O Caminho do Ouro em Paraty e sua paisagem - Programa de ...
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O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>
1. I<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> b<strong>em</strong> 4<br />
2. Descrição 39<br />
3. Justificativa para inscrição 123<br />
4. Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação e fatores<br />
que afetam o b<strong>em</strong> 147<br />
5. Proteção e Gestão <strong>do</strong> b<strong>em</strong> 177<br />
6. Monitoramento 209<br />
7. Documentação 223<br />
8. Informações sobre as autorida<strong>de</strong>s responsáveis 233<br />
9. Assinaturas <strong>em</strong> nome <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-M<strong>em</strong>bro 239<br />
10. Anexos 241
1I<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />
1. a País (Esta<strong>do</strong>-m<strong>em</strong>bro, se for diferente): Brasil<br />
1. b Esta<strong>do</strong>, província ou região: Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
1. c Nome <strong>do</strong> b<strong>em</strong>: <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong><br />
1. d Localização precisa no mapa e indicação das coor<strong>de</strong>nadas geográficas até os segun<strong>do</strong>s<br />
N O NOME LOCALIZAÇÃO COORDINADAS<br />
DO PONTO<br />
CENTRAL<br />
01 <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />
**<br />
<strong>Paraty</strong> N = 7434429<br />
E = 518493<br />
02 Centro Histórico <strong>Paraty</strong> N = 7432236<br />
E = 529394<br />
03 Forte Defensor<br />
Perpétuo<br />
<strong>Paraty</strong> N = 7432944<br />
E = 529443<br />
ÁREA<br />
PROPOSTA<br />
(HA)<br />
ZONA DE<br />
AMORTECI-<br />
MENTO (HA)<br />
MAPAS<br />
105,24 102.157,08* 5.6,8,9,10,11<br />
18,14 102.157,08* 5,6,8,1213,14<br />
11,90 102.157,08* 5,6,8,12, 15,16<br />
TOTAL 135,28 102.157,08<br />
* Esta é a área <strong>de</strong> amortecimento total – área terrestre - 92.658,17 ha – área marítima = 9.498,91 ha<br />
** b<strong>em</strong> linear – 8,7 Km <strong>de</strong> comprimento and 120m<strong>de</strong> largura (60 m para cada la<strong>do</strong> <strong>do</strong> eixo)
1. e Mapas e ou plantas indican<strong>do</strong> os limites da zona proposta para inscrição e os<br />
<strong>de</strong> toda zona <strong>de</strong> amortecimento<br />
1) Sítios <strong>do</strong> Patrimônio Mundial no Brasil – 2007 (1:40.000.000);<br />
2) Localização Geral – Brasil com seus esta<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>talhe para Rio/São Paulo e Mi-<br />
nas Gerais com <strong>de</strong>staque para o município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> (1:1.600.000);<br />
3) áreas naturais protegidas <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> (1:300.000);<br />
4) Áreas da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica na régio <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> (1:300.000);<br />
5) Área Completa da Candidatura (1:100.000);<br />
6) Área Proposta (1:250.000);<br />
7) Fronteira Norte da proposta (1:90.000);<br />
8) Área proposta – o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> (1:60.000);<br />
9) O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> e <strong>Paraty</strong> (1:30.000);<br />
10) O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1:12.000);<br />
11) O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1:22.000);<br />
12) Área proposta – Centro Histórico e Forte (1:21.000);<br />
13) Detalhe <strong>do</strong> Centro Histórico (1:3.000) – mapa;<br />
14) Detalhe <strong>do</strong> Centro Histórico (1:3.000) – foto áerea;<br />
15) Forte Defensor Perpétuo (1:3.000) – mapa;<br />
16) Forte Defensor Perpétuo (1:3.000) – foto aérea<br />
R.A. – Parque Nacional da Serra da Bocaina por on<strong>de</strong> passa o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>
DJOB (Dom João) Bromélias
38<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong> – parte IV
2 Descrição<br />
2.a Descrição <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />
O município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é parte integrante <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e está<br />
situa<strong>do</strong> ao sul <strong>do</strong> mesmo Esta<strong>do</strong>, na região fisiográfica da Ilha Gran<strong>de</strong>. O<br />
município t<strong>em</strong> 937 km2 e limita-se ao norte com o Município <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s<br />
Reis, no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e, ao Sul, com o município <strong>de</strong> Ubatuba, a<br />
oeste com o município <strong>de</strong> Cunha, ambos no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo e à leste<br />
com a baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> no Oceano Atlântico.<br />
Logo nos primeiros anos da colonização <strong>do</strong> território brasileiro a Baia da<br />
Ilha Gran<strong>de</strong> exercia excelente posição relativa no contexto <strong>do</strong> litoral brasi-<br />
leiro, proporcionan<strong>do</strong>, no Atlântico Sul, excepcional articulação da zona<br />
costeira com o interior <strong>do</strong> continente americano e <strong>sua</strong> projeção sobre o<br />
território africano.<br />
Cada um <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos da proposta o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, o Núcleo Urba-<br />
no e o Forte Defensor Perpétuo, pelo que são e por aquilo que representam<br />
compõ<strong>em</strong> <strong>em</strong> si um conjunto <strong>de</strong> alto valor <strong>de</strong> paisag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> inte-<br />
resse universal. Consi<strong>de</strong>radas <strong>em</strong> conjunto compõ<strong>em</strong> um sítio <strong>de</strong> excepcional<br />
valor que merece o reconhecimento e a fruição <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>.<br />
O caminho que aí se iniciou nos primórdios da colonização, e que pe-<br />
netra fun<strong>do</strong> no interior da América <strong>do</strong> Sul foi a primeira rota <strong>do</strong><br />
ouro a ser reconhecida pela Coroa Portuguesa. Por ela se explorou<br />
a imensa riqueza <strong>do</strong> território brasileiro e se consoli<strong>do</strong>u o <strong>do</strong>mínio<br />
da cultura e da religião européia sobre o território bravio da região<br />
central <strong>do</strong> continente.<br />
O núcleo urbano <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o mais íntegro conjunto arquitetônico bra-<br />
sileiro representativo da arquitetura <strong>do</strong>s séculos XVII ao XIX, não po<strong>de</strong> ser<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong>stacadamente <strong>de</strong> seu contexto ambiental, pois mantém<br />
relações múltiplas, íntimas e recíprocas com o ambiente da floresta. Con-<br />
serva gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> <strong>sua</strong> cultura, <strong>sua</strong>s festas, ritos, relações. A escolha<br />
<strong>do</strong> local on<strong>de</strong> se implantou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se, entre outros fatores, ao fato<br />
<strong>de</strong> apresentar condições <strong>de</strong> abrigo seguro e propício para a navegação<br />
das <strong>em</strong>barcações que vinham <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro ou diretamente da Euro-<br />
pa entre os séculos XVI e XIX.
40<br />
> M.S. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, parte IV<br />
Devi<strong>do</strong> à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> caminho e <strong>do</strong> porto <strong>do</strong> ouro, um so-<br />
fistica<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> fortificações foi implanta<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que, o último re-<br />
manescente íntegro é o Forte Defensor Perpétuo. Interagin<strong>do</strong> e comple-<br />
mentan<strong>do</strong> seu valor, localiza-se no cume <strong>de</strong> uma elevação, local on<strong>de</strong> o<br />
primeiro povoamento se assentou. Esta elevação hoje, é um relevante<br />
el<strong>em</strong>ento cênico <strong>de</strong> beleza paisagística para a cida<strong>de</strong>, está coberto por<br />
<strong>de</strong>nsa vegetação <strong>de</strong> espécies nativas.<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1)<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> fez <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a primeira rota para a colonização <strong>do</strong> in-<br />
terior mas só adquiriu <strong>sua</strong> gran<strong>de</strong> importância graças às excelentes condições<br />
<strong>de</strong> abrigo seguro e próximo para a navegação das <strong>em</strong>barcações que vinham<br />
<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro ou diretamente da Europa entre os séculos XVI e XIX.<br />
Este caminho também conheci<strong>do</strong> como Estrada Real, foi moldada atra-<br />
vés <strong>do</strong>s séculos pelo vasto interior <strong>do</strong> país, ao longo <strong>do</strong>s seus 1400 Km<br />
cruza 177 cida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> três esta<strong>do</strong>s brasileiros, 162 <strong>em</strong> Minas Gerais, 8 no<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro e 7 cida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> São Paulo. Era a única via <strong>de</strong> acesso à região<br />
das principais reservas <strong>de</strong> metais preciosos – ouro e diamantes – <strong>do</strong> Brasil,<br />
situadas <strong>em</strong> Minas Gerais, autorizada pela Coroa. Dessa forma, toda a cir-<br />
culação <strong>de</strong> riquezas, merca<strong>do</strong>rias e pessoas só po<strong>de</strong>ria ser feita por este<br />
trajeto e, por isso, passou a ser chamada <strong>de</strong> Estrada Real.
A abertura <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />
Dentre os animais que resistiram à última glaciação, na região costeira situ-<br />
ada a leste da América <strong>do</strong> Sul, recoberta pela Mata Atlântica, a anta ou<br />
tapir (Tapirus terrestris), o maior e mais pesa<strong>do</strong> mamífero terrestre sul-ame-<br />
ricano, que chega a atingir 200 quilos, é o único animal <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte<br />
que consegue viver nessas compactas florestas úmidas da América <strong>do</strong> Sul,<br />
graças à <strong>sua</strong> extraordinária força. Mesmo pelo mato mais <strong>de</strong>nso e fecha<strong>do</strong>,<br />
consegue abrir picadas que os guaranis chamam <strong>de</strong> mborepirape, a mesma<br />
<strong>de</strong>signação que dão à Via Látea, por ser<strong>em</strong> essas verda<strong>de</strong>iras veredas na<br />
<strong>de</strong>nsa vegetação da floresta, comparáveis à Via Láctea, a mais importante<br />
faixa luminosa visível na abóbada celeste. Os caminhos das antas, passa-<br />
gens e ligações utilizadas por diversos animais e pelo hom<strong>em</strong>, são as trilhas<br />
mais marcantes <strong>de</strong>ntre todas aquelas que nos últimos 10 mil anos se for-<br />
maram neste território. Por ter<strong>em</strong> si<strong>do</strong> as mais largas vias disponíveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a pré-história os indígenas que <strong>do</strong>minaram a região Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil utili-<br />
zaram-se <strong>de</strong>sses caminhos nos <strong>de</strong>slocamentos que faziam entre o planalto<br />
e o mar. Uma diferença distingue os caminhos das antas <strong>do</strong>s <strong>de</strong>slocamen-<br />
tos humanos. O paqui<strong>de</strong>rme utiliza-se com freqüência <strong>do</strong>s leitos <strong>do</strong>s rios<br />
41<br />
> Mapa mostran<strong>do</strong> as<br />
capitanias <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, Minas Gerais,<br />
São Paulo e Espírito Santo<br />
(ca 176-)
42<br />
enquanto, s<strong>em</strong>pre que possível, os indígenas buscavam passagens secas,<br />
mais propícias à salvaguarda <strong>do</strong>s bens que transportavam.<br />
Os Goianás e a trilha para São Paulo<br />
Este caminho foi utiliza<strong>do</strong> pelos índios goianás para conectar a al<strong>de</strong>ia, no<br />
alto da serra, com as praias consi<strong>de</strong>radas medicinais <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Os goianás,<br />
que na verda<strong>de</strong> se chamavam goiamimins, habitaram a baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> até<br />
mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII.<br />
Um <strong>do</strong>s raros relatos existentes sobre o Brasil no século XVI foi escrito<br />
por Anthony Knivet, corsário inglês da tripulação <strong>de</strong> Thomas Cavendish<br />
que esteve <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> 1596 e teria subi<strong>do</strong> pela trilha <strong>do</strong>s Goianas, junto<br />
com 700 portugueses e 2000 índios. Veio <strong>em</strong> companhia <strong>de</strong> Martim Cor-<br />
reia <strong>de</strong> Sá, que o havia aprisiona<strong>do</strong> e feito cativo.<br />
Em 1660, Salva<strong>do</strong>r Correia <strong>de</strong> Sá, filho <strong>de</strong> Martim Correia e governa<strong>do</strong>r<br />
<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, man<strong>do</strong>u “abrir e <strong>de</strong>scobrir” a estrada para o interior, por<br />
on<strong>de</strong> seu pai havia passa<strong>do</strong> algumas décadas atrás <strong>em</strong> companhia <strong>do</strong> in-<br />
glês Knivet.<br />
Por esta época, o caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> já era reconheci<strong>do</strong> como a melhor<br />
maneira <strong>de</strong> se chegar <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro a São Paulo. Do Rio, os viajantes<br />
seguiam por terra até o porto <strong>de</strong> Sepetiba e daí aproveitavam o mar prote-<br />
gi<strong>do</strong> pela Restinga <strong>de</strong> Marambaia e da baia da Ilha Gran<strong>de</strong> on<strong>de</strong> aporta-<br />
vam e subiam a Serra <strong>do</strong> Mar por <strong>Paraty</strong>, fugin<strong>do</strong> da perigosa viag<strong>em</strong> ma-<br />
rítima por mar aberto e da escabrosa subida que ligava o litoral <strong>de</strong> Santos<br />
e São Vicente a Piratininga (São Paulo).<br />
Ciclo <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />
O CAMINHO VELHO<br />
Na virada <strong>do</strong> século XVII para o XVIII, a notícia da <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro<br />
pelos paulistas <strong>em</strong> 1695 se espalha rapidamente. O Conselho Ultramari-<br />
no recomenda ao rei <strong>de</strong> Portugal que restrinja “os caminhos que levam às<br />
minas” pon<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que quanto mais caminhos houver, mais <strong>de</strong>scami-<br />
nhos haverão.<br />
A Coroa Portuguesa <strong>de</strong>termina que apenas o ga<strong>do</strong> virá da Bahia, se-<br />
guin<strong>do</strong> o Rio São Francisco, e que o ouro e d<strong>em</strong>ais merca<strong>do</strong>rias entrarão e
serão escoa<strong>do</strong>s pelo caminho <strong>do</strong>s paulistas, chegan<strong>do</strong> à costa por <strong>Paraty</strong>, e<br />
daí para o Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Esta <strong>de</strong>terminação aumenta enorm<strong>em</strong>ente o trânsito pelo <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, tornan<strong>do</strong> o porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> um <strong>do</strong>s mais importantes da colônia. Car-<br />
ta Régia <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1703 manda que se instale na cida<strong>de</strong> uma Casa <strong>do</strong><br />
Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> para controlar o fluxo <strong>do</strong> metal vin<strong>do</strong> das minas.<br />
A Casa <strong>do</strong> Registro ou Casa <strong>do</strong>s Quintos, foi instalada no <strong>Caminho</strong>, no<br />
alto da serra, e <strong>Paraty</strong> viveu seu momento <strong>de</strong> glória, enquanto merca<strong>do</strong><br />
que abastecia as tropas que iam e que vinham.<br />
A instalação da Casa <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> confirma a importância que<br />
as autorida<strong>de</strong>s portuguesas atribu<strong>em</strong> à cida<strong>de</strong> na época.<br />
O CAMINHO NOVO<br />
O caminho das Minas passan<strong>do</strong> por <strong>Paraty</strong> era marítimo-terrestre . No início<br />
<strong>do</strong> século XVIII Garcia Rodrigues Paes Betim, filho <strong>de</strong> Fernão Dias Paes<br />
L<strong>em</strong>e, um <strong>do</strong>s mais famosos <strong>de</strong>brava<strong>do</strong>res paulistas, pioneiro na <strong>de</strong>scober-<br />
ta <strong>de</strong> metais preciosos da região, abriru um novo caminho, direto ao porto<br />
<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
A picada aberta logo se tornou o novo caminho oficial. Portugal instala,<br />
então, um novo Registro para a cobrança <strong>do</strong>s impostos e restringe o uso <strong>do</strong><br />
caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
> Parte das capitanias<br />
<strong>de</strong> São Paulo, Minas<br />
Gerais, Goiás e Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro (ca 180-)<br />
43
44<br />
> Igreja <strong>de</strong> Santa Rita e<br />
Serra da Bocaina<br />
ESTRADA REAL<br />
A Estrada Real é oficialmente dividida <strong>em</strong> três caminhos: o <strong>Caminho</strong> Ve-<br />
lho, o <strong>Caminho</strong> Novo e a Rota <strong>do</strong>s Diamantes. O <strong>Caminho</strong> Velho, aberto<br />
no século XVII, que nasceu das andanças <strong>do</strong>s ban<strong>de</strong>irantes à procura <strong>de</strong><br />
riquezas que se ofereciam <strong>em</strong> abundância no solo mineiro, liga <strong>Paraty</strong> a<br />
<strong>Ouro</strong> Preto. O <strong>Caminho</strong> Novo une o Rio <strong>de</strong> Janeiro a <strong>Ouro</strong> Preto, e foi<br />
construí<strong>do</strong> no começo <strong>do</strong> século XVIII para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s da<br />
Coroa <strong>de</strong> rápi<strong>do</strong> escoamento <strong>de</strong> ouro e diamantes até Lisboa. Uma va-<br />
riante ligan<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> Preto à Diamantina, foi construída posteriormente,<br />
sen<strong>do</strong> chamada a Rota <strong>do</strong>s Diamantes. Os mais importantes monumen-<br />
tos brasileiros <strong>em</strong> estilo barroco e rococó, vários <strong>de</strong>les reconheci<strong>do</strong>s como<br />
Patrimônio Mundial, estão situa<strong>do</strong>s ao longo <strong>de</strong>ste caminho.<br />
Foi construí<strong>do</strong> com a participação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os brasileiros, começan<strong>do</strong><br />
pelas nações nativas representadas pelos Goiamimins que abriram a pri-<br />
meira passag<strong>em</strong> e <strong>de</strong>pois, pela engenharia <strong>do</strong>s portugueses e negros,<br />
entraram com o suor e fizeram o trabalho físico <strong>de</strong> calçar e cuidar.<br />
O CALÇAMENTO DE PEDRA<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, na área proposta, encontra-se calça<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
pedra, <strong>em</strong> excelente e bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, por cerca <strong>de</strong> 75% <strong>do</strong><br />
seu percurso. Os 25% r<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong>ste trecho encontram-se perfeita-<br />
mente i<strong>de</strong>ntificáveis ten<strong>do</strong> porém sofri<strong>do</strong> diferentes níveis <strong>de</strong> erosão natu-
al. A pavimentação <strong>de</strong>ste trecho <strong>do</strong> caminho com pedras foi necessária<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à alta pluviosida<strong>de</strong> da Serra combinada com <strong>de</strong>clives acentuadíssi-<br />
mos. Por isto ele só se tornou trafegável com esse calçamento construí<strong>do</strong><br />
com gran<strong>de</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> engenharia. Graças a isso esse trecho antigo <strong>do</strong><br />
caminho <strong>do</strong> ouro sobreviveu <strong>em</strong> <strong>sua</strong> materialida<strong>de</strong> enquanto outros trechos<br />
<strong>de</strong>ssa rota tornaram-se estradas hoje pavimentadas <strong>de</strong> asfalto ou <strong>de</strong>sapare-<br />
ceram na mata ou na lama. Ele foi utiliza<strong>do</strong> como principal rota entre Para-<br />
ty e o Vale <strong>do</strong> rio Paraíba <strong>do</strong> Sul até os anos 50/60 <strong>do</strong> século XX,<br />
quan<strong>do</strong> da abertura da ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha.<br />
O trecho da Estrada Real <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> – o <strong>Caminho</strong> Velho - é<br />
hoje, o maior trecho calça<strong>do</strong> e consistent<strong>em</strong>ente preserva<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
toda a rota. São 8.700 m calça<strong>do</strong>s <strong>em</strong> pedra seca, alguns trechos<br />
no século XVIII outros, no século XIX, quan<strong>do</strong> houve manuten-<br />
ção e reforma geral. Os trechos <strong>do</strong> século XVIII são compostos<br />
por pedras mais toscas, mais arre<strong>do</strong>ndadas e menos resistentes.<br />
Já no século XIX o calçamento foi composto por rochas <strong>de</strong> for-<br />
mato mais retilíneo, obtidas por explosão controlada, as maiores<br />
medin<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> um metro <strong>de</strong> la<strong>do</strong>, entr<strong>em</strong>eadas por areia<br />
grossa e outras menores que dão uniformida<strong>de</strong> ao conjunto. A<br />
face superior é mais regular. Têm <strong>em</strong> média 20 centímetros <strong>de</strong><br />
altura, mas pedras enormes também foram utilizadas, crian<strong>do</strong><br />
momentos impressionantes ao longo <strong>do</strong> percurso.<br />
45<br />
> M.S. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, parte IV – sítio da<br />
Cachoerinha;<br />
> Lingotes <strong>de</strong> ouro
46<br />
> R R/M.R - Sítio<br />
Arqueológico da Casa <strong>do</strong><br />
Registro no <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>;<br />
> Direita - Café, Debret;<br />
> Abaixo - Desenho<br />
interpretativo da casa <strong>do</strong><br />
Registro
Esta camada superior se assenta sobre outra composta <strong>de</strong> saibro e pedregu-<br />
lho, cuja espessura varia <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 10 centímetros. Os trechos <strong>do</strong> século<br />
XIX apresentam uma faixa central <strong>de</strong> largura varian<strong>do</strong> entre 60 e 80 centí-<br />
metros, composta <strong>de</strong> pedras mais largas e regulares, com duas faixas <strong>de</strong><br />
bor<strong>do</strong>, com os blocos inclina<strong>do</strong>s <strong>em</strong> direção ao centro. Dessa forma, o cen-<br />
tro da calçada apresenta um <strong>de</strong>snível <strong>em</strong> relação aos bor<strong>do</strong>s, e direciona o<br />
correr das águas da chuva.<br />
O calçamento original foi construí<strong>do</strong> <strong>em</strong> pedra seca 1 , com trechos entre<br />
3 e até 10 metros <strong>de</strong> largura, sustenta<strong>do</strong> por muros <strong>de</strong> arrimo <strong>de</strong> até cinco<br />
metros <strong>de</strong> altura, que acompanham as curvas <strong>de</strong> nível da serra. O Marco <strong>de</strong><br />
Sesmaria 2 , o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> águas pluviais com <strong>sua</strong>s guias e<br />
drenos, bueiros, e especialmente uma galeria <strong>de</strong> pedra cobrin<strong>do</strong> um vão <strong>de</strong><br />
sete metros e meio, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> viaduto, com guarda-corpo e pinga<strong>de</strong>iras<br />
para proteger a estrutura da construção, atestam a excelência da cantaria,<br />
técnica que constitui uma especialida<strong>de</strong> portuguesa.<br />
AS CASAS DE REGISTRO<br />
Ao longo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> localizam-se os vestígios das três casas <strong>de</strong> Registro<br />
(postos alfan<strong>de</strong>gários), que funcionaram <strong>em</strong> locais e perío<strong>do</strong>s diferentes.<br />
Descrição <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong><br />
ÁREA PROPOSTA<br />
A área <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> proposta para reconhecimento como Patrimô-<br />
nio Mundial t<strong>em</strong> início no bairro <strong>do</strong>s Penha , a 9 km <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, junto ao<br />
Marco da Estrada Real, incluin<strong>do</strong> o campo situa<strong>do</strong> entre a ro<strong>do</strong>via RJ 165,<br />
a igreja Nossa Senhora <strong>do</strong>s Penha, e o Córrego <strong>do</strong> Souza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o poço <strong>do</strong><br />
47<br />
1. pedra seca<br />
Técnica <strong>de</strong> construção<br />
<strong>em</strong> pedra s<strong>em</strong> a<br />
utilização <strong>de</strong><br />
argamassa.<br />
2. Sesmaria<br />
Marco <strong>de</strong> pedra para<br />
indicar limite <strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong>.Sesmarias<br />
eram gran<strong>de</strong>s porções<br />
<strong>de</strong> terra que foram<br />
distribuídas pelos<br />
<strong>do</strong>nos das Capitanias<br />
Hereditárias, estas, as<br />
primeiras concessões<br />
<strong>de</strong> terras da Coroa<br />
Portuguesa no Brasil.
48<br />
Tobogã ate o local <strong>do</strong> antigo Registro da Cachoeira. A partir <strong>do</strong> referi<strong>do</strong><br />
Marco, sobe 8.700 metros serra acima na direção noroeste, inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />
uma faixa <strong>de</strong> 120 metros <strong>de</strong> largura cujo eixo é a linha central <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>,<br />
com 60 metros para cada la<strong>do</strong>.<br />
A partir da cota <strong>de</strong> 500 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> está<br />
inseri<strong>do</strong> no Parque Nacional da Serra da Bocaina.<br />
O percurso propriamente dito, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> bairro <strong>do</strong>s Penha, po<strong>de</strong> ser<br />
resumidamente <strong>de</strong>scrito da seguinte forma:<br />
Sobe pela vertente <strong>do</strong> morro, e segue paralelo ao Córrego <strong>do</strong> Souza;<br />
Passa pela Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito e pelo bebe<strong>do</strong>uro <strong>do</strong> Pinga-Pinga, cru-<br />
za a Cachoeirinha na fazenda <strong>do</strong> mesmo nome e sobe até um pequeno<br />
campo conheci<strong>do</strong> como Campo das Nações. Logo acima localizava-se a<br />
Prove<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Registro, posto <strong>de</strong> fiscalização fazendária on<strong>de</strong> eram co-<br />
bra<strong>do</strong>s o imposto e o pedágio, e cujos vestígios ainda ali se encontram.<br />
Seguin<strong>do</strong> passa pela Lagoa Seca e pelo Rola<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Zé Migué, on<strong>de</strong> se<br />
diz haver existi<strong>do</strong> um famoso bandi<strong>do</strong> que costumava atacar as tropas,<br />
também conheci<strong>do</strong> como Boca <strong>de</strong> <strong>Ouro</strong>.<br />
Logo acima corta o Largo <strong>do</strong> Governo, sen<strong>do</strong> que, neste caso a palavra<br />
governo era usada no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> reorganização das tropas.<br />
Sobe <strong>de</strong>pois pelas Sete Voltas (sete curvas b<strong>em</strong> fechadas <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>).<br />
Segue então por <strong>de</strong>ntro da Fazenda Estiva Preta até chegar nas ruínas<br />
da casa <strong>do</strong> Registro Velho, Boca <strong>do</strong> Inferno, que ali funcionou no sé-<br />
culo XVIII.<br />
Dali o <strong>Caminho</strong> a<strong>de</strong>ntra serra acima pelo Boqueirão <strong>do</strong> Inferno, uma<br />
espécie <strong>de</strong> garganta consi<strong>de</strong>rada perigosa, tanto pela encosta escarpa-<br />
da quanto por proporcionar abrigo natural a malfeitores<br />
Logo <strong>de</strong>pois alcança a divisa com o atual município <strong>de</strong> Cunha, já no<br />
Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Para melhor <strong>de</strong>screver a área proposta como zona núcleo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s 6 setores com características distintas quanto ao<br />
esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, ameaças, proteção e gestão.<br />
Cada um <strong>de</strong>stes setores, <strong>de</strong>scritos a partir <strong>do</strong> alto da serra, apresenta<br />
trechos varia<strong>do</strong>s, caracteriza<strong>do</strong>s por marcos notáveis <strong>do</strong> próprio <strong>Caminho</strong>,<br />
ou relaciona<strong>do</strong>s ao meio físico e biológico <strong>de</strong>scritos a seguir. Os setores I,II<br />
e III localizam-se na micro - bacia hidrográfica <strong>do</strong> córrego <strong>do</strong> Sertão, este
ultimo até a Lagoa Seca. O setores III, a partir da Lagoa Seca, IV, V e VI estão<br />
inseri<strong>do</strong>s na micro - bacia <strong>do</strong> córrego <strong>do</strong> Souza<br />
I. Alto da Serra até Registro Velho – Boca <strong>do</strong> Inferno<br />
II. Toca <strong>de</strong> Pedra<br />
1. Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />
III. Registro Velho até Estiva Preta/RJ 165<br />
2. Registro Velho, Boca <strong>do</strong> Inferno<br />
3. Estiva Preta<br />
IV. Estiva Preta até Cachoeirinha<br />
4. Sete Voltas<br />
5. Largo <strong>do</strong> Governo<br />
6. Guarita<br />
7. Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r<br />
8. Trincheiras Verticais<br />
9. Lagoa Seca<br />
10. Viaduto<br />
V. Cachoeirinha até Seu Antonio<br />
11. <strong>Caminho</strong> Limpo<br />
12. Prove<strong>do</strong>ria/ Registro<br />
13. Campo das Nações<br />
14. Pinga-Pinga<br />
15. Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito<br />
16. Canela Fe<strong>do</strong>renta<br />
17. Mirante<br />
18. Sitio <strong>do</strong> Seu Antonio<br />
VI. Seu Antonio até Marco da Sesmaria<br />
19. Pouso <strong>do</strong> Souza<br />
20. Marco da Sesmaria<br />
VII. Marco da Sesmaria até o bairro <strong>do</strong>s Penha<br />
VII. Marco da Sesmaria until Penha District<br />
I. ALTO DA SERRA ATÉ REGISTRO VELHO –<br />
BOCA DO INFERNO<br />
O acesso a este setor parte da divisa estadual<br />
entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo, que<br />
coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da<br />
49
50<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, parte I<br />
– Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />
Bocaina, no alto da serra. A ro<strong>do</strong>via RJ 165, s<strong>em</strong> nenhuma pavimentação,<br />
encontra o asfalto da ro<strong>do</strong>via SP 171. Deste ponto, entrada da pousada<br />
Santo Antonio, segue-se a pé na direção su<strong>do</strong>este pelo planalto, <strong>em</strong> cami-<br />
nho carroçável, <strong>em</strong> ambiente <strong>de</strong> pastag<strong>em</strong> e silvicultura <strong>de</strong> Eucalipto. A<br />
entrada para o <strong>Caminho</strong> é uma antiga estrada, hoje uma trilha que segue<br />
por <strong>de</strong>ntro da mata <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> ou floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa alto Montana,<br />
também conhecida como mata nebular, porém com gran<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />
uma espécie <strong>de</strong> bambu chamada taquarinha – que praticamente fecha a<br />
passag<strong>em</strong> neste trecho inicial, freqüenta<strong>do</strong> quase somente por caça<strong>do</strong>res.<br />
1. Toca <strong>de</strong> Pedra – consi<strong>de</strong>rada como o marco final <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Paraty</strong>, situada <strong>em</strong> local s<strong>em</strong>i - aberto, com pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> gramí-<br />
neas <strong>em</strong> meio a arbustos, on<strong>de</strong> fruteiras antigas e a presença <strong>de</strong> uma<br />
Araucária (pinheiro brasileiro) indicam ocupação rural não muito anti-<br />
ga. Esta toca serve eventualmente <strong>de</strong> abrigo a caça<strong>do</strong>res. Neste trecho<br />
o <strong>Caminho</strong> está totalmente recoberto pela serrapilheira (matéria orgâ-<br />
nica constituída por uma mistura <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e folhas <strong>em</strong> <strong>de</strong>composi-<br />
ção), e terra. Inúmeras árvores <strong>de</strong> pequeno porte cresc<strong>em</strong> sobre e por<br />
entre as pedras. Os indícios mais visíveis <strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong> são a existên-<br />
cia <strong>de</strong> corte <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1,5 m na encosta acima, indican<strong>do</strong> terraple-<br />
nag<strong>em</strong>, e o alinhamento da borda <strong>de</strong> pedras <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto, junto à<br />
vertente. Na cobertura vegetal pre<strong>do</strong>minam a taquarinha, arbustos e<br />
árvores <strong>em</strong> estágio inicial e secundário <strong>de</strong> regeneração. A <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong><br />
não é muito acentuada.
2. Boqueirão <strong>do</strong> Inferno – Assim <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> por abrigar, à época,<br />
ban<strong>do</strong>leiros que se aproveitavam da geografia aci<strong>de</strong>ntada <strong>do</strong> local, que<br />
forma verda<strong>de</strong>ira garganta vale abaixo, encaixada por entre gran<strong>de</strong>s<br />
matacões <strong>de</strong> rocha. Nos trechos <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, o <strong>Caminho</strong> torna-<br />
se verte<strong>do</strong>uro da água da chuva, que limpa a superfície, tornan<strong>do</strong> as<br />
pedras visíveis e causan<strong>do</strong>. A mata neste trecho po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />
como floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa Montana <strong>em</strong> estágio médio a avança<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> regeneração, cujo <strong>do</strong>ssel chega a 15 metros. Após atravessar uma<br />
cachoeira a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> diminui e a taquarinha volta a pre<strong>do</strong>minar ao<br />
longo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, até encontrar as ruínas <strong>do</strong> Registro Velho.<br />
Este setor encontra-se totalmente inseri<strong>do</strong> no Parque Nacional da Serra<br />
da Bocaina. Não exist<strong>em</strong> mora<strong>do</strong>res n<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais produtivas.<br />
II. REGISTRO VELHO ATÉ ESTIVA PRETA/RODOVIA RJ 165<br />
No Registro Velho encontram–se os alicerces <strong>de</strong> pedra da antiga Casa <strong>de</strong> Re-<br />
gistro. O local encontra-se a cerca <strong>de</strong> um quilometro da ro<strong>do</strong>via RJ 165, pró-<br />
ximo <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> rural aparent<strong>em</strong>ente aban<strong>do</strong>nada, com um trecho<br />
<strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> arvores e arbustos, que dá acesso à ro<strong>do</strong>via.<br />
3. Registro Velho – Esta área ainda não foi estudada. O sitio encontra-<br />
se <strong>em</strong> área <strong>de</strong> menor <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, com alicerces <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 12 X 9 m<br />
<strong>de</strong> comprimento e 60 cm <strong>de</strong> altura no trecho mais extenso. Na face<br />
norte <strong>sua</strong> altura chega a cerca <strong>de</strong> 2m.<br />
De acor<strong>do</strong> com Paula Freitas, Registros:<br />
51<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, parte I – Boqueirão<br />
<strong>do</strong> Inferno
52<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte II<br />
“eram lugares <strong>em</strong> que os viajantes sofriam um exame <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
as regras <strong>do</strong> fisco: tinham o pagamento <strong>de</strong> um imposto <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>,<br />
apresentavam os passaportes quan<strong>do</strong> passavam duma província a ou-<br />
tra, os far<strong>do</strong>s e as malas eram examina<strong>do</strong>s, a fim <strong>de</strong> ver se levavam <strong>de</strong><br />
contraban<strong>do</strong> ouro ou diamantes, ou se era exata com a guia a quanti-<br />
da<strong>de</strong> que transportavam, muitas vezes os viajantes tinham <strong>de</strong> apresen-<br />
tar também uns bilhetes <strong>de</strong> permuta ou bilhetes que eram da<strong>do</strong>s nas<br />
casas <strong>de</strong> permuta para pequenas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ouro <strong>em</strong> pó; enfim,<br />
tais registros eram, nos pontos <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> duma província para ou-<br />
tra, verda<strong>de</strong>iras alfân<strong>de</strong>gas interiores, inconvenientes porque constitu-<br />
íam reais barreiras entre as províncias, numa época <strong>em</strong> que o governo<br />
<strong>de</strong>via ao contrario aproximá-las umas das outras.”<br />
Em 1775 hospe<strong>do</strong>u-se <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, Martinho Lobo <strong>de</strong> Saldanha, que<br />
assumiria o governo <strong>de</strong> São Paulo. Em <strong>sua</strong> estada, opinou favoravel-<br />
mente pela transferência da Guar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Registro “Boca <strong>do</strong> Inferno”<br />
para a “Cachoeira”, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
Estas ruínas são, portanto, o marco da localização <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> Registro<br />
“Boca <strong>do</strong> Inferno”.<br />
Neste local pre<strong>do</strong>mina a floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa Montana <strong>em</strong> estágio<br />
inicial <strong>de</strong> regeneração, com pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> quaresmeiras e outras espé-<br />
cies pioneiras, e a mesma taquarinha junto e sobre o <strong>Caminho</strong>. Foram<br />
observadas algumas pequenas mudas <strong>de</strong> palmeira juçara.
4. Estiva Preta – Este é o nome da antiga fazenda, também conhecida<br />
como sitio <strong>do</strong> Seu Neco, (último mora<strong>do</strong>r, que ven<strong>de</strong>u recent<strong>em</strong>ente<br />
<strong>sua</strong> posse para forasteiros). Situa<strong>do</strong> a menos <strong>de</strong> 200 m <strong>do</strong> Registro<br />
Velho, o <strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong> e livre <strong>de</strong> vegetação arbó-<br />
rea, pois nesta área existe uma ocupação rural que no momento parece<br />
estar aban<strong>do</strong>nada, graças à ação repressiva <strong>do</strong> IBAMA quanto a ativi-<br />
da<strong>de</strong>s produtivas no interior <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />
Neste ponto, o <strong>Caminho</strong> encontra-se integro por um trecho <strong>de</strong> mais<br />
<strong>de</strong> 600 metros, recoberto por vegetação rasteira, flores e pequenos<br />
arbustos <strong>de</strong> facílima r<strong>em</strong>oção, até encontrar a ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha<br />
b<strong>em</strong> <strong>em</strong> frente ao antigo Fecha Nunca.<br />
A floresta encontra-se <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> médio <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel<br />
médio <strong>de</strong> 10 a 15 m <strong>de</strong> altura, exceto no traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, reco-<br />
berto por vegetação rasteira. Observam-se também algumas espécies<br />
exóticas como gramíneas, ciprestes e fruteiras.<br />
Este local é um ponto chave para o manejo e fiscalização tanto <strong>do</strong><br />
<strong>Caminho</strong> quanto <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />
III. DA ESTIVA PRETA ATÉ A CACHOEIRINHA<br />
No marco inicial <strong>de</strong>ste trecho, encontramos as ruínas <strong>do</strong> “Fecha Nunca”,<br />
estabelecimento comercial da RJ 165, nos anos que prece<strong>de</strong>ram à constru-<br />
ção da ro<strong>do</strong>via Rio Santos - 1974, quan<strong>do</strong> esta ro<strong>do</strong>via era o único acesso<br />
terrestre a <strong>Paraty</strong>. Como diz o nome e a lenda, o Fecha Nunca ficava s<strong>em</strong>-<br />
pre aberto, com o café fumegante sobre o fogão a lenha, <strong>em</strong> um ponto da<br />
estrada on<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minava o frio, a garoa e a neblina.<br />
Neste setor o <strong>Caminho</strong> apresenta vários pontos notáveis, como as Sete<br />
Voltas, o Largo <strong>do</strong> Governo, a Toca <strong>do</strong> Zé Migué, as Trincheiras Verticais, a<br />
Lagoa Seca e o Viaduto. O trecho inicial, com cerca <strong>de</strong> um quilometro, está<br />
bastante <strong>de</strong>smantela<strong>do</strong> <strong>em</strong> razão da alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> terreno, da presen-<br />
ça <strong>de</strong> árvores enraizadas por entre as pedras, e <strong>de</strong> um pequeno curso da<br />
água que coinci<strong>de</strong> com o leito <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> vários segmentos.<br />
Aqui i<strong>de</strong>ntificamos o <strong>Caminho</strong> por seus sinais mais peculiares: o corte<br />
no barranco e as pedras enfileiradas marcan<strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong> junto à verten-<br />
te, ou vestígios <strong>do</strong> calçamento quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>scoberto pelo curso d água. O<br />
traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> geral acompanha a curva <strong>de</strong> nível, ou a cumeada<br />
<strong>do</strong> divisor <strong>de</strong> águas, por mais tênue que seja. A vegetação pre<strong>do</strong>minante no<br />
53
54<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte III – Sete<br />
Voltas<br />
inicio <strong>de</strong>ste setor é a floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa <strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> regenera-<br />
ção, com abundancia <strong>de</strong> arvores <strong>de</strong> pequeno porte e espécies arbustivas, e<br />
algumas maiores, <strong>em</strong> estagio médio, indican<strong>do</strong> uso antropico no passa<strong>do</strong>.<br />
5. Sete Voltas – Este trecho situa-se entre duas travessias da mesma<br />
cachoeira, on<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre era construí<strong>do</strong> um pequeno arrimo sobre o<br />
leito <strong>do</strong> rio, para manter o nível <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>. Aqui encontramos um<br />
<strong>do</strong>s segmentos mais interessantes <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da engenharia,<br />
pois, para vencer um trecho <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, foram construí<strong>do</strong>s<br />
sete verda<strong>de</strong>iros “cotovelos”, ou curvas com praticamente 90o, prote-<br />
gidas por gran<strong>de</strong>s muros <strong>de</strong> arrimo e guias <strong>de</strong> pedra para conduzir as<br />
águas pluviais, evitar a erosão e o posterior <strong>de</strong>sencaixe das pedras. O<br />
arrimo mais visível t<strong>em</strong> 5 m <strong>de</strong> comprimento e 2,40 <strong>de</strong> altura no seu<br />
ponto mais alto. Em seguida um trecho bastante erodi<strong>do</strong> mais uma<br />
vez faz <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> o leito <strong>do</strong> rio, interrompen<strong>do</strong> o ritmo harmônico<br />
da <strong>de</strong>scida. Outra travessia da cachoeira ocorre sobre um arrimo que<br />
praticamente fecha o leito <strong>do</strong> rio, indican<strong>do</strong> a presença <strong>de</strong> algum duto<br />
presumivelmente entupi<strong>do</strong>, pois a água corre pelos vãos das pedras<br />
encaixadas. A mata vai se a<strong>de</strong>nsan<strong>do</strong> <strong>em</strong> espécies arbóreas <strong>de</strong> maior<br />
porte, com ocorrência <strong>de</strong> epífitas e lianas, indican<strong>do</strong> estagio médio e<br />
avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> regeneração.
6. Largo <strong>do</strong> Governo – O <strong>Caminho</strong> então encontra menor <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong><br />
e torna-se largo e b<strong>em</strong> visível, com cerca <strong>de</strong> 8 m <strong>de</strong> largura, recoberto<br />
por pouca serrapilheira. A mata fica mais rica <strong>em</strong> espécies, o <strong>do</strong>ssel<br />
chega aos 20 metros, e nova travessia <strong>de</strong> um curso d água nos conduz<br />
ao Largo <strong>do</strong> Governo, verda<strong>de</strong>iro patamar com cerca <strong>de</strong> 600 m2, <strong>em</strong><br />
gran<strong>de</strong> parte calça<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedras, que se utilizava como ponto <strong>de</strong> para-<br />
da para a organização da carga e das tropas, b<strong>em</strong> como para <strong>de</strong>scan-<br />
so e alimentação <strong>do</strong>s tropeiros e viajantes. Neste local já encontramos<br />
mudas <strong>de</strong> palmeira juçara.<br />
7. Guarita – Deste trecho <strong>em</strong> diante a mata fica b<strong>em</strong> mais <strong>de</strong>nsa, com<br />
muitas arvores caídas sobre o <strong>Caminho</strong>, pois seu enraizamento por entre<br />
as pedras não sustenta os espécimes <strong>de</strong> maior porte, quan<strong>do</strong> das t<strong>em</strong>-<br />
pesta<strong>de</strong>s e ventanias mais fortes. Um pequeno alicerce à beira <strong>do</strong> Cami-<br />
nho parece indicar a existência <strong>de</strong> um posto <strong>de</strong> vigilância ou guarita.<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte III<br />
55
56<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte III – Zé Migué<br />
8. Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r – Quan<strong>do</strong> o <strong>Caminho</strong> faz uma curva b<strong>em</strong><br />
encaixada entre duas gran<strong>de</strong>s pedras, diz a lenda que o bandi<strong>do</strong> Zé<br />
Migué, também conheci<strong>do</strong> como “Boca <strong>de</strong> <strong>Ouro</strong>”, tocaiava as tropas,<br />
assustan<strong>do</strong> a mula “madrinha” (lí<strong>de</strong>r) que dispersava as d<strong>em</strong>ais e faci-<br />
litava a pilhag<strong>em</strong>. Em seguida um curso d’água faz <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> seu<br />
leito, que por um trecho <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 60 m <strong>em</strong> forte <strong>de</strong>clive encontra-<br />
se totalmente <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong>, com as pedras perfeitamente encaixadas.<br />
Este trecho <strong>de</strong>ve ser a razão <strong>do</strong> nome “Rola<strong>do</strong>r”, pois certamente era<br />
<strong>de</strong> passag<strong>em</strong> perigosa para os muares.Em um nicho entre as pedras<br />
encontramos antigas ferraduras, indican<strong>do</strong> por ali um ponto <strong>de</strong> manu-<br />
tenção da tropa <strong>de</strong> animais.<br />
9. Trincheiras Verticais – O <strong>Caminho</strong> segue com seu traça<strong>do</strong> bastante<br />
conserva<strong>do</strong> e visível, a cavaleiro <strong>do</strong> vale, agora se afastan<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio prin-<br />
cipal que <strong>de</strong>spenca serra abaixo. O <strong>Caminho</strong> segue <strong>em</strong> percurso <strong>de</strong> pou-<br />
ca <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, bastante <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong>, acompanhan<strong>do</strong> a curva <strong>de</strong> nivel.<br />
Três enormes trincheiras verticais com cerca <strong>de</strong> 80 cm <strong>de</strong> largura por 4<br />
m <strong>de</strong> altura e 3m <strong>de</strong> cava no barranco, <strong>em</strong> intervalos <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 30<br />
metros, à beira <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, indicam a realização <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong><br />
prospecção que estu<strong>do</strong>s posteriores po<strong>de</strong>rão elucidar melhor.<br />
10. Lagoa Seca – Subin<strong>do</strong> um pouco até quase o topo <strong>do</strong> morro, alcan-<br />
çamos a Lagoa Seca, que é na verda<strong>de</strong> um brejo situa<strong>do</strong> <strong>em</strong> um pata-<br />
mar, com cerca <strong>de</strong> 20 metros <strong>de</strong> largura por 40 metros <strong>de</strong> comprimen-<br />
to. Antes <strong>de</strong>la, um alicerce ou muro <strong>de</strong> arrimo com vários trechos
interrompi<strong>do</strong>s, totalizan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 60 m <strong>de</strong> comprimento, indica ves-<br />
tígios possivelmente <strong>de</strong> um quartel construí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1816, que abrigaria<br />
40 solda<strong>do</strong>s e um comandante. A Lagoa Seca <strong>de</strong>limita a divisa entre o<br />
sitio <strong>do</strong> pintor Julio <strong>Paraty</strong> e o sitio Cachoeirinha.<br />
11. Viaduto/Muro da Galeria – A partir da Lagoa Seca o percurso <strong>do</strong><br />
<strong>Caminho</strong> muda <strong>de</strong> micro bacia <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> (Córrego <strong>do</strong> Souza) e<br />
volta a <strong>de</strong>scer, <strong>sua</strong>v<strong>em</strong>ente, s<strong>em</strong> muita cobertura sobre as pedras, po-<br />
r<strong>em</strong> com muitas arvores caídas sobre seu percurso. Mudas <strong>de</strong> palmeira<br />
juçara se multiplicam e indicam melhor conservação da mata, on<strong>de</strong><br />
ocorr<strong>em</strong> touceiras esparsas <strong>de</strong> banana, indican<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> cultura<br />
que ali já foi <strong>de</strong>senvolvida. O <strong>Caminho</strong> não segue continuo <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
erosão <strong>em</strong> alguns trechos, e muda da vertente su<strong>do</strong>este para norte.<br />
Com o objetivo <strong>de</strong> prevenir <strong>de</strong>smoronamentos, gran<strong>de</strong>s muros <strong>de</strong> arrimo<br />
ali construí<strong>do</strong>s constitu<strong>em</strong> a principal característica <strong>de</strong>ste segmento. O pri-<br />
meiro, com cerca <strong>de</strong> 25 metros <strong>de</strong> comprimento por 8 metros <strong>de</strong> altura no<br />
maior trecho, é atravessa<strong>do</strong> por uma galeria <strong>de</strong> 1,5 m <strong>de</strong> altura, com cerca<br />
<strong>de</strong> 70 cm na base, que se estreita na parte superior. O segun<strong>do</strong> t<strong>em</strong> cerca<br />
<strong>de</strong> 60 m <strong>de</strong> comprimento, com cerca <strong>de</strong> 6 m <strong>de</strong> altura no trecho mais alto.<br />
Logo <strong>em</strong> seguida, uma nascente <strong>em</strong>erge <strong>em</strong> meio ao bananal e borbulha<br />
há mais <strong>de</strong> duzentos anos a cerca <strong>de</strong> 30 m abaixo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, ten<strong>do</strong> seu<br />
acesso totalmente calça<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedra. Esta nascente marca o inicio <strong>do</strong> trecho<br />
<strong>de</strong> <strong>Caminho</strong> revitaliza<strong>do</strong> por Marcos e Rachel Ribas, <strong>do</strong> sitio Sh – Eco, que<br />
aqui <strong>de</strong>nominamos Cachoeirinha, o nome original.<br />
57<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte III – Lagoa<br />
Seca<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte III – Zé<br />
Migué<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Parte III<br />
– Viaduto
58<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Parte IV<br />
– <strong>Caminho</strong> Limpo e<br />
Prove<strong>do</strong>ria<br />
Neste setor a mata vai se tornan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong>nsa e mais alta conforme nos<br />
afastamos da ro<strong>do</strong>via. A floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa ocorre <strong>em</strong> estágios variá-<br />
veis <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel entre 10 e 20 m. A partir <strong>do</strong> Largo <strong>do</strong><br />
Governo encontramos mudas dispersas <strong>de</strong> palmeira juçara, cuja <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />
vai aumentan<strong>do</strong> ate o sitio Cachoeirinha. A partir <strong>do</strong> Viaduto há a ocorrên-<br />
cia <strong>de</strong> touceiras <strong>de</strong> banana, que representam as culturas produtivas <strong>do</strong>s sí-<br />
tios que atravessamos, hoje praticamente aban<strong>do</strong>nadas neste local.<br />
Não foram <strong>de</strong>tecta<strong>do</strong>s sinais <strong>de</strong> animais silvestres durante este reconhe-<br />
cimento, mas os pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional<br />
listaram as espécies <strong>de</strong> flora e fauna registradas neste trecho.<br />
Este setor também se encontra totalmente inseri<strong>do</strong> no Parque Nacio-<br />
nal da Serra da Bocaina. Não exist<strong>em</strong> mora<strong>do</strong>res n<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais<br />
produtivas.<br />
IV. CACHOEIRINHA ATÉ SEU ANTONIO<br />
Este setor está inseri<strong>do</strong> no Sitio Histórico Ecológico – Sh-Eco, <strong>do</strong> grupo<br />
Teatro Espaço, que realizou a limpeza, a prospecção arqueológica e a<br />
gestão eco turística da maior parte <strong>de</strong>ste trecho entre 1999 e 2005, abri-<br />
gan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 1500 m <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>. A divisa leste <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha<br />
(Sh-Eco), coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional. Dali para baixo, o<br />
local é conheci<strong>do</strong> como sitio <strong>do</strong> Seu Antonio.<br />
12 - <strong>Caminho</strong> limpo – Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi to<strong>do</strong> limpo e assim<br />
manti<strong>do</strong> entre 1999 e 2005, e encontra-se quase totalmente <strong>em</strong> per-<br />
feito esta<strong>do</strong>, com uma largura média <strong>de</strong> 4 metros e cerca <strong>de</strong> 800 m <strong>de</strong>
extensão, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong> maior parte, calça<strong>do</strong> durante o século<br />
XIX, já durante ciclo <strong>do</strong> Café. A característica mais marcante <strong>de</strong>sta<br />
obra <strong>de</strong> engenharia e cantaria é a disposição das guias que foram<br />
construídas ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o percurso. Estas guias formam um <strong>de</strong>-<br />
nivel provoca<strong>do</strong> pela disposição <strong>do</strong>s blocos <strong>de</strong> pedra, e direcionam as<br />
águas pluviais vertentes, <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>sviá-las <strong>do</strong> percurso das tropas,<br />
para assim proteger o calçamento da erosão, e foram dispostas a in-<br />
tervalos variáveis entre 30 e 50 m, conforme a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> e a necessi-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> direção <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>.<br />
13. Prove<strong>do</strong>ria/Registro – A Casa <strong>de</strong> Registro, como já foi <strong>de</strong>scrito aci-<br />
ma, era na pratica o Posto Alfan<strong>de</strong>gário <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Suas<br />
ruínas foram mapeadas e prospectadas, e o material encontra<strong>do</strong> foi<br />
to<strong>do</strong> cataloga<strong>do</strong> e entregue aos cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IPHAN.<br />
14. Campo das Nações – O Campo das Nações fica à direita <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>sce, logo abaixo das ruínas <strong>do</strong> Registro. Constitui –se por uma área<br />
coberta apenas por gramíneas e pequenas arvores dispersas, com cer-<br />
ca <strong>de</strong> 3 mil m², on<strong>de</strong> as tropas aguardavam para receber o visto para<br />
seguir viag<strong>em</strong>, e muitas vezes acabavam pernoitan<strong>do</strong> no local e reor-<br />
ganizan<strong>do</strong> a bagag<strong>em</strong>. Consta que o Prove<strong>do</strong>r tinha ali um pequeno<br />
comercio para aten<strong>de</strong>r e lucrar com os viajantes. Neste local o Sh-Eco<br />
montou um pequeno museu (atualmente <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong>), com os artefa-<br />
tos encontra<strong>do</strong>s na prospecção arqueológica, como pedaços <strong>de</strong> porce-<br />
lana, ferragens utilizadas pelas tropas e outros fragmentos, incluin<strong>do</strong><br />
um peso referencial. A partir <strong>do</strong> Campo das Nações a mata <strong>em</strong> recu-<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Parte IV<br />
– <strong>Caminho</strong> Limpo e<br />
Prove<strong>do</strong>ria<br />
59
60<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte IV – Berra<br />
Cabrito<br />
peração ce<strong>de</strong> lugar a pastagens, bananais, com manchas <strong>de</strong> floresta<br />
<strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> recuperação, e torna-se possível <strong>de</strong>sfrutar da pai-<br />
sag<strong>em</strong> da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. O <strong>Caminho</strong> segue serra abaixo no seu trecho<br />
<strong>de</strong> maior majesta<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> o interior <strong>do</strong> Parque Nacional na portei-<br />
ra <strong>de</strong> divisa <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha (Sh-Eco).<br />
15 . Pinga Pinga – da porteira <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha para baixo o percur-<br />
so se <strong>de</strong>senvolve no sitio <strong>do</strong> Seu Antonio. Consta que o <strong>Caminho</strong> seja<br />
majoritariamente construí<strong>do</strong> no século XVIII e posteriormente refor-<br />
ma<strong>do</strong> no século XIX. As pedras mais arre<strong>do</strong>ndadas, mais antigas, fo-<br />
ram <strong>em</strong>olduradas por blocos maiores, <strong>de</strong> formato mais retilíneo. A<br />
utilização <strong>de</strong> pólvora ficou registrada nos nichos on<strong>de</strong> o produto era<br />
coloca<strong>do</strong>, principalmente nos gran<strong>de</strong>s matacões situa<strong>do</strong>s à beira <strong>do</strong><br />
<strong>Caminho</strong>, que foram segmenta<strong>do</strong>s para permitir o calçamento <strong>do</strong> per-<br />
curso. O Pinga pinga é uma pequena bica d’água instalada junto a<br />
uma ponte <strong>de</strong> pedra com passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> galeria, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s blocos<br />
dispostos <strong>de</strong> forma a proporcionar assento para os viajantes, indicm<br />
ponto <strong>de</strong> parada e alimentação. A pedra da bica foi talhada para dire-<br />
cionar a passag<strong>em</strong> da água, que se esten<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> uma pequena<br />
cana <strong>de</strong> bambu. Posteriormente foram assenta<strong>do</strong>s alguns tijolos, per-<br />
pendicularmente à canaleta <strong>de</strong> pedra.<br />
16. Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito – neste local o <strong>Caminho</strong> fica mais estreito,<br />
pois se encaixa, <strong>em</strong> uma curva, entre enormes matacoes que foram<br />
parcialmente estoura<strong>do</strong>s para permitir o calçamento. A toca <strong>do</strong> Berra<br />
Cabrito é um gran<strong>de</strong> bloco <strong>de</strong> pedra que permite abrigo para umas 2<br />
pessoas. Alguns blocos assenta<strong>do</strong>s chegam a 2 metros <strong>de</strong> comprimen-<br />
to ou largura neste trecho entre a porteira <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha e o<br />
sitio <strong>do</strong> Seu Antonio.
