Proposta Curricular - CBC Ciclo da Alfabetização - Fundamental ...
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<strong>Proposta</strong> <strong>Curricular</strong> - <strong>CBC</strong><br />
<strong>Ciclo</strong> <strong>da</strong> <strong>Alfabetização</strong> - Fun<strong>da</strong>mental - <strong>Ciclo</strong>s<br />
1. NÚMERO E NUMERAÇÃO<br />
Neste módulo, cabe refletir sobre como a criança elabora os primeiros<br />
conceitos numéricos e como os representa.<br />
.INÍCIO DE CONVERSA<br />
Para início de conversa, convém lembrar que, ao chegar à escola, a criança<br />
começa uma nova etapa de sua vi<strong>da</strong>, porém esse novo marco não parte<br />
necessariamente do ponto zero em relação à construção <strong>da</strong>s noções<br />
matemáticas.<br />
O que considerar quando a criança inicia a fase escolar?<br />
O indivíduo nasce e convive em um ambiente sóciocultural em que o número é<br />
uma forma de expressão e comunicação. Interagindo com pessoas e situações<br />
do seu cotidiano, a criança resolve seus problemas por meio de trocas e ações<br />
que têm a ver com comparar, reunir, subtrair e repartir objetos. Nessas vivências,<br />
utiliza procedimentos informais que dão origem a noções matemáticas<br />
indispensáveis à elaboração do conhecimento e à sua inserção no contexto em<br />
que vive.<br />
De fato, o reconhecimento de números em um endereço e de alguns<br />
identificadores de telefones, por exemplo, a seleção de canais de televisão, o<br />
número do seu sapato, a comparação entre as i<strong>da</strong>des dos familiares são<br />
habili<strong>da</strong>des que resultam de tais ações informais e passam a fazer parte <strong>da</strong><br />
cultura adquiri<strong>da</strong> na infância.<br />
Apesar de percorrerem um caminho similar ao <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de na construção<br />
do número e <strong>da</strong>s relações numéricas, nossas crianças nascem e crescem em<br />
uma socie<strong>da</strong>de que dispõe de um sistema simbólico expresso numa sucessão<br />
numérica oral e escrita, recurso esse indisponível aos longínquos antepassados.<br />
Ao chegar à escola, a criança, portanto, possui muitas noções matemáticas<br />
incipientes, incompletas e informais.<br />
Essas experiências prévias se constituirão em um referencial para o<br />
planejamento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de<br />
docente.<br />
Vale pensar:<br />
-Quais são as vivências numéricas e espaciais elabora<strong>da</strong>s pelas<br />
crianças que estão<br />
começando uma ativi<strong>da</strong>de construtiva que implica aprender algo de um<br />
modo significativo?<br />
-Que base possuem para sustentar uma nova aprendizagem ou resignificar<br />
um conceito em<br />
fase de construção?<br />
O que são experiências e conhecimentos prévios?<br />
Numa concepção de aprendizagem significativa, os conhecimentos prévios<br />
são entendidos como os conhecimentos que o aluno já possui sobre o tópico<br />
matemático que se pretende que ele apren<strong>da</strong> e são considerados como elemento
fun<strong>da</strong>mental do estado inicial do aluno. Nessa perspectiva, como afirma Miras<br />
(1999: 60),<br />
“a aprendizagem de um novo conteúdo é, em última instância,<br />
produto de uma ativi<strong>da</strong>de mental construtivista realiza<strong>da</strong> pelo<br />
aluno, ativi<strong>da</strong>de mediante a qual constrói e incorpora à sua<br />
estrutura mental os significados e representações relativos ao novo<br />
conteúdo”.<br />
Portanto, uma aprendizagem é tanto mais significativa quanto mais relações<br />
com sentido a criança conseguir estabelecer entre o que conhece (conhecimentos<br />
prévios) e o conteúdo que é objeto <strong>da</strong> nova aprendizagem; a possibili<strong>da</strong>de de<br />
estabelecer essas relações vai determinar que os significados sejam construídos<br />
de forma mais fácil, segura e estável.<br />
A ativi<strong>da</strong>de mental construtiva não pode ser realiza<strong>da</strong> no vácuo, partindo do<br />
na<strong>da</strong>.<br />
Assim, graças ao que a criança já sabe, pode estabelecer um contato com o<br />
que o professor lhe propõe aprender.<br />
.. A CONSTRUÇÃO DO NÚMERO<br />
O conceito de número é elaborado por meio de um processo muito longo. Há<br />
vários estudos e pesquisas afirmando que, desde muito pequena, a criança<br />
começa a ter percepções numéricas.<br />
Convém, no entanto, lembrar que os conhecimentos matemáticos não passam<br />
de um nível perceptivo a um nível conceitual de uma forma espontânea e imediata<br />
e, sim que os elabora gra<strong>da</strong>tivamente, conduzindo-se por sucessivos momentos<br />
de avanços e retrocessos.<br />
Com base nas investigações de Piaget, pode-se afirmar que o conceito de<br />
número depende do desenvolvimento dos processos de conservação,<br />
classificação e seriação.<br />
O que é conservação de quanti<strong>da</strong>de?<br />
A conservação de quanti<strong>da</strong>de refere-se à proprie<strong>da</strong>de numérica de um grupo,<br />
independente <strong>da</strong> forma dos objetos que o compõem e <strong>da</strong> disposição dos mesmos<br />
no grupo.<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
Cristina, uma menina de seis anos, contou os lápis que<br />
estavam em uma caixa e constatou que eram 5. Espalhandoos<br />
pela mesa verificou que continuavam sendo 5,<br />
apesar de ocuparem um espaço maior.<br />
A proprie<strong>da</strong>de numérica, ou seja, o número 5 permaneceu<br />
em ambas as situações. Ao admitir isso, pode-se dizer que<br />
Cristina percebe a conservação <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de.<br />
O mesmo acontece quando ela verifica que há 5 carros<br />
estacionados na garagem e que essa é a mesma<br />
quanti<strong>da</strong>de de dedos de uma <strong>da</strong>s suas mãos.<br />
A criança que não capta a conservação está num processo inicial de<br />
construção do número cardinal. De fato, se ela pensa que uma alteração no<br />
arranjo espacial de objetos de um conjunto equivale a uma mu<strong>da</strong>nça numérica, ela<br />
não conseguirá perceber que um grupo de 8 objetos é o mesmo em número em<br />
qualquer outro grupo de 8. Isto significa que o número não se modifica devido à<br />
forma, ao tamanho e à natureza dos objetos do grupo que o materializa.
