Laranja-da-China - Unama
Laranja-da-China - Unama
Laranja-da-China - Unama
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
www.nead.unama.br<br />
Molhar os pés logo de manhã cedo faz mal. Quanto mais ele que vivia resfriado. Não<br />
fosse não.<br />
— Vou sim. Tem de me fazer um serviço antes de sair.<br />
Cornélia ficou apoia<strong>da</strong> na vassoura rezando baixinho. Prontinha para chorar.<br />
E ouvia as sacudidelas no trinco. E os berros do marido. Depois o silêncio sossegoua.<br />
Recomeçou a varrer com mais fúria ain<strong>da</strong>.<br />
Orozimbo entrou judiando do bigode. Deu um jeito no cós <strong>da</strong>s calças e<br />
arrancou a vassoura <strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong> mulher.<br />
— Que é isso, Orozimbo? Que é que há?<br />
— Há que o Zizinho não dormiu hoje em casa e há que a senhora sabia e<br />
não me disse na<strong>da</strong>!<br />
— Não sabia.<br />
— Sabia! Conheço você!<br />
— Não sabia. Depois ele está no quarto.<br />
— A chave não está na fechadura!<br />
— Então já saiu.<br />
— E fechou a porta! Para quê, faça o favor de me dizer, para quê?<br />
Então Cornélia puxou a cadeira e atirou-se nela chorando. Orozimbo<br />
an<strong>da</strong>va, parava, tocava piano na mesa, an<strong>da</strong>va, parava. Começava uma frase, não<br />
concluía, assoprava a ponta do nariz, começava outra, também não concluía. Parou<br />
diante <strong>da</strong> mulher.<br />
— Não chore. Não adianta na<strong>da</strong>.<br />
Depois disse:<br />
— Grande cachorrinho!<br />
E foi pôr o paletó.<br />
Cornélia enxugou os olhos com as mãos. Enxugou as mãos na toalha <strong>da</strong><br />
mesa. Ficou um momento com o olhar parado na Ceia de Cristo <strong>da</strong> parede. Muito<br />
cautelosamente caminhou até o quarto do Zizinho. Tirou a chave do bolso do<br />
avental. Abriu a porta. Começou a desfazer a cama depressa. Mas quando se virou<br />
deu com o Zizinho.<br />
— Ah seu... Onde é que você andou até agora?<br />
— Quem? Eu?<br />
— Quem mais?<br />
— Eu? Eu fui a Santos com uns amigos...<br />
— Você está mentindo, Zizinho.<br />
— Eu, mamãe? Não estou, mamãe. Juro. Vá jurar para seu pai.<br />
Zizinho tirou o chapéu. Sentou-se na cama. Esfregava as mãos. Maria<br />
olhava para ele sacudindo a cabeça.<br />
21