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LITERATURA BRASILEIRA E LITERATURA AFRO-BRASILEIRA

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Venceslau Pietro Pietra, através dos poderes demoníacos desse<br />

orixá. A reza final dedicada a Exu, construída como paródia à<br />

prece “Padre Nosso”, reduz o culto afro-brasileiro a uma<br />

caricatura infernal do ritual católico:<br />

- Padre Exu achado nosso que vós estais no trezeno inferno da<br />

esquerda de baixo, nóis te quereremo muito, nóis tudo!<br />

- Quereremos! quereremos!<br />

- ... O pai nosso Exu de cada dia nos dai hoje, seja feita vossa<br />

vontade assim também no terreiro da sanzala que pertence pro<br />

nosso padre Exu, por todo o sempre que assim seja, amém!...<br />

Glória pra pátria jeje de Exu!<br />

- Glória pro fio de Exu!<br />

Macunaíma agradeceu. A tia acabou:<br />

- Chico-t era um príncipe jeje que virou nosso padre Exu dos<br />

século seculoro pra sempre que assim seja, amém.<br />

- Pra sempre que assim seja, amém! (Macunaíma, p. 63-64)<br />

O humor zombeteiro presente no capítulo “Macumba” é, portanto,<br />

a forma extremada de uma série de representações<br />

estereotipadas que perpassam pelo romance. Perceber<br />

representações negativas do negro na literatura é condição<br />

indispensável para compreender que há representações literárias<br />

positivas tanto dos afro-descendentes quanto das culturas e<br />

conhecimentos por eles produzidos. A literatura contemporânea<br />

que se auto-nomeia afro-brasileira produz uma perspectiva<br />

radicalmente oposta às visões correntes dos afro-descendentes<br />

na literatura que mais comumente tem circulado nas salas de aula<br />

do país.<br />

Acadêmicos brasileiros cuja produção tem se voltado para<br />

textualidades negras demonstram a ampliação identitária que o<br />

texto afro-brasileiro proporciona à sociedade, na medida em que<br />

joga com a possibilidade de deslizar produtivamente entre a<br />

tradição ocidental européia e tradições africanas aqui<br />

retrabalhadas.<br />

Dentro de tal processo de deslizamento identitário, a mudança de<br />

referenciais do texto afro-brasileiro desnaturaliza um leitor<br />

fabulado como único no Brasil: branco e, quase sempre,<br />

<br />

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