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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 137<br />

À noite, resolvi acompanhar a turma dos novos romeiros que decidiram ir<br />

para a missa na Igreja Matriz. Entre eles ninguém pareceu prestar atenção na<br />

homilia. Na verdade, o interesse era na programação de um parque de diversões<br />

situado na área de entorno da igreja. Depois da missa, percebi que muita gente<br />

circulava por ali e meus acompanhantes, seis ao todo, se dividiam entre o interesse<br />

provocado pelas bancas de bugigangas iluminadas e que faziam reluzir peças de<br />

bijuteria brilhante, relógios e diversos artigos de procedência chinesa e de má<br />

qualidade; e pelas próprias pessoas que ali também circulavam. Havia um clima de<br />

paquera e uma satisfação pelo simples deambular, ver e ser visto. Depois de<br />

algumas cervejas num bar da própria feira, voltamos para casa e os rapazes, após<br />

deixar as moças em casa, saíram novamente e voltaram embriagados por volta das<br />

duas da manhã. A essa altura haviam acertado de ir ao Balneário do Caldas no dia<br />

seguinte.<br />

Pela manhã do terceiro dia, após o sermão de Dona Teodora, suas netas<br />

desistiram de acompanhar o grupo que ia ao Caldas e decidiram retornar ao centro<br />

comercial, para dar conta de uma das listas de compras composta mais de<br />

presentes, lembranças da romaria e encomendas, que de artigos de uso pessoal. A<br />

essa altura já havia certa inquietação com o retorno, que seria na madrugada do dia<br />

seguinte. As conversas no interior da casa giravam em função da discussão sobre a<br />

reabilitação do Padre Cícero na Igreja. As opiniões são difusas e emblemáticas de<br />

vários lugares que ele ocupa no imaginário popular:<br />

Ave Maria! Meu Padim se já não é santo, agora vai ser. Por mim não quero<br />

nem saber desse pra lá e pra cá porque pra mim ele sempre foi santo! Eu<br />

quero saber é se Deus precisa de papel pra dizer que ele é Deus. Agora<br />

esse povo novo que não sabe de nada, que não entende nem de Meu<br />

Padim, nem de Nossa Senhora, que vem só de fantasia, pra esses é mais<br />

um santo na lista que não vai, nem vem (VALDETE, 51, 2007).<br />

Ele não é santo e olhe que eu tenho maior respeito, porque santo é coisa de<br />

igreja e a igreja não botou ele pra fora? Agora pra que botar a placa de<br />

santo, se ele não precisa disso pra ajudar nós tudim? (ISIDORO, 39, 2007)<br />

Mas ele disse: “A igreja me tira e a igreja me bota de volta”. Eu acho que é<br />

muito importante isso porque tem muita gente que fala mal, gente que<br />

desconfia, assim que pensa o mal. Eu mesma já ouvi muita coisa ruim do

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