A teoria piagetiana considera que o conceito de número e o contar dependem<br />
somente dos processos evolutivos do pensamento lógico. Considerando a<br />
perspectiva piagetiana, o número cardinal é compreendido como a proprie<strong>da</strong>de<br />
que tem em comum os conjuntos que pertencem a uma mesma classe devido a<br />
que se pode estabelecer entre eles uma correspondência biunívoca.<br />
Hoje, tende-se a aceitar o fato de que o número se constrói com a interferência<br />
de ativi<strong>da</strong>des de contagem e de medição. Realmente, a conservação <strong>da</strong><br />
quanti<strong>da</strong>de esbarra na percepção de características liga<strong>da</strong>s à medi<strong>da</strong>, como o<br />
comprimento: Se uma fileira é mais compri<strong>da</strong> que outra, é porque nela há mais<br />
objetos, conclui o pensamento simplista de uma criança.<br />
O ato de contar os objetos é que <strong>da</strong>rá a ela condições de perceber a<br />
conservação numérica entre dois grupos, que, apesar de terem a mesma<br />
quanti<strong>da</strong>de de objetos, estes, quando organizados, podem apresentar fileiras de<br />
comprimentos diferentes. Aos poucos, a criança passa a resolver esse conflito<br />
construindo uma regra nova e mais elabora<strong>da</strong> que integra a regra numérica e a<br />
basea<strong>da</strong> na percepção: Se uma fileira é mais compri<strong>da</strong> do que outra, ela pode<br />
conter mais objetos, mas, ao contar os objetos pode-se descobrir que elas têm a<br />
mesma quanti<strong>da</strong>de.<br />
♣ ♣ ♣ ♣ ♣ ♣ Esta fileira é mais compri<strong>da</strong> que a de baixo; ela tem 6 ♣.<br />
♣ ♣ ♣ ♣ ♣ ♣ Esta fileira é menor em comprimento, mas, também tem 6♣.<br />
Elas têm a mesma quanti<strong>da</strong>de. Há 6 objetos em ca<strong>da</strong> uma.<br />
Como afirma Bryant e Nunes (1997: 21), “entender a conservação é, portanto,<br />
saber que o número de um grupo de objetos somente pode ser mu<strong>da</strong>do pela<br />
adição ou subtração: to<strong>da</strong>s as outras mu<strong>da</strong>nças são irrelevantes”.<br />
Em que consiste o processo de classificação?<br />
Classificar significa reunir objetos, atribuindo-lhes uma quali<strong>da</strong>de que deve ser<br />
comum a todos eles. Quando o aluno junta fichas de uma determina<strong>da</strong> cor, ele<br />
está realizando uma classificação. Nessa ativi<strong>da</strong>de, deve incluir no grupo to<strong>da</strong>s as<br />
fichas que tenham a proprie<strong>da</strong>de escolhi<strong>da</strong> – a cor vermelha, por exemplo – e<br />
excluir as que não a possuem (fichas não vermelhas).<br />
A classificação é realiza<strong>da</strong> mediante um critério de semelhança: no grupo <strong>da</strong>s<br />
fichas de forma circular, to<strong>da</strong>s devem ter essa forma, não importando seu tamanho<br />
nem sua cor. O critério de semelhança é uma proprie<strong>da</strong>de simétrica, pois o objeto<br />
A é semelhante a B e o inverso é válido, porque B é semelhante a A.<br />
Para organizar objetos, a criança deve compará-los e a<br />
comparação de coisas<br />
– objetos, fatos, situações – em suas experiências vivi<strong>da</strong>s promove a construção<br />
de novos conhecimentos, pois permite à criança observar semelhanças e<br />
diferenças e estabelecer relações.<br />
Ao classificar, a criança organiza um grupo e tende a contá-lo para<br />
descobrir o número de seus objetos. Assim, estabelece uma correspondência<br />
termo a termo (biunívoca) entre ca<strong>da</strong> objeto e o nome do número que lhe é<br />
atribuído. Kamii ( 2002 ) considera que as crianças com dificul<strong>da</strong>des nessa tarefa<br />
não elaboraram, ain<strong>da</strong>, a inclusão hierárquica.<br />
Ao etiquetar ca<strong>da</strong> objeto do grupo, apontando-o e dizendo - um, dois, três...- o<br />
significado do três, por exemplo, não se restringe ao nome do número, mas, ao<br />
fato de que este número contém 2 e contém 1. Por isso, quando diz o nome
numérico do último objeto, essa palavra tem um duplo significado, pois indica<br />
também a quanti<strong>da</strong>de de todos os objetos do grupo.<br />
É interessante observar que essa abrangência de significado ocorre apenas no<br />
domínio dos números, pois, ao denominar objetos qualitativamente, pronunciando<br />
palavras para ca<strong>da</strong> objeto do grupo, por exemplo, num conjunto de brinquedos -<br />
bola, carro, velotrol, peteca – o último nome dito, nesse caso, peteca, refere-se ao<br />
objeto e não ao grupo. Ao contrário, quando nomeamos quantitativamente objetos<br />
de um grupo, ou seja, quando os contamos, o último nome dito designa não<br />
apenas o último elemento, mas, também, a totali<strong>da</strong>de.<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
Jussara, professora de uma turma de crianças de seis anos,<br />
com a intenção de resgatar as experiências prévias dos seus<br />
alunos e propiciar oportuni<strong>da</strong>des de contagem e de<br />
classificação, sugeriu a organização de uma coleção de<br />
“cacarecos” na sala de aula.<br />
Arranjou uma caixa grande e foi juntando os objetos e<br />
“coisas” que as crianças vinham trazendo: brinquedos velhos,<br />
bolinhas de gude, sementes, botões, tampinhas de pasta dental<br />
e de garrafa, varetas e palitos de picolé, pedrinhas, fichas de<br />
plástico, etc.<br />
Quando a caixa estava bem cheia, colocou os alunos na<br />
rodinha e despejou os “cacarecos” no chão. Disse que deviam<br />
organizar estas coisas e as crianças sugeriram reuni-las em<br />
grupos. In<strong>da</strong>gando como isso seria possível, os alunos,<br />
orientados pela professora foram encontrando semelhanças<br />
entre os objetos e reunindo-os: grupo <strong>da</strong>s contas.... grupo <strong>da</strong>s<br />
varetas ....grupo <strong>da</strong>s pedrinhas, e, assim por diante.<br />
Colocaram ca<strong>da</strong> coleção em caixa de sapatos e etiquetaram<br />
as caixas colando uma ficha com o desenho dos objetos que<br />
continham na face considera<strong>da</strong> anterior. Desse modo, ficou fácil<br />
encontrar um grupo de “coisas” quando iam trabalhar com<br />
elas. Além de estar classificando, os alunos juntaram muitos<br />
materiais para contar e realizar ativi<strong>da</strong>des com eles.<br />
O que é inclusão hierárquica?<br />
A organização dos objetos no grupo facilita a contagem e a percepção <strong>da</strong><br />
estrutura hierárquica. A colocação dos objetos em uma ordem linear facilita a<br />
percepção de que um objeto carrega uma denominação numérica que se refere à sua<br />
posição no grupo – por exemplo, 4 e “quarto”. Esse número indica, ao mesmo tempo o<br />
sentido cardinal e ordinal, ou seja, indica o número total do grupo (contendo, portanto<br />
os grupos até 3), e também o “quarto” objeto colocado.<br />
To<strong>da</strong>s as grandezas - número, tamanho, peso, temperatura e outras – podem<br />
ser organiza<strong>da</strong>s em determina<strong>da</strong> ordem, do menor para o maior e vice-versa. Essa<br />
seriação envolve uma regra básica que é a transitivi<strong>da</strong>de. Se um grupo A que contém<br />
x objetos é menor do que um grupo B e este é menor que C, deduz-se que A é,<br />
também, menor que C.<br />
A seqüência numérica é uma série em que prevalece a transitivi<strong>da</strong>de, pois um<br />
número é sempre maior do que os antecessores e menor do que os que lhe sucedem,<br />
o que faz com que a inclusão hierárquica, também, esteja presente.<br />
Em que consiste o processo de seriação?
Seriar significa reunir objetos organizados em uma certa ordem mediante um<br />
atributo derivado de uma proprie<strong>da</strong>de assimétrica, como: maior que, menor que, mais<br />
pesado, mais comprido, mais velho, etc.<br />
Assim funciona a proprie<strong>da</strong>de assimétrica:<br />
A é maior do que B......... B não pode ser maior do que A<br />
B é menor do que A.<br />
A relação de A para B é inversa à relação de B para A.<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
Diego consegue colocar 5 pinos de madeira de vários<br />
tamanhos em ordem do menor para o maior. Ele está<br />
organizando uma série.<br />
Nesta série, reconhece que o pino C (3 o .) deve ficar entre os<br />
pinos B (2 o .) e D (4 o .) e que o primeiro é o menor de todos e o<br />
último é o maior.<br />
Quando a professora organiza os mesmos pinos deixando<br />
um deles por fora <strong>da</strong> fileira, Diego já demonstra dificul<strong>da</strong>de de<br />
encaixá-lo.<br />
Observe como a criança pequena tem dificul<strong>da</strong>de de encaixar um<br />
determinado objeto numa série já organiza<strong>da</strong>. É o caso de encontrar o lugar na fila<br />
para um colega novato que deve ficar atrás de um aluno menor que ele e à frente<br />
de outro maior.<br />
Essa dificul<strong>da</strong>de se justifica principalmente pela ausência do<br />
pensamento reversível, que consiste na capaci<strong>da</strong>de de sintetizar duas relações<br />
inversas : o aluno B deve ficar entre os alunos A e C, porque é maior que A e<br />
menor que C.<br />
O mesmo ocorre na série numérica; há um lugar definido para ca<strong>da</strong><br />
número : 19 só pode estar entre 18 e 20, conservando a relação +1 e -1.<br />
As brincadeiras no pátio como pular cor<strong>da</strong>, jogar boliche, escondeesconde<br />
e outras oferecem oportuni<strong>da</strong>des para a turma vivenciar experiências<br />
numéricas.<br />
Reconhecer a potenciali<strong>da</strong>de e a adequação de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação<br />
para a aprendizagem, tecer comentários, formular perguntas, incentivar a<br />
verbalização pela criança, são atitudes indispensáveis ao professor. Representam<br />
vias a partir <strong>da</strong>s quais as crianças elaboram seus conhecimentos.<br />
Os conceitos matemáticos estão subjacentes às ativi<strong>da</strong>des rotineiras e<br />
às brincadeiras <strong>da</strong>s crianças. Compete ao professor ter intencionali<strong>da</strong>de e realizar<br />
um planejamento para fazê-los emergir, considerando que o conhecimento<br />
matemático não se constitui num conjunto de fatos a serem memorizados, mas é<br />
construído a partir <strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>des de vivências e interações que a vi<strong>da</strong>, e,<br />
principalmente, a escola propiciam à criança.<br />
...O PROCESSO DE CONTAR<br />
O ato de contar foi uma ferramenta de grande importância para a<br />
humani<strong>da</strong>de, pois, através dessa possibili<strong>da</strong>de, o homem pôde desenvolver os<br />
conceitos numéricos e as habili<strong>da</strong>des de cálculo.
