Laranja-da-China - Unama
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Pensou: só essa pretinha?<br />
Começou a varrer a sala de jantar. E a resolver o caso <strong>da</strong> Finoca. O médico<br />
quer tentar de novo as injeções. Mas <strong>da</strong> outra vez deram tão mal resultado. Será que<br />
não prestavam? Farmácia de italiano não merece confiança. Massagem é melhor: se<br />
não faz bem mal não faz. Só se doer muito. Então não. Chega <strong>da</strong> coitadinha sofrer.<br />
— A senhora me chamou?<br />
Tantas ordens. Esperar a passagem do verdureiro. Comprar alface. Não:<br />
alface dá tifo. Escolher uma abobrinha italiana, tomates e um molho de cheiro. Lavar<br />
a cozinha. Passar o pano molhado na copa. Matar um frango. Fazer o caldo <strong>da</strong><br />
Finoca. Não se esquecer de ir ali no Seu Medeiros e encomen<strong>da</strong>r uma carroça de<br />
lenha. Mas bem cheia e para hoje mesmo sem falta.<br />
A indignação de Orozimbo com os suspensórios caídos subiu ao auge:<br />
— Porcaria de casa! Não tem um pingo de água nas torneiras!<br />
— Na cozinha tem.<br />
Encheu o balde. Levou no banheiro.<br />
— Por que não mandou a Aurora trazer?<br />
— Não tem importância.<br />
Pisando de mansinho entrou no quarto <strong>da</strong> Finoca. Ajeitou a colcha. Pôs a<br />
mão na testa <strong>da</strong> menina. Levantou a boneca do tapete. Sentou-a na cadeira.<br />
Endireitou o tapete com o pé. Apesar de tudo saiu feliz do quarto <strong>da</strong> Finoca.<br />
— Então?<br />
— Sem febre.<br />
— Não era sem tempo. O Zizinho já se levantou?<br />
Deu de varrer desespera<strong>da</strong>mente. Orozimbo olhava sentado com os<br />
cotovelos fincados nas pernas e as mãos aparando o rosto. Os chinelos de Cornélia<br />
eram de pano azul e tinham uma flor bor<strong>da</strong><strong>da</strong> na ponta. Vermelha com umas cousas<br />
amarelas em volta. Antes desses que chinelos ela usava mesmo? Não havia meio de<br />
se lembrar. De pano não eram: faziam nheque-nheque. De couro amarelo? Seriam?<br />
— Como eram aqueles chinelos que você tinha antes, heim, Cornélia?<br />
— Por que você quer saber?<br />
— Por na<strong>da</strong>. Uma idéia. Diga.<br />
— Não me lembro.<br />
Está bem. Levantou-se. Espreguiçou-se. Deu dois passos.<br />
— Onde é que vai?<br />
— Ver se o Zizinho está acor<strong>da</strong>do.<br />
Cornélia opôs-se. Deixasse o menino dormir, que diabo. Só entrava no<br />
serviço às onze horas. Tinha tempo. Depois a Aurora estava lavando a cozinha.<br />
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