17. Canela Fe<strong>do</strong>renta – Entre o Berra Cabrito e a Canela Fe<strong>do</strong>renta (ár-<br />
vore <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> canela que exala um o<strong>do</strong>r<br />
<strong>de</strong>sagradável quan<strong>do</strong> ume<strong>de</strong>cida pela chuva), encontramos o trecho<br />
melhor conserva<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste setor, com cerca <strong>de</strong> 6 metros <strong>de</strong> largura por<br />
uns 80 metros <strong>de</strong> comprimento.<br />
18. Mirante – Entre a Canela Fe<strong>do</strong>renta e os arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Mirante o Ca-<br />
minho encontra-se mais danifica<strong>do</strong> pelo aumento da <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, e<br />
também <strong>em</strong> alguns trechos recoberto pela serrapilheira e até por tou-<br />
ceiras <strong>de</strong> banana e terra, não sen<strong>do</strong> portanto totalmente visível. O<br />
mirante é um ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>em</strong> uma curva <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sfruta a<br />
paisag<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong> e da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
19. Sitio <strong>do</strong> Seu Antonio – Do Mirante até a entrada da pousada Ava-<br />
lonia, que coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> sitio <strong>do</strong> Seu Antonio e o final da<br />
estrada cimentada pela prefeitura <strong>em</strong> 2004, o <strong>Caminho</strong>, <strong>do</strong> século<br />
XVIII, percorre terreno <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, encontran<strong>do</strong>-se mais es-<br />
treito, encaixa<strong>do</strong> entre barrancos e blocos <strong>de</strong> pedra, alternan<strong>do</strong> tre-<br />
chos visíveis com outros, enterra<strong>do</strong>s sob a terra, a serrapilheira e tou-<br />
ceiras <strong>de</strong> banana.<br />
Em to<strong>do</strong> este setor, <strong>de</strong> maior ação antrópica, a mata mais <strong>de</strong>nsa ce<strong>de</strong> lugar<br />
àquela <strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> recuperação, mesclada com touceiras <strong>de</strong> bana-<br />
na, pastagens e a pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> espécies arbustivas ou pioneiras como<br />
quaresmeiras, <strong>em</strong>baúbas e jacatirões, <strong>de</strong>ntre outras <strong>de</strong> porte médio e <strong>do</strong>s-<br />
sel ate 10 m <strong>de</strong> altura na media.<br />
Na maior parte <strong>do</strong> percurso po<strong>de</strong>-se vislumbrar a paisag<strong>em</strong> da serra e da<br />
baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, proporcionan<strong>do</strong> uma visão que chega a <strong>em</strong>ocionar pela<br />
forte presença <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> toda <strong>sua</strong> plenitu<strong>de</strong>, a <strong>em</strong>anar imagens <strong>do</strong><br />
61<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte IV – Berra<br />
Cabrito
62<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte V<br />
passa<strong>do</strong> e a associação ao momento histórico marcante representa<strong>do</strong> pelos<br />
ciclos <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> e <strong>do</strong> Café.<br />
O Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional indica para este setor a instala-<br />
ção <strong>de</strong> museu aberto<br />
V – SEU ANTONIO ATÉ MARCO DA SESMARIA<br />
Este trecho é constituí<strong>do</strong> por uma pequena estrada municipal, a estrada<br />
<strong>do</strong>s Martins,na verda<strong>de</strong> um braço da estrada <strong>do</strong> Souza - que começa e<br />
termina na ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha. Este segmento foi pavimenta<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />
2004, com duas faixas paralelas <strong>de</strong> cimento para permitir o acesso a veícu-<br />
los automotores. Seu traça<strong>do</strong> t<strong>em</strong> a mesma direção que o <strong>Caminho</strong>, e<br />
corta o seu percurso <strong>em</strong> 2 trechos. O <strong>Caminho</strong> está enterra<strong>do</strong> sob o bana-<br />
nal e pastagens na maior parte <strong>de</strong>ste setor, ocupa<strong>do</strong> pelo sitio <strong>do</strong> Seu An-<br />
tonio (faleci<strong>do</strong>), <strong>do</strong> Seu Oliveira e por algumas moradias <strong>de</strong> pequeno porte,<br />
totalizan<strong>do</strong> 6 edificações, todas elas dispostas ao longo da estrada munici-<br />
pal. A cobertura vegetal se alterna entre bananais on<strong>de</strong> foram plantadas<br />
palmeiras juçara (que já estão adultas), a pastag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Seu Oliveira, peque-<br />
nos cultivos e pomares.<br />
19. Pouso <strong>do</strong> Souza – No Pouso <strong>do</strong> Souza havia uma estalag<strong>em</strong> on<strong>de</strong> se<br />
hospedavam fidalgos e damas nos séculos XVIII e XIX. Localiza-se à<br />
direita <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>sce pelo <strong>Caminho</strong>, <strong>em</strong> área plana, coberta por gra-<br />
míneas, com cerca <strong>de</strong> 2000 m2, no meio <strong>de</strong> um bananal, e o único<br />
vestígio visível é um muro <strong>de</strong> arrimo situa<strong>do</strong> entre o grama<strong>do</strong> e o ba-
nanal, com cerca <strong>de</strong> 12 m <strong>de</strong> comprimento por 1.60 m <strong>de</strong> altura, ca-<br />
mufla<strong>do</strong> pelo mato.<br />
20. Marco da Sesmaria – No pequeno pasto <strong>do</strong> sitio <strong>do</strong> Seu Oliveira o<br />
<strong>Caminho</strong>, que segue mais sinuoso, na mesma direção que a estrada, é<br />
parcialmente visível sob as gramineas. Ali, à esquerda <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>sce,<br />
uma gran<strong>de</strong> pedra foi entalhada com o Marco da Sesmaria.<br />
VI – MARCO DE SESMARIA ATÉ O BAIRRO DOS PENHA – 2KM<br />
Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi totalmente limpo entre 2003 e 2004, e está sob<br />
a manutenção e operação turística <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, por meio da Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. O Cami-<br />
nho aqui foi quase totalmente construí<strong>do</strong> na cumeeira <strong>do</strong> morro, no século<br />
XVIII, e reforma<strong>do</strong> no século XIX. A área é constituída por 3 proprieda<strong>de</strong>s<br />
rurais sen<strong>do</strong> a primeira <strong>do</strong> próprio Seu Oliveira, seguida por por outra <strong>de</strong><br />
um proprietário <strong>de</strong> São Paulo, e no final a da família Penha, que <strong>de</strong>u ori-<br />
g<strong>em</strong> ao bairro <strong>do</strong> mesmo nome, on<strong>de</strong> fica o Marco inicial da Estrada Real,<br />
implanta<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2003.<br />
O <strong>Caminho</strong> inicia no mesmo patamar <strong>do</strong> Marco da Sesmaria, muito<br />
b<strong>em</strong> conserva<strong>do</strong> mas, mais estreito, com 2,5 m <strong>de</strong> largura e até menos.<br />
Segue pela cumeada por um trecho enterra<strong>do</strong> sob um pequeno campo <strong>de</strong><br />
futebol, (utiliza<strong>do</strong> pela comunida<strong>de</strong> local), continua por alguns metros,<br />
on<strong>de</strong> apresenta uma belíssima guia, com enormes blocos, muito b<strong>em</strong> en-<br />
caixa<strong>do</strong>s, junto a um gran<strong>de</strong> matacão <strong>de</strong> granito, que forma um verda<strong>de</strong>iro<br />
mirante natural. O <strong>Caminho</strong> se dissipa, s<strong>em</strong> que tenham si<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s<br />
vestígios <strong>de</strong> calçamento, <strong>em</strong> um trecho <strong>de</strong> <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> mínima, <strong>em</strong> meio a<br />
um bananal. Recomeça ao iniciar a <strong>de</strong>scida, e quan<strong>do</strong> aumenta o <strong>de</strong>clive,<br />
<strong>de</strong>saparece <strong>em</strong> uma curva, após alguns <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> pedra. Na continuação<br />
morro abaixo, o traça<strong>do</strong> foi protegi<strong>do</strong> por estivas (troncos roliços <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>i-<br />
ra dispostos perpendicularmente à trilha), que formam uma escadaria <strong>de</strong><br />
largos <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> terra, <strong>de</strong>stinada a prevenir a erosão e a enxurrada. Al-<br />
guns corrimões <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira roliça foram instala<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />
para proteger o visitante <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes durante a <strong>de</strong>scida.<br />
Este percurso indica perfeitamente momentos distintos e surpreen<strong>de</strong>n-<br />
tes <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento pela engenharia da época, s<strong>em</strong>pre com <strong>de</strong>sta-<br />
que para as belíssimas e até imponentes guias <strong>de</strong> escoamento, b<strong>em</strong> como<br />
para a visibilida<strong>de</strong> das obras <strong>de</strong> contenção e manutenção <strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong>,<br />
63
64<br />
quan<strong>do</strong> o calçamento <strong>do</strong> século XVIII, mais antigo e tosco, constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
pedras mais arre<strong>do</strong>ndadas, <strong>de</strong> outra constituição, mais arenosas, foi prati-<br />
camente <strong>em</strong>oldura<strong>do</strong> pelos blocos <strong>de</strong> granito mais retilíneos e regulares,<br />
muitos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensões, chegan<strong>do</strong> a 2 metros <strong>de</strong> largura ou compri-<br />
mento, assenta<strong>do</strong>s no século XIX.<br />
O <strong>Caminho</strong> serpenteia morro abaixo, e o calçamento forma verda<strong>de</strong>iros<br />
zigue-zagues, que iniciam s<strong>em</strong>pre com uma <strong>de</strong>stas guias. Em <strong>de</strong>terminada<br />
curva, o <strong>Caminho</strong> é a própria guia, que se <strong>de</strong>senvolve por mais <strong>de</strong> 30 metros,<br />
ten<strong>do</strong> uma a mesma largura que o outro, totalizan<strong>do</strong> quase 4 metros.<br />
Dois enormes troncos caí<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong> Jequitibá, atestam a verda-<br />
<strong>de</strong>ira dimensão da Mata Atlântica no passa<strong>do</strong>, no seu esta<strong>do</strong> primário,<br />
apresentan<strong>do</strong> diâmetros que não foram observadas <strong>em</strong> nenhum espécime<br />
vivo durante a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> percorri<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o alto da serra, à<br />
exceção <strong>de</strong> um outro Jequitibá (<strong>em</strong> pé) que se divisa ao norte <strong>do</strong> Mirante<br />
próximo ao campo <strong>de</strong> futebol.<br />
Não pod<strong>em</strong>os nos esquecer que to<strong>do</strong> o casario <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, b<strong>em</strong> como<br />
<strong>sua</strong>s igrejas, foram construí<strong>do</strong>s com ma<strong>de</strong>iras nobres, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimen-<br />
sões, retiradas justamente <strong>de</strong>sta floresta, utilizadas como esteios, vigas, cai-<br />
bros, assoalhos e matéria prima para to<strong>do</strong> o mobiliário, b<strong>em</strong> como para as<br />
<strong>em</strong>barcações e canoas <strong>de</strong> voga, que chegavam a quase 2 metros <strong>de</strong> boca.<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>de</strong>sce continuo por centenas <strong>de</strong> metros, e somente foi inter-<br />
rompi<strong>do</strong>, r<strong>em</strong>ovi<strong>do</strong> ou recoberto quan<strong>do</strong> corta<strong>do</strong> pela outra extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong><br />
da estrada <strong>do</strong> Souza, que novamente encontra a <strong>Paraty</strong>/Cunha. Deste pon-<br />
to <strong>em</strong> diante seu traça<strong>do</strong> original seguia para o chama<strong>do</strong> “poço <strong>do</strong> Tar-<br />
zan”, já no bairro <strong>do</strong>s Penha. Neste local atualmente existe uma ponte es-<br />
truturada por cabos <strong>de</strong> aço, que, segun<strong>do</strong> consta, estão ancora<strong>do</strong>s junto às<br />
cabeceiras da Ponte <strong>do</strong> Registro. Uma variante construída no século XIX,<br />
que é atualmente o caminho principal, segue diretamente da estrada <strong>do</strong><br />
Souza para o Marco inicial da Estrada Real (instala<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2003), junto à<br />
escola <strong>do</strong>s Penha, que funciona também como base para a visitação publi-<br />
ca ao <strong>Caminho</strong>, no campinho da igreja, a 9 km da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
Neste setor, a encosta su<strong>do</strong>este encontra-se quase totalmente recoberta<br />
por mata secundaria <strong>em</strong> estágio inicial <strong>de</strong> recuperação, a chamada “mace-<br />
ga”, enquanto o seu reverso, marca<strong>do</strong> exatamente pela cumeeira <strong>do</strong> divi-<br />
sor <strong>de</strong> águas, constitui uma pastag<strong>em</strong>. Esta situação ambiental é bastante<br />
comum nesta região: o uso antrópico das encostas direcionadas para a face
sul foi menos intenso, pois aquelas voltadas para norte receb<strong>em</strong> maior in-<br />
solação e são portanto mais a<strong>de</strong>quadas para a agricultura e agropecuária.<br />
Como este caminho foi utiliza<strong>do</strong>, mesmo que <strong>de</strong> forma incipiente até os<br />
anos 1950/1960, para manter a via trafegável, era costume cortar a vegetação<br />
a longo da estrada para mantê-la ensolarada e seca. Assim foi apenas <strong>de</strong>pois<br />
da criação <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina <strong>em</strong> 1971 que essa prática<br />
foi abolida. Des<strong>de</strong> então a mata v<strong>em</strong> se recuperan<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong>ssa rota.<br />
Ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> este percurso a equipe <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização e os<br />
guias plantaram mudas <strong>de</strong> essências nativas, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacam as palmeiras<br />
juçara. O objetivo é a recomposição da cobertura florestal, b<strong>em</strong> como pro-<br />
porcionar sombra aos visitantes e garantir a estabilida<strong>de</strong> da encosta.<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> foi classifica<strong>do</strong> como patrimônio nacional <strong>em</strong> 1º <strong>de</strong><br />
Março <strong>de</strong> 1974, junto com to<strong>do</strong> Município por meio <strong>do</strong> Processo nº 563-<br />
T-57 IPHAN, LAEP inscrição 63 e LBA inscrição 510. A área core <strong>de</strong>sta pro-<br />
posta, inicia <strong>do</strong> Marco <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, no bairro Penha a 8,5 km <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong> ( S 23º 12’ 9” W 44º 47’6” ) e segue serra acima por cerca <strong>de</strong><br />
11.700 m, até a divisa com o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo (S 23º 10’03” W 44º<br />
50’39”), está inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong> uma faixa <strong>de</strong> 60 metros <strong>de</strong> largura cujo eixo é a<br />
linha central <strong>do</strong> caminho, com 30 m <strong>de</strong> cada la<strong>do</strong>, à exceção <strong>de</strong> um largo<br />
que abrange o patamar <strong>do</strong> Pouso <strong>do</strong> Souza<br />
Centro Histórico (2)<br />
ENQUADRAMENTO URBANO<br />
O Centro Histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi implanta<strong>do</strong> entre as <strong>em</strong>bocaduras <strong>do</strong>s<br />
rios Perequê-Açu a N. e Mateus Nunes ou Patitiba a S., <strong>em</strong> zona <strong>de</strong> planí-<br />
cie formada por sedimentação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos aluviais e marítimos. A planí-<br />
cie confronta imediatamente com o teci<strong>do</strong> urbano <strong>do</strong> bairro <strong>de</strong> Fátima a<br />
O. e com o bairro <strong>de</strong> Patitiba a SO. Na outra marg<strong>em</strong> <strong>do</strong> rio Perequê-Açu,<br />
a N. <strong>do</strong> Centro Histórico, localizam-se o Hospital da Santa Casa da Mise-<br />
ricórdia (v. e, no cimo <strong>do</strong> morro, o Forte <strong>do</strong> Defensor Perpétuo. O clima é<br />
> P.A.– Vista aérea <strong>do</strong><br />
Centro Histórico<br />
65
66<br />
> Antiga Ca<strong>de</strong>ia<br />
pre<strong>do</strong>minant<strong>em</strong>ente tropical, quente e úmi<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> estação seca, com<br />
t<strong>em</strong>peratura média <strong>de</strong> 27º C. Envolvente rica <strong>em</strong> recursos naturais, flores-<br />
tais e piscícolas.<br />
DESCRIÇÃO<br />
Conjunto urbano apresenta traça<strong>do</strong> reticula<strong>do</strong> adapta<strong>do</strong> às condições es-<br />
pecíficas <strong>do</strong> local e <strong>do</strong> terreno. Com duas direções principais, que todas as<br />
ruas segu<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma forma aproximada, mas não muito rigorosa. Exist<strong>em</strong><br />
sete ruas orientadas segun<strong>do</strong> a direção E./O. e seis Ruas <strong>de</strong> orientação N./S,<br />
não <strong>de</strong>notan<strong>do</strong> uma retilinearida<strong>de</strong> muito acentuada e varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> largura<br />
<strong>em</strong> cada quarteirão, com um máximo <strong>de</strong> 12 m. e um mínimo <strong>de</strong> 4,5 m.<br />
O traça<strong>do</strong> urbano foi estrutura<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> séc. XVIII. As dire-<br />
ções estruturantes são o caminho que ligava as duas principais igrejas, a<br />
Matriz e a <strong>de</strong> Santa Rita, e o caminho <strong>de</strong> entrada na cida<strong>de</strong> proveniente da<br />
serra. Deste último terá havi<strong>do</strong> duas ramificações junto à povoação, que<br />
<strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> a duas Ruas paralelas: a Rua da Ca<strong>de</strong>ia e a Rua da Ferraria,<br />
ambas <strong>de</strong>cisivas na vida urbana no final <strong>do</strong> século XVIII e XIX. A hierarquia<br />
viária não é evi<strong>de</strong>nte, haven<strong>do</strong> eixos que pela <strong>sua</strong> largura, extensão e loca-<br />
lização se <strong>de</strong>stacam na morfologia urbana. A Rua <strong>do</strong> Comércio, a Rua Dona<br />
Geralda e a Rua da Praia são os principais eixos<br />
N./S. b<strong>em</strong> como a Rua da Ca<strong>de</strong>ia e a Rua da Lapa,<br />
E./O.. As quatro praças existentes são todas perifé-<br />
ricas e têm como característica comum abrir um ou<br />
<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s ao mar ou ao rio.<br />
A maior e mais importante, a Praça da Matriz, <strong>de</strong><br />
forma retangular, é <strong>de</strong>limitada a Sul pela Rua da Ca-<br />
<strong>de</strong>ia, a Norte pela Rua da Capela, a Oeste pela Rua<br />
da Matriz e a Leste pela Rua Dona Geralda. Como a<br />
toponímia indica é on<strong>de</strong> se localiza a Igreja Matriz e<br />
se concentra a vida social <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “Bairro His-<br />
tórico”, com incidência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s resi<strong>de</strong>nciais e<br />
comercias, como restaurantes e bares. A praça en-<br />
contra-se parcialmente arborizada e ajardinada.<br />
A praça <strong>de</strong> Santa Rita, com a Igreja <strong>de</strong> Santa Rita<br />
e o edifício da Antiga Ca<strong>de</strong>ia, que hoje funciona<br />
como Biblioteca e o Instituto Histórico e Artístico
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, repre-<br />
senta uma das<br />
imagens símbolo<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. De for-<br />
ma triangular, é <strong>de</strong>-<br />
limitada pelas ruas <strong>de</strong><br />
Santa Rita a Norte e pela<br />
travessa <strong>de</strong> Santa Rita a<br />
Oeste, abrin<strong>do</strong>-se à baía a Su<strong>de</strong>s-<br />
te.. Próxima <strong>de</strong>sta, a Praça da Ban<strong>de</strong>ira é um<br />
importante espaço <strong>de</strong> circulação, uma vez que aqui se encontram impor-<br />
tantes infra-estruturas da cida<strong>de</strong> tais como o merca<strong>do</strong> e o porto marítimo<br />
- on<strong>de</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos se dava uma intensa ativida<strong>de</strong> comercial, e hoje para<br />
além das <strong>em</strong>barcações pesqueiras, <strong>em</strong>barcam e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcam diariamente<br />
centenas <strong>de</strong> turistas para passeios na baía. A praça apresenta uma forma<br />
triangular igualmente aberta ao mar, e t<strong>em</strong> acesso pela Rua da Praia, que a<br />
<strong>de</strong>limita a Oeste e pela Rua Fresca. Neste trecho da Rua da Praia é evi<strong>de</strong>nte<br />
a concentração da ativida<strong>de</strong> comercial, pela pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> edificações<br />
térreas - armazéns, só com portas. Também na Rua <strong>do</strong> Comércio é elevada<br />
a concentração das edificações térreas –armazéns, <strong>de</strong> caráter comercial e<br />
<strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s com o piso térreo ocupa<strong>do</strong> com lojas e armazéns.<br />
A praça da Capelinha, on<strong>de</strong> se encontra a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora das<br />
Dores, é a menor e a menos vivida apesar da <strong>sua</strong> localização ribeirinha, com<br />
o mar a Leste e o rio Perequê-Açu a Norte. T<strong>em</strong> acesso pela Rua da Capela<br />
e pela Rua Fresca. Exist<strong>em</strong> ainda mais <strong>do</strong>is espaços públicos, <strong>de</strong> caracterís-<br />
ticas particulares.<br />
A praça <strong>do</strong> Chafariz é a principal das três “portas <strong>de</strong> entrada” para o<br />
“Bairro Histórico”, fazen<strong>do</strong> a transição <strong>de</strong>sta zona com os d<strong>em</strong>ais bairros<br />
que se <strong>de</strong>senvolveram a Oeste. É um importante ponto <strong>de</strong> transição, on<strong>de</strong><br />
se localizam alguns serviços <strong>de</strong> apoio ao turismo. T<strong>em</strong> forma quadrangular,<br />
com um chafariz central e uma área arborizada. As outras “entradas” são<br />
a ponte sobre o rio Perequê-Açu, que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>boca na Rua <strong>do</strong> Comércio e<br />
permite o acesso Norte, e o ancora<strong>do</strong>uro marítimo.<br />
O largo <strong>do</strong> Rosário é um espaço residual que se <strong>de</strong>senvolve nos fun<strong>do</strong>s<br />
da igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário e São Benedito, e não <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha<br />
um papel relevante ao nível formal ou social.<br />
> Príncipe <strong>de</strong> Wied<br />
- Viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> tropa no<br />
interior <strong>do</strong> Brasil.<br />
67
68<br />
> IHAP – Igreja Matriz<br />
N.S. <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios, cerca<br />
<strong>de</strong> 1950<br />
A Rua Dona Geralda, antiga Rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>staca-se pelo número con-<br />
si<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s nobres, <strong>de</strong> que é ex<strong>em</strong>plo aquele <strong>em</strong> que funciona a<br />
Casa da Cultura e da Música, data<strong>do</strong> <strong>do</strong> séc. XVIII. Os quarteirões apresen-<br />
tam diferentes dimensões e formas trapezoidais, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma ligeira<br />
curvatura das ruas Norte/Sul..<br />
A cida<strong>de</strong> caracteriza-se pela <strong>sua</strong> homogeneida<strong>de</strong>, com um espaço cons-<br />
truí<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e frentes <strong>de</strong> ruas contínuas, aspecto reforça<strong>do</strong><br />
pela inexistência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s edifícios <strong>de</strong> arquitetura civil pública que se<br />
<strong>de</strong>staqu<strong>em</strong> <strong>do</strong> restante edifica<strong>do</strong>, que é composto principalmente por ar-<br />
quitetura civil privada e pontua<strong>do</strong> por arquitetura religiosa.<br />
A malha edificada tomou a <strong>sua</strong> forma compacta no segun<strong>do</strong> quartel <strong>do</strong><br />
século XIX ten<strong>do</strong> manti<strong>do</strong> essa característica até hoje. O teci<strong>do</strong> intra-urba-<br />
no, que revela um plano regula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rigor, é constituí<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mi-<br />
nant<strong>em</strong>ente por lotes estreitos e fun<strong>do</strong>s, na parte central e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s di-<br />
mensões nas áreas periféricas, to<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong>s para os logra<strong>do</strong>uros. Os<br />
logra<strong>do</strong>uros periféricos sofreram alguma ocupação ao longo <strong>do</strong> séc. XX.<br />
O perfil <strong>do</strong> conjunto edifica<strong>do</strong> é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> discre-<br />
ta a presença <strong>do</strong>s quatro edifícios religiosos existentes na cida<strong>de</strong>.<br />
A igreja matriz é o edifício <strong>de</strong> maiores dimensões <strong>do</strong> centro histórico, a<br />
atual edificação foi iniciada <strong>em</strong> 1787, sen<strong>do</strong> a terceira da vila. Sua constru-<br />
ção levou quase um século, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> inaugurada <strong>em</strong> 7 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong><br />
1873. A fachada <strong>de</strong> é dividida por pilares e cunhais <strong>de</strong> cantaria, possui<br />
frontão triangular <strong>em</strong> linhas retas com óculo central e cruz <strong>de</strong> ferro. Se so-<br />
bressai no conjunto arquitetônico por <strong>sua</strong> imponência e sobrieda<strong>de</strong>. Com<br />
nave e <strong>do</strong>is corre<strong>do</strong>res laterais. Destacam-se internamente os retábulos das<br />
capelas <strong>do</strong> século XVIII, provavelmente da edificação anterior, e a pia batis-<br />
mal <strong>em</strong> mármore, <strong>do</strong> século XVII.
69<br />
> PDT - Matriz N.S. <strong>do</strong>s<br />
R<strong>em</strong>édios, 2003
70<br />
> PDT– Igreja <strong>de</strong> Santa<br />
Rita, 2003<br />
A igreja <strong>de</strong> Santa Rita, a segunda mais importante, foi construída <strong>em</strong> 1722.<br />
A fachada, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> equilíbrio formal possui 3 janelas no coro, uma porta,<br />
frontão curvo e uma torre na lateral. Os <strong>em</strong>olduramentos da porta, janelas,<br />
<strong>do</strong> óculo, pilares e cunhais são <strong>em</strong> cantaria esculpida. De nave única, apre-<br />
senta no interior o altar-mor com colunas salomônicas e la<strong>de</strong>an<strong>do</strong> o fron-<br />
tão, os únicos anjos orantes <strong>em</strong> altares, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Possui ainda <strong>do</strong>is altares<br />
colaterais e lavatórios <strong>de</strong> cantaria. O corre<strong>do</strong>r lateral que serve <strong>de</strong> ligação<br />
entre a sacristia e a torre, é aberto para um pátio interno circunda<strong>do</strong> por<br />
colunas toscas. O c<strong>em</strong>itério <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> columbário foi construí<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />
mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX e ocupa uma das extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s.
A Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores, <strong>de</strong> pequenas dimensões, foi constru-<br />
ída <strong>em</strong> 1800, marcam a <strong>sua</strong> presença pelas torres sineiras respectivas que<br />
r<strong>em</strong>atam fachadas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> e equilíbrio, com 2 janelas no coro<br />
e uma porta. As vergas curvas, simples, lhes dá um aspecto bastan-<br />
te arcaico para a data <strong>em</strong> que foi feita. O mesmo po<strong>de</strong> ser<br />
dito <strong>do</strong> frontão e <strong>do</strong> terminal <strong>do</strong> campanário, bul-<br />
boso. As janelas <strong>de</strong> balcão da fachada lateral<br />
possu<strong>em</strong> gra<strong>de</strong>s abauladas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira traba-<br />
lhada. Destacam-se, no interior, o teto <strong>de</strong> ma-<br />
<strong>de</strong>ira apainela<strong>do</strong>, o rendilha<strong>do</strong> das sacadas e o<br />
lustre <strong>de</strong> cristal junto ao coro. Nos fun<strong>do</strong>s possui<br />
um columbário que circunda o pátio interno,<br />
com um poço central.<br />
71<br />
> R. A. – Igreja <strong>de</strong> N.S.<br />
das Dores
72<br />
> IPHAN – Igreja N.S.<br />
<strong>do</strong> Rosário, início <strong>do</strong><br />
século XX<br />
A igreja <strong>do</strong> Rosário teve <strong>sua</strong> construção iniciada <strong>em</strong> 1725. A fachada é<br />
rústica, apresenta 2 janelas na altura <strong>do</strong> coro e uma porta ao centro, enci-<br />
mada por um frontão triangular com um óculo, e uma sineira na lateral<br />
direita, também coroada por um frontão triangular. A igreja apresenta nave<br />
única e um corre<strong>do</strong>r na lateral direita <strong>de</strong> construção posterior. Possui nos<br />
altares <strong>de</strong> São Benedito e São João retábulos <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira entalhada, poli-<br />
cromada e <strong>do</strong>urada. É consi<strong>de</strong>rada a mais importante talha das igrejas <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong>, <strong>de</strong> sóbria elegância e unida<strong>de</strong> formal, <strong>de</strong>stoan<strong>do</strong> <strong>do</strong> altar principal,<br />
executa<strong>do</strong> posteriormente.
A imag<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong> é <strong>do</strong>minada pelo relevo que a envolve e pela vegeta-<br />
ção composta por árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, como as palmeiras, que proli-<br />
feram nos logra<strong>do</strong>uros. O conjunto compreen<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 500 imóveis que,<br />
à exceção da arquitetura religiosa, obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> a regras formais e funcionais<br />
b<strong>em</strong> patentes nos volumes e fachadas. As construções são geralmente ge-<br />
minadas e alinhadas pela frente <strong>de</strong> Rua, com telha<strong>do</strong>s <strong>em</strong> duas águas e a<br />
cumeeira paralela à fachada principal, e pare<strong>de</strong>s laterais <strong>em</strong> <strong>em</strong>pena. Nas<br />
esquinas os telha<strong>do</strong>s são <strong>de</strong> três águas. Muito comuns, nas coberturas <strong>do</strong>s<br />
sobra<strong>do</strong>s, são os mirantes e sótãos com águas furtadas.<br />
A geometria simples da composição urbana é realçada por uma arquite-<br />
tura que utiliza gran<strong>de</strong>s panos cegos <strong>de</strong> alvenaria, simplesmente reboca<strong>do</strong>s<br />
e caia<strong>do</strong>s ou alternâncias <strong>de</strong> cheios e vazios que imprim<strong>em</strong> à paisag<strong>em</strong><br />
natural envolvente o ritmo característico da ação humana. As filigranas<br />
<strong>de</strong>corativas, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, são percebidas apenas quan<strong>do</strong> com<br />
a proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r, quan<strong>do</strong> se torna íntimo da vila. No vocabu-<br />
lário arquitetônico <strong>do</strong>minante <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> alternam-se ex<strong>em</strong>plares, r<strong>em</strong>anes-<br />
centes das primeiras décadas <strong>do</strong> século XVIII, que se caracterizam pela ro-<br />
bustez e simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento, uma gran<strong>de</strong> parte já <strong>do</strong> século XIX. A<br />
unida<strong>de</strong> entre os imóveis é dada também pela pintura que os uniformiza.<br />
Os vãos são colori<strong>do</strong>s <strong>em</strong> padrões herda<strong>do</strong>s da tradição portuguesa. Ocre,<br />
sangue <strong>de</strong> boi, azul ultramar, ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong>staca-se contra o branco das pare-<br />
<strong>de</strong>s caiadas e o fun<strong>do</strong> ver<strong>de</strong> da Serra <strong>do</strong> Mar.<br />
O conjunto apresenta-se <strong>em</strong> <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> edificações, o sobra<strong>do</strong> e a<br />
casa térrea correspon<strong>de</strong>ntes a proprietários <strong>de</strong> camadas sociais e ativida<strong>de</strong>s<br />
73<br />
> A.M. – Casas particulares
74<br />
> Casa <strong>do</strong>s Gerânios<br />
distintas. Os pequenos comerciantes, <strong>em</strong> edificações <strong>de</strong> piso térreo, viviam<br />
nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s armazéns que eram s<strong>em</strong>pre volta<strong>do</strong>s para os logra<strong>do</strong>uros.<br />
Os comerciantes abasta<strong>do</strong>s ou tinham casa própria para habitação fora da<br />
cida<strong>de</strong>, ou viviam no sobra<strong>do</strong> on<strong>de</strong> tinham o estabelecimento. Os sobra<strong>do</strong>s<br />
têm <strong>do</strong>is pisos, sen<strong>do</strong> o piso térreo <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao comércio – armazéns <strong>de</strong><br />
merca<strong>do</strong>rias, ou instalações <strong>de</strong> apoio ao piso superior, ocupa<strong>do</strong> pela habi-<br />
tação. Os homens ricos seriam proprietários <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s enquanto as casas<br />
térreas seriam <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s e famílias menos abastadas.<br />
Há gran<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minância da casas unifamiliares.<br />
As plantas das edificações possu<strong>em</strong> tipologia que pod<strong>em</strong> ser distingui-<br />
das pelo número <strong>de</strong> vãos da fachada. A tipologia interna das construções<br />
obe<strong>de</strong>cia a um programa que ainda subsiste, com uma organização funcio-<br />
nal b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida. Na frente abr<strong>em</strong>-se para a Rua os armazéns e as salas <strong>de</strong><br />
visita, só com portas no primeiro caso e com portas e janelas no segun<strong>do</strong>;<br />
a sala <strong>de</strong> jantar ocupava o cômo<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, ponto <strong>de</strong> reunião das famí-<br />
lias, fican<strong>do</strong> a sala <strong>de</strong> visitas reservada para ocasiões especiais. Na parte<br />
central, ficavam as alcovas. A porta da rua s<strong>em</strong>pre conduz a um corre<strong>do</strong>r.<br />
Se as alcovas e salas se situam apenas <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r, t<strong>em</strong>-se casas<br />
com até três vãos na fachada; quan<strong>do</strong> se situam <strong>de</strong> ambos os la<strong>do</strong>s, pos-<br />
su<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> quatro vãos. Essa classificação indica, além da dimensão da<br />
casa, o po<strong>de</strong>r aquisitivo <strong>do</strong>s proprietários. Para os pátios interiores, s<strong>em</strong>pre<br />
arboriza<strong>do</strong>s, abr<strong>em</strong>-se as <strong>de</strong>pendências <strong>do</strong>mésticas mais privadas. Destaca-
se também <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, a regularida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s puxa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> serviços com cober-<br />
tura <strong>em</strong> meia-água; concordan<strong>do</strong> com a água posterior <strong>do</strong>s telha<strong>do</strong>s, que<br />
abrigavam cozinhas, <strong>de</strong>spensas e os d<strong>em</strong>ais compartimentos, constituíam-<br />
se <strong>em</strong> um prolongamento da construção. Abriam-se para os pátios, com<br />
fechamento pelo gracioso <strong>de</strong>senho das caixilharia das vidraças e pela serra-<br />
lheria rendada.<br />
Em algumas fachadas encontramos pequenos altares <strong>em</strong>buti<strong>do</strong>s <strong>em</strong> so-<br />
bra<strong>do</strong>s, casas e igrejas, fecha<strong>do</strong>s por gran<strong>de</strong>s portas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira almofada-<br />
das e moldura <strong>em</strong> cantaria, que se abr<strong>em</strong> para as ruas, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s pas-<br />
sos. Destinam-se, exclusivamente, à procissão <strong>do</strong> Encontro realizada durante<br />
a S<strong>em</strong>ana Santa. Localizam-se: um na fachada lateral da Igreja <strong>de</strong> Santa<br />
Rita, três na rua <strong>do</strong> Comércio e <strong>do</strong>is na rua Dona Geralda. Cada um <strong>de</strong>sses<br />
seis passos r<strong>em</strong>anescentes representa um momento da Paixão <strong>de</strong> Cristo.<br />
Muito característicos são os pormenores <strong>de</strong>corativos com <strong>de</strong>staque para<br />
os trabalhos <strong>de</strong> marcenaria e carpintaria, trabalhos <strong>de</strong> ferro forja<strong>do</strong> e para<br />
pinturas nas fachadas. Outro el<strong>em</strong>ento, característico <strong>do</strong> conjunto são os<br />
cunhais, alguns <strong>em</strong> pedra, com requinte na cantaria e outros <strong>em</strong> massa, apa-<br />
rec<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral nas esquinas, como que para d<strong>em</strong>arcar os alinhamentos.<br />
TIPOLOGIA<br />
Conjunto urbano <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le marcadamente colonial, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida-<br />
<strong>de</strong> formal e estética, com um vocabulário pre<strong>do</strong>minante da segunda meta-<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong> séc. XVIII e primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX. Exist<strong>em</strong> alguns ex<strong>em</strong>pla-<br />
res que po<strong>de</strong>rão ser <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> séc. XVII e início <strong>do</strong> séc. XVIII, que se<br />
caracterizam por maior simplicida<strong>de</strong> e robustez. Será possível a existência<br />
<strong>de</strong> vestígios <strong>de</strong> construções <strong>do</strong> séc. XVII, que tenham sofri<strong>do</strong> alterações e<br />
ajustes às posturas construtivas e estéticas <strong>do</strong>s séculos seguintes. Determi-<br />
nadas características formais pod<strong>em</strong> indiciar a época <strong>de</strong> construção, nome-<br />
adamente a relação <strong>do</strong>s vãos com as fachadas.<br />
Enquanto no século XVIII pre<strong>do</strong>mina o cheio <strong>em</strong> relação ao vazio, no<br />
século XIX as proporções equilibram-se, com vãos <strong>de</strong> medidas equivalen-<br />
tes. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> séc. XIX o número <strong>de</strong> vãos aumenta, e com os terrenos<br />
vagos mura<strong>do</strong>s,os vazios passam a pre<strong>do</strong>minar. Nos Termos <strong>de</strong> Postura <strong>de</strong>-<br />
fini<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 1836, ficaram estabelecidas uma série <strong>de</strong> exigências construti-<br />
vas, s<strong>em</strong> novas <strong>de</strong>finições ao nível <strong>do</strong> zoneamento <strong>de</strong> funções ou ord<strong>em</strong><br />
75
76<br />
cronológica para as construções, que foram surgin<strong>do</strong> simultaneamente <strong>em</strong><br />
vários pontos <strong>do</strong> “bairro histórico”.<br />
Passou a ser obrigatória a licença prévia <strong>de</strong> construção, o respeito pelo<br />
alinhamento das ruas e a existência <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uro. As dimensões e o nú-<br />
mero <strong>de</strong> vãos, a altura da edificação e o pé-direito <strong>do</strong>s pisos, b<strong>em</strong> como os<br />
materiais a utilizar foram padroniza<strong>do</strong>s, passan<strong>do</strong> a ser obrigatório murar<br />
os limites <strong>do</strong>s lotes e abrir uma “porta <strong>de</strong> frente”. A altura das casas térre-<br />
as ficou estabelecida <strong>em</strong> 18 palmos e a <strong>do</strong>s sobra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 35 palmos. As<br />
portas <strong>de</strong>veriam ter 12 palmos <strong>de</strong> altura e 5 <strong>de</strong> largura.<br />
É um conjunto muito uniforme e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> repetição no esqu<strong>em</strong>a das<br />
fachadas, com ruas <strong>de</strong> frentes alinhadas e contínuas, pontuadas por muros<br />
altos <strong>de</strong> quintais arboriza<strong>do</strong>s. A entrada direta para os quintais é feita por<br />
uma porta idêntica às portas <strong>de</strong> entrada da casa.<br />
Pod<strong>em</strong>os i<strong>de</strong>ntificar na tipologia edificada el<strong>em</strong>entos arquitetônicos re-<br />
sultantes adaptação às condições atmosféricas locais, tais como: t<strong>em</strong>pera-<br />
tura quente e alto índice pluviométrico. O corre<strong>do</strong>r que liga a parte frontal<br />
a posterior serve <strong>de</strong> circulação e possibilita maior ventilação natural no in-<br />
terior. Sob o corre<strong>do</strong>r, exist<strong>em</strong> canaletas <strong>de</strong> pedra para escoamento das<br />
águas pluviais <strong>do</strong>s pátios <strong>em</strong> direção às ruas. Telha<strong>do</strong>s <strong>em</strong> duas águas, re-<br />
cobertos por telhas <strong>de</strong> barro <strong>do</strong> tipo capa-e-canal, apresentam largos bei-<br />
rais para proteção das águas das chuvas, arr<strong>em</strong>ata<strong>do</strong>s por cimalhas perfila-<br />
das, cachorros <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou beira-seveira.<br />
A estrutura era composta por pilares <strong>de</strong> pedra e cal, b<strong>em</strong> como as pare-<br />
<strong>de</strong>s divisórias entre eles e, <strong>em</strong> geral, a fachada principal. As pare<strong>de</strong>s inter-<br />
nas foram construídas <strong>em</strong> pau-a-pique, por vezes <strong>em</strong> estuque. Revestimen-<br />
tos com argamassa <strong>de</strong> cal e areia. Pavimento <strong>em</strong> tijoleira no piso térreo e
soalho nos sobra<strong>do</strong>s sobre vigamentos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Janelas <strong>de</strong> guilhotina,<br />
portadas <strong>de</strong> portas e janelas são, na <strong>sua</strong> maioria, <strong>de</strong> duas folhas cegas, sa-<br />
cadas <strong>de</strong> varandas <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro.<br />
Uma característica <strong>do</strong>s sobra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é a não simetria entre os vãos<br />
<strong>do</strong>s primeiros e segun<strong>do</strong>s pavimentos, que o pod<strong>em</strong>os atribuir não só à<br />
construção <strong>do</strong>s pavimentos <strong>em</strong> diferentes perío<strong>do</strong>s, como também à mu-<br />
dança <strong>do</strong>s alinhamentos. Como b<strong>em</strong> observou Rodrigo Mello Franco <strong>de</strong><br />
Andra<strong>de</strong>, existiam gran<strong>de</strong>s saguões, principalmente nos sobra<strong>do</strong>s, que sur-<br />
giram no século XIX, que se utilizaram das casas térreas pré-existentes.<br />
O sobra<strong>do</strong> da Câmara Municipal é um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> imóvel que apresenta<br />
saguão e vãos diss<strong>em</strong>elhantes, foi instalada neste imóvel no século XIX. Não<br />
só este, como outros, apresentam uma característica peculiar, a parte térrea<br />
data <strong>do</strong> século XVIII e a parte superior <strong>do</strong> século XIX. Possui um gran<strong>de</strong> sa-<br />
guão que dá acesso ao Salão da Câmara, on<strong>de</strong> estão expostos as “Varas <strong>de</strong><br />
Vereança” e os sofás da antiga loja maçônica, com seu triângulo forra<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />
vermelho e encima<strong>do</strong> por uma estrela <strong>de</strong> cinco pontas. A parte inferior era<br />
<strong>de</strong>stinada a armazém ou <strong>de</strong>pósito e a parte superior à moradia.<br />
A chegada da corte <strong>de</strong> Lisboa ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
século XIX, e a abertura <strong>do</strong> comércio a outros países além <strong>de</strong> Portugal,<br />
nomeadamente a produtos oriun<strong>do</strong>s da indústria Inglesa, começam a in-<br />
fluenciar o gosto pelo ornamento e por novos materiais como o vidro plano<br />
e os gra<strong>de</strong>amentos <strong>de</strong> ferro fundi<strong>do</strong>. As técnicas construtivas tradicionais<br />
da época colonial mantêm-se, mas a feição passa a ser menos sóbria e se-<br />
vera. Assiste-se a uma substituição gradual das rótulas, muxarabis e porta-<br />
das cegas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira por janelas envidraçadas e das guardas <strong>de</strong> varandas<br />
<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira por ferro fundi<strong>do</strong> com <strong>de</strong>senhos profusamente elabora<strong>do</strong>s.<br />
77
78<br />
> A.M. - Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> S.<br />
Benedito <strong>do</strong>s Homens<br />
Pretos, Centro Histórico<br />
Os vãos são b<strong>em</strong> ritma<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> dimensões generosas, com vergas retas ou<br />
curvas, r<strong>em</strong>atadas com moldura salientes e trabalhadas <strong>em</strong> argamassa ou<br />
ma<strong>de</strong>ira. As ombreiras, vergas e soleiras são <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira pintada com cores<br />
fortes como o azul, o ver<strong>de</strong>, o vermelho e o amarelo. Os edifícios religiosos<br />
apresentam cantaria nos vãos, b<strong>em</strong> como alguns ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> imóveis <strong>do</strong><br />
século XVIII.<br />
As janelas são com folhas <strong>em</strong> guilhotina, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, com caixilharias <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senhos muito trabalha<strong>do</strong>s. Em geral estas caixilharias são pintadas <strong>de</strong><br />
branco. Nos sobra<strong>do</strong>s com janelas <strong>de</strong> sacada e varandas, as vidraças são<br />
r<strong>em</strong>atadas por ban<strong>de</strong>iras com <strong>de</strong>senhos geométricos. As portas e portadas<br />
interiores são geralmente <strong>de</strong> duas folhas, também <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira pintada. São<br />
comuns as meias-portas, que permit<strong>em</strong> arejamento s<strong>em</strong> a <strong>de</strong>vassa da casa.<br />
As varandas <strong>do</strong>s sobra<strong>do</strong>s surg<strong>em</strong> com sacadas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira com almo-<br />
fadões e treliças quadriculadas <strong>de</strong> varas cruzadas, her<strong>de</strong>iras <strong>do</strong>s muxarabis<br />
e gelosias, tão características da arquitetura colonial <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o Brasil nos<br />
séculos. XVII e XVIII, ou com gra<strong>de</strong>amentos <strong>de</strong> ferro fundi<strong>do</strong>, com motivos<br />
ornamentais complexos e composições <strong>de</strong> ornatos repeti<strong>do</strong>s, comuns a<br />
partir <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, muitas vezes com esteios para suspensão<br />
<strong>de</strong> iluminação, r<strong>em</strong>ata<strong>do</strong>s por abacaxis e pinhas, <strong>de</strong> ferro, chapa e vidro
colori<strong>do</strong>. Estes esteios transformaram-se num pormenor <strong>de</strong>corativo muito<br />
aprecia<strong>do</strong>, com gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> motivos ornamentais, que se comple-<br />
ta com as lanternas <strong>de</strong> vidro colori<strong>do</strong>. A <strong>sua</strong> orig<strong>em</strong> terá si<strong>do</strong> a tradição <strong>de</strong><br />
iluminar as fachadas das casas <strong>em</strong> noites <strong>de</strong> festas e procissões.<br />
Outra característica <strong>de</strong>corativa da maior importância <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> é a pin-<br />
tura <strong>de</strong> motivos geométricos nas fachadas, concentra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> frisos junto<br />
aos beirais e ao nível das varandas, nos cunhais e no <strong>em</strong>basamento <strong>do</strong>s<br />
edifícios. Estes motivos são mais comuns nos sobra<strong>do</strong>s mais ricos e orna-<br />
menta<strong>do</strong>s, geralmente com varandas <strong>de</strong> ferro. Numa gran<strong>de</strong> percentag<strong>em</strong><br />
<strong>do</strong>s casos a linguag<strong>em</strong> é mais sóbria, s<strong>em</strong> existência <strong>de</strong> varandas ou com<br />
varandas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />
CARACTERÍSTICAS PARTICULARES<br />
<strong>Paraty</strong> pelas <strong>sua</strong>s características geográficas, permitia um acesso facilita<strong>do</strong><br />
ao interior <strong>do</strong> território. Foi passag<strong>em</strong> obrigatória para os transporta<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong> ouro, sen<strong>do</strong> o único ponto <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> autoriza<strong>do</strong> e funcionou como<br />
entreposto comercial regional. Toda a <strong>sua</strong> história se baseia <strong>em</strong> circuitos,<br />
acessos e meios <strong>de</strong> comunicação, terrestres, fluviais e marítimos.<br />
É possível i<strong>de</strong>ntificar na malha urbana as etapas ou fases <strong>de</strong> <strong>sua</strong> forma-<br />
ção. As ruas são pavimentadas com calçada <strong>de</strong>nominada “pé-<strong>de</strong>-moleque”<br />
e, por ter<strong>em</strong> forma <strong>de</strong> calha, permit<strong>em</strong> que a água seja escoada facilmente.<br />
Material: Pedra: calcário, granito; Terra; Cerâmica: tijolo, telha <strong>de</strong><br />
capa e canal; Metal: ferro forja<strong>do</strong>, ferro fundi<strong>do</strong>; Ma<strong>de</strong>ira, Vidro; Cal;<br />
Areia.<br />
Área bruta = approx. 155,580 m 2<br />
Observações: <strong>Paraty</strong> t<strong>em</strong> um vasto repertório <strong>de</strong> cren-<br />
ças <strong>em</strong> lendas tradicionais, muito presente <strong>em</strong> toda<br />
a história da cida<strong>de</strong>. As festas religiosas e pagãs<br />
suced<strong>em</strong>-se ao longo <strong>do</strong> ano, sen<strong>do</strong> a mais an-<br />
tiga e carismática a Festa <strong>do</strong> Divino, 50 dias<br />
após a Páscoa, cultivada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o séc. 17, her-<br />
dada da época colonial e da tradição Ibérica.<br />
Também <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> tradição é a Procissão <strong>do</strong><br />
Fogaréu, na Quinta-Feira Santa.<br />
79
80<br />
A zona núcleo proposta para o conjunto arquitetônico, urbanístico e cultu-<br />
ral <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> na Lista <strong>do</strong> Patrimônio Mundial é <strong>de</strong>limitada como a área<br />
classificada como patrimônio histórico e artístico nacional <strong>em</strong> 1958, Pro-<br />
cesso nº 563-T-57, <strong>de</strong>finida pela Portaria nº 10 <strong>de</strong> 24/09/1981: ao Norte,<br />
pela marg<strong>em</strong> direita <strong>do</strong> rio Perequê-Açú, no seu limite leste, pela rua Fres-<br />
ca, prossegue ao sul contorna<strong>do</strong> a Praça da Ban<strong>de</strong>ira e o largo <strong>de</strong> Santa<br />
Rita e pelo sul, pelo Beco das Canoas, até encontrar a rua Domingos Gon-<br />
çalves <strong>de</strong> Abreu, à oeste, por esta até encontrar o Rio Perequê-Açú.<br />
Em 1974 o Processo nº 563-T-57 foi retifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma a incluir to<strong>do</strong> o<br />
Município, nas inscrições 510 LBA e inscrição 63 LAEP.<br />
A proteção da moldura paisagística tanto <strong>do</strong> Centro Histórico, quanto<br />
<strong>do</strong> Forte Defensor Perpétuo está <strong>de</strong>finida na Portaria nº 10/81 <strong>do</strong> IPHAN,<br />
que ratifica as Leis Municipais nº 608 e 609/81. A ocupação <strong>do</strong> solo urbano<br />
é restrita, . Nessa zona exist<strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> preservação permanente on<strong>de</strong> não<br />
são autorizadas quaisquer construções. Quan<strong>do</strong> é possível construir, a au-<br />
torização é restrita a um único pavimento. Define-se como zona tampão a<br />
área <strong>de</strong> expansão urbana <strong>de</strong>finida na Lei Municipal nº 608/81, ratificada<br />
pela Portaria nº 10/81 <strong>do</strong> IPHAN, on<strong>de</strong> é permiti<strong>do</strong> edificar até <strong>do</strong>is pavi-<br />
mentos, esta restrição é estendida para to<strong>do</strong> o Município.<br />
Forte Defensor Perpétuo (3)<br />
O papel estratégico <strong>de</strong> articulação <strong>do</strong> litoral com o interior levou à a<strong>do</strong>ção<br />
<strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa militar com fortificações na cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> <strong>sua</strong> baía e<br />
na serra. A importância <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> como base militar, po<strong>de</strong> ser avaliada pela<br />
existência <strong>de</strong> um Regimento só para o Município. O Forte Defensor Perpé-<br />
tuo é o último r<strong>em</strong>anescente íntegro <strong>de</strong> to<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a e, situa-se no sítio<br />
que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> à <strong>Paraty</strong>.<br />
Com seus el<strong>em</strong>entos integra<strong>do</strong>s, o alojamento, o terrapleno, as trinchei-<br />
ras, os canhões e a casa da pólvora, separada <strong>do</strong> prédio principal, foi o<br />
principal no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong>. Este conjunto situa-se no alto <strong>do</strong><br />
morro da vila velha – on<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> foi fundada, atual morro <strong>do</strong> Forte, hoje<br />
toda a elevação pertence à União. A casa <strong>de</strong> pólvora separada <strong>do</strong> prédio<br />
principal é um <strong>do</strong>s poucos ex<strong>em</strong>plares <strong>do</strong> gênero no país.<br />
Em 1793 o forte foi construí<strong>do</strong> com baterias <strong>de</strong> barbeta, artilhadas com<br />
canhões lisos <strong>de</strong> calibre 12 e 18, monta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> reparo Onofre (carro proje-<br />
ta<strong>do</strong> por José Onofre). Foi reconstruí<strong>do</strong> no ano <strong>de</strong> 1822, quan<strong>do</strong> recebeu
o nome atual <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> à Pedro I, Impera<strong>do</strong>r e Defensor <strong>do</strong> Perpé-<br />
tuo <strong>do</strong> Brasil.<br />
Sua construção austera apresenta amplos vãos simetricamente distribu-<br />
í<strong>do</strong>s, com amplo telha<strong>do</strong> <strong>em</strong> quatro águas, ainda com seu interior autênti-<br />
co e preservan<strong>do</strong>. Apresenta três segmentos distintos: a casa <strong>do</strong> coman-<br />
dante, com sala <strong>de</strong> visitas e jantar, escritório, quarto e cozinha; a ala <strong>do</strong><br />
quartel da tropa ao centro, com enxovias e, na outra extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>, o quar-<br />
tel <strong>do</strong>s inferiores on<strong>de</strong> residiam os cabos e Sargentos.<br />
Ao acervo <strong>do</strong> Forte estão integradas peças autênticas, confeccionadas<br />
na Grã-Bretanha, com os canhões <strong>do</strong> tipo padrão”12 Tiros”, que atirava<br />
uma bala pesan<strong>do</strong> aproximadamente 6 Kilos, alcançan<strong>do</strong> 2.000m <strong>de</strong> dis-<br />
tância, usan<strong>do</strong> 2Kg <strong>de</strong> pólvora. Dois canhões, um com a marca GR e outro<br />
com uma flexa, que foram fabrica<strong>do</strong>s pelo Governo Britânico <strong>em</strong> 1739.Um<br />
canhão fabrica<strong>do</strong> pela <strong>em</strong>presa “Carron” na Escócia <strong>em</strong> 1796.<br />
Também constitu<strong>em</strong> o acervo as tachas ou cal<strong>de</strong>irões par aprodução<br />
<strong>de</strong> açúcar, com a inscrição “Low Moor” fabrica<strong>do</strong>s pela <strong>em</strong>presa Dawsn,<br />
<strong>em</strong>presa <strong>do</strong> norte da Inglaterra. Peças oriundas <strong>de</strong> fazenda na região <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong>-Mirim, b<strong>em</strong> como o tronco <strong>de</strong> escravos e tambores <strong>de</strong> Jongo, uti-<br />
liza<strong>do</strong>s pela mão <strong>de</strong> obra escrava, indispensável no sist<strong>em</strong>a colonial e na<br />
mineração <strong>do</strong> ouro.<br />
81<br />
> PDT- Forte <strong>do</strong> Defensor<br />
Perpétuo, 2003;<br />
> PDT – Canhão<br />
<strong>do</strong> Forte <strong>do</strong> Defensor<br />
Perpétuo, 2003
82<br />
> A.M. - Vista aérea da<br />
praia da Trinda<strong>de</strong>, APA<br />
Cairuçu<br />
Está inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong> um morro <strong>de</strong>nsamente floresta<strong>do</strong> numa extensão <strong>de</strong><br />
75.108m².<br />
O Forte Defensor Perpétuo é classifica<strong>do</strong> como patrimônio histórico e<br />
artístico nacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, por meio <strong>do</strong> Processo nº 532-T-55 IPHAN, <strong>em</strong><br />
1957, Inscrição nº 318-A LH. Sua jurisdição foi transferida <strong>do</strong> Ministério da<br />
Guerra para o <strong>de</strong> Educação e Cultura, no mesmo ano. A elevação on<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
situa limita-se à leste com o mar, ao sul, com a proprieda<strong>de</strong> da colônia <strong>de</strong><br />
Pesca<strong>do</strong>res; a oeste é contorna<strong>do</strong> pela Estrada da Jabaquara, e à nor<strong>de</strong>ste,<br />
junto a foz <strong>do</strong> rio Jabaquara, com uma proprieda<strong>de</strong> particular à beira-mar.<br />
A Serra <strong>do</strong> Mar e a paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
A orig<strong>em</strong> da Serra <strong>do</strong> Mar, da qual a Serra da Bocaina e o maciço <strong>do</strong> Cai-<br />
ruçu faz<strong>em</strong> parte, é interpretada por muitos autores como sen<strong>do</strong> o resulta-<br />
<strong>do</strong> <strong>de</strong> arqueamentos e falhamentos liga<strong>do</strong>s às antigas direções estruturais<br />
<strong>do</strong> <strong>em</strong>basamento cristalino Pré Cambriano, fruto <strong>do</strong> <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bramento <strong>do</strong><br />
continente Sul Americano e Africano. Além <strong>do</strong>s aspectos tectônicos, men-<br />
cione-se o consi<strong>de</strong>rável papel da erosão na escultura <strong>de</strong> <strong>sua</strong> morfologia<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Terciário Médio (Oligoceno).