Lembre-se:<br />
E, nas sala de aula, que valor tem esse processo na aprendizagem <strong>da</strong>s<br />
crianças pequenas? Em que consiste o ato de contar?<br />
A cardinali<strong>da</strong>de refere-se à quanti<strong>da</strong>de de objetos de um grupo.<br />
A ordinali<strong>da</strong>de refere-se ao lugar que o objeto ocupa em uma série ordena<strong>da</strong>.<br />
Um aspecto não existe sem o outro. Ao contar, a criança faz uma síntese dos dois.<br />
A contagem é uma habili<strong>da</strong>de cognitiva precoce. É habili<strong>da</strong>de, porque necessita <strong>da</strong><br />
coordenação de ativi<strong>da</strong>des visuais, manuais e vocais. É cognitiva, porque repousa<br />
sobre um conhecimento abstrato que diz respeito à ordem e à cardinali<strong>da</strong>de.<br />
Ain<strong>da</strong> bem pequena a criança começa a identificar as primeiras quanti<strong>da</strong>des, 1 e 2, e<br />
vai, progressivamente, descobrindo grupos de 3, 4 e 5 elementos, comparando-os e<br />
contando-os.<br />
Por meio do convívio familiar aprende a dizer os seus nomes: um, dois, três, quatro e<br />
cinco. Esses números foram denominados de “intuitivos” ou “perceptuais” por Piaget<br />
pelo fato de serem percebidos globalmente, ou seja, o campo visual é capaz de<br />
identificá-los como um todo sem que haja necessi<strong>da</strong>de de realizar<br />
agrupamentos ou contar.<br />
Observe a representação desses números:<br />
Você é capaz de identificá-los, rapi<strong>da</strong>mente, num golpe de vista?<br />
Agora, veja a representação <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de 6:<br />
A tendência é identificar 6, separando as bolinhas em 2, 2 e 2, ou, 3 e 3 e, assim<br />
contá-las.<br />
Os números perceptivos são identificados como conjuntos de amostra e<br />
relacionados aos dedos de uma mão. De fato, se uma criança pequena é in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong><br />
sobre sua i<strong>da</strong>de, ela mostra 3 dedos e esconde 2, dizendo: 3 anos. Nesse caso, o<br />
número cumpre a função de etiqueta numérica.<br />
Os nomes dos números até “dez” são assimilados pelas crianças ain<strong>da</strong> bem<br />
pequenas.<br />
Muitas vezes, observamos algumas delas, de aproxima<strong>da</strong>mente 3 anos, recitando<br />
a série até dez.
Para realizar o processo de contar é indispensável recorrer à série numérica<br />
oral, que é construí<strong>da</strong> progressivamente.<br />
Qual é a importância de aprender recitar a série numérica ?<br />
Os contextos de vi<strong>da</strong> infantil possibilitam à criança a construção de um<br />
vocabulário oral que exclui de uma maneira bem marcante os vocábulos matemáticos.<br />
É comum ouvir uma criança pequena dizer: boneca, mamãe, água..., termos abstratos<br />
como fome, dor, triste, alegre e muitos outros dos quais vai se apropriando.<br />
Por outro lado, termos numéricos como dezoito, vinte e dois, trinta e nove.... não<br />
surgem com freqüência nas situações de vi<strong>da</strong> e, portanto, a criança chega à escola<br />
com a orali<strong>da</strong>de matemática limita<strong>da</strong>.<br />
Uma <strong>da</strong>s primeiras intenções do professor <strong>da</strong> fase introdutória deve ser a de<br />
propiciar condições para ampliação <strong>da</strong> série numérica oral. No início, ao fazer o<br />
recitado, as crianças costumam omitir alguns nomes de números, dizendo: um, dois,<br />
três, cinco.....; outras vezes, começam a cantinela de outro número que não o “um” e<br />
dizem: seis, sete, oito nove.....; ou, ain<strong>da</strong>, pulam uma parte <strong>da</strong> série: um, dois, três,<br />
quatro, cinco, oito, nove, dez.<br />
Aos poucos, consegue coordenar a série completa de maneira mais ou menos<br />
extensa e esse progresso dependerá de ca<strong>da</strong> criança e de seu contexto sócioeconômico<br />
e cultural.<br />
Pode parecer que esse contar, apenas recitando os nomes dos números, seja<br />
um tanto mecânico e desprovido de sentido. No entanto, ao fazê-lo, a criança vai<br />
descobrindo certas regras numéricas que lhe possibilitam continuar dizendo a série<br />
ain<strong>da</strong> que não conheça o nome do número que está a seguir. Por exemplo: se o aluno<br />
sabe contar até “vinte”, o professor incentiva-o a continuar e ele vai dizendo – vinte e<br />
um, vinte e dois até vinte e nove. Pode ser que ele, então, fale a seguir “vinte e dez”.<br />
Se um adulto corrigir dizendo “trinta”, o aluno conseguirá prosseguir –“trinta e um,<br />
trinta e dois....”<br />
A criança, então, começa a perceber que deve aprender os nomes dos grupos<br />
de “dezes” – dez, vinte, trinta até noventa. Sabendo dizê-los em ordem, ficará mais<br />
fácil descobrir que, depois do quarenta e nove vem o cinqüenta; assim, passará a<br />
perceber “o seguinte de um número.”<br />
Nas ativi<strong>da</strong>des de contagem, a criança começa a observar que um número é<br />
menor do que outro quando é dito antes desse outro. Assim, 28 é menor do que 40,<br />
porque ao contar ela fala “vinte e oito” antes de “quarenta”.<br />
À medi<strong>da</strong> que participa <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de contagem, que devem ser constantes<br />
na rotina escolar nessa fase, elas irão construindo a relação “anterior a”. De posse <strong>da</strong>s<br />
noções de “seguinte” e “anterior”, ganham condições de recitar a série a partir de um<br />
<strong>da</strong>do número e, também, começando de 1 até o número determinado pelo professor.<br />
Será, também, capaz de contar do maior para o menor, ou seja, contar para trás a<br />
partir de um número <strong>da</strong>do.<br />
Estas tarefas implicam em:
-reter na memória os números solicitados ( a partir de......., até .....);<br />
-ser capaz de dizer os nomes dos números em seqüência a partir de um<br />
determinado número, iniciando de uma parte <strong>da</strong> série;<br />
-deter o processo de contagem no momento em que chegar ao número<br />
combinado.<br />
Em que consiste o ato de contar objetos?<br />
Paralelamente à elaboração <strong>da</strong> série numérica oral, a criança passa a contar<br />
objetos estabelecendo uma correspondência termo a termo (biunívoca), ou seja,<br />
<strong>da</strong>ndo um nome numérico a ca<strong>da</strong> objeto que aponta.<br />
Já comentamos que o nome do número <strong>da</strong>do ao último objeto do grupo<br />
designa, também, a quanti<strong>da</strong>de total desse grupo.<br />
Para realizar uma contagem corretamente, a criança tem que superar algumas<br />
dificul<strong>da</strong>des, como:<br />
-a tendência de falar os nomes dos números mais rápido e, portanto, não<br />
conjugado com o ato de apontar o objeto; se isso acontecer, ela dirá dois ou<br />
mais nomes numéricos para um só objeto;<br />
