ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ... ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 104 enfraqueciam a ascendência do Cariri sobre outras regiões da província do Ceará. Após um período de adaptação às novas condições de mercado e aos desafios locais, em meados dos anos de 1850, a economia do vale voltou a florescer com o fortalecimento dos engenhos de cana de açúcar 80 ; o incremento da produção agrícola voltada para o abastecimento tanto de centros urbanos mais desenvolvidos, como de cidades menores no interior; e o revigoramento comercial do Crato (DELLA CAVA, 1976). Contudo, o cenário nordestino era marcado por contextos mais amplos de crise relacionados à produção para exportação, ao trabalho escravo, a ausência de distribuição de riquezas, de forma que a monopolização da propriedade das terras era generalizada e criava condições de inacessibilidade para os pouco favorecidos. Além disso, a recorrência das secas, mais intensamente localizadas na região semi-árido que abrange o entorno do Cariri, contribuíra para a construção de quadros de incerteza marcantes, e, em fins do século XIX, o cenário caririense era de nova decadência econômica, inserido num quadro de banditismo generalizado no sertão (DELLA CAVA, 1976). A adversidade climática era responsável por recorrentes contextos de decadência econômica e social e surge no discurso histórico e sociológico como panorama propiciador dos fluxos romeiros e migratórios. Essa interpretação, que coloca os indivíduos a mercê das forças da natureza é coerente com a relação homem/divindade estabelecido na Idade Média. Sem ter a quem recorrer, indivíduos entregavam-se a uma experiência messiânica e racionalizavam sua tragédia pessoal em relação a uma ordem celestial. Nesse contexto, duas coisas devem ser consideradas: a seca e a falta de terra para cultivo foram os fatores que mais contribuíam para que as pessoas migrassem. Na época, o Ceará era um dos estados mais atingidos pela seca no Nordeste. Só muito posteriormente, o Governo do Ceará a partir do segundo 80 Eram cerca de 200 engenhos de açúcar, situados principalmente entre Crato e Barbalha.
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 105 mandato de Tasso Jereissati, em 1995, começou a implementar projetos 81 conveniados com o governo federal, que visavam o abastecimento de água para todas as cidades do interior, por meio de construção de barragens, açudes e cisternas onde não haviam rios perenes. Cariri Figura 3: Mapa do polígono das Secas no Nordeste de acordo com as estimativas para as áreas de risco de seca 82 . Certamente a mobilidade e migrações sertanejas estão relacionadas ao panorama da seca, mas ele não é por si só determinante em relação ao destino escolhido. Há de se considerar que a decisão de migrar sempre partia do indivíduo, que escolhia entre as poucas opções que existiam. Entretanto, em se tratando de Juazeiro do Norte [Joaseiro 83 ] como destino, um dos elementos preponderantes da 81 Refiro-me aos projetos “Caminho das águas” e “Um milhão de cisternas”. A associação entre romaria e seca, contudo, permanece e transformou-se em bandeira de luta pela consolidação de políticas públicas de combate à seca. Em Senador Pompeu, por exemplo, município do sertão central do Ceará, anualmente acontece a Caminhada da Seca com a participação de romeiros e pagadores de promessa que, sob a forma de movimento social cultuam as “santas almas” dos flagelados da seca de 1932 e exaltam os participantes a lutar, como povo de Deus, pela vida e pela cidadania. 82 Fonte: Risco de seca no Nordeste. Disponível em: http://www.integracao.gov.br/saofrancisco/ projeto/risco.asp Acesso: dez 2009. 83 Distrito criado com a denominação de Joaseiro, pelo ato de 30-07-1858, e por lei municipal nº 49, de 12-11-1911, subordinado ao município de Crato. Posteriormente, pelo decreto estadual nº 1.114, de 30-12-1943, retificado em virtude do parecer de 14-06-1946 do Conselho Nacional de Geografia, o município de Joaseiro passou a denominar-se Juazeiro do Norte.
- Page 53 and 54: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 55 and 56: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 57 and 58: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 60 and 61: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 62 and 63: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 64 and 65: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 66 and 67: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 68 and 69: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 70 and 71: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 72 and 73: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 74 and 75: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 76 and 77: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 78 and 79: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 80 and 81: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 82 and 83: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 84 and 85: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 86 and 87: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 88 and 89: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 90 and 91: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 92 and 93: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 94 and 95: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 96 and 97: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 98 and 99: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 100 and 101: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 102 and 103: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 106 and 107: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 108 and 109: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 110 and 111: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 112 and 113: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 114 and 115: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 116 and 117: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 118 and 119: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 120 and 121: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 122 and 123: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 124 and 125: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 126 and 127: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 128 and 129: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 130 and 131: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 132 and 133: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 134 and 135: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 136 and 137: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 138 and 139: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 140: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 143: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 146 and 147: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 148 and 149: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 150 and 151: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
- Page 152 and 153: CORDEIRO, Maria Paula J. Entre cheg
CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 104<br />
enfraqueciam a ascendência do Cariri sobre outras regiões da província do Ceará.<br />
Após um período de adaptação às novas condições de mercado e aos desafios<br />
locais, em meados dos anos de 1850, a economia do vale voltou a florescer com o<br />
fortalecimento dos engenhos de cana de açúcar 80 ; o incremento da produção<br />
agrícola voltada para o abastecimento tanto de centros urbanos mais desenvolvidos,<br />
como de cidades menores no interior; e o revigoramento comercial do Crato (DELLA<br />
CAVA, 1976).<br />
Contudo, o cenário nordestino era marcado por contextos mais amplos de<br />
crise relacionados à produção para exportação, ao trabalho escravo, a ausência de<br />
distribuição de riquezas, de forma que a monopolização da propriedade das terras<br />
era generalizada e criava condições de inacessibilidade para os pouco favorecidos.<br />
Além disso, a recorrência das secas, mais intensamente localizadas na<br />
região semi-árido que abrange o entorno do Cariri, contribuíra para a construção de<br />
quadros de incerteza marcantes, e, em fins do século XIX, o cenário caririense era<br />
de nova decadência econômica, inserido num quadro de banditismo generalizado no<br />
sertão (DELLA CAVA, 1976).<br />
A adversidade climática era responsável por recorrentes contextos de<br />
decadência econômica e social e surge no discurso histórico e sociológico como<br />
panorama propiciador dos fluxos romeiros e migratórios. Essa interpretação, que<br />
coloca os indivíduos a mercê das forças da natureza é coerente com a relação<br />
homem/divindade estabelecido na Idade Média. Sem ter a quem recorrer, indivíduos<br />
entregavam-se a uma experiência messiânica e racionalizavam sua tragédia pessoal<br />
em relação a uma ordem celestial.<br />
Nesse contexto, duas coisas devem ser consideradas: a seca e a falta de<br />
terra para cultivo foram os fatores que mais contribuíam para que as pessoas<br />
migrassem. Na época, o Ceará era um dos estados mais atingidos pela seca no<br />
Nordeste. Só muito posteriormente, o Governo do Ceará a partir do segundo<br />
80 Eram cerca de 200 engenhos de açúcar, situados principalmente entre Crato e Barbalha.