A Serra <strong>do</strong> Mar esten<strong>de</strong>-se paralelamente ao mar por mais <strong>de</strong> mil quilôme-<br />
tros, <strong>do</strong> sul <strong>de</strong> Santa Catarina ao Norte <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Destaca-se na<br />
paisag<strong>em</strong> principalmente por <strong>sua</strong> cobertura florestal <strong>de</strong> Mata Atlântica e<br />
como verda<strong>de</strong>ira muralha ou primeiro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>grau <strong>do</strong>s planaltos <strong>do</strong> inte-<br />
rior, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>clarada, pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral, como patrimônio nacional.<br />
Constitui não apenas a borda <strong>do</strong> planalto, mas também, <strong>em</strong> muitas<br />
áreas, um conjunto <strong>de</strong> blocos soergui<strong>do</strong>s e falha<strong>do</strong>s, forman<strong>do</strong> serras mar-<br />
ginais. Alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>stas são as serras da Graciosa e Marumbi no<br />
Paraná, Paranapiacaba <strong>em</strong> São Paulo, <strong>do</strong>s Órgãos e da Bocaina no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, todas elas com relevo marcante, <strong>de</strong> alto valor paisagístico, apresen-<br />
tan<strong>do</strong> altitu<strong>de</strong>s entre o nível <strong>do</strong> mar e 2200m.<br />
A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina compreen<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> varie-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>s, climas e relevos, que formam diferentes ecossist<strong>em</strong>as,<br />
> Rugendas<br />
- Ponte <strong>de</strong> cipó<br />
83
84<br />
nichos e refúgios ecológicos e apresentam uma cobertura vegetal ainda não<br />
totalmente estudada. Pod<strong>em</strong>os afirmar, portanto, que o território <strong>do</strong> Parque<br />
Nacional da Serra da Bocaina dispõe <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s maiores índices <strong>de</strong> biodiver-<br />
sida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntre as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação da Mata Atlântica no Brasil.<br />
Cerca <strong>de</strong> 85% da área <strong>do</strong> Parque é recoberta por Floresta Ombrófila<br />
Densa, constituída principalmente por formações secundárias. A Floresta<br />
Ombrófila Densa Submontana fica entre 50 e 700 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, e ocupa<br />
cerca <strong>de</strong> 26% <strong>do</strong> Parque. Nas encostas mais altas e nas escarpas voltadas<br />
para o mar, encontram-se as formações mais exuberantes da Mata Atlânti-<br />
ca, com árvores que alcançam <strong>de</strong> 24 a 28 m <strong>de</strong> altura, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> – se o<br />
jequitibá, o cedro e a massaranduba.<br />
Já no alto <strong>do</strong>s planaltos e da serra, na faixa <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 600 e 1.500 m,<br />
concentra-se boa parte das florestas primárias, com pre<strong>do</strong>mínio da Floresta<br />
Ombrófila Densa Montana, que ocupa cerca <strong>de</strong> 54% da área <strong>do</strong> Parque.<br />
Neste ambiente foi <strong>de</strong>scrita recent<strong>em</strong>ente uma nova espécie <strong>de</strong> bromélia,<br />
a Fernseea bocainensis, endêmica <strong>do</strong> altiplano da Bocaina.<br />
FAUNA<br />
Foram listadas no Parque Nacional da Serra da Bocaina 40 espécies <strong>de</strong><br />
mamíferos terrestres e 294 <strong>de</strong> aves, com 10 espécies <strong>de</strong> mamíferos e 12 <strong>de</strong><br />
aves ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção. Cinco espécies <strong>de</strong> mamíferos são endêmicas da<br />
Mata Atlântica: ouriço-cacheiro (Sphiggurus villosus), sagüi-da-serra-escuro<br />
(Callithrix aurita), bugio (Alouatta fusca), macaco-prego (Cebus apella nigritus)<br />
e mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Américas.<br />
As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a concentração
da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, com <strong>de</strong>staque para felinos<br />
como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a onça-parda (Puma concolor) e out-<br />
ros mais raros, como o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e a onça-<br />
pintada (Panthera onça), cuja ocorrência é confirmada por mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Trin-<br />
da<strong>de</strong> e Patrimônio, na divisa entre São Paulo e rio <strong>de</strong> Janeiro. São raros os<br />
registros <strong>de</strong> anta (Tapirus terrestris) , o maior mamífero brasileiro.<br />
Das espécies <strong>de</strong> aves, 44% são apontadas como espécies endêmicas <strong>do</strong><br />
Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar entre outras o macuco (Tinamus<br />
solitarius), a jacutinga (Pipile jacutinga) e a sabiá cica (Triclaria malachitacea)<br />
como raras e ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />
85
86<br />
> Porto <strong>de</strong> turismo<br />
e <strong>de</strong> pesca<br />
No trecho da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, entre as cotas 650 e 1.000 m, a aplicação<br />
<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Avaliação Ecológica Rápida pela equipe <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong><br />
Parque Nacional permitiu registrar 112 espécies <strong>de</strong> aves, sen<strong>do</strong> 53 <strong>de</strong>las<br />
(47,3%) endêmicas <strong>do</strong> Domínio Atlântico. Deste total, 9 espécies estão pre-<br />
sumidamente ameaçadas e 1 ameaçada <strong>de</strong> extinção: o sabiá-cica (Triclaria<br />
malachitacea) (Collar et al., 1.992; Wege and Long, 1.995). Entre as 112 es-<br />
pécies, 6 pod<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas indica<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ambiente florestal contínuo<br />
no Domínio Atlântico: Pionopsitta pileata, Triclaria malachitacea, Campephilus<br />
robustus, Chamaeza meruloi<strong>de</strong>s, Carpornis cucullatus e Ilicura militaris.<br />
O LITORAL<br />
Na região Su<strong>de</strong>ste, entre São Sebastião, SP e Angra <strong>do</strong>s Reis, RJ, a faixa<br />
costeira apresenta-se ora estreita, recortada ou escarpada, ora mais ampla e
etilínea, on<strong>de</strong> as formações quaternárias apresentam-se mais <strong>de</strong>senvolvidas.<br />
Algumas elevações <strong>do</strong> conjunto cristalino submerso <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> ao largo da<br />
costa na forma <strong>de</strong> ilhas. Entre a faixa <strong>de</strong> restinga <strong>do</strong> litoral <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
e a Serra <strong>do</strong> Mar encontram-se baixadas litorâneas com <strong>de</strong>pósitos lagunares<br />
ou fluviais, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se nas paisagens entre a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />
<strong>Paraty</strong>. Nos terrenos situa<strong>do</strong>s nas margens <strong>de</strong> lagunas ou <strong>do</strong>s rios <strong>de</strong> água<br />
salobra, vicejam os manguesais, importantes berçários da vida marinha.<br />
A área <strong>de</strong> amortecimento coinci<strong>de</strong> com a área restante <strong>do</strong> Município <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong>. Todas as ilhas localizadas no Município são também protegidas pela<br />
APA <strong>do</strong> Cairuçú.<br />
<strong>Paraty</strong> distingue-se <strong>de</strong> outros locais pelos históricos movimentos hu-<br />
manos, pelo constante ir e vir entre a floresta, o mar e a cida<strong>de</strong>, pelos<br />
caminhos <strong>de</strong> pedra; <strong>sua</strong> pluralida<strong>de</strong> etnológica, <strong>em</strong> diferentes e constantes<br />
interações, caracteriza os estabelecimentos humanos e finda por abordar a<br />
força criativa da espiritualida<strong>de</strong> das festas religiosas, <strong>em</strong> um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lo sustentável urbano integra<strong>do</strong> ao meio natural.<br />
87<br />
> Pesca<strong>do</strong>res puxan<strong>do</strong><br />
uma canoa na praia <strong>do</strong><br />
Sono
88<br />
> Mapa <strong>do</strong> Brasil,<br />
Hubert Vincent, 1698<br />
2.b Histórico e Desenvolvimento<br />
A Mata Atlântica que recobre a Serra <strong>do</strong> Mar está intimamente ligada à<br />
cultura brasileira. A começar pelo nome <strong>do</strong> país que, rebel<strong>de</strong> à indicação<br />
religiosa que inicialmente <strong>de</strong>nominou-a Terra <strong>de</strong> Santa Cruz, optou pelo<br />
nome da primeira riqueza aqui encontra<strong>do</strong>, o pau-brasil. Brasil <strong>de</strong>riva <strong>de</strong><br />
brasa, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> cor avermelhada viva da tinta extraída da ma<strong>de</strong>ira<br />
utilizada para tintura <strong>de</strong> diversos teci<strong>do</strong>s.<br />
Todas as incursões coloniais b<strong>em</strong> sucedidas foram <strong>de</strong> fato tomadas <strong>do</strong><br />
conhecimento indígena que aculturou diversas plantas da natureza brasi-<br />
leira, para o qual a mandioca foi o principal el<strong>em</strong>ento principal econômi-<br />
co. Além <strong>de</strong> nomear plantas e animais e <strong>de</strong> conhecer-lhes a utilização, os<br />
indígenas ensinavam também os caminhos da terra nova aos colonos re-<br />
cém chega<strong>do</strong>s.<br />
As formas <strong>de</strong> ocupação da baixada litorânea da Capitania <strong>de</strong> São Vicen-<br />
te ou das terras <strong>do</strong> planalto <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba pelo ameríndio, <strong>em</strong> época<br />
imediatamente pré-cabralina, assim, como a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong>
circulação entre as duas áreas implicaram <strong>em</strong> longo processo <strong>em</strong> que a<br />
experiência adquirida por muitas gerações, com técnicas primitivas <strong>de</strong> uso<br />
<strong>do</strong>s recursos naturais, levou a uma <strong>de</strong>terminada organização <strong>do</strong> espaço.<br />
Nos <strong>do</strong>is primeiros séculos, a ocupação <strong>do</strong> território brasileiro <strong>de</strong>u-se<br />
pela implantação <strong>de</strong> pequenos núcleos urbanos, portos e obras militares<br />
<strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>fensivo, <strong>de</strong>ntre outras. No início da colonização foi instalada<br />
a gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa agrícola produtora <strong>de</strong> açúcar <strong>em</strong> São Vicente, porém a<br />
produção fracassou. No local, Enseada <strong>de</strong> São Vicente, junto ao atual<br />
Porto <strong>de</strong> Santos, foi fundada, <strong>em</strong> 1532, a primeira Vila, por Martim Afon-<br />
so <strong>de</strong> Souza, <strong>de</strong> iniciativa privada e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao sist<strong>em</strong>a das capitanias<br />
hereditárias e à política <strong>de</strong> colonização baseada na produção <strong>de</strong> açúcar<br />
para exportação.<br />
No perío<strong>do</strong> entre 1574 e 1578, quan<strong>do</strong> se estabeleceu no Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> Governo Geral <strong>do</strong> Leste e Sul da colônia brasileira, inten-<br />
sificaram-se as comunicações entre o Rio <strong>de</strong> Janeiro e as povoações pau-<br />
listas. Esse fato <strong>de</strong>ve ter acelera<strong>do</strong> o processo espontâneo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> colonos <strong>em</strong> direção à Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>. Expandin<strong>do</strong><br />
a área <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s culturas, caminhavam na direção <strong>de</strong> sítios que oferecess<strong>em</strong><br />
melhores condições geográficas, para fixação inicial e maior facilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> comunicação com os núcleos <strong>de</strong> colonos já instala<strong>do</strong>s no Planalto.<br />
A ligação entre a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo <strong>do</strong> Piratininga<br />
dava-se por via marítimo-terrestre e o caminho mais utiliza<strong>do</strong> era o da<br />
Serra <strong>do</strong> Facão, situada logo atrás da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aberta pelos<br />
índios guaianás, a trilha iniciava <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, na costa atlântica<br />
(mapa antigo), sen<strong>do</strong> aos poucos <strong>de</strong>nominada caminho <strong>do</strong>s<br />
ban<strong>de</strong>irantes. Parati <strong>de</strong>finia-se assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI,<br />
como ponto <strong>de</strong> articulação nas comunicações entre<br />
Rio e São Paulo, intermediária obrigatória no<br />
acesso ao planalto.<br />
No início <strong>do</strong> século XVII colo-<br />
nos chegaram às margens <strong>do</strong><br />
rio Perequê-Açu on<strong>de</strong> se<br />
fixaram <strong>em</strong> uma eleva-<br />
ção próxima, constituin<strong>do</strong><br />
o núcleo original <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aí erigi-<br />
ram uma pequena capela <strong>de</strong>dicada<br />
89
à São Roque. O povoa<strong>do</strong>, que originou-se como distrito <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />
Angra <strong>do</strong>s Reis, <strong>de</strong>senvolveu-se lentamente ao longo <strong>do</strong> século XVII, sen-<br />
<strong>do</strong> que na primeira meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse século, transferiu-se <strong>do</strong> primitivo sítio<br />
no alto <strong>do</strong> morro para uma várzea entre a marg<strong>em</strong> direita <strong>do</strong> rio Perequê-<br />
Açu e a marg<strong>em</strong> esquerda <strong>do</strong> rio Patitiba. A Igreja Matriz, edificada <strong>em</strong><br />
1646 sob esteios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e coberta <strong>de</strong> palha, teve curta duração.<br />
Emancipou-se politicamente <strong>em</strong> 28 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1667, por Carta<br />
Régia <strong>de</strong> Dom Afonso VI. Mesmo eleva<strong>do</strong> à categoria <strong>de</strong> vila, o povoa<strong>do</strong><br />
continuava tão pobre que d<strong>em</strong>orou quase meio século para construir a<br />
segunda Igreja Matriz, iniciada <strong>em</strong> 1668.<br />
Em fins <strong>do</strong> século XVII, <strong>Paraty</strong> seria uma pequena vila com menos <strong>de</strong> 50<br />
casas térreas, a maior parte <strong>de</strong>las <strong>em</strong> taipa, cobertas com palhas, distribuí-<br />
das dispersamente nas ilhas, na praia e acompanhan<strong>do</strong> os primeiros cami-<br />
nhos <strong>de</strong> penetração terrestre e fluvial. Não existia cais e os <strong>em</strong>barques eram<br />
realiza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> praias e margens <strong>do</strong>s rios próximos. Emolduran<strong>do</strong> a vila,<br />
como seu cenário, a encosta íngr<strong>em</strong>e da Serra <strong>do</strong> Mar coberta pela luxu-<br />
riante Mata Atlântica já marcava <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>lével a paisag<strong>em</strong>.<br />
Na mesma época, motiva<strong>do</strong>s pela exploração <strong>de</strong> metais preciosos, os<br />
paulistas intensificaram a penetração no sertão, pelas primitivas trilhas<br />
indígenas que galgavam a serra da Mantiqueira, paralela à serra <strong>do</strong> Mar.<br />
Com o t<strong>em</strong>po foi-se <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> como uma das principais vias <strong>de</strong> penetra-<br />
ção aquela aberta pelos índios Guaianás.<br />
Na década <strong>de</strong> 1690, com a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro nas minas <strong>do</strong> Ribeirão<br />
<strong>de</strong> <strong>Ouro</strong> Preto, <strong>do</strong> Ribeirão das Mortes e <strong>do</strong> Rio das Velhas, <strong>de</strong>senvolveu-<br />
se gigantesco processo migratório no país, principalmente externo. Signi-<br />
ficativa parcela <strong>de</strong>sse fluxo chega<strong>do</strong> ao Rio <strong>de</strong> Janeiro passou forçosa-<br />
mente por Parati. A vila passou a ostentar notória posição na Colônia,<br />
com o porto servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> ligação às regiões auríferas e sen<strong>do</strong> o mais pro-<br />
> Esquerda: <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>;<br />
> Debret – <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong><br />
1827.<br />
91
cura<strong>do</strong> <strong>de</strong> toda a Capitania. Sua zona <strong>de</strong> influência abrangia Taubaté,<br />
Guaratinguetá, Pindamonhangaba e Jacareí, no vale <strong>do</strong> Paraíba.<br />
Por <strong>sua</strong> posição estratégica <strong>em</strong> 1702 o cais da cida<strong>de</strong> foi fortifica<strong>do</strong> e<br />
oficializa<strong>do</strong> o <strong>em</strong>barque <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o ouro pelo seu porto. Parati passa en-<br />
tão a ser o Porto <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>. Os quintos <strong>do</strong> Rei são ali <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s para<br />
ser<strong>em</strong> envia<strong>do</strong>s a Portugal. Outra medida tomada, para controlar o esco-<br />
amento <strong>do</strong> ouro, foi a criação da chamada Casa <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> ou<br />
Casa <strong>do</strong>s Quintos.<br />
A primeira ficou estabelecida <strong>em</strong> Taubaté; logo <strong>em</strong> seguida, foi criada<br />
a <strong>de</strong> Guaratinguetá; no entanto, não resistiram muito t<strong>em</strong>po, pois foram<br />
extintas com a criação <strong>de</strong> uma terceira, <strong>de</strong>sta vez <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, mesmo ano<br />
<strong>em</strong> que foi criada a <strong>de</strong> Santos.<br />
A Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi criada por uma Carta Régia <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong><br />
maio <strong>de</strong> 1703 e instalada na estrada da Serra <strong>do</strong> Facão, com função <strong>de</strong><br />
cobrar pedágio e imposto sobre ouro e outras merca<strong>do</strong>rias.<br />
Em 1701, chegou <strong>de</strong> Portugal o fundi<strong>do</strong>r e cunha<strong>do</strong>r Luís da Silva. Trazia<br />
consigo um engenhoso aparelho para fundir e cunhar que <strong>de</strong>via ser mon-<br />
ta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Taubaté. O tal engenho jamais conseguiu vencer a difícil subida<br />
pela precária trilha da Serra <strong>do</strong> Facão, que naquele t<strong>em</strong>po ainda não <strong>de</strong>via<br />
permitir a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> carga, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> ficar pelo meio <strong>do</strong> ca-<br />
minho. Talvez por força <strong>de</strong>sta mesma circunstância, Luís da Silva tenha von-<br />
<strong>do</strong> a tornar-se o primeiro fundi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Nomea<strong>do</strong> como<br />
Prove<strong>do</strong>r Carlos Pedroso da Silveira, paulista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância nos<br />
primeiros <strong>de</strong>scobertos das minas, foi transferi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Registro <strong>de</strong> Taubaté,<br />
como também um escrivão Manuel Proença Rebello Castello Branco.<br />
Nova Carta Régia, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1704, man<strong>do</strong>u extinguir todas as<br />
Casas <strong>de</strong> Registro, com exceção <strong>de</strong> duas, a <strong>de</strong> Santos e a <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, d<strong>em</strong>ons-<br />
tran<strong>do</strong> a importância que a Coroa portuguesa dava ao porto paratiense.<br />
Para qu<strong>em</strong> vinha <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, o caminho das minas passan<strong>do</strong> por<br />
<strong>Paraty</strong> era longo e dava uma volta <strong>de</strong>snecessária. Des<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> século<br />
anterior, Garcia Rodrigues Paes Betim, filho <strong>de</strong> Fernão Dias Paes L<strong>em</strong>e,<br />
vinha tentan<strong>do</strong> conseguir abrir novo caminho, mais direto, passan<strong>do</strong> por<br />
umas roças que tinha na marg<strong>em</strong> esquerda <strong>do</strong> Rio Paraíba, local on<strong>de</strong><br />
hoje está a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul. A primeira picada foi aberta entre<br />
1698 e 1699. Por volta <strong>de</strong> 1710 Portugal proibiu o caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
para transporte <strong>do</strong> ouro das minas novas. Um novo registro foi instala<strong>do</strong>,
passan<strong>do</strong> a ser conheci<strong>do</strong> como <strong>Caminho</strong> Novo e a Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> quintar, isto é, fundir ouro.<br />
A viag<strong>em</strong>, que por <strong>Paraty</strong> se fazia <strong>em</strong> trinta a trinta e cinco dias passa<br />
a ser feita <strong>em</strong> quinze a vinte dias. O caminho, porém era inóspito, precá-<br />
rio e não ainda suficient<strong>em</strong>ente habita<strong>do</strong> para ter roças e recursos para<br />
suprir as tropas. Os comerciantes <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro ped<strong>em</strong> licença para<br />
realizar pelo menos a viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> ida por <strong>Paraty</strong> e, <strong>em</strong> 1715, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a<br />
um requerimento <strong>do</strong> povo paratiense, o transporte <strong>do</strong> ouro pelo caminho<br />
velho volta a ser libera<strong>do</strong>.<br />
Durante o primeiro quartel <strong>do</strong> século XVIII as autorida<strong>de</strong>s insistiam nas<br />
obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> porto. Em 1726, após visita realizada pelo então Gover-<br />
na<strong>do</strong> Luis Vahia Monteiro acompanha<strong>do</strong> por um engenheiro militar, foi<br />
or<strong>de</strong>nada a construção <strong>de</strong> um cais flanquea<strong>do</strong> que podia também servir <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa. Era gran<strong>de</strong> a preocupação com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> navios estrangei-<br />
ros que ali paravam para <strong>de</strong>ixar e comprar merca<strong>do</strong>rias. Os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barques<br />
eram então realiza<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> <strong>sua</strong> praia, e com lanchas, pois a ense-<br />
ada é bastante espraiada. Na vazante da maré as <strong>em</strong>barcações ficavam<br />
todas a seco, os navios ancoravam longe da vila, na Ilha <strong>do</strong>s Mantimentos.<br />
O motivo aponta<strong>do</strong>, na ocasião, para a escolha <strong>do</strong> cais flanquea<strong>do</strong>, foi que<br />
a artilharia <strong>do</strong>s navios não po<strong>de</strong>ria atingir diretamente a vila.<br />
93<br />
> A.M. - pedras <strong>do</strong><br />
<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, século<br />
XVIII, Cachoeirinha
94<br />
> IPHAN - Procissão na<br />
rua Marechal De<strong>do</strong><strong>do</strong>ro,<br />
mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX;<br />
> IHAP - Praça da Matriz<br />
<strong>em</strong> 1894;<br />
> IPHAN - Rua Marechal<br />
Deo<strong>do</strong>ro no início <strong>do</strong><br />
século XX;<br />
> IHAP - Praça da Matriz<br />
no início <strong>do</strong> século XX<br />
Mesmo s<strong>em</strong> quintar ouro, o Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> seguiu funcionan<strong>do</strong>. Nes-<br />
sa mesma visita, à Serra o Governa<strong>do</strong>r, <strong>em</strong> or<strong>de</strong>nou um regime para esta-<br />
belecer os procedimentos e regular o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cobrança <strong>do</strong> Registro.<br />
Determinou ao Prove<strong>do</strong>r que cobrasse ainda um tributo <strong>de</strong> 40 réis por<br />
pessoa e por cavalo que passasse, contribuição a ser repartida entre os<br />
solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Registro.<br />
Em 1728 o antigo caminho <strong>do</strong>s Guaianás, amplia<strong>do</strong>, dava passag<strong>em</strong> a<br />
homens e animais <strong>de</strong> carga.<br />
O crescimento da vila, na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII, indica cla-<br />
ramente um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> florescimento econômico confirma<strong>do</strong><br />
pela realização <strong>de</strong> importantes obras, tais como a <strong>de</strong>limitação da vila <strong>em</strong><br />
1719 e 1726; a retomada das obras da matriz <strong>em</strong> 1709 e <strong>sua</strong> conclusão<br />
<strong>em</strong> 1712; o início da construção da Igreja <strong>de</strong> Santa Rita, <strong>em</strong> 1722; a cons-<br />
trução <strong>do</strong> cais <strong>em</strong> 1726; a construção da Igreja N.S. da Conceição <strong>em</strong><br />
Parati-Mirim <strong>em</strong> 1720 e a construção da Igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário<br />
<strong>em</strong> 1725. Em 1746 a população urbana e rural atingia aproximadamente<br />
3.000 habitantes.<br />
Tão importantes quanto os edifícios institucionais para a estruturação<br />
da cida<strong>de</strong>, foram os rios. Des<strong>de</strong> os primeiros t<strong>em</strong>pos muitas foram as<br />
transformações nos rios da cida<strong>de</strong> e seus respectivos leitos. No ano <strong>de</strong><br />
1728 o rio Perequê-Açú que tinha <strong>sua</strong> foz natural ao norte <strong>do</strong> morro <strong>do</strong><br />
forte, foi translada<strong>do</strong> para a planície ao sul. O novo álveo foi aberto fral-<br />
<strong>de</strong>an<strong>do</strong> o morro <strong>do</strong> forte. O motivo seria a falta <strong>de</strong> água potável para os<br />
mora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong>.<br />
Devi<strong>do</strong> a esse <strong>de</strong>svio algumas conseqüências ocorreram à vila, a barra<br />
<strong>do</strong> Perequê-Açú passou a correr a sul, aproximan<strong>do</strong>-se cada vez mais da
arra <strong>do</strong> Matheus Nunes, e com a corrente <strong>do</strong> mar, natural a este, passa-<br />
ram a sitiar a frente da cida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong> o porto mais baixo e lamacento<br />
e, na preamar, as respectivas águas invad<strong>em</strong> as ruas.<br />
Em 1736, uma Carta Régia or<strong>de</strong>nou que o Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, fizesse por conta da Real Fazenda uma<br />
casa com acomodação para quarenta solda<strong>do</strong>s e nomeou um capitão<br />
para a infantaria da guarda <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> Serra. O quartel foi, contu<strong>do</strong><br />
construí<strong>do</strong> na vila <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e não no Registro. A tropa <strong>de</strong> quarenta sol-<br />
da<strong>do</strong>s aos quais se <strong>de</strong>stinava era toda da guarnição que cuidava também<br />
da proteção da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> controle das <strong>em</strong>barcações, conferin<strong>do</strong> o pa-<br />
gamento <strong>de</strong> outros impostos, como o <strong>do</strong> sal, por ex<strong>em</strong>plo.<br />
Com a d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong> para a popula-<br />
ção <strong>de</strong>dicada às lavras na região <strong>do</strong> ouro, <strong>Paraty</strong> passou <strong>de</strong> simples entre-<br />
posto distribui<strong>do</strong>r a centro produtor e exporta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gêneros alimentícios<br />
para as Minas Gerais e, posteriormente, para a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
promovida a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> novo Vice-Reina<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 1763.<br />
Foi essa nova função que permitiu a <strong>Paraty</strong> superar a crise esboçada no<br />
transcurso <strong>do</strong> século, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>u a centralização <strong>do</strong> abastecimento<br />
das Minas pelo porto <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, por meio <strong>de</strong> outro <strong>Caminho</strong><br />
95<br />
> A.M.– Vista aérea <strong>do</strong><br />
Forte Defensor Perpétuo
96<br />
> Paisag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Saco <strong>do</strong><br />
Mamanguá<br />
Novo”, a primeira ligação terrestre entre Rio e São Paulo. Por esse cami-<br />
nho e por <strong>sua</strong>s variantes posteriores, a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio passou a influir dire-<br />
tamente nos centros mineiros, dispensan<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> da função <strong>de</strong> interme-<br />
diária obrigatória.<br />
As obras da nova estrada, só foram concluídas <strong>em</strong> 1767. O caminho<br />
por <strong>Paraty</strong>, no entanto, não foi <strong>de</strong> to<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, mas os efeitos co-<br />
meçaram a se sentir com maior intensida<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, paralisan<strong>do</strong> aos<br />
poucos um ativíssimo comércio e incentivan<strong>do</strong> a venda às tropas da es-<br />
cravaria <strong>de</strong>snecessária.<br />
Muitos porém ainda consi<strong>de</strong>ravam o caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> como a me-<br />
lhor maneira <strong>de</strong> ir <strong>do</strong> Rio a São Paulo. Em 1775, o Governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São<br />
Paulo, Martinho Lobo Martim Lopes Lobo <strong>de</strong> Saldanha, ao passar por<br />
<strong>Paraty</strong> quan<strong>do</strong> vai assumir o cargo <strong>de</strong> Governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São Paulo,<br />
escreve lamentan<strong>do</strong>-se que <strong>sua</strong> bagag<strong>em</strong> e seus familiares, que<br />
seguiram numa fragata direto até o porto <strong>de</strong> Santos ou São<br />
Vicente, tiveram mais dificulda<strong>de</strong>s e d<strong>em</strong>oras para chegar <strong>do</strong><br />
que a que ele próprio experimentara.<br />
Na ocasião, opinou favoravelmente à transferência da<br />
Guarda <strong>do</strong> Registro da Boca <strong>do</strong> Inferno para a Cachoeira que<br />
foi construída entre os anos <strong>de</strong> 1775 e 1790. O registro foi<br />
<strong>de</strong>sloca<strong>do</strong> para um local <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Afonso pouco acima <strong>do</strong><br />
Pouso <strong>do</strong> Souza (vi<strong>de</strong> Ilustração), lugar que, entretanto, parecia ter<br />
trazi<strong>do</strong> muitos probl<strong>em</strong>as para a arrecadação <strong>de</strong> impostos e controle<br />
da passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> escravos para Minas e para a região <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Rio<br />
Paraíba. Em 1790, o Vice-rei Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nou à Câmara <strong>de</strong>
<strong>Paraty</strong> que fizesse mudar o Registro para o lugar chama<strong>do</strong> Cachoeira <strong>do</strong><br />
Martins, aí estabelecen<strong>do</strong> Quartel para a guarda, patrulhas e <strong>de</strong>staca-<br />
mentos, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos consi<strong>de</strong>ráveis prejuízos à Real Fazenda com o extravio<br />
<strong>de</strong> ouro e diamantes.<br />
O Registro passou então a se situar on<strong>de</strong> hoje se encontra o bairro <strong>do</strong>s<br />
Penha, ao la<strong>do</strong> da antiga Ponte da Cachoeira, mais tar<strong>de</strong> Ponte <strong>do</strong> Regis-<br />
tro, cujos vestígios ainda pod<strong>em</strong> ser vistos, pouco acima <strong>do</strong> que hoje é<br />
conheci<strong>do</strong> como Cachoeira <strong>do</strong> Tobogã.<br />
Na ocasião, <strong>Paraty</strong> possuía duas casas <strong>de</strong> Registro. A da Cachoeira, na<br />
Estrada Geral e a <strong>do</strong> Curralinho, que fazia controle para passag<strong>em</strong> da<br />
antiga estrada Ubatuba-Taubaté. Juntas controlavam a passag<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />
ouro, escravos, merca<strong>do</strong>rias e tropas.<br />
Muitos cidadãos paratienses participaram da vida pública <strong>do</strong> país. Dentre<br />
eles sobressai Salva<strong>do</strong>r Carvalho <strong>do</strong> Amaral Gurgel que participou da In-<br />
confidência Mineira, movimento que, entre outras coisas, almejava a In-<br />
<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil.<br />
Na medida <strong>em</strong> que se aproximava o fim <strong>do</strong> século XVIII, a valorização<br />
<strong>do</strong> açúcar no merca<strong>do</strong> internacional estimulou a rápida expansão <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />
cultura <strong>em</strong> terras paratienses. Engenhos e engenhocas foram instala<strong>do</strong>s<br />
às <strong>de</strong>zenas, com numerosos pequenos proprietários espalhan<strong>do</strong>-se pela<br />
região. A complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> rios e canais navegáveis foi amplamente uti-<br />
lizada para transportar a produção <strong>em</strong> direção ao porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
> A.M. – Praia <strong>do</strong><br />
Cachadaço, Parque<br />
Nacional da Serra da<br />
Bocaina<br />
97
98<br />
> A.M. – Igreja <strong>de</strong> Santa<br />
Rita e porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Nesta fase, a preocupação com a <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong> voltou à cena. Em<br />
1793 foi edifica<strong>do</strong> o Forte Defensor Perpétuo no alto <strong>do</strong> morro da vila<br />
velha. Em vistoria realizada à Vila <strong>em</strong> 1797, o engenheiro Pedro Alvarez<br />
<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> apontou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fortificar o cais que na ocasião<br />
encontrava-se com alicerces encobertos e, sobre eles, uma obra <strong>de</strong> faxina<br />
(paus entrecruza<strong>do</strong>s) guarnecida por quatro canhões. Informa a constru-<br />
ção <strong>de</strong> um quartel para as tropas e que todas as bocas das ruas e d<strong>em</strong>ais<br />
lugares que vão ao mar estavam fortificadas.<br />
É, porém no início <strong>do</strong> século XIX que a baía recebe novo esqu<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong>fensivo com a construção, <strong>em</strong> 1818, <strong>do</strong> Forte da Ilha das Bexigas e re-<br />
forma <strong>do</strong> Defensor Perpétuo <strong>em</strong> 1836. Além <strong>de</strong>sses, existia a bateria da<br />
vila, a Fortaleza da Patitiba, os fortes <strong>do</strong> Iticupé e Ponta Grossa, Ilha <strong>do</strong>s<br />
Mantimentos, Ilha <strong>do</strong>s Meros. A estrada da Serra era guarnecida por um<br />
quartel junto à Casa <strong>do</strong> Registro da Cachoeira. Hoje resta somente o For-<br />
te Defensor Perpétuo. Canhões, trincheiras e ruínas assinalam a localiza-<br />
ção <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais.<br />
Durante a primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX, <strong>Paraty</strong> expandiu-se, avan-<br />
çou <strong>em</strong> direção ao mar, a norte atravessan<strong>do</strong> o rio Perequê-Açú; <strong>em</strong> dire-<br />
ção à serra, a leste e ao sul <strong>em</strong> direção à Fortaleza, uma das fortificações<br />
da cida<strong>de</strong>. Surgiram muitas construções urbanas, notadamente sobra<strong>do</strong>s
que se utilizaram das antigas casas térreas, com pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pedra e cal,<br />
<strong>de</strong> pau-a-pique ou estuque, a Igreja <strong>de</strong> N.S. das Dores, um novo merca<strong>do</strong>,<br />
um teatro, a Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia e o forte Defensor Perpétuo.<br />
Nesse perío<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> já era uma vila <strong>de</strong> tamanho consi<strong>de</strong>rável, florescen-<br />
te e famosa. A população urbana e rural beirava 10.000 habitantes.<br />
Após o <strong>de</strong>clínio da produção <strong>do</strong> ouro, o café surge como o produto<br />
que iria propiciar o <strong>de</strong>senvolvimento e a reintegração da economia brasi-<br />
leira ao comércio mundial <strong>em</strong> expansão <strong>em</strong> princípio <strong>do</strong> século XIX. O<br />
perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> isolamento por que passara o caminho não duraria muito<br />
t<strong>em</strong>po. O café se espalhou rapidamente pelo Vale <strong>do</strong> Rio Paraíba, logo<br />
atrás das montanhas, a oeste da cida<strong>de</strong>, e o fluxo pelo velho <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong> ou o <strong>Caminho</strong> Velho <strong>do</strong> ouro, voltou a fervilhar.<br />
A infra-estrutura <strong>de</strong> caminhos, montada para escoar a produção cafe-<br />
eira no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>senvolvia-se numa linha quase parale-<br />
la à costa. No vale médio <strong>do</strong> rio Paraíba <strong>do</strong> Sul era incômoda a <strong>de</strong>pendên-<br />
cia <strong>de</strong>ssa circulação longitudinal para ganhar o porto <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Numerosas linhas transversais buscaram, então, os pequenos portos ao<br />
pé da serra para escoar mais rapidamente a produção.<br />
Mais uma vez <strong>Paraty</strong> vê reforçar-se seu papel <strong>de</strong> intermediário entre as<br />
zonas <strong>de</strong> produção e o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, através das precárias trilhas<br />
que cortavam o paredão marítimo. Em 1822, a <strong>de</strong>speito da precarieda<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> calçamento, 160.914 cabeças <strong>de</strong> homens e animais passam por lá.<br />
99<br />
> O.A.M.T. – Trabalhos<br />
<strong>de</strong> limpeza <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>
100<br />
> A.M. – Igreja <strong>de</strong> N.S.<br />
das Dores<br />
São cerca <strong>de</strong> 14.000 por mês ou 466 por dia, números b<strong>em</strong> menores <strong>do</strong><br />
que os que talvez pass<strong>em</strong> por ali nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />
Descen<strong>do</strong> o café <strong>do</strong> vale, subia o sal, pólvora e armamentos. Subiam<br />
também merca<strong>do</strong>rias luxuosas e escravos para trabalhar na lavoura. Além<br />
<strong>do</strong>s tropeiros, já tradicionais, com <strong>sua</strong>s filas <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> carga, o Cami-<br />
nho Velho foi também toma<strong>do</strong> por comboieiros, levan<strong>do</strong> vergonhosas<br />
filas <strong>de</strong> negros acorrenta<strong>do</strong>s. Seres humanos nos navios, nas feiras e nas<br />
fazendas, trata<strong>do</strong>s na chibata, pior <strong>do</strong> que se foss<strong>em</strong> animais.<br />
Graças ao trabalho escravo <strong>do</strong>s africanos e à engenharia militar portu-<br />
guesa, a estrada passa por várias reformas e se transforma no belo trabalho<br />
que po<strong>de</strong> ser admira<strong>do</strong> ainda hoje, <strong>em</strong> alguns trechos recupera<strong>do</strong>s. Refor-<br />
mas são realizadas <strong>em</strong> 1824, sob as or<strong>de</strong>ns <strong>do</strong> Sargento-Mor <strong>de</strong> engenhei-<br />
ros Carlos Martins Pena e outras ainda mais radicais <strong>em</strong> 1838 e 1840 pelo<br />
Capitão e Engenheiro Ernesto Augusto César Eduar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Miranda.<br />
A partir <strong>de</strong> 1830, o café passa a ser o principal produto <strong>de</strong> exportação<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, reforçan<strong>do</strong> o intercâmbio com a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e daí<br />
para o exterior.
É nesse perío<strong>do</strong> que a estrutura urbana se consolida. Porém, a preocupa-<br />
ção com as enchentes continuava, o que levou a Câmara a promulgar a<br />
Lei nº 107/1836, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a restituição da foz <strong>do</strong> rio Perequê-Açú a<br />
seu leito primordial e o corte das curvas e alargamento <strong>do</strong> rio Matheus<br />
Nunes a partir da foz.<br />
Na segunda meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse século e já elevada à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong><br />
11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1844, pela Lei Provincial nº 302, <strong>de</strong>ntre as obras realizadas,<br />
cite-se a r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação <strong>do</strong> forte Defensor Perpétuo (vi<strong>de</strong> anexo), a constru-<br />
ção <strong>do</strong> Chafariz (vi<strong>de</strong> foto), o novo C<strong>em</strong>itério Público e a Ca<strong>de</strong>ia (vi<strong>de</strong> ane-<br />
xo) e uma nova Casa <strong>de</strong> Câmara. Em 1856 a população urbana e rural<br />
chega a 12.000 habitantes, tornan<strong>do</strong>-se importante cida<strong>de</strong> imperial.<br />
A expansão e o crescimento da produção cafeeira aprimorou a infra-<br />
estrutura <strong>de</strong> transportes. A estrada <strong>de</strong> ferro ligan<strong>do</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro a São<br />
Paulo pelo Vale <strong>do</strong> Paraíba, atravessou o planalto paralelamente à linha<br />
<strong>de</strong> costa, chegan<strong>do</strong> a Guaratinguetá <strong>em</strong> 1870.<br />
As zonas <strong>de</strong> abastecimento que utilizavam o transporte marítimo para<br />
colocar <strong>sua</strong> produção no gran<strong>de</strong> centro consumi<strong>do</strong>r, o Rio <strong>de</strong> Janeiro, não<br />
estavam <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> competir com a produção <strong>de</strong> outras regiões, ali<br />
colocada através <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> transporte ferroviário.<br />
Por falta <strong>de</strong> base geográfica a<strong>de</strong>quada, <strong>Paraty</strong> não tinha condições <strong>de</strong><br />
produzir gêneros <strong>em</strong> escala que justificasse reestruturar to<strong>do</strong> o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />
transportes, visan<strong>do</strong> a competição com a re<strong>de</strong> ferroviária. É nesse perío<strong>do</strong><br />
que t<strong>em</strong> início a <strong>de</strong>cadência econômica <strong>do</strong> Município.<br />
Foi, porém a abolição da escravatura <strong>em</strong> 1888 que, retiran<strong>do</strong> a mão-<br />
<strong>de</strong>-obra <strong>do</strong>s engenhos, das fazendas e <strong>do</strong> porto, fez com que gran<strong>de</strong><br />
parte da população aban<strong>do</strong>nasse a região <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> futuro mais pro-<br />
missor. A partir <strong>de</strong> então, acaba até a precária manutenção <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> que ficou à mercê das int<strong>em</strong>péries da natureza.<br />
Já <strong>em</strong> fins <strong>do</strong> século XIX constata-se que a população urbana e rural estava<br />
reduzida a menos <strong>de</strong> 4.000 habitantes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> antigos<br />
mora<strong>do</strong>res para as novas cida<strong>de</strong>s que floresciam ao longo da via férrea.<br />
Durante esse perío<strong>do</strong> os poucos mora<strong>do</strong>res que restaram <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> só<br />
podiam sair da cida<strong>de</strong> pelo mar, com lanchas que faziam fretes. Somente<br />
<strong>em</strong> 1954, com a abertura da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, a cida<strong>de</strong> começou a<br />
reviver com a vinda <strong>de</strong> intelectuais <strong>em</strong> busca das raízes <strong>do</strong> Brasil, que fi-<br />
101
102<br />
caram expressas e preservadas na cultura, na arte, na culinária, nas festas<br />
e, principalmente, no patrimônio arquitetônico e paisagístico.<br />
A situação durou até os anos 70 e começou a mudar a partir da aber-<br />
tura da ro<strong>do</strong>via litorânea Rio-Santos - BR-101, el<strong>em</strong>ento indutor <strong>do</strong> <strong>de</strong>-<br />
senvolvimento da região, que acarretou gran<strong>de</strong>s mudanças na ocupação<br />
<strong>do</strong> solo, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou to<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> interesses econômicos, revigorou ati-<br />
vida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comércio e prestação <strong>de</strong> serviços, o turismo <strong>em</strong> particular,<br />
crian<strong>do</strong> novos <strong>em</strong>pregos e um acréscimo populacional. Foi um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
muitas obras e <strong>de</strong> expansão significativa <strong>do</strong> entorno imediato <strong>do</strong> núcleo<br />
histórico, que foi <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> e fecha<strong>do</strong> ao tráfego <strong>de</strong> veículos automoto-<br />
res, com o objetivo <strong>de</strong> preservar a estrutura <strong>do</strong>s velhos casarões.<br />
Observa<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s censos d<strong>em</strong>ográficos <strong>de</strong> 1970 e 1980, veri-<br />
fica-se que a população rural manteve-se praticamente a mesma (11.760<br />
habitantes <strong>em</strong> 1970 e 11.688 <strong>em</strong> 1980), enquanto que a população ur-<br />
bana passou <strong>de</strong> 4.169, <strong>em</strong> 1970, para 8.934, <strong>em</strong> 1980, registran<strong>do</strong> um<br />
aumento <strong>de</strong> 114,3%.<br />
Situada entre as duas maiores áreas metropolitanas e principais pólos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> país, <strong>Paraty</strong> reinicia um processo <strong>de</strong><br />
expansão urbana e crescimento econômico, basea<strong>do</strong> no binômio turis-<br />
mo/veraneio, resultante <strong>de</strong> uma vocação potencializada no conjunto pai-<br />
sagístico/arquitetônico <strong>do</strong> município.<br />
Os impactos <strong>de</strong>sta nova forma <strong>de</strong> inserção à economia regional foram<br />
bastante acentua<strong>do</strong>s, principalmente no que diz respeito à organização e<br />
ocupação <strong>do</strong> território, <strong>de</strong>corrência da d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> áreas para <strong>em</strong>preen-<br />
dimentos imobiliários volta<strong>do</strong>s para o turismo e o veraneio e a mudança<br />
no perfil da população local, função <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> afluxo <strong>de</strong> população flu-<br />
tuante. Em 1990 a população total passa a 23.871 habitantes, com uma<br />
taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> 1,34% ao ano, <strong>do</strong>s quais 11.429 habitantes urba-<br />
nos, cujo aumento foi <strong>de</strong> 27,9%, <strong>em</strong> relação a 1980. Segun<strong>do</strong> o censo<br />
<strong>do</strong> ano 2.000 a população <strong>do</strong> Município era estimada <strong>em</strong> 29.544 habi-<br />
tantes, sen<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 14.000 na se<strong>de</strong>.
Evolução Urbana<br />
O sítio histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é um ex<strong>em</strong>plo claro e preserva<strong>do</strong> das cida<strong>de</strong>s<br />
<strong>em</strong>pório comercial portuguesas marítimas localizadas no Atlântico. Devi-<br />
<strong>do</strong> à longa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio econômico, ocorrida a partir <strong>do</strong> terceiro quar-<br />
tel <strong>do</strong> século XXI, conservou <strong>sua</strong> relação direta com o mar e consequen-<br />
t<strong>em</strong>ente, com as rotas marítimas estabelecidas no perío<strong>do</strong> colonial.<br />
Logo nos primeiros anos da colonização <strong>do</strong> território brasileiro a Baia<br />
da Ilha Gran<strong>de</strong> exercia excelente posição relativa no contexto <strong>do</strong> litoral<br />
brasileiro, proporcionan<strong>do</strong>, no Atlântico Sul, excepcional articulação da<br />
zona costeira com o interior <strong>do</strong> continente americano e <strong>sua</strong> projeção so-<br />
bre o território africano.<br />
Do início <strong>do</strong> século XVI e até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII, era freqüentada<br />
não só por portugueses, que exploraram esta costa, como também por<br />
franceses, ingleses e holan<strong>de</strong>ses interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> negociar ma<strong>de</strong>ira, pe-<br />
les, penas, papagaios, macacos e outros produtos tropicais com os povos<br />
indígenas que habitavam a região.<br />
A ligação entre as duas principais vilas da região su<strong>de</strong>ste o Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro e São Paulo <strong>do</strong> Piratininga dava-se por via marítimo-terrestre e o<br />
caminho mais utiliza<strong>do</strong> era o da Serra <strong>do</strong> Facão, situada logo atrás da ci-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aberta pelos índios guaianás, a trilha se iniciava <strong>em</strong> Para-<br />
103<br />
> Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>,<br />
João Teixeira Albernaz,<br />
1630
104<br />
ty, na costa atlântica (mapa antigo), sen<strong>do</strong> aos poucos <strong>de</strong>nominada cami-<br />
nho <strong>do</strong>s ban<strong>de</strong>irantes. <strong>Paraty</strong> <strong>de</strong>finia-se assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI, como<br />
ponto <strong>de</strong> articulação nas comunicações entre Rio e São Paulo, intermedi-<br />
ária obrigatória no acesso ao planalto.<br />
O transito ao longo da costa entre as duas principais vilas da região su-<br />
<strong>de</strong>ste, o Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo <strong>do</strong> Piratininga, favoreceu a oficialização<br />
<strong>de</strong> outras no século XVII, como Angra <strong>do</strong>s Reis - 1608, São Sebastião -<br />
1636, Ubatuba – 1637 e <strong>Paraty</strong> - 1667, os sítios escolhi<strong>do</strong>s foram os que<br />
ofereciam melhores condições geográficas para fixação inicial e maior faci-<br />
lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação com os núcleos já instala<strong>do</strong>s no planalto. Tinham<br />
como função garantir a posse <strong>do</strong> território e a <strong>de</strong>fesa da costa.<br />
Os fatores <strong>de</strong>terminantes para a implantação da vila <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />
<strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios, hoje <strong>Paraty</strong>, foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da costa e princi-<br />
palmente, <strong>do</strong>s acessos ao interior da colônia. O local também possuía<br />
uma baía abrigada voltada para nor<strong>de</strong>ste, com ventos propícios à nave-<br />
gação, proteção facilitada pela topografia, e também, terreno fértil e<br />
água potável <strong>em</strong> abundância.<br />
Estrutura Urbana inicial – 1630/1719 – 1º perío<strong>do</strong><br />
Em 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1630 colonos vicentinos instalaram o primitivo povoa-<br />
mento <strong>em</strong> uma elevação próxima, às margens <strong>do</strong> rio Perequê-Açu consti-<br />
tuin<strong>do</strong> o núcleo original <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aí erigiram uma pequena capela <strong>de</strong>dica-<br />
da à São Roque. O povoa<strong>do</strong>, que originou-se como distrito <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />
Angra <strong>do</strong>s Reis, <strong>de</strong>senvolveu-se lentamente ao longo <strong>do</strong> século XVII.<br />
Na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século, <strong>em</strong> 1646, o povoamento passou a ocupar<br />
a várzea, ao sul <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> morro, até o rio Patitiba, após receber a <strong>do</strong>a-<br />
ção da sesmaria, foi iniciada a construção da primeira Igreja Matriz, edifi-<br />
cada sob esteios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e coberta <strong>de</strong> palha, teve curta duração. Nes-<br />
te local <strong>de</strong>senvolveu-se transforman<strong>do</strong>-se posteriormente na vila <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios.<br />
Em 1660 foi ergui<strong>do</strong> o pelourinho, símbolo da autorida<strong>de</strong> portuguesa,<br />
mesmo ano <strong>em</strong> que a administração colonial man<strong>do</strong>u <strong>de</strong>scobrir e “abrir<br />
o caminho” da serra, acompanhan<strong>do</strong> a trilha guaianá, porém, <strong>em</strong>anci-<br />
pou-se politicamente, apenas <strong>em</strong> 1667. Mesmo elevada à categoria <strong>de</strong><br />
vila, <strong>de</strong>senvolveu-se lentamente ao longo <strong>do</strong> século XVII <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à extr<strong>em</strong>a<br />
simplicida<strong>de</strong> que vivia seus habitantes.
Em 1668 teve inicio a construção <strong>de</strong> uma nova Matriz, <strong>em</strong> pedra e cal, <strong>em</strong><br />
local mais próximo ao mar, concluída apenas <strong>em</strong> 1712.<br />
<strong>Paraty</strong> a<strong>do</strong>tou as estratégias <strong>de</strong> implantação e estruturação urbanas<br />
utilizadas nas cida<strong>de</strong>s insulares e marítimas atlânticas portuguesas. Esta<br />
fase é marcada pela existência <strong>de</strong> <strong>do</strong>is núcleos <strong>de</strong> povoamento, uma via<br />
ao longo da costa, acompanhan<strong>do</strong> a curvatura da baía constituia a estru-<br />
tura primordial <strong>de</strong> ocupação. Perpendicularmente abriam-se pequenas<br />
travessas, resolven<strong>do</strong> os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> circulação e drenag<strong>em</strong>. As primei-<br />
ras construções faziam-se ao longo <strong>de</strong>ste caminho, <strong>em</strong> série, e observan-<br />
<strong>do</strong> diretivas construtivas da coroa, forman<strong>do</strong> uma estrutura urbana linear.<br />
Um largo se formava ao centro da povoação on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam ser ergui<strong>do</strong>s<br />
o pelourinho, a matriz e a casa <strong>de</strong> câmara e ca<strong>de</strong>ia. Em <strong>Paraty</strong>, tal como<br />
nos pequenos povoamentos, a casa <strong>de</strong> câmara só foi construída quase<br />
um século <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> recursos.<br />
> Debret - <strong>Paraty</strong><br />
<strong>em</strong> 1827<br />
105
106<br />
> Simulação – Vila <strong>de</strong><br />
São Roque – 1630/40<br />
Com a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro nas minas <strong>do</strong> Ribeirão <strong>de</strong> <strong>Ouro</strong> Preto, <strong>do</strong> Ri-<br />
beirão das Mortes e <strong>do</strong> Rio das Velhas, no final <strong>do</strong> século XVII, <strong>de</strong>senvol-<br />
veu-se gigantesco processo migratório no país, principalmente externo.<br />
Significativa parcela <strong>de</strong>sse fluxo passou forçosamente por <strong>Paraty</strong>.<br />
Por <strong>sua</strong> posição estratégica e servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> ligação às regiões auríferas,<br />
<strong>em</strong> 1702 foi ergui<strong>do</strong> um reduto com uma trincheira <strong>do</strong>tada <strong>de</strong> quatro<br />
peças, e oficializa<strong>do</strong> o <strong>em</strong>barque <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o ouro pelo seu porto, que se-<br />
guia para a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> on<strong>de</strong> era <strong>em</strong>barca<strong>do</strong> para Lisboa.<br />
Logo, <strong>em</strong> 1703, <strong>do</strong>is fortes foram construí<strong>do</strong>s, um ao norte junto ao rio<br />
Perequê-Açu e outro ao sul, junto ao rio Patitiba.<br />
Outra medida tomada, para controlar o escoamento <strong>do</strong> ouro, foi a<br />
criação da chamada Casa <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> ou Casa <strong>do</strong>s Quintos, tam-<br />
bém <strong>em</strong> 1703, na Serra, rece-<br />
ben<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> então, o reco-<br />
nhecimento oficial <strong>de</strong> <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>.<br />
Por volta <strong>de</strong> 1710 foi aber-<br />
to um novo caminho, mais curto,<br />
pela serra <strong>do</strong>s Órgãos, apenas<br />
terrestre, ligan<strong>do</strong> a região das Mi-<br />
nas diretamente ao porto <strong>do</strong> Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, que só se tornou im-<br />
portante <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1720. Mas o<br />
caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> não foi aban-<br />
<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, e a Vila <strong>de</strong> consoli<strong>do</strong>u a<br />
<strong>sua</strong> ocupação por <strong>de</strong>senvolver uma intensa ativida<strong>de</strong> comercial e agrícola.<br />
Em 1717, <strong>Paraty</strong> foi <strong>de</strong>scrita como uma pequena vila com menos <strong>de</strong><br />
50 casas térreas, a maior parte <strong>de</strong>las <strong>em</strong> taipa, cobertas com palhas, dis-<br />
tribuídas dispersamente nas ilhas, na praia e acompanhan<strong>do</strong> os primeiros<br />
caminhos <strong>de</strong> penetração terrestre e fluvial. Não existia cais e os <strong>em</strong>bar-<br />
ques eram realiza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> praias e margens <strong>do</strong>s rios próximos.
Estruturação <strong>do</strong> núcleo Urbano – 1719/1787 – 2º perío<strong>do</strong><br />
INa primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII foram realizadas importantes obras <strong>de</strong><br />
estruturação na vila, como a d<strong>em</strong>arcação que ocorreu <strong>em</strong> 1719.<br />
Com o crescimento populacional, formaram-se as irmanda<strong>de</strong>s (associa-<br />
ções civis com finalida<strong>de</strong> não apenas religiosa; possuíam alto grau <strong>de</strong> au-<br />
tonomia e influenciavam na vida da cida<strong>de</strong>), estas expressavam a diferen-<br />
ciação social na vila, a Igreja <strong>de</strong> Santa Rita foi edificada, <strong>em</strong> 1722, pelos<br />
par<strong>do</strong>s libertos, que eram escravos livres, mestiços <strong>de</strong> preto com branco,<br />
<strong>em</strong> local próximo à praia e ao rio Patitiba e; <strong>em</strong> 1725, foi edificada pelos<br />
negros escravos, a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário, nos arrabal<strong>de</strong>s.<br />
A construção <strong>do</strong>s edifícios religiosos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhavam importante pa-<br />
pel, como pólos <strong>de</strong> atração, consolidan<strong>do</strong> os setores da malha urbana.<br />
Durante o primeiro quartel <strong>do</strong> século XVIII as autorida<strong>de</strong>s insistiam nas<br />
obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> porto. Em 1726, foi or<strong>de</strong>nada a construção <strong>de</strong> um cais<br />
flanquea<strong>do</strong> para servir <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa aos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barques, que foi construí<strong>do</strong><br />
pelos mora<strong>do</strong>res nas testadas <strong>de</strong> seus terrenos.<br />
Era gran<strong>de</strong> a preocupação com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> navios estrangeiros<br />
que ali paravam para <strong>de</strong>ixar e comprar merca<strong>do</strong>rias. Os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barques<br />
eram realiza<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> pequenas <strong>em</strong>barcações, pois a enseada era bastante<br />
espraiada e na vazante da maré ficavam todas a seco, o porto, <strong>em</strong>bora<br />
abriga<strong>do</strong>, s<strong>em</strong>pre apresentou probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> atracação.<br />
107<br />
> O.A.M.T. – Maré Alta<br />
na Praça da Ban<strong>de</strong>ira
108<br />
> A.M - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, parte IV – sítio da<br />
Cachoeirinha<br />
No mesmo ano <strong>de</strong> 1726 ocorreu o balizamento para as ruas.<br />
Tão importantes quanto os edifícios religiosos para a estruturação da vila,<br />
foram os rios. Des<strong>de</strong> os primeiros t<strong>em</strong>pos houveram muitas transformações.<br />
No ano <strong>de</strong> 1728 o rio Perequê-Açú que tinha <strong>sua</strong> foz natural ao norte <strong>do</strong><br />
morro <strong>do</strong> forte, foi translada<strong>do</strong> para o sul, fral<strong>de</strong>an<strong>do</strong> o referi<strong>do</strong> morro. O<br />
motivo aponta<strong>do</strong> seria a falta <strong>de</strong> água potável para os mora<strong>do</strong>res.<br />
Devi<strong>do</strong> a esse <strong>de</strong>svio algumas conseqüências ocorreram à vila, a barra<br />
<strong>do</strong> Perequê-Açú passou a correr a sul, aproximan<strong>do</strong>-se cada vez mais da<br />
barra <strong>do</strong> Patitiba, e com a corrente <strong>do</strong> mar, natural a este, passaram a sitiar<br />
a frente da cida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong> o porto mais baixo e lamacento e, na prea-<br />
mar, as respectivas águas passaram a invadir as ruas.
Em 1746, a população urbana e rural atingia aproximadamente 3.000<br />
habitantes, e a segunda matriz já se encontrava arruinada. Documentos<br />
posteriores faz<strong>em</strong> referências a Casa <strong>de</strong> Câmara e Ca<strong>de</strong>ia neste perío<strong>do</strong>.<br />
Em 1750 ocorreu novo balizamento na vila.<br />
Nesta época ocorreu a abertura da atual rua Dona Geralda, que se cha-<br />
mava rua Nova da Praya. Os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> referência urbana cita<strong>do</strong>s nos<br />
<strong>do</strong>cumentos são, a Cruz das Almas - no caminho <strong>de</strong> Laranjeiras, e Nossa<br />
Senhora da Lapa - que se localizava no caminho entre a sacristia da Matriz<br />
e Santa Rita, o primeiro um oratório e o segun<strong>do</strong>, qu<strong>em</strong> sabe, uma capela.<br />
A vila era constituída pela rua da Praça, que já não existe mais, prova-<br />
velmente, no prolongamento da rua <strong>do</strong> Fogo; a rua Nova da Praia, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> e atual Dona Geralda; a rua travessa da Lapa atual rua da<br />
Matriz - paralelas ao mar; e perpendiculares - a rua travessa <strong>do</strong> Rosário e,<br />
a rua que vai <strong>de</strong> Nossa Senhora da Lapa para o Campo.<br />
Em 1757 a Igreja <strong>do</strong> Rosário foi reconstruída. O merca<strong>do</strong> funcionou,<br />
neste perío<strong>do</strong>, no terreno da rua Dona Geralda esquina com a rua <strong>do</strong> Ro-<br />
sário, <strong>de</strong>slocan<strong>do</strong>-se no final <strong>do</strong> século para a mesma rua esquina <strong>do</strong> Lar-<br />
go <strong>de</strong> Santa Rita.<br />
Este segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> é caracteriza<strong>do</strong> pelo surgimento <strong>de</strong> um conjunto<br />
<strong>de</strong> ruas paralelas (ruas principais e secundárias) e perpendiculares à primei-<br />
ra (travessas), crian<strong>do</strong> uma malha urbana <strong>de</strong> quarteirões alonga<strong>do</strong>s, <strong>de</strong><br />
planimetria retangular, e uma hierarquia <strong>de</strong> ruas <strong>de</strong>finidas pelas ruas prin-<br />
cipais e secundárias.<br />
109<br />
> T.M - Tropas <strong>de</strong> Mulas,<br />
<strong>de</strong>senho interpretativo
110<br />
> Simulação – Vila <strong>de</strong><br />
Nossa Senhora <strong>do</strong>s<br />
R<strong>em</strong>édios, 1730/40;<br />
> Abaixo: Rugendas –<br />
Tropas cruzan<strong>do</strong> rio<br />
A função <strong>de</strong> centro produtor e<br />
exporta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gêneros alimentí-<br />
cios para as Minas Gerais e, pos-<br />
teriormente, para a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, promovida a se<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> novo Vice-Reina<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 1763,<br />
permitiu a <strong>Paraty</strong> superar a crise<br />
esboçada no transcurso <strong>do</strong> sécu-<br />
lo, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>u a centraliza-<br />
ção <strong>do</strong> abastecimento das Minas<br />
pelo porto <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>em</strong><br />
função da conclusão, <strong>em</strong> 1767,<br />
o “<strong>Caminho</strong> Novo”, a primeira ligação terrestre entre Rio e São Paulo. Por<br />
esse caminho e por <strong>sua</strong>s variantes posteriores, a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio passou a<br />
influir diretamente nos centros mineiros, dispensan<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> da função<br />
<strong>de</strong> intermediária obrigatória.<br />
O caminho por <strong>Paraty</strong>, no entanto, não foi <strong>de</strong> to<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, mas<br />
os efeitos começaram a se sentir com maior intensida<strong>de</strong>, paralisan<strong>do</strong> aos<br />
poucos um ativíssimo comércio e incentivan<strong>do</strong> a venda às tropas da escra-<br />
varia <strong>de</strong>snecessária.
Estrutura Urbana Regular – 1787/1836 – 3º perío<strong>do</strong><br />
Na medida <strong>em</strong> que se aproximava o fim <strong>do</strong> século XVIII, a valorização <strong>do</strong><br />
açúcar no merca<strong>do</strong> internacional estimulou a rápida expansão <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />
cultura <strong>em</strong> terras paratienses. Engenhos e engenhocas foram instala<strong>do</strong>s<br />
às <strong>de</strong>zenas, com numerosos pequenos proprietários espalhan<strong>do</strong>-se pela<br />
região. A complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> rios e canais navegáveis foi amplamente uti-<br />
lizada para transportar a produção <strong>em</strong> direção ao porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. A pro-<br />
dução <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte reativou o porto e o caminho da serra.<br />
Do final <strong>do</strong> século XVIII ao início <strong>do</strong> século XIX, ocorr<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s transfor-<br />
mações urbanas. Já <strong>em</strong> 1787 começava-se a planejar a construção <strong>de</strong> uma<br />
nova Igreja Matriz, que foi concluída quase um século <strong>de</strong>pois <strong>em</strong> 1863.<br />
Em 1790 existiam na Villa 392 casas edificadas, das quais estão 35<br />
sobra<strong>do</strong>s, e 230 no município. A população era composta por cerca <strong>de</strong><br />
2.000 pessoas sen<strong>do</strong> 50% brancas e 50 % negras, a população rural<br />
cerca <strong>de</strong> 6.600 pessoas.<br />
A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejamento era uma constante e realizada através<br />
das correições. Os espaços públicos foram reestrutura<strong>do</strong>s com a estrutu-<br />
ração <strong>de</strong> largos nas extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> novos equipamentos<br />
civis e religiosos. O <strong>de</strong> Santa Rita, junto ao rio da Patitiba, on<strong>de</strong> se locali-<br />
zava o porto, o quartel da cida<strong>de</strong> e um novo merca<strong>do</strong>, e o da Praça <strong>do</strong><br />
111<br />
> Aquarela <strong>de</strong> Debret,<br />
Pedra da Montanha <strong>do</strong><br />
Forte, perto da praia <strong>do</strong><br />
Pontal, <strong>Paraty</strong>
112<br />
> A.M. – Manguezal –<br />
Saco <strong>do</strong> Mamanguá<br />
Impera<strong>do</strong>r, junto ao rio Perequê-Açú, on<strong>de</strong> estava sen<strong>do</strong> construída a<br />
nova matriz, próximo à casa <strong>de</strong> câmara e ca<strong>de</strong>ia, que posteriormente,<br />
viria a se transformar no centro cívico administrativo e religioso. A primi-<br />
tiva praça central, ainda se conservava.<br />
O campo <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> é constant<strong>em</strong>ente cita<strong>do</strong> nos <strong>do</strong>cumentos e era<br />
utiliza<strong>do</strong>, também como referência urbana; <strong>sua</strong> primeira localização se<br />
<strong>de</strong>u provavelmente nas proximida<strong>de</strong>s da Igreja <strong>do</strong> Rosário, transferin<strong>do</strong>-<br />
se posteriormente para on<strong>de</strong> se encontra o colégio Estadual e, <strong>em</strong> mea-<br />
<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, transferiu-se para o local <strong>do</strong> atual campo <strong>de</strong> futebol,<br />
com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Largo <strong>do</strong> Rocio.<br />
Os antigos caminhos foram se consolidan<strong>do</strong>. À lógica <strong>de</strong> povoamento<br />
e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano longitudinal paralelo à linha da costa, suce-<br />
<strong>de</strong>u uma ord<strong>em</strong> urbana que passou a ter como direção fundamental à<br />
direção perpendicular ao litoral, induzin<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> século XIX o cresci-<br />
mento da cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> direção ao interior.<br />
Paralelos ao litoral, avançan<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> direção à serra, o caminho<br />
que “ia <strong>do</strong> Rosário para a Boa Vista” passou a se chamar Patitiba e, foi criada<br />
a rua nova das Hortas, <strong>de</strong>pois rua Nova Gravatá e Gravatá; <strong>em</strong> direção ao<br />
mar a rua Nova da Praya passa a ser apenas, Praya e <strong>de</strong>pois Merca<strong>do</strong>.<br />
Perpendicularmente, a rua da Ferraria substituiu o “caminho <strong>do</strong> cam-<br />
po <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong>”; e o caminho que “v<strong>em</strong> da praya <strong>de</strong> Santa Rita para as<br />
chácaras” pela rua Salva<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Couto, e já <strong>em</strong> 1805 aparece a rua da Ca<strong>de</strong>ia.
Estas ruas possu<strong>em</strong> traça<strong>do</strong> retilíneo com larguras que variam entre 35 a 40<br />
palmos. A primeiras ruas variavam <strong>de</strong> 20 a 25 palmos <strong>de</strong> largura.<br />
Dada a cada vez maior distância que separava estas sucessivas ruas<br />
longitudinais que iam sen<strong>do</strong> traçadas, e abertas as ruas perpendiculares,<br />
os quarteirões ora forma<strong>do</strong>s eram maiores, e dispunha-se perpendicular-<br />
mente à linha <strong>de</strong> costa e on<strong>de</strong> a hierarquia das ruas anteriormente verifi-<br />
cada <strong>de</strong>saparece pra dar lugar a uma nova forma on<strong>de</strong> as frentes <strong>do</strong>s lo-<br />
tes dão para as ruas e as traseiras para os interiores <strong>do</strong>s quarteirões. A<br />
malha urbana assumia assim, um mo<strong>de</strong>lo reticula<strong>do</strong>.<br />
A preocupação com a <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong> voltou à cena nesta fase. Em<br />
1793 foi edifica<strong>do</strong> o Forte Defensor Perpétuo no alto <strong>do</strong> morro da vila<br />
velha.e <strong>em</strong> 1797, foi construí<strong>do</strong> um quartel na cida<strong>de</strong> para as tropas e<br />
fortificadas todas as bocas das ruas e d<strong>em</strong>ais espaços da orla.<br />
É, no início <strong>do</strong> século XIX, que a baía recebeu um novo esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong>-<br />
fensivo com a construção, <strong>em</strong> 1818, <strong>do</strong> Forte da Ilha das Bexigas. Além<br />
<strong>de</strong>sses, existia a bateria da vila, as trincheiras <strong>do</strong> Iticupé e Ponta Grossa na<br />
costa da baía, e outros <strong>do</strong>is fortes na Ilha <strong>do</strong>s Mantimentos e Ilha <strong>do</strong>s<br />
Meros. A estrada da Serra era guarnecida por um quartel junto à Casa <strong>do</strong><br />
Registro da Cachoeira.<br />
113<br />
> A.M – Aves marítimas<br />
na Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>
A.M. - Tropa <strong>de</strong> Mulas<br />
no <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />
entre Mambucaba e São<br />
José <strong>do</strong> Barreiro<br />
Data <strong>de</strong> 1799 as primeiras posturas municipais, que refletiam a preocupa-<br />
ção com o crescimento, o aspecto e a altura das novas edificações. Regu-<br />
lamentava as dimensões das edificações ditan<strong>do</strong> medidas das portas ja-<br />
nelas e prumadas.<br />
A Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores começou a ser edificada <strong>em</strong><br />
1800, pelas senhoras da elite, <strong>em</strong> local próximo à vila, junto ao mar, indu-<br />
zin<strong>do</strong> o crescimento da cida<strong>de</strong> nesta direção. Os edifícios institucionais<br />
passam então, a se localizar fora da área central.<br />
O plano <strong>de</strong> urbanização e saú<strong>de</strong> pública foi proposto <strong>em</strong> 1804. E ainda<br />
<strong>em</strong> 1804, a Villa foi novamente medida, quan<strong>do</strong> o Vice-Rei, por meio <strong>de</strong><br />
uma Carta, <strong>de</strong>terminava que a Câmara não conce<strong>de</strong>sse mais licença para<br />
se edificar nas marinhas.<br />
Por Decreto <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1813 a vila foi enobrecida como<br />
título <strong>de</strong> Conda<strong>do</strong>. Em 1816 as obras da nova matriz recomeçaram e na<br />
o pararam mais até <strong>sua</strong> inauguração.<br />
Na segunda década <strong>do</strong> século XIX, <strong>Paraty</strong> expandiu-se: à norte - atra-<br />
vessan<strong>do</strong> o rio Perequê-Açú, foi lançada a pedra fundamental, da Santa<br />
Casa <strong>de</strong> Misericórdia, <strong>em</strong> 1822, e reforma<strong>do</strong> o Forte Defensor Perpétuo;<br />
avançan<strong>do</strong> <strong>em</strong> direção ao mar – foi aberta a rua Nova da Praia, atual rua<br />
Doutor Pereira; a poente - <strong>em</strong> direção à serra foi criada a rua Nova <strong>do</strong><br />
Ouvi<strong>do</strong>r, junto ao Campo da Lavag<strong>em</strong>; e finalmente ao sul, foi se conso-<br />
lidan<strong>do</strong> o bairro da Patitiba <strong>em</strong> direção à um <strong>do</strong>s fortes conheci<strong>do</strong> como<br />
Fortaleza, junto ao rio Patitiba.<br />
Conforme relatos, a edificação na vila s<strong>em</strong>pre foi muito difícil <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
condição <strong>do</strong> solo muito baixo e alagadiço. Por toda parte havia pequenos<br />
lugares invadi<strong>do</strong>s ao mesmo t<strong>em</strong>po pelas marés e pelos rios quan<strong>do</strong><br />
transbordavam, ou espaços cobertos por mangues on<strong>de</strong> penetrava o mar.<br />
A edificação <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi, <strong>de</strong>sta forma, o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> muito esforço.<br />
Qu<strong>em</strong> quisesse fazer a <strong>sua</strong> casa tinha primeiro que conquistar ao mar o<br />
espaço preciso. O aterro tinha <strong>de</strong> vir quase s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> canoas que os<br />
transportava das outras margens <strong>do</strong>s rios laterais.<br />
Este terceiro perío<strong>do</strong> caracteriza-se pela estruturação <strong>de</strong> praças urba-<br />
nas associadas à novos equipamentos, pela implantação <strong>de</strong> edifícios sig-<br />
nificativos (igrejas, misericórdia e fortes) fora <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> inicial, e por outro,<br />
pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> malhas urbanas <strong>em</strong> retícula, com quarteirões<br />
apresentan<strong>do</strong> uma forma quadrangular , e on<strong>de</strong> a hierarquia das ruas
anteriormente verificada <strong>de</strong>saparece para dar lugar a uma nova forma,<br />
on<strong>de</strong> as frentes <strong>do</strong>s lotes dão para as ruas e os fun<strong>do</strong>s para os interiores<br />
<strong>do</strong>s quarteirões.<br />
Reestruturação formal da malha – 1836/1870 – 4º perío<strong>do</strong><br />
Em princípio <strong>do</strong> século XIX o café surge como o produto que iria propiciar<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento e a reintegração da economia brasileira ao comércio<br />
mundial <strong>em</strong> expansão. A principal zona produtora o Vale <strong>do</strong> Rio Paraíba<br />
se utilizou da antiga estrutura <strong>de</strong> caminhos da serra e <strong>do</strong>s pequenos por-<br />
tos marítimos para escoar <strong>sua</strong> produção para o Rio <strong>de</strong> Janeiro e o fluxo<br />
pelo velho <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, voltou a fervilhar. Mais uma vez Parati vê<br />
reforça<strong>do</strong> seu papel <strong>de</strong> intermediário entre as zonas <strong>de</strong> produção e o<br />
merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, através das precárias trilhas que cortavam o pare-<br />
dão marítimo.<br />
Descen<strong>do</strong> o café <strong>do</strong> vale, subia o sal, pólvora e armamentos, e tam-<br />
bém, merca<strong>do</strong>rias luxuosas para os fazen<strong>de</strong>iros e escravos para trabalha-<br />
r<strong>em</strong> na lavoura.<br />
115<br />
> Baía da ilha Gran<strong>de</strong><br />
1819-1821, por Francisco<br />
Pedro Darbués Moreira
116<br />
> M.S. – <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, parte IV<br />
– sítio da Cachoeirinha,<br />
pavimentação <strong>do</strong> século XIX<br />
O <strong>Caminho</strong> foi inteiramente calça<strong>do</strong> no trecho da Serra e realizadas obras<br />
<strong>de</strong> engenharia necessárias, para tal, um grupo <strong>de</strong> engenheiros militares<br />
passou a trabalhar no calçamento da serra. Estes mesmos engenheiros<br />
atuaram, também no planejamento da cida<strong>de</strong>, reven<strong>do</strong> o traça<strong>do</strong>, na<br />
manutenção <strong>de</strong> ruas e praças, no <strong>de</strong>ssecamento <strong>de</strong> pântanos e mangues,<br />
esgotos e abastecimento <strong>de</strong> água.<br />
As primeiras leis urbanísticas foram aprovadas <strong>em</strong> 13 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1836,<br />
sen<strong>do</strong> possível observar os cuida<strong>do</strong>s com o alinhamento das edificações e<br />
<strong>em</strong>belezamento <strong>de</strong> edifícios públicos e praças:
Artigo 3º “Os edifícios serão levanta<strong>do</strong>s sobre pilares <strong>de</strong> pedra<br />
e cal. As casa terreas terão <strong>de</strong> altura <strong>de</strong>zoito palmos, as <strong>de</strong> sob-<br />
ra<strong>do</strong> trinta e cinco incluída a ma<strong>de</strong>ira <strong>em</strong> huãs e outras. As<br />
janellas e portas terão cinco palmos <strong>de</strong> largo; <strong>de</strong> altura estas<br />
<strong>do</strong>ze, e aquelas sete e meio, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> diminuir-se até meio<br />
palmo somente na largura das portas, e janelas, sen<strong>do</strong><br />
necessário as proporçoens relativas ao edifício, e as portas <strong>do</strong>s<br />
Armazéns, ou cocheiras terão ao menos quatorze palmos <strong>de</strong><br />
alto, e nunca menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>de</strong> vão /.../”.(Nota)<br />
Neste mesmo ano ocorreu a r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação <strong>do</strong> forte Defensor Perpétuo.<br />
Como <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, a questão das constantes enchentes, o refluxo das ma-<br />
rés e <strong>do</strong> espraiamento <strong>de</strong> seu porto eram fundamentais, os engenheiros<br />
também atuaram neste viés. Para sanar estes probl<strong>em</strong>as a Câmara pro-<br />
mulgou a Lei nº 107/1837, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a restituição da foz <strong>do</strong> rio Pere-<br />
quê-Açú ao seu leito primordial e o cortamento das curvas e alargamento<br />
<strong>do</strong> rio Patitiba a partir da foz.<br />
As ruas passaram a ser calçadas com pedras re<strong>do</strong>ndas, conhecidas<br />
como pé-<strong>de</strong>-moleque, com leve inclinação <strong>em</strong> direção ao mar e aos rios,<br />
possu<strong>em</strong> uma calha central por on<strong>de</strong> escoam as águas das marés.<br />
Neste perío<strong>do</strong> verifica-se uma forte preocupação com a regularida<strong>de</strong> e o<br />
or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço urbano.<br />
117<br />
> <strong>Paraty</strong> por Conrad<br />
Jacob <strong>de</strong> Ni<strong>em</strong>eyer <strong>em</strong><br />
1839
118<br />
Os <strong>do</strong>is quarteirões compreendi<strong>do</strong>s pelas ruas da Praia (atual Dona Geral-<br />
da), rua da Praça e rua da Lapa (atual rua da Matriz), se transformaram<br />
<strong>em</strong> um único, restan<strong>do</strong> como r<strong>em</strong>anescente apenas, a rua <strong>do</strong> Fogo, po-<br />
rém, ainda é perceptível, na rua Dona Geralda, a curvatura acompanhan-<br />
<strong>do</strong> à linha <strong>de</strong> costa. A cida<strong>de</strong> avança ainda mais <strong>em</strong> direção ao mar, pro-<br />
vavelmente pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consolidar o solo alagadiço, com a rua<br />
nova da Praia e rua Fresca. Na rua Nova da Praia (atual Doutor Pereira), no<br />
quarteirão próximo ao merca<strong>do</strong> e ao porto, encontramos um gran<strong>de</strong> nú-<br />
mero <strong>de</strong> armazéns.<br />
A vila foi elevada à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1844, pela<br />
Lei Provincial nº 302. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século a população <strong>do</strong> município era<br />
<strong>de</strong> 10.800 pessoas e da cida<strong>de</strong>, 1.900 habitantes. Milliet <strong>de</strong> Saint A<strong>do</strong>l-<br />
phe, <strong>em</strong> 1844, fez uma <strong>de</strong>scrição da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>sua</strong> economia:<br />
“Nova cida<strong>de</strong> e antiga vila populosa e mercantil da província <strong>do</strong><br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, com ruas largas, casas alinhadas, sen<strong>do</strong> muitas<br />
<strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>. As ruas <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> são largas e corr<strong>em</strong> <strong>do</strong> norte<br />
para o sul, e <strong>do</strong> nascente para o poente; as casas são b<strong>em</strong><br />
alinhadas e muitas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> ..; varias escolas <strong>de</strong> primeiras<br />
lettras, uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> latim, uma casa <strong>de</strong> camara no primeiro<br />
andar, com a ca<strong>de</strong>ia por baixo. /.../”<br />
Muitos melhoramentos urbanos foram realiza<strong>do</strong>s. Só após 1850, com os<br />
antigos caminhos transforma<strong>do</strong>s <strong>em</strong> ruas e a cida<strong>de</strong> estruturadas, que os<br />
imóveis passaram a ser numera<strong>do</strong>s. As praças foram alvo das preocu-<br />
pações; o novo merca<strong>do</strong> próximo ao mar, provocou transformações<br />
<strong>em</strong> to<strong>do</strong> aquele setor da cida<strong>de</strong>, principalmente na praça da Igreja <strong>de</strong><br />
Santa Rita on<strong>de</strong>, também, foi <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong> o quartel das tropas; o chafariz<br />
<strong>de</strong> mármore inaugura<strong>do</strong> no ano <strong>de</strong> 1853, no antigo campo <strong>de</strong> “lavaj<strong>em</strong>”,<br />
também alavancou melhorias urbanas na área além <strong>de</strong> solucionar o pro-<br />
bl<strong>em</strong>a <strong>do</strong> abastecimento <strong>de</strong> água e, no ano <strong>de</strong> 1858, revogou-se a medida<br />
<strong>de</strong> que proibia a construção <strong>de</strong> casas térreas na Praça Municipal, pois exis-<br />
tiam muitos vazios. Outra gran<strong>de</strong> preocupação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, que se concre-<br />
tizou a partir <strong>de</strong> 1855, foi a construção <strong>do</strong> c<strong>em</strong>itério fora da área urbana.<br />
O sítio histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> assume <strong>sua</strong>s feições atuais nesta época. Se<br />
caracteriza por uma elevada coerência formal, um <strong>de</strong>nso espaço
construí<strong>do</strong> e frentes <strong>de</strong> ruas contínuas, compon<strong>do</strong> quar-<br />
teirões diss<strong>em</strong>elhantes, mas linearmente <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>s.<br />
A tipologia arquitetônica é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong>,<br />
as edificações não têm um caráter excepcional, se anali-<br />
sadas isoladamente, mas sim enquanto células <strong>de</strong> um<br />
organismo morfologicamente coerente. É extr<strong>em</strong>amente<br />
homogêneo inclusive nos materiais e técnicas utilizadas.<br />
O espaço edifica<strong>do</strong> conjuga a casa térrea e o sobra-<br />
<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> armazéns. Alguns so-<br />
bra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX se <strong>de</strong>stacam pela inserção <strong>de</strong> por-<br />
menores arquitetônicos notáveis, tanto nos trabalhos<br />
<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro forja<strong>do</strong>, como nos frisos e pilastras<br />
ornamenta<strong>do</strong>s.<br />
Não há edifícios públicos que se <strong>de</strong>staqu<strong>em</strong> <strong>do</strong>s res-<br />
tantes. As principais referências são os t<strong>em</strong>plos religio-<br />
sos, seja pela volumetria, pela localização ou mesmo<br />
pelos materiais.<br />
Em 1870, houve nova aprovação <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Pos-<br />
turas Municipais, pela Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa Provincial,<br />
que repetiu basicamente o primeiro texto, enfatizan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>talhes construtivos, o recuo <strong>em</strong> relação aos rios e, a<br />
salubrida<strong>de</strong> com o <strong>de</strong>ssecamento <strong>do</strong>s terrenos alagadiços<br />
A expansão da produção cafeeira aprimorou a infra-estrutura <strong>de</strong> trans-<br />
portes. A estrada <strong>de</strong> ferro ligan<strong>do</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro a São Paulo pelo Vale<br />
<strong>do</strong> Paraíba, atravessou o planalto paralelamente à linha <strong>de</strong> costa, chegan-<br />
<strong>do</strong> a Guaratinguetá <strong>em</strong> 1870.<br />
As zonas <strong>de</strong> abastecimento que utilizavam o transporte marítimo para<br />
colocar <strong>sua</strong> produção no gran<strong>de</strong> centro consumi<strong>do</strong>r, o Rio <strong>de</strong> Janeiro, não<br />
estavam <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> competir com a produção <strong>de</strong> outras regiões, ali<br />
colocada através <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> transporte ferroviário.<br />
Por falta <strong>de</strong> base geográfica a<strong>de</strong>quada, <strong>Paraty</strong> não tinha condições <strong>de</strong><br />
produzir gêneros <strong>em</strong> escala que justificasse reestruturar to<strong>do</strong> o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />
transportes, visan<strong>do</strong> a competição com a re<strong>de</strong> ferroviária. É nesse perío<strong>do</strong><br />
que t<strong>em</strong> início a <strong>de</strong>cadência econômica <strong>do</strong> Município.<br />
119<br />
> <strong>Paraty</strong> por Conrad<br />
Jacob <strong>de</strong> Ni<strong>em</strong>eyer <strong>em</strong><br />
1858-61
120<br />
Estruturação <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> intra-urbano – 1870/1945 –<br />
5ºperío<strong>do</strong><br />
Foi, porém a abolição da escravatura <strong>em</strong> 1888 que, retiran<strong>do</strong> a mão-<strong>de</strong>-<br />
obra <strong>do</strong>s engenhos, das fazendas e <strong>do</strong> porto, fez com que gran<strong>de</strong> parte<br />
da população aban<strong>do</strong>nasse a região <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> futuro mais promissor.<br />
Já <strong>em</strong> fins <strong>do</strong> século XIX constata-se que a população urbana e rural estava<br />
reduzida a menos <strong>de</strong> 4.000 habitantes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> antigos<br />
mora<strong>do</strong>res para as novas cida<strong>de</strong>s que floresciam ao longo da via férrea.<br />
Nesta época, as características tipológicas e morfológicas da cida<strong>de</strong> se<br />
alteram, os armazéns se transformam <strong>em</strong> residência, as edificações pas-<br />
sam a se r<strong>em</strong><strong>em</strong>brar a outras e aos terrenos urbanos disponíveis, que se<br />
transformam <strong>em</strong> seus quintais, forman<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s. Também<br />
as chácaras passam a integrar a malha urbana.<br />
Os rios da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser limpos e espraiam-se. <strong>Paraty</strong> passa a<br />
importar até feijão, <strong>de</strong> que fora um <strong>do</strong>s maiores produtores.<br />
A câmara municipal tentou reabilitar a economia da cida<strong>de</strong> por meio<br />
da abertura <strong>de</strong> estradas, porém, os esforços foram <strong>em</strong> vão.<br />
Durante esse perío<strong>do</strong> os poucos mora<strong>do</strong>res que restaram <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> só<br />
podiam sair da cida<strong>de</strong> pelo mar, com lanchas que faziam fretes.<br />
Por causa das péssimas condições <strong>do</strong> seu cais, ou melhor, a ausência<br />
<strong>de</strong> um cais <strong>Paraty</strong> ficou cada vez mais fora das rotas marítimas. Com a<br />
maré cheia, o <strong>em</strong>barque e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barque era feito através <strong>de</strong> canoa e,<br />
quan<strong>do</strong> a maré baixava, aflorava um enorme lodaçal e aqueles que não<br />
quisess<strong>em</strong> se enterrar na lama até acima <strong>do</strong>s joelhos tinham que se resig-<br />
nar a ser<strong>em</strong> leva<strong>do</strong>s nas costas <strong>de</strong> carrega<strong>do</strong>res que esperavam a chegada<br />
<strong>do</strong>s vapores. Foi somente <strong>em</strong> 1931 que se fez uma ponte <strong>de</strong> atracação,<br />
que já não existia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> século XIX.<br />
A salubrida<strong>de</strong> e o <strong>em</strong>belezamento da cida<strong>de</strong>, voltaram à tona <strong>em</strong><br />
princípios <strong>do</strong> século XX, durante a segunda gestão <strong>do</strong> prefeito Dr. Samu-<br />
el Costa. A quadra existente entre o rio Perequê-Açú e a Praça da Matriz,
e parte da quadra lateral à Igreja Matriz,entre o beco da Matriz e a Rua<br />
da Ca<strong>de</strong>ia, foram <strong>de</strong>sapropriadas.<br />
O largo da Matriz, <strong>em</strong> com<strong>em</strong>oração ao centenário <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência,<br />
1922, recebeu projeto paisagístico e foi transforma<strong>do</strong> <strong>em</strong> Jardim Público,<br />
nos mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s jardins românticos da cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, como o<br />
Passeio Público.<br />
Também ocorreu um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriações na rua <strong>do</strong><br />
Gragoatá, entre as ruas da Capella até a atual Avenida Roberto Silveira, form-<br />
an<strong>do</strong> uma área livre ocupada, hoje parcialmente, pelo Colégio Estadual.<br />
A luz elétrica chegou no início da década <strong>de</strong> 1920.<br />
Em 1925 uma nova estrada, ligan<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> a Cunha, permitin<strong>do</strong> o<br />
acesso <strong>de</strong> automóveis é aberta, aproveitan<strong>do</strong> alguns trechos <strong>do</strong> antigo<br />
caminho, na planície junto à cida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> os da subida da<br />
121<br />
> Esquerda: IPHAN<br />
– Igreja da Matriz no<br />
início <strong>do</strong> século XX;<br />
> Abaixo: DGEMN<br />
– fachadas da Rua Doutor<br />
Pereira 2003
122<br />
> A.M. – Peso para<br />
sal data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1822<br />
encontra<strong>do</strong> na Casa <strong>de</strong><br />
Registro<br />
serra. Os combatentes da Revolução <strong>de</strong> 1930, a caminho <strong>de</strong> São Paulo<br />
<strong>de</strong>stro<strong>em</strong> a estrada, que só foi reaberta novamente <strong>em</strong> 1954.<br />
Na década <strong>de</strong> 1930, o sociólogo Gilberto Freire, acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
artista plástico Cícero Dias passa por <strong>Paraty</strong> e se encanta com a “jóia <strong>de</strong><br />
virginda<strong>de</strong> brasileira”:<br />
“Viag<strong>em</strong> rara na época para qu<strong>em</strong> fosse iletra<strong>do</strong> – permitiu<br />
<strong>de</strong>sintelectualizar-me, /.../ pisar, apalpar, sentir não só pelos<br />
olhos como pelos pés, pelas mãos, pelo olfato, pelo paladar,<br />
pelo sexo, vivências e convivências <strong>de</strong> brasileiros <strong>do</strong> sul quase<br />
para<strong>do</strong>s <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos virgens /.../ Qu<strong>em</strong> falava então, no Rio ou<br />
<strong>em</strong> São Paulo, nessa jóia <strong>de</strong> virginda<strong>de</strong> brasileira que era, <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>, no t<strong>em</strong>po, Parati? Ninguém.<br />
Transformações na malha e no teci<strong>do</strong> intra-urbano –<br />
1945/1984 – 6º perío<strong>do</strong><br />
O <strong>de</strong>clínio econômico não tirou os encantos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a preservação <strong>do</strong><br />
seu acervo paisagístico, urbanístico, arquitetônico e cultural, que atraiu à<br />
princípio os intelectuais, hoje é revela<strong>do</strong> para o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />
A primeira medida <strong>de</strong> proteção ao conjunto arquitetônico e urbanísti-<br />
co ocorreu <strong>em</strong> 1945 quan<strong>do</strong> foi elevada à categoria <strong>de</strong> Monumento His-<br />
tórico Estadual.<br />
Somente <strong>em</strong> 1954, com a abertura da estrada Pa-<br />
raty-Cunha, a cida<strong>de</strong> começou a reviver<br />
com a vinda <strong>de</strong> intelectuais <strong>em</strong> busca das<br />
raízes <strong>do</strong> Brasil, que ficaram expressas e<br />
preservadas na cultura, na arte, na culi-<br />
nária, nas festas e, principalmente, no<br />
patrimônio arquitetônico e paisagístico.<br />
O reconhecimento fe<strong>de</strong>ral se <strong>de</strong>u <strong>em</strong><br />
1958 quan<strong>do</strong> o conjunto arquitetôni-<br />
co e paisagístico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pa-<br />
raty foi tomba<strong>do</strong>.