-o fato de pular objetos ao contar;<br />
-e, ain<strong>da</strong>, quando os objetos não estão alinhados, ela se confunde e volta a<br />
contar um objeto que já contou.<br />
O ver<strong>da</strong>deiro contar, conforme afirmam Duhalde & Cuberes (1998 : 51),<br />
consiste em:<br />
-estabelecer a correspondência um a um;<br />
-manter a ordem <strong>da</strong>s palavras numéricas;<br />
-etiquetar ca<strong>da</strong> objeto uma só vez sem omitir nenhum;<br />
-numerar todos os objetos.<br />
É importante que to<strong>da</strong>s as oportuni<strong>da</strong>des de contagem sejam aproveita<strong>da</strong>s.<br />
Veja no flash a seguir como uma professora conseguiu “matematizar” a<br />
organização de uma coleção de uma maneira mais ampla, aproveitando os<br />
momentos de aprendizagem que a ativi<strong>da</strong>de proporcionou.<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
A professora Célia fez com que seus alunos vivenciassem<br />
ca<strong>da</strong> momento <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> coleção proposta. Sua turma<br />
procedeu <strong>da</strong> mesma maneira que a turma de Jussara, trazendo<br />
diariamente “coisas” para a coleção.<br />
Mas Célia sempre sugeria às crianças a contagem dos<br />
objetos trazidos no dia. Muitas vezes, colocava-os sobre a<br />
mesa e pedia aos alunos para estimarem a quanti<strong>da</strong>de.<br />
Escrevia os números sugeridos no quadro e, em segui<strong>da</strong> um<br />
aluno contava os objetos e os demais iam verificando a
aproximação a ca<strong>da</strong> número estimado. Ao final <strong>da</strong> contagem,<br />
checavam qual criança acertou na estimativa.<br />
A ativi<strong>da</strong>de continuava com o registro feito diariamente:<br />
DIAS NÚMERO DE OBJETOS<br />
DO DIA<br />
TOTAL<br />
06 37 37<br />
07 14 51<br />
08 23 74<br />
... ... ...<br />
Para completar a última coluna, os alunos deveriam descobrir o número total de<br />
“coisas” <strong>da</strong> coleção e utilizavam recursos pessoais, como, por exemplo, o ocorrido no<br />
dia 8:<br />
51 coisas mais 23<br />
51 | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | | 74<br />
Escreviam o número total do dia anterior e, a partir dele, contavam 23 risquinhos<br />
chegando a 74. Alguns tinham necessi<strong>da</strong>de de contar todos os objetos, começando<br />
do 1 até 74. Outros manipulavam os objetos, contando a partir de 51.<br />
Observando as estratégias usa<strong>da</strong>s pelas crianças, Célia constatava o nível operatório<br />
e a progressão de ca<strong>da</strong> uma, notando como evoluíam na tarefa de contar. Vez ou<br />
outra, sua turma produzia um texto coletivo sobre a coleção, descrevendo os objetos<br />
que ela continha e relatando os números correspondentes aos acréscimos. Nesses<br />
textos, apareceram até agrupamentos de 10, quando um aluno sugeriu contar assim:<br />
51 mais 10 são 61, com mais 10 são 71, com mais 3 são 72, 73 , 74.<br />
A coleção deu muitas oportuni<strong>da</strong>des para os alunos exercitarem a contagem,<br />
perceberem a adição como acréscimo, fazer estimativas e, ain<strong>da</strong>, proporcionou<br />
momentos interdisciplinares.<br />
Quando a criança começa a contar partindo de um certa quanti<strong>da</strong>de, diz-se que ela faz<br />
uma sobrecontagem, afirmam Duhalde & Cuberes (1998: 56). Ela usará esse recurso<br />
quando estiver somando, por exemplo, 6 mais 4; considera a quanti<strong>da</strong>de 6 e, ao tocar<br />
4 dedos, vai dizendo 7, 8, 9, 10.<br />
O trabalho com as coleções pode durar semanas ou meses e possibilita à criança,<br />
além <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des como as realiza<strong>da</strong>s pela turma <strong>da</strong> Célia, fazer operações de<br />
adição e subtração, comparar e ordenar quanti<strong>da</strong>des. O aumento do número de<br />
“coisas” <strong>da</strong> coleção exigirá <strong>da</strong> criança a elaboração de novas estratégias, pois juntar<br />
¡ ¡ ¡ ¡ ¡ (5) com ¡ ¡ ¡ (3) é fácil, mas reunir 21 com 16 já requer outras<br />
habili<strong>da</strong>des.
Cabe ao professor prover momentos para debater, refletir, justificar, comparar<br />
resultados, buscar alternativas, demonstrar estratégias e explicar raciocínios. Nessas<br />
ocasiões, a interação dos alunos e as intervenções oportunas do professor<br />
promoverão desenvolvimento dos conceitos que as crianças estão construindo.<br />
Dessa maneira, frente a novos desafios que motivam a criança e requer dela<br />
uma participação ativa, o pensamento matemático vai se reforçando e expandindo.<br />
DIALOGANDO COM OS PCNs<br />
O primeiro objetivo especificado pelos Parâmetros <strong>Curricular</strong>es Nacionais<br />
para o bloco de Número e Numeração é:<br />
-Construir o significado do número natural a partir de seus diferentes usos no<br />
contexto social, explorando situações-problema que envolvam contagens, medi<strong>da</strong>s e<br />
códigos numéricos.( p.65)<br />
Ora, é por meio de brincadeiras, do convívio com os familiares e outras<br />
pessoas que a criança vai descobrindo o número e seus mais variados usos: servem<br />
para indicar quanti<strong>da</strong>des, para numerar as coisas, para contar, para indicar<br />
preços, i<strong>da</strong>des, alturas, comprimentos, além de outros usos. Como código, indica<br />
números de telefones, de ônibus, placas de carros, etc.<br />
Os conteúdos conceituais e procedimentais listados pelos PCN’s referentes a<br />
este objetivo são:<br />
Reconhecimento de números no contexto diário.<br />
Utilização de diferentes estratégias para quantificar elementos de uma coleção:<br />
contagem, pareamento, estimativa e correspondência de agrupamentos.<br />
Utilização de diferentes estratégias para identificar números em situações que<br />
envolvem contagens e medi<strong>da</strong>s<br />
Comparação de coleções pela quanti<strong>da</strong>de de elementos e ordenação pelo aspecto <strong>da</strong><br />
medi<strong>da</strong>.( p. 70)<br />
Á medi<strong>da</strong> que os números ganham a forma escrita, o professor e alunos vão<br />
organizando a série numérica. Ela pode ser apresenta<strong>da</strong> em faixa como esta com<br />
números até 20:<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20<br />
Como a seqüência oral já está garanti<strong>da</strong>, para localizar um número na faixa<br />
basta apontá-los um a um, contando-os até encontrar este número. Observa-se que as<br />
crianças vão progredindo e muitas conseguem identificar um número maior, por<br />
exemplo 18, começando a procurá-lo a partir do 10, número esse que já identifica de<br />
pronto. Outras chegam a identificar qualquer número sem precisar recorrer á<br />
contagem. Quando essa atitude passa a ser freqüente, é chegado o momento de<br />
