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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 127<br />

narra trajetórias de sua construção como pertencente ao Juazeiro do Norte, é<br />

também fator de localização de outros romeiros distintos dela mesma,<br />

provavelmente a partir de um habitus diferenciado. Quando perguntei sobre suas<br />

próprias práticas, Verônica desconversou. Disse que acreditava no Padre Cícero e<br />

que na casa dos pais ele é tido como um santo, embora ela mesma não<br />

manifestasse muita convicção sobre isso. É no terreno das práticas que se aparta<br />

definitivamente em seu discurso a noção de “ser romeiro” como identidade dela<br />

própria. A palavra assume novo sentido que constrói o distanciamento e a<br />

homogeneização do outro:<br />

Eles fazem assim: eles chegam hoje. No dia que eles chegam, eles não<br />

compram nada a ninguém. Se eles vim com o pé no chão, eles passam<br />

durante o dia com pé no chão, mas não compram uma sandália para calçar<br />

enquanto não fizer a visita [roteiro religioso]. Eles são assim... Aí depois que<br />

eles faz a visita, paga as promessas, aí eles vão fazer compra, vão pro<br />

Caldas, às vezes vão curtir uma cerveja, uma coisa e outra que eles<br />

gostam. [...] Quando eles vão simbora, vixe! É tanta coisa que eles leva, e<br />

tem deles que vem comprar pra revender lá no lugar deles também.<br />

O limite da palavra que unifica a diversidade é superado pelo uso do<br />

pronome. Na passagem do “nós” para o “eles” tudo acontece em termos de<br />

localização da diferença e a categoria “romeiro”, fundamental na construção das<br />

alteridades e identidades em Juazeiro do Norte, torna-se polissêmica ao operar num<br />

mesmo discurso de forma a localizar autóctones e adventícios em sua ligação com o<br />

universo religioso que institui a cidade de forma tão conveniente como quando situa<br />

o lugar do visitante, cuja relação com o universo religioso representado nas romarias<br />

é, entre outras coisas, a afirmação de uma ligação episódica.<br />

Esse mundo não é fixo porque as relações entre pessoas e das pessoas<br />

com a cidade estão em movimento no tempo. Quando a história de vida do morador<br />

se distancia da romaria, por exemplo, a tendência é de demonstrar incômodo com a<br />

presença, evitar, criticar e difamar os romeiros, que se tornam estranhos, sujos,<br />

grosseiros, crédulos e uma série de outras classificações que denunciam uma<br />

posição etnocêntrica entre parte dos moradores.

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