No terceiro centenário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> o arquiteto Lucio Costa d<strong>em</strong>onstrou<br />
gran<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>screver a cida<strong>de</strong>:<br />
“Tanto nas casas <strong>de</strong> feição mais severa e antiga, quanto naque-<br />
las concebidas ao gosto já liberto e acolhe<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
Oitocentos, caracteriza<strong>do</strong> pelo gracioso <strong>de</strong>senho das vidraças e<br />
pela serralheria rendada, o vocabulário é o corrente e a lin-<br />
guag<strong>em</strong> urbana se articula com naturalida<strong>de</strong> à paisag<strong>em</strong>,<br />
contida entre o fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> montanha e o ritmo largo e alterna<strong>do</strong><br />
da maré.<br />
Porque <strong>Paraty</strong> é a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> os caminhos <strong>do</strong> mar e os<br />
caminhos da terra se encontram, melhor, se entrosam. As<br />
águas não são barradas, mas avançam cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntro levadas<br />
pela Lua, e o reticula<strong>do</strong> <strong>de</strong> ruas baliza<strong>do</strong> pelas igrejas- a matriz<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> R<strong>em</strong>édios e as capelas das Dores, Rosário<br />
e Santa Rita - converg<strong>em</strong> para o mar.”<br />
O Governo Nacional, <strong>em</strong> 1966 elevou o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> à categoria<br />
<strong>de</strong> Monumento Nacional.<br />
Durante c<strong>em</strong> anos a cida<strong>de</strong> pouco se transformou, permanecen<strong>do</strong> tal<br />
como foi projetada por Jacob Conrad <strong>de</strong> Ni<strong>em</strong>eyer, no século XIX.<br />
123<br />
> IPHAN – Vista aérea<br />
<strong>do</strong> perímetro urbano <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong> - 1950
124<br />
Nos anos 70 a situação começou a mudar a partir da abertura da ro<strong>do</strong>via<br />
litorânea Rio-Santos - BR-101, el<strong>em</strong>ento indutor <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />
região, que acarretou gran<strong>de</strong>s mudanças na ocupação <strong>do</strong> solo, <strong>de</strong>senca-<br />
<strong>de</strong>ou to<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> interesses econômicos, revigorou ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comér-<br />
cio e prestação <strong>de</strong> serviços, o turismo <strong>em</strong> particular, crian<strong>do</strong> novos <strong>em</strong>pre-<br />
gos e um acréscimo populacional. Foi um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> muitas obras e <strong>de</strong><br />
expansão significativa <strong>do</strong> entorno imediato <strong>do</strong> sítio histórico, que foi e<br />
fecha<strong>do</strong> ao tráfego <strong>de</strong> veículos automotores, com o objetivo <strong>de</strong> preservar<br />
a estrutura <strong>do</strong>s velhos casarões.<br />
Com o tombamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o município <strong>em</strong> 1974, as medidas <strong>de</strong><br />
proteção a<strong>do</strong>tadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1945 consolidadas num Plano <strong>de</strong> Desenvolvi-<br />
mento Integra<strong>do</strong>, garantiu o <strong>de</strong>senvolvimento or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> da área <strong>de</strong> ex-<br />
pansão urbana.<br />
A volta <strong>do</strong> valor econômico provocou um processo <strong>de</strong> parcelamento/<br />
<strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bramento, agora <strong>em</strong> padrões diferentes <strong>do</strong> que ocorriam ante-<br />
riormente. Por estes da<strong>do</strong>s, pod<strong>em</strong>os concluir que, a partir da década <strong>de</strong><br />
60, os imóveis passaram a ser <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bra<strong>do</strong>s. Não só por parcelamentos<br />
<strong>do</strong>s terrenos, como também, recuperan<strong>do</strong> a formação fundiária anterior<br />
ao <strong>de</strong>clínio econômico.<br />
Observa<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s censos d<strong>em</strong>ográficos <strong>de</strong> 1970 e 1980, veri-<br />
fica-se que a população rural manteve-se praticamente a mesma (11.760<br />
habitantes <strong>em</strong> 1970 e 11.688 <strong>em</strong> 1980), enquanto que a população ur-<br />
bana passou <strong>de</strong> 4.169, <strong>em</strong> 1970, para 8.934, <strong>em</strong> 1980, registran<strong>do</strong> um<br />
aumento <strong>de</strong> 114,3%.<br />
Situada entre as duas maiores áreas metropolitanas e principais pólos<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> país, Parati reiniciou um processo <strong>de</strong><br />
expansão urbana e crescimento econômico, basea<strong>do</strong> no binômio turis-<br />
mo/veraneio, resultante <strong>de</strong> uma vocação potencializada no conjunto pai-<br />
sagístico/arquitetônico <strong>do</strong> município. Em 2006 a população <strong>do</strong> Município<br />
era estimada <strong>em</strong> 33.695 habitantes, sen<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 17.300 na se<strong>de</strong>.<br />
A legislação <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong> conjunto arquitetônico e paisagístico tom-<br />
ba<strong>do</strong>, assumida pelo IPHAN e Prefeitura Municipal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1945 têm ga-<br />
ranti<strong>do</strong> a preservação das principais características morfológicas <strong>de</strong>sta<br />
paisag<strong>em</strong> cultural. A relação da cida<strong>de</strong> com o mar e a montanha, tão<br />
b<strong>em</strong> <strong>de</strong>scrita por Lucio Costa, não foi rompida.
3 Justificativa<br />
para inscrição<br />
3.a Critérios sob os quais a inscrição está sen<strong>do</strong> proposta<br />
A inscrição <strong>do</strong> “<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> Paisag<strong>em</strong> ” como paisag<strong>em</strong><br />
cultural -caminho e paisag<strong>em</strong> , é proposta segun<strong>do</strong> os critérios II, IV e V.<br />
CRITÉRIO II<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é o primeiro test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> como se pro-<br />
cessaram as rotas e os caminhos <strong>de</strong> colonização <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> território<br />
brasileiro.Constituiu uma rota cultural pioneira.É test<strong>em</strong>unho marcante<br />
<strong>de</strong> como <strong>de</strong>flagrou-se a gran<strong>de</strong> aventura <strong>de</strong> ocupação portuguesa<br />
<strong>do</strong>”inter-land” da América <strong>do</strong> Sul, durante o <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> “Ciclo <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>”. D<strong>em</strong>onstra as origens econômicas culturais e comerciais <strong>do</strong> Brasil,<br />
<strong>sua</strong>s transformações e exprime <strong>de</strong> maneira singular a relação entre o<br />
hom<strong>em</strong>, a terra e seus recursos naturais.O apogeu <strong>de</strong> seu uso ocorreu<br />
entre o final <strong>do</strong> século XVII com o início da exploração <strong>do</strong> ouro e o final <strong>do</strong><br />
século XIX, com o esgotamento da produção <strong>do</strong> café na região <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />
influência,duran<strong>do</strong>, portanto, <strong>do</strong>is séculos. Os el<strong>em</strong>entos tangíveis que<br />
permaneceram <strong>de</strong>ste <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> estão principalmente no Muni-<br />
cípio <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, são to<strong>do</strong>s autênticos e integram esta proposta .<br />
A vila portuária <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> atesta o saber vernáculo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s<br />
insulares e marítimas portuguesas, advindas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> medieval, transmi-<br />
ti<strong>do</strong> durante o ciclo <strong>do</strong>s <strong>de</strong>scobrimentos. Em perío<strong>do</strong> posterior houve a<br />
introdução <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo característico <strong>do</strong> urbanismo erudito.<br />
Por esse ponto <strong>de</strong> inflexão, advieram a civilização européia, o<br />
mercantilismo, a religião, filosofia, utensílios, toda uma civilização<br />
que a<strong>de</strong>ntrou o continente sul-americano. Chegaram in-<br />
fluências asiáticas, a cultura africana, <strong>sua</strong>s plantas,<br />
enriqueceram toda a humanida<strong>de</strong>.<br />
seus conhecimentos da natureza tropical, o tra-<br />
balho e o sofrimento <strong>do</strong>s escravos.Por esse mes-<br />
mo sist<strong>em</strong>a foram exporta<strong>do</strong>s o ouro, o café, o<br />
açúcar, ma<strong>de</strong>iras, s<strong>em</strong>entes <strong>de</strong> nossas plantas que
126<br />
> A.M. – Praia Gran<strong>de</strong> da<br />
Cajaíba, Baía <strong>do</strong> Pouso<br />
CRITÉRIO IV<br />
É marcante na paisag<strong>em</strong> cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a integração <strong>do</strong> conjunto arquite-<br />
tônico <strong>de</strong> forma harmoniosa com el<strong>em</strong>entos naturais <strong>do</strong> sítio on<strong>de</strong> está cons-<br />
truí<strong>do</strong>. As características urbanas <strong>de</strong> <strong>em</strong>pório comercial, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços<br />
administrativos com armazéns, moradias, igrejas, fortes estão to<strong>do</strong>s presen-<br />
tes. A Vila <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, orig<strong>em</strong> e <strong>de</strong>stino terres-<br />
tre e marítimo <strong>de</strong>ste primeiro caminho, mantém-se íntegra e autêntica; isto<br />
está test<strong>em</strong>unha<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong> arquitetura, planejamento urbano, tecnologia <strong>de</strong><br />
construção e na paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu entorno; é ex<strong>em</strong>plo original e preserva<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> portuária e <strong>em</strong>pório comercial , administrativo, religioso <strong>do</strong> proces-<br />
so <strong>de</strong> colonização portuguesa no país.Esse conjunto é representativo <strong>do</strong> in-<br />
tercâmbio <strong>de</strong> culturas entre a América e o Mun<strong>do</strong>.<br />
Na Serra <strong>do</strong> Mar, que serve <strong>de</strong> cenário à cida<strong>de</strong>, inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong> um Parque<br />
Nacional, encontramos o maior trecho preserva<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> este velho Cami-<br />
nho <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>. A tecnologia <strong>em</strong>pregada <strong>em</strong> <strong>sua</strong> construção foi trazida pelos<br />
oficiais <strong>do</strong> Real Corpo <strong>de</strong> Engenheiros <strong>de</strong> Portugal. No calçamento foram usa-<br />
das lajes <strong>de</strong> pedra, técnica capaz <strong>de</strong> enfrentar o eleva<strong>do</strong> índice pluviométrico<br />
da Serra. A localização <strong>do</strong>s Registros <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> sinalização e<br />
d<strong>em</strong>arcação e o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> <strong>do</strong> calçamento que permaneceram são<br />
el<strong>em</strong>entos tangíveis, que através <strong>de</strong> <strong>sua</strong> autenticida<strong>de</strong>, comprovam o saber<br />
<strong>de</strong>sses engenheiros.
CRITÉRIO V<br />
O cadinho <strong>de</strong> culturas representa<strong>do</strong> pelo processo <strong>de</strong> colonização portu-<br />
guesa, <strong>em</strong> especial as particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nas Américas, está<br />
presente <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Aí se miscigenaram raças, conhecimentos, mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
se apropriar da natureza tropical. Até o presente, a cida<strong>de</strong> abriga conhe-<br />
cimentos <strong>do</strong>s ancestrais indígenas na maneira <strong>de</strong> pescar, na alimentação,<br />
no folclore mesclan<strong>do</strong> tradições africanas e européias. É o resulta<strong>do</strong> da<br />
exploração econômica <strong>de</strong> inúmeros bens. O ouro <strong>do</strong> Brasil, que significou<br />
à época <strong>de</strong> <strong>sua</strong> exploração as maiores jazidas <strong>de</strong>sse metal, conhecidas <strong>em</strong><br />
to<strong>do</strong>s os t<strong>em</strong>pos, teve papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na economia brasileira, portu-<br />
guesa, africana e mundial.Propiciou transformações notáveis na organi-<br />
zação política <strong>do</strong> território continental. Foi um <strong>do</strong>s sustentáculos econô-<br />
micos que serviram <strong>de</strong> base à revolução industrial inglesa (ver C.R.<br />
Boxer-The Portuguese Seaborne Empire l4l5-l825, Apendix III – 1969).<br />
Por esse caminho foi <strong>de</strong>flagrada o a ocupação <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> território<br />
brasileiro. Esse processo resultou na integração ao território nacional <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> l/3 da área <strong>do</strong> país que se transformou, <strong>de</strong> região habitada pelos<br />
silvícolas, <strong>em</strong> parcela excepcional <strong>do</strong> território sul americano que abriga<br />
estradas mo<strong>de</strong>rnas, plantações, indústrias, universida<strong>de</strong>s e cida<strong>de</strong>s com<br />
milhões <strong>de</strong> habitantes, monumentos artísticos <strong>de</strong> valor universal, entre<br />
eles, Brasília, a capital <strong>do</strong> país.<br />
Além <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos conti<strong>do</strong>s nos critérios que estão <strong>de</strong>scritos nos<br />
parágrafos acima, cabe ressaltar a beleza excepcional da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />
cujas montanhas abruptas são test<strong>em</strong>unho marcantes da ruptura entre os<br />
continentes africano e sul americano.Essas montanhas abrigam r<strong>em</strong>a-<br />
nescentes raros da Mata Atlântica, classificada internacionalmente entre<br />
as duas florestas tropicais mais ameaçadas <strong>de</strong> extinção. Em vista disso e<br />
por abrigar<strong>em</strong> várias áreas protegidas, entre elas o Parque Nacional da<br />
Serra da Bocaina, a UNESCO a reconheceu esse conjunto como zona nú-<br />
cleo, parte integrante <strong>de</strong> uma das mais significativas Reservas da Biosfera<br />
<strong>do</strong> <strong>Programa</strong> MAB- “O Hom<strong>em</strong> e a Biosfera”.<br />
127
128<br />
3.b Declaração <strong>de</strong> valor universal proposta<br />
A paisag<strong>em</strong> cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> conjuga <strong>de</strong> forma inigualável a obra da na-<br />
tureza com o hom<strong>em</strong>. Entre os el<strong>em</strong>entos naturais que compõ<strong>em</strong> esta<br />
proposta t<strong>em</strong>os o magnífico anfiteatro <strong>de</strong> montanhas abruptas, forma-<br />
ções <strong>de</strong> gnaisses e granitos, das mais antigas <strong>do</strong> planeta, test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong>s-<br />
taca<strong>do</strong> da fantástica ruptura continental ocorrida entre a África e a Amé-<br />
rica <strong>do</strong> Sul. Aí estão as mais altas elevações da costa brasileira, recobertas<br />
pela floresta atlântica, paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> extraordinária beleza, <strong>de</strong>bruçada so-<br />
bre as águas calmas da baia da Ilha Gran<strong>de</strong> repleta <strong>de</strong> reentrâncias, entre-<br />
cortada por ilhas coroadas por <strong>de</strong>licada vegetação; Essa baia com ensea-<br />
das, praias, pontões, parcéis, sacos, abriga também <strong>do</strong>is fior<strong>de</strong>s tropicais,<br />
únicos na América <strong>do</strong> Sul. Aí está o núcleo urbano <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o mais ínte-<br />
gro conjunto arquitetônico brasileiro representativo da arquitetura <strong>do</strong>s sé-<br />
culos XVII ao XIX, localiza<strong>do</strong> à beira mar, que conserva gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />
cultura, <strong>sua</strong>s festas, ritos, relações; Está ainda o caminho que aí se iniciou,<br />
nos primórdios da colonização, e que penetra fun<strong>do</strong> no interior da Améri-<br />
ca <strong>do</strong> Sul; Primeira rota <strong>do</strong> ouro a ser reconhecida pela coroa portuguesa,<br />
pela qual se explorou a imensa riqueza <strong>do</strong> interior da colônia e se consoli-<br />
<strong>do</strong>u o <strong>do</strong>mínio da cultura e da religião européia sobre o território bravio da<br />
região central <strong>do</strong> continente.<br />
Tu<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> ouro, as mais volumosas minas <strong>de</strong>scobertas<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong> e postas então a serviço <strong>do</strong> comércio e <strong>do</strong> acúmulo<br />
da economia mundial. Isto no mesmo momento <strong>em</strong> que nascia na Europa<br />
a revolução industrial. <strong>Ouro</strong>, muito ouro, a transformar toda a ocupação<br />
<strong>do</strong> território e a revolver a economia e o merca<strong>do</strong> internacional. <strong>Ouro</strong> que<br />
gerou a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> mais ouro, que levou esses primitivos <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>-<br />
res a penetrar ainda mais fun<strong>do</strong> no território. Ao fazer isso <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ciam<br />
ao papa e enterravam o trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas cujo meridiano dividia,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XV, a posse <strong>do</strong> globo entre Espanha e Portugal. O resulta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>sse formidável avanço para o oeste, perpetra<strong>do</strong> <strong>em</strong> poucas décadas<br />
pelos <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>res mamelucos, nativos brasileiros, levou ao trata<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Madri, <strong>de</strong> 1750, que re<strong>de</strong>senhou a fronteira entre os países ibéricos na<br />
América <strong>do</strong> Sul.<br />
Os mais significativos r<strong>em</strong>anescentes físicos <strong>de</strong>sse caminho perduram<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Este é reconheci<strong>do</strong> pelo Gover-<br />
no Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1974, <strong>em</strong> <strong>sua</strong> totalida<strong>de</strong>, como patrimônio nacional.
Nele estão tangíveis, nas inúmeras curvas calçadas <strong>de</strong> pedras, os sinais<br />
escalavra<strong>do</strong>s pelas patas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> mulas, que transitaram por essa<br />
topografia <strong>de</strong>clivosa e belíssima da serra <strong>do</strong> mar.<br />
A baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a serra, a cida<strong>de</strong>, o caminho, o porto são test<strong>em</strong>unhos<br />
<strong>do</strong> primeiro momento <strong>em</strong> que por obra e graça <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>res, di-<br />
tos capitães <strong>do</strong> mato, no ano <strong>de</strong> 1695, as primeiras pepitas <strong>de</strong>sse ouro se<br />
fizeram ao mar. De <strong>Paraty</strong> foram transladadas para Lisboa, a Europa, com<br />
o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> <strong>em</strong>basar a economia <strong>do</strong> século das luzes. O ouro brasileiro <strong>do</strong><br />
século XVIII, cuja quantida<strong>de</strong>, nunca vista, vai especificada <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhe nos<br />
anexos, gerou a primeira corrida <strong>do</strong> ouro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno e foi ele-<br />
mento <strong>de</strong> sustentação da nascente revolução industrial.<br />
Cada um <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>sta proposta, a serra, o núcleo urbano e<br />
<strong>sua</strong>s fortificações, as relações humanas e o caminho <strong>do</strong> ouro, pelo que são<br />
e por aquilo que representam compõ<strong>em</strong> <strong>em</strong> si um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> alto valor<br />
<strong>de</strong> paisag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> interesse universal. Consi<strong>de</strong>radas <strong>em</strong> conjun-<br />
to compõ<strong>em</strong> um sítio <strong>de</strong> excepcional valor que merece o reconhecimento<br />
e a fruição <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>.<br />
Isto porque durante cerca <strong>de</strong> 200 anos <strong>Paraty</strong>, <strong>sua</strong> baía e esse caminho<br />
serviram <strong>de</strong> rota e porto <strong>de</strong> circulação e intercâmbio das transações co-<br />
merciais entre o Brasil e a África, Ásia e a Europa. Por aí chegaram explo-<br />
ra<strong>do</strong>res, catequiza<strong>do</strong>res, autorida<strong>de</strong>s, escravos, ferramentas, armas, pól-<br />
> A.M. – Maciço <strong>do</strong><br />
Cairuçu a partir <strong>do</strong><br />
Parque Nacional da<br />
Serra da Bocaina<br />
129
130<br />
> DJOB – bromélias,<br />
Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>;<br />
> PMP – vista aérea da<br />
cida<strong>de</strong>;<br />
> R.A. – canoa no Saco<br />
<strong>do</strong> Mamanguá<br />
vora, sal, livros, instrumentos, utensílios, idéias, literatura, filosofia. Daí se<br />
fez ao mar, entre muitos outros produtos ouro, açúcar, diamantes, ma<strong>de</strong>i-<br />
ras, s<strong>em</strong>entes, animais, café e cachaça.<br />
Após o <strong>de</strong>clínio <strong>do</strong> ouro essa rota, cida<strong>de</strong> e porto serviram à exportação<br />
<strong>do</strong> café e no século XIX essa foi a riqueza que sustentou esse sist<strong>em</strong>a, a<br />
região e o país. No final <strong>de</strong>sse século com o cansaço das terras, a liberta-<br />
ção <strong>do</strong>s escravos e a construção da primeira ferrovia brasileira que <strong>de</strong>sviou<br />
para outros portos a circulação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias, a <strong>de</strong>cadência se abateu<br />
sobre a região e a economia se estagnou. Isto garantiu por um século a<br />
manutenção <strong>de</strong>sse conjunto praticamente intacto. Foi somente no ultimo<br />
quartel <strong>do</strong> século XX que uma nova e mo<strong>de</strong>rna estrada apresentou esse<br />
conjunto outra vez aos olhos <strong>do</strong>s visitantes.<br />
Sua baía abrigada, com águas protegidas ofereceu condições i<strong>de</strong>ais<br />
para que fosse construí<strong>do</strong> to<strong>do</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> fortificações para a <strong>de</strong>fesa<br />
das <strong>em</strong>barcações. A expansão marítima portuguesa provocada pelo mer-<br />
cantilismo gerou uma larga experiência com a urbanização das cida<strong>de</strong>s.<br />
<strong>Paraty</strong> atesta <strong>em</strong> seu urbanismo a herança vernácula portuguesa, adquiri-<br />
da ainda <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos medievais e impl<strong>em</strong>entada nas cida<strong>de</strong>s insulares e<br />
marítimas <strong>do</strong> Atlântico, que se observa na estreita relação <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> ur-<br />
bano com as características ambientais <strong>do</strong> local da implantação, posterior-<br />
mente, conjuga<strong>do</strong> a um projeto erudito resultante <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los formais<br />
regulares, implanta<strong>do</strong> por engenheiros militares.<br />
O caráter da vila ficou perfeitamente expresso na extraordinária impres-<br />
são <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> proporcionada pelas construções alinhadas, forman<strong>do</strong><br />
uma massa edificada homogênea que envolve inteiramente os quartei-<br />
rões, <strong>em</strong>prestan<strong>do</strong>-lhes monumentalida<strong>de</strong>, apesar das limitadas dimen-<br />
sões, on<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minam as casas térreas ou assobradadas. O ritmo carac-<br />
terístico das envasaduras <strong>do</strong>s armazéns é ameniza<strong>do</strong> por muros que<br />
fecham os quintais das residências, a composição urbana é <strong>de</strong> uma geo-<br />
metria simples. Dois largos laterais, marcam a paisag<strong>em</strong>. A vila <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />
apesar <strong>de</strong> diminuta, impõe-se ao esplendi<strong>do</strong> cenário constituí<strong>do</strong> pela pai-<br />
sag<strong>em</strong> serrana que a envolve. Parece que a paisag<strong>em</strong> existe apenas para<br />
<strong>em</strong>oldurar a cida<strong>de</strong>, estabelecen<strong>do</strong> uma escala <strong>de</strong> relacionamento que<br />
valoriza tanto a cida<strong>de</strong> como a paisag<strong>em</strong>.<br />
Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida diversifica<strong>do</strong>s e preserva<strong>do</strong>s infund<strong>em</strong> experiências <strong>de</strong><br />
várias etnias e diferentes grupos forma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong>. <strong>Paraty</strong>
131
132<br />
> A.M. – <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, parte IV<br />
– Sítio da Cachoeirinha,<br />
pavimentação <strong>do</strong> século XIX<br />
mantém intactas as tradições <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s celebrações religiosas, que se esten-<br />
d<strong>em</strong> pelas ruas, ligan<strong>do</strong> as igrejas e oratórios durante to<strong>do</strong> ano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
perío<strong>do</strong> colonial.<br />
A existência <strong>de</strong>ssa baía e <strong>de</strong>sse porto escondi<strong>do</strong> entre montanhas, <strong>de</strong>s-<br />
sa vila e <strong>de</strong>sse caminho, gerou a consolidação, hoje como brasileiro, <strong>de</strong> um<br />
espaço físico que correspon<strong>de</strong> a mais <strong>de</strong> uma quarta parte <strong>do</strong> território<br />
europeu. O processo comercial que aí se iniciou possibilitou a formação <strong>de</strong><br />
cida<strong>de</strong>s, províncias, metrópoles no interior <strong>do</strong> continente que hoje são<br />
capitais <strong>de</strong> diversos esta<strong>do</strong>s. Esse caminho representa a penetração que<br />
permitiu a mais ampla interiorização da ocupação <strong>do</strong> centro geográfico da<br />
América <strong>do</strong> Sul.<br />
Por fim esta baía, a mais bela da costa sul americana, abraçada por<br />
montanhas ver<strong>de</strong>jantes abriga população <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res tradicionais que<br />
mescla o sangue e a cultura européia.negra e ameríndia. Manten<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>
<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> produção ancestrais viv<strong>em</strong> entre aci<strong>de</strong>ntes geográficos pro-<br />
nuncia<strong>do</strong>s, marcantes <strong>de</strong> nossa costa como o pico <strong>do</strong> Cairuçú, que encima<br />
com esplen<strong>do</strong>r o fior<strong>de</strong> <strong>do</strong> Mamanguá, a ponta da Juatinga, e outros que<br />
serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> marco e rumo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros navegantes que aqui chega-<br />
ram no alvorecer <strong>do</strong> século XVI.<br />
Esse conjunto natural serve também <strong>de</strong> refugio para espécies raras da<br />
Mata Atlântica, uma das mais ameaçadas florestas tropicais. Com picos <strong>de</strong><br />
quase 2000 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, cujas encostas <strong>de</strong>sc<strong>em</strong> ate o nível <strong>do</strong> mar, <strong>sua</strong>s<br />
florestas, restingas, ilhas e manguezais abrigam cerca <strong>de</strong> 80 espécies <strong>de</strong><br />
mamíferos, quase 400 <strong>de</strong> aves, e 60 <strong>de</strong> répteis e anfíbios, muitas <strong>de</strong>las<br />
exclusivas da Mata Atlântica e ameçadas <strong>de</strong> extinção. Na Baía <strong>de</strong> Ilha<br />
Gran<strong>de</strong>, da qual faz parte o litoral e as ilhas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, encontra-se a maior<br />
diversida<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> baleias e golfinhos. <strong>Paraty</strong>. Aí estão diversas áreas<br />
protegidas, entre as quais se <strong>de</strong>stacam o Parque Nacional da Serra da Bo-<br />
caina, a Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, Reserva Ecológica da Juatinga, e as<br />
Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>do</strong> Cairuçu e da Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Abrigadas<br />
sob o <strong>do</strong>ssel <strong>de</strong> árvores fron<strong>do</strong>sas, entre cordões <strong>de</strong> montanhas, estão<br />
magníficas cascatas enfeitadas por bromélias e <strong>de</strong>licadas flores. Por ser<br />
parte significativa <strong>do</strong> principal corre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> r<strong>em</strong>anescentes da Mata Atlân-<br />
> A.M. – Praia da<br />
Sumaca;<br />
133<br />
> A.M. – juçara, espécie<br />
típica da Mata Atlântica
134<br />
> PDT – Praia da Patanguera;<br />
> PDT – Praia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Mirim;<br />
> PDT – riacho da Ponta<br />
Negra<br />
tica, o município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pela UNESCO, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992,<br />
como parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.<br />
Este é um <strong>do</strong>s mais expressivos ex<strong>em</strong>plos da floresta, da paisag<strong>em</strong>, que<br />
<strong>de</strong>slumbrou os primeiros navegantes europeus que chegaram ao novo<br />
mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s quais sobreviv<strong>em</strong> vários relatos. Não por acaso a maioria <strong>de</strong>les,<br />
incluí<strong>do</strong>s os <strong>de</strong> Colombo e <strong>de</strong> Vespúcio, que esteve nesta baia no início <strong>de</strong><br />
janeiro <strong>de</strong> 1501, informaram a uma Europa extasiada <strong>de</strong> que haviam re-<br />
<strong>de</strong>scoberto o paraíso terrestre. Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, o mais reno-<br />
ma<strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r brasileiro, <strong>de</strong>senvolveu tese <strong>em</strong> que relata com brilhan-<br />
tismo essa questão. Nessa tese o paraíso é representa<strong>do</strong> não apenas pela<br />
beleza in<strong>de</strong>scritível <strong>de</strong>sta paisag<strong>em</strong>, s<strong>em</strong>pre ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong> eterna primavera,<br />
mas também, segun<strong>do</strong> as lendas, pelas riquezas materiais <strong>do</strong> espaço que<br />
o circundava, abundante <strong>em</strong> pedras preciosas e ouro, o que instigava o<br />
imaginário da mentalida<strong>de</strong> entre medieval e mercantilista <strong>de</strong>sses explora-<br />
<strong>do</strong>res. Seu título: “Visões <strong>do</strong> Paraíso”. Alguns <strong>do</strong>s trechos mais significati-<br />
vos <strong>de</strong>sse trabalho estão incluí<strong>do</strong>s nos anexos.<br />
<strong>Paraty</strong> distingue-se <strong>de</strong> outros locais pelos históricos movimentos huma-<br />
nos, pelo constante ir e vir entre a floresta, o mar e a cida<strong>de</strong>, pelos cami-<br />
nhos <strong>de</strong> pedra; <strong>sua</strong> pluralida<strong>de</strong> etnológica, <strong>em</strong> diferentes e constantes in-<br />
terações, caracteriza os estabelecimentos humanos e finda por abordar a<br />
força criativa da espiritualida<strong>de</strong> das festas religiosas, <strong>em</strong> um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lo sustentável urbano integra<strong>do</strong> ao meio natural.<br />
3.c Análise comparativa<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> se diferencia e se <strong>de</strong>staca<br />
<strong>do</strong>s sítios <strong>do</strong> Patrimônio Mundial já lista<strong>do</strong>s por seus valores únicos e uni-
versais. Isto porque o sítio urbano, que está localiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> um setor da<br />
costa brasileira <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> expressão histórica, econômica e geológica,<br />
preserva <strong>sua</strong>s características como representante da expansão ultramarina<br />
portuguesa e <strong>de</strong> marco inicial <strong>do</strong> caminho que propiciou a interiorização<br />
<strong>de</strong>sse processo no contexto sul-americano. E se diferencia também pela<br />
paisag<strong>em</strong> cultural <strong>de</strong> valor e beleza excepcionais que lhe serve <strong>de</strong> cenário.<br />
Em uma primeira análise pod<strong>em</strong>os buscar a comparação entre a ci-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e outras cinco cida<strong>de</strong>s fundadas pela coroa portuguesa,<br />
no litoral <strong>do</strong> Brasil, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI a mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII.<br />
Duas <strong>de</strong>ntre elas foram listadas como Patrimônio Mundial: Salva<strong>do</strong>r da<br />
Bahia e São Luiz <strong>do</strong> Maranhão. No Brasil a<strong>do</strong>taram-se <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />
cida<strong>de</strong>s. Nos séculos XVI e XVII, pod<strong>em</strong> ser diferencia<strong>do</strong>s <strong>em</strong> forma e<br />
traça<strong>do</strong>s, as criadas pela coroa, eruditas, resultantes <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los formais<br />
regulares, projetos <strong>de</strong> engenheiros militares e as que se <strong>de</strong>senvolveram a<br />
cargo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>natários das capitanias, criadas s<strong>em</strong> recursos técnicos, ci-<br />
da<strong>de</strong>s vernáculas. Destas duas, que tomamos inicialmente para com-<br />
paração, <strong>Paraty</strong> se diferencia por <strong>sua</strong> orig<strong>em</strong> vernácula, <strong>de</strong> iniciativa <strong>de</strong><br />
particulares. Em oposição, Salva<strong>do</strong>r e São Luiz, foram criadas por inicia-<br />
tiva oficial da coroa portuguesa com a clara intenção <strong>de</strong> garantir a posse<br />
<strong>do</strong> território da colônia. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> estagnou quase<br />
que completamente no século XIX enquanto estas outras duas cida<strong>de</strong>s se<br />
mantiveram s<strong>em</strong>pre na condição <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong> Província, hoje Esta<strong>do</strong>s e<br />
são hoje importantes núcleos urbanos, São Luiz com centenas <strong>de</strong> mil-<br />
hares <strong>de</strong> habitantes e Salva<strong>do</strong>r com quase três milhões. O cenário aqui é<br />
outro, e as condições ambientais <strong>do</strong> sítio completamente diferenciadas.<br />
Em <strong>Paraty</strong> a implantação urbana ocorreu lentamente, durante <strong>do</strong>is sécu-<br />
135<br />
> PDT – Rio <strong>do</strong> Sono;<br />
> PDT – no Parque<br />
Nacional da Serra da<br />
Bocaina – Pedra Branca;<br />
> PDT – Cachoeira no<br />
Parque Nacional da Serra<br />
da Bocaina – Iriri-Guaçú
136<br />
> Planta <strong>de</strong> Restituição da Bahia (Salva<strong>do</strong>r), João Teixeira<br />
Albernaz I, 1625;<br />
> Planta <strong>de</strong> São Luiz , Johannes Vingboons, 1640;<br />
> Planta <strong>de</strong> São Vicente, anônimo, 1765-75;<br />
> Planta <strong>de</strong> Ubatuba, João da Costa Ferreira,1815;<br />
> Planta <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong> Heroísmo, Terceira Ilha- João Baptista<br />
Amorim <strong>de</strong> Freitas, 1870
los. A orla <strong>do</strong> sítio histórico não foi urbanizada, n<strong>em</strong> ocupada com insta-<br />
lações portuárias, como nos <strong>do</strong>is casos anteriores, manten<strong>do</strong>-se aqui as<br />
características tipológicas e <strong>sua</strong>s inter-relações <strong>de</strong> uma vila marítima, en-<br />
treposto comercial. Aqui estão preservadas edificações <strong>do</strong>s séculos XVII,<br />
XVIII e XIX, os armazéns, as moradas e os sobra<strong>do</strong>s, o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong><br />
<strong>do</strong>s arruamentos e os calçamentos <strong>de</strong> pedra, conforman<strong>do</strong> um conjunto<br />
<strong>em</strong> tu<strong>do</strong> original.<br />
Outras três cida<strong>de</strong>s costeiras que lhe são cont<strong>em</strong>porâneas e <strong>de</strong> história<br />
e arquitetura originalmente ass<strong>em</strong>elhada, São Sebastião, Ubatuba e An-<br />
gra <strong>do</strong>s Reis sofreram tal ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> modificações que dificultam e até<br />
imped<strong>em</strong> a leitura <strong>de</strong> como teria si<strong>do</strong> <strong>sua</strong> configuração original, sen<strong>do</strong><br />
<strong>Paraty</strong> o único ex<strong>em</strong>plo que nos restou <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong> para que possamos<br />
avaliar e fazer suposições <strong>de</strong> como eram conforma<strong>do</strong>s arquitetônica e<br />
espacialmente esses núcleos primitivos. Para esse exercício tomamos<br />
como referência os r<strong>em</strong>anescentes históricos e os poucos ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong><br />
monumentos que hoje nelas persist<strong>em</strong>. De todas as nossas cida<strong>de</strong>s históri-<br />
cas <strong>Paraty</strong> permanece, na voz Lucio Costa, nosso mais abaliza<strong>do</strong> estudio-<br />
so e historia<strong>do</strong>r da arquitetura, como o mais íntegro ex<strong>em</strong>plo brasileiro da<br />
urbanização colonial. Além disso foi, segun<strong>do</strong> os registros, através <strong>do</strong><br />
porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que, <strong>em</strong> 1695, as primeiras pepitas <strong>do</strong> ouro <strong>do</strong> Brasil fo-<br />
ram <strong>em</strong>barcadas <strong>em</strong> naus e se fizeram ao mar, o que transformou e en-<br />
gran<strong>de</strong>ceu toda a economia mundial <strong>do</strong> século XVIII, prerrogativa única<br />
que <strong>de</strong>rivou no <strong>de</strong>sbravamento e consolidação <strong>de</strong> um caminho que resul-<br />
tou na ocupação <strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> continente sul-americano. Tes–<br />
t<strong>em</strong>unho da historia são os r<strong>em</strong>anescentes físicos <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>,<br />
preserva<strong>do</strong>s na serra que a envolve, que lhe são particulares e únicos.<br />
Goa, fundada <strong>em</strong> 1510, foi o principal centro da presença portuguesa<br />
no Oriente. Esta situada <strong>em</strong> uma encosta <strong>sua</strong>ve e a uma consi<strong>de</strong>rável<br />
distancia <strong>do</strong> mar, à beira <strong>de</strong> um rio, com um complexo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>fensivo.<br />
Apresentava uma estrutura <strong>de</strong> ruas concêntrica. Muito pouco <strong>de</strong> seu<br />
crescimento foi controla<strong>do</strong>. As igrejas eram visíveis a milhas <strong>de</strong> distância<br />
o que caracterizava a pre<strong>do</strong>minância cristã <strong>em</strong> uma região que original-<br />
mente abrigou outras expressões <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong>. A perda <strong>do</strong> controle da<br />
coroa portuguesa sobre as riquezas da Índia ocorreu <strong>em</strong> oposição à val-<br />
orização <strong>de</strong> <strong>sua</strong> presença no Brasil. Isto garantiu a permanência <strong>em</strong> meta-<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong> território sul-americano <strong>de</strong> <strong>sua</strong> língua, seus costumes e <strong>sua</strong> cultura.<br />
137
138<br />
> A.M. – Fórum,<br />
Travessa <strong>de</strong> Santa<br />
Rita<br />
Entre outros fatores esta é uma distinção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> significa<strong>do</strong> nesta<br />
comparação. Em 1843 a capital foi transferida par Pangim. Do sítio<br />
histórico <strong>de</strong> Goa restam apenas as igrejas, nenhuma outra edificação n<strong>em</strong><br />
a malha urbana foram preservadas. A paisag<strong>em</strong> <strong>em</strong>bora tropical t<strong>em</strong><br />
características topográficas e expressão totalmente diferenciadas. E en-<br />
quanto uma representa uma cultura que se esvaneceu, <strong>Paraty</strong> com toda<br />
<strong>sua</strong> estrutura urbana intacta e através <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> é o marco<br />
vivo <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong>ssa cultura <strong>em</strong> vastíssimo território.<br />
Macau, fundada <strong>em</strong> 1565, vai se organizar <strong>de</strong> forma pouco regular,<br />
ocupan<strong>do</strong> inicialmente uma estreita península, da ilha <strong>de</strong> mesmo nome,<br />
localizada na costa sul da China. Seu <strong>de</strong>senvolvimento ocorreu <strong>em</strong> vários<br />
núcleos centra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> conventos e <strong>de</strong> outros edifícios instituci-<br />
onais. A via estruturante era a rua Direita, que percorria a península <strong>em</strong><br />
toda <strong>sua</strong> extensão. Ao longo <strong>de</strong>sta rua articulavam-se vários edifícios re-<br />
ligiosos e outros equipamentos, alguns <strong>de</strong>les associa<strong>do</strong>s a largos e praças<br />
- como era o caso <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> - e que constituíam outros tantos<br />
núcleos <strong>de</strong> crescimento urbano. Os quarteirões <strong>de</strong> seu traça<strong>do</strong> urbano,<br />
que se esten<strong>de</strong> por <strong>sua</strong>ves colinas, não estão <strong>em</strong> posição ortogonal. Tam-<br />
bém aí os ex<strong>em</strong>plos <strong>do</strong>s primeiros séculos <strong>de</strong> <strong>sua</strong> colonização encontram-<br />
se <strong>de</strong>scontínuos, separa<strong>do</strong>s por construções <strong>de</strong> outra era, cultura e feição,<br />
<strong>em</strong> oposição à integrida<strong>de</strong> única <strong>do</strong> núcleo urbano apresenta<strong>do</strong> nesta
proposta. O <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> Macau, certamente, são as fortalezas. Sua pais-<br />
ag<strong>em</strong> insular não t<strong>em</strong> nenhuma s<strong>em</strong>elhança com as espetaculares mon-<br />
tanhas florestadas que ro<strong>de</strong>iam <strong>Paraty</strong>. Como Goa, Macau representa um<br />
império que se extinguiu. <strong>Paraty</strong> e o Brasil são hoje os mais expressivos<br />
ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> sucesso, <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> expansão marítima colonial.<br />
<strong>Paraty</strong> po<strong>de</strong> também ser comparada a Angra <strong>do</strong> Heroísmo, na ilha<br />
Terceira <strong>do</strong>s Açores, hoje inscrita na lista <strong>do</strong> Patrimônio Mundial. Mesmo<br />
sen<strong>do</strong> esta <strong>do</strong>is séculos anterior, há entre as duas cida<strong>de</strong>s uma série <strong>de</strong><br />
disposições urbanísticas que se ass<strong>em</strong>elham: quer na escolha <strong>do</strong>s sítios<br />
para a implantação inicial, quer na forma como estas cida<strong>de</strong>s evoluíram e<br />
se estruturaram nas primeiras fases <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento. Ambos os<br />
sítios escolhi<strong>do</strong> para implantação inicial apresentavam amplas baías<br />
abrigadas, com ótimas condições <strong>de</strong> porto natural, protegidas nos ex-<br />
tr<strong>em</strong>os por morros, promontórios ou ilhas que assegurass<strong>em</strong> fácil <strong>de</strong>fesa<br />
da entrada <strong>do</strong> porto e da cida<strong>de</strong>. Na fase inicial, esses núcleos popula-<br />
cionais eram simples estruturas <strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong> território adaptadas às<br />
condições geográficas pré-existentes e realizadas pelos próprios colonos.<br />
Em fases posteriores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, já contariam com o apoio <strong>de</strong><br />
técnicos <strong>de</strong> arruação. A inovação nos traça<strong>do</strong>s das cida<strong>de</strong>s marítimas por-<br />
tuguesas ocorre por meio <strong>de</strong> intervenções que reestruturam as malhas<br />
urbanos, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>los eruditos. Essas cida<strong>de</strong>s sintetizam a prática<br />
<strong>do</strong> planejamento medieval, com os <strong>em</strong>ergentes princípios teóricos <strong>do</strong> ur-<br />
banismo renascentista.<br />
139<br />
> A.M. – Igreja <strong>de</strong> Santa Rita
140<br />
As s<strong>em</strong>elhanças terminam aqui. Em Angra <strong>do</strong> Heroísmo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às con-<br />
dições topográficas ,o caminho estrutura<strong>do</strong>r da cida<strong>de</strong> se implantou no<br />
interior, distante <strong>do</strong> litoral, <strong>em</strong> local plano, que aos poucos viria a se trans-<br />
formar na rua principal <strong>do</strong> aglomera<strong>do</strong>. Uma forma <strong>de</strong> povoamento lin-<br />
ear <strong>de</strong>senvolvia-se ao longo <strong>de</strong>sse caminho. A cida<strong>de</strong> se reestruturou <strong>em</strong><br />
pouco mais <strong>de</strong> meio século, por ter assumi<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> importância como<br />
centro <strong>de</strong> construção naval, capital <strong>do</strong>s Açores. As ruas que cruzavam o<br />
eixo essencial e se dispunham perpendicularmente ao mar adquiriram<br />
uma importância crescente na estrutura da cida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong>-se progres-<br />
sivamente a direção <strong>do</strong>minante <strong>do</strong> traça<strong>do</strong>. A malha reticulada das ruas<br />
ajusta-se aos antigos eixos essenciais, cruza<strong>do</strong>s e aponta<strong>do</strong>s ao mar. Para-<br />
ty guar<strong>do</strong>u durante <strong>do</strong>is séculos as características <strong>do</strong> urbanismo tradi-<br />
cional português, só receben<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo urbano reticula<strong>do</strong> no século<br />
XIX. Isto fez com que preservasse, <strong>de</strong> forma sutil, o mo<strong>de</strong>lo linear anterior,<br />
que é senti<strong>do</strong> na curvatura das ruas principais, paralelas à orla. Embora o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento tenha ocorri<strong>do</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos diferentes e <strong>de</strong> formas difer-<br />
entes as duas cida<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>stacam pela regularida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s seus traça<strong>do</strong>s.<br />
Angra <strong>do</strong> Heroísmo alcançou a posição <strong>de</strong> importante escala das Rotas<br />
Atlânticas, papel que os Açores conservam até hoje. Não existe no en-<br />
tanto s<strong>em</strong>elhança com a posição <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que além <strong>de</strong> ser um porto<br />
ANÁLISE COMPARATIVA DAS DIFERENTES ROTAS EM TODO O MUNDO<br />
LOCAL DATA USO EIXO PRINCIPAL ALTITUDE<br />
<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
ouro<br />
Brasil<br />
<strong>Caminho</strong> <strong>de</strong><br />
santiago<br />
trecho espanha<br />
<strong>Caminho</strong>s<br />
comerciais <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>serto<br />
Oriente Médio<br />
Rota da seda<br />
oriente médio<br />
Asia<br />
<strong>Caminho</strong><br />
andino<br />
Peru - Equa<strong>do</strong>r<br />
Século XVII ao<br />
Século XIX<br />
Século IX ao<br />
Século XVI<br />
Século XX a.C.<br />
ao Século XX<br />
d.C.<br />
Século V a.C. ao<br />
Século XVI d.C.<br />
Século XII ao<br />
Século XVI<br />
Comercial ouro/<br />
café governamental<br />
Religioso<br />
peregrinag<strong>em</strong><br />
Comercial<br />
especiariais<br />
incenso religioso<br />
<strong>Paraty</strong>/ <strong>Ouro</strong><br />
Preto 800 km<br />
<strong>do</strong>s quais 15 km<br />
possíveis<br />
000 a 1.200 m<br />
Trecho 1.500 Km 200m a 600m<br />
Tiro/A<strong>de</strong>n -<br />
1,200 km<br />
000 a 600 m<br />
Comercial 5,000 km 000 a 2.200 m<br />
Comercial<br />
Governamental<br />
Santiago/Chile -<br />
23,000 km<br />
000 a 6.000 m
marítimo <strong>de</strong>flagrou o processo <strong>de</strong> uma rota importantíssima para to<strong>do</strong><br />
um continente na qual se consoli<strong>do</strong>u o intercâmbio comercial e cultural<br />
<strong>do</strong> interior da América <strong>do</strong> Sul com a Europa a África e com o to<strong>do</strong> o<br />
mun<strong>do</strong>. O significa<strong>do</strong> da floresta tropical e <strong>de</strong> <strong>sua</strong> biodiversida<strong>de</strong>, parte<br />
integrante <strong>de</strong> uma das mais amplas e importantes Reservas da Biosfera<br />
<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a MAB UNESCO, que serve <strong>de</strong> cenário a esta proposta, acentua<br />
<strong>de</strong> forma expressiva a diferenciação entre estes <strong>do</strong>is sítios.<br />
O caráter excepcional <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> dá-se pela conservação <strong>do</strong> caminho<br />
<strong>do</strong> ouro que atravessa a floresta tropical Atlântica, sen<strong>do</strong> este o primeiro<br />
caminho marítimo-terrestre que levou a civilização européia ao el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong><br />
brasileiro. O porto <strong>do</strong> ouro, vila marítima, é pelo menos, no Brasil, a única<br />
vila portuária <strong>do</strong> século XVII, que mantém intacta as características <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>pório comercial que <strong>em</strong> nenhum momento recebeu intervenção direta<br />
da Coroa no seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
A paisag<strong>em</strong> especial que abriga o sítio histórico <strong>do</strong> porto <strong>do</strong> ouro po-<br />
<strong>de</strong>ria ser comparada ao conjunto representa<strong>do</strong> por Nápoles e pela Costa<br />
Amalfitana, on<strong>de</strong> há também representações dramáticas <strong>de</strong> geologia<br />
que, <strong>de</strong>bruçadas sobre o oceano, constro<strong>em</strong> paisagens <strong>de</strong> excepcional<br />
beleza. A diferença entre a natureza tropical e a <strong>de</strong> clima t<strong>em</strong>pera<strong>do</strong> é<br />
expressiva. A riqueza da floresta atlântica, a luxuriante vegetação, os pás-<br />
CLIMA TRANSPORTE CONDIÇÃO UNIQUENESS<br />
Floresta tropical<br />
montanhoso<br />
cerra<strong>do</strong><br />
T<strong>em</strong>pera<strong>do</strong><br />
montanhoso<br />
Deserto<br />
sub-tropical<br />
Deserto<br />
montanhoso<br />
t<strong>em</strong>pera<strong>do</strong><br />
Tropical e<br />
sub. Tropical <strong>de</strong><br />
altitu<strong>de</strong><br />
Tropas <strong>de</strong> burros<br />
à pé<br />
À pé<br />
peregrinos<br />
Caravanas<br />
<strong>de</strong> camelos<br />
Caravana <strong>de</strong> camelos<br />
cavalos/ barcos<br />
Lhamas<br />
à pé<br />
peatonal 0-6456<br />
Proposta apresentada<br />
ouro preto diamantina<br />
Única floresta tropical<br />
1° lista sul<br />
1° convida<strong>do</strong> como<br />
ida<strong>de</strong><br />
Lista<strong>do</strong> Mais significativo<br />
religioso p/ cristianismo<br />
que renasce<br />
El<strong>em</strong>entos da rota já<br />
lista<strong>do</strong>s<br />
Importância p/ perío<strong>do</strong><br />
à que serviu<br />
Em estu<strong>do</strong> 1ª relação permanente<br />
Candidatura <strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento<br />
Relações précolombianas<br />
império<br />
inca - serviço<br />
141
142<br />
> T.V -, L.S, - FLIP<br />
saros e numerosos animais são expressivos, marcantes e únicos. Sob esse<br />
aspecto o cenário natural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o significa<strong>do</strong> histórico <strong>do</strong> caminho <strong>do</strong><br />
ouro, <strong>do</strong> seu porto e o conjunto urbano preserva<strong>do</strong> representam um con-<br />
junto que não po<strong>de</strong> ser representa<strong>do</strong> por nenhuma outra área já conhe-<br />
ci<strong>do</strong> ou já inscrita na lista <strong>do</strong> Patrimônio Mundial.<br />
3.d Autenticida<strong>de</strong> e integrida<strong>de</strong><br />
Durante 250 anos <strong>Paraty</strong> prosperou como a porta <strong>de</strong> entrada para o inte-<br />
rior brasileiro, e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou importante papel na economia <strong>do</strong> país<br />
ainda <strong>em</strong> formação. Paulatinamente afastada das gran<strong>de</strong>s linhas <strong>de</strong> inter-<br />
câmbio comercial, separada <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> Brasil por altas e escarpadas<br />
montanhas e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> transporte marítimo que então sofria com<br />
o assoreamento <strong>de</strong> seu porto, <strong>Paraty</strong>, no último quartel <strong>do</strong> século XIX,<br />
perdia relevância no cenário nacional. Somente po<strong>de</strong> sobreviver graças à
pesca artesanal, à produção <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> gêneros alimentícios <strong>de</strong><br />
subsistência.<br />
Para<strong>do</strong>xalmente, a ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong> que ocorreu <strong>em</strong> outras cida<strong>de</strong>s históri-<br />
cas <strong>do</strong> país, esses foram os fatores responsáveis pela preservação da pai-<br />
sag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Município. Permaneceram intactas as áreas florestadas das en-<br />
costas que compõ<strong>em</strong> a ca<strong>de</strong>ia montanhosa da Serra <strong>do</strong> Mar com seus<br />
caminhos <strong>de</strong> pedra. O espaço edifica<strong>do</strong> da se<strong>de</strong> <strong>do</strong> município constitui<br />
até hoje um <strong>do</strong>s conjuntos arquitetônicos mais harmoniosos e b<strong>em</strong> con-<br />
serva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> país. A população <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das transforma-<br />
ções sócio-econômicas, manteve <strong>sua</strong>s tradições ao longo <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos,<br />
não se incorporan<strong>do</strong> às exigências da indústria cultural. To<strong>do</strong>s esses bens<br />
foram classifica<strong>do</strong>s como patrimônio histórico e artístico nacional.<br />
A estagnação econômica <strong>do</strong> Município perdurou até 1976, quan<strong>do</strong> foi<br />
aberta a ro<strong>do</strong>via litorânea <strong>de</strong>nominada BR- 101 ligan<strong>do</strong> as duas maiores<br />
metrópoles <strong>do</strong> país Rio e São Paulo.<br />
Até 1945, quan<strong>do</strong> recebeu a primeira medida <strong>de</strong> proteção histórica<br />
legal, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentava-se como no terceiro quartel <strong>do</strong> sé-<br />
culo XIX. Não se notava qualquer crescimento da periferia urbana, exce-<br />
ção feita à algumas casas situadas ao longo da estrada da serra. Fora <strong>do</strong><br />
bairro histórico só existiam o prédio da Santa Casa e, ao norte, o Forte<br />
Defensor Perpétuo <strong>do</strong>minan<strong>do</strong> a baía, conforme pod<strong>em</strong>os comparar por<br />
mapa <strong>de</strong> época e <strong>de</strong> fotografia <strong>de</strong> 1950.<br />
A <strong>de</strong>limitação <strong>do</strong> sítio histórico urbano foi <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> 1947, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
então ten<strong>do</strong> cabi<strong>do</strong> ao IPHAN a incumbência <strong>de</strong> acompanhar as obras <strong>de</strong><br />
restauração das edificações históricas, evitan<strong>do</strong> <strong>de</strong>scaracterizações e tam-<br />
bém, a elaboração <strong>do</strong>s planos urbanísticos <strong>do</strong> Município, que até então,<br />
permitiram não ser rompida a relação <strong>do</strong> espaço edifica<strong>do</strong> com a paisa-<br />
g<strong>em</strong> circundante. Nas décadas <strong>de</strong> 1950 e 60 o IPHAN efetivou <strong>sua</strong>s áreas<br />
protegidas. Em 1974 esten<strong>de</strong>u, para to<strong>do</strong> o Município, a proteção como<br />
patrimônio cultural nacional, por enten<strong>de</strong>r que <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> o espaço cons-<br />
truí<strong>do</strong> e o meio natural se compl<strong>em</strong>entam e se interpenetram. Único mu-<br />
nicípio <strong>do</strong> Brasil inscrito integralmente <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os Livros <strong>de</strong> Tombo <strong>do</strong><br />
Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: Livro das Belas Ar-<br />
tes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.<br />
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144<br />
> DJOB – <strong>Paraty</strong> e a<br />
Serra da Bocaina<br />
A presença da Serra <strong>do</strong> Mar, tão importante e imponente na paisag<strong>em</strong> da<br />
cida<strong>de</strong> é objeto <strong>de</strong> proteção pelo Decreto nº 68.172, que cria o Parque<br />
Nacional da Serra da Bocaina <strong>em</strong> 4 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1971, posteriormente<br />
retifica<strong>do</strong> pelo Decreto nº 70.694 <strong>em</strong> 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1972. O Instituto<br />
Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente e Recursos Renováveis - IBAMA órgão res-<br />
ponsável pela proteção <strong>do</strong> patrimônio natural <strong>do</strong> Brasil esten<strong>de</strong>u, <strong>em</strong><br />
1983, a proteção para todas as <strong>sua</strong>s ilhas e vertente sul <strong>do</strong> Município, a<br />
partir <strong>de</strong> <strong>sua</strong> se<strong>de</strong>, crian<strong>do</strong> a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental - APA <strong>do</strong> Cairu-<br />
çu e Estação Ecológica <strong>do</strong>s Tamoios, que protege integralmente 8 ilhas e<br />
seu entorno marinho.<br />
A Serra <strong>do</strong> Mar encontra-se recoberta pela floresta protegida <strong>de</strong>nsa.<br />
No seu estágio clímax é a mata mais nobre, que impressiona e intimida o<br />
visitante, consi<strong>de</strong>rada a vegetação <strong>de</strong> máxima expressão local. É compos-<br />
ta por árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte forman<strong>do</strong> um <strong>do</strong>ssel fecha<strong>do</strong>, alcançan<strong>do</strong><br />
alturas <strong>de</strong> 30 a 35 m, com árvores <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> metro <strong>de</strong> diâmetro, carac-<br />
terizada pela abundância <strong>de</strong> lianas lenhosas e epífitas, <strong>de</strong>ntre as quais se<br />
<strong>de</strong>stacam bromélias e orquí<strong>de</strong>as, paisag<strong>em</strong> que inspirou artistas <strong>do</strong> sécu-<br />
lo XIX como o holandês Rugendas, autor das gravuras que primeiro retra-<br />
taram a exuberância <strong>de</strong>sse cenário. No estrato inferior, herbáceo e arbus-<br />
tivo, <strong>de</strong>stacam-se, <strong>de</strong>ntre outras, marantáceas e floridas helicônias,<br />
vulgarmente conhecidas por bico <strong>de</strong> papagaio. Graças à <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> da<br />
área, à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso e a um histórico <strong>de</strong> ocupação restrita, a<br />
ocorrência <strong>de</strong> rica fauna silvestre ficou protegida.<br />
No trecho situa<strong>do</strong> no Parque Nacional da Serra da Bocaina, o <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> encontra-se tal como foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> no século XIX, após quase<br />
três séculos como uma das principais vias <strong>de</strong> penetração. Esse test<strong>em</strong>u-<br />
nho da história <strong>do</strong> Brasil e da América <strong>do</strong> Sul, amplamente utiliza<strong>do</strong> no<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> país, principalmente no sé-<br />
culo XVII, encontra-se hoje íntegro e autêntico.
