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LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

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masculino 8 . O escritor negro precisa lidar, portanto, com no<br />

mínimo duas contradições: não só ser exceção em seu meio<br />

social como escrever para leitores formados segundo parâmetros<br />

da tradição literária ocidental. O escritor e crítico literário Cuti<br />

esmiúça o drama vivido pelo autor negro que reivindica essa<br />

condição social, ao escrever para leitores negros, mestiços e<br />

brancos:<br />

A relação leitor/texto/autor, na literatura brasileira, implica quase<br />

sempre a invisibilidade do leitor negro. É, como no contexto social<br />

o foi por muito<br />

tempo, desconsiderado enquanto cidadão. A experiência do leitor<br />

negro ante o grande espectro da literatura nacional é a mesma de<br />

quem tivesse ouvindo uma conversa entre brancos, atrás da porta,<br />

do lado de fora. E só encontra uma saída: abstrair-se de sua<br />

concrecute e admitir, em si, o branco, enquanto autor, personagem<br />

principal e destinatário do discurso. Não se constitui como “leitor<br />

ideal” para os escritores brancos nem mesmo para os mestiços ou<br />

negros, inclusive a maioria dos modernos. Até que o escritor,<br />

sendo negro que escreve sem renegar sua experiência subjetivoracial,<br />

eleja-o em seu ato de criação. Nasce o interlocutor negro<br />

do texto emitido pelo “eu” negro, num diálogo que põe na<br />

estranheza, na condição de ausente, o leitor “branco”. [grifos do<br />

autor] 9<br />

Essa liberação da criação literária, sob a perspectiva étnico-racial<br />

do negro no Brasil, abre espaço não só para o intercâmbio com<br />

outras tradições culturais não legitimadas no ambiente escolar<br />

como também para uma discussão mais aprofundada dos lugares<br />

de privilégio reservados aos brancos brasileiros enquanto<br />

categoria social. Um ensino de literatura que promova o<br />

desbloqueio de vozes literárias tradicionalmente silenciadas<br />

possibilita ao educando estar no lugar, literalmente na pele do<br />

outro, apreendendo-lhe a dimensão humana.<br />

Dando continuidade às questões até aqui abordadas, na próxima<br />

Unidade, discutiremos a produção literária afro-brasileira, do<br />

século XIX até a contemporaneidade.<br />

<br />

20

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