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ENTRE CHEGADAS E PARTIDAS: DINÂMICAS DAS ROMARIAS ...

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CORDEIRO, Maria Paula J. Entre chegadas e partidas: dinâmicas das romarias em Juazeiro do Norte 101<br />

formação de aqüíferos responsáveis pelas diversas fontes de água que se<br />

distribuem nos sopés da serra. O resultado é uma vegetação abundante, mesmo em<br />

períodos de estiagem, e uma agricultura que se favorece das possibilidades de<br />

drenagem de água das fontes.<br />

Foram as terras férteis e as perenes fontes de água os fatores que atraíram<br />

criadores de gado da Bahia e do Pernambuco ao Vale do Cariri, no início do século<br />

XVIII. Considerando um melhor aproveitamento dos seus recursos naturais, as<br />

atividades agrícolas, principalmente o cultivo da cana de açúcar, passaram a<br />

predominar sobre a criação bovina desde o século XIX. Foi a cana-de-açúcar e o<br />

engenho que construíram a hierarquia social do vale (DELLA CAVA, 1976). Ao<br />

mesmo tempo em que a coesão entre donos de terra e trabalhadores era formada<br />

por laços tradicionais de afilhadagem e compadrio, que instituíam os trabalhadores<br />

como agregados de seus patrões e estabeleciam as condições das relações sociais,<br />

além de obrigações mútuas.<br />

Embora marcados pela presença de um catolicismo oficial decadente que<br />

não atendia às demandas dos pobres, nem se preocupava em arrebanhá-los, como<br />

em todo o Nordeste, os habitantes do Cariri tinham com a Igreja, enquanto<br />

instituição, uma relação superficial, limitada a festas de dias de santos e a<br />

recorrência de serviços de sacramentos de batismo e casamento. A religião viva,<br />

caracterizada por práticas piedosas, novenas, procissões, romarias, festas e muita<br />

reza, que colocavam os fiéis em contato com os santos e protetores, era mobilizada<br />

por agentes populares envolvidos em irmandades leigas, beatas e beatos. O terreno<br />

desse catolicismo de herança lusitana, classificado como popular, situa-se em<br />

oposição a três diferentes categorias segundo Oliveira (1990): o erudito, na medida<br />

em que se trata de uma autoprodução anônima e coletiva, cujo domínio das práticas<br />

é adquirido por familiarização, distinta da produção do especialista religioso; o oficial,<br />

na medida em que as práticas são mais amplamente “desqualificadas” socialmente,<br />

quando comparadas a sistemas religiosos legitimados e validados; e “de elite”, na

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