As ban<strong>de</strong>iras, expedições cujo objetivo era a procura <strong>de</strong> riqueza no interior<br />
como o ouro e diamante, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> litoral e passan<strong>do</strong> por este caminho,<br />
contribuíram significativamente para ocupar e povoar o interior <strong>do</strong> Brasil,<br />
fundan<strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>s, crian<strong>do</strong> vilas e dan<strong>do</strong> início à exploração minera<strong>do</strong>ra.<br />
Sua atuação, contu<strong>do</strong>, foi <strong>de</strong>cisiva na consolidação da presença portugue-<br />
sa além da linha <strong>de</strong>limitada pelo trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas e ampliou consi<strong>de</strong>-<br />
ravelmente as fronteiras da colônia. Para resolver as contínuas disputas<br />
entre espanhóis e portugueses, foi assina<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 1750, um novo trata<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> limites, o <strong>de</strong> Madri. Por aqui passaram to<strong>do</strong>s que acorriam ao interior<br />
<strong>do</strong> Brasil <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> riquezas e que <strong>de</strong>ram ao país, como alargamento<br />
<strong>de</strong> <strong>sua</strong>s fronteiras, as proporções continentais que hoje t<strong>em</strong>.<br />
Nesse caminho, preserva<strong>do</strong> pela floresta da Serra <strong>do</strong> Mar, ainda encon-<br />
tramos r<strong>em</strong>anescentes integra<strong>do</strong>s, tais como el<strong>em</strong>entos <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />
fesa e <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> ouro. I<strong>de</strong>ntificam-se ruínas da casa <strong>do</strong> regimento <strong>de</strong><br />
uma das casas <strong>de</strong> quinto. Essas casas tinham por objetivo cobrar o impos-<br />
to <strong>de</strong> 20%, ou seja, um quinto <strong>do</strong> ouro extraí<strong>do</strong>, relativo à extração <strong>do</strong><br />
ouro e também controlar os viajantes, a circulação <strong>de</strong> escravos e merca<strong>do</strong>-<br />
rias, que <strong>em</strong> geral eram taxa<strong>do</strong>s. Os marcos naturais <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação cita-<br />
<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>cumentos históricos ainda possu<strong>em</strong> a mesma <strong>de</strong>nominação.<br />
Na época colonial o diamante também circulou por este caminho e,<br />
posteriormente, no Império, o café o reativou, fazen<strong>do</strong> circular não só a<br />
produção cafeeira como gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manufaturas e produtos <strong>de</strong><br />
luxo encomenda<strong>do</strong>s pelos Barões <strong>do</strong> Café <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba.<br />
Tanto no perío<strong>do</strong> colonial como no imperial, as tropas ou caravanas <strong>de</strong><br />
animais eqüí<strong>de</strong>os se constituíram no principal meio <strong>de</strong> transporte terres-<br />
tre <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias no Brasil (Anexo). Possuíam normas especiais para<br />
entrar no espaço urbano, ficavam no Campo da Lavag<strong>em</strong>, espaço <strong>do</strong> qual<br />
não sobrou nenhum test<strong>em</strong>unho <strong>em</strong> nenhuma cida<strong>de</strong> no Brasil e que<br />
145
146<br />
> A.M. – Cotia,<br />
Preguiça, Furão,<br />
Tamandua-Mirim,<br />
macaco-prego, tucano<br />
ainda po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, hoje ocupa<strong>do</strong> por um campo <strong>de</strong><br />
futebol. Junto a esse campo encontra-se o Portão <strong>de</strong> Ferro da chácara <strong>de</strong><br />
mesmo nome que funcionou como Posto Fiscal <strong>do</strong> Império, e uma casa,<br />
raro ex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong> residência rural <strong>do</strong> litoral su<strong>de</strong>ste. Outro el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong><br />
referência no espaço urbano, amplamente cita<strong>do</strong> nos livros <strong>de</strong> escrituras<br />
<strong>do</strong> século XVIII, é o Oratório da Cruz das Almas, on<strong>de</strong> eram feitas orações<br />
para os que faleciam na travessia da serra.<br />
A vila portuária, primeiro porto <strong>do</strong> ouro <strong>do</strong> Brasil, guarda construções<br />
<strong>do</strong>s séculos XVIII e XIX, sen<strong>do</strong> a única cida<strong>de</strong> portuária brasileira que con-<br />
serva características <strong>de</strong> <strong>em</strong>pório comercial, s<strong>em</strong> construções ricas, luxuo-<br />
sas ou suntuosas, cuja única exceção é a Igreja Matriz. Pod<strong>em</strong>os observar<br />
o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> armazéns, principalmente na área junto ao porto,<br />
praça da Ban<strong>de</strong>ira. (foto Samuel Costa e atual). A arquitetura paratiense<br />
caracteriza-se por possuir a incrível capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptar-se às condi-<br />
ções climáticas que apresentam t<strong>em</strong>peratura quente e alto índice pluvio-<br />
métrico. Embasamentos, estruturas e cunhais <strong>em</strong> pedra das edificações<br />
mantêm-se íntegros. A configuração das ruas e espaços livres públicos, o<br />
traça<strong>do</strong> urbano e o calçamento estão integralmente preserva<strong>do</strong>s.<br />
Sobre o encontro das águas <strong>do</strong> mar com a cida<strong>de</strong> pronunciou-se o<br />
maior arquiteto urbanista <strong>do</strong> Brasil, Lucio Costa:<br />
“... Porque <strong>Paraty</strong> é a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> os caminhos <strong>do</strong> mar e os<br />
caminhos da terra se encontram, melhor, se entrosam. As<br />
águas não são barradas, mas avançam cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntro levadas<br />
pela Lua ...”
O forte Defensor Perpétuo, situa<strong>do</strong> no alto da Ponta da Defesa, com ele-<br />
mentos integra<strong>do</strong>s como o alojamento, o terrapleno, as trincheiras, os<br />
canhões e a casa da pólvora separada <strong>do</strong> prédio principal, foi o principal<br />
no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong>. Esse conjunto situa-se no alto <strong>do</strong> morro<br />
da vila velha, atual morro <strong>do</strong> Forte, on<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> foi fundada. Hoje toda<br />
a elevação pertence à União. O alojamento foi restaura<strong>do</strong> nos anos <strong>de</strong><br />
1970, com fins <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> <strong>sua</strong> integrida<strong>de</strong> e abriga o Museu <strong>de</strong><br />
Artes e Tradições Populares <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. A casa <strong>de</strong> pólvora separada <strong>do</strong><br />
prédio principal é um <strong>do</strong>s poucos ex<strong>em</strong>plares <strong>do</strong> gênero no país.<br />
Como cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância portuária, sofreu várias influên-<br />
cias <strong>em</strong> <strong>sua</strong> cultura e costumes, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong>, é claro, as tradições por-<br />
tuguesas e européias que lá se aninharam. O carnaval é um misto <strong>do</strong><br />
ibérico com influências francesa e italiana, traduzida nas máscaras <strong>de</strong><br />
papel machê e nos solitários mascara<strong>do</strong>s <strong>do</strong> carnaval <strong>de</strong> Veneza. As folias<br />
são r<strong>em</strong>iniscências <strong>do</strong>s trova<strong>do</strong>res medievais, que exist<strong>em</strong> até hoje nos<br />
Açores, com a mesma forma, músicos e funções. A S<strong>em</strong>ana Santa é mais<br />
espanhola que portuguesa, nos mol<strong>de</strong>s sevilhanos. A Festa <strong>do</strong> Divino Es-<br />
pírito Santo, mais ass<strong>em</strong>elhada à que acontece nos Açores é altamente<br />
diferente da <strong>de</strong> Portugal continental. As festas juninas r<strong>em</strong>ontam, s<strong>em</strong><br />
dúvida, ao Minho português, especialmente a festa <strong>de</strong> <strong>do</strong> Santoínho,<br />
corruptela <strong>de</strong> Santo Antoninho, <strong>de</strong> Viana <strong>do</strong> Castelo. Essa mescla <strong>de</strong> cul-<br />
tura, agregada à <strong>do</strong>s índios e à <strong>do</strong>s negros africanos, resultou no que se<br />
po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> religião e cultura paratiense.<br />
Nas Zonas <strong>de</strong> Proteção da Vida Silvestre da APA <strong>de</strong> Cairuçu e Reserva<br />
Ecológica da Juatinga, <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> proteção estadual, b<strong>em</strong> como nas<br />
147
148<br />
> A.M. – Folha <strong>de</strong> samambaia
vertentes <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, ainda pod<strong>em</strong> ser en-<br />
contra<strong>do</strong>s alguns <strong>do</strong>s maiores e mais raros mamíferos da Mata Atlântica,<br />
como a onça pintada (Panthera onca), a suçuarana (Felis concolor), <strong>de</strong> cor<br />
par<strong>do</strong>-amarelada e o muriqui ou mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi-<br />
<strong>de</strong>s, o maior primata das Américas.<br />
Nessa área, das 156 espécies <strong>de</strong> mamíferos não-voa<strong>do</strong>res com distribui-<br />
ção para a Mata Atlântica levanta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 1996, foram registradas 64 espé-<br />
cies, boa parte <strong>de</strong>las ameaçadas <strong>de</strong> extinção conforme listag<strong>em</strong> <strong>do</strong> IBAMA,<br />
sen<strong>do</strong> cinco espécies endêmicas da Mata Atlântica, o ouriço-cacheiro (Sphi-<br />
ggurus villosus), o sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita), o bugio (Alouat-<br />
ta fusca), o macaco-prego (Cebus apella nigritus) e o mono-carvoeiro.<br />
Foram registradas 394 espécies diferentes <strong>de</strong> aves para a região que<br />
abrange a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> território <strong>do</strong> Parque Nacional e APA <strong>de</strong> Cairuçú.<br />
Destas espécies, 135 são apontadas como espécies endêmicas <strong>do</strong> Domí-<br />
nio da Floreta Atlântica. Cerca <strong>de</strong> 13 espécies estão ameaçadas <strong>de</strong> extin-<br />
ção como o macuco, papagaio chauá, papagaio <strong>do</strong> peito roxo, pixoxó,<br />
sabiá cica. Todas essas espécies são o melhor indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sta floresta, cuja riqueza vegetal, na APA <strong>de</strong> Cairucu, chega a quase<br />
1000 espécies <strong>de</strong> plantas superiores (angiospermas), 115 espécies <strong>de</strong> sa-<br />
mambaias e 117 espécies <strong>de</strong> algas marinhas.<br />
A área <strong>de</strong> proteção ambiental da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi criada através da<br />
Lei Municipal no. 685/84 e seu propósito é <strong>de</strong> proteger a fauna marinha<br />
e os recursos pesqueiros na área composta pelas baías <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Parati-<br />
Mirim, Saco <strong>do</strong> Fundão e Saco <strong>do</strong> Mamanguá.<br />
Já a Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, instituída pelo <strong>de</strong>creto fe<strong>de</strong>ral n°<br />
98.864, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1990, é uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong><br />
proteção integral que visa a preservação integral <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> 29<br />
ilhas, ilhotas, lajes e roche<strong>do</strong>s com abrangência <strong>de</strong> 1km na area marinha<br />
ao seu re<strong>do</strong>r , nos municípios <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e Angra <strong>do</strong>s Reis.<br />
No município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a ESEC Tamoios sobrepõe a APA <strong>de</strong> Cairuçu nas<br />
Ilhas <strong>do</strong> Catimbau, <strong>do</strong>s Ganchos, das Palmas, Comprida e Gran<strong>de</strong> (<strong>em</strong> Ta-<br />
rituba), Pequena, Araçatiba, Laje <strong>do</strong> Cesto, Ilha Araraquarinha e Araraqua-<br />
ra, Ilha Jurubaiba, Roche<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Pedro e Ilha <strong>do</strong> Algodão (<strong>do</strong> norte).<br />
Em nível estadual, foi criada a Reserva Ecológica da Juatinga, subordi-<br />
nada ao IEF- Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, com 8.000<br />
ha, protegen<strong>do</strong> o maciço e contrafortes <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçu, on<strong>de</strong> viv<strong>em</strong><br />
149
150<br />
> A.M. – Bromélia<br />
da pesca e <strong>do</strong> turismo as comunida<strong>de</strong>s tradicionais <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />
Saco <strong>do</strong> Mamanguá, Cajaíba, Juatinga, Ponta Negra e Praia <strong>do</strong> Sono. Esta<br />
É a única criada por Lei Estadual, <strong>de</strong> no 1.859, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1991,<br />
e pelo Decreto No 17.981 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1992. A Reserva encon-<br />
tra-se inserida <strong>em</strong> <strong>sua</strong> totalida<strong>de</strong> na APA <strong>do</strong> Cairuçu, e seu uso é muito<br />
mais restrito.<br />
Em 2006, o Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente criou o Mosaico Bocaina,<br />
por meio da Portaria Ministerial 349, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro, objetivan<strong>do</strong><br />
integrar e aperfeiçoar a gestão e proteção <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
conservação fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais da região <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e Angra<br />
<strong>do</strong>s Reis no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> outras no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
São Paulo, localizadas na área <strong>de</strong> influencia <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra<br />
da Bocaina.<br />
Esse conjunto forma<strong>do</strong> pelos mais significativos r<strong>em</strong>anescentes <strong>do</strong> pri-<br />
meiro caminho <strong>do</strong> ouro da Américas, pela mais homogênea das cida<strong>de</strong>s<br />
<strong>do</strong> império luso e pela paisag<strong>em</strong> singular da Serra <strong>do</strong> Mar e da Mata<br />
Atlântica é autêntica e <strong>de</strong>tém <strong>sua</strong> integrida<strong>de</strong> singular, única entre to<strong>do</strong>s<br />
os r<strong>em</strong>anescentes da expansão portuguesa.
4 Esta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> conservação e<br />
fatores que afetam o b<strong>em</strong><br />
4.a Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação atual<br />
MEIO FÍSICO<br />
A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, está muito<br />
b<strong>em</strong> conservada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s encostas e conseqüen-<br />
te dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao seu interior, na maior parte <strong>do</strong> seu território.<br />
A área é recoberta pela floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa, apresenta excelentes<br />
níveis <strong>de</strong> preservação. No extr<strong>em</strong>o sul <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> o Parque<br />
protege também 3 praias, uma ilha e uma porção <strong>de</strong> área marinha.<br />
Adjacente ao Parque, a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>do</strong> Cairuçú<br />
é responsável pela proteção não só da flora e fauna, como também <strong>do</strong>s<br />
sist<strong>em</strong>as estuarinos <strong>do</strong> Saco <strong>do</strong> Mamanguá e baía <strong>de</strong> Parati-Mirim. al<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> todas as 63 ilhas e ilhotes <strong>do</strong> municipio.<br />
Sobreposta a APA t<strong>em</strong>os a Reserva Ecológica da Juatinga,<br />
que correspon<strong>de</strong> ao maciço <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçú, que <strong>do</strong>mina<br />
a paisag<strong>em</strong> meridional da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> como<br />
marco notável a Ponta da Juatinga, promontório rochoso<br />
que marca a entrada da baía <strong>de</strong> Parati. Nestas áreas, isola-<br />
das, pois o acesso só é possível <strong>de</strong> barco, encontramos co-<br />
munida<strong>de</strong>s caiçaras (mestiço <strong>do</strong> índio, afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e<br />
colonos europeus), que ainda guardam no seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida<br />
às ativida<strong>de</strong>s tradicionais como pesca, agricultura <strong>de</strong> subsis-<br />
tência e artesanato.<br />
O Parque Nacional da Serra da Bocaina está situa<strong>do</strong> na<br />
porção da Serra <strong>do</strong> Mar <strong>em</strong> que vertentes íngr<strong>em</strong>es formam<br />
verda<strong>de</strong>iro anfiteatro volta<strong>do</strong> para a baia da Ilha Gran<strong>de</strong>, na<br />
região <strong>de</strong> divisa <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo,<br />
abrangen<strong>do</strong> os municípios <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s Reis, <strong>Paraty</strong>, Ubatuba,<br />
Cunha, Areias e São José <strong>do</strong> Barreiro. Com 104 mil hectares, é a<br />
maior unida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> proteção integral da Mata Atlântica na<br />
região costeira <strong>do</strong> Brasil.
152<br />
> A.M. – Jequitibá na<br />
Serra da Bocaina<br />
Seus pontos culminantes, com mais <strong>de</strong> 2 mil metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, encon-<br />
tram-se no planalto da Bocaina, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, cujas monta-<br />
nhas a noroeste <strong>de</strong>sc<strong>em</strong> ora abruptas ora mais <strong>sua</strong>ves pelos mares <strong>de</strong><br />
morros <strong>em</strong> direção ao Vale <strong>do</strong> Paraíba. Na região da divisa entre os esta-<br />
<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro o Parque Nacional é sobreposto pelo<br />
Parque Estadual da Serra <strong>do</strong> Mar, <strong>em</strong> São Paulo, e à APA <strong>de</strong> Cairuçu, <strong>em</strong><br />
<strong>Paraty</strong>, na qual está inserida a Reserva Ecológica da Juatinga. Estas áreas<br />
protegidas atualmente faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong> Mosaico Bocaina, cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2006<br />
pelo Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente.<br />
A maior importância regional <strong>do</strong> Parque Nacional consiste <strong>em</strong> integrar<br />
extenso corre<strong>do</strong>r contínuo <strong>de</strong> Mata Atlântica entre Rio <strong>de</strong> Janeiro e São<br />
Paulo, abrigan<strong>do</strong> no Planalto da Bocaina as cabeceiras <strong>do</strong> Rio Paraíba <strong>do</strong><br />
Sul, cuja bacia abastece as cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba e Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina compreen<strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>s, climas e relevos, que abrigam diferentes ecossiste-
mas, inclusive costeiros e marinhos, que formam nichos e refúgios ecoló-<br />
gicos, e apresentam uma cobertura vegetal ainda não totalmente estuda-<br />
da. Esta riqueza <strong>de</strong> ambientes nos leva a afirmar que o seu território<br />
apresenta um <strong>do</strong>s maiores índices <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntre as unida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> conservação da Mata Atlântica no Brasil.<br />
Cerca <strong>de</strong> 85% da área <strong>do</strong> Parque é recoberta por Floresta Ombrófila<br />
Densa, constituída principalmente por formações secundárias. A Floresta<br />
Ombrófila Densa Submontana fica entre 50 e 700 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, e ocupa<br />
cerca <strong>de</strong> 26% <strong>do</strong> Parque. Nas encostas mais altas e nas escarpas voltadas<br />
para o mar, encontram-se as formações mais exuberantes da Mata Atlân-<br />
tica, com árvores que alcançam <strong>de</strong> 24 a 28 m <strong>de</strong> altura, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> – se<br />
o jequitibá, o cedro e a massaranduba.<br />
Já no alto <strong>do</strong>s planaltos e da serra, na faixa <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 600 e 1.500<br />
m, concentra-se boa parte das florestas primárias, com pre<strong>do</strong>mínio da<br />
Floresta Ombrófila Densa Montana, que ocupa cerca <strong>de</strong> 54% da área <strong>do</strong><br />
Parque. Neste ambiente foi <strong>de</strong>scrita recent<strong>em</strong>ente uma nova espécie <strong>de</strong><br />
bromélia, a Fernseea bocainensis, endêmica <strong>do</strong> altiplano da Bocaina.<br />
FAUNA E FLORA<br />
Foram listadas no Parque Nacional da Serra da Bocaina 40 espécies <strong>de</strong><br />
mamíferos terrestres e 294 <strong>de</strong> aves, com 10 espécies <strong>de</strong> mamíferos e 12<br />
<strong>de</strong> aves ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção. Cinco espécies <strong>de</strong> mamíferos são endê-<br />
micas da Mata Atlântica: ouriço-cacheiro (Sphiggurus villosus), sagüi-da-<br />
serra-escuro (Callithrix aurita), bugio (Alouatta fusca), macaco-prego (Ce-<br />
bus apella nigritus) e mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior<br />
primata das Américas.<br />
As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a con-<br />
centração da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, com <strong>de</strong>staque<br />
para felinos como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a onça-parda (Puma<br />
concolor) e outros mais raros, como o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno (Leopardus<br />
tigrinus) e a onça-pintada (Panthera onça), cuja ocorrência é confirmada<br />
por mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Trinda<strong>de</strong> e Patrimônio, na divisa entre São Paulo e rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro. São raros os registros <strong>de</strong> anta (Tapirus terrestris) , o maior ma-<br />
mífero brasileiro.<br />
Das espécies <strong>de</strong> aves, 44% são apontadas como espécies endêmicas<br />
<strong>do</strong> Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar entre outras o macuco (Tina-<br />
153
154<br />
mus solitarius), a jacutinga (Pipile jacutinga) e a sabiá cica (Tricla-<br />
ria malachitacea) como raras e ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />
No trecho da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, entre as cotas 650 e<br />
1.000 m, a aplicação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Avaliação Ecológica Rápida<br />
pela equipe <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional permitiu<br />
registrar 112 espécies <strong>de</strong> aves, sen<strong>do</strong> 53 <strong>de</strong>las (47,3%) endêmi-<br />
cas <strong>do</strong> Domínio Atlântico. Deste total, 9 espécies estão pre-<br />
sumidamente ameaçadas e 1 ameaçada <strong>de</strong> extinção: o<br />
sabiá-cica (Triclaria malachitacea) (Collar et al.,<br />
1.992; Wege and Long, 1.995). Entre as 112<br />
espécies, 6 pod<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas<br />
indica<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ambiente florestal<br />
contínuo no Domínio Atlântico:<br />
Pionopsitta pileata, Triclaria mala-<br />
chitacea, Campephilus robustus,<br />
Chamaeza meruloi<strong>de</strong>s, Carpornis cucullatus<br />
e Ilicura militaris.<br />
Esta área apresenta alto valor histórico e estético, b<strong>em</strong> como precioso<br />
recurso educacional e <strong>de</strong> pesquisa científica. O traça<strong>do</strong> da <strong>Paraty</strong>-Cunha<br />
<strong>de</strong>ve ser entendi<strong>do</strong> como estratégico para a educação ambiental, o ecotu-<br />
rismo e a conservação da Mata Atlântica, um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> uso que atenda<br />
às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> fluxo regional e <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />
A Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>do</strong> Cairuçú é responsável pela<br />
proteção não só da flora e fauna, como também <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as estuarinos<br />
<strong>do</strong> Saco <strong>do</strong> Mamanguá e baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>-Mirim, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> todas as 63 ilhas<br />
e ilhotes <strong>do</strong> municipio. Sobreposta à APA encontra-se a Reserva Ecológica<br />
da Juatinga, que correspon<strong>de</strong> ao maciço <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçú, ponto cul-<br />
minante na paisag<strong>em</strong> meridional da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> como<br />
marco notável a Ponta da Juatinga, promontório rochoso que marca a<br />
entrada da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
Nestas áreas, isoladas, pois o acesso só é possível <strong>de</strong> barco, encontra-<br />
mos comunida<strong>de</strong>s caiçaras (mestiços <strong>do</strong> índio, afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e colo-<br />
nos europeus), que ainda guardam no seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida ativida<strong>de</strong>s tradi-
cionais como pesca e agricultura <strong>de</strong> subsistência, b<strong>em</strong> como a utilização<br />
<strong>de</strong> tecnologias patrimoniais que inclu<strong>em</strong> o fabrico artesanal da farinha <strong>de</strong><br />
mandioca, as técnicas construtivas com pau-a-pique e taipa <strong>de</strong> mão, co-<br />
berturas <strong>de</strong> sapê, confecção <strong>de</strong> canoas, r<strong>em</strong>os, gamelas, cestos diversos<br />
e mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> artes diferentes <strong>de</strong> pesca artesanal.<br />
A Zona <strong>de</strong> Vida Silvestre da APA <strong>de</strong> Cairuçu é quase totalmente reco-<br />
berta pela Floresta Ombrófila Densa, <strong>em</strong> vários estágios <strong>de</strong> regeneração,<br />
mas sobretu<strong>do</strong> naqueles mais avança<strong>do</strong>s.<br />
Nesta área se encontram as praias <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, as ilhas fora <strong>do</strong> perímetro<br />
da baía, as comunida<strong>de</strong>s caiçaras e os bairros rurais. A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> popula-<br />
cional <strong>do</strong> município chega a 32 habitantes/km 2 , mas a ocupação se con-<br />
centra nas praias <strong>de</strong> Trinda<strong>de</strong>, Laranjeiras, Sono, Ponta Negra, Cajaíba,<br />
Saco <strong>do</strong> Mamanguá, <strong>Paraty</strong> Mirim, Guerra, Tarituba e Mambucaba, es-<br />
ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se para o interior no vale <strong>do</strong> rio Mambucaba e ao longo <strong>do</strong>s<br />
rios Carapitanga, <strong>Paraty</strong> Mirim, Mateus Nunes, Perequê-Açu, Barra Gran-<br />
<strong>de</strong>, Taquari e São Gonçalo.<br />
A região da APA <strong>de</strong> Cairuçu, que ocupa quase 1/3 <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong> foi mapeada a partir <strong>de</strong> fotos aéreas <strong>de</strong> 1995 e imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> satélite<br />
<strong>de</strong> 2000; o uso <strong>de</strong> seu solo foi amplamente discuti<strong>do</strong> e<br />
resultou <strong>em</strong> cartografia que <strong>de</strong>limita as<br />
áreas para ocupação e aquelas<br />
para proteção.<br />
Possui especial impor-<br />
tância, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a pre-<br />
155
156<br />
sença, <strong>em</strong> seus limites, <strong>do</strong>s diversos tipos <strong>de</strong> vegetação da mata atlântica<br />
meridional. Isto ocorre <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a gran<strong>de</strong> diferença altitudinal abrangen<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> restinga e matas palu<strong>do</strong>sas ao nível <strong>do</strong> mar até matas <strong>de</strong><br />
neblina e o pico <strong>do</strong> Cairuçu.<br />
Nas áreas mais baixas estão os habitats <strong>de</strong> influência flúvio-marítima<br />
como as áreas <strong>de</strong> praias, costões rochosos, brejos salobros, restingas e<br />
mangues. A<strong>de</strong>ntran<strong>do</strong>-se o interior começam a aparecer formações flo-<br />
restais ocorren<strong>do</strong> nas áreas <strong>de</strong> solos inundáveis pequenos trechos <strong>de</strong> ma-<br />
tas palu<strong>do</strong>sas e nas <strong>de</strong> solo profun<strong>do</strong> e seco entre os terrenos costeiros e<br />
a encosta abrupta, reduzi<strong>do</strong>s trechos da floresta <strong>de</strong> planície.<br />
BAIA DE PARATY<br />
Des<strong>de</strong> a abertura da ro<strong>do</strong>via Rio Santos, BR 101, <strong>em</strong> 1974, observou-se um<br />
progressivo crescimento da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. A região costeira, antes habi-<br />
tada por pesca<strong>do</strong>res, passou a ser ocupada por residências <strong>de</strong> veraneio. As<br />
ilhas, antes <strong>de</strong>sertas, passaram a abrigar bares, restaurantes e mansões.<br />
A floresta ainda pre<strong>do</strong>mina na região, porém, a localida<strong>de</strong> da Boa Vista<br />
foi ocupada por marinas e, a Ponta Grossa, um costão rochoso, por resi-<br />
dências <strong>de</strong> veraneiro, fatos que alteraram a imag<strong>em</strong> representada por De-<br />
bret <strong>em</strong> <strong>sua</strong> aquarela. Pod<strong>em</strong>os também verificar o a<strong>de</strong>nsamento urbano<br />
na Ilha <strong>do</strong> Araújo e Praia Gran<strong>de</strong>.<br />
Os canhões <strong>do</strong> Bom Jardim, a roda <strong>de</strong> ferro da praia <strong>do</strong><br />
Engenho, o casarão da Boa Vista e os ban<strong>do</strong>s <strong>de</strong> biguás,<br />
trinta réis e gaivotões que habitam ilhotas e lajes ainda nos<br />
r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a um t<strong>em</strong>po antigo, <strong>em</strong> que pesca<strong>do</strong>res traziam<br />
meros, lulas, garoupas e robalos enormes, muita tainha,<br />
muito camarão e até lagosta. Mas a especulação imobiliária,<br />
o turismo predatório, a pesca <strong>de</strong> arrasto e os efluentes da<br />
cida<strong>de</strong> vêm <strong>em</strong>pobrecen<strong>do</strong> a baía, <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> e <strong>sua</strong><br />
fauna marinha.<br />
<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1)<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> fez <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a primeira rota<br />
para a colonização <strong>do</strong> interior e foi construí<strong>do</strong>
com a participação <strong>de</strong> diversos brasileiros, começan<strong>do</strong> pelas nações nati-<br />
vas representadas pelos Goiamimins que abriram a primeira passag<strong>em</strong> e<br />
<strong>de</strong>pois, pela engenharia <strong>do</strong>s portugueses e negros que entraram com o<br />
suor e fizeram o trabalho físico <strong>de</strong> calçar e cuidar.<br />
O calçamento, <strong>em</strong> pedra seca, possui trechos <strong>de</strong> até 10 metros <strong>de</strong> largura,<br />
muros <strong>de</strong> arrimo <strong>de</strong> até cinco metros <strong>de</strong> altura que acompanham as curvas<br />
<strong>de</strong> nível da serra, marco <strong>de</strong> sesmaria; sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> águas plu-<br />
viais com drenos e bueiros <strong>em</strong> cantaria – uma especialida<strong>de</strong> portuguesa.<br />
Ao longo <strong>do</strong> percurso se i<strong>de</strong>ntificam vestígios <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> da<br />
Cachoeira e ruínas da Casa <strong>do</strong> Regimento, com total visibilida<strong>de</strong> da cida-<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e da Ilha <strong>do</strong> Mantimento, on<strong>de</strong> aportavam as <strong>em</strong>barcações<br />
vindas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
Os trechos mais preserva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> provavelmente são os mais<br />
recentes, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX e estão próximos ao campo <strong>de</strong> futebol<br />
<strong>do</strong> bairro <strong>do</strong> Souza e <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Sítio Histórico Ecológico <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, no interior <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />
Nesses trechos, o calçamento é feito com gran<strong>de</strong>s lajes, obtidas da<br />
explosão controlada <strong>de</strong> rochas, que formam três <strong>de</strong>senhos básicos. Um<br />
> A.M - Saco <strong>do</strong><br />
Mamangua<br />
157
158<br />
<strong>de</strong>les é a capistrana, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s lajes ficam no centro <strong>do</strong> calçamento,<br />
como nas ruas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e, provavelmente, cida<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas. Ou-<br />
tro é o enxaimel, on<strong>de</strong> elas ficam <strong>em</strong> X, com lajes menores no centro. O<br />
terceiro é o <strong>em</strong>oldura<strong>do</strong>, com lajes gran<strong>de</strong>s ou média nas beiradas e me-<br />
nores no centro.<br />
O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> é excepcionalmente b<strong>em</strong> construí<strong>do</strong> e seu<br />
sist<strong>em</strong>a construtivo é <strong>do</strong> século XIX, manten<strong>do</strong> s<strong>em</strong>elhanças com a Estra-<br />
da Real, no trecho entre <strong>Ouro</strong> Preto e <strong>Ouro</strong> Branco, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas<br />
Gerais, que foi reforma<strong>do</strong> a man<strong>do</strong> <strong>de</strong> D. Pedro I, primeiro impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
Brasil, logo após <strong>sua</strong> coroação.<br />
O trecho menos preserva<strong>do</strong> <strong>do</strong> calçamento, acima <strong>do</strong> bairro Penha,<br />
provavelmente é o mais antigo, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII. O granito é<br />
mais poroso e granula<strong>do</strong> e as gran<strong>de</strong>s lajes dão lugar a pedras menores,<br />
muitas <strong>de</strong>las seixos médios rola<strong>do</strong>s, apanha<strong>do</strong>s <strong>em</strong> águas encachoeiradas<br />
e com marcas <strong>de</strong> ferraduras <strong>de</strong> muares.<br />
Nesse trecho <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> se encontra falho,<br />
porque as enxurradas levaram partes <strong>do</strong> calçamento, crian<strong>do</strong> <strong>de</strong>pressões.<br />
Outros trechos <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> revela<strong>do</strong>s pela prospecção arque-<br />
ológica foram construí<strong>do</strong>s no século XVIII e reforma<strong>do</strong>s ou reconstruí<strong>do</strong>s<br />
no século XIX, o que é possível constatar pela coexistência <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos<br />
<strong>de</strong> calçamento aponta<strong>do</strong>s, além <strong>de</strong> travamentos entre as pedras realiza-<br />
<strong>do</strong>s por ferraduras.<br />
Nesses trechos, gran<strong>de</strong>s rochas ainda guardam marcas <strong>de</strong> explosões e<br />
lajes retiradas jaz<strong>em</strong> pelo chão, como se o trabalho houvesse si<strong>do</strong> suspenso<br />
antes <strong>de</strong> finaliza<strong>do</strong>, o que coinci<strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos históricos, com a<br />
<strong>de</strong>cadência <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> como via <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> bens e merca<strong>do</strong>rias.<br />
ACHADOS ARQUEOLÓGICOS<br />
A prospecção <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> também revelou gran<strong>de</strong>s roche<strong>do</strong>s <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se<br />
<strong>de</strong>scortinam to<strong>do</strong>s os arre<strong>do</strong>res, até a baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Esses roche<strong>do</strong>s eram<br />
utiliza<strong>do</strong>s como mirantes pelos militares encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> evitar o contra-<br />
ban<strong>do</strong> e a sonegação <strong>de</strong> impostos sobre as merca<strong>do</strong>rias transportadas. No<br />
trecho estuda<strong>do</strong> há cerca <strong>de</strong> seis mirantes, mas as referências históricas le-<br />
vam a crer que havia apenas <strong>do</strong>is vigias, com um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação<br />
entre si, através <strong>de</strong> espelhos, ban<strong>de</strong>irolas, tiros <strong>de</strong> mosquete ou apitos.
No entorno <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> também se localizam <strong>do</strong>is marcos, pró-<br />
ximos um <strong>do</strong> outro, com padrões s<strong>em</strong>elhantes e i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s popular-<br />
mente como marcos <strong>de</strong> sesmaria. São afloramentos rochosos <strong>de</strong> granito<br />
parati, <strong>em</strong> tu<strong>do</strong> s<strong>em</strong>elhantes aos <strong>de</strong>scritos acima, mas com uma cruz <strong>em</strong><br />
pe<strong>de</strong>stal gravada <strong>em</strong> baixo relevo com instrumento perfurante.<br />
Além <strong>do</strong>s marcos <strong>de</strong> sesmaria, o sítio apresenta um conjunto <strong>de</strong> pesa-<br />
<strong>do</strong>s alicerces <strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> 6 metros <strong>de</strong> extensão por 1,60 m <strong>de</strong> altura,<br />
i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s como as ruínas <strong>do</strong> Pouso <strong>do</strong> Souza, antiga estalag<strong>em</strong> on<strong>de</strong>,<br />
segun<strong>do</strong> os <strong>do</strong>cumentos, se hospedavam fidalgos e damas <strong>do</strong>s séculos<br />
XVIII e XIX, <strong>em</strong> viag<strong>em</strong> para o interior ou o litoral.<br />
O material coleta<strong>do</strong> no trecho entre o bairro <strong>do</strong> Penha e o Pouso <strong>do</strong><br />
Souza consiste <strong>em</strong> acha<strong>do</strong>s dispersos, s<strong>em</strong> conteú<strong>do</strong> estrutural <strong>de</strong> perma-<br />
nência <strong>em</strong> local algum, como metais, vidros, cerâmicas e outros. Já na<br />
antiga casa <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Registro, a pesquisa revelou, além <strong>de</strong>sse tipo<br />
<strong>de</strong> material, to<strong>do</strong> um aparato para cobrar impostos.<br />
159<br />
> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, parte III – Zé<br />
Migué
160<br />
O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Conservação <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> foi avalia<strong>do</strong> para cada um<br />
<strong>do</strong>s setores e marcos notáveis abaixo enumera<strong>do</strong>s. Os setores on<strong>de</strong> o<br />
<strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>em</strong> melhor esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação são o IV – Ca-<br />
choeirinha ate o Seu Antonio, que inclui o trecho recupera<strong>do</strong> pelo Sitio<br />
Histórico Cultural Sh – Eco ( sitio Cachoeirinha), <strong>do</strong>s produtores culturais<br />
Marcos e Rachel Ribas, e o setor VI – Marco da Sesmaria ate o bairro <strong>do</strong>s<br />
Penha, recupera<strong>do</strong> pelo Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>,<br />
iniciativa da Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> com Prefeitura<br />
Municipal e SEBRAE.<br />
SETORES SUB-SETORES<br />
I - Alto da Serra até Registro Velho 1) Toca <strong>de</strong> Pedra<br />
2) Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />
II - Registro Velho até Estiva Preta/RJ 165 3) Registro Velho<br />
4) Estiva Preta<br />
III - Estiva Preta até Cachoeirinha 5) Sete Voltas<br />
6) Largo <strong>do</strong> Governo<br />
7) Guarita<br />
8) Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r<br />
9) Trincheiras Verticais<br />
10) Lagoa Seca<br />
11) Viaduto<br />
IV - Cachoeirinha até Seu Antonio 12) <strong>Caminho</strong> Limpo<br />
13) Prove<strong>do</strong>ria/ Registro<br />
14) Campo das Nações<br />
15) Pinga-Pinga<br />
16) Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito<br />
17) Canela Fe<strong>do</strong>renta<br />
18) Mirante<br />
19) Sítio <strong>do</strong> Seu Antonio<br />
V - Seu Antonio até Marco da Sesmaria 20) Pouso <strong>do</strong> Souza<br />
21) Marco da Sesmaria<br />
VI - Marco da Sesmaria até Penha district<br />
SETOR I - ALTO DA SERRA ATÉ REGISTRO VELHO<br />
O acesso a este setor parte da divisa estadual entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro e São Paulo, que coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra<br />
da Bocaina, no alto da serra. A entrada para o <strong>Caminho</strong> é uma antiga estra-<br />
da, hoje uma trilha que segue por <strong>de</strong>ntro da mata <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> ou floresta
ombrófila <strong>de</strong>nsa alto Montana, também conhecida como mata nebular, po-<br />
rém com gran<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> bambu chamada taquarinha<br />
– que praticamente fecha a passag<strong>em</strong> neste trecho inicial, freqüenta<strong>do</strong> qua-<br />
se somente por caça<strong>do</strong>res.<br />
Trecho 1 – Toca <strong>de</strong> Pedra – o <strong>Caminho</strong> está recoberto por terra e serra-<br />
pilheira, com presença <strong>de</strong> arbustos e pequenas árvores sobre seu tra-<br />
ça<strong>do</strong>. A <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> não é alta e são visíveis os cortes no barranco e as<br />
pedras alinhadas <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto, junto à vertente, seu esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> con-<br />
servação é razoável. Este setor encontra-se totalmente inseri<strong>do</strong> no Par-<br />
que Nacional da Serra da Bocaina. Não exist<strong>em</strong> mora<strong>do</strong>res n<strong>em</strong> pro-<br />
prieda<strong>de</strong>s rurais produtivas.<br />
Trecho 2 – Boqueirão <strong>do</strong> Inferno – Boqueirão <strong>do</strong> Inferno, a alta <strong>de</strong>cli-<br />
vida<strong>de</strong> <strong>do</strong> terreno, a presença <strong>de</strong> arvores <strong>de</strong> maior porte cujas raízes<br />
soltam as pedras, e a constante passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> água das chuvas faz com<br />
que este segmento, cujas pedras são mais visíveis, seja o trecho <strong>em</strong><br />
pior esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
II. REGISTRO VELHO ATÉ ESTIVA PRETA/ RODOVIA RJ 165<br />
O local encontra-se a cerca <strong>de</strong> um quilometro da ro<strong>do</strong>via RJ 165. No Registro<br />
Velho encontram – se os alicerces <strong>de</strong> pedra da antiga Casa <strong>de</strong> Registro Boca<br />
<strong>do</strong> Inferno.<br />
Trecho 3 - Registro Velho – Registro Velho - Esta área ainda não foi es-<br />
tudada. As ruínas sitio encontram-se <strong>em</strong> área <strong>de</strong> pouca <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>,<br />
com alicerces <strong>de</strong> pedra medin<strong>do</strong> 12 X 9 m <strong>de</strong> comprimento e 60 cm<br />
<strong>de</strong> altura no trecho mais extenso. Na face norte <strong>sua</strong> altura chega a 2m.<br />
O <strong>Caminho</strong> está quase totalmente recoberto por terra e serrapilheira,<br />
pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> a taquarinha e <strong>sua</strong> folhag<strong>em</strong> sobre seu traça<strong>do</strong>. A <strong>de</strong>-<br />
clivida<strong>de</strong> não é alta e são visíveis os cortes no barranco e <strong>em</strong> alguns<br />
trechos pedras alinhadas <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto, junto à vertente. Seu esta<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> conservação é razoável.<br />
Neste local pre<strong>do</strong>mina a floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa Montana <strong>em</strong> estágio<br />
inicial <strong>de</strong> regeneração, com pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> quaresmeiras e outras es-<br />
pécies pioneiras, e a mesma taquarinha junto e sobre o <strong>Caminho</strong>, in-<br />
161
162<br />
dica<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alteração. Foram observadas algumas pequenas<br />
mudas <strong>de</strong> palmeira juçara.<br />
Trecho 4 – Estiva Preta – Estiva Preta - Este é o nome da antiga fazenda,<br />
também conhecida como sitio <strong>do</strong> Seu Neco. Situa<strong>do</strong> a menos <strong>de</strong> 200<br />
m <strong>do</strong> Registro Velho, o <strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong> e livre <strong>de</strong><br />
vegetação arbórea.<br />
O <strong>Caminho</strong> encontra-se integro por um trecho <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 500 metros,<br />
recoberto apenas por vegetação rasteira, flores e pequenos arbustos <strong>de</strong><br />
facílima r<strong>em</strong>oção, até encontrar a ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha b<strong>em</strong> <strong>em</strong> frente<br />
ao antigo Fecha Nunca.<br />
Não exist<strong>em</strong> árvores n<strong>em</strong> interrupções <strong>em</strong> seu traça<strong>do</strong>, que atravessa<br />
<strong>do</strong>is pequenos cursos d’ água. Sua largura chega a 4 m e segue por<br />
cerca <strong>de</strong> 600m, sen<strong>do</strong> corta<strong>do</strong> no inicio pela antiga estrada <strong>de</strong> acesso<br />
à proprieda<strong>de</strong> rural que parece aban<strong>do</strong>nada. Neste local a floresta en-<br />
contra-se <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> médio <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel médio <strong>de</strong> 10 a<br />
15 m <strong>de</strong> altura, exceto no traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, recoberto por vegeta-<br />
ção rasteira. Observam-se também algumas espécies exóticas como<br />
gramíneas, ciprestes e fruteiras.<br />
Ao cruzar a ro<strong>do</strong>via o <strong>Caminho</strong> per<strong>de</strong> a visibilida<strong>de</strong>, parece ter si<strong>do</strong> re-<br />
coberto ou <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> pela estrada.<br />
III. ESTIVA PRETA ATÉ CACHOEIRINHA<br />
Neste setor o <strong>Caminho</strong> apresenta vários pontos notáveis, como as Sete<br />
Voltas, o Largo <strong>do</strong> Governo, a Toca <strong>do</strong> Zé Migué, as Trincheiras Verticais,<br />
a Lagoa Seca e o Viaduto.<br />
O trecho inicial, com cerca <strong>de</strong> um quilometro, está bastante <strong>de</strong>sman-<br />
tela<strong>do</strong> <strong>em</strong> razão da alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> terreno, da presença <strong>de</strong> árvores<br />
enraizadas por entre as pedras, e <strong>de</strong> um pequeno curso da água que<br />
coinci<strong>de</strong> com o leito <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> vários segmentos.<br />
A vegetação pre<strong>do</strong>minante neste inicio é a floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa<br />
<strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> regeneração, com abundancia <strong>de</strong> arvores <strong>de</strong> peque-<br />
no porte e espécies arbustivas, e algumas maiores, <strong>em</strong> estagio médio,<br />
indican<strong>do</strong> uso antropico no passa<strong>do</strong>.<br />
Pod<strong>em</strong>os dizer que, excetuan<strong>do</strong>-se os 1000 metros iniciais, o <strong>Caminho</strong><br />
encontra-se melhor <strong>do</strong> que nos Setores I e II, sen<strong>do</strong> mais visível o seu
traça<strong>do</strong> , recoberto apenas por uma fina camada <strong>de</strong> matéria orgânica nos<br />
trechos <strong>de</strong> menor <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, manten<strong>do</strong> a largura <strong>de</strong> 4 a 6 metros <strong>em</strong><br />
media por vários segmentos extensões, interrompi<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>smantela<strong>do</strong><br />
s<strong>em</strong>pre que a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> aumenta , e conseqüent<strong>em</strong>ente a erosão cau-<br />
sada pelas enxurradas<br />
Neste setor a mata vai se tornan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong>nsa e mais alta conforme<br />
nos afastamos da ro<strong>do</strong>via. A floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa ocorre <strong>em</strong> estágios<br />
variáveis <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel entre 10 e 20 m. A partir <strong>do</strong> Largo<br />
<strong>do</strong> Governo encontramos mudas dispersas <strong>de</strong> palmeira juçara, cuja <strong>de</strong>n-<br />
sida<strong>de</strong> vai aumentan<strong>do</strong> ate o sitio Cachoeirinha.<br />
IV. CACHOEIRINHA ATÉ SEU ANTONIO<br />
Este setor está inseri<strong>do</strong> no Sitio Histórico Ecológico – Sh-Eco, <strong>do</strong> grupo<br />
Teatro Espaço, que realizou a limpeza, a prospecção arqueológica e a<br />
gestão eco turística da maior parte <strong>de</strong>ste trecho entre 1999 e 2005, abri-<br />
gan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 1500 m <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>. A divisa leste <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha<br />
(Sh-Eco), coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional. A partir <strong>de</strong>ste, o local<br />
é conheci<strong>do</strong> como sitio <strong>do</strong> Seu Antonio.<br />
Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi to<strong>do</strong> limpo e assim manti<strong>do</strong> entre 1999 e<br />
2005, e encontra-se quase totalmente <strong>em</strong> perfeito esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conserva-<br />
ção, com uma largura média <strong>de</strong> 4 metros e cerca <strong>de</strong> 800 m <strong>de</strong> extensão,<br />
ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong> maior parte, calça<strong>do</strong> durante o século XIX.<br />
No trecho 13 – encontra-se a Prove<strong>do</strong>ria/Registro – A Casa <strong>de</strong> Registro<br />
era na pratica o Posto Alfan<strong>de</strong>gário <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Suas ruí-<br />
nas foram mapeadas e prospectadas, e o material encontra<strong>do</strong> foi to<strong>do</strong><br />
cataloga<strong>do</strong> e entregue aos cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IPHAN.<br />
Pod<strong>em</strong>os dizer que neste setor o <strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>em</strong> ótimo es-<br />
ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>em</strong> 90% <strong>do</strong> percurso, com o calcamento quase<br />
intacto, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> limpo, apenas recoberto <strong>em</strong> alguns<br />
trechos por gramíneas e vegetação rasteira, sen<strong>do</strong> visível o seu traça-<br />
<strong>do</strong>, as guias, a distinção entre as pedras assentadas no século XVIII e<br />
XIX, a marca <strong>do</strong>s canu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pólvora para explosão <strong>do</strong>s matacoes,<br />
manten<strong>do</strong> a largura media <strong>de</strong> 4 a 6 metros, interrompi<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>sman-<br />
tela<strong>do</strong> apenas no trecho ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Mirante quan<strong>do</strong> aumenta a <strong>de</strong>-<br />
clivida<strong>de</strong> e conseqüent<strong>em</strong>ente a erosão.<br />
163<br />
> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte I<br />
> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte I<br />
> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte II<br />
> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong>, Parte III – Sete<br />
Voltas
164<br />
Em toda esta área, <strong>de</strong> maior ação antrópica, a mata mais <strong>de</strong>nsa ce<strong>de</strong><br />
lugar àquela <strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> recuperação, mesclada com toucei-<br />
ras <strong>de</strong> banana, pastagens e a pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> espécies arbustivas ou<br />
pioneiras como quaresmeiras, <strong>em</strong>baúbas e jacatirões, <strong>de</strong>ntre outras <strong>de</strong><br />
porte médio e <strong>do</strong>ssel ate 10 m <strong>de</strong> altura na media.<br />
V - SEU ANTONIO ATÉ MARCO DA SESMARIA<br />
Trecho 18 - Este trecho é constituí<strong>do</strong> por uma pequena estrada municipal,<br />
a estrada <strong>do</strong>s Martins, na verda<strong>de</strong> um braço da estrada <strong>do</strong> Souza - que<br />
começa e termina <strong>em</strong> diferentes pontos da ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha. Este<br />
segmento foi pavimenta<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2004, com duas faixas paralelas <strong>de</strong> ci-<br />
mento para permitir o acesso a veículos automotores. Seu traça<strong>do</strong> t<strong>em</strong><br />
a mesma direção que o <strong>Caminho</strong>, e corta o seu percurso <strong>em</strong> 2 trechos.<br />
O <strong>Caminho</strong> está enterra<strong>do</strong> sob o bananal e pastagens na maior parte<br />
<strong>de</strong>ste setor, ocupa<strong>do</strong> por duas proprieda<strong>de</strong>s rurais, e por algumas mora-<br />
dias <strong>de</strong> pequeno porte, totalizan<strong>do</strong> 6 edificações, todas elas dispostas<br />
ao longo da estrada <strong>do</strong>s Martins. A cobertura vegetal se alterna entre<br />
bananais on<strong>de</strong> foram plantadas palmeiras juçara, pastagens, pequenos<br />
cultivos e pomares.<br />
Trecho 19 – o <strong>Caminho</strong> está totalmente recoberto pelo bananal e pelas<br />
gramíneas no pasto, à exceção <strong>de</strong> um trecho da estrada <strong>do</strong>s Martins,<br />
on<strong>de</strong> ele a atravessa, visível, <strong>em</strong> diagonal ao pavimento cimenta<strong>do</strong>.<br />
Como a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> é pouca, o calçamento não <strong>de</strong>ve ter sofri<strong>do</strong> muita<br />
interferência das int<strong>em</strong>péries climáticas. A pedra on<strong>de</strong> foi entalha<strong>do</strong> o<br />
Marco da Sesmaria, no entanto, <strong>de</strong>staca-se na paisag<strong>em</strong> e é perfeita-<br />
mente visível.<br />
VI - MARCO DA SESMARIA ATÉ O DISTRITO DA PENHA - 2 KM<br />
Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi totalmente limpo entre 2003 e 2004, e está<br />
sob a manutenção e operação turística <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong><br />
<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, por meio da Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Para-<br />
ty. O <strong>Caminho</strong> aqui foi quase totalmente construí<strong>do</strong> na cumeeira <strong>do</strong> mor-<br />
ro, no século XVIII, e reforma<strong>do</strong> no século XIX.<br />
A encosta su<strong>do</strong>este encontra-se quase totalmente recoberta por mata<br />
secundaria <strong>em</strong> estágio inicial <strong>de</strong> recuperação, a chamada “macega”, en-
quanto o seu reverso, marca<strong>do</strong> exatamente pela cumeeira <strong>do</strong> divisor <strong>de</strong><br />
águas, constitui uma pastag<strong>em</strong>. Esta situação ambiental é bastante comum<br />
nesta região: o uso antrópico das encostas direcionadas para a face sul foi<br />
menos intenso, pois aquelas voltadas para norte receb<strong>em</strong> maior insolação<br />
e são portanto mais a<strong>de</strong>quadas para a agricultura e agropecuária.<br />
Ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> este percurso a equipe <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização e os<br />
guias plantaram mudas <strong>de</strong> essências nativas, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacam as palmeiras<br />
juçara. O objetivo é a recomposição da cobertura florestal, b<strong>em</strong> como pro-<br />
porcionar sombra aos visitantes e garantir a estabilida<strong>de</strong> da encosta.<br />
Em to<strong>do</strong> este setor, com cerca <strong>de</strong> 2 km, o <strong>Caminho</strong> está totalmente<br />
limpo, praticamente <strong>em</strong> perfeito esta<strong>do</strong>, por cerca <strong>de</strong> 90% <strong>do</strong> percurso.<br />
Sua manutenção v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> realizada por um trabalha<strong>do</strong>r braçal, contra-<br />
ta<strong>do</strong> exclusivamente para este serviço pela Associação <strong>do</strong>s Guias <strong>de</strong> Turis-<br />
mo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
165<br />
> O.A.M.T. - Festa <strong>do</strong><br />
Divino
166<br />
VI Marco da Sesmaria<br />
até Penha district<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Rural estates foi totalmente limpo entre 2003 e 2004, ótimo<br />
esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.<br />
Marco <strong>de</strong> sesmaria – b<strong>em</strong> conserva<strong>do</strong>.<br />
V Seu Antonio até<br />
Marco da Sesmaria<br />
20) Pouso <strong>do</strong> Souza<br />
21) Marco da Sesmaria<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Rural estates Razoável – necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong> prospecção e<br />
conservação.<br />
IV Cachoeirinha até<br />
Seu Antonio<br />
12) <strong>Caminho</strong> Limpo<br />
13) Prove<strong>do</strong>ria/ Registro<br />
14) Campo das Nações<br />
15) Pinga-Pinga<br />
16) Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito<br />
17) Canela Fe<strong>do</strong>renta<br />
18) Mirante<br />
19) Sítio <strong>do</strong> Seu Antonio<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Parque<br />
Nacional da<br />
Bocaina<br />
Limpo e manti<strong>do</strong> entre 1999 e 2005, encontrase<br />
quase totalmente <strong>em</strong> perfeito esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
conservação.<br />
As ruínas da edificação oficial existente no<br />
local, casa <strong>de</strong> Registro e/ou Prove<strong>do</strong>ria foram<br />
prospectadas e limpas.<br />
III Estiva Preta até<br />
Cachoeirinha<br />
5) Sete Voltas<br />
6) Largo <strong>do</strong> Governo<br />
7) Guarita<br />
8) Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r<br />
9) Trincheiras Verticais<br />
10) Lagoa Seca<br />
11) Viaduto<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Parque<br />
Nacional da<br />
Bocaina<br />
Ruínas <strong>do</strong> “Fecha Nunca” – necessita <strong>de</strong><br />
consolidação.<br />
O caminho está razoável na maior parte.<br />
II Registro Velho até<br />
Estiva Preta/RJ 165<br />
3) Registro Velho<br />
4) Estiva Preta<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Parque<br />
Nacional da<br />
Bocaina<br />
3) Casa <strong>de</strong> Registro Boca <strong>do</strong> Inferno –<br />
necessita prospecção e consolidação. <strong>Caminho</strong><br />
<strong>em</strong> esta<strong>do</strong> razoável, necessita <strong>de</strong> limpeza.<br />
4) Bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.<br />
I Alto da Serra até<br />
Registro Velho<br />
1) Toca <strong>de</strong> Pedra<br />
2) Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Parque<br />
Nacional da<br />
Bocaina<br />
1) Razoável – necessita <strong>de</strong> limpeza.<br />
2) Razoável – necessita <strong>de</strong> consolidação.<br />
Nº NOME ENDEREÇO<br />
TOMBAMEN-<br />
TO/ RELEVÂN-<br />
CIA<br />
SITUAÇÃO<br />
FUNDIÁRIA<br />
ESTADO DE CONSERVAÇÃO
Centro Histórico (2)<br />
O caráter <strong>do</strong> centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> está perfeitamente expresso na ex-<br />
traordinária impressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> proporcionada pelas construções ali-<br />
nhadas, forman<strong>do</strong> uma massa edificada homogênea que envolve inteira-<br />
mente os quarteirões, <strong>em</strong>prestan<strong>do</strong>-lhes monumentalida<strong>de</strong>, apesar das<br />
limitadas dimensões, on<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minam as casas térreas ou assobradas. O<br />
ritmo característico das envasaduras <strong>do</strong>s armazéns é ameniza<strong>do</strong>, por muros<br />
que fecham os quintais das residências, a composição urbana é <strong>de</strong> uma<br />
geometria simples. A intensa luminosida<strong>de</strong> obtida pela caiação das facha-<br />
das é amenizada pelo ver<strong>de</strong> que recobre as escarpas íngr<strong>em</strong>es da Serra <strong>do</strong><br />
Mar <strong>em</strong>olduran<strong>do</strong> o conjunto.<br />
Caracteriza-se por uma elevada coerência formal, um <strong>de</strong>nso espaço<br />
construí<strong>do</strong> e frentes <strong>de</strong> ruas contínuas, compon<strong>do</strong> quarteirões diss<strong>em</strong>e-<br />
lhantes, mas linearmente <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>s.<br />
A tipologia arquitetônica é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong>. Os imóveis foram<br />
construí<strong>do</strong>s essencialmente entre mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII e mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
século XIX e estão b<strong>em</strong> preserva<strong>do</strong>s, s<strong>em</strong> adulterações relevantes. Por<br />
outro la<strong>do</strong>, as edificações não têm um caráter excepcional, se analisadas<br />
isoladamente, mas sim enquanto células <strong>de</strong> um organismo morfologica-<br />
mente coerente.<br />
> A.M - Rua Maria<br />
Jacome <strong>de</strong> Melo<br />
167
168<br />
O espaço edifica<strong>do</strong> conjuga a casa térrea e o sobra<strong>do</strong>. Alguns sobra<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />
século XIX se <strong>de</strong>stacam pela inserção <strong>de</strong> pormenores arquitetônicos notá-<br />
veis, tanto nos trabalhos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro forja<strong>do</strong>, como nos frisos e pi-<br />
lastras ornamenta<strong>do</strong>s. A intensa luminosida<strong>de</strong> das pare<strong>de</strong>s caiadas é ame-<br />
nizada pelo ver<strong>de</strong> da serra, que faz pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>.<br />
Não há edifícios públicos que se <strong>de</strong>staqu<strong>em</strong> <strong>do</strong>s restantes, porque o<br />
conjunto é extr<strong>em</strong>amente homogêneo, inclusive nos materiais e técnicas<br />
utiliza<strong>do</strong>s. Os gran<strong>de</strong>s el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque são os t<strong>em</strong>plos religiosos,<br />
seja pela volumetria, pela localização ou mesmo pelos materiais utiliza<strong>do</strong>s.<br />
As primeiras medidas <strong>de</strong> proteção ao conjunto arquitetônico e urbanís-<br />
tico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foram tomadas <strong>em</strong> 1945, quan<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>clarada<br />
Monumento Estadual <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Des<strong>de</strong> então, medidas como a<br />
nomeação como Monumento Nacional, <strong>em</strong> 1966 e um conjunto <strong>de</strong> leis<br />
municipais e fe<strong>de</strong>rais vêm garantin<strong>do</strong> a preservação <strong>de</strong>sse patrimônio.<br />
Recuperação <strong>do</strong> Patrimônio Ambiental Urbano<br />
Nas década <strong>de</strong> 60 e 70 foram utiliza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma exagerada el<strong>em</strong>entos<br />
<strong>de</strong>corativos, sobrepostos principalmente a frisos, faixas e fustes <strong>de</strong> cunhais<br />
<strong>de</strong> prédios assobrada<strong>do</strong>s, e mesmo <strong>em</strong> algumas casas térreas, acentuan-<br />
<strong>do</strong> formas bizarras pela utilização <strong>de</strong> cores primárias, freqüent<strong>em</strong>ente<br />
com objetivos falsamente cenográficos. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o extr<strong>em</strong>o bom<br />
gosto e sobrieda<strong>de</strong> que muitos <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos são utiliza<strong>do</strong>s, enrique-<br />
cen<strong>do</strong> o vocabulário arquitetônico <strong>do</strong> século XIX, é lamentável que ainda<br />
permaneçam causan<strong>do</strong> sensação pelo insólito das formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfigura-<br />
ção <strong>do</strong> Bairro Histórico.<br />
Para a integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos que compõe as fachadas é essencial<br />
que sejam manti<strong>do</strong>s:<br />
os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> serralheria como os gradis <strong>em</strong> ferro forja<strong>do</strong> e os supor-<br />
tes <strong>de</strong>corativos;<br />
os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> marcenaria: sacadas, guarda-corpos, cimalhas, cachor-<br />
ros e d<strong>em</strong>ais el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira;<br />
os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> cantaria: <strong>em</strong>basamentos, molduras, cunhai, pilastras e<br />
d<strong>em</strong>ais el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> pedra;<br />
os vãos: portas, janelas cegas ou com postigos e os caixilhos. Com <strong>sua</strong><br />
composição cromática original.
