LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA
LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA
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Nesse sentido, a quase total ausência, nas salas de aula, da<br />
produção literária em que vozes negras articulem sentidos sobre<br />
sua própria condição social pode ser vista como a perpetuação<br />
dessa representação de Brasil. O que se observa na produção<br />
editorial dirigida à escola é a obliteração da problemática racial<br />
nos poucos escritores negros que têm suas literaturas analisadas,<br />
além da minimização dos papéis das representações<br />
estereotipadas ou animalizadas dos negros em obras literárias<br />
que fazem referência a teorias raciais ou discutem as<br />
especificidades das relações entre os diferentes grupos étnicoraciais<br />
no Brasil, caso de parte da produção literária de Machado<br />
de Assis, Cruz e Souza, Lima Barreto, Euclides da Cunha, Mário<br />
de Andrade, Jorge Amado, entre tantos outros.<br />
Trabalhar a historicidade do texto literário tem significado,<br />
portanto, na Escola Básica brasileira, tratá-lo em uma linha de<br />
tempo linear-cronológica, desde o século XVI até o século XX,<br />
reproduzindo a organização tradicional dos estudos em estilos de<br />
época, seus autores e obras mais representativos. Organizado<br />
dessa forma, nosso ensino reduz tanto o multiperspectivismo<br />
próprio do texto literário quanto a concepção de história literária,<br />
ao compreender a literatura como uma naturalizada sucessão de<br />
estilos, períodos ou movimentos literários.<br />
O reducionismo desse tipo de concepção se torna ainda mais<br />
complexo, porque, sob tal quadro cronológico, surgindo como um<br />
fundamento da escolha da maioria dos autores e obras<br />
canonizados, encontra-se um projeto de nação limitador, marcado<br />
pela amenização de tensões sociais que possam levar a lembrar<br />
a violência sofrida por grupos étnico-raciais sujeitados, dizimados<br />
ou silenciados no decorrer de nossa história.<br />
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