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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 136<br />

que os filhos, a família e a mulher desconfiassem. Comecei a pensar em sua<br />

estratégia e percebi porque eles (os dois senhores) pareciam não se encaixar desde<br />

o início ao contexto do grupo: havia uma manobra de ocultação na multidão.<br />

Primeiro, vinham sem a companhia da família, depois se separavam do grupo com o<br />

qual partilharam transporte e hospedavam-se em meio a desconhecidos.<br />

Na manhã seguinte, o responsável pelo portão estava exausto. Não dormira<br />

quase nada, tendo que se levantar durante toda a noite para dar entrada a gente<br />

que chegou até as quatro horas da manhã e logo após, às quatro e meia, várias<br />

pessoas já se organizavam para ir ao Horto a pé ou à missa das cinco horas.<br />

Durante o segundo dia, principalmente a partir do começo da tarde, havia<br />

um clima de relaxamento e alegria na casa, muitas risadas, conversas e contação de<br />

causos. Efetivamente, era como se o dever estivesse cumprido e tudo que viesse a<br />

seguir fosse experiência extra de satisfação pessoal, livre de qualquer obrigação.<br />

Parte das conversas passou a girar em torno da aquisição de artigos religiosos e<br />

outras demandas materiais, a serem satisfeitas no comércio local. Outra parte<br />

referia-se a relatos de experiências e narrativas sobre os lugares sagrados, que ao<br />

mesmo tempo em que informava, fixava impressões, num discurso muitas vezes<br />

pontuado pela intenção de fortalecer as dimensões da “força” de Juazeiro do Norte<br />

em questões de cura e de encaminhamentos diversos para a vida. Nesse discurso<br />

há uma imbricação entre o Padre Cícero e a cidade, entre a força do divino e a<br />

materialidade dos lugares, como aparece na fala a seguir:<br />

Zé de Noca, num sei não, nunca tinha visto um caba mais desaprumado<br />

que nem aquele. Tinha hora que era bebo pelos canto, num servia pra<br />

nada. Dona Toinha, coitada, só fazia rezar. Teve uma vez que ele ficou foi<br />

mais de mês, sem dar conta de nada, só na cachaça. A cachaça era a<br />

comida e a bebida. Nós teve um dia que se juntar pra dar um banho nele,<br />

podre que nem um cachorro, de mijo e tudo. Pois Dona Toinha, a bichinha,<br />

num tinha sossego e fez uma promessa com Meu Padim e trouxe ele. Por<br />

sorte ele num deu trabalho... Ora, por sorte, nada! É a força de Meu Padim<br />

que quando você vem chegando no Juazeiro, ele já tomou de conta e você<br />

tendo fé aí é que é certo mesmo porque se nos outros canto ele tem poder,<br />

no Juazeiro é que ele tem mesmo (VICENTE, 61, 2007).

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