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LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

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são conhecidos por um público mais amplo, pois constam na<br />

maioria dos livros didáticos em circulação no país: Cruz e Sousa<br />

e Lima Barreto. Todavia, eles são, geralmente, apresentados de<br />

forma superficial ou inadequada ao estudante.<br />

A obra de Cruz e Sousa, nesse sentido, é a<br />

que mais tem sido deturpada em manuais<br />

de ensino de literatura, fazendo com que a<br />

visão corrente sobre o escritor seja a de<br />

quem representou em sua produção<br />

Cruz e Sousa<br />

poética um latente desejo de<br />

(1861-1898) embranquecer, devido a uma pretensa<br />

preocupação obsessiva pela cor branca no vocabulário por ele<br />

usado. Entretanto, tem sido sistematicamente ignorada a<br />

produção literária em que um eu negro se coloca bravamente<br />

contra a violência que o racismo cravava na sociedade brasileira<br />

da época em que Sousa viveu e produziu. Nascido em<br />

Florianópolis, foi poeta, escritor e advogado preocupado com a<br />

situação do escravizado e com a discriminação sofrida pelos<br />

descendentes de africanos.<br />

Poemas como Escravocratas, Na senzala, Grito de Guerra, a<br />

prosa poética Emparedado, entre outros textos, demonstram a<br />

participação de Sousa no processo social de seu tempo. As<br />

paredes que cerram um sujeito poético aos limites<br />

autoritariamente demarcados por uma sociedade racista são uma<br />

hiperbólica imagem que traduz as contradições e a dor com que<br />

um escritor negro, de fins do século XIX, tinha que lidar:<br />

Não! Não! Não! Não transporás os pórticos milenários da<br />

vasta edificação do mundo, porque atrás de ti e adiante<br />

de ti não sei quantas gerações foram acumulando, pedra<br />

sobre pedra, pedra sobre pedra, que para aí estás agora<br />

o verdadeiro emparedado de uma raça. Se caminhares<br />

para a direita baterás e esbarrarás, ansioso, aflito, numa<br />

parede horrendamente incomensurável de Egoísmos e<br />

Preconceitos! Se caminhares para a esquerda, outra<br />

parede, de Ciências e Críticas, mais alta do que a<br />

primeira, te mergulhará profundamente no espanto! Se<br />

caminhares para a frente, ainda nova parede, feita<br />

<br />

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