ampliar a faixa numérica, usa<strong>da</strong> como recurso a que a criança recorre quando tem
dúvi<strong>da</strong> sobre a escrita de um número. Dessa forma, a faixa vai aumentando<br />
progressivamente e a leitura dos números amplia-se ca<strong>da</strong> vez mais.<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
Jussara encontrou uma maneira de facilitar a ampliação<br />
<strong>da</strong> faixa numérica: recortou uma tira de papel bem compri<strong>da</strong> e<br />
nela escreveu os números de 1 a 99. Enrolou a faixa iniciando<br />
<strong>da</strong> extremi<strong>da</strong>de superior <strong>da</strong> série, ou seja, do número 99 até<br />
chegar ao 20. Prendeu esse rolo com clipes e colou a tira na<br />
parede em um canto <strong>da</strong> sala de aula.<br />
Usou-a para trabalhar a leitura e escrita de números<br />
até 20 e logo ampliou a faixa, abrindo-a até 40. O campo<br />
numérico ampliado serviu de referencial para a leitura e escrita<br />
desses números.<br />
Á medi<strong>da</strong> que os alunos desenvolviam a habili<strong>da</strong>de de<br />
ler e escrever, Jussara ia aumentando a faixa até chegar a 99.<br />
Ao realizar ativi<strong>da</strong>des com a faixa numérica, a<br />
professora pode constatar as dificul<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> criança e<br />
fazer intervenções oportunas.<br />
O ato de ler e de escrever números está apoiado em dois processos que são:<br />
§ Decodificação – refere-se à habili<strong>da</strong>de de identificar o símbolo numérico<br />
e expressá-lo oralmente ( leitura).<br />
§ Codificação – implica a habili<strong>da</strong>de de encontrar o símbolo que<br />
corresponde a uma determina<strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de e até mesmo registrá-lo (escrita).<br />
As ativi<strong>da</strong>des próprias de codificação e decodificação de quanti<strong>da</strong>des são bem<br />
freqüentes na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança. Surgem quando ela é solicita<strong>da</strong>, por exemplo:<br />
-Coloque os garfos na mesa na mesma quanti<strong>da</strong>de que os pratos, ou, pegue<br />
folhas de papel no armário e distribua uma folha para ca<strong>da</strong> colega. Como a<br />
criança vai executar estas tarefas? Pode contar os pratos indicando o número com os<br />
dedos e, em segui<strong>da</strong>, separar os garfos relacionando-os com os dedos, fazendo<br />
uma contagem termo a termo. Pode, também, contar os pratos e consultar a<br />
faixa numérica para identificar o número e, depois, contar os garfos até aquele<br />
número.<br />
-Em uma outra situação, agora envolvendo decodificação, o professor entrega<br />
ao aluno um cartão com o desenho do objeto com um número ao lado, indicando a<br />
quanti<strong>da</strong>de solicita<strong>da</strong>. Quando o aluno tem dificul<strong>da</strong>de de identificar o número, apesar<br />
de saber contar, ele consulta a faixa, faz a contagem até chegar àquele número e<br />
executa a tarefa.<br />
Ao identificar um símbolo numérico, por exemplo, “9” dizendo “nove”, isso pode<br />
significar que a criança apenas identifica a grafia do símbolo, mas pode ser que ela<br />
reconheça o 9 como um número maior que 8 e menor que 10 e já ter construído esse<br />
número operatoriamente. Nesse segundo estágio, demonstra compreensão sobre o<br />
que leu e será capaz de usar esse número na interação com o ambiente em que vive,
pois ao entender e interpretar, ela desenvolve significados que são expressos e<br />
comunicados. Assim, ao identificar um número e inseri-lo adequa<strong>da</strong>mente em um<br />
contexto, a criança revela inteligibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quilo que leu e as habili<strong>da</strong>des de<br />
decodificar e codificar.<br />
Progressivamente, isso vai acontecendo e o número se manifesta mais<br />
significativamente na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança. Ela passa a comunicar quanti<strong>da</strong>des ao dizer<br />
quantos dias faltam para o fim de semana ou para as férias; ao pedir balas na<br />
lanchonete ou perguntar pelo preço do sanduíche. Nessas situações, ela não<br />
realiza contagem, mas utiliza-se <strong>da</strong> memória numérica.<br />
Há, ain<strong>da</strong>, contextos em que o número aparece como etiqueta numérica, como<br />
no caso de mencionar números telefônicos, canais de televisão, placas de carro,<br />
numeração de casas de uma rua. Apesar de envolver uma comunicação , o número<br />
nessas situações não indica quanti<strong>da</strong>de, mas funciona como código.<br />
Os atos de ler e de escrever números são inerentes à alfabetização<br />
matemática; eles se diferem e, no início, geralmente a leitura precede à escrita, porém<br />
não são excludentes.<br />
Ao passo que a língua materna utiliza letras para escrever as palavras, a<br />
linguagem matemática representa os números usando 10 algarismos: 0, 1, 2, 3, 4, 5,<br />
6, 7, 8 e 9. O algarismo tem um valor fixo (absoluto) e um variável (relativo).<br />
Em números de um algarismo existe apenas o valor absoluto. Esses números<br />
são os primeiros a serem identificados. A criança costuma decodificar em segui<strong>da</strong> o<br />
grupo dos “dezes” ( 10, 20, 30 ....até 90), porque a identificação visual desses<br />
números é mais fácil. Ela os vê globalmente. Quando deve ler, por exemplo, 28 pode<br />
ter dúvi<strong>da</strong>, apesar de identificar separa<strong>da</strong>mente o 20 e o 8 e ao vê-los em 28, às vezes<br />
in<strong>da</strong>ga: “onde está o 20?”<br />
A construção <strong>da</strong> idéia de posição (valor posicional) acontece aos poucos. Por<br />
isso é comum encontrar crianças escrevendo vinte e oito assim: 208 juntando 20 e 8<br />
.....A ESCRITA NUMÉRICA<br />
Desde muito pequenas, as crianças começam a perceber que o ato de<br />
escrever é comum na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas. Observam que a linguagem escrita é<br />
utiliza<strong>da</strong> para registrar aquilo que os adultos não querem esquecer, como uma lista de<br />
compras, contas a pagar, horários de consultas médicas, entre outras. Imitando os<br />
adultos, as crianças inventam escritas para registrar o que acreditam ser importante<br />
para elas. Essas garatujas e rabiscos são as primeiras manifestações de escrita.<br />
No estudo que realizou sobre as primeiras manifestações <strong>da</strong> escrita<br />
infantil, Danyluk (2002) constatou que, ao começar a ter percepção <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong> escrita, a criança passa a rabiscar seu nome e, como prolongamento deste, junto<br />
registra sua i<strong>da</strong>de. Ligar o nome à i<strong>da</strong>de parece ser uma forma de identificação usa<strong>da</strong><br />
pelas crianças.