A quase serialização da arquitetônica a repetição <strong>do</strong>s mesmos el<strong>em</strong>entos<br />
tipológicos – cantarias, esquadrias, gradis sobre uma volumetria e uma<br />
repartição <strong>de</strong> lotes praticamente constantes, acirra a vocação à individu-<br />
alida<strong>de</strong> através da cor. O fato <strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> ter recebi<strong>do</strong> mora<strong>do</strong>res e técni-<br />
cos vin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> núcleos urbanos <strong>de</strong> maior porte, faz com que a pressão<br />
para a alteração, tanto das cores como <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais el<strong>em</strong>entos se <strong>de</strong>sse<br />
<strong>em</strong> função <strong>do</strong> padrão conheci<strong>do</strong> por eles, como por ex<strong>em</strong>plo, a preferên-<br />
cia por utilização das cores <strong>em</strong> tons pastéis.<br />
Dentre as tendências atuais <strong>de</strong>scaracteriza<strong>do</strong>ras pod<strong>em</strong>os citar a utiliza-<br />
ção <strong>de</strong> um único padrão <strong>de</strong> cores para marcar os imóveis ocupa<strong>do</strong>s por uma<br />
pousada, que congrega muitos imóveis, <strong>em</strong> uma única quadra, ou <strong>em</strong> qua-<br />
dras diferentes, e a tendências a diferenciação, pela cor nos vãos, que v<strong>em</strong><br />
ocorren<strong>do</strong> nos diversos comércios que funcionam, num mesmo edifício.<br />
Numa visão <strong>de</strong> conjunto, o uso das cores únicas ou próximas entre si<br />
ten<strong>de</strong> a tornar o panorama monótono; já o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> cores principais<br />
contrastantes funciona b<strong>em</strong> para curta e longas distâncias. Sen<strong>do</strong> assim,<br />
nas edificações <strong>do</strong> século XX, utiliza-se a mesma palheta cromática.<br />
O uso ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> luminárias apostas à fachada ou mesmo, <strong>em</strong>bu-<br />
tidas nas cimalhas será <strong>em</strong> breve soluciona<strong>do</strong>, agora que a cida<strong>de</strong> rece-<br />
beu novo projeto <strong>de</strong> iluminação urbana.<br />
Os anúncios estão regulamenta<strong>do</strong>s e salvo algumas exceções, obe<strong>de</strong>-<br />
c<strong>em</strong> ao padrão proposto.<br />
A malha urbana encontra-se íntegra, mesmo fora <strong>do</strong> perímetro <strong>de</strong>fini-<br />
<strong>do</strong> como centro histórico, sen<strong>do</strong> necessária a recuperação <strong>do</strong> calçamento<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos serviços das diversas concessionárias, que só po<strong>de</strong>rá ser reali-<br />
za<strong>do</strong>s após a conclusão <strong>do</strong>s obras <strong>de</strong> saneamento básico.<br />
De acor<strong>do</strong> com o Inventário <strong>do</strong>s Bens Imóveis INBI-SU/IPHAN 2002/3,<br />
ex<strong>em</strong>plifica<strong>do</strong> com algumas fichas no anexo <strong>de</strong>sta nominação, no sítio<br />
histórico urbano, os edifícios públicos e religiosos estão <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> regular<br />
<strong>de</strong> manutenção. Em compensação as residências particulares, estão <strong>em</strong><br />
muito bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.<br />
No Bairro Histórico verificamos um equilíbrio entre o uso resi<strong>de</strong>ncial e<br />
o comercial:<br />
resi<strong>de</strong>ncial: 50%<br />
comercial: 40%<br />
outros: 10%<br />
169
170<br />
A maioria <strong>do</strong>s imóveis resi<strong>de</strong>nciais é <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res permanentes, sen<strong>do</strong><br />
60% <strong>de</strong> pessoas naturais <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
Além <strong>do</strong> Inventário supra-cita<strong>do</strong>, o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentou <strong>em</strong><br />
Abril <strong>de</strong> 2003, o Projeto <strong>Paraty</strong>/RJ – Carta Consulta, <strong>Programa</strong> Monumen-<br />
ta/BID com os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento das ações estratégicas<br />
para a recuperação <strong>do</strong> patrimônio histórico <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, on<strong>de</strong> foram elenca-<br />
<strong>do</strong>s os serviços necessários para a recuperação <strong>do</strong>s imóveis que não estão<br />
<strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, incluí<strong>do</strong>s particulares e institucionais.<br />
De acor<strong>do</strong> com o Inventário Arquitetônico – O Registro Multimídia <strong>do</strong><br />
Patrimônio – Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e Monumentos Nacionais, Direção<br />
<strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação – Lisboa/Portugal, realizou o Inven-<br />
tário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003.<br />
Foram registra<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 460 imóveis no Sítio Histórico:<br />
375 <strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação<br />
74 <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> razoável<br />
11 mal<br />
Nº NOME ENDEREÇO<br />
1 Igreja <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora das<br />
Dores<br />
2 Igreja <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora <strong>do</strong><br />
Rosário<br />
3 Igreja <strong>de</strong> Santa<br />
Rita<br />
4 Igreja Nossa<br />
Senhora <strong>do</strong>s<br />
R<strong>em</strong>édios ou<br />
Matriz<br />
5 Casa da Cultura<br />
sobra<strong>do</strong> e casa<br />
térrea<br />
A casa térrea pre<strong>do</strong>mina, foram levanta<strong>do</strong>s 75 sobra<strong>do</strong>s.<br />
Rua Fresca com rua<br />
da Capela<br />
Largo <strong>do</strong> Rosário<br />
com rua <strong>do</strong><br />
Comércio ou rua<br />
Tenente Francisco<br />
Antonio<br />
Praça Santa Rita<br />
com rua Santa Rita<br />
TOMBAMENTO/<br />
RELEVÂNCIA<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Praça da Matriz Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
Rua Dona Geralda<br />
com rua <strong>do</strong> Rosário<br />
ou rua Samuel Costa<br />
UTILIZAÇÃO<br />
ATUAL<br />
SITUAÇÃO<br />
FUNDIÁRIA<br />
Culto religioso Diocese <strong>de</strong><br />
Parati<br />
Culto religioso Diocese <strong>de</strong><br />
Parati<br />
Culto religioso<br />
e Museu <strong>de</strong><br />
Arte Sacra<br />
Culto religioso<br />
e pinacoteca<br />
<strong>de</strong>sativada<br />
Relevante Casa da<br />
Cultura<br />
Diocese <strong>de</strong><br />
Parati<br />
Diocese <strong>de</strong><br />
Parati<br />
Prefeitura<br />
Municipal <strong>de</strong><br />
Parati<br />
ESTADO DE<br />
CONSERVAÇÃO<br />
Bom, restauração <strong>de</strong><br />
retábulos.<br />
Bom, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />
restaurada pelo IPHAN<br />
<strong>em</strong> 2002.<br />
Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
intervenção na cobertura,<br />
forros, instalação elétrica,<br />
hidráulica, alvenaria,<br />
restauração <strong>de</strong> retábulos<br />
e pintura geral.<br />
Em Restauração – fase <strong>de</strong><br />
conclusão necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
intervenção na cobertura,<br />
forros, instalação elétrica,<br />
hidráulica, alvenaria,<br />
cantaria, pisos, restauração<br />
<strong>de</strong> retábulos e bens móveis<br />
integra<strong>do</strong>s.<br />
Bom, sobra<strong>do</strong> restaura<strong>do</strong>,<br />
casa térrea necessitan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> conservação.
Nº NOME ENDEREÇO<br />
6 Ca<strong>de</strong>ia Velha Praça <strong>de</strong> Santa Rita<br />
com rua travessa<br />
Santa Rita<br />
7 Passos da Paixão Rua Dona Geralda e<br />
rua <strong>do</strong> Comércio ou<br />
rua Tenente<br />
Francisco Antonio<br />
8 Praça <strong>do</strong> Beco<br />
<strong>do</strong> Propósito<br />
e Capela da<br />
Santa Cruz<br />
9 Praça <strong>do</strong><br />
Chafariz<br />
Rua Domingos <strong>de</strong><br />
Abreu.<br />
Rua Domingos <strong>de</strong><br />
Abreu.<br />
10 Largo <strong>do</strong> Rosário Entre as ruas <strong>do</strong><br />
Comércio ou rua<br />
Tenente Francisco<br />
Antonio e rua<br />
Domingos <strong>de</strong> Abreu.<br />
11 Praça da Matriz Entre as ruas da<br />
Ca<strong>de</strong>ia ou rua Mal<br />
Deo<strong>do</strong>ro, Josephina<br />
e Dona Geralda.<br />
12 Praça da<br />
Capelinha<br />
13 Praça <strong>do</strong> Porto<br />
ou praça da<br />
Ban<strong>de</strong>ira<br />
14 Praça da Santa<br />
Rita<br />
15 Rua <strong>do</strong> Fogo ou<br />
rua das Flores<br />
Rua Fresca, <strong>em</strong><br />
frente à Igreja Nossa<br />
Senhora das Dores.<br />
Entre a rua da Praia<br />
ou rua Dr. Pereira e<br />
a rua Fresca.<br />
TOMBAMENTO/<br />
RELEVÂNCIA<br />
UTILIZAÇÃO<br />
ATUAL<br />
Relevante Instituto<br />
Histórico e<br />
Artístico <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong><br />
SITUAÇÃO<br />
FUNDIÁRIA<br />
Prefeitura<br />
Municipal <strong>de</strong><br />
Parati<br />
Relevante Culto religioso Irmanda<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
Santíssimo<br />
Sacramento da<br />
Paróquia Nossa<br />
Senhora <strong>do</strong>s<br />
R<strong>em</strong>édios<br />
Relevante Culto religioso Prefeitura<br />
Municipal<br />
Relevante Logra<strong>do</strong>uro<br />
Público<br />
Inseri<strong>do</strong> no<br />
perímetro<br />
oficial <strong>de</strong><br />
tombamento<br />
Inseri<strong>do</strong> no<br />
perímetro<br />
oficial <strong>de</strong><br />
tombamento<br />
Inseri<strong>do</strong> no<br />
perímetro<br />
oficial <strong>de</strong><br />
tombamento<br />
Inseri<strong>do</strong> no<br />
perímetro<br />
oficial <strong>de</strong><br />
tombamento<br />
Rua Santa Rita Inseri<strong>do</strong> no<br />
perímetro<br />
oficial <strong>de</strong><br />
tombamento<br />
Entre as ruas Santa<br />
Rita e da Lapa ou<br />
rua Maria Jacome<br />
<strong>de</strong> Melo.<br />
Inseri<strong>do</strong> no<br />
perímetro<br />
oficial <strong>de</strong><br />
tombamento<br />
Logra<strong>do</strong>uro<br />
Público<br />
Logra<strong>do</strong>uro<br />
Público<br />
Logra<strong>do</strong>uro<br />
Público<br />
Logra<strong>do</strong>uro<br />
Público<br />
Logra<strong>do</strong>uro<br />
Público<br />
Logra<strong>do</strong>uro<br />
Público<br />
Prefeitura<br />
Municipal<br />
Prefeitura<br />
Municipal<br />
Prefeitura<br />
Municipal<br />
Prefeitura<br />
Municipal<br />
Prefeitura<br />
Municipal<br />
Prefeitura<br />
Municipal<br />
Prefeitura<br />
Municipal<br />
ESTADO DE<br />
CONSERVAÇÃO<br />
171<br />
Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
intervenção no forro,<br />
alvenaria, piso, instalação<br />
elétrica, hidráulica e<br />
pintura.<br />
Bom, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
pintura.<br />
Logra<strong>do</strong>uro: razoável,<br />
necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
calçamento, tratamento<br />
paisagístico, iluminação e<br />
recuperação <strong>do</strong> chafariz.<br />
Capela: regular, necessitan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> intervenção nas<br />
esquadrias, cobertura e<br />
pintura.<br />
Bom, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
transla<strong>do</strong> <strong>do</strong> chafariz ao<br />
seu local original.<br />
Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
tratamento paisagístico,<br />
calçamento e recuperação<br />
<strong>de</strong> chafariz.<br />
Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
tratamento paisagístico,<br />
calçamento, integração<br />
<strong>do</strong>s espaços <strong>do</strong> entorno e<br />
recuperação <strong>de</strong> chafariz.<br />
Razoavel, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
tratamento paisagístico,<br />
calçamento.<br />
Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
tratamento paisagístico,<br />
calçamento.<br />
Razoável, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
tratamento paisagístico,<br />
calçamento e recuperação<br />
<strong>de</strong> chafariz.<br />
Regular, necessitan<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> restauração <strong>do</strong><br />
calçamento.
172<br />
> A.M – Forte<br />
Defensor Perpétuo<br />
Nº NOME ENDEREÇO<br />
I Forte Defensor<br />
Perpétuo<br />
Forte Defensor Perpétuo (3)<br />
O Forte Defensor Perpétuo encontra-se <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> razoável <strong>de</strong> conserva-<br />
ção. Em 1957 foi autorizada a transferência <strong>de</strong> <strong>sua</strong> jurisdição <strong>do</strong> Ministé-<br />
rio da Guerra para o Ministério da Educação e Cultura. O imóvel que<br />
abriga o Quartel, Casa <strong>do</strong> Comandante e Alojamento foi restaura<strong>do</strong> da<br />
década <strong>de</strong> 1960 pelo IPHAN, que têm a <strong>sua</strong> guarda, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> toda<br />
a elevação on<strong>de</strong> se situa. A Casa da Pólvora, também, foi restaurada na<br />
ocasião. A praça D`Armas permanece autêntica com os canhões <strong>em</strong> <strong>sua</strong>s<br />
posições originais.<br />
O morro on<strong>de</strong> se situa, a recomposição da mata nativa atingiu seu ponto<br />
máximo, sen<strong>do</strong> o el<strong>em</strong>ento paisagístico <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>staque na área urbana.<br />
Avenida Orlan<strong>do</strong><br />
Carpinelli, s/nº.<br />
TOMBAMENTO/<br />
RELEVÂNCIA<br />
Tombamento<br />
Fe<strong>de</strong>ral<br />
UTILIZAÇÃO<br />
ATUAL<br />
Museu <strong>de</strong><br />
Artes e<br />
Tradições <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong><br />
SITUAÇÃO<br />
FUNDIÁRIA<br />
ESTADO DE<br />
CONSERVAÇÃO<br />
União Razoável. Necessita <strong>de</strong><br />
revisão no piso,<br />
implantação <strong>do</strong> projeto<br />
luminotécnico e revisão<br />
nas instalações elétricas e<br />
hidráulicas.
4.b Fatores que afetam o b<strong>em</strong><br />
I) PRESSÕES ADVINDAS AO DESENVOLVIMENTO<br />
Uma série <strong>de</strong> medidas foram impl<strong>em</strong>entadas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> conter a cres-<br />
cente pressão <strong>do</strong> turismo <strong>do</strong> crescimento urbano e <strong>sua</strong>s conseqüências e<br />
<strong>de</strong>ntre elas listamos:<br />
A maior pressão ambiental e cultural sobre <strong>Paraty</strong> concretizou-se com<br />
a construção da ro<strong>do</strong>via Rio Santos – a BR 101, que faz a ligação, pela<br />
região litorânea, das cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro (RJ) e Santos (SP).<br />
Desprovida <strong>de</strong> outra ligação por terra que não fosse a sinuosa e lama-<br />
centa ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>-Cunha, cujo novo traça<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixou obsoleto o Ca-<br />
minho <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> na Serra da Bocaina, a construção <strong>de</strong>sta ro<strong>do</strong>via fe<strong>de</strong>-<br />
ral <strong>em</strong> 1974 trouxe a <strong>Paraty</strong> seu mais recente ciclo econômico, o ciclo<br />
<strong>do</strong> turismo.<br />
A ro<strong>do</strong>via Rio-Santos atravessou o Parque Nacional da Serra da Bocai-<br />
na na divisa com o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>sua</strong> construção, há<br />
30 anos atrás, a população <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> praticamente triplicou.<br />
Sua economia saiu da incipiente produção pesqueira artesanal e das<br />
roças subsistência, banana e cana <strong>de</strong> açúcar para a era da especulação<br />
imobiliária que, graças aos dispositivos legais <strong>de</strong> proteção ao seu patri-<br />
mônio arquitetônico, paisagístico, natural e histórico, não evoluiu tan-<br />
to quanto nos municípios vizinhos <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s Reis (RJ) e Ubatuba<br />
(SP), cujo crescimento populacional foi, <strong>em</strong> 2000, cerca <strong>de</strong> 3 a 4 vezes<br />
maior <strong>do</strong> que <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
As pressões inerentes ao crescimento urbano t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> controladas pe-<br />
las Leis nº 608/81<strong>de</strong> Uso e Ocupação <strong>do</strong> Solo, Lei nº 609/81 <strong>de</strong> Parce-<br />
lamento <strong>do</strong> solo urbano, ratificadas pela Portaria nº 10/81 <strong>do</strong> IPHAN,<br />
Zoneamento Geral <strong>do</strong> Município, aprova<strong>do</strong> através <strong>do</strong> Ofício nº IPHAN,<br />
e o Código <strong>de</strong> Obras Lei nº 655/83. O Parque Nacional da Serra da<br />
Bocaina possui um Plano <strong>de</strong> Manejo que <strong>de</strong>finiu setores, como sen<strong>do</strong> a<br />
Zona Histórico-Cultural local on<strong>de</strong> se encontra o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>.<br />
As solicitações <strong>de</strong> exame <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> intervenção arquitetônicas<br />
para atendimento <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> restauração no sítio histórico e novas<br />
construções na zona tampão são encaminhadas pela Prefeitura ao Es-<br />
critório local <strong>do</strong> IPHAN para análise e aprovação.<br />
173
174<br />
Após a abertura da ro<strong>do</strong>via Rio-Santos, a paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> veio a<br />
sofrer certa alteração <strong>em</strong> função <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> aumento <strong>do</strong> fluxo turísti-<br />
co, com a instalação <strong>de</strong> residências <strong>de</strong> veraneio e o a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong><br />
algumas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res na zona costeira, principalmente<br />
na região da APA <strong>de</strong> Cairuçu.<br />
Com a aprovação <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão Ambiental da APA <strong>de</strong> Cairuçu e<br />
<strong>do</strong> Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> possível disciplinar a evolução<br />
da ocupação turística para conservar a beleza <strong>do</strong> seu litoral, b<strong>em</strong> como<br />
o crescimento das vilas rurais.<br />
A atuação enérgica <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Florestas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro serve <strong>de</strong><br />
bom ex<strong>em</strong>plo para muitos <strong>de</strong>savisa<strong>do</strong>s ou mal intenciona<strong>do</strong>s que não<br />
respeitaram a legislação vigente e sofreram gran<strong>de</strong> prejuízo: durante o<br />
ano <strong>de</strong> 2003 o IEF-RJ promoveu a d<strong>em</strong>olição <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena<br />
<strong>de</strong> residências construídas irregularmente <strong>em</strong> terras <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Pa-<br />
raty Mirim, b<strong>em</strong> como na Praia <strong>do</strong> Sono, no interior da Reserva Ecoló-<br />
gica da Juatinga.<br />
O Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, disciplina<br />
uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que até então vinha se <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> <strong>de</strong> manei-<br />
ra informal. A implantação <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>sse Plano <strong>de</strong> Manejo no setor <strong>do</strong><br />
Parque situa<strong>do</strong> no Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> está entre as priorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Mi-<br />
nistério <strong>do</strong> Meio Ambiente.<br />
O aeródromo existente <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> aten<strong>de</strong> uma d<strong>em</strong>anda turística, es-<br />
pecialmente, <strong>de</strong> aviões particulares, não <strong>de</strong>stina-se n<strong>em</strong> possui condi-<br />
ções <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a uma d<strong>em</strong>anda comercial nacional e internacional.<br />
A pista <strong>de</strong> pouso no local on<strong>de</strong> se encontra, divi<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> duas<br />
áreas b<strong>em</strong> distintas, cristalizan<strong>do</strong> fisicamente as diferenças sociais exis-<br />
tentes entre os <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s e obstruin<strong>do</strong> a circulação urbana.A situação<br />
<strong>de</strong>licada <strong>do</strong> relacionamento urbano com o aeródromo <strong>de</strong>verá se agra-<br />
var a cada dia, seu entorno está <strong>em</strong> avança<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conurbação.<br />
O uso pre<strong>do</strong>minante encontra<strong>do</strong> na área é o resi<strong>de</strong>ncial, com casas <strong>de</strong><br />
um ou <strong>do</strong>is pavimentos.<br />
A posição transversal da pista <strong>em</strong> relação ao bairro histórico atenua os<br />
riscos com respeito à <strong>sua</strong> integrida<strong>de</strong>. No entanto os riscos para a popu-<br />
lação aumentam a cada concentração <strong>de</strong> fluxo <strong>do</strong>s vôos.
Ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista a ina<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> atual aeródromo, <strong>em</strong> 2001, foi forma-<br />
<strong>do</strong> um Grupo <strong>de</strong> Trabalho para o estu<strong>do</strong> da viabilida<strong>de</strong> da construção <strong>de</strong><br />
um novo aeroporto <strong>em</strong> local próximo à cida<strong>de</strong>. A Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Transportes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - Superintendência <strong>de</strong> Engenha-<br />
ria <strong>de</strong> Transportes - Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria Aeroviária incluiu o aeroporto <strong>de</strong> Pa-<br />
raty na Lei <strong>do</strong> PROFAA – Lei <strong>do</strong> Plano Aeroviário, e também, o Ministério<br />
da Aeronáutica – Departamento <strong>de</strong> Aviação Civil – DAC, apoiou os tra-<br />
balhos e também <strong>de</strong>senvolveu estu<strong>do</strong>s específicos.<br />
O objetivo <strong>do</strong> projeto foi a formulação <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<br />
mento para a infraestrutura aeronáutica, <strong>de</strong>stinaram-se, também, a esta-<br />
belecer a viabilida<strong>de</strong> técnico/econômica para a implantação <strong>do</strong> referi<strong>do</strong><br />
aeroporto. Possibilitan<strong>do</strong> o município contar com uma infra-estrutura ae-<br />
ronáutica condizente com seu potencial sócio-econômico e perfeitamen-<br />
te harmoniza<strong>do</strong> com <strong>sua</strong>s diretrizes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano.<br />
Os estu<strong>do</strong>s concluíram pela <strong>de</strong>sativação <strong>do</strong> aeródromo existente, reco-<br />
mendan<strong>do</strong> a ocupação da área com equipamentos mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para<br />
a socieda<strong>de</strong>, restabelecen<strong>do</strong> assim, a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> urbano e<br />
proporcionan<strong>do</strong> a segurança <strong>de</strong>sejada.<br />
Com o apoio <strong>de</strong> equipe <strong>do</strong> ITA - INSTITUTO DE TECNOLOGIA DA AERO-<br />
NÁUTICA - e técnicos especializa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> aeroportos com aproximação <strong>de</strong><br />
precisão, foram pesquisa<strong>do</strong>s os locais que apresentavam condições para<br />
operações aéreas no Município e o sítio escolhi<strong>do</strong> foi o da Barra Gran<strong>de</strong>,<br />
conclusão que foi reiterada pelos estu<strong>do</strong>s compl<strong>em</strong>entares realiza<strong>do</strong>s pe-<br />
los técnicos <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Aviação Civil.<br />
Para alicerçar este processo foi proposta a criação <strong>de</strong> um Plano Estratégi-<br />
co, instrumento <strong>de</strong> gestão capaz <strong>de</strong> congregar <strong>em</strong>presaria<strong>do</strong> local, o<br />
governo, os investi<strong>do</strong>res, órgãos públicos e socieda<strong>de</strong> local. Partiu-se <strong>do</strong><br />
pressuposto que apenas através da PPP – parceria público privada - será<br />
possível a realização <strong>de</strong>ste projeto, e controlar as transformações urba-<br />
nas e econômicas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>sua</strong> implantação.<br />
II) PRESSÕES AO MEIO AMBIENTE<br />
(POLUIÇÃO, MUDANÇAS CLIMÁTICAS, DESERTIFICAÇÃO)<br />
O processo <strong>de</strong> colmatação da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, <strong>em</strong>bora seja um processo <strong>de</strong><br />
erosão natural, v<strong>em</strong> se agravan<strong>do</strong> nas últimas décadas <strong>em</strong> função <strong>do</strong><br />
crescimento urbano e <strong>do</strong> <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos nos rios que têm provoca<strong>do</strong><br />
175
176<br />
> O.A.M.T - 1Pavimentação<br />
<strong>do</strong> século XVIII <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>. Parte VII – entre<br />
o Marco da Sesmaria e o<br />
Distrito da Penha<br />
aterro da baía. Soma<strong>do</strong> ao arruamento periférico, construí<strong>do</strong> na década<br />
<strong>de</strong> 1970 <strong>em</strong> frente ao bairro histórico, conseqüent<strong>em</strong>ente sobrelevou o<br />
lençol freático.<br />
O setor <strong>do</strong> centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> mais próximo <strong>do</strong> mar s<strong>em</strong>pre so-<br />
freu a influencia <strong>de</strong> marés cheias que ocasionalmente ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />
uma conjugação <strong>de</strong> fatores naturais. Essa região, a mais baixa da cida<strong>de</strong>,<br />
foi construída <strong>em</strong> área <strong>de</strong> aluvião resulta<strong>do</strong> da sedimentação <strong>de</strong> material<br />
carrea<strong>do</strong> pelos rios Pereque-Açu e Matheus Nunes. Esse processo é conti-<br />
nuo e ocorre até os dias <strong>de</strong> hoje forman<strong>do</strong> um cordão arenoso <strong>de</strong>nomina-<br />
<strong>do</strong> “Terra Nova” situada entre o centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e o mar.<br />
Na última e <strong>de</strong>finitiva expansão <strong>do</strong> centro histórico ocorrida no século<br />
XIX, durante o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> café, a cida<strong>de</strong> avançou alguns poucos quartei-<br />
rões na direção <strong>do</strong> mar.. Como eram terras mais baixas, contíguas ao te-<br />
ci<strong>do</strong> urbano, essa foi uma solução natural. Traçadas as ruas com alinha-
mento retilíneo foram estas calçadas com pedras à maneira <strong>de</strong><br />
pé-<strong>de</strong>-moleque, com caimento para o centro das vias, on<strong>de</strong> possui pedras<br />
retangulares <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> calha, e naturalmente inclinadas <strong>em</strong> direção ao<br />
mar, como estava conforma<strong>do</strong> o terreno e da forma que é preciso para o<br />
escoamento das águas da chuva.<br />
Ocorre que há alguns episódios climáticos especiais quan<strong>do</strong> t<strong>em</strong>os lua<br />
nova ou lua cheia coinci<strong>de</strong>nte com cheias <strong>do</strong>s rios que la<strong>de</strong>iam a cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a fortes chuvas e o soprar <strong>de</strong> certos ventos que represam e elevam<br />
as águas da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Normalmente <strong>em</strong> toda a maré cheia a água<br />
<strong>do</strong> mar chega às franjas da cida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong> mansamente lamber o <strong>de</strong>grau<br />
<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> peixes situa<strong>do</strong> <strong>de</strong>fronte à baía. Com menos freqüência na<br />
conjugação <strong>de</strong> alguns <strong>do</strong>s fatores menciona<strong>do</strong>s acima, duas a três vezes<br />
ao ano, a maré a<strong>de</strong>ntra a parte mais baixa <strong>de</strong> algumas das ruas situadas<br />
junto ao mar pelo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> poucas horas.<br />
Esse fenômeno consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> “poético” constitui atração turística da<br />
cida<strong>de</strong> e é aprecia<strong>do</strong> por muitos, aceito por to<strong>do</strong>s, canta<strong>do</strong> <strong>em</strong> verso e<br />
prosa e à lua cheia consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> inspiração para serenatas.<br />
Mais raramente, a cada três anos, a conjugação <strong>de</strong>sses três fatores: maré<br />
cheia <strong>de</strong> lua, ventos excepcionalmente fortes e rios cheios <strong>de</strong> água po-<br />
d<strong>em</strong> levar a que a elevação <strong>do</strong> mar suba mais meio metro, não mais que<br />
isso. Nesses casos os turistas se consi<strong>de</strong>ram afortuna<strong>do</strong>s por po<strong>de</strong>r<strong>em</strong><br />
apreciar o fenômeno <strong>em</strong> toda a <strong>sua</strong> intensida<strong>de</strong>. Os estabelecimentos<br />
comerciais das ruas próximas <strong>do</strong> mar já estão acostuma<strong>do</strong>s ao fenômeno<br />
e t<strong>em</strong> maneiras <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias <strong>de</strong> forma que a maré<br />
cheia não prejudique seu negócio.<br />
Até o presente a cida<strong>de</strong> conviveu com o fenômeno da maré cheia s<strong>em</strong><br />
consi<strong>de</strong>rar que isso seja uma questão grave ou motivo <strong>de</strong> preocupação.<br />
Prepara<strong>do</strong>s para esse fenômeno natural o aceitam e consi<strong>de</strong>ram-no um<br />
el<strong>em</strong>ento mais <strong>de</strong> atração aos visitantes.<br />
No caso das mudanças climáticas que se avizinham, se o nível <strong>do</strong> mar<br />
se elevar mais <strong>de</strong> 10 a 20 cm e chegar a ultrapassar 50 cm o nível atual <strong>do</strong><br />
mar. A área <strong>em</strong> que se encontra o centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> será certamen-<br />
te um motivo <strong>de</strong> séria preocupação. Nesse caso somente a construção <strong>de</strong><br />
diques <strong>de</strong> contenção po<strong>de</strong>rá solucionar esse probl<strong>em</strong>a. Para isso o trecho<br />
chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Terra Nova” situa<strong>do</strong> <strong>de</strong> fronte à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vera ser o local<br />
on<strong>de</strong> esses diques terão <strong>de</strong> ser construí<strong>do</strong>s com barragens e comportas na<br />
177
178<br />
foz <strong>do</strong>s rios. A experiência <strong>do</strong> norte europeu, nesse campo já foi cogitada.<br />
Consulta<strong>do</strong>s especialistas nesse setor manifestaram-se por uma solução que<br />
não seja <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a dificulda<strong>de</strong> para esse caso. O mesmo probl<strong>em</strong>a se rela-<br />
ciona com a questão da coleta e tratamento <strong>do</strong>s esgotos <strong>do</strong> centro histórico<br />
que apresenta maior grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e exigirá a construção <strong>de</strong> uma<br />
estação elevatória, <strong>em</strong> local próximo.<br />
III) DESASTRES NATURAIS E PRECAUÇÕES<br />
(TERREMOTOS, ENCHENTES, INCÊNDIOS, ETC)<br />
Os escorregamentos na Serra, provoca<strong>do</strong> pelas fortes chuvas, são uma ame-<br />
aça a conservação <strong>do</strong>s caminhos <strong>de</strong> pedra.<br />
IV) AMEAÇAS GERADAS PELO FLUXO DE VISITANTES E TURISTAS<br />
<strong>Paraty</strong> recebe um fluxo <strong>de</strong> turismo constante durante to<strong>do</strong> o ano, sen<strong>do</strong> os<br />
franceses, segui<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s ingleses e americanos os que mais visitam a cida<strong>de</strong>.<br />
Suas festas religiosas e populares atra<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas, po-<br />
rém nos feriadões, como carnaval e reveillon a cida<strong>de</strong> recebe um número<br />
muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitantes, sen<strong>do</strong>, nestas épocas, as infra-estruturas mos-<br />
tram-se <strong>de</strong>ficientes. Porém, não chegam a causar danos ao sítio histórico.<br />
No Parque por não possuir estrada pavimentada que dê, acesso às antigas<br />
trilhas, a pressão não acontece, <strong>em</strong> breve <strong>de</strong>verá ser implantada um sist<strong>em</strong>a<br />
<strong>de</strong> Estrada Parque, com duas guaritas <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> fluxo <strong>do</strong>s visitantes. O<br />
caminho antigo, só é explora<strong>do</strong> turisticamente <strong>em</strong> <strong>do</strong>is trechos, sen<strong>do</strong> a con-<br />
servação <strong>de</strong>ste <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s proprietários. Projeto para abertura <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong> trajeto à visitação pública está <strong>em</strong> andamento e <strong>de</strong>verão ser orienta<strong>do</strong>s<br />
pelo IPHAN e IBAMA – Parque Nacional da Serra da Bocaina.<br />
Recent<strong>em</strong>ente foi implanta<strong>do</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> sinalização turística.<br />
V) POPULAÇÃO ASSENTADA NO BEM E NAS ZONAS TAMPÃO<br />
De acor<strong>do</strong> com o IBGE, a população estimada para <strong>Paraty</strong> é:<br />
Centro Histórico – 1800<br />
Zona <strong>de</strong> amortecimento urbana – 15.500<br />
Zonas <strong>de</strong> amortecimento rurais – 16.395<br />
Total <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – 33.695<br />
2006
5 Proteção<br />
e Gestão <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />
5.a Direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />
A Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> t<strong>em</strong> autonomia administrativa sobre a cida-<br />
<strong>de</strong>, submeten<strong>do</strong>-se hierarquicamente à legislação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da União.<br />
O b<strong>em</strong> proposto para a inscrição na lista <strong>do</strong> patrimônio mundial (área<br />
tombada) é na <strong>sua</strong> maioria <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> privada, mas o Município pos-<br />
sui algumas, b<strong>em</strong> como a União.<br />
O IPHAN possui as seguintes proprieda<strong>de</strong>s: Sobra<strong>do</strong> à Praça Monse-<br />
nhor Hélio Pires nº 11 – se<strong>de</strong> <strong>do</strong> IPHAN; o Forte Defensor Perpétuo que<br />
abriga o Museu <strong>de</strong> Arte e Tradições Populares e o morro on<strong>de</strong> está loca-<br />
liza<strong>do</strong>. Através <strong>de</strong> convênio com a Mitra Diocesana <strong>de</strong> Barra <strong>do</strong> Piraí ad-<br />
ministra o Museu <strong>de</strong> Arte Sacra.<br />
Parque Nacional da Serra da Bocaina – é administra<strong>do</strong> pelo IBAMA,<br />
conforme o disposto no Sist<strong>em</strong>a Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />
– SNUC – Lei Fe<strong>de</strong>ral no 9985/2000, <strong>em</strong> seu Art. 11: § O Parque Nacional<br />
é <strong>de</strong> posse e <strong>do</strong>mínio públicos, sen<strong>do</strong> que as áreas particulares incluídas<br />
<strong>em</strong> seus limites serão <strong>de</strong>sapropriadas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o que dispõe a lei.<br />
Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>de</strong> Cairuçu - Conforme o SNUC – Lei Fe<strong>de</strong>-<br />
ral no 9985/2000, <strong>em</strong> seu Art. 15: § 1o A Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental é<br />
constituída por terras públicas ou privadas.<br />
No caso das 63 ilhas que faz<strong>em</strong> parte da APA <strong>de</strong> Cai-<br />
ruçu, todas elas, com exceção da Ilha da Bexiga, Ilha<br />
<strong>do</strong> Araújo e Ilha <strong>do</strong> Algodão, são proprieda<strong>de</strong> da<br />
União, conforme a Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<br />
Reserva Ecológica da Juatinga é consi<strong>de</strong>-<br />
rada <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínio público, administrada pelo<br />
Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas – IEF, da Se-<br />
cretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ambiente <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro – SEA.
180<br />
5.b Medidas <strong>de</strong> Proteção<br />
A primeira medida <strong>de</strong> proteção legal <strong>do</strong> conjunto arquitetônico e urbanís-<br />
tico da cida<strong>de</strong> foi o Decreto-Lei Estadual nº 1.450, <strong>de</strong> 18/09/45 que elevou<br />
<strong>Paraty</strong> a categoria <strong>de</strong> Monumento Histórico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
O <strong>de</strong>creto vinculou o conjunto arquitetônico e urbanístico tradicional <strong>de</strong><br />
Parati à supervisão da Diretoria <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-<br />
nal, já que na ocasião não existiam órgão estadual n<strong>em</strong> municipal.<br />
O Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN inscre-<br />
veu nos Livros <strong>de</strong> Tombo das Belas Artes e no Arqueológico, Etnográfico e<br />
Paisagístico, através <strong>do</strong> Processo nº 563-T-57, o “Conjunto Arquitetônico<br />
e Paisagístico da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e especialmente o prédio da Santa<br />
Casa”, no ano <strong>de</strong> 1958. O Forte Defensor Perpétuo já havia si<strong>do</strong> tomba<strong>do</strong><br />
<strong>em</strong> 1957, e, posteriormente, <strong>em</strong> 1962; foram tombadas as quatro igrejas:<br />
Igreja Matriz <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios, Igreja <strong>de</strong> Santa Rita, Igreja<br />
<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário e a Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores.<br />
O Governo Fe<strong>de</strong>ral, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aos reclamos <strong>de</strong> diversas entida<strong>de</strong>s in-<br />
teressadas na preservação histórica e paisagística <strong>do</strong> município, e ten<strong>do</strong><br />
<strong>em</strong> vista o valor excepcional <strong>do</strong> seu conjunto arquitetônico, além da ex-<br />
traordinária beleza natural e a originalida<strong>de</strong> da área, e também pelo pa-<br />
pel histórico que representou como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> ligação entre as capita-<br />
nias <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, erigiu como<br />
Monumento Nacional o “Conjunto Paisagístico <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, e<br />
especialmente o acervo arquitetônico da cida<strong>de</strong>” pelo Decreto Lei 58.077<br />
<strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1966.<br />
Além <strong>do</strong> IPHAN, outros órgãos foram <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s a dar cumprimento<br />
<strong>do</strong> cita<strong>do</strong> Decreto. A proteção <strong>do</strong> patrimônio florestal <strong>do</strong> município foi<br />
assegurada por meio <strong>do</strong> Decreto nº 68.172/71 e posteriormente ratifica-<br />
<strong>do</strong> pelo Decreto nº 70.694 / 72, que altera a <strong>de</strong>limitação estabelecida<br />
pelo Decreto anterior, o “Parque Nacional da Serra da Bocaina”.<br />
O reconhecimento <strong>do</strong> valor excepcional da <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>, constituída<br />
por formações físicas e biológicas <strong>de</strong> relevante interesse estético e cientí-<br />
fico, além <strong>do</strong> seu caráter histórico e cultural, foi posteriormente reafirma-<br />
<strong>do</strong> através da extensão <strong>do</strong> tombamento <strong>do</strong> conjunto arquitetônico para<br />
to<strong>do</strong> o “Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>”, que foi inscrito nos Livros <strong>de</strong> Tombo das<br />
Belas Artes e no Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong>
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional <strong>em</strong> 01 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1974 através<br />
<strong>do</strong> Processo nº 563-T-57. É o único município <strong>do</strong> Brasil registra<strong>do</strong> inte-<br />
gralmente no Livro <strong>de</strong> Tombo das Belas Artes e o primeiro a ser reconhe-<br />
ci<strong>do</strong> por <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> excepcional. A partir <strong>de</strong> então, <strong>de</strong>flagrou-se o<br />
processo, e várias foram as formas <strong>de</strong> proteção a<strong>do</strong>tadas pelas entida<strong>de</strong>s<br />
responsáveis pela preservação ambiental e natural. (certidão <strong>em</strong> anexo)<br />
O Decreto Estadual visava a proteção, manutenção e conservação <strong>do</strong><br />
conjunto arquitetônico urbano e regulamentava as obras <strong>de</strong> construção e<br />
reforma, e a expansão <strong>do</strong>s bairros limítrofes. No primeiro tombamento<br />
fe<strong>de</strong>ral além <strong>do</strong> sítio histórico urbano inclu<strong>em</strong>-se outras edificações e pro-<br />
tege-se também a paisag<strong>em</strong> <strong>do</strong> entorno, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter<br />
inalterada <strong>sua</strong> feição peculiar. Por <strong>sua</strong> vez, a conversão <strong>do</strong> Município <strong>em</strong><br />
Monumento Nacional, além <strong>de</strong> reafirmar e ratificar os tombamentos an-<br />
teriores, cria uma área <strong>de</strong> proteção especialíssima <strong>em</strong> torno <strong>do</strong> sítio histó-<br />
rico, num círculo <strong>de</strong> 5 km <strong>de</strong> raio, cujo eixo se situa na praça da Matriz.<br />
O tombamento <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> representa o fortalecimento <strong>de</strong><br />
uma concepção <strong>de</strong> preservação como ativida<strong>de</strong> global, que envolve a<br />
cultura e o meio ambiente.<br />
O Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, vincula<strong>do</strong> ao<br />
Ministério da Cultura, é a mais antiga instituição <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> bens<br />
culturais da América Latina. Caracteriza-se pela diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s atri-<br />
buições, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as ações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, proteção, restauração,<br />
preservação e fiscalização <strong>de</strong> bens físicos, paisagísticos, arqueológicos,<br />
até a administração <strong>de</strong> bibliotecas, arquivos e museus, abrangen<strong>do</strong> as-<br />
pectos importantes <strong>do</strong> panorama cultural brasileiro.<br />
A ação <strong>do</strong> IPHAN se <strong>de</strong>senvolve por meio <strong>de</strong> 14 superintendências<br />
regionais e 19 sub-regionais, <strong>de</strong> 12 museus nacionais e 18 museus regio-<br />
nais, nove casas históricas e um parque histórico. É também da responsa-<br />
bilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Governo Brasileiro, por meio <strong>do</strong> IPHAN, a preservação <strong>de</strong><br />
onze bens <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>s pela Unesco Patrimônio Mundial.<br />
O IPHAN atua <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> através da 6ª Superintendência Regional, com<br />
se<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, e é representa<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> pela 8ª Sub-<br />
Regional, que realiza a fiscalização, análise e o acompanhamento <strong>do</strong>s<br />
processos <strong>de</strong> intervenção arquitetônica e urbanística <strong>em</strong> toda a área tom-<br />
bada, no resgate e manutenção das festas e tradições populares, na res-<br />
tauração e preservação <strong>do</strong> acervo sacro e no apoio às manifestações cul-<br />
181
182<br />
turais. Funciona ainda no atendimento à t<strong>em</strong>as relaciona<strong>do</strong>s com a<br />
preservação, prestan<strong>do</strong> esclarecimentos e orientações à população.<br />
Preocupa<strong>do</strong>s com a proteção <strong>do</strong> r<strong>em</strong>anescente <strong>de</strong> mata atlântica que<br />
cobre cerca <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong> município os legisla<strong>do</strong>res criaram uma série <strong>de</strong><br />
leis, <strong>de</strong>cretos e portarias instituin<strong>do</strong> parques florestais, área <strong>de</strong> proteção<br />
ambiental e reservas ecológicas. Após a inscrição <strong>de</strong> toda a área <strong>do</strong> mu-<br />
nicípio no livro <strong>de</strong> tombo <strong>do</strong> IPHAN, uma séria <strong>de</strong> áreas naturais protegi-<br />
das foram criadas para garantir a conservação da paisag<strong>em</strong> natural, da<br />
Mata Atlântica e <strong>do</strong>s seus principais atributos, como a biodiversida<strong>de</strong>, a<br />
beleza cênica e as manifestações culturais tradicionais:<br />
Parque Nacional da Serra da Bocaina - foi cria<strong>do</strong> pelo Decreto<br />
n o 68.172 / 71 e posteriormente ratifica<strong>do</strong> pelo Decreto n o 70.694<br />
/ 72, que altera a <strong>de</strong>limitação estabelecida pelo Decreto anterior. É<br />
uma parte preservada da Floresta Tropical Atlântica, que tão b<strong>em</strong><br />
soube guardar “O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>” situada na região litoral,<br />
entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Sua paisag<strong>em</strong>,<br />
<strong>de</strong> rara beleza, se encontra no meio <strong>do</strong> caminho das duas maiores<br />
metrópoles <strong>do</strong> Brasil - São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro. Este parque<br />
nacional <strong>de</strong> 100.000 ha é um belo ex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong> floresta oceânica<br />
protegida que abriga uma fauna e flora muito rica on<strong>de</strong> o melhor<br />
das espécies está ameaça<strong>do</strong> <strong>de</strong> extinção. É um <strong>do</strong>s únicos sítios<br />
conserva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> litoral.<br />
Apa <strong>do</strong> Cairuçu - Decreto n o 89.242 / 83, foi criada para assegurar<br />
a proteção <strong>do</strong> ambiente, que abriga espécies raras e ameaçadas <strong>de</strong><br />
extinção, paisagens <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> beleza cênica, sist<strong>em</strong>as hidrológicos<br />
da região e as comunida<strong>de</strong>s caiçaras integradas neste ecossist<strong>em</strong>a.<br />
A APA abrange uma parte continental e outra insular. Proíbe ou<br />
restringe: obras <strong>de</strong> terraplanag<strong>em</strong>, abertura <strong>de</strong> canais, implantação<br />
<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s industriais potencialmente polui<strong>do</strong>ras, ativida<strong>de</strong>s<br />
capazes <strong>de</strong> provocar a erosão <strong>do</strong>s solos, que ameac<strong>em</strong> a biota etc.;<br />
Reserva da Juatinga - Decreto nº 17.981/92. Criada com área non<br />
aedificandi a ser administrada pela Fundação IEF. Nos termos <strong>do</strong><br />
artigo 2º, a Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Meio Ambiente expedirá os atos<br />
normativos e as instituições necessárias à efetiva implantação da<br />
reserva, obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> a legislação <strong>em</strong> vigor. Justifica-se <strong>sua</strong> criação<br />
pelo esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> preservação da Mata Atlântica, <strong>do</strong>s manguesais <strong>do</strong>
Saco <strong>do</strong> Mamanguá e pela existência <strong>de</strong> várias espécies da fauna e<br />
da flora, endêmicas ou ameaçadas <strong>de</strong> extinção e também pelas<br />
diversas comunida<strong>de</strong>s caiçaras.<br />
APA Municipal da Baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e Saco <strong>do</strong> Mamanguá, <strong>em</strong> 1984;<br />
Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, <strong>em</strong> 1990;<br />
Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, que inclui <strong>Paraty</strong>, <strong>em</strong> 1992.<br />
A Prefeitura Municipal – É importante salientar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Código <strong>de</strong><br />
Obras <strong>de</strong> 1947 o IPHAN e a Prefeitura Municipal atuam com a mesma<br />
legislação. O Plano Diretor – revisão, ora <strong>em</strong> fase conclusão foi uma ini-<br />
ciativa <strong>do</strong> IBAMA-IPHAN através <strong>do</strong> <strong>Programa</strong> Patrimônio Natural <strong>em</strong> Nú-<br />
cleos Históricos. Estas ações visam garantir a or<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> crescimento<br />
da cida<strong>de</strong>, estabelecen<strong>do</strong> a política urbana, as áreas <strong>de</strong> expansão, a<br />
preservação <strong>do</strong> patrimônio histórico e Natural, a locação das ativida<strong>de</strong>s, o<br />
parcelamento <strong>do</strong> solo e normas para edificações e posturas (Anexo ...)<br />
5.c Meios para impl<strong>em</strong>entação das medidas <strong>de</strong> proteção<br />
A autonomia política e administrativa, no Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, é exercida<br />
pelos três po<strong>de</strong>res constitucionais <strong>do</strong> país: executivo, legislativo e judiciário.<br />
O po<strong>de</strong>r executivo é exerci<strong>do</strong> pelo prefeito municipal, eleito pelo povo<br />
para um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> quatro anos. A ele cabe administrar o município pro-<br />
moven<strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento e progresso. O po<strong>de</strong>r legislativo, compos-<br />
> PDT – Praia <strong>de</strong><br />
Tarituba, 2003<br />
183
184<br />
SISTEMA DE<br />
VALORES<br />
Meio Ambiente<br />
Social<br />
Cultural<br />
Tecnologico<br />
Econômico<br />
to por onze verea<strong>do</strong>res, eleitos também para um mandato <strong>de</strong> quatro<br />
anos, elabora as leis e diretrizes da vida municipal. O po<strong>de</strong>r judiciário é<br />
exerci<strong>do</strong> pelo juiz <strong>de</strong> direito da comarca, <strong>de</strong> livre nomeação <strong>do</strong> Governo<br />
Estadual e t<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> fiscalizar o cumprimento das leis.<br />
Estes três po<strong>de</strong>res, cada um <strong>em</strong> <strong>sua</strong>s funções específicas, administram<br />
o município <strong>em</strong> toda <strong>sua</strong> extensão territorial. Atualmente o Município<br />
está dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> três distritos: o primeiro é Parati (se<strong>de</strong>), o segun<strong>do</strong> é<br />
Parati-Mirim e o terceiro, Tarituba.<br />
O Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, b<strong>em</strong> como o Forte Defensor Perpétuo, as Igre-<br />
jas e o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> incluin-<br />
<strong>do</strong> a Santa Casa, são bens tomba<strong>do</strong>s pelo IPHAN, sen<strong>do</strong> <strong>sua</strong> atribuição a<br />
preservação <strong>de</strong>stes bens. O Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico<br />
Nacional foi cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1937, com a promulgação da Lei<br />
nº 378, foi instituí<strong>do</strong> como Autarquia Pública Fe<strong>de</strong>ral <strong>em</strong> 1990, vincula<strong>do</strong><br />
ao Ministério da Cultura – MinC.<br />
Biodiversida<strong>de</strong><br />
Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Pesca<br />
Fabricação<br />
<strong>de</strong> Barcos<br />
Artesanato<br />
e Cachaça<br />
Agricultura<br />
Lazer<br />
Participação<br />
Social<br />
Comunida<strong>de</strong><br />
I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />
Religiosida<strong>de</strong><br />
PARATY<br />
Música<br />
Trabalho<br />
Habitação<br />
Educação<br />
Turismo Cultural<br />
Patrimônio<br />
Imaterial<br />
Patrimônio<br />
Material<br />
Merca<strong>do</strong><br />
Imobiliário<br />
Ecoturismo<br />
Comércio<br />
Mata Atlântica<br />
Clima
O Parque Nacional da Serra da Bocaina, a APA <strong>do</strong> Cairuçú e a Estação<br />
Ecológica <strong>do</strong>s Tamoios são administra<strong>do</strong>s pelo IBAMA - Instituto Brasileiro<br />
<strong>do</strong> Meio Ambiente e <strong>do</strong>s Recursos Naturais Renováveis, Autarquia Fe<strong>de</strong>-<br />
ral, <strong>de</strong> Regime Especial, criada pela lei n° 7.735, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong><br />
1989, alterada pelas leis n° 7.804, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1989, n° 7.957 <strong>de</strong><br />
20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1989, e n° 8.028 <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1990, vinculada<br />
ao Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, <strong>do</strong>s Recursos Hídricos e da Amazônia<br />
Legal – MMA.<br />
A Reserva Ecológica da Juatinga e gerida pelo Instituto Estadual <strong>de</strong><br />
Florestas, cria<strong>do</strong> pela Lei n.º 1.071, <strong>de</strong> 18/11/86, vincula<strong>do</strong> à Secretaria <strong>de</strong><br />
Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ambiente (SEA) <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />
5.d Políticas e programas relativos à valorização e à<br />
promoção <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />
PLANO DIRETOR DE PARATY<br />
Lei <strong>do</strong> Plano Diretor <strong>de</strong> Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
– 1996. O Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela Secretaria <strong>de</strong> Plane-<br />
jamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, e foi realiza<strong>do</strong> pela Prefeitura Muni-<br />
cipal, IPHAN, IBAMA, com ampla participação da comunida<strong>de</strong> segun<strong>do</strong><br />
objetivo específico, foi orienta<strong>do</strong> para aten<strong>de</strong>r o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<br />
mento sustenta<strong>do</strong>, restabelecen<strong>do</strong> a relação orgânica entre o meio am-<br />
biente natural e construí<strong>do</strong>, potencializan<strong>do</strong> recursos, estimulan<strong>do</strong> projetos<br />
<strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda para a população e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />
para o engran<strong>de</strong>cimento das dimensões humanas, culturais e ecológicas.<br />
Além da legislação <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> uso e ocupação <strong>do</strong> solo e preservação <strong>do</strong><br />
meio ambiente, natural e construí<strong>do</strong>, que está sen<strong>do</strong> concluída.<br />
PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DO MUNICÍPIO<br />
DE PARATY<br />
foi elabora<strong>do</strong> pela Solving Consultoria <strong>em</strong> Turismo, no ano <strong>de</strong> 2003, com<br />
o apoio da Secretaria <strong>de</strong> Turismo e Cultura da Prefeitura, IBAMA, IEF, SE-<br />
BRAE, SOS Mata Atlântica, TurisRio. Teve como objetivo planejar o <strong>de</strong>sen-<br />
volvimento <strong>do</strong> turismo no Município <strong>de</strong> forma sustentável através da pro-<br />
moção da melhoria das relações sociais – menores <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais,<br />
185
186<br />
aumento da renda média e <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra da população local, da<br />
valorização da cultura, preservação <strong>do</strong> meio-ambiente e <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<br />
mento da economia <strong>de</strong> forma equilibrada e consistente.<br />
As ações propostas visaram estabelecer os objetivos e metas <strong>do</strong> muni-<br />
cípio com relação ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico, e através <strong>de</strong>ste, estabe-<br />
lecer as diretrizes ou a política municipal <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> turismo.<br />
Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis <strong>em</strong> Sítios Históricos Urba-<br />
nos Tomba<strong>do</strong>s - Conjunto Arquitetônico e Paisagístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, re-<br />
aliza<strong>do</strong> pelo Departamento <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação e Documentação <strong>do</strong><br />
IPHAN, foi concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 2003. Teve como objetivo regis-<br />
trar sist<strong>em</strong>aticamente os imóveis, como forma <strong>de</strong> produzir conheci-<br />
mento sobre o sítio, possibilitan<strong>do</strong> estabelecer mecanismos mais efi-<br />
cazes <strong>de</strong> preservação. To<strong>do</strong>s os imóveis <strong>do</strong> sítio histórico, cerca <strong>de</strong> 460,<br />
foram cadastra<strong>do</strong>s. Os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentais existentes nos arquivos e<br />
bibliotecas públicas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>Paraty</strong> foram levanta<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>-<br />
ram orig<strong>em</strong> a um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Pesquisa Histórica. Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s por<br />
meio <strong>do</strong> levantamento arquitetônico e da pesquisa histórica compõ<strong>em</strong><br />
um sist<strong>em</strong>a informatiza<strong>do</strong>, um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> é possível acessar<br />
as plantas <strong>do</strong>s imóveis, além <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre: o proprietário, esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
conservação e preservação, aspectos sócio-econômicos <strong>de</strong> seus mora-<br />
<strong>do</strong>res, uso, materiais construtivos e etc...<br />
Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio – Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e<br />
Monumentos Nacionais, Direção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divul-<br />
gação – Lisboa/Portugal, t<strong>em</strong> por objetivo registrar todas as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
orig<strong>em</strong> portuguesa. O Inventário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico foi reali-<br />
za<strong>do</strong> <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003, que resultou n o registro multimídia, elabo-<br />
ra<strong>do</strong> pelo Centro <strong>de</strong> Computação Gráfica – Lisboa/Portugal. O <strong>do</strong>cu-<br />
mento contém a <strong>de</strong>scrição arquitetônica <strong>do</strong> sítio histórico, cronologia<br />
histórica e, plantas cadastrais com da<strong>do</strong>s sobre a tipologia das edifi-<br />
cações, datação <strong>do</strong>s imóveis, elevações das quadras, <strong>de</strong>ntre outros.<br />
PROGRAMA MONUMENTA/BID<br />
O Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentou <strong>em</strong> Abril <strong>de</strong> 2003 a O PROJETO PARA-<br />
TI/RJ - Carta Consulta, resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento <strong>de</strong> ações estratégicas<br />
para a recuperação <strong>do</strong> patrimônio histórico <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.
