ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 118<br />
uma ótica mercadológica voltada para captação de um visitante com outro perfil de<br />
consumo. Nos planos dos salesianos, o Horto deveria se tornar numa área<br />
aprazível, com atmosfera bucólica, bem equipada em serviços e segura, para as<br />
famílias visitarem e orarem. Para alcançar esse objetivo, as imediações da colina do<br />
Horto passaram, desde o início da década de 1990, por enobrecimento urbanístico<br />
centrado na pavimentação de uma área superior a 20 mil metros quadrados em<br />
torno da estátua do Padre Cícero, arborização da praça, reflorestamento de toda<br />
área circundante, sinalização turística da área, cadastramento de vendedores<br />
ambulantes, ampliação de efetivo policial, além da construção de estacionamentos e<br />
início da construção de santuário com capacidade de recepção semelhante ao de<br />
Aparecida do Norte, em São Paulo.<br />
Pensar as relações entre romeiros e o santo, no contexto de Juazeiro do<br />
Norte de hoje, faz surgir uma pergunta sobre como essa forma social subsiste em<br />
pleno século XXI, num contexto de mundo onde as relações de produção<br />
apresentam características diferençadas do contexto senhorial agrário do início do<br />
século passado e que caracterizavam o mundo rural nordestino quando as<br />
“Romarias a Joaseiro” passaram a se constituir um fenômeno de deambulação<br />
religiosa. Como as representações e práticas sobre as romarias se constituem<br />
diante dos novos cenários de produção e relações sociais?<br />
Da mesma forma que as pessoas se situam no mundo a partir de sua<br />
localização na família, na Igreja, na cidade, na profissão e em diversos horizontes<br />
sociais, os devotos passaram a usar a ligação com Juazeiro do Norte como<br />
referência para sua concepção de mundo e do transcendente. A cidade passou a ser<br />
uma referência, numa relação de necessidade mantida para conservar o seu lugar<br />
no mundo. Mais que lugar de ligação do céu com a terra, o solo da cidade ao ser<br />
pisado carrega o sentido de proteção em representações que se mantêm ao longo<br />
do tempo:<br />
Eu tenho que vir, tenho que vir todo ano. Não sei explicar pra senhora, no<br />
ano que não venho, tudo dá errado na minha vida. Olhe, em 2002 eu não<br />
vim, aí a mulher [dele] adoeceu, quase morreu, os meninos quiseram levar