Outro aspecto que motiva a escrita é a necessi<strong>da</strong>de de informar, por exemplo:<br />
anotar para a mamãe o horário de <strong>da</strong>r ração ao gatinho, enquanto ela estiver na<br />
escola.<br />
As crianças também escrevem porque são solícitas umas com as outras:<br />
quando uma criança tem dificul<strong>da</strong>de de escrever um número é aju<strong>da</strong><strong>da</strong> por outra que<br />
sabe fazê-lo. Esta convivência amigável e a interação entre pares contribui para a<br />
superação <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des. Como reforça Onrubia (1989: 128) ao citar VIGOTSKY:<br />
“aquilo que a criança pode fazer com assistência hoje, será capaz de fazer sozinha<br />
amanhã (...) a zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ain<strong>da</strong><br />
não amadureceram, mas que estão em processo de maturação”.<br />
O aluno que pergunta sobre como escrever um número o faz porque tem<br />
dúvi<strong>da</strong>s. As crianças juntas costumam confrontar e partilhar aquilo que registram.<br />
Nessa interação flui a possibili<strong>da</strong>de de aprender.<br />
Portanto, os motivos que levam a criança a escrever geralmente são:<br />
lembrança, identificação, informação e solicitude, comenta Danyluk (2002: 204).<br />
Quando começa a representar quanti<strong>da</strong>des, a criança utiliza grafismos, que é<br />
uma construção pessoal e não convencional. Danyluk (2002: 37) referindo-se às<br />
pesquisas de Garcia e Ramires, denomina esses grafismos de “símbolos gráficos”.<br />
Estudos realizados por essas pesquisadoras levam a concluir que, utilizando os<br />
símbolos gráficos, a criança passa por quatro níveis de produção que correspondem a<br />
uma gênese de representação gráfica de quanti<strong>da</strong>des. Esses níveis são evidenciados<br />
na escrita numérica espontânea.<br />
No primeiro nível, a criança faz seus desenhos sem nenhuma relação com a<br />
quanti<strong>da</strong>de de objetos que deve representar.<br />
No nível dois, as pesquisadoras afirmam que a criança ain<strong>da</strong> desenha, mas faz<br />
correspondência biunívoca entre os desenhos e os objetos que representam. De<br />
início, seus desenhos procuram ser fieis aos objetos representados. Se vê cinco flores<br />
em um vaso, desenha cinco flores. Aos poucos, percebe que pode fazer a<br />
representação substituindo o desenho do próprio objeto por traços, bolinhas, cruzes,<br />
círculos, entre outros, mantendo a mesma quanti<strong>da</strong>de dos elementos que quer<br />
representar. A numerosi<strong>da</strong>de passa a predominar; importa a quanti<strong>da</strong>de e não a forma<br />
ou a espécie dos objetos representados.<br />
No terceiro nível já há tentativas de escrita numérica, mas a criança usa<br />
escrever a série de números até aquele que é a cardinali<strong>da</strong>de do conjunto; por<br />
exemplo: se vai informar que no grupo há 6 lápis, ela escreve 1,2,3,4,5,6, e diz “seis”.<br />
lápis.<br />
Somente no quarto nível é que consegue escrever o número inclusivo: são 6<br />
Como a construção de um sistema de escrita é um processo longo e progressivo,<br />
há avanços e retrocessos e, portanto, é comum o aluno usar uma ou outra forma de<br />
representação até que consolide o registro numérico
O que chamamos de representação?<br />
A escrita é uma forma de representação. O número é representado por<br />
algarismos. Consideremos representação como sinônimo de substituição, como<br />
utilizar-se de algo para concretizar uma idéia, um conceito, ou seja, “algo que possa<br />
estar no lugar de...” Desse modo, deve haver alguma conexão entre o que está escrito<br />
e, portanto, o que a criança vê ( a representação) e o que ela não vê ( o conceito).<br />
Os símbolos têm significados que os alunos devem conhecer. Portanto,<br />
escrever um número está relacionado ao saber ler esse número e, em conseqüência,<br />
compreendê-lo. Copiar apenas imitando a grafia dos algarismos é muito limitado; é a<br />
decodificação do código numérico. Para progredir na escrita dos números, o aluno<br />
deve descobrir regras que o ajudem nessa tarefa. Essa complementação dos atos de<br />
ler e de escrever, bem como a percepção de normas para a composição numérica é<br />
que vão conduzindo a criança ao entendimento dos números.<br />
Um outro aspecto a considerar no aprendizado <strong>da</strong> escrita é a ativi<strong>da</strong>de motora.<br />
Faz-se necessário que o professor esteja atento ao desempenho <strong>da</strong> criança no ato <strong>da</strong><br />
escrita para verificar:<br />
§ Como segura o lápis?<br />
§ Que movimentos realiza ao escrever? Mantém a direção <strong>da</strong> esquer<strong>da</strong> para<br />
a direita e de cima para baixo?<br />
§ Escreve corretamente os primeiros números ou está espelhando alguns?<br />
§ Consegue copiar transferindo o que está escrito no plano vertical ( no quadro)<br />
para o seu caderno que está no plano horizontal?<br />
A escrita de números espelhados é peculiar ao momento em que as crianças<br />
se encontram. Cabe ao professor cultivar o hábito de fazê-las comparar sua escrita<br />
numérica com a faixa que está à disposição na sala de aula. A criança terá mais<br />
atenção às suas escritas, e, assim, ao fazer o número invertido, perceberá que este<br />
não foi registrado corretamente de acordo com a convenção adota<strong>da</strong>. Dessa forma,<br />
ela terá percepção do erro e poderá fazer a correção necessária.<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
Os alunos de Célia gostam muito de jogar varetas. Às vezes, o jogo se resume<br />
em pegá-las e contar quantas ca<strong>da</strong> jogador conseguiu apanhar. Nesse caso, ca<strong>da</strong><br />
vareta vale um ponto.<br />
Outras vezes, atribuem pontos às varetas, como nesta aula em que elas<br />
valeram pontos diferenciados:<br />
-as amarelas ..........2 pontos<br />
-as azuis.................3 pontos<br />
-as verdes...............4 pontos
-as vermelhas ....... 5 pontos<br />
-a preta..................10 pontos<br />
Os alunos iam jogando, e anotando quantas varetas de ca<strong>da</strong> cor conseguiram<br />
pegar e o número de pontos correspondentes a elas. O vencedor seria aquele que<br />
fizesse mais pontos.<br />
Além de trabalhar a motrici<strong>da</strong>de, este jogo possibilitou à criança realizar<br />
contagens e, até, somar. Também, propiciou oportuni<strong>da</strong>de de escrita numérica.<br />
Veja as anotações feitas por três alunos:<br />
Como no jogo do qual participou, ca<strong>da</strong> vareta valia 1 ponto, Camilla<br />
simplesmente contou as varetas que conseguiu apanhar.<br />
Alice agrupou as varetas pela cor e contou: 2 azuis, 4 vermelhas, 3 amarelas e<br />
1 verde e, em segui<strong>da</strong> chegou ao total 10.
Já no jogo realizado por Juliano, as varetas valiam pontos diferenciados. Ele<br />
anotou a relação na parte de baixo <strong>da</strong> folha. Em cima, ele escreveu o número de<br />
varetas de ca<strong>da</strong> cor que conseguiu apanhar. Como envolvia uma quanti<strong>da</strong>de maior,<br />
resolveu a questão fazendo tracinhos, levando em conta a quanti<strong>da</strong>de de varetas e o<br />
valor de ca<strong>da</strong> uma e, assim, encontrou o número total.<br />
DIALOGANDO COM OS PCNs<br />
O segundo objetivo sobre Número e Numeração determinado pelos<br />
Parâmetros <strong>Curricular</strong>es refere-se à escrita de números.<br />
Ele sugere: - “Interpretar e produzir escritas numéricas, levantando hipóteses<br />
sobre elas, com base na observação de regulari<strong>da</strong>des, utilizando-se <strong>da</strong> linguagem<br />
oral, de registros informais e <strong>da</strong> linguagem matemática.” ( p. 65)<br />
Os conteúdos relacionados a este objetivo são:<br />
• Formulação de hipóteses sobre a grandeza numérica, pela<br />
identificação <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de algarismos e <strong>da</strong> posição ocupa<strong>da</strong> por eles na escrita<br />
numérica.<br />
freqüentes.<br />
• Leitura, escrita, comparação e ordenação de números familiares ou
• Observação de critérios que definem uma classificação de números<br />
(maior que, menor que, estar entre) e de regras usa<strong>da</strong>s em seriações (mais 1, mais<br />
2,...)<br />
• Identificação de regulari<strong>da</strong>des na série numérica para nomear, ler e<br />
escrever números menos freqüentes.( p. 71)<br />
Quando a criança aperfeiçoa a forma de fazer seus registros, passando <strong>da</strong><br />
representação esquemática para o uso dos algarismos, ela o faz reproduzindo a<br />
