Laranja-da-China - Unama
Laranja-da-China - Unama
Laranja-da-China - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
— Ah! É? Êta falta de vergonha, minha Nossa Senhora!<br />
www.nead.unama.br<br />
Maria José (segun<strong>da</strong>-secretária <strong>da</strong> Congregação <strong>da</strong>s Virgens de Maria <strong>da</strong><br />
paróquia) arriscou uma pia<strong>da</strong> pronominal:<br />
— Minha ou nossa?<br />
— Não seja cretina!<br />
Jogou a fantasia no chão e foi para outra sala soluçando.<br />
Totónio gozou esmurrando o teclado.<br />
O contínuo disse:<br />
— Macaco pelo primeiro.<br />
Abaixou a cabeça vencido. Sim, senhor. Sim, senhor. O papel para informar<br />
ficou para informar. Pediu licença ao diretor. E saiu com uma ruga fun<strong>da</strong> na testa. As<br />
botinas rangiam. Ele parava, dobrava o peito delas erguendo-se na ponta dos pés,<br />
continuava. Chiavam. Não há cousa que incomode mais. Meteu os pés de propósito<br />
na poça barrenta. Duas fantasias de o<strong>da</strong>lisca. Duas caixas de bisnaga. Contribuição<br />
para o corso. Botinas de cinqüenta mil-réis. Para rangerem assim. Mais isto e mais<br />
aquilo e o resto. O resto é que é o pior. Faca<strong>da</strong> doí<strong>da</strong> do Aristides. Outra mais<br />
razoável do Carlinhos. Serpentina e fantasia para as crianças. Também tinham<br />
direito. Nem carro de boi chia tanto. Puxa. E outras cousas. E outras cousas que<br />
iriam aparecendo.<br />
Entrou no Monte de Socorro Federal.<br />
Auxiliado pela Elvira o Totónio tanta malcriação fez, abrindo a boca, pulando,<br />
batendo o pé, que convenceu Dona Sinhara.<br />
— Crispiniano, não há outro remédio mesmo: vamos <strong>da</strong>r uma volta com as<br />
crianças.<br />
— Nem que me paguem!<br />
O Totónio fantasiado de caçador de esmeral<strong>da</strong>s (sugestão nacionalista do<br />
Doutor Andrade que se formara em Coimbra) e a Elvira de rosa-chá ameaçaram pôr<br />
a casa abaixo. Desataram num choro sentido quebrando a resistência comodista<br />
(pijama de linho gostoso) de Crispiniano.<br />
— Está bem. Não é preciso chorar mais. Vamos embora. Mas só até o Largo<br />
do Paraíso.<br />
Na Rua Vergueiro Elvira de ventarola japonesa na mão quis ir para os<br />
braços do pai.<br />
— Faça a vontade <strong>da</strong> menina, Crispiniano.<br />
Domingo carnavalesco. Serpentinas nos fios <strong>da</strong> Light. Negras de confete na<br />
carapinha bisnagando carpinteiros portugueses no olho. O único alegre era o gordo<br />
vestido de mulher. Pernas dependura<strong>da</strong>s <strong>da</strong> capota dos automóveis de<br />
escapamento aberto. Italianinhas de braço <strong>da</strong>do com a irmã casa<strong>da</strong> atrás. O sorriso<br />
27