O MONUMENTA é um programa <strong>de</strong> recuperação sustentável <strong>do</strong> patrimô-<br />
nio histórico urbano brasileiro sob tutela fe<strong>de</strong>ral, resultante <strong>de</strong> Contrato<br />
<strong>de</strong> Empréstimo 1200/OC-BR, entre o BID – Banco Interamenricano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento e a República Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil. Desenvolve-se no<br />
âmbito <strong>do</strong> Ministério da Cultura, com a participação <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong> Patri-<br />
mônio Histórico e Artístico Nacional.<br />
A área objeto <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong> <strong>Programa</strong> são os sítios histórico urbanos<br />
nacionais (SHUN) e os conjuntos urbanos <strong>de</strong> monumentos nacionais<br />
(CUMN) tomba<strong>do</strong>s pelo IPHAN. Promove a execução <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> conser-<br />
vação, restauro e propõe medidas econômicas, institucionais e educativas<br />
que vis<strong>em</strong> a manutenção sustentável <strong>do</strong> patrimônio preserva<strong>do</strong>.<br />
PROJETO ORLA<br />
O Projeto <strong>de</strong> Gestão Integrada da Orla Marítima – é uma iniciativa <strong>do</strong><br />
Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente – MMA, <strong>em</strong> parceria com a Secretaria <strong>do</strong><br />
Patrimônio da União – SPU, com interveniência Da FEEMA e <strong>do</strong> IPHAN,<br />
busca contribuir, <strong>em</strong> escala nacional, para aplicação <strong>de</strong> diretrizes gerais<br />
<strong>de</strong> disciplinamento <strong>de</strong> uso <strong>do</strong> solo e ocupação <strong>do</strong> solo da Orla Marítima.<br />
Desenvolvi<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2003.<br />
O seu <strong>de</strong>senho institucional se orienta no senti<strong>do</strong> da <strong>de</strong>scentralização<br />
<strong>de</strong> ações <strong>de</strong> planejamento e gestão <strong>de</strong>ste espaço, da esfera fe<strong>de</strong>ral para<br />
a <strong>do</strong> município. Articula os Órgãos Estaduais <strong>de</strong> Meio Ambiente – OE-<br />
MAs, Gerências Regionais <strong>do</strong> Patrimônio da União – GRPUs, administra-<br />
ções Municipais e organizações não governamentais locais, e outras enti-<br />
da<strong>de</strong>s e instituições relacionadas ao patrimônio histórico, artístico e<br />
cultural. As questões abordadas são as fundiárias e as ativida<strong>de</strong>s econô-<br />
micas específicas – como as portuárias ou relativas à exploração petrolífe-<br />
ra, cuja atuação tenha rebatimento <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> naquele espaço.<br />
São objetivos estratégicos <strong>do</strong> Projeto Orla o fortalecimento da capaci-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação e a articulação <strong>de</strong> diferentes atores <strong>do</strong> setor público e<br />
priva<strong>do</strong> na gestão integrada da orla; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mecanismos<br />
institucionais <strong>de</strong> mobilização social para <strong>sua</strong> gestão integrada; e o estímu-<br />
lo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s sócio-econômicas compatíveis com o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável da orla.<br />
187
188<br />
> J.P.- Vista aérea da<br />
Estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha (à<br />
esquerda) e <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Ouro</strong> (no alto à direita)<br />
Em <strong>Paraty</strong> o projeto se dirigiu para as questões <strong>do</strong> assoreamento da orla<br />
da cida<strong>de</strong>, regularização fundiária <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> marinha e urbanização<br />
<strong>do</strong>s espaços livres públicos, <strong>de</strong> forma que não venham a interferir no sítio<br />
histórico urbano e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>.<br />
PLANO DE MANEJO DO PARQUE NACIONAL DA BOCAINA<br />
Resultou <strong>de</strong> um convênio entre o Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, o Instituto<br />
Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente (IBAMA)/Diretoria <strong>de</strong> Ecossist<strong>em</strong>as (DIREC)/<br />
Departamento <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (DEUC) e a Associação Pró<br />
Bocaina, firma<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1996, contan<strong>do</strong> com o apoio da Secre-<br />
taria <strong>do</strong> Meio Ambiente São Paulo/ Unicamp – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia<br />
Civil e Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Foi entregue <strong>em</strong> 2002.<br />
Está organiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> seis encartes que representam passos <strong>do</strong> planeja-<br />
mento, com procedimentos e conteú<strong>do</strong>s específicos. A estrutura parte <strong>de</strong>
um contexto amplo, da organização fe<strong>de</strong>ral das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conserva-<br />
ção até o <strong>de</strong>talhamento <strong>do</strong>s recursos naturais e aspectos sócio-econômi-<br />
cos e culturais que afetam, direta ou indiretamente, o Parque Nacional da<br />
Serra da Bocaina (PNSB).<br />
Estabeleceu o zoneamento e as normas que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> orientar o uso, o<br />
manejo <strong>do</strong>s seus recursos naturais e a implantação das estruturas físicas<br />
necessárias à gestão <strong>de</strong>sta Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação. Estas orientações fo-<br />
ram norteadas por objetivos específicos, obti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um diagnóstico ambien-<br />
tal que analisa tanto a Unida<strong>de</strong> como <strong>sua</strong> Zona <strong>de</strong> Amortecimento, enten-<br />
dida como a área circundante que exerce influência no Parque Nacional.<br />
PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL DA APA DO CAIRUÇÚ<br />
Em <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1998 a Fundação SOS Mata Atlântica e o IBAMA, assina-<br />
ram um Termo <strong>de</strong> Cooperação Técnica com o objetivo da elaboração e<br />
impl<strong>em</strong>entação <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão Ambiental da APA <strong>de</strong> CAIRUÇU. Em<br />
abril <strong>de</strong> 1999 foram formalizadas parcerias com o Instituto Estadual <strong>de</strong><br />
Florestas - IEF, e Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> com o objetivo <strong>de</strong> integrar<br />
neste Plano a Reserva Ecológica da Juatinga - REJ e o po<strong>de</strong>r público local.<br />
O Plano teve por objetivo cont<strong>em</strong>plar as principais informações sócio<br />
ambientais <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação e a regulamentação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong><br />
seu território. Na área da APA exist<strong>em</strong> outras unida<strong>de</strong>s a Reserva Ecológi-<br />
ca da Juatinga e o Parque Nacional da Bocaina.<br />
Ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista a participação das comunida<strong>de</strong>s da APA no processo <strong>de</strong><br />
planejamento, e gestão da unida<strong>de</strong>, a elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão foi<br />
acompanhada <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental e mobi-<br />
lização social, que vieram a constituir o “Projeto Cairuçu”, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong><br />
pela Fundação SOS Mata Atlântica, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s objetivos estabeleci<strong>do</strong>s pe-<br />
los termos <strong>de</strong> cooperação com IBAMA, IEF-RJ e Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
A diretriz <strong>do</strong> Projeto Cairuçu foi trabalhar a elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong><br />
Gestão Ambiental <strong>de</strong> forma participativa, informativa e pedagógica, ouvin-<br />
<strong>do</strong> a comunida<strong>de</strong> e divulgan<strong>do</strong> os principais conceitos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável. Concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2002, este plano foi aprova<strong>do</strong> pela Camara Mu-<br />
nicipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>do</strong> mesmo ano, e pelo IBAMA <strong>em</strong> 2005.<br />
189
190<br />
ILUMINAÇÃO URBANA DO CENTRO HISTÓRICO<br />
Projeto para a implantação da re<strong>de</strong> elétrica <strong>de</strong> distribuição subterrânea e<br />
implantação <strong>do</strong> novo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> iluminação <strong>do</strong> centro histórico <strong>de</strong> Parati.<br />
As obras subterrâneas já foram completadas e permitirão eliminar a<br />
poluição vi<strong>sua</strong>l causada pela re<strong>de</strong> aérea <strong>de</strong> distribuição hoje existente. O<br />
Projeto luminotécnico foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela 6ªSR/IPHAN, contribuirá sig-<br />
nificativamente para o aumento <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> no suprimento<br />
<strong>de</strong> energia elétrica, propician<strong>do</strong> assim, a redução no consumo <strong>de</strong> energia<br />
elétrica. Os trabalhos estão <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> conclusão, e o convênio foi assi-<br />
na<strong>do</strong> por FURNAS –Centrais Elétricas Brasileiras, Eletrobrás, Companhia<br />
<strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Energia da In-<br />
dústria Naval e <strong>do</strong> Petróleo, o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e o Instituto <strong>do</strong> Patri-<br />
mônio Histórico e Artístico Nacional.<br />
PROGRAMA INTERNACIONAL PARA O APRIMORAMENTO DO<br />
SANEAMENTO EM PARATY<br />
O programa foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo MIT – Instituto <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Mas-<br />
sachussets, BIOCONSULT, KEMWATER BRASIL, a Prefeitura Municipal,<br />
com apoio da Pró-<strong>Paraty</strong>, Associações e <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong> e o Instituto Histórico Artístico e Cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, ten<strong>do</strong> como<br />
patrocina<strong>do</strong>res a BIOCONSULT e KEMWATER BRASIL. O trabalho constou<br />
da avaliação da infraestrutura <strong>de</strong> água, análise da qualida<strong>de</strong> química e<br />
microbiológica da água – das captações <strong>do</strong> município, caixa d’água, tor-<br />
neira, rios e praias. Avaliação da infraestrutura <strong>de</strong> esgoto: físico-químico<br />
com sal férrico, eletrólise, uso da água <strong>do</strong> mar. Foram propostas soluções<br />
<strong>de</strong> infraestrutura e custo para água e esgoto – coleta, transporte e trata-<br />
mento. O projeto conceitual <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> esgotos elabora<strong>do</strong>, apontou<br />
como alternativa, o tratamento convencional por gravida<strong>de</strong>, por pressão,<br />
por vácuo e <strong>de</strong> pequeno diâmetro, sen<strong>do</strong> necessário a construção <strong>de</strong> es-<br />
tações <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> esgoto. No Bairro Histórico optou-se pela coleta<br />
por gravida<strong>de</strong> - mo<strong>de</strong>lo hidráulico.<br />
PROGRAMAS DE PRESERVAÇÃO DE MONUMENTOS<br />
Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário – A 8ª Sub-Regional/IPHAN, com<br />
verbas da Secretaria <strong>de</strong> Cultura - Ministério da Cultura/PR, realizou obras<br />
<strong>de</strong> restauração <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos integra<strong>do</strong>s: retábulos e talhas <strong>do</strong>s altares -
<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> – guia <strong>de</strong> águas pluviais<br />
191
192<br />
> A.M. – Vila <strong>do</strong> Cruzeiro<br />
no saco <strong>do</strong> Mamanguá<br />
mor e colaterais, <strong>em</strong> 2002. O telha<strong>do</strong> foi restaura<strong>do</strong>, com a supervisão 8ª<br />
Sub-Regional e o apoio da Prefeitura Municipal e da Diocese.<br />
Casa <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – Foram realizadas as obras <strong>de</strong> restaura-<br />
ção <strong>do</strong> imóvel sito à rua Dona Geralda esquina com a rua Doutor Sa-<br />
muel Costa, pela Fundação Roberto Marinho, com apoio <strong>do</strong> IPHAN e<br />
a Prefeitura Municipal. No local foi implanta<strong>do</strong> um Centro <strong>de</strong> Referên-<br />
cia Cultural.<br />
Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores – Foram restaura<strong>do</strong>s os telha<strong>do</strong>s e<br />
os altares principal e laterais, b<strong>em</strong> como as catacumbas e o poço na ára<br />
externa. Os trabalhos foram supervisiona<strong>do</strong>s pelo 8ª. Sub-regional <strong>do</strong><br />
IPHAN e o apoio da Prefeitura Municipal e da Diocese.<br />
Igreja Matriz <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios – A igreja está sen-<br />
<strong>do</strong> restaurada com recursos da Lei Rouanet, através <strong>do</strong> BNDES e além<br />
das obras civis serão substituídas as instalações elétricas e hidrálicas, e<br />
serão instaladas medidas anti-furto e <strong>de</strong> combate a incêndios. O pro-<br />
jeto está sen<strong>do</strong> supervisiona<strong>do</strong> pela 8ª Sub-Regional <strong>do</strong> IPHAN.<br />
S<strong>em</strong>inário “<strong>Paraty</strong> – Planejamento e Patrimônio Mundial” – A<br />
Prefeitura Municipal, a Fundação Roberto Marinho, o IPHAN a Re<strong>de</strong><br />
Globo e o Comitê Executivo Pró-Unesco – <strong>Paraty</strong>, com recursos da Lei<br />
<strong>de</strong> Incentivo à Cultura – MinC realizaram <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001 o<br />
S<strong>em</strong>inário que contou com a participação <strong>de</strong> diversos especialista na-<br />
cionais e internacionais e com ampla participação da comunida<strong>de</strong>. Foi<br />
um importante passo para a união <strong>de</strong> esforços <strong>em</strong> prol da Candidatu-
a. Foi elaborada uma publicação conten<strong>do</strong> a transcrição das palestras<br />
e as conclusões <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> trabalho. Foi formula<strong>do</strong> um <strong>do</strong>cumento<br />
intitula<strong>do</strong> “Carta <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>” que se resume na Declaração <strong>de</strong> Valor<br />
atribuí<strong>do</strong>s ao b<strong>em</strong>, e apontadas as ações <strong>de</strong> planejamento que serão<br />
<strong>de</strong>talhadas pelo Plano <strong>de</strong> Gestão, proposto neste Dossiê.<br />
Educação Patrimonial – Inventário <strong>do</strong>s Bens Materiais e Culturais <strong>de</strong><br />
todas as comunida<strong>de</strong>s e criação da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Educação Patrimonial <strong>em</strong><br />
todas as escolas municipais O projeto está sen<strong>do</strong> executa<strong>do</strong> pelo Comi-<br />
tê Executivo Pró-Unesco, as Secretarias Municipais <strong>de</strong> Educação e <strong>de</strong><br />
Turismo e Cultura. O objetivo <strong>do</strong> projeto é levar a toda a população <strong>de</strong><br />
Parati a proposta <strong>de</strong> tornar o município um Patrimônio <strong>do</strong> Cidadão Pa-<br />
ratiense, para assim, po<strong>de</strong>r levar oferecer os patrimônios locais ao Esta-<br />
<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, ao Brasil e ao Mun<strong>do</strong>. As reuniões estão sen<strong>do</strong><br />
realizadas nas 26 escolas municipais.<br />
Essa iniciativa visa a estabelecer uma relação consciente e criativa entre a<br />
comunida<strong>de</strong> e seu patrimônio. A comunida<strong>de</strong> participa <strong>de</strong> uma tarefa que<br />
consiste <strong>em</strong> fazer com que se compreenda que a história pessoal <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />
os habitantes está intimamente ligada ao passa<strong>do</strong> da cida<strong>de</strong> e que a pre-<br />
servação <strong>do</strong> patrimônio local passa pela preservação <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les.<br />
O Levantamento faz parte das metas estabelecidas no Relatório <strong>de</strong> Es-<br />
tratégia Local da Campanha, que o Movimento Pró-<strong>Paraty</strong> Patrimônio<br />
Mundial redigiu durante a Oficina <strong>de</strong> trabalho “<strong>Paraty</strong> para o Mun<strong>do</strong>”<br />
realizada <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002.<br />
Organização <strong>de</strong> uma associação civil “Pró-<strong>Paraty</strong>”, que contribuiu para<br />
estimular e viabilizar as medidas necessárias à preservação <strong>do</strong> rico patri-<br />
mônio físico, ambiental, histórico e cultural da cida<strong>de</strong>.<br />
O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver <strong>Paraty</strong> transformada <strong>em</strong> Patrimônio da Humanida<strong>de</strong> é<br />
antigo da cida<strong>de</strong> conforme pod<strong>em</strong>os comprovar no abaixo-assina<strong>do</strong> da<br />
década <strong>de</strong> 1980.<br />
5.e Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>do</strong> B<strong>em</strong><br />
O Plano Diretor <strong>de</strong> Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> é o instrumento <strong>de</strong> plane-<br />
jamento capaz <strong>de</strong> orientar o <strong>de</strong>senvolvimento sócio-político e econômico<br />
<strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>-Monumento Nacional, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> prioritaria-<br />
193
194<br />
mente as ações <strong>de</strong> preservação cultural e natural, e instituí<strong>do</strong> parcialmen-<br />
te pela Lei nº 1352/2002, estabeleceu as políticas públicas que orientam<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento sócio-econômico <strong>do</strong> município.<br />
O Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, segun<strong>do</strong> objetivo específico, foi orienta<strong>do</strong><br />
para aten<strong>de</strong>r o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustenta<strong>do</strong>, restabelecen<strong>do</strong> a<br />
relação orgânica entre o meio ambiente natural e construí<strong>do</strong>, potenciali-<br />
zan<strong>do</strong> recursos, estimulan<strong>do</strong> projetos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda para a popu-<br />
lação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para o engran<strong>de</strong>cimento das di-<br />
mensões humanas, culturais e ecológicas. Além da legislação <strong>de</strong> controle<br />
<strong>do</strong> uso e ocupação <strong>do</strong> solo e preservação <strong>do</strong> meio ambiente, natural e<br />
construí<strong>do</strong>, que está sen<strong>do</strong> concluída.<br />
O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> Município é compartilha<strong>do</strong> <strong>em</strong> diversas ins-<br />
tâncias e instituições publicas. O licenciamento <strong>de</strong> obras e os projetos <strong>de</strong><br />
parcelamento e urbanos é prerrogativa municipal, com análise prévia e<br />
autorização <strong>do</strong> IPHAN <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o Município e <strong>do</strong> IBAMA, na APA <strong>do</strong> Cai-<br />
ruçú. A fiscalização é via <strong>de</strong> regra, compartilhada pela Prefeitura e o<br />
IPHAN, além <strong>de</strong> outras instituições públicas <strong>de</strong> controles específicos, meio<br />
ambiente e controle das infra-estruturas. As questões que extrapolam as<br />
medidas administrativas das quais a Prefeitura, o IPHAN e o IBAMA são<br />
capazes, encontram meios <strong>de</strong> controle através <strong>do</strong> Ministério Público (Fe-<br />
<strong>de</strong>ral e Estadual) e <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a judiciário.<br />
O Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong><br />
está anexa<strong>do</strong> a este <strong>do</strong>ssiê. A filosofia a<strong>do</strong>tada para o Plano <strong>de</strong> Gestão foi<br />
a da manutenção e melhorias <strong>do</strong>s bens existentes no sítio s<strong>em</strong>, no entan-<br />
to, interferir no mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida daqueles que faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong> conjunto;<br />
pelo contrário, enten<strong>de</strong>-se como necessária a revitalização e preservação<br />
das características próprias <strong>de</strong> cada etnia.<br />
Visa garantir para as gerações futuras a beleza e a biodiversida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
sítio <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. As ações a ser<strong>em</strong> implantadas levarão <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a<br />
i<strong>de</strong>ntificação das ameaças ao b<strong>em</strong>.<br />
Ação <strong>de</strong> fundamental importância para a preservação <strong>do</strong> sítio <strong>de</strong> Para-<br />
ty é a integração e participação da população local que <strong>de</strong>ve ser intensi-<br />
vamente orientada e esclarecida acerca <strong>do</strong>s critérios a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para a pre-<br />
servação <strong>do</strong> sítio.<br />
A meta <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão é a <strong>de</strong> conciliar o binômio turismo e pro-<br />
teção, que contará com o apoio da população paratiense das Organiza-
ções não Governamentais e das esferas governamentais, a saber, munici-<br />
pal, estadual e fe<strong>de</strong>ral, para que haja a formação <strong>de</strong> uma política pública<br />
<strong>de</strong> preservação e manejo da área.<br />
Em 23 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003, por meio <strong>do</strong> Decreto nº 076/2003 foi<br />
instituída a Comissão Permanente pró-Sítio <strong>do</strong> Patrimônio Mundial <strong>de</strong> Pa-<br />
raty, que é encarregada <strong>de</strong> acompanhar as ações necessárias para obter o<br />
reconhecimento <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> como Sítio <strong>do</strong> Patrimônio Mundial. A Comissão<br />
é integrada por servi<strong>do</strong>res públicos municipais, estaduais e fe<strong>de</strong>rais está-<br />
veis ou <strong>em</strong> comissão, e representantes <strong>de</strong> associações não governamen-<br />
tais, as reuniões realizadas, mensalmente (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então), são abertas a to-<br />
<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s. A Comissão é composta <strong>de</strong> 12 m<strong>em</strong>bros fixos.<br />
Procedimento e Normas encontram-se no Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>em</strong> anexo.<br />
O Plano <strong>de</strong> Gestão foi elabora<strong>do</strong> entre 2006 e 2007 pelos represen-<br />
tantes <strong>do</strong> Comitê Executivo.<br />
O CAMINHO DO OURO EM PARATY E SUA PAISAGEM – PLANO DE GESTÃO<br />
PROGRAMA DE<br />
EDUCAÇÃO<br />
CONHECIMENTO<br />
DO PATRIMÔNIO<br />
PLANO DE<br />
GESTÃO<br />
QUALIDADE<br />
DE VIDA<br />
USO SOCIAL<br />
E RECURSOS<br />
TURÍSTICOS<br />
PROGRAMA DE<br />
COMUNICAÇÃO<br />
APROPRIAÇÃO<br />
CULTURAL<br />
195
196<br />
5.f Fontes e níveis <strong>de</strong> financiamento<br />
Lei Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Incentivo à Cultura – nº 8313/91 – Ministério da<br />
Cultura – investimento <strong>do</strong> BNDES na restauração da Igreja Matriz - R$<br />
3.887.000,00<br />
Monumenta/BID <strong>Programa</strong> Estratégico <strong>do</strong> PPA 2000-2003 (Avança<br />
Brasil), objeto <strong>do</strong> Contrato <strong>de</strong> Empréstimo 1200/OC-BR, entre a Repú-<br />
blica Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil e o Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimen-<br />
to – BID - R$ 5.000.000,00.<br />
Furnas – Centrais Elétricas, <strong>de</strong>stinou uma verba <strong>de</strong> R$ 7.000.000,00<br />
para o projeto <strong>de</strong> Iluminação Urbana e Cabeamento Subterrâneo <strong>do</strong><br />
Bairro Histórico.<br />
Parque Nacional da Serra da Bocaina e APA <strong>de</strong> Cairuçu - Têm<br />
como fonte <strong>de</strong> recursos o orçamento anual da União, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pelo<br />
governo fe<strong>de</strong>ral e aprova<strong>do</strong> pelo Congresso Nacional. No ano <strong>de</strong> 2007<br />
o Parque Nacional dispôs <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> R$ 1.000.000,00,<br />
Reserva Ecológica da Juatinga - É administrada com recursos <strong>do</strong><br />
orçamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, a partir <strong>de</strong> orçamento elabo-<br />
ra<strong>do</strong> pelo governo estadual e aprova<strong>do</strong> pela Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa.<br />
No ano <strong>de</strong> 2007, a Reserva Ecológica teve um orçamento <strong>de</strong> R$<br />
500.000,00.<br />
5.g Níveis <strong>de</strong> competência e <strong>de</strong> formação relativas às<br />
técnicas <strong>de</strong> conservação e gestão<br />
O Parque Nacional da Serra da Bocaina é o principal agente <strong>de</strong> fiscalização<br />
<strong>do</strong>s <strong>Caminho</strong>s <strong>de</strong> Pedra da Serra. Embora, ainda existam proprieda<strong>de</strong>s par-<br />
ticulares no Parque, ações estão sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvidas no senti<strong>do</strong> da implan-<br />
tação <strong>do</strong> Parque.<br />
A maior parte <strong>do</strong>s caminhos estão enterra<strong>do</strong>s. Cabe a iniciativa <strong>de</strong> par-<br />
ticulares, s<strong>em</strong>pre sob a supervisão <strong>do</strong> Parque, da Prefeitura Municipal e <strong>do</strong><br />
IPHAN a manutenção <strong>de</strong> alguns trechos. O Projeto Na trilha da História está<br />
realizan<strong>do</strong> a limpeza e manutenção <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais trechos.<br />
A conservação <strong>do</strong> sítio urbano exige da Municipalida<strong>de</strong> um esforço<br />
técnico constante. O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> infra-estrutura, pavimentação, esgotos,<br />
iluminação e força, etc., requer<strong>em</strong> manutenção especial e constante. Par-
ticularmente para o calçamento <strong>de</strong> pedras a Prefeitura está aguardan<strong>do</strong><br />
as obras <strong>de</strong> cabeamento subterrâneo da iluminação pública, que <strong>de</strong>verão<br />
ser realizadas concomitant<strong>em</strong>ente a implantação <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> sanea-<br />
mento para fazer as revisões necessárias.<br />
A Prefeitura Municipal está buscan<strong>do</strong> integrar-se a programas nacio-<br />
nais <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> sítios históricos, tal como o Monumenta-BID <strong>do</strong><br />
Ministério da Cultura/IPHAN, para <strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong> restauração <strong>de</strong><br />
edifícios públicos e religiosos e revitalização <strong>de</strong> áreas livres públicas. Outro<br />
<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque é o Projeto Orla, que visa a capacitação <strong>do</strong>s técni-<br />
cos da Prefeitura no trato das questões relativas e na proposição <strong>de</strong> pro-<br />
jetos para a orla, este Projeto está sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo Ministério <strong>do</strong><br />
Meio Ambiente/IBAM, SPU – Secretaria <strong>do</strong> Patrimônio da União, com<br />
apoio da FEEMA – Fundação Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente, IBAM– Instituto<br />
Brasileiro <strong>de</strong> Administração Municipal, e <strong>do</strong> IPHAN.<br />
O IBAMA dispõe <strong>de</strong> um escritório local da APA <strong>do</strong> Cairuçú, com aten-<br />
dimento administrativo um diretor e 3 técnicos <strong>de</strong> nível superior, to<strong>do</strong>s<br />
Engenheiros Florestais, além <strong>de</strong> um técnico <strong>em</strong> educacão ambiental. O<br />
Parque Nacional da Bocaina possui <strong>sua</strong> se<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
O Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas t<strong>em</strong> <strong>sua</strong> se<strong>de</strong> no distrito <strong>de</strong> Parati-Mi-<br />
rim, e conta com um diretor e 2 agentes <strong>de</strong> fiscalização.<br />
O IPHAN dispõe <strong>de</strong> um escritório local, com um diretor responsável -<br />
arquiteto, que aten<strong>de</strong> as d<strong>em</strong>andas relativas às intervenções, e um técni-<br />
co para o atendimento administrativo.<br />
197<br />
> IPHAN – Travessa <strong>de</strong><br />
Santa Rita – 1960
198<br />
5.h Equipamentos turísticos e estatísticas <strong>de</strong> visitação<br />
A cida<strong>de</strong> dispõe <strong>de</strong> <strong>do</strong>is museus, <strong>do</strong>is espaços culturais e a Casa da Cultura. O<br />
número <strong>de</strong> visitantes <strong>de</strong> cada equipamento até maio <strong>de</strong> 2007 são os que se-<br />
gu<strong>em</strong> abaixo:<br />
Museu <strong>de</strong> Arte Sacra <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Visitantes: 14052<br />
Casa <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Total <strong>de</strong> visitantes: 11.866<br />
4.381 estudantes<br />
2.156 mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
Espaço Cultural da Ca<strong>de</strong>ia Velha<br />
Visitantes: 12569<br />
Espaço Cultural <strong>do</strong> IPHAN<br />
Visitors na última exposição: 370<br />
Forte <strong>do</strong> Defensor Perpétuo – Museu da Arte e Tradição<br />
Populares<br />
Visitantes: 4722<br />
Centro <strong>de</strong> Informações Turísiticas<br />
Visitantes: 16.261<br />
5.i Políticas e programas <strong>de</strong> promoção<br />
e conservação <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />
A proteção eficaz <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> através <strong>de</strong> mecanismos legais da<br />
União, Esta<strong>do</strong>, Municipais e mesmo internacionais, se impõe, sobr<strong>em</strong>o<strong>do</strong>,<br />
além <strong>do</strong> aspecto arquitetônico e cultural, preserva-se também o lega<strong>do</strong> na-<br />
tural <strong>de</strong> florestas, nascentes, litoral e mangues. O patrimônio natural <strong>do</strong> Mu-<br />
nicípio é representa<strong>do</strong> pelo seu acervo natural <strong>de</strong> áreas protegidas por vasta<br />
legislação ambiental – o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a APA <strong>do</strong> Cai-<br />
ruçú, Estação Ecológica <strong>do</strong>s Tamoios, a Reserva Ecológica da Juatinga e o<br />
próprio Decreto nº 58.077, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1966, que consi<strong>de</strong>ra to<strong>do</strong> o<br />
“Conjunto Paisagístico <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e especialmente o acervo ar-<br />
quitetônico da cida<strong>de</strong> como Monumento Nacional”. Dos cinco sist<strong>em</strong>as na-<br />
turais <strong>do</strong> Brasil consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s Patrimônio Natural pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral,<br />
três inclu<strong>em</strong> territórios <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>: a Mata Atlântica, a Serra <strong>do</strong>
Mar e a Zona Costeira. Estes sist<strong>em</strong>as são preserva<strong>do</strong>s por seu povo, porque<br />
<strong>sua</strong> vida e <strong>sua</strong> própria cultura <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> da preservação e conservação <strong>do</strong><br />
meio <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>, pois que <strong>de</strong>le é resulta<strong>do</strong>.<br />
<strong>Paraty</strong> se <strong>de</strong>staca pelos diversos Plano <strong>de</strong> Preservação <strong>de</strong> seu Patrimônio,<br />
sen<strong>do</strong> importante citá-los:<br />
Código <strong>de</strong> Obras – Decreto-Lei Municipal nº 51 <strong>de</strong> 27/05/47, - foram<br />
fixadas as condições <strong>de</strong> zoneamento no Município e estabeleceu dire-<br />
trizes <strong>de</strong> preservação para o conjunto arquitetônico e paisagístico.<br />
UNESCO – O arquiteto belga Fre<strong>de</strong>ric <strong>de</strong> Limburg Stirum, contrata<strong>do</strong><br />
pela UNESCO e o IPHAN na década <strong>de</strong> 1960, foi o primeiro a elaborar<br />
um plano <strong>de</strong> expansão urbanística da cida<strong>de</strong>; os princípios fundamen-<br />
tais foram apropria<strong>do</strong>s nos que seguiram.<br />
Tinha como objetivo a salvaguarda <strong>do</strong> bairro histórico e seu entorno –<br />
criava junto ao bairro uma “área non aedificandi”, zona ver<strong>de</strong>, para maior<br />
proteção. Localizava a área <strong>de</strong> expansão urbana <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio Pe-<br />
requê-Açú, e previa para a área adjacente ao bairro, uma ocupação rare-<br />
feita, com gabarito baixo, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a conservar a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> conjunto<br />
arquitetônico <strong>em</strong>oldura<strong>do</strong> pelas montanhas da Serra <strong>do</strong> Mar.<br />
O plano <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>ric <strong>de</strong> Limburg iria permitir o <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong>,<br />
manten<strong>do</strong> o nível <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que cessa-<br />
ria com a <strong>de</strong>struição das reservas naturais, dan<strong>do</strong>, com isso a <strong>de</strong>vida im-<br />
portância ao planejamento urbano. Dedicou especial atenção ao assorea-<br />
mento da orla e à drenag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s terrenos, propon<strong>do</strong> como solução para<br />
o probl<strong>em</strong>a, a criação <strong>de</strong> bacias <strong>de</strong> <strong>de</strong>cantação.<br />
Projeto TURIS - O instrumento que <strong>de</strong>clarou o Município - Monumento<br />
Nacional, estabeleceu, também, o Projeto Turis - EMBRATUR, cujo obje-<br />
tivo era o <strong>de</strong> implantar o turismo no litoral sul <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro, com priorida<strong>de</strong> para Parati. Este projeto durou <strong>de</strong> 1968 a 1971.<br />
CNPI – Dan<strong>do</strong> prosseguimento às <strong>de</strong>terminações <strong>do</strong> Decreto nº<br />
58.077, a SPHAN contratou a CNPI - Companhia Nacional <strong>de</strong> Planeja-<br />
mento Integra<strong>do</strong>, para a elaboração <strong>de</strong> um plano urbanístico <strong>de</strong> Pro-<br />
teção <strong>do</strong> Bairro Histórico, que visava não só à preservação <strong>do</strong> acervo<br />
arquitetônico e natural <strong>do</strong> sítio histórico, quanto o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
à valorização da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Município.<br />
199
200<br />
O mo<strong>de</strong>lo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> teve como base o trinômio Conservação – Desen-<br />
volvimento – Turismo, sen<strong>do</strong> este último componente a ativida<strong>de</strong> pro-<br />
pulsora para as d<strong>em</strong>ais; a meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada separou os enfoques<br />
<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> três óticas paralelas: o município; a área urbana e o bairro<br />
histórico, foi concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 1972 e a proposta orientada <strong>em</strong><br />
<strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s:<br />
Qualquer proposição <strong>de</strong> extinção, incr<strong>em</strong>ento ou implantação <strong>de</strong> ati-<br />
vida<strong>de</strong>s na área municipal <strong>de</strong>ve, antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, ser orientada no sen-<br />
ti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> preserva<strong>do</strong>s, os valores históricos e naturais, quer <strong>em</strong><br />
relação à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e seu Bairro Histórico, quer <strong>em</strong> relação ao<br />
resto <strong>do</strong> Município.<br />
O turismo <strong>de</strong>veria se tornar a principal ativida<strong>de</strong> econômica <strong>em</strong><br />
Parati, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> todas as outras, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, se vin-<br />
cular<strong>em</strong> a esta.<br />
Esse Plano teve aprova<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> números I a VII pela Câ-<br />
mara Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e foi sanciona<strong>do</strong> pelo Prefeito através da<br />
Deliberação nº 501/73.<br />
Nos anos 70 dá-se a abertura da Estrada Rio-Santos, ligan<strong>do</strong> Parati aos<br />
<strong>do</strong>is maiores centros urbanos <strong>do</strong> país: Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo, facil-<br />
itan<strong>do</strong> o acesso à cida<strong>de</strong> e tornan<strong>do</strong>-a um gran<strong>de</strong> centro turístico na-<br />
cional, s<strong>em</strong> que houvesse si<strong>do</strong> implantada uma estrutura para receber<br />
o fluxo <strong>de</strong> pessoas.<br />
PLANAVE - Também <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as atribuições previstas no referi<strong>do</strong><br />
Decreto nº 58.077/66, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1973 o Ministério da Indústria<br />
e Comércio através da EMBRATUR contratou a PLANAVE para elaborar<br />
um <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Investimentos para o litoral Rio-Santos, que continha o<br />
subproduto Parati, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Plano <strong>de</strong> Organização da Área <strong>de</strong><br />
Expansão Urbana da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Parati”. Este plano <strong>de</strong> urbanização visou<br />
fornecer el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> controle urbanístico, paisagístico e ambiental<br />
para a área <strong>de</strong> expansão urbana da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que as propostas<br />
<strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong> solo estivess<strong>em</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com um planejamento glo-<br />
bal; também <strong>de</strong>talhou e elaborou os projetos propostos no Plano Inte-<br />
gra<strong>do</strong>: o porto da Boa Vista, o sist<strong>em</strong>a viário, a ro<strong>do</strong>viária e propôs um<br />
zoneamento para a área <strong>de</strong> expansão urbana. Foi utiliza<strong>do</strong> como critério<br />
na análise <strong>de</strong> projetos no Município pela SPHAN até 1981.
SECPLAN – Em 1979 a Secretaria <strong>de</strong> Planejamento da Governa<strong>do</strong>ria<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - SECPLAN elaborou, a pedi<strong>do</strong> da Prefei-<br />
tura Municipal uma proposta <strong>de</strong> zoneamento para a área urbana da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Parati, que não foi aceita integralmente pela SPHAN, mas<br />
serviu <strong>de</strong> alerta à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão da atualização da legislação<br />
vigente, face ao crescimento econômico, e, portanto, populacional <strong>do</strong><br />
município, e principalmente da área urbana.<br />
S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - O S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> con-<br />
junto com a Prefeitura, o IPHAN, INEPAC – Instituto Estadual <strong>do</strong> Patri-<br />
mônio Cultural/RJ e a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amigos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, e contou com o<br />
apoio da Fundação Roberto Marinho, reuniu mais <strong>de</strong> c<strong>em</strong> pessoas<br />
num <strong>de</strong>bate sobre os probl<strong>em</strong>as <strong>do</strong> Município, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> agosto a 1º<br />
<strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1979. Funcionaram quatro comissões: Patrimônio<br />
Cultural e Meio Ambiente; Educação e Cultura; Higiene, Saú<strong>de</strong> e Pro-<br />
moção Cultural e Probl<strong>em</strong>as da Terra.<br />
A comissão sobre Patrimônio Cultural e Meio Ambiente recomendava<br />
a criação <strong>de</strong> uma equipe que, no prazo <strong>de</strong> nove meses, <strong>de</strong>veria apre-<br />
sentar proposta <strong>de</strong> compatibilização <strong>do</strong>s planos e diplomas legais, pro-<br />
postos ou vigentes, que incidiam sobre o <strong>de</strong>senvolvimento, uso <strong>do</strong><br />
solo e preservação <strong>do</strong> Município.<br />
A equipe, criada para a elaboração <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> legislações, foi<br />
formada por técnicos <strong>do</strong> IPHAN, INEPAC, e um especialista na matéria,<br />
contrata<strong>do</strong> pela Fundação Roberto Marinho. Esta Comissão estu<strong>do</strong>u a<br />
reformulação da legislação da área urbana e propôs, <strong>de</strong>ntre outros, <strong>do</strong>is<br />
textos que, analisa<strong>do</strong>s pela Câmara Municipal e sanciona<strong>do</strong>s pelo Pre-<br />
feito, se tornaram as Leis Municipais nº 608/ 81, que fixa as normas para<br />
o zoneamento da Área Urbana e <strong>de</strong> Expansão Urbana <strong>do</strong> Município <strong>de</strong><br />
Parati, e a 609/81, que regula o parcelamento <strong>do</strong> solo para fins urbanos,<br />
no município <strong>de</strong> Parati, leis estas ratificadas pelo SPHAN, pela Portaria nº<br />
10, <strong>de</strong> 24/09/81. A Lei <strong>do</strong> Zoneamento Geral <strong>do</strong> Município cujas dire-<br />
trizes se tornou critério para a análise <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> obras, tanto pela<br />
Prefeitura como pelo IPHAN. O Código <strong>de</strong> Obras, transforma<strong>do</strong> <strong>em</strong> Lei<br />
Municipal nº 655/83, incorporou as diretrizes <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong> con-<br />
junto arquitetônico e paisagístico propostas pelo CNPI.<br />
201
202<br />
> Arquivo IPHAN/RJ – Vista aérea <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> –1964
203
204<br />
> DJOB – Vista áéra <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong> – 1976<br />
PNMA/PNNH – Por meio <strong>do</strong> <strong>Programa</strong> Nacional <strong>do</strong> Meio Ambiente<br />
(PNMA) - Projeto Patrimônio Natural <strong>em</strong> Núcleos Históricos (PNNH) <strong>do</strong><br />
Instituto Brasileiro <strong>do</strong> Meio Ambiente e <strong>do</strong>s Recursos Naturais Renová-<br />
veis (IBAMA), convênio IBAMA nº 121/92 e nº 032/95 - firma<strong>do</strong> com a<br />
Prefeitura Municipal com recursos provenientes <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Emprés-<br />
timo Nº 3173-BR - Banco Mundial e o Governo Brasileiro, foi realizada<br />
pela Prefeitura Municipal a revisão e atualização <strong>do</strong> Plano Diretor <strong>de</strong>
Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Parati, concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1995, que contou<br />
a assessoria da Secretaria <strong>de</strong> Planejamento da Governa<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - SECPLAN/RJ, a qu<strong>em</strong> coube a coor<strong>de</strong>nação técnica,<br />
com a participação efetiva <strong>do</strong> IPHAN e com o apoio <strong>do</strong> IBAMA, FEEMA<br />
– Fundação Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente e IEF – Instituto Estadual <strong>de</strong><br />
Florestas, socieda<strong>de</strong> e associações <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res, <strong>de</strong>ntre outros.<br />
O PNNH objetivou atuar na convergência das questões ambien-<br />
tais e <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong> patrimônio cultural. Entre análises diversas e<br />
revisões por parte <strong>do</strong> Executivo Municipal, Legislativo e <strong>do</strong> Fórum para<br />
205
206<br />
o Desenvolvimento Sustenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o <strong>do</strong>cumento encontra-se<br />
atualmente <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> elaboração <strong>do</strong>s mapas <strong>de</strong> zoneamento.<br />
Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina – Foi elabo-<br />
ra<strong>do</strong> e aprova<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2002 e dá a orientação para o manejo ecológico<br />
através <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> mapas t<strong>em</strong>áticos além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o zonea-<br />
mento e os programas <strong>de</strong> gestão que asseguram a preservação <strong>do</strong><br />
Parque. O Plano também indicou a infra-estrutura necessária para<br />
cada área <strong>de</strong> interesse especial, inclusive a “ área <strong>de</strong> interesse histórico<br />
<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>” além <strong>de</strong> realizar inspeções ambientais periódicas.<br />
Plano <strong>de</strong> Manejo da APA <strong>do</strong> Cairuçú – foi elaborada a caracteriza-<br />
ção sócio-ambiental e uma série <strong>de</strong> mapas t<strong>em</strong>áticos, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />
o seu zoneamento e manejo, através <strong>de</strong> 11 Áreas Estratégicas e regu-<br />
lamentou as ativida<strong>de</strong>s para o seu <strong>de</strong>senvolvimento sustentável atra-<br />
vés <strong>de</strong> um Conselho com representantes da comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> institui-<br />
ções envolvidas na <strong>sua</strong> gestão.<br />
Lei Municipal nº 107/01 – Instituiu o Código Municipal <strong>de</strong> Meio Am-<br />
biente – com o objetivo <strong>de</strong> regular a ação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público municipal<br />
e <strong>sua</strong> relação com os cidadãos e instituições publicas e privadas, na<br />
preservação, conservação, <strong>de</strong>fesa, melhoria, recuperação e controle<br />
<strong>do</strong> meio ambiente ecologicamente equilibra<strong>do</strong>, b<strong>em</strong> <strong>de</strong> uso comum<br />
<strong>do</strong> povo e essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
O Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da<br />
Serra da Bocaina Plano <strong>de</strong> Gestão da APA <strong>do</strong> Cairuçú e o Plano Diretor<br />
<strong>de</strong> Turismo, já <strong>de</strong>scritos, d<strong>em</strong>onstram que a preservação <strong>do</strong> Patrimônio<br />
<strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> hoje é fruto <strong>de</strong> um processo contínuo <strong>de</strong> amadurecimento,<br />
on<strong>de</strong> as ações culturais e naturais, não mais se distingu<strong>em</strong>. Além da<br />
proteção concedida por toda a legislação codificada e pela Constituição<br />
Fe<strong>de</strong>ral, <strong>Paraty</strong>, mais <strong>do</strong> que qualquer outro local possui diversificadas<br />
formas específicas <strong>de</strong> proteção, tanto pela legislação ambiental quanto<br />
pela cultural, nos três níveis, fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal.<br />
Outras entida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>bora não pertencen<strong>do</strong> à estrutura <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r pú-<br />
blico, atuam com significativa <strong>de</strong>senvoltura na <strong>de</strong>limitação das políti-<br />
cas públicas, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caráter cultural e ambiental. São entida<strong>de</strong>s<br />
civis <strong>de</strong> direito priva<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> fins lucrativos, cada qual atuan<strong>do</strong> con-
forme dispõe <strong>sua</strong>s finalida<strong>de</strong>s estatutárias, s<strong>em</strong>pre que d<strong>em</strong>anda<strong>do</strong>s<br />
na <strong>de</strong>fesa cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />
Fundação Roberto Marinho, Instituto Histórico Artístico e Cultu-<br />
ral <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, CAPES – Conselho administrativo da Paróquia – <strong>de</strong>di-<br />
cada principalmente a organizar e promover as celebrações religiosas,<br />
<strong>em</strong> especial e Festa <strong>do</strong> Divino Espírito Santo, SEBRAE, Fórum DELIS,<br />
COMAMP, ESALQ e a,<br />
Associação Casa Azul <strong>de</strong>senvolve o Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong>s Espa-<br />
ços Públicos <strong>de</strong> Borda D’Água da cida<strong>de</strong>, agin<strong>do</strong> com questões ligadas a<br />
<strong>de</strong>terioração da foz <strong>do</strong> rio Perequê-Açú, o assoreamento da orla, a dre-<br />
nag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s arruamentos <strong>do</strong> Bairro Histórico, além <strong>de</strong> propor soluções<br />
urbanísticas para a revitalização <strong>de</strong>stes espaços. Apóia projetos <strong>de</strong> pre-<br />
servação <strong>do</strong>s fazeres tradicionais liga<strong>do</strong>s a engenharia náutica e os arte-<br />
fatos <strong>de</strong> pesca, como as técnicas artesanais próprias para a captura <strong>do</strong>s<br />
peixes <strong>em</strong> cerca<strong>do</strong>s e covos. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>barcações existente <strong>em</strong><br />
Parati já constitui outro acervo <strong>de</strong> bens culturais, que necessita, igual-<br />
mente <strong>de</strong> ser preservada<br />
A Associação Casa Azul promove <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003, anualmente,<br />
a” Festa Literária Internacional <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>”.Essa iniciativa <strong>do</strong>s paratiens-<br />
es e seus simpatizantes, pioneira no país, pois até então não havia <strong>em</strong><br />
nossa história festivais <strong>de</strong>ssa natureza, transformou-se no mais impor-<br />
tante e prestigioso encontro <strong>de</strong> literatura <strong>do</strong> continente.<br />
Cerca <strong>de</strong> l5.000 pessoas aflu<strong>em</strong>, por quatro dias, uma vez por ano a<br />
<strong>Paraty</strong> para ler, ouvir e <strong>de</strong>bater literatura. Os maiores escritores e in-<br />
telectuais <strong>do</strong> país e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>la participam .Em 2007 contou com<br />
<strong>do</strong>is Prêmios Nobel , Nadine Gordimer e J.M.Coetzee,além <strong>de</strong> Amos<br />
Oz, Jim Dodge, Will Self, Ahdaf Soucif, Alan Pauls,Guillermo Arriaga<br />
e muitos outros.Em anos anteriores já participaram Paul Auster, José<br />
Eduar<strong>do</strong> Agualusa, Salman Rushdie, Margareth Atwood, Eric<br />
Hobsbawm ,Rosa Montero, David Grossman.To<strong>do</strong>s hoje amigos e<br />
amantes <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
Na mesma direção iniciou-se há três anos , <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro,o festival in-<br />
ternacional <strong>de</strong> fotografias <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> ”<strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> foco”. A cida<strong>de</strong> v<strong>em</strong><br />
assim se firman<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma consistente como uma atratora <strong>de</strong> cultura,<br />
207
208<br />
estrutura<strong>do</strong>ra ,transforma<strong>do</strong>ra, cria<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> cultura <strong>do</strong> mais alto nível.<br />
Essa qualida<strong>de</strong> única é um importante suporte das tarefas que advirão<br />
<strong>de</strong> <strong>sua</strong> listag<strong>em</strong> como sítio <strong>do</strong> Patrimônio Mundial.<br />
5.j Equipes técnicas (profissional, técnica e <strong>de</strong><br />
conservação)<br />
Prefeitura Municipal<br />
Total: 1238 funcionários<br />
Secretaria Municipal <strong>de</strong> Cultura, Turismo e Meio Ambiente:<br />
25 funcionários<br />
Secretaria <strong>de</strong> Obras: 176<br />
Secretaria <strong>de</strong> Educação: 507<br />
Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental da Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>: 4<br />
Comitê Executivo Pró-<strong>Paraty</strong> : 12<br />
IPHAN – 6º Superintendência Regional<br />
Total: 120 funcionários<br />
8ª Sub-Regional<br />
Total: 4 funcionários<br />
IBAMA – Parque Nacional da Serra da Bocaina<br />
Total: 18 funcionários<br />
IBAMA – APA <strong>do</strong> Cairuçú<br />
Total: 6 funcionários<br />
IEF/RJ Reserva Ecológica da Juatinga<br />
Total: 4 funcionários
209
210
6 Monitoramento<br />
O monitoramento t<strong>em</strong> como objetivo avaliar a evolução <strong>do</strong> planejamento<br />
físico-territorial e <strong>sua</strong> impl<strong>em</strong>entação, <strong>do</strong> aperfeiçoamento e aplicação<br />
<strong>do</strong>s instrumentos legais <strong>de</strong> proteção, da gestão, da visitação turística, da<br />
sustentabilida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>do</strong> sitio proposto.<br />
Esta avaliação <strong>de</strong>ve ocorrer na esfera <strong>do</strong>s vários órgãos responsáveis<br />
pela gestão <strong>do</strong> patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, paisagístico e<br />
ambiental nos níveis municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral, mas a consolidação<br />
<strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong>verá ser elaborada pelo Comitê Executivo Pró Unesco,<br />
que congrega instituições governamentais e <strong>do</strong> terceiro setor en-<br />
volvidas com a gestão, proteção, conservação e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta avaliação <strong>de</strong>ve gerar um<br />
<strong>do</strong>cumento a ser elabora<strong>do</strong> anualmente, com indicação <strong>do</strong>s prin-<br />
cipais avanços e probl<strong>em</strong>as, b<strong>em</strong> como propostas <strong>de</strong> aperfeiçoa-<br />
mento <strong>do</strong>s processos <strong>em</strong> curso.<br />
A implantação das ações previstas no Plano <strong>de</strong> Gestão visam a<br />
aten<strong>de</strong>r às principais d<strong>em</strong>andas <strong>de</strong> monitoramento listadas.<br />
A tabela <strong>em</strong> anexo <strong>de</strong>finiu os indica<strong>do</strong>res e fontes <strong>de</strong> verificação<br />
para possibilitar o monitoramento <strong>do</strong>s vários componentes <strong>do</strong>s te-<br />
mas relaciona<strong>do</strong>s ao Meio Ambiente, <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Centro<br />
Histórico e Forte Defensor Perpétuo.<br />
6.a Principais indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> está b<strong>em</strong> conserva<strong>do</strong>, encontra-se parcialmente<br />
soterra<strong>do</strong>. Trechos importantes foram recupera<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
critérios específicos <strong>de</strong> prospecção arqueológica <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s pelo IPHAN.<br />
75% <strong>do</strong> calçamento estão <strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação e 25%<br />
necessitam <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> conservação.<br />
De acor<strong>do</strong> com o Inventário <strong>do</strong>s Bens Imóveis INBI-SU/IPHAN 2002/3,<br />
no sítio histórico urbano, os edifícios públicos e religiosos estão <strong>em</strong> es-<br />
ta<strong>do</strong> regular <strong>de</strong> manutenção. Em compensação as residências particu-<br />
lares, estão <strong>em</strong> muito bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.
212<br />
Além <strong>do</strong> Inventário supra-cita<strong>do</strong>, o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentou <strong>em</strong><br />
Abril <strong>de</strong> 2003, o Projeto <strong>Paraty</strong>/RJ - Carta Consulta, <strong>Programa</strong> Monumenta/<br />
BID com os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento das ações estratégicas<br />
para a recuperação <strong>do</strong> patrimônio histórico <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, on<strong>de</strong> foram elenca-<br />
<strong>do</strong>s os serviços necessários para a recuperação <strong>do</strong>s imóveis que não estão<br />
<strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, incluí<strong>do</strong>s particulares e institucionais.<br />
O Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio – Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e<br />
Monumentos Nacionais, Direção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação–<br />
Lisboa/Portugal, realizou o Inventário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003.<br />
Os principais indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação atual da área natu-<br />
ral são:<br />
A manutenção <strong>do</strong>s atuais índices <strong>de</strong> preservação da flora e fauna. A<br />
presença <strong>de</strong> quase totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s animais terrestres nativos originais<br />
da Floresta Atlântica, comprovada por levantamentos recentes, assim<br />
como mais <strong>de</strong> 130 espécies <strong>de</strong> peixes. Recent<strong>em</strong>ente se registrou, com<br />
gáudio, o retorno das baleias à baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, consi<strong>de</strong>rada a mais rica<br />
<strong>em</strong> mamíferos marinhos <strong>do</strong> país.<br />
O esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação da cobertura florestal po<strong>de</strong> ser comprovada<br />
através da comparação entre anos atuais e anteriores <strong>de</strong> fotos aéreas<br />
e imagens <strong>de</strong> satélite. Os levantamentos da Fundação SOS Mata Atlân-<br />
tica – 2005, mostram <strong>Paraty</strong> entre os municípios que mantêm um per-<br />
centual excepcional <strong>de</strong> r<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong> Mata Atläntica protegida –<br />
cerca <strong>de</strong> 80%.<br />
Os indica<strong>do</strong>res foram estabeleci<strong>do</strong>s com base no Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />
Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, no Plano <strong>de</strong><br />
Manejo da APA <strong>de</strong> Cairuçu e nos Inventários supra cita<strong>do</strong>s.
LOCALIZAÇÃO DOS<br />
DOCUMENTOS<br />
INDICADORES VERIFICAÇÃO<br />
PAISAGEM<br />
Registro Fotográfico anual Comitê Pró-Unesco<br />
Perturbação da harmonia <strong>do</strong> conjunto pela existência ou a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong> edificações,<br />
queimadas, <strong>de</strong>smoronamentos ou cortes nas encostas, topos <strong>de</strong> morro,<br />
margens <strong>do</strong>s rios, praias, ilhas e costoes rochosos<br />
CENÁRIO<br />
FEEMA<br />
Aterros nos manguezais, praias e costões rochosos<br />
INPE, Fundação SOS Mata<br />
Atlântica<br />
Sensoriamento R<strong>em</strong>oto quinquenal<br />
área ocupada pela cobertura vegetal natural<br />
COBERTURA VEGETAL<br />
Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />
Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />
Avaliação Ecológica Rápida <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<br />
anos<br />
dimensão e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> especies arbóreas indica<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> floresta <strong>em</strong> estágios<br />
avanca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> regeneração<br />
Avaliação Ecológica Rápida quinquenal Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />
Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />
freqüência <strong>de</strong> avistag<strong>em</strong> ou indícios da presenca <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves e mamiferos<br />
terrestres e marinhos, principalmente aqueles ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção<br />
FAUNA<br />
Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />
Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />
Avaliação Ecológica Rápida <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<br />
anos<br />
riqueza <strong>de</strong> espécies arbóreas por hectare<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> palmeira juçara<br />
BIODIVERSIDADE<br />
riqueza e abundância <strong>de</strong> especies <strong>de</strong> fauna silvestre<br />
Relatórios Anuais FEEMA<br />
índices <strong>de</strong> balneabilida<strong>de</strong> das praias mais frequentadas<br />
índice <strong>de</strong> poluição na foz <strong>do</strong>s principais rios<br />
QUALIDADE DAS ÁGUAS<br />
índice <strong>de</strong> efluentes líqui<strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>s<br />
CEDAE<br />
índice <strong>de</strong> coleta <strong>do</strong>miciliar<br />
Relatórios Anuais Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
tonelag<strong>em</strong> <strong>de</strong> vidro, papel, plástico e metais encaminha<strong>do</strong>s para reciclag<strong>em</strong><br />
Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, pequenos<br />
<strong>em</strong>presarios <strong>do</strong> ramo<br />
volume <strong>de</strong> resíduos sóli<strong>do</strong>s processa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> aterro sanitário<br />
RESÍDUOS SÓLIDOS<br />
Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Colônia <strong>de</strong><br />
Pesca<strong>do</strong>res<br />
Relatórios anuais <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barque nos<br />
pontos <strong>de</strong> distribuição, entrevistas nas<br />
peixarias<br />
produção pesqueira especialmente <strong>de</strong> crustáceos - lula, camarão e lagosta<br />
Secretaria <strong>de</strong> Obras<br />
Relatórios quinquenais<br />
índice <strong>de</strong> assoreamento da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
AMBIENTES MARINHOS<br />
FEEMA - Fundação Estadual <strong>de</strong><br />
Meio Ambiente<br />
Relatórios Anuais<br />
balneabilida<strong>de</strong> das praias<br />
Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, INPE,<br />
Fundação SOS Mata Atlântica<br />
sensoriamento r<strong>em</strong>oto quinquenal,<br />
<strong>do</strong>cumentação fotográfica anual<br />
integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s manguezais<br />
Instituto Chico Men<strong>de</strong>s e<br />
IBAMA, Instituto Estadual <strong>de</strong><br />
Florestas, Secretaria Estadual<br />
<strong>do</strong> Meio Ambiente, Prefeitura<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Conselhos Consultivos,<br />
COMAMP, Conselho<br />
Nacional da Reserva da Biosfera<br />
Atas <strong>de</strong> reuniões, Relatórios Anuais<br />
Conselho Gestor <strong>do</strong> Mosaico Bocaina<br />
Atas <strong>de</strong> reuniões, Relatórios Anuais<br />
Conselhos Consultivos instala<strong>do</strong>s, participan<strong>do</strong> da gestão <strong>do</strong> Parque Nacional, da<br />
Reserva Ecológica e das APAs <strong>de</strong> Cairuçu e Baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, <strong>Paraty</strong> Mirim, Saco <strong>do</strong><br />
Mamanguá e Tarituba<br />
Atas <strong>de</strong> reuniões, Relatórios Anuais<br />
<strong>Programa</strong>s <strong>de</strong> Proteção e licenciamento, Pesquisa, Uso Público e Educação Ambiental<br />
<strong>em</strong> operação conforme objetivos e metas <strong>do</strong>s respectivos Planos <strong>de</strong> Manejo<br />
IMPLANTAÇÃO DAS<br />
ÁREAS PROTEGIDAS<br />
Relatórios Anuais<br />
Parcerias com instituições públicas e privadas para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s<br />
programas <strong>de</strong> manejo<br />
Relatórios Anuais<br />
Projetos e parcerias com instituições públicas e privadas para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
sustentável<br />
Instituto Chico Men<strong>de</strong>s e<br />
IBAMA, Instituto Estadual <strong>de</strong><br />
Florestas, Secretaria Estadual<br />
<strong>do</strong> Meio Ambiente, Prefeitura<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Conselhos Consultivos,<br />
COMAMP, Conselho<br />
Nacional da Reserva da Biosfera<br />
Atas <strong>do</strong> Conselho, número <strong>de</strong> licenças,<br />
número <strong>de</strong> autos <strong>de</strong> infração, relatórios<br />
anuais<br />
Conselho Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente, licenciamento integra<strong>do</strong>, legislação<br />
aplicada, Plano Diretor aprova<strong>do</strong> e impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong><br />
GESTÃO<br />
SOCIOAMBIENTAL<br />
Capitania <strong>do</strong>s Portos, Colônia<br />
<strong>de</strong> Pesca<strong>do</strong>res<br />
registros anuais<br />
<strong>em</strong>barcações pesqueiras<br />
MMA, Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />
Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />
Rurais, IDACO, COMAMP<br />
Relatórios Anuais<br />
proprieda<strong>de</strong>s com ativida<strong>de</strong> agroflorestal<br />
SUSTENTABILIDADE<br />
CEDAE, Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />
COMAMP<br />
Relatórios Anuais<br />
Abastecimento <strong>de</strong> água tratada<br />
CAMINHO DO OURO<br />
Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong><br />
Turismo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - AGTP,<br />
Comitê Pró-Unesco<br />
Registro Fotográfico Anual nos setores II a<br />
VI; quinquenal no setor I<br />
Perturbação da harmonia <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> por novas construções ou a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong><br />
edificações no seu entorno, ocorrência <strong>de</strong> queimadas, <strong>de</strong>smoronamentos,<br />
<strong>de</strong>smatamentos<br />
CENÁRIO<br />
AGTP, INPE, Fundacao SOS<br />
Mata, Comitê Pró-Unesco<br />
Sensoriamento R<strong>em</strong>oto e <strong>do</strong>cumentação<br />
fotográfica quinquenal<br />
área ocupada pela cobertura vegetal natural<br />
COBERTURA VEGETAL<br />
dimensão e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies arbóreas<br />
Avaliação Ecológica Rápida quinquenal Associacao <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - AGTP, Instituições <strong>de</strong><br />
Pesquisa - Universida<strong>de</strong>s,<br />
IBAMA, Comitê Pró-Unesco<br />
freqüência <strong>de</strong> avistag<strong>em</strong> ou indícios da presença <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves e mamíferos<br />
terrestres, principalmente aqueles ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção<br />
FAUNA<br />
Avaliação Ecológica Rápida quinquenal AGTP, Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />
Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />
riqueza <strong>de</strong> espécies arbóreas<br />
<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> palmeira juçara<br />
BIODIVERSIDADE<br />
riqueza e abundância <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> fauna silvestre<br />
Relatórios Anuais AGTP, IPHAN, Comitê Pró-<br />
Unesco<br />
integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong> conjunto<br />
encaixe das pedras<br />
CALÇAMENTO<br />
erosão<br />
CAMINHO DO OURO<br />
Prospecções arqueológicas nos setores e sub-setores Relatórios Anuais e fotográficos AGTP, IPHAN, Comitê Pró-<br />
Unesco<br />
REGISTROS<br />
213<br />
IPHAN, Instituicoes <strong>de</strong> Pesquisa,<br />
Comitê Pró-Unesco<br />
Trabalhos publica<strong>do</strong>s, acervo organiza<strong>do</strong> e disponível Relatorio quinquenal da Pesquisa historica<br />
e arqueologica<br />
GESTÃO DO<br />
CONHECIMENTO
214<br />
> Parque Nacional da<br />
Serra da Bocaina e Baía<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
6.b Medidas Administrativas para o monitoramento <strong>do</strong><br />
b<strong>em</strong><br />
No Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a estrutura <strong>de</strong> gestão está formada, e é objeto <strong>de</strong><br />
atenção constante <strong>do</strong>s agentes envolvi<strong>do</strong>s. É atribuição da Comissão Per-<br />
manente a integração e acompanhamento <strong>de</strong>stas ações.<br />
O IPHAN através <strong>do</strong> seu Escritório <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
e o Município t<strong>em</strong> participa<strong>do</strong> conjuntamente ou <strong>de</strong> forma separada, <strong>de</strong><br />
várias ações <strong>de</strong> preservação no Município, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a restauração e con-<br />
servação <strong>do</strong>s monumentos e <strong>do</strong> acervo <strong>de</strong> arte sacra, b<strong>em</strong> como, na ex-<br />
ecução <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> revitalização da área urbana, como o recente pro-<br />
jeto <strong>de</strong> iluminação <strong>do</strong> bairro histórico, e d<strong>em</strong>ais projetos <strong>de</strong> estruturação e<br />
infra-estruturas. Estas três instâncias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estiveram <strong>em</strong> parceria <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a década <strong>de</strong> 1940 na proposição das legislações urbanísticas.<br />
Des<strong>de</strong> 1945 o IPHAN investe sist<strong>em</strong>aticamente na manutenção restau-<br />
ração, revitalização e gestão da área protegida <strong>do</strong> bairro histórico, tom-<br />
bamento e entorno, a princípio com intervenções pontuais sobre os im-<br />
óveis, ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, estas passaram a ocorrer apenas, nos edifícios<br />
públicos e religiosos. Porém, a orientação técnica e o acompanhamento<br />
<strong>de</strong> todas as obras permanec<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> as principais ativida<strong>de</strong>s. O IPHAN<br />
s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> apoia<strong>do</strong> as manifestações culturais da cida<strong>de</strong> e está sob <strong>sua</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> o Museu <strong>de</strong> Arte Sacra que funciona na Igreja <strong>de</strong> Santa<br />
Rita, que hoje <strong>de</strong>senvolve um programa <strong>de</strong> restauração sist<strong>em</strong>ática da<br />
imaginária, o Museu <strong>de</strong> Arte e Tradições Populares, instala<strong>do</strong> no Forte
Defensor Perpétuo, que abriga a exposição O Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Fazer, com mostra<br />
<strong>do</strong> artesanato e as etapas <strong>de</strong> execução e uma sala <strong>de</strong> exposições que at-<br />
en<strong>de</strong> à d<strong>em</strong>anda <strong>do</strong>s artistas cont<strong>em</strong>porâneos.<br />
A Prefeitura t<strong>em</strong> ações diretas, mas com significativas dificulda<strong>de</strong>s op-<br />
eracionais <strong>em</strong> razão da falta <strong>de</strong> recurso e das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso à<br />
recursos externos. Outras instituições, tais como a Fundação Roberto<br />
Marinho e o BNDES, vêm atuan<strong>do</strong> através da Lei <strong>de</strong> incentivo à Cultura,<br />
na restauração <strong>de</strong> imóveis.<br />
O IBAMA é a agência responsável pela conservação <strong>do</strong> Parque Na-<br />
cional da Bocaina e da APA <strong>do</strong> Cairuçu. O Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas-<br />
IEF/RJ é responsável pela Reserva Ecológica da Juatinga e a Prefeitura Mu-<br />
nicipal é responsável pela APA da Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Além das áreas citadas,<br />
há outras áreas protegidas sob gestão <strong>de</strong>ssas instituições.<br />
A Constituição Brasileira protege o patrimônio cultural além das<br />
florestas e a biodiversida<strong>de</strong>. A legislação que criou o IPHAN e o Código<br />
Brasileiro <strong>de</strong> Florestas são instrumentos legais.<br />
Governo Fe<strong>de</strong>ral – Ministério da Cultura – IPHAN<br />
Superinten<strong>de</strong>nte Regional: Carlos Fernan<strong>do</strong> <strong>de</strong> Souza Leão Andra<strong>de</strong><br />
End.: Avenida Rio Branco nº 46 – 3º andar<br />
Cep: 20090-002 – Centro – Rio <strong>de</strong> Janeiro / RJ<br />
215
216<br />
Governo Fe<strong>de</strong>ral – Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente – IBAMA<br />
Responsável: Leonar<strong>do</strong> Rocha<br />
Centro Regional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />
End.: Praça XV nº 42 – 5 o andar<br />
Cep: 20010-010 – Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ<br />
Governo Estadual – Secretaria <strong>do</strong> Ambiente - SEA<br />
Secretário: Carlos Minc<br />
End.: Rua Pinheiro Macha<strong>do</strong> – Palácio da Guanabara<br />
Cep: 22231-090 – Laranjeiras – Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Governo Estadual – SERLA<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Marilene Ramos<br />
End: Campo <strong>de</strong> São Cristóvão,138<br />
Cep: 20921-440 – Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ<br />
Governo Estadual - FEEMA<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Axel Schmidt Grael<br />
Praça Elói Andra<strong>de</strong> s/n – Cep: 21040-120 – Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ<br />
Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Prefeito: José Carlos Porto Neto<br />
End: Alameda Princesa Isabel, s/n, Pontal<br />
Cep: 23970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
IPHAN – 8ª Sub-Regional<br />
Diretora: Cynthia Tarisse<br />
End: Praça Monsenhor Hélio Pires nº 11<br />
Cep: 23970-000 – Bairro Histórico – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
IBAMA/Instituto Chico Men<strong>de</strong>s – Parque Nacional da Serra da<br />
Bocaína:<br />
Diretor: Dalton Novaes<br />
End: Ro<strong>do</strong>via Estadual da Bocaína – SP 221, s/nº<br />
Fazenda <strong>do</strong> Pau-D’Alho, São José <strong>do</strong> Barreiro – SP<br />
IBAMA/Instituto Chico Men<strong>de</strong>s – APA <strong>do</strong> Cairuçú:<br />
Diretor: Marcelo Pessanha<br />
End: Rua 08, nº 3 – Cep: 23970-000 – Portal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – <strong>Paraty</strong> – RJ
IEF – Reserva Ecológica da Juatinga<br />
Diretor: René Duque Wolmann<br />
Address: Rua Antônio Nubile França, s/nº<br />
Cep: 23970-000 – Chácara da Sauda<strong>de</strong> – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
6.c Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> avaliações e relatórios<br />
anteriores a esta proposta<br />
ÁREA NATURAL<br />
A cobertura florestal natural da Mata Atlântica, bioma on<strong>de</strong> se insere o<br />
município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> monitorada pela Fundação SOS Mata<br />
Atlântica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985, com base <strong>em</strong> imagens <strong>de</strong> satélite Landsat. O re-<br />
sulta<strong>do</strong> é o Atlas <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong> Mata Atlântica, publica<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
1990 a cada cinco anos.<br />
217<br />
> A.M. – Vista aérea da<br />
região da Santa Casa
218<br />
a) Avaliação <strong>do</strong>s 5 anos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica<br />
Uma avaliação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a<br />
MAB- UNESCO foi realizada por José Pedro <strong>de</strong> Oliveira Costa e publica-<br />
da na série “Ca<strong>de</strong>rnos” <strong>de</strong>ssa Reserva no ano <strong>de</strong> 1997.<br />
A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica foi reconhecida pelo programa<br />
MAB, na área <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong>sta proposta que contém o Município <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong>, entre os anos <strong>de</strong> 1991 e 1992. Um <strong>do</strong>s seus princípios estru-<br />
turantes é a manutenção da biodiversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r principal <strong>de</strong> re-<br />
manescentes da floresta atlântica <strong>do</strong> qual <strong>Paraty</strong> é um elo crucial. Como<br />
resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta avaliação foi recomenda<strong>do</strong> para este setor a implan-<br />
tação completa das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação aí situadas.<br />
Passo significativo foi da<strong>do</strong> nesse senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então com a execução,<br />
pelo IBAMA, <strong>do</strong>s Planos <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da<br />
Bocaina e da Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>do</strong> Cairuçú. Esses Planos<br />
viabilizaram a organização <strong>do</strong> território e especificaram as ações<br />
necessárias à consolidação <strong>de</strong>ssas importantes unida<strong>de</strong>s. Nesse Parque<br />
Nacional encontra-se a zona núcleo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>de</strong>sta pro-<br />
posta. Essas duas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação compõ<strong>em</strong> o cenário prin-<br />
cipal <strong>de</strong>sta nominação.<br />
Os m<strong>em</strong>bros sul-americanos da UICN - União Internacional para Con-<br />
servação da Natureza, realizaram <strong>em</strong> 1992, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, na Igreja <strong>de</strong> San-<br />
ta Rita, uma das <strong>sua</strong>s reuniões. Entre as conclusões que resultaram <strong>de</strong>sse<br />
encontro, foi aprovada por unanimida<strong>de</strong> a recomendação da inscrição<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>de</strong> <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> na lista <strong>do</strong>s sítios <strong>do</strong> Patrimônio Mundial.<br />
b) Realização <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Bocaina<br />
Concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2000, representa o primeiro inventário completo <strong>de</strong><br />
fauna realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, b<strong>em</strong> como o mapeamento <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>sua</strong>s fisonomias vegetais.<br />
Cobertura Vegetal<br />
O Plano <strong>de</strong> Manejo constata que a Floresta Ombrofila Densa ocupa<br />
85% da área <strong>do</strong> Parque, ocorren<strong>do</strong> principalmente nos estágios médio<br />
e avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> regeneração, conforme indica a tabela abaixo:
CAMPOS<br />
FLORESTAS<br />
FOR-<br />
MAÇÕES<br />
PIONEIRAS<br />
Fauna<br />
CATEGORIAS<br />
Ombrófila<br />
Densa<br />
Restinga<br />
Estádio<br />
Médio <strong>de</strong><br />
Regeneração<br />
ESTADO<br />
DE CON-<br />
SERVAÇÃO<br />
<strong>de</strong> Altitu<strong>de</strong> Naturais ou<br />
Antropiza<strong>do</strong>s<br />
Alto Montana<br />
Montana<br />
Submontana<br />
Entre as altitu<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> 0 a 1.500 m<br />
Degradada<br />
Preservada<br />
Degradada<br />
Preservada<br />
Degradada<br />
Naturais ou<br />
Degradadas<br />
Naturais ou<br />
Degradadas<br />
ÁREA (HA)<br />
2,501.13 2.41<br />
5,097.16<br />
23,083.08<br />
32,950.26<br />
8,693.43<br />
18,612.96<br />
20.15<br />
PERCEN-<br />
TUAL DE<br />
COBERTURA<br />
4.91<br />
22.24<br />
31.75<br />
8.38<br />
17.94<br />
0.02<br />
239.80 0.23<br />
Foram listadas no Parque 40 espécies <strong>de</strong> mamíferos não-voa<strong>do</strong>res,<br />
sen<strong>do</strong> que 25% <strong>de</strong>las estão ameaçadas <strong>de</strong> extinção. Destas, cinco es-<br />
pécies são endêmicas da Mata Atlântica: ouriço-cacheiro (Sphiggurus<br />
villosus), sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita), bugio (Alouatta fus-<br />
ca), macaco-prego (Cebus apella nigritus) e mono-carvoeiro (Brach-<br />
yteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Américas.<br />
As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a con-<br />
centração da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, como a lon-<br />
tra (Lontra longicaudis), o cateto (Pecari tajacu), queixada (Tayassu<br />
pecari), a anta (Tapirus terrestris), os felinos como a jaguatirica (Leop-<br />
ardus pardalis) e a onça-parda (Puma concolor).<br />
O mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Améri-<br />
cas, po<strong>de</strong> ser encontra<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Parque <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> grotões <strong>de</strong> mata<br />
<strong>de</strong> difícil acesso, ainda <strong>em</strong> bom estágio <strong>de</strong> preservação. Já o sagüi-da-ser-<br />
ra-escuro (Callithrix aurita) está presente <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> mata secundária.<br />
A onça-parda (Puma concolor) possui vasto território, e se <strong>de</strong>sloca por to-<br />
<strong>do</strong>s os ambientes <strong>do</strong> parque. Outro felino raro é o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno<br />
(Leopardus tigrinus). Quanto à onça-pintada (Panthera onça), mora<strong>do</strong>res<br />
locais afirmam <strong>sua</strong> existência. A ocorrência <strong>de</strong>stes felinos d<strong>em</strong>onstra a im-<br />
portância da preservação <strong>do</strong>s ecossist<strong>em</strong>as <strong>do</strong> parque. São raros os regis-<br />
tros <strong>de</strong> anta (Tapirus terrestris) , o maior mamífero brasileiro.<br />
219
220<br />
Avifauna<br />
Ainda no PNSB foram registradas, por levantamentos <strong>de</strong> campo, 294<br />
espécies <strong>de</strong> aves. Doze <strong>de</strong>las estão ameaçadas <strong>de</strong> extinção e 26 pre-<br />
sumidamente ameaçadas. Desta lista, 44,2% são apontadas como es-<br />
pécies endêmicas <strong>do</strong> Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar: Tina-<br />
mus solitarius, Pipile jacutinga, Claravis go<strong>de</strong>frida, Touit melanonota,<br />
Triclaria malachitacea, Macropsalis creagra, Campephilus robustus,<br />
Myrmotherula minor, Hylopezus nattereri, Xiphocolaptes albicollis,<br />
Phylloscartes paulistus, Onychorhynchus c. swainsoni, Tijuca atra, Car-<br />
pornis cucullatus e Piprites pileatus.<br />
c) Plano <strong>de</strong> Manejo da APA <strong>de</strong> Cairucu<br />
Concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2005, este Plano caracterizou a flora, a fauna e<br />
os ambientes marinhos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> realizar uma carac-<br />
terização sócio - econômica e cultural, o cadastramento das<br />
populações caiçaras, e a avaliação <strong>do</strong>s atrativos turísticos en-<br />
contra<strong>do</strong>s na APA e na Reserva Ecológica da Juatinga, total-<br />
mente inserida nos limites da APA.<br />
A APA <strong>de</strong> Cairucu apresenta 78% <strong>do</strong> seu território recoberto<br />
pela floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa nos seus vários estágios suces-<br />
sionais. A floresta palu<strong>do</strong>sa (caixeta) e os manguesais repre-<br />
sentam 2%.<br />
Flora<br />
Foram registradas 1328 espécies vegetais, pertencentes a<br />
quatro gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> plantas: algas (117), musgos<br />
(124), samambaias (115), angiospermas dicotile<strong>do</strong>nias<br />
(807) e angiospermas monocotile<strong>do</strong>nias (165).<br />
Fauna<br />
Fauna terrestre – Foram registradas 74 espécies <strong>de</strong> mamí-<br />
feros, 345 <strong>de</strong> aves, 61 <strong>de</strong> répteis e anfíbios. Destas, 104<br />
são endêmicas da Mata Atlântica, e 22 ameacadas<br />
<strong>de</strong> extinção: cuíca, sagüi-taquara, bugio, mono-<br />
carvoeiro, jaguatirica, onça-parda, onça-<br />
pintada, cateto, vea<strong>do</strong>-mateiro, paca,
ato taquara, macuco, gavião-pombo, gavião-pega macaco, gavião-<br />
cinzento, apuim, sabiá-cica, curica, papagaio-chauá, pavó, caneleirin-<br />
ho-<strong>de</strong>-boné e urutu-cruzeiro.<br />
Fauna marinha – Foram registradas 134 especies <strong>de</strong> peixes, e cinco <strong>de</strong><br />
baleias: baleia-<strong>de</strong>-bry<strong>de</strong>, baleia-franca-<strong>do</strong>-sul, baleia-minke, baleia-ju-<br />
barte, orça e cachalote, sen<strong>do</strong> que as baleias jubarte e a franca-<strong>do</strong>-sul<br />
constam da lista oficial <strong>de</strong> especies ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />
Dos golfinhos, foram avista<strong>do</strong>s indivíduos das especies steno bredan-<br />
ensis e sotalia fluviatilis, entre outros. A ocorrência <strong>de</strong> 13 espécies <strong>de</strong><br />
cetáceos na baia da Ilha Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> está inserida a baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />
faz da região o local <strong>de</strong> maior diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cetáceos no Brasil.<br />
Comparan<strong>do</strong>-se com os números totais para a mata atlântica, foram<br />
encontra<strong>do</strong>s na APA <strong>do</strong> Cairuçu 28% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> mamífer-<br />
os, 60 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves, 13 % <strong>do</strong> número total<br />
<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> répteis e 14 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> anfíbios.<br />
De um total <strong>de</strong> 546 espécies endêmicas da mata atlântica foram en-<br />
contradas durante os trabalhos <strong>de</strong> campo 104 (19 %).<br />
ÁREA CULTURAL<br />
Todas as ações <strong>de</strong> conservação e preservação exercidas pelo IPHAN na<br />
cida<strong>de</strong> encontram-se registradas no escritório técnico local e na 6ª Super-<br />
intendência Regional no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Anualmente é expedi<strong>do</strong> para a<br />
Presidência <strong>do</strong> IPHAN um relatório sobre as ativida<strong>de</strong>s locais.<br />
a) Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis IPHAN<br />
O IPHAN realizou nos anos <strong>de</strong> 2002 e 2003 o Inventário Nacional <strong>de</strong><br />
Bens Imóveis <strong>em</strong> Sítios Históricos Urbanos Tomba<strong>do</strong>s - Conjunto Ar-<br />
quitetônico e Paisagístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. To<strong>do</strong>s os imóveis <strong>do</strong> sítio histórico,<br />
cerca <strong>de</strong> 460, foram cadastra<strong>do</strong>s, b<strong>em</strong> como, to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cu-<br />
mentais existentes nos arquivos e bibliotecas públicas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro e <strong>Paraty</strong>. Resultou num banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> é possível acessar<br />
as plantas <strong>do</strong>s imóveis, além <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre: o proprietário, esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
conservação e preservação, aspectos sócio-econômicos <strong>de</strong> seus mora-<br />
<strong>do</strong>res e etc...<br />
221
222<br />
b) Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio<br />
A Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e Monumentos Nacionais - Direção <strong>de</strong><br />
Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação – Lisboa/Portugal, realizou o In-<br />
ventário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico <strong>do</strong> sítio histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong><br />
set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003, o <strong>do</strong>cumento contém a <strong>de</strong>scrição arquitetônica <strong>do</strong><br />
sítio histórico, cronologia e da<strong>do</strong>s sobre a tipologia das edificações,<br />
datação <strong>do</strong>s imóveis, <strong>de</strong>ntre outros. Resultou <strong>em</strong> um registro multimí-<br />
<strong>de</strong>a, que foi coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelo Centro <strong>de</strong> Computação Gráfica – Lis-<br />
boa/Portugal.<br />
c) <strong>Caminho</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - Inventário <strong>de</strong> bens culturais - Secre-<br />
taria Estadual <strong>de</strong> Cultura -<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento territorial<br />
<strong>de</strong> caminhos singulares <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro/ SEBRAE<br />
Realiza<strong>do</strong> pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Cultural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro/ INEPAC, com o apoio <strong>do</strong> SEBRAE, esse Inventário atua na pesqui-<br />
sa histórica e no levantamento <strong>de</strong> campo. A pesquisa, iniciada pelo<br />
<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, apresentou relatórios analíticos e a perio-<br />
dização <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong> território <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro, teve por objetivo <strong>de</strong> fundamentar a elaboração <strong>do</strong>s roteiros<br />
histórico-culturais <strong>do</strong>s <strong>Caminho</strong>s <strong>do</strong> Açúcar, <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, <strong>do</strong> Café e <strong>do</strong> Sal.<br />
EXERCÍCIOS DE MONITORAMENTO REALIZADOS PELA SOCIEDADE<br />
a) Elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong>sta Proposta<br />
O Plano <strong>de</strong> Gestão para esta nominação “O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>” foi elabora<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma participativa e repre-<br />
sentou um exercício <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> expressão na integração <strong>de</strong> diversos<br />
setores da socieda<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> compreensão das questões, <strong>de</strong>fin-<br />
ição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s e acompanhamento <strong>do</strong> monitoramento <strong>do</strong>s princi-<br />
pais valores culturais e naturais abrangi<strong>do</strong>s pelas áreas propostas.<br />
b) S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> Planejamento e Patrimônio Mundial – A<br />
Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a Fundação Roberto Marinho, o Insti-<br />
tuto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com o apoio da Re<strong>de</strong><br />
Globo, realizaram o S<strong>em</strong>inário <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001, na Igreja <strong>de</strong><br />
Santa Rita. Foram <strong>do</strong>is dias <strong>de</strong> palestras e discussões com a comuni-<br />
da<strong>de</strong> sobre a presente candidatura. Na ocasião foi elaborada a Carta
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que contém a Declaração <strong>de</strong> Valor <strong>do</strong> Sítio e elaborou pro-<br />
postas <strong>de</strong> planejamento. Dentre as ações propostas, cabe salientar, o<br />
novo projeto <strong>de</strong> iluminação urbana para o bairro histórico, o projeto<br />
foi concluí<strong>do</strong>, a verba necessária está <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> liberação e as obras<br />
terão início no próximo ano. A Casa <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi restau-<br />
rada e inaugurada <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 2004, com a implantação <strong>do</strong> Centro<br />
<strong>de</strong> Referências Culturais.<br />
c) <strong>Paraty</strong> para o Mun<strong>do</strong><br />
Em Janeiro <strong>de</strong> 2002 foi realizada a Oficina <strong>de</strong> Trabalho “<strong>Paraty</strong> para o<br />
Mun<strong>do</strong>”, organizada pela Prefeitura Municipal, a Associação Pró-<strong>Paraty</strong><br />
o Comitê Executivo Pró-Unesco e o IPHAN. Dentre as ações estratégicas<br />
da campanha, foi proposto a realização <strong>de</strong> um inventário <strong>do</strong>s bens cul-<br />
turais <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Município, como forma <strong>de</strong> envolver<br />
a população na campanha. As reuniões foram realizadas <strong>em</strong> 26 locais,<br />
nas escolas públicas.<br />
223
224
7 Documentação<br />
7.a Fotos, diapositivos, filmes ou ví<strong>de</strong>os<br />
Estão apresenta<strong>do</strong>s no Anexo I:<br />
7.b Textos relativos à proteção, plano <strong>de</strong> gestão e<br />
legislação<br />
Vi<strong>de</strong> anexo.<br />
7.c Forma e data <strong>do</strong>s inventários mais recentes<br />
Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis <strong>em</strong> Sítios Históricos<br />
Urbanos Tomba<strong>do</strong>s – IPHAN - 2003<br />
Conjunto Arquitetônico e Paisagístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>Caminho</strong>s <strong>do</strong> Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro - Inventário <strong>de</strong> bens culturais - Secretaria Estadual <strong>de</strong><br />
Cultura -<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento territorial <strong>de</strong> caminhos<br />
singulares <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro/ SEBRAE - 2005.<br />
Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio - 2004<br />
Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e Monumentos Nacionais -Direção <strong>de</strong><br />
Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação – Lisboa – Portugal<br />
Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina - 2002<br />
Pano <strong>de</strong> Manejo da APA <strong>do</strong> Cairuçú - 2003<br />
Plano <strong>de</strong> Manejo da Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, 2006
226<br />
7.d En<strong>de</strong>reços on<strong>de</strong> inventários e arquivos são manti<strong>do</strong>s<br />
Escritórios <strong>do</strong> IPHAN no Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />
Avenida Rio Branco nº 46 – 3º andar - Cep: 20090-002 Centro -<br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro / RJ<br />
Praça Monsenhor Hélio Pires nº 11 - Cep: 23970-000 - Bairro<br />
Histórico - <strong>Paraty</strong> / RJ<br />
INEPAC – Secretaria <strong>de</strong> Cultura <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />
Rua da Ajuda, 5 – 13º Andar – Cep: 20040-000 – Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Representação local <strong>do</strong> IBAMA – Parque Nacional da Serra da<br />
Bocaína:<br />
Diretor: Dalton Novaes<br />
End: Ro<strong>do</strong>via Estadual da Bocaína –SP 221, s/nº- Fazenda <strong>do</strong><br />
Pau-D’ Alho, São José <strong>do</strong> Barreiro / SP<br />
Representação local <strong>do</strong> IBAMA – APA <strong>do</strong> Cairuçú :<br />
Diretor: Marcelo Pessanha<br />
End: Rua 08, nº 3 - CEP 23970-000- Portal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - <strong>Paraty</strong> / RJ<br />
Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />
End: Alameda Princesa Isabel , s/n , Pontal –<br />
23970-000 <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
O material relativo à esta inscrição encontra-se no:<br />
Instituto Histórico e Artístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Largo <strong>de</strong> Santa Rita – Antiga Ca<strong>de</strong>ia
227
228<br />
7.e Bibliografia<br />
ABREU, Capistrano <strong>de</strong>. Capítulos <strong>de</strong> História Colonial, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Li-<br />
vraria Briguiet, 1954.<br />
ADONIAS, Isa. MAPA; Imagens da Formação Territorial Brasileira, Funda-<br />
ção Emílio O<strong>de</strong>brecht, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1993.<br />
ALENCASTRO, Luiz Felipe <strong>de</strong>, O Trato <strong>do</strong>s Viventes, Formação <strong>do</strong> Brasil<br />
no Atlântico Sul, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.<br />
ANTONIL, André João, Cultura e Opulência <strong>do</strong> Brasil, Belo Horizonte,<br />
Editora Itatiaia, 1997.<br />
ARAÚJO, Emanuel, O Teatro <strong>do</strong>s Vícios, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora José<br />
Olympio, 1997.<br />
AZEVEDO, Arol<strong>do</strong>. Vilas e cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Brasil Colonial. FFCR - Boletim <strong>do</strong><br />
Departamento <strong>de</strong> Geografia da USP, 1955.<br />
AZEVEDO, Paulo Ormin<strong>do</strong> <strong>de</strong>. Urbanismo <strong>de</strong> Traça<strong>do</strong> Regular nos Dois<br />
Primeiros Séculos da Colonização Brasileira - Origens. In: Colectânea <strong>de</strong><br />
Estu<strong>do</strong>s - Universo Urbanístico Português 1415-1822, Lisboa: Comissão<br />
Nacional para as Com<strong>em</strong>orações <strong>do</strong>s Descobrimentos Portugueses, 1998.<br />
pages. 39-70<br />
BOXER, Charles R, A Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>do</strong> Brasil: Dores <strong>de</strong> Crescimento <strong>de</strong><br />
Uma Socieda<strong>de</strong> Colonial, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2000.<br />
. Salva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Sá and the Struggle for Brazil and Angola 1602-1686,<br />
Universitary of Lon<strong>do</strong>n, The Athlone Press, 1952.<br />
BRITO, Bernar<strong>do</strong> Gomes <strong>de</strong>, História Trágico Marítima, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
Lacerda Editores / Contraponto, 1998.<br />
BUENO, Eduar<strong>do</strong>, A Viag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Descobrimento, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora<br />
Objetiva, 1998.<br />
jetiva, 1998.<br />
. Náufragos, Traficantes e Degreda<strong>do</strong>s, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora Ob-<br />
. Capitães <strong>do</strong> Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro,Editora Objetiva, 1998.<br />
CASADEI, Thalita <strong>de</strong> Oliveira. <strong>Paraty</strong> – uma vida uma sauda<strong>de</strong>. Editora<br />
Sol Nascente, Niterói/RJ, 1998.<br />
CASAL, Manuel Aires <strong>de</strong>, Corografia Brasílica ou Relação Históricogeo-<br />
gráfica <strong>do</strong> Reino <strong>do</strong> Brasil, Belo Horizonte, Editora Itatiaia, São Paulo, Ed.<br />
da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1976.<br />
CONSÓRCIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO INTEGRADO. Plano <strong>de</strong><br />
Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> e Proteção <strong>do</strong> Bairro Histórico <strong>do</strong> Município
<strong>de</strong> Parati. IPHAN/ Ministério da Educação e Cultura, books 1,2 and 3, Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, 1972.<br />
COTRIM, Cássio Ramiro Mohall<strong>em</strong>. <strong>Paraty</strong>: Um perfil Histórico <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />
Riqueza Econômica. In SENE, Maria e outros - Julia Mann: uma vida entre<br />
duas culturas. São Paulo, Editora Estação Liberda<strong>de</strong> Ltda.,1997.<br />
CUNHA, Washington Denner <strong>do</strong>s Santos. Crime e Cotidiano <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />
1840-1888. Instituto <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Humanas/ UERJ. Rio <strong>de</strong> Janei-<br />
ro, 1994 (monography).<br />
CURY, Isabelle. A Evolução Urbana e Fundiária <strong>de</strong> Parati <strong>do</strong> século XVII<br />
até o século XX, <strong>em</strong> face da a<strong>de</strong>quação das normas <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> seu<br />
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233
234
8 Informações<br />
sobre as<br />
autorida<strong>de</strong>s responsáveis<br />
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARATY<br />
Prefeito: José Carlos Porto Neto<br />
End: Alameda Princesa Isabel, s/n - Pontal. – Cep: 23970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Tel. (24) 3371.9900<br />
8.a Preparação <strong>do</strong> <strong>do</strong>ssiê<br />
COMITÊ EXECUTIVO PRO-UNESCO<br />
Amaury Barbosa - Presi<strong>de</strong>nte. Sociólogo gradua<strong>do</strong> <strong>em</strong> Ciências Ambientais<br />
Diuner Mello - Historia<strong>do</strong>r<br />
Maria José S. Rameck - Coor<strong>de</strong>nação e revisão administrativa<br />
End: Instituto Histórico e Artístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Largo <strong>de</strong> Santa Rita/Antiga Ca<strong>de</strong>ia – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Tel: (24) 3371.1056<br />
Email: comiteprounesco@paratyweb.com.br<br />
COORDENAÇÃO GERAL<br />
José Pedro <strong>de</strong> Oliveira Costa - Professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e<br />
Urbanismo da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />
COORDENAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL E REDAÇÃO DE TEXTOS<br />
Isabelle Cury - Master´s of Science, IPHAN-RJ<br />
COORDENAÇÃO AMBIENTAL E CARTOGRÁFICA<br />
Adriana <strong>de</strong> Queirós Mattoso - Arquiteta<br />
PESQUISADORES DO CAMINHO DO OURO<br />
João Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira<br />
Marcos Caetano Ribas
236<br />
TEXTOS<br />
Adriana <strong>de</strong> Queirós Mattoso<br />
Amaury Barbosa<br />
Carlos Fernan<strong>do</strong> <strong>de</strong> Moura Delphin<br />
Diuner José Mello da Silva<br />
Isabelle Cury<br />
José Pedro <strong>de</strong> Oliveira Costa<br />
Julio Cézar Dantas<br />
Maria Brasilícia Dall’Anese<br />
Maria Luiza Luna Dias<br />
Marcos Caetano Ribas<br />
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO<br />
Silvia Finguerut<br />
CONSULTORIA<br />
Suzana Sampaio<br />
CARTOGRAFIA<br />
Arcplan<br />
DESIGN GRÁFICO<br />
Inventum Design<br />
IMPRESSÃO<br />
Sir Speedy<br />
FOTÓGRAFOS<br />
(AA) Araquém Alcântara, (AM) Adriana Mattoso, (DJMS) Diuner José Mello<br />
da Silva, (FPC) Fausto Pires <strong>de</strong> Campos, (DJOB) Dom João <strong>de</strong> Orleans e<br />
Bragança, (JP) Juvenal Pereira, (LC) Lia Capovilla, (LS) Luciana Serra, (OT) Og<br />
Torres, (PA) Patrick Allien, (RA) Renato <strong>do</strong>s Anjos, (RBR) Richard Barclay<br />
Roberts, (RR/MR) Rachel Ribas/Marcos Ribas, (TM) Theresa Maia, (TV) Tuca<br />
Vieira, (VF) Vald<strong>em</strong>ir Ferreira.<br />
FOTOS ANTIGAS E ILUSTRAÇÕES<br />
Acervos: (IHAP) João S. Miranda/IHAP, (DGEMN) Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios<br />
e Monumentos Nacionais, (PDT) Plano Diretor <strong>de</strong> Turismo, (PMP) Prefeitura<br />
Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e arquivos pessoais <strong>do</strong>s cidadãos paratienses.<br />
Ilustrações: Patricia Sada, Rachel Ribas, Tom Maia, José Pedro <strong>de</strong> Ol-<br />
iveira Costa.