expressão oral. Assim, quarenta e nove é escrito por justaposição de 40 e 9 → 409.<br />
Por segui<strong>da</strong>s tentativas ela vai substituindo essa forma pela convencional, à medi<strong>da</strong><br />
que formula e testa hipóteses sobre a escrita numérica. Os limites do seu campo<br />
numérico vão se ampliando, e, aos poucos, faz ajustes necessários na sua<br />
escrita. É o que discutiremos em segui<strong>da</strong>.<br />
.....AMPLIAÇÃO DO CAMPO NUMÉRICO<br />
As crianças escrevem inicialmente os números até 9. Após estes, costumam<br />
registrar as dezenas exatas ( 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 ) e os números até 19.<br />
Por outro lado, a contagem puxa a ampliação do campo numérico, pois o<br />
recitado oral chega, muitas vezes, a números de 3 algarismos. O professor deve<br />
trabalhar outras formas de contar, como: de 2 em 2, de 5 em 5, de 10 em 10. Para<br />
realizar uma contagem de 2 em 2, o aluno pode apontar e ler um número na faixa<br />
numérica e pular outro. Se ca<strong>da</strong> aluno levantar uma mão, um dos colegas pode contar<br />
mais facilmente de 5 em 5 ( referindo-se aos dedos). Associando os números à<br />
contagem, ca<strong>da</strong> aluno terá uma ficha correspondente ao número dito pelo colega: o<br />
primeiro terá a ficha do 5 ( que será mostra<strong>da</strong> quando o aluno que estiver contando diz<br />
o nome do número); o segundo a ficha de 10, o seguinte a de 15, e assim por diante.<br />
O mesmo pode ser feito na contagem de 10 em 10. Outra contagem que torna-se mais<br />
fácil com o uso <strong>da</strong> faixa numérica é a regressiva, ou seja, de um número maior para<br />
um menor, ou de trás para frente.<br />
A ampliação do campo numérico não se restringe à contagem, identificação e<br />
leitura de números, mas, também à sua escrita.<br />
Para verificar o progresso dos alunos em relação à escrita, o professor pode<br />
motivá-los a escrever até o número que conseguem. È possível que ele fique<br />
surpreso, pois, na escrita espontânea alguns alunos superam sua expectativa.<br />
Veja o que ocorreu na turma de Marta, uma classe na fase introdutória forma<strong>da</strong> por<br />
crianças de seis anos:<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
Marta conversou com seus alunos de seis anos sobre os números<br />
presentes na vi<strong>da</strong> deles. Ela usou vários contextos em que as crianças<br />
palpitaram:<br />
-o número do meu sapato é vinte e oito;
-papai tem quarenta e cinco anos;<br />
-moro na rua <strong>da</strong>s Acácias, número cento e trinta e nove:<br />
-gosto do canal quarenta e seis, em que se passam muitos desenhos<br />
animados;<br />
-eu peso vinte e sete quilos;<br />
-um pãozinho custa vinte e cinco centavos;<br />
-vovó tem oitenta e dois anos;<br />
-ontem estava muito quente e fez trinta e oito graus.<br />
Após esta discussão, Marta deu uma folha de papel a ca<strong>da</strong> aluno e disse-lhes<br />
para escrever números até onde conseguissem.<br />
A seguir, estão as escritas espontâneas de quatro alunos: Lucas, Gabriel, Alan<br />
e Beatriz.<br />
Esta é a escrita do Lucas:<br />
Percebe-se que Lucas já tem o campo numérico expandido e escreveu<br />
corretamente os números até 155. Tem um traço perfeito e parece ter vencido as<br />
hipóteses numéricas pertinentes à escrita desses números.<br />
118:<br />
Este modelo mostra como Gabriel fez o registro numérico dos números até
Gabriel acertou até o número 100. Registrou os seguintes por justaposição:<br />
100 mais 1 ( 1001) para 101; 100 junto com 2 ( 1002) para 102, até 10018 para 118.<br />
Ele precisa trabalhar as hipóteses numéricas.<br />
Abaixo está a escrita numérica do Alan:<br />
Ele escreveu até 195 à sua maneira. Como usou frente e verso de sua folha, foi<br />
considerado apenas parte do que fez, restringindo a série aos números 112 a 195,<br />
pois o que chama a atenção na sua escrita pode ser observado aqui. Até 109, ele<br />
escreveu corretamente. Cento e dez foi escrito por 1 e zero seguido de 10, ou seja, 10
substituiu o 9 em 109. E, assim, continuou: 1011, para 111; 1012 para 112 até 1095<br />
para 195. Pode-se afirmar que Alan ain<strong>da</strong> está construindo o princípio posicional.<br />
Agora, observe o que fez Beatriz.<br />
Beatriz conseguiu registrar de maneira correta até o número 109; depois<br />
confundiu-se e passou a escrever números de 4 algarismos. Faltam-lhe referências<br />
para que possa organizar-se mentalmente ao escrever números maiores.<br />
Observando as evidências que a escrita espontânea nos fornece, constata-se<br />
que a criança elabora algumas hipóteses ao escrever números.<br />
Quais hipóteses a criança constrói ao escrever os números?<br />
Delia Lerner (1995),com base em estudos e pesquisas sobre a escrita<br />
numérica, afirma que as primeiras escritas produzi<strong>da</strong>s pelas crianças são feitas à<br />
imagem e semelhança <strong>da</strong> numeração fala<strong>da</strong>. Assim sendo, registram um número tal<br />
como o dizem; como exemplo, o número duzentos e trinta e cinco que é registrado<br />
assim: duzentos (200) e trinta (30) e cinco (5), ou seja, 200305.<br />
Aos poucos, começam perceber certas regulari<strong>da</strong>des na escrita numérica e<br />
vão formulando hipóteses sobre as possibili<strong>da</strong>des de fazer estes registros. É de<br />
grande aju<strong>da</strong> neste período ter algumas referências como a faixa numérica e o<br />
calendário linear.
Uma <strong>da</strong>s primeiras hipóteses construí<strong>da</strong>, tal como é expressa pelas crianças,<br />
é: “um número é maior que outro quando ao contar falo seu nome depois desse outro”<br />
. Assim, 41 é maior que 34, “pois, falo 41 depois de 34 quando estou contando”.<br />
Outro critério diz respeito à comparação de números de dois algarismos<br />
quando a criança descobre que “o primeiro é quem man<strong>da</strong>”; então, por essa norma,<br />
“72 é maior que 59, porque, 7 é maior que 5”.<br />
No entanto, ao deparar-se com dois números de uma mesma dezena, vai notar<br />
que o primeiro algarismo é igual ao do outro; nesse caso, prevalece a comparação do<br />
segundo dígito; assim, 49 é maior que 42 porque 9 é maior do que 2. Mesmo porque,<br />
nesse caso é fácil descobrir que 49 é maior que 42, pois a contagem mental aju<strong>da</strong> a<br />
resolver a questão.<br />
Uma outra hipótese que as crianças costumam usar é basea<strong>da</strong> na constatação<br />
de que os números correspondentes aos “dezes” tem dois algarismos e os dos<br />
“centos” tem 3 algarismos.<br />
Uma observação: nessa fase as crianças usam o termo “número” no lugar de<br />
“algarismo”; portanto, elas falam “29 tem dois números porque é do grupo dos dezes”.<br />
Esta hipótese funciona como um parâmetro na hora de escrever. Se uma<br />
criança registra 306 em vez de 36, é comum um colega chamar-lhe atenção: “trinta e<br />
seis é do grupo dos dezes e tem dois números”. É dessa forma que os alunos vão<br />
corrigindo a rota e progredindo na escrita numérica.<br />
No entanto, mesmo que a criança já esteja construindo as hipóteses, vez ou<br />
outra escrevem os números por justaposição: 100205, no lugar de 125. Mas,<br />
“uma manifestação de que começa a tomar conta do conflito é, portanto,<br />
a perplexi<strong>da</strong>de, a insatisfação diante <strong>da</strong> escrita por ela mesma<br />
produzi<strong>da</strong>. Esta insatisfação leva logo a efetuar correções dirigi<strong>da</strong>s a<br />
“diminuir” a escrita (....), porém, estas correções somente são possíveis<br />
depois de terem produzido a escrita” afirma Delia Lerner (Parra & Saiz,<br />
1996: 103 ).<br />
Os ajustes feitos pelo aluno representam uma compreensão local e ele<br />
consegue reduzir a quanti<strong>da</strong>de de algarismos, mas, esta solução não funciona ain<strong>da</strong><br />
de forma antecipatória. Acontece que o aluno volta a cometer essas incorreções em<br />
outros números que tenta escrever. É necessário que se dê tempo à criança, que lhe<br />
sejam proporciona<strong>da</strong>s muitas e muitas oportuni<strong>da</strong>des para escrever números e que o<br />
professor faça intervenções oportunas e adequa<strong>da</strong>s, levando-a a analisar suas<br />
escritas numéricas.<br />
FLASH DE SALA DE AULA<br />
Para trabalhar a leitura e escrita de números, Marta fez uma porção<br />
de fichas de papel cartão e nelas escreveu os algarismos de zero a 9.<br />
Havia umas três fichas para ca<strong>da</strong> número de 1 a 9 e dez fichas com<br />
zero.
