18.04.2013 Views

LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

trabalhar obras específicas (cumprindo o projeto pedagógico da escola) no qual os negros<br />

não aparecem, ou, quando são inseridos nas narrativas, é em posição de subalternidade. O<br />

importante, nesse caso, é ter professores atentos e capacitados para desconstruir essas<br />

representações para que, no processo, possam aproveitar para problematizar junto a<br />

seus(suas) alunos(as) as mais diversas situações encontradas.<br />

Na perspectiva das discussões desta Unidade, propomos um trabalho com o livro “Vítimas<br />

Algozes” (1869), de Joaquim Manoel de Macedo, no qual o escravo Simeão é assim<br />

descrito:<br />

Simeão, o crioulo mimoso, perdido, malcriado pelas afetuosas condescendências e<br />

fraquezas dos senhores em casa, pervertido pelos deboches da venda e pelo<br />

veneno do crápula, ingrato pela condição de escravo, sem educação e sem habito<br />

de trabalho, contando com a liberdade e não conseguindo era um perverso<br />

armando loucamente contra os seus senhores pelas mãos de seus senhores<br />

(MACEDO, 2005, p.49)<br />

Apesar da existência de personagens negros, estes não eram vistos<br />

como brasileiros pela maioria das narrativas do século XIX. Alguns<br />

autores da época ignoraram completamente a presença da<br />

população de origem africana de suas narrativas. Ou representavam<br />

de forma estereotipada, como no trecho do romance “Vítimas<br />

Algozes”, no qual pudemos ver a descrição do escravo perverso,<br />

traidor e pervertido. Infelizmente, muitos estigmas foram construídos<br />

e são reiterados em obras literárias até os dias atuais.<br />

Para um debate em classe, destacamos a escritora maranhense, Maria Firmina Reis, com<br />

romance “Úrsula” (1859),<br />

Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a<br />

teu próximo como a ti mesmo – e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça<br />

ao seu semelhante!... aquele que também era livre no seu país... aquele que é seu<br />

irmão?!<br />

E o mísero sofria; porque era escravo, e a escravidão não lhe embrutecera a alma;<br />

porque os sentimentos generosos, que Deus lhe implantou no coração,<br />

permaneciam intactos, e puros como sua alma. Era infeliz; mas era virtuoso; e por<br />

isso seu coração enterneceu-se em presença da dolorosa cena, que se lhe<br />

ofereceu à vista.<br />

A leitura proposta por Firmina sobre a escravidão e os escravos é completamente diferente<br />

do olhar de Macedo. Sob a perspectiva feminina, os escravos eram virtuosos, possuindo<br />

sentimentos de generosidade mesmo em meio à violência e aos maus tratos.<br />

Os trechos de Macedo e Firmina aqui expostos evidenciam os diferentes modos de<br />

interpretação para o mesmo evento: escravidão. A importância de Firmina não está só nos<br />

<br />

23

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!