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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 147<br />

Eu tive um problema no meu joelho direito e fiquei quase aleijada. Passei<br />

cinco anos andando quase me arrastando. Minha filha me ajudando. Aí eu<br />

fiz uma promessa, muita gente dizia: “faça uma promessa sacrificosa”. Aí eu<br />

fiz uma promessa. Aí eu vim pra Juazeiro nos pés de meu Padrinho Cícero,<br />

na estátua lá em cima, no Horto. Eu fiz uma promessa que se eu não<br />

precisasse me operar e ficasse boa, um ano depois eu viria aqui, que ta<br />

agora completando um ano, completou ontem um ano. Eu vinha vestida na<br />

roupa de Nossa Senhora das Dores e na Bata branca de meu Padrinho<br />

Cícero, era a roupa que eu usava aqui e ia s em todas as igrejas do<br />

Juazeiro de pés descalços e assim tô fazendo, tô pagando, passo o dia em<br />

uma igreja, depois passo o dia em outra e tô assim pagando a minha<br />

promessa e fiquei boa. Meu médico tirou a radiografia do meu joelho e eu<br />

tenho em casa todos os exames. Eu fiquei boa do meu joelho e ele disse<br />

que foi um milagre. [...] Depois que eu fiz a promessa eu não tomei mais<br />

medicamento nenhum e fui para o médico fazer novos exames para saber<br />

quando ia ser marcada a minha operação porque eu já estava para operar o<br />

joelho, que eu passei cinco anos extraindo água e pus do meu joelho.<br />

[Choro e pranto] Eu quase morro de alegria [Quando soube que não ia<br />

precisar operar]. Só foi o que aconteceu de bom... eu quase morro. Eu tava<br />

aleijada, eu ia para o banheiro era minhas filhas que me levavam. Cinco<br />

anos e eu fiquei boa! Todo sacrifício pra vim é pouco [...] Eu tenho muita<br />

paz. Assim dentro de mim eu estou recebendo muita paz e eu já fiz outra<br />

promessa que é para ele me dê mais saúde, mais do que já tenho, né?<br />

Saúde para eu continuar vindo até o final da minha vida, porque eu tenho<br />

assim que o tipo de uma chama, um ímã assim de coisa boa, um ímã bom<br />

que diz assim “Vai que é o teu dia, vai que é o dia de tu ir olhar tudo de<br />

novo”. Eu tenho pra mim assim, porque eu não esperava nem de eu vim. Eu<br />

pensava: “Será que eu vou meu Deus, será que eu vou estar boa? E tô<br />

aqui. É cinco dias que eu tô só pelas igrejas. (GEDALVA, 53, 2006).<br />

Também cresce a motivação por obrigação em proporção ao número de<br />

viagens. Isto está estreitamente relacionado à noção de aliança com o santo. A idéia<br />

de chamado, muito corrente entre os relatos dos romeiros, aparece como motivação<br />

mais freqüente em duas faixas etárias: 1. Entre os indivíduos que fazem os primeiros<br />

retornos (2ª a 5ª vez que participa da romaria), 60% estão entre 37 e 45 anos, não<br />

havendo recorrência a esta motivação entre participantes com idade inferior a 37<br />

anos; e 2. Entre os que se situam na faixa que aponta a recorrência de participação<br />

em mais de 20 romarias, tendo 70% dos participantes idade superior a 60 anos.<br />

O chamado, de acordo com Barbosa (2007, p. 62), “não é apenas a<br />

concretização de um desejo e fruto da própria iniciativa, mas muito mais um<br />

acontecimento capaz de alterar toda uma vida e modificar as relações na família e<br />

no grupo”. Às vezes acontece sob a forma de um sonho com o Padrinho, outras<br />

vezes se configura em encaminhamentos sem dificuldades para realizar a romaria

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