Laranja-da-China - Unama
Laranja-da-China - Unama
Laranja-da-China - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
Os violeiros puxando a reza e encabeçando as filas fazem reverências.<br />
Viram-se para os outros. E os outros <strong>da</strong>nçam com eles. Bate-pé no chão de terra<br />
soca<strong>da</strong>. Pan-pan-pan-pan! Pan-pan! Pan Pan-pan-pan-pan! Pan-pan! Param de<br />
repente.<br />
Para bater palmas. Pla-pla-pla-plá! Pla-plá Plá! Pla-pla-pla-plá! Pla-plá!<br />
Param de repente.<br />
Para os violeiros cantarem, viola no queixo:<br />
É este o primeiro verso<br />
Qu'eu canto pra São Gon<br />
- Senta ai mesmo no chão, Benedito. Tu não é mió que os outro, diabo!<br />
É este o primeiro verso<br />
Qu'eu canto pra São Gonçalo<br />
E o coro começa grosso, grosso. Rola subindo. Desce fino, fino. Mistura-se.<br />
Prolonga-se. Ôooôh! Aaaah! Ôaôh! Ôaiiiih! Um guincho!<br />
O violeiro de olhos apertados cumprimenta o companheiro. E marcha<br />
seguido pela fila. Dá uma volta. Reverências para a direita. Reverências para a<br />
esquer<strong>da</strong>. Ninguém pisca. Volta para seu lugar.<br />
— Entra, Seu Casimiro!<br />
O japonês Kashamira entra com a mulher e o filhinho brasileiros de roupa de<br />
brim. Inclina-se diante de São Gonçalo. Acocora-se.<br />
O acompanhamento <strong>da</strong>s violas feito de três compassos não cansa. Nos<br />
cantos sombreados os assistentes têm rosário nas mãos. No centro <strong>da</strong> sala de cinco<br />
por quatro a lâmpa<strong>da</strong> de azeite <strong>da</strong>nça também.<br />
Minha boca está cantando<br />
Meu coração lhe adorando<br />
Cabeças mulatas espiam nas janelas. A porta é um monte de gente. Dona<br />
Teresa, desdenta<strong>da</strong>, recebe os convi<strong>da</strong>dos.<br />
— Não vê que meu defunto Seu Vieira tá enterrado já há dois ano... Faz<br />
mesmo dois ano agora no Natar.<br />
céu.<br />
Pan-pan-pan-pan! Pan-pan! Pan!<br />
— A arma dele tá penando aí por esse mundo de Deus sem poder entrar no<br />
Pla-pla-pla-plá! Pla-plá!<br />
— Eu então quis fazer esta oração pra São Gonçalo deixar ele entrar.<br />
Vou man<strong>da</strong>r fazer um barquinho<br />
Da raiz do alecrim<br />
O menino de oito anos aumenta a fila <strong>da</strong> direita. A folhinha <strong>da</strong> parede é uma<br />
paisagem de neve. Mas tem um sol. E o guerreiro com uma bandeirinha auriverde<br />
no peito espeta o sol com a espa<strong>da</strong>. EMPÓRIO TUIUTI.<br />
38