Dispôs os alunos assentados no chão, em ro<strong>da</strong>, e colocou as fichas no<br />
centro. Ca<strong>da</strong> um tinha uma folha de papel, lápis e borracha.<br />
Chamou uma criança ao centro <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> e pediu que colocasse em<br />
ordem os números de 1 a 9. Em segui<strong>da</strong>, chamou outra que pegou as<br />
fichas e representou as dezenas de 10 a 90. Os aluno leram e<br />
escreveram estes números.<br />
Continuando, chamou outras crianças para representar com as<br />
fichas alguns números. Marcelo devia registrar trinta e sete. Ele<br />
pensou, pegou a ficha do 3 e do zero e formou 30; depois pegou a ficha<br />
do 7 e colocou-a ao lado, formando 3 0 7. Olhou, olhou ..e, tirando o 7,<br />
perguntou à professora: posso colocar o sete em cima do zero?<br />
Diante <strong>da</strong> afirmativa <strong>da</strong> professora ele acrescentou: assim eu não<br />
esqueço do trinta que estava aqui. Esse fato foi uma evidência de que<br />
Marcelo já estava percebendo o valor posicional.<br />
Outros números foram formados, inclusive com três algarismos.<br />
Á medi<strong>da</strong> que um número era representado todos os alunos conferiam<br />
se a representação estava correta, faziam sua leitura e escrita.<br />
Ativi<strong>da</strong>des desse tipo, em que se observa, discute, confere, corrige<br />
quando é necessário e escreve os números, possibilitam à criança<br />
realizar ajustes, elaborar conclusões e progredir na escrita numérica.<br />
Paralelamente à ampliação do campo, a faixa numérica exposta na sala<br />
de aula deve também ir aumentando. Quando atingir 100, pode-se <strong>da</strong>r outra forma á<br />
seqüência numérica dispondo-a em um quadro.<br />
Para isso, os alunos vão recortar a faixa após ca<strong>da</strong> dezena exata:<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20<br />
A tira seguinte terá os números de 21 a 30 e, assim por diante. Depois de ter<br />
recortado as dez tiras, os alunos irão colá-las em folha de cartolina formando o quadro<br />
de 100:<br />
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10<br />
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20<br />
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30<br />
31 32 33 34 35 36 37 38 39 40<br />
41 42 43 44 45 46 47 48 49 50<br />
51 52 53 54 55 56 57 58 59 60
61 62 63 64 65 66 67 68 69 70<br />
71 72 73 74 75 76 77 78 79 80<br />
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90<br />
91 92 93 94 95 96 97 98 99 100<br />
Espera-se que a construção desse quadro facilite o entendimento <strong>da</strong><br />
disposição dos números numa seqüência dupla; na horizontal (organização de 1 em 1)<br />
e na vertical (organização de 10 em 10).<br />
Explorando-o, a criança pode visualizar os grupos de 10:<br />
-em ca<strong>da</strong> linha há 1 grupo de 10;<br />
-há 10 grupos de 10 no quadro; podemos verificar isso contando de 10 em 10;<br />
-em 100 há 10 grupos de 10.<br />
Chegando a estas conclusões, não parece estranho a criança afirmar que em<br />
86, por exemplo, há 8 grupos de10 mais 6. Contando até 90, conclui que, para formar<br />
outro grupo de 10 faltam 4. Estas afirmativas não decorrem de memorização desses<br />
fatos, mas <strong>da</strong> compreensão deles.<br />
Diferentes formas de ler esses números podem ser usa<strong>da</strong>s, como ler:<br />
-os números de uma fila;<br />
-os números de uma coluna;<br />
-os números vizinhos (o que está logo antes e logo depois) de 74;<br />
-os números eu estão logo em volta de, por exemplo, 47 ( 46, 48, 37 e 57)<br />
-todos os números terminados em 3.<br />
A escrita numérica deve estar associa<strong>da</strong> a estas ativi<strong>da</strong>des. Nessa fase,<br />
sempre que for possível, os atos de ler e de escrever devem ser simultâneos.<br />
Aplicando o que descobriu a respeito <strong>da</strong> composição dos números, a criança<br />
passa a ler e escrever números com 3 algarismos. Quando surgir uma incorreção na<br />
escrita, a intervenção do professor no sentido de fazer o aluno observar o erro e refletir<br />
sobre ele é de grande importância. É comum neste período aparecerem escritas para<br />
135 assim: 100305 ou 10035. Tendo consciência <strong>da</strong> forma erra<strong>da</strong>, a criança buscará<br />
o acerto e isso reforçará a aprendizagem.<br />
HABILIDADES QUE PODEM SER DESENVOLVIDAS NO TRABALHO<br />
COM NÚMERO E NUMERAÇÃO<br />
QUADRO 1<br />
CONSTRUÇÃO DO NÚMERO
Reconhecer números em contextos diários:<br />
identificando números como expressão de quanti<strong>da</strong>des;<br />
identificando números como código.<br />
Agrupar objetos e organizar classes:<br />
comparando objetos e estabelecendo semelhanças entre eles;<br />
realizando agrupamentos mediante uma relação simétrica, ou seja, tendo como<br />
referência a<br />
semelhança entre os objetos;<br />
identificando o atributo comum em um grupo de objetos;<br />
<strong>da</strong>ndo nome à classe.<br />
Organizar séries de objetos:<br />
comparando objetos e estabelecendo diferença entre eles;<br />
construindo séries mediante uma relação assimétrica;<br />
relacionando objetos de uma série entre si e destes com a série;<br />
intercalando objetos numa série já organiza<strong>da</strong>.<br />
Recitar a série numérica:<br />
dizendo os nomes dos números em ordem de uma forma correta e progressiva<br />
(ampliação <strong>da</strong> série);<br />
Realizar contagens demonstrando saber:<br />
estabelecer correspondência biunívoca entre um objeto contado e o nome dele;<br />
manter a seqüência dos nomes dos números;<br />
contar todos os objetos, não omitindo nenhum.<br />
Saber usar as relações “antes de / anterior” e “depois de / posterior” numa série.<br />
Conseguir quantificar grupos de objetos:<br />
identificando o total de objetos de um grupo;<br />
reconhecendo que a totali<strong>da</strong>de não se modifica pela forma e nem pela disposição<br />
dos<br />
objetos no grupo.<br />
Reconhecer a inclusão hierárquica:<br />
percebendo a inclusão de grupos menores em grupos maiores;<br />
reconhecendo o número inclusivo.<br />
QUADRO 2<br />
LEITURA E ESCRITA DE NÚMEROS<br />
Identificar os símbolos utilizados para codificar números de zero a nove, associando-os<br />
aos seus significados:<br />
lendo números de zero a 9.<br />
Ler números representando dezenas exatas.<br />
Desenvolver habili<strong>da</strong>des necessárias para a escrita de números:
sabendo segurar o lápis;<br />
traçando os números em movimentos adequados.<br />
Escrever números:<br />
de 1 a 9<br />
representando dezenas exatas.<br />
Escrever números de 2 ou mais algarismos:<br />
consultando faixas numéricas ou outras referências;<br />
demonstrando autonomia na escrita e evidenciando a construção de hipóteses<br />
numéricas;<br />
Produzir seqüências numéricas escritas relacionando os números e observando critérios<br />
de organização.<br />
QUADRO 3<br />
AMPLIAÇÃO DO CAMPO NUMÉRICO<br />
Produzir séries numéricas:<br />
escrevendo números em ordem crescente e decrescente;<br />
escrevendo séries de 2 em 2, de 5 em 5, de 10 em 10, de 100 em 100.<br />
Ler e escrever números maiores e menos freqüentes no seu cotidiano.<br />
Organizar o quadro de cem e usá-lo demonstrando conseguir:<br />
ler números em fila e em coluna;<br />
localizar números no quadro;<br />
apontar números que antecedem ou sucedem um outro;<br />
identificar números em determinados grupos de dez;<br />
interpretar números, como: 29 = 20 mais 9 ou 2 grupos de 10 mais 9.<br />
A listagem <strong>da</strong>s habili<strong>da</strong>des em três quadros não significa que as mesmas serão<br />
construí<strong>da</strong>s na ordem em que estão coloca<strong>da</strong>s. Os conteúdos matemáticos são<br />
desenvolvidos de uma forma integra<strong>da</strong> e uma habili<strong>da</strong>de interage com outras e<br />
surgem simultaneamente no processo de aprendizagem. A apresentação seqüencial<br />
se justifica apenas por favorecer a organização e a compreensão do que está exposto.