mais no plano afetivo da adoração ao representante<br />

divino. Nesse sentido, entre os que dizem participar da romaria porque tem fé ou é<br />

devoto, o sentimento predominante é mais de alegria que de alívio correspondente<br />

ao cumprimento de uma obrigação.

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