PATROCINADORES<br />
Antonio Carlos Canto Porto Filho, Arnal<strong>do</strong> Colluci, Banco Itaú S.A., Carmo<br />
e Jovelino Mineiro, Eletronuclear, Emiliano Empreendimentos e Partici-<br />
pações Hoteleiras Ltda., Fundação Arruda Botelho, Fundação Roberto Mar-<br />
inho, Henrique <strong>de</strong> Almeida, Instalmax, João Augusto Pereira <strong>de</strong> Queiroz,<br />
Ministério <strong>do</strong> Turismo, Oi, Osval<strong>do</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Junior, Pedro Augusto Perei-<br />
ra <strong>de</strong> Queiroz, Resort Portobello Ltda., Roberto Irineu Marinho, São Gonça-<br />
lo Empreendimentos Imobiliários e Urbanísticos Ltda., SOS Mata Atlântica,<br />
Thomaz Farkas e Vivo.<br />
COLABORADORES DESTE DOSSIÊ<br />
Acácio Luiz, Álvaro Luiz <strong>de</strong> Assumpção, Antonio Álvaro Rodrigues Foz An-<br />
tonio Ricarte, Ariel Antonio Selene, Arman<strong>do</strong> Martins <strong>de</strong> Barros, Berndt<br />
Von Droste, Carlos Eduar<strong>do</strong> Guimarães, Carolina Campos, Corina Tarsila <strong>de</strong><br />
Oliveira Rocha, Delmo Manoel Pinho, Domingos Oliveira, Eliane Tomé S.<br />
Oliveira, Flor e Gilberto Carvalho, Gleyson Rocha, Helena e José Carlos <strong>de</strong><br />
Oliveira Freire, Jean-Pierre Halévy, João Carlos Miranda Freire, Dom João <strong>de</strong><br />
Orleans e Bragança, José Cláudio <strong>de</strong> Araújo, Lia Capovilla, Lúcia Basto, Luiz<br />
Arman<strong>do</strong> França <strong>de</strong> Carvalho, Luiz Filipe <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Soares, Luzia Me<strong>de</strong>i-<br />
ros, Marcelo Dantas, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Zuquim, Marília van Boekel Cheola,<br />
Mário Augusto Bernar<strong>de</strong>s Ron<strong>do</strong>n, Mario Jura<strong>do</strong>, Marli Ângela Mariano,<br />
Milena Moraes, Nena Gama, Paulo Dartanham Marques <strong>de</strong> Amorim, Paulo<br />
França, Raquel Ribas, Saint Clair Valente Castro, Silvio Luiz Veloso, Thays<br />
Pessotto Zugliani, Vald<strong>em</strong>ir Ferreira.<br />
COMERCIANTES QUE CONTRIBUIRAM PARA O DOSSIÊ<br />
Hotel Canoas, Hotel Coxixo, Parque Hotel Perequê, Pousada Aconchego,<br />
Pousada Água Viva, Pousada <strong>do</strong> Cais, Pousada <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Pousada <strong>do</strong> Prínci-<br />
pe, Pousada <strong>do</strong> Sândi, Pousada Pôr <strong>do</strong> Sol, Pousada Porto Imperial, Pousada<br />
Provence, Pousada Varandas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Pousada Vila Harmonia, Pousada<br />
Villa Del Sol, Restaurante Acad<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> Cozinha, Restaurante Banana da<br />
Terra, Restaurante da Matriz, Restaurante <strong>do</strong> Hiltinho, Restaurante Refúgio,<br />
Restaurante Santa Rita.<br />
8.b Instituições Oficiais Locais<br />
PREFEITURA MUNICIPAL DE PARATY<br />
Prefeito: José Carlos Porto Neto<br />
En<strong>de</strong>reço: Alameda Princesa Isabel, s/n, Pontal – Cep: 23970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Tel. (24) 3371.9900<br />
237
238<br />
CÂMARA MUNICIPAL DE PARATY<br />
Presi<strong>de</strong>nte: An<strong>de</strong>rson Rangel Antunes <strong>de</strong> Vasconcellos<br />
En<strong>de</strong>reço: Rua Dr. Samuel Costa, 23 /25 – <strong>Paraty</strong> – RJ – Cep. 23970 -000<br />
Tel. (24) 3371.1424 – E-mail: camara@paraty.rj.gov.<br />
8.c Instituições Locais<br />
ASSOCIAÇÃO CASA AZUL<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Mauro Munhoz<br />
Alam. Princesa Isabel, s/nº - Pontal<br />
Tel. (24) 337l.7082<br />
Email: mauro@casaazul.org.br<br />
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE PARATY<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Carlos José Gama Miranda<br />
Tel. (24) 337l.2095<br />
Email: acip@terra.com.br<br />
ASSOCIAÇÃO PARATY CULTURAL – CASA DA CULTURA<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Rodrigo Cunha<br />
Gerência Executiva: Milena Moraes<br />
Rua Dona Geralda, 37 – Centro Histórico – Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Tel. (24) 3371.2325<br />
Email: milena.moraes@casadaculturaparaty.org.br<br />
COMAMP - CONSELHO MUNICIPAL DE ASSOCIAÇÕES DE<br />
MORADORES DE PARATY<br />
Presi<strong>de</strong>nte: José Joaquim Bittencourt<br />
Caixa Postal: 74 957 – Cep: 23 970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Tel. (24) 3371.4296<br />
Email: comamp.paraty@gmail.com.br<br />
ESPAÇO CULTURAL DE PARATY<br />
Marcos Caetano Ribas<br />
Rua Dona Geralda, 327 – Centro Histórico – Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Tel. (24) 3371.1240<br />
Email: rachel@ecparaty.org.br
INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN<br />
Chefe <strong>do</strong> Escritório Técnico: Cynthia V. Tarrisse da Fontoura<br />
Praça da Matriz, s/n° - <strong>Paraty</strong> – RJ, Cep. 23970 – 000<br />
Tel. (24) 3371.2051 - 3371.2180<br />
Email: etecparaty@iphan.gov.br<br />
INSTITUTO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PARATY – IHAP<br />
Presi<strong>de</strong>nte: Maria José S. Rameck<br />
Largo da Santa Rita – Antiga Ca<strong>de</strong>ia – <strong>Paraty</strong> – RJ – Cep. 23970 – 000<br />
Telefax (24) 3371.1056<br />
E-mail: ihap@ihap.org.br<br />
MUSEU DE ARTE SACRA E FORTE DEFENSOR PERPÉTUO<br />
Diretor: Júlio César Dantas<br />
Igreja <strong>de</strong> Santa Rita, Largo <strong>de</strong> Sta. Rita s/n. Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Fones: 3371.1620 e 3371.2133<br />
SECRETARIA DE TURISMO E CULTURA<br />
Secretária: Renata Cristina <strong>de</strong> Castro<br />
Av. Roberto da Silveira, s/n. Chácara – Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />
Tel. (24) 3371.1222 - 3371.1897 - 3371.1760<br />
Email: sectur@pm.paraty.rj.gov.br<br />
SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE<br />
Analista Responsável: Maria Auxilia<strong>do</strong>ra Dabela da Silva<br />
Av. Roberto da Silveira, 149, sala 7<br />
Telefax (24) 3371.2150<br />
Email: masilva@rj.sebrae.com.br e www.sebraerj.com.br<br />
239
240
9 Assinaturas<br />
<strong>em</strong> nome<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-M<strong>em</strong>bro<br />
Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional<br />
LUIZ FERNANDO DE ALMEIDA<br />
Prefeito <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
JOSÉ CARLOS PORTO NETO
242
Anexos<br />
Visão <strong>do</strong> paraíso<br />
O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />
As Tropas<br />
Prospecto Arquitetônico<br />
A Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>do</strong> Brasil<br />
Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Methuen<br />
Indica<strong>do</strong>res da paisag<strong>em</strong><br />
Pau brasil<br />
Parque Nacional da Serra da Bocaina - PNSB<br />
Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>de</strong> Cairuçu<br />
Reserva Ecológica da Juatinga<br />
APA da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
Festas Religiosas<br />
Legislação<br />
Plano <strong>de</strong> Gestão da Candidatura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>
244<br />
Visão <strong>do</strong> paraíso<br />
Sergio Buarque <strong>de</strong> Holanda<br />
“Não só o DESLUMBRAMENTO <strong>de</strong> um Colombo divisava as <strong>sua</strong>s índias e as<br />
pintava, ora segun<strong>do</strong> os mo<strong>de</strong>los edênicos provin<strong>do</strong>s largamente <strong>de</strong> esque-<br />
mas literários, ora segun<strong>do</strong> os próprios termos que tinham servi<strong>do</strong> aos poetas<br />
gregos e romanos para exaltar a ida<strong>de</strong> feliz, posta no começo <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos,<br />
quan<strong>do</strong> um solo generoso, sob constante primavera dava <strong>de</strong> si espontanea-<br />
mente os mais saborosos frutos, on<strong>de</strong> os homens, insetos da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada<br />
cobiça ( pois tu<strong>do</strong> tinham s<strong>em</strong> esforço e <strong>de</strong> sobejo ), não conheciam “ferros,<br />
n<strong>em</strong> aço, n<strong>em</strong> armas”, n<strong>em</strong> eram aptos para eles – são estas, aliás, as própri-<br />
as palavras <strong>de</strong> que se servirá o genovês ao tratar <strong>do</strong>s gentios das ilhas <strong>de</strong>sco-<br />
bertas - , mas até os <strong>de</strong> mais profun<strong>do</strong> e repousa<strong>do</strong> saber, se inclinavam a<br />
encarar os mun<strong>do</strong>s novos sob a aparência <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los antigos.<br />
...<br />
Esse pensamento justificaria as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> Colombo quan<strong>do</strong> <strong>sua</strong> im-<br />
aginação <strong>de</strong>slumbrada lhe apresentava as terras <strong>de</strong>scobertas sob aspec-<br />
tos paradisíacos e, ainda mais, quan<strong>do</strong> pretendia que nelas ou por elas<br />
seria da<strong>do</strong> ao gênero humano regenerar-se à espera <strong>do</strong> Dia <strong>do</strong> Juízo. N<strong>em</strong><br />
po<strong>de</strong>ria pensar muito diversamente qu<strong>em</strong> acreditava que, num sitio<br />
daquelas partes, se encontrava o próprio horto on<strong>de</strong> o Senhor colocara o<br />
primeiro hom<strong>em</strong>. Pretensão, esta, que o Almirante não se limitara a expor<br />
aos reis católicos, mas que chegara a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r até perante o Sumo<br />
Pontífïce, na carta que dirige <strong>em</strong> 1502, a Sua Santida<strong>de</strong> pedin<strong>do</strong> a r<strong>em</strong>es-<br />
sa <strong>de</strong> seis missionários. “Creí”, escreve, com efeito, “y creo aquello que<br />
creyeron y creen to<strong>do</strong>s santos y sábios teólogos que alli, <strong>em</strong> la comarca,<br />
es el Paraíso terrenal”. A comarca situava-se naturalmente, nas regiões ao<br />
sul <strong>do</strong> Pária, on<strong>de</strong> se estendiam terras infinitas.<br />
...<br />
... nada perdia o cenário americano, para numerosos viajantes, <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s<br />
misteriosas e inegáveis possibilida<strong>de</strong>s. Ali o milagre parecia novamente<br />
incorpora<strong>do</strong> à natureza: uma natureza ainda cheia <strong>de</strong> graça matinal, <strong>em</strong><br />
perfeita harmonia e correspondência com o Cria<strong>do</strong>r. Colombo, s<strong>em</strong> dis-<br />
<strong>sua</strong>dir-se <strong>de</strong> que atingira pelo Oci<strong>de</strong>nte as partes <strong>do</strong> Oriente, julgou-se<br />
<strong>em</strong> outro mun<strong>do</strong> ao avistar a costa <strong>do</strong> Pária, on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> lhe dizia estar o<br />
caminho <strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro Paraíso Terreal.
Ganha com isso o seu significa<strong>do</strong> pleno aquela expressão “Novo Mun-<br />
<strong>do</strong>”, que o próprio <strong>de</strong>scobri<strong>do</strong>r estava na iminência <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregar e que o<br />
humanista <strong>de</strong> Anghiera cunharia, antes mesmo <strong>de</strong> Vespúcio, para <strong>de</strong>sig-<br />
nar as terras <strong>de</strong>scobertas. Novo, não só porque, ignora<strong>do</strong>, até então, das<br />
gentes da Europa e ausente da geografia <strong>de</strong> Ptolomeu, fora “novamente”<br />
encontra<strong>do</strong>, mas porque parecia o mun<strong>do</strong> renovar-se ali, e regenerar-se,<br />
vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> imutável, banha<strong>do</strong> numa perene primavera, alheio à<br />
varieda<strong>de</strong> e aos rigores das estações, como se estivesse verda<strong>de</strong>iramente<br />
restituí<strong>do</strong> à gloria <strong>do</strong>s dias da Criação.<br />
...<br />
O TEMA PARADISÍACO <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> puro, e não através <strong>de</strong> longínquas re-<br />
frações, aparece, aliás, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ce<strong>do</strong>, e a propósito <strong>do</strong> Brasil, <strong>em</strong> um texto<br />
<strong>de</strong> Américo Vespúcio, narra<strong>do</strong>r muito mais sóbrio e objetivo <strong>do</strong> que Co-<br />
lombo. Efetivamente, na carta chamada Bartolozze, redigida <strong>em</strong> 1502, a<br />
abundância e viço das plantas e flores <strong>em</strong> nossas matas, o <strong>sua</strong>ve aroma<br />
que <strong>de</strong>las <strong>em</strong>ana, e ainda o sabor das frutas e raízes, chegam a sugerir ao<br />
florentino a impressão da vizinhança <strong>do</strong> Paraíso Terreal.<br />
...<br />
“Quorum proprietates si nobis note essent non dubito quin huma-<br />
nis corporis saluti forent, et certe si paradisus terrestris in aliqua sit<br />
terra parte, non longe ab illis regionibus distare extimo”.<br />
H. Vignaud, Mundus Novus, atribuída a Américo Vespúcio<br />
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246<br />
O <strong>Caminho</strong> Do <strong>Ouro</strong><br />
A História <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong><br />
CASA DOS QUINTOS<br />
Marcos Caetano Ribas<br />
Ocupadas, por um Escrivão e um fundi<strong>do</strong>r que trabalhavam sob as or<strong>de</strong>ns<br />
<strong>de</strong> um Prove<strong>do</strong>r, as Casas <strong>do</strong>s Quintos, também chamadas <strong>de</strong> Registros<br />
eram verda<strong>de</strong>iras alfân<strong>de</strong>gas, on<strong>de</strong> os viajantes, além <strong>de</strong> pagar os impos-<br />
tos, tinham que apresentar um passaporte quan<strong>do</strong> estavam in<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />
província para outra.<br />
Ali, tinham <strong>sua</strong>s cargas e malas examinadas para ver se levavam contra-<br />
ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> ouro e diamante e se o seu conteú<strong>do</strong> conferia com as guias que<br />
traziam. Os escravos eram também conferi<strong>do</strong>s, e seus papéis, checa<strong>do</strong>s.<br />
O principal objetivo <strong>de</strong>ssas casas, pelo menos no início <strong>de</strong> <strong>sua</strong> criação, era<br />
cobrar o imposto relativo à extração <strong>do</strong> ouro, que era <strong>de</strong> 20%, ou seja, um<br />
quinto <strong>do</strong> ouro extraí<strong>do</strong> – daí o nome. Também era cobra<strong>do</strong>s um imposto<br />
sobre a circulação <strong>de</strong> escravos e merca<strong>do</strong>rias <strong>em</strong> geral e um pedágio.<br />
Segun<strong>do</strong> uma carta <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r da Capitania <strong>de</strong> São Paulo, Antônio<br />
da Silva Pimentel, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1728, o valor <strong>do</strong> imposto era <strong>de</strong><br />
“duas patacas e quatro vinténs por pessoa e quatro patacas por cavalo”.<br />
Nos primeiros momentos da exploração das minas, no fim <strong>do</strong> século XVII<br />
e início <strong>do</strong> século XVIII, o ouro era fundi<strong>do</strong> nessas casas e transforma<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />
barretas <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z centímetros <strong>de</strong> comprimento por <strong>do</strong>is <strong>de</strong> largura, nas<br />
quais se imprimia: a marca da Coroa portuguesa, o teor <strong>de</strong> pureza (quantos<br />
quilates – que se i<strong>de</strong>ntificava pela palavra “toque”) e outras informações rela-<br />
tivas ao pagamento da taxa real. A isto se chamava “quintar“ o ouro.<br />
EM PARATY<br />
A Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi criada por uma Carta Régia <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong><br />
maio <strong>de</strong> 1703 e instalada na estrada da Serra <strong>do</strong> Facão, com a função <strong>de</strong><br />
cobrar o pedágio e o imposto sobre o ouro e outras merca<strong>do</strong>rias.<br />
Foi nomea<strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r Carlos Pedroso da Silveira, paulista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
importância nos primeiros <strong>de</strong>scobertos das minas, transferi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Registro<br />
<strong>de</strong> Taubaté. Foram nomea<strong>do</strong>s também um escrivão e um fundi<strong>do</strong>r, que<br />
“fundi<strong>do</strong> o ouro <strong>em</strong> barretas, lhe põ<strong>em</strong> o cunho real, sinal <strong>do</strong> quinto que<br />
se pagou a El-Rei”
Em 1701, Luís da Silva havia si<strong>do</strong> manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> Portugal como fundi<strong>do</strong>r e<br />
cunha<strong>do</strong>r, trazen<strong>do</strong> consigo um engenho (aparelho para fundir e cunhar)<br />
que <strong>de</strong>via ser monta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Taubaté. O tal engenho jamais conseguiu<br />
vencer a difícil subida pela precária trilha da Serra <strong>do</strong> Facão, que naque-<br />
le t<strong>em</strong>po ainda não <strong>de</strong>via permitir a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> carga, e<br />
teve que ficar pelo meio <strong>do</strong> caminho. Talvez por força <strong>de</strong>sta mesma cir-<br />
cunstância, Luís da Silva acabou se tornan<strong>do</strong> o primeiro fundi<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />
Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
O primeiro escrivão foi Manuel <strong>de</strong> Proença Rebello Castello Branco, que<br />
mais tar<strong>de</strong> foi transferi<strong>do</strong> para o Registro <strong>de</strong> Paraíba, no <strong>Caminho</strong> Novo.<br />
Uma nova Carta Régia, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1704, man<strong>do</strong>u extinguir todas<br />
as casas <strong>de</strong> Registro, com exceção <strong>de</strong> duas, a <strong>de</strong> Santos e a <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, d<strong>em</strong>ons-<br />
tran<strong>do</strong> a importância que a Coroa portuguesa dava ao porto paratiense.<br />
Em 1710, com a abertura <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> Novo e a instalação <strong>do</strong> Registro <strong>de</strong><br />
Paríba Velha, Portugal proibiu o uso da estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> para o transporte <strong>do</strong><br />
ouro das minas novas, e a Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> quintar ouro<br />
(fundir). O fundi<strong>do</strong>r Luís da Silva foi envia<strong>do</strong> <strong>de</strong> volta para Portugal.<br />
Cinco anos <strong>de</strong>pois, o povo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> pediu requerimento para o Rei <strong>de</strong><br />
Portugal que a estrada fosse novamente liberada, e foi atendi<strong>do</strong> por uma<br />
carta Régia, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> maio.<br />
REGISTRO DA SERRA<br />
Mesmo s<strong>em</strong> quintar ouro, o Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> seguiu funcionan<strong>do</strong>. Um<br />
regime para estabelecer os procedimentos e regular o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cobran-<br />
ça <strong>do</strong> Registro foi cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1726 pelo autoritário governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro Luiz Vahia Monteiro, também conheci<strong>do</strong> como o “Onça“. Em<br />
“Ord<strong>em</strong> apartada”, este governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong>terminou ao Prove<strong>do</strong>r que co-<br />
brasse ainda um tributo <strong>de</strong> 40 réis por pessoa e por cavalo que passas-<br />
s<strong>em</strong>. Isto motivou uma reclamação da Câmara <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, que recebeu<br />
como resposta uma repreensão <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, dizen<strong>do</strong> que esta contri-<br />
buição era para ser repartida entre os solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Registro, já que “nin-<br />
guém po<strong>de</strong> estar trabalhan<strong>do</strong> e fazen<strong>do</strong> o serviço <strong>de</strong>bal<strong>de</strong>” e que eles, os<br />
oficiais da Câmara, <strong>de</strong>veriam ser os primeiros a dar o seu apoio.<br />
Em 1736, uma Carta Régia or<strong>de</strong>nou que o Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />
neiro, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, fizesse por conta da Real Fazenda uma<br />
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248<br />
casa com “acomodação para quarenta solda<strong>do</strong>s e um capitão ... dan<strong>do</strong><br />
quartel a infantaria que se acha na guarda <strong>de</strong>ste Registro”.<br />
Pelos termos <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento, fica a impressão <strong>de</strong> que este quartel foi<br />
construí<strong>do</strong> na vila <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e não no local <strong>do</strong> Registro. A tropa <strong>de</strong> qua-<br />
renta solda<strong>do</strong>s aos quais se <strong>de</strong>stinava era toda <strong>de</strong> guarnição que cuidava<br />
também da proteção da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> controle das <strong>em</strong>barcações, conferin-<br />
<strong>do</strong> o pagamento <strong>de</strong> outros impostos, como o <strong>do</strong> sal, por ex<strong>em</strong>plo, men-<br />
ciona<strong>do</strong> no mesmo <strong>do</strong>cumento.<br />
Em 1775, Martim Lopes Lobo <strong>de</strong> Saldanha, que viajava <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
para São Paulo para assumir o cargo <strong>de</strong> Capitão-General, enviou um ofício ao<br />
Vice-Rei Marquês <strong>do</strong> Lavradio, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> com <strong>de</strong>talhes a viag<strong>em</strong> e mencio-<br />
nan<strong>do</strong> um pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> guarnição da Casa <strong>de</strong> Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – o <strong>de</strong>staca-<br />
mento <strong>de</strong> milícia <strong>do</strong>s “Auxiliares <strong>do</strong> Terço” para mudar o Registro da localida-<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boca <strong>do</strong> Inferno para o local conheci<strong>do</strong> como Cachoeira.<br />
Por esta informação <strong>de</strong>duz-se que, naquele momento, a guarda <strong>do</strong><br />
registro era feita por “tropa auxiliar”, ou seja, milicianos locais que rece-<br />
biam como sol<strong>do</strong> apenas “ 3 quartas <strong>de</strong> farinha por mês” , e não “tropas<br />
e linha”, profissionais, pagos pelo governo, o que justificava a ord<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />
governa<strong>do</strong>r Luiz Vahia Monteiro <strong>em</strong> 1726.<br />
Em <strong>do</strong>cumento <strong>de</strong> 1804, o Coronel João Aires da Gama, Chefe <strong>do</strong><br />
Regimento <strong>de</strong> Milícias <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, informou que até 1765 os registros foram<br />
guarneci<strong>do</strong>s por tropas regulares (“<strong>de</strong> linha“) mandadas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janei-<br />
ro: “<strong>em</strong> atenção a guerra e por precisão <strong>de</strong> tropa que <strong>de</strong>stacou então o<br />
sul, se retirou o Destacamento fican<strong>do</strong> suprin<strong>do</strong> o serviço <strong>do</strong>s Registros a<br />
Tropa Auxiliar que havia, pratican<strong>do</strong> esta hum igual zelo, s<strong>em</strong> que houves-<br />
se diminuição algua athe o anno <strong>de</strong> 1793, que <strong>de</strong>stacou para a mesma<br />
Vila bua Companhia <strong>do</strong> Regimento d’Estr<strong>em</strong>os pela <strong>de</strong>sconfiança da guer-<br />
ra, e nela se conservou te o anno <strong>de</strong> 1797,que por ord<strong>em</strong> <strong>do</strong> Exmo. Snr.<br />
Vice-Rei, retirou a dita compania para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, fican<strong>do</strong> ultima-<br />
mente aqueles registros guarneci<strong>do</strong>s pela Tropa <strong>de</strong> Regimento <strong>de</strong> Milícias<br />
da mesma Vila como atualmente se conserva s<strong>em</strong> alteração algua”.<br />
Em algum momento, no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre 1775, data da carta<br />
<strong>de</strong> Lobo <strong>de</strong> Saldanha, e 1790, o registro foi <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong> da tal Boca ou Boquei-<br />
rão <strong>do</strong> Inferno, para um local “junto ao Afonso”, “pouco acima <strong>do</strong> lugar<br />
<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> pouzo <strong>do</strong> Souza”, muito provavelmente na área on<strong>de</strong> hoje se<br />
encontra o Sítio Histórico e Ecológico <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (Sh-eco).
Este lugar, entretanto, parecia ter trazi<strong>do</strong> muitos probl<strong>em</strong>as para a arreca-<br />
dação <strong>do</strong>s impostos e o controle da passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> escravos para a região<br />
<strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Rio Paraíba e para as Minas. Em 1790, o vice-Rei, Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Resen<strong>de</strong>, “aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aos consi<strong>de</strong>ráveis prejuízos que t<strong>em</strong> resulta<strong>do</strong> a<br />
Real Fazenda no extravio <strong>de</strong> oiro e diamantes (...) e ainda mais pela omis-<br />
são e abominável conduta daquelles mesmos que se obrigão a respon<strong>de</strong>r<br />
pela boa arrecadação <strong>do</strong>s Direitos <strong>de</strong> S. Majesta<strong>de</strong> “, or<strong>de</strong>nou à Câmara<br />
<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que fizesse mudar o Registro para o lugar chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cacho-<br />
eira <strong>do</strong> Martins, “estabelecen<strong>do</strong> nella Quartel para a <strong>sua</strong> guarda, Patru-<br />
lhas e <strong>de</strong>stacamentos.”<br />
Para garantir o bom cumprimento <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s or<strong>de</strong>ns, o Vice-Rei man<strong>do</strong>u<br />
para a cida<strong>de</strong> o Capitão Domingos Francisco Ramos Fialho com a missão<br />
<strong>de</strong> efetuar a mudança e organizar a fiscalização militar. O registro passou<br />
então a se situar on<strong>de</strong> hoje se encontra o bairro <strong>do</strong>s Penha, ao la<strong>do</strong> da<br />
antiga Ponte da Cachoeira, mais tar<strong>de</strong> Ponte <strong>do</strong> Registro, cujos vestígios<br />
ainda pod<strong>em</strong> ser vistos, pouco acima <strong>do</strong> que hoje é conheci<strong>do</strong> como Ca-<br />
choeira <strong>do</strong> Tobogã.<br />
O novo local é realmente mais apropria<strong>do</strong>, que já se encontra entre<br />
<strong>do</strong>is rios: o Rio <strong>do</strong> Souza ou Carrasquinho, que, ao parece, era conheci<strong>do</strong><br />
na época como Cachoeira <strong>do</strong> Martins, e o Perequê-açu. O Rio <strong>do</strong> Souza<br />
cortava a passag<strong>em</strong> das tropas naquele ponto, in<strong>do</strong> <strong>de</strong>saguar no Pere-<br />
quê. Isto forçava os viajantes a cruzar<strong>em</strong> o rio por cima <strong>de</strong> uma laje estrei-<br />
ta (que fica acima da pedra da Cachoeira <strong>do</strong> Tobogã) que dava passag<strong>em</strong><br />
quan<strong>do</strong> as águas estavam calmas. Mais tar<strong>de</strong> foi construída pouco acima<br />
da Ponte <strong>do</strong> Registro, que foi <strong>de</strong>pois substituída por outra que se encon-<br />
tra alguns metros mais abaixo, hoje na estrada asfaltada, e que é reco-<br />
nhecida como Ponte <strong>do</strong> Guia.<br />
Em 1790 o Registro estava s<strong>em</strong> Prove<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> a função repassada ao<br />
Comandante da Vila, Capitão Francisco Soares da Silva.<br />
Militar competente, o Capitão Domingos estabeleceu para a guarda<br />
regras <strong>de</strong>talhadas que dispunham inclusive sobre como proce<strong>de</strong>r à revista<br />
das mulheres, que <strong>de</strong>veriam ser levadas até a cida<strong>de</strong> “pelos melhores<br />
solda<strong>do</strong>s”, que as encaminhariam `a presença <strong>do</strong> Comandante da Vila,<br />
que <strong>de</strong>veria então “proce<strong>de</strong>r com ellas o que lhe he <strong>de</strong> costuma praticar-<br />
se por <strong>de</strong>cência <strong>do</strong> mesmo sexo”, ou seja, faze-las revistar pela esposa <strong>do</strong><br />
Prove<strong>do</strong>r ( ou no caso, pela <strong>sua</strong> própria), como era <strong>de</strong> praxe.<br />
249
250<br />
Determinou que <strong>do</strong>is solda<strong>do</strong>s fariam uma ronda, in<strong>do</strong> para cima, até o<br />
Souza, e que uma patrulha <strong>de</strong> outros <strong>do</strong>is solda<strong>do</strong>s guarneceria a encru-<br />
zilhada <strong>do</strong> rego d’água ( ainda existente no local), que <strong>de</strong>sce <strong>do</strong> Paço <strong>do</strong><br />
carretão, na parte <strong>do</strong> caminho que por volta <strong>de</strong>ssa época passou a ser<br />
referi<strong>do</strong> como Estrada da patrulha.<br />
Por fim, <strong>de</strong>terminou que a guarda <strong>do</strong> Registro fosse composta por um<br />
total <strong>de</strong> 11 praças, retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s 26 solda<strong>do</strong>s existentes na cida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong><br />
“hum Oficial subalterno, hum cabo d’Esquadra e nove solda<strong>do</strong>s”. Or<strong>de</strong>-<br />
nou então a construção <strong>do</strong> quartel, que ficou pronto <strong>em</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro.<br />
Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que as or<strong>de</strong>ns iniciais <strong>do</strong> Vice-Rei Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong><br />
haviam si<strong>do</strong> dadas no dia 3 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro, po<strong>de</strong>-se concluir que as insta-<br />
lações <strong>do</strong> quartel <strong>de</strong>viam ser b<strong>em</strong> simples já que <strong>sua</strong> construção se fez <strong>em</strong><br />
pouco mais <strong>de</strong> um mês. O quartel ficava a “sete braças da parte <strong>de</strong> sima<br />
da Cachoeira”, livre das freqüências inundações que ocorriam no local.<br />
Na carta <strong>em</strong> que Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> passa <strong>sua</strong>s or<strong>de</strong>ns ao Capitão<br />
Domingos Ramos, ela diz que “as pessoas que <strong>de</strong> cima vier<strong>em</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
ser lhe dar busca na forma já dita, se lhe porá nas costas <strong>do</strong> Bilhete que<br />
trouxer no Registro <strong>de</strong> cima = Revisto na Guarda da Cachoeira”, (subli-<br />
nha<strong>do</strong> no original) e para os que sob<strong>em</strong>, a guarda <strong>de</strong>ve colocar “Visto na<br />
Guarda da Cachoeira”.<br />
Esse trecho é muito importante por que esta instrução <strong>de</strong>ixa claro que<br />
havia um posto mais acima da Guarda, on<strong>de</strong> eram efetua<strong>do</strong>s os paga-<br />
mentos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s e on<strong>de</strong> os viajantes recebiam a guia necessária ou bilhe-<br />
te, que era <strong>de</strong>pois apenas revisto pelos solda<strong>do</strong>s. Ou seja, na Cachoeira<br />
estava o Quartel da Guarda <strong>do</strong> Registro, e mais acima, a Prove<strong>do</strong>ria, da<br />
mesma forma como ainda hoje, nas estradas brasileiras, estão separa<strong>do</strong>s<br />
os postos da fiscalização fazendária <strong>do</strong>s da Polícia Ro<strong>do</strong>viária.<br />
Entanto o Registro s<strong>em</strong> Prove<strong>do</strong>r e a prove<strong>do</strong>ria ao cargo <strong>do</strong> coman-<br />
dante <strong>do</strong> Quartel da cida<strong>de</strong>, o Capitão Domingos <strong>de</strong>cidiu que a guia ou<br />
bilhete <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> ia <strong>de</strong> cima para baixo <strong>de</strong>veria ser feito pela própria guar-<br />
da, indican<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong>s or<strong>de</strong>ns que ”<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se lhes dar busca na forma<br />
já dita, se lhes porá no bilhete que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apresentar ao Snr. Comandan-<br />
te da Vila = Apresentou-se Fulano nesta Guarda da Cachoeira vinda <strong>de</strong> tal<br />
parte, com tantos escravos /pelos seus nomes, e tantos camaradas / da<br />
mesma forma/; <strong>de</strong>o ao manifesto tantas barras <strong>de</strong> ouro, com <strong>sua</strong>s guias<br />
V. <strong>em</strong> tantos <strong>de</strong> tal mez, e asignará com a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> seo Posto.”
Já os que subiam teriam <strong>sua</strong>s guias preparadas pelo Comandante da Vila<br />
e apenas conferidas pelo guarda <strong>do</strong> Registro: “E <strong>em</strong> quanto aos que so-<br />
bir<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve examinar-se o Despacho, que levão, e se nelle vão incluídas<br />
todas as pessoas cont<strong>em</strong>pladas, e achan<strong>do</strong> certo se <strong>de</strong>ixarão passar.”<br />
Po<strong>de</strong>-se concluir que, portanto, que a mudança <strong>de</strong> local e <strong>de</strong> todas as<br />
reestruturações mencionadas anteriormente seguiam or<strong>de</strong>ns militares e<br />
se referiam apenas ao Quartel da Guarda <strong>de</strong> Registro, enquanto que a<br />
Prove<strong>do</strong>ria, que era um órgão civil, continuava no mesmo lugar, estan<strong>do</strong><br />
apenas aban<strong>do</strong>nada por estar s<strong>em</strong> Prove<strong>do</strong>r, que havia si<strong>do</strong> provisoria-<br />
mente substituí<strong>do</strong> pelo Comandante Militar da Vila.<br />
> A.M. – Praia <strong>do</strong><br />
Pontal na baía <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong><br />
251
252<br />
> DJOB – Canoa e<br />
Pesca<strong>do</strong>r na Baía <strong>de</strong><br />
<strong>Paraty</strong>
As Tropas<br />
Marcos Caetano Ribas<br />
Chamavam-se tropas as caravanas <strong>de</strong> animais eqüí<strong>de</strong>os, que por alguns<br />
séculos se constituíram no principal meio <strong>de</strong> transporte terrestre <strong>de</strong> mer-<br />
ca<strong>do</strong>rias <strong>do</strong> Brasil. As tropas possuíam estruturas simples, mas b<strong>em</strong> or-<br />
ganizadas, com sist<strong>em</strong>a próprio <strong>de</strong> funcionamento, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> à função<br />
que cumpriam.<br />
Cada tropa geralmente era li<strong>de</strong>rada pelo proprietário <strong>do</strong>s animais.<br />
Comerciante, mas também <strong>em</strong>presário <strong>de</strong> transporte, este tropeiro ou<br />
arrieiro, como era chama<strong>do</strong>, por um preço combina<strong>do</strong>, carregava <strong>sua</strong>s<br />
mulas e seguia pelos caminhos.<br />
Figura <strong>de</strong> prestígio nas cida<strong>de</strong>s e fazendas que visitava, era espera<strong>do</strong><br />
não só como merca<strong>do</strong>r, mas também como porta<strong>do</strong>r das novida<strong>de</strong>s e das<br />
informações <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> país e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com o qual era muitas vezes o<br />
único contato.<br />
“O tropeiro era hom<strong>em</strong> abasta<strong>do</strong>, pois ganhava gordas porcentagens<br />
sobre as merca<strong>do</strong>rias que negociava (...) Altamente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelos<br />
principais <strong>do</strong>s lugares on<strong>de</strong> negociava, <strong>em</strong> muitos casos até confi<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> figuras representativas locais,o tropeiro era s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong> recebi<strong>do</strong> nas<br />
casas senhoriais, <strong>de</strong>positário que era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e pequenos”.<br />
As tropas eram divididas por lotes – pequenas porções <strong>de</strong> cargueiros<br />
– conduzi<strong>do</strong>s por um “camarada” , que também chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> toca<strong>do</strong>r ou<br />
tange<strong>do</strong>r, e contavam ainda com cozinheiro e um cão <strong>de</strong> guarda. Os lotes<br />
variam <strong>de</strong> tamanho, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da região: 7 mulas no Rio <strong>de</strong> Janeiro, 9<br />
<strong>em</strong> Minas Gerais e 11 no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás.<br />
Cada animal era capaz <strong>de</strong> levar <strong>de</strong> 6 a 12 arrobas <strong>de</strong> carga, ou seja, entre<br />
90 e 180 quilos. As tropas podiam ter até 200 ou 300 animais. Assim,<br />
consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> uma tropa <strong>de</strong> 200 cargueiros e toman<strong>do</strong> uma média <strong>de</strong> 8<br />
arrobas por mula, t<strong>em</strong>os que, numa só viag<strong>em</strong>, podia-se transportar 24<br />
toneladas <strong>de</strong> carga, um feito inigualável para a época.<br />
Encabeçan<strong>do</strong> a fileira <strong>de</strong> burros e mulas, estava s<strong>em</strong>pre a madrinha da<br />
tropa, que era um animal mais velho, b<strong>em</strong> conheci<strong>do</strong> como os outros,<br />
que se dispunham a segui-lo.<br />
253
254<br />
Enfeitar a madrinha era uma tradição s<strong>em</strong>pre respeitada e motivo <strong>de</strong><br />
orgulho para tropeiros e tange<strong>do</strong>res. Os caprichosos enfeites tinham tam-<br />
bém um significa<strong>do</strong> importante na hierarquia das tropas.<br />
Se a tropa possuía mais <strong>de</strong> 5 lotes, era consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> primeira cate-<br />
goria, e a madrinha portava uma “cabeçada” ornada <strong>de</strong> prata e enfeitada<br />
<strong>de</strong> martinetes e campainhas, com uma boneca <strong>de</strong> pano, uma pluma, es-<br />
pelhos ou laços <strong>de</strong> fita colori<strong>do</strong>s, fixa<strong>do</strong>s entre as orelhas e o peitoral<br />
cheio <strong>de</strong> guizos e tilintantes.<br />
Se o conjunto reunisse somente <strong>de</strong> 3 a 5 lotes, a madrinha trazia o<br />
peitoral com guizos, e não lhe era permiti<strong>do</strong> o uso <strong>de</strong> cabeçada. Se fosse<br />
composta <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> 3 lotes, o que raramente acontecia, não tinha<br />
direito a nenhuma insígnia.<br />
Se uma tropa <strong>de</strong> cavaleiros chegava a fazer 6 a 7 léguas por dia (entre<br />
36 e 42 quilômetros ), um cargueiro <strong>de</strong> burros e mulas não andavam mais<br />
que 3 ou 4 ( entre 18 e 24 quilômetros ). Sen<strong>do</strong> que no primeiro dia,<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao t<strong>em</strong>po gasto com as paradas para rearrumar a carga, a marcha<br />
dificilmente ultrapassava 2 léguas (12 quilômetros). Depois, uma acomo-<br />
dação final se <strong>de</strong>finia e a marcha se estabilizava.<br />
A duração das viagens variava <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a procedência das tropas.<br />
Os paulistas costumavam viajar somente até o meio-dia ou, quan<strong>do</strong> mui-<br />
to, até a uma hora ou as duas da tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da t<strong>em</strong>peratura, os<br />
baianos caminhavam até três horas, e os mineiros andavam <strong>de</strong> sol a sol.<br />
O caminho que seguia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> subin<strong>do</strong> pelas Serras <strong>de</strong> Muquipioca<br />
e Vimitinga, <strong>de</strong>pois conhecidas como Serra <strong>do</strong> Facão, já era usa<strong>do</strong> pelos<br />
índios antes da chegada <strong>do</strong>s portugueses. No século XVII, era consi<strong>de</strong>ra-<br />
<strong>do</strong> a melhor maneira <strong>de</strong> ir <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro a São Paulo e, a partir <strong>do</strong><br />
século XVIII, ganhou gran<strong>de</strong> importância como a via <strong>de</strong> acesso mais utili-<br />
zada pela gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aventureiros que surgiu no Brasil <strong>em</strong><br />
d<strong>em</strong>anda das minas <strong>de</strong> ouro <strong>do</strong> sertão <strong>do</strong>s Cataguases.<br />
Esta importância manteve-se no século seguinte com o cultivo <strong>do</strong> café<br />
nas fazendas <strong>do</strong> vale <strong>do</strong> rio Paraíba que buscavam escoamento para a <strong>sua</strong><br />
própria produção através <strong>de</strong> caminhos que ligass<strong>em</strong> aquele vale ao litoral.<br />
Apenas <strong>de</strong> Portugal, entre 1705 e 1750, veio um número tão gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> pessoas que a Coroa baixou uma lei conten<strong>do</strong> medidas proibitivas para<br />
controlar a evasão <strong>do</strong>s portugueses com <strong>de</strong>stino ao Brasil, que já provo-<br />
cava até mesmo escassez <strong>de</strong> tripulantes para guarnições <strong>do</strong>s navios.
Entre 1837 e 1838, o Registro <strong>do</strong> Tabuão, na base da serra da estrada<br />
<strong>Paraty</strong>-Cunha, acusava uma média <strong>de</strong> 30 mulas por dia, e entre 1854 e<br />
1855, já subia para 150 mulas por dia transportan<strong>do</strong> 179.463 arrobas <strong>de</strong><br />
café (mais ou menos duas toneladas e meia).<br />
A gran<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tropas e tropeiros, que por mais <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />
séculos, foi o principal elo <strong>de</strong> comunicação e comércio entre os povos <strong>do</strong><br />
Brasil, acabou por se tornar uma importante instituição, que era ainda<br />
compl<strong>em</strong>entada por uma série <strong>de</strong> artesãos que se integravam ao grupo ,<br />
às vezes <strong>do</strong>bran<strong>do</strong> com o serviço <strong>de</strong> toca<strong>do</strong>r ou camarada e às vezes não.<br />
Eram os cangalheiros, seleiros, trança<strong>do</strong>res, jacazeiros, funileiros, ferreiros<br />
e ferra<strong>do</strong>res, que tinham um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida e até uma linguag<strong>em</strong> especial<br />
e característica, que foi incorporada ao falar nacional, na forma <strong>de</strong> provér-<br />
bios e expressões populares como: “Quan<strong>do</strong> um burro fala o outro abaixa<br />
a orelha; boas idéias e burros mancos chegam s<strong>em</strong>pre atrasa<strong>do</strong>s; dar com<br />
burros n’água ; cor <strong>de</strong> burro quan<strong>do</strong> foge; picar a mula; é burrice; estar<br />
<strong>em</strong>burra<strong>do</strong>; <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bestar; teimoso como uma mula; é uma bruaca; estar<br />
<strong>em</strong>burra<strong>do</strong>; cagar na retranca; é bom pra burro; <strong>de</strong> pensar morreu um<br />
burro”e muitas outras.<br />
“ A vila <strong>de</strong> Guaratinguetá <strong>em</strong> que fiquei naquele dia, por ser necessário<br />
adiante mandar avisar os sítios por on<strong>de</strong> havia <strong>de</strong> passar, já é mais rica <strong>do</strong><br />
que as outras,por ser passag<strong>em</strong> para as Minas daqueles que v<strong>em</strong> buscar<br />
a estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, pela qual me asseguram andavam 1.300 cavaleiros<br />
conduzin<strong>do</strong> cargas.<br />
“Aqui <strong>de</strong>ixei o caminho da esquerda que vai a Serra da Mantiqueira, e<br />
daí às Minas, e toman<strong>do</strong> a direita, fui <strong>do</strong>rmir ao sítio da Piratinga, march-<br />
an<strong>do</strong> to<strong>do</strong> dia morro a baixo, morro a cima tão altos e <strong>em</strong>pina<strong>do</strong>s, que<br />
quase to<strong>do</strong>s os cavalos aguaram, até os que iam à mão, foi preciso san-<br />
grá-los; o que me causou a d<strong>em</strong>ora <strong>de</strong> três dia; ao que me sujeitei, por<br />
saber aí que Gomes Freire não podia sair <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro no dia que<br />
tinha me avisa<strong>do</strong>.<br />
“Ocupei esse t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> andar pelo mato atiran<strong>do</strong> aos papagaios, e<br />
aos tucanos, <strong>de</strong> que se havia boa quantida<strong>de</strong>.<br />
“Daqui a <strong>Paraty</strong> gastei <strong>do</strong>is dias; no primeiro fui ao sítio da Aparição,<br />
<strong>em</strong> que experimentei o mesmo frio que no reino; o segun<strong>do</strong> me levou<br />
toda a serra <strong>do</strong> <strong>Paraty</strong>, que na opinião comum, é a pior que se conhece.<br />
A estrada <strong>em</strong> partes é tão apertada, aberta <strong>em</strong> rochas, que era necessário<br />
255
256<br />
> DJOB – Barco na<br />
Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
levantar os pés até os por na garupa <strong>do</strong> cavalo; e n<strong>em</strong> com tu<strong>do</strong> isso es-<br />
capei <strong>de</strong> dar muitas boas topadas; tanto a pique, que oito dias me ficaram<br />
<strong>do</strong>en<strong>do</strong> as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> me endireitar; o chão estava calça<strong>do</strong> ou alastra<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> pedras soltas e <strong>de</strong>siguais, com muitos saltos e barrocas; e on<strong>de</strong> isto<br />
faltava era atoleiro gran<strong>de</strong> e cal<strong>de</strong>irões mais fun<strong>do</strong>s.<br />
“ Continuamente chove, e faz<strong>em</strong> <strong>em</strong> certos t<strong>em</strong>pos frios tão ex-<br />
traordinários, que t<strong>em</strong> já morto alguns passageiros; porque, como nela<br />
não é capaz <strong>de</strong> se andar na noite, aqueles a qu<strong>em</strong> o dia falta antes <strong>de</strong> a<br />
vencer, ficam expostos a estes perigos; pois não pod<strong>em</strong> reparar o frio com<br />
o fogo, por estar s<strong>em</strong>pre o mato, por molha<strong>do</strong>, incapaz disso.<br />
“ Além disso, t<strong>em</strong> duas passagens <strong>de</strong> rios bastantes más. Na vila me<br />
receberam como se fora o próprio general; a passag<strong>em</strong> que nela se faz<br />
para Minas, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cana, que ali se fabrica,<br />
que lhe dão alguma opulência.”
Registro <strong>do</strong>s Viajantes<br />
Marcos Caetano Ribas<br />
Alguns <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> época são significativos por apresentar<strong>em</strong> as<br />
condições <strong>em</strong> que se realizava essa viag<strong>em</strong>;<br />
A vila <strong>de</strong> Guaratinguetá <strong>em</strong> que fiquei naquele dia, por ser necessário<br />
adiante mandar avisar os sítios por on<strong>de</strong> havia <strong>de</strong> passar, já é mais rica <strong>do</strong><br />
que as outras,por ser passag<strong>em</strong> para as Minas daqueles que v<strong>em</strong> buscar<br />
a estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, pela qual me asseguram andavam 1.300 cavaleiros<br />
conduzin<strong>do</strong> cargas.<br />
Aqui <strong>de</strong>ixei o caminho da esquerda que vai a Serra da Mantiqueira, e<br />
daí às Minas, e toman<strong>do</strong> a direita, fui <strong>do</strong>rmir ao sítio da Piratinga, march-<br />
an<strong>do</strong> to<strong>do</strong> dia morro a baixo, morro a cima tão altos e <strong>em</strong