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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 126<br />

geladeira, medalhas de Nossa Senhora das Dores, da Mãe Rainha e do Padre<br />

Cícero, chaveiros, canetas com acabamento artesanal e fitinhas coloridas.<br />

Com um rosto moreno e marcado pelo sol, um sorriso aberto, trabalhando<br />

como vendedora ambulante há mais de dez, aos 32 anos Verônica tem um nível de<br />

escolaridade baixo, que dificulta arranjar emprego e por isso trabalha ao longo do<br />

ano e fora dos períodos de romarias em sua banca de vender bombons, que instalou<br />

nas proximidades da Igreja Matriz. Conta que na banca também vende velas e que o<br />

marido é pipoqueiro sem localização fixa, mas também trabalha como auxiliar de<br />

pedreiro, quando aparece serviço. É com orgulho que ela esclarece que não sente<br />

medo de trabalhar porque tem disposição e não se envergonha de serviço simples.<br />

Verônica carrega consigo a herança da migração de seus pais, agricultores<br />

do sertão paraibano que vieram morar em Juazeiro do Norte no início da década de<br />

1970. Embora autóctone, ela demonstra equilibrar-se numa posição flutuante em<br />

relação à cidade ao afirmar-se romeira a partir de um discurso explicativo sobre a<br />

condição de todos os moradores locais. Em suas palavras “todos somos romeiros”,<br />

qualquer um que ingressar na cidade de forma passageira ou permanente é atingido<br />

por esse status ontológico, que define a relação entre pessoas e o lugar. Ser romeiro<br />

se não é a única ligação possível que reúne elementos culturais diversos, é, sem<br />

dúvidas, a mais importante e se constrói em sua fala a partir do argumento que<br />

explora a idéia de que Juazeiro do Norte nada seria sem o Padre Cícero e as<br />

romarias. Esse discurso fala de um lugar comum no imaginário devoto local, mas é<br />

também evocado na memória dos mais antigos, que procuram manter a noção de<br />

centralidade do Padre Cícero, embora o contexto urbanizado e desenvolvido dê<br />

conta de outros panoramas independentes da dimensão religiosa que, sobrepostos<br />

à noção de lugar sagrado, dinamizam as possibilidades de recepção e<br />

representação da cidade.<br />

Ao mesmo tempo em que Verônica se situa como romeira, ao falar das<br />

romarias, aparece em seu discurso um “eles” para narrar as práticas dos<br />

participantes, constituindo um contexto onde ao mesmo tempo em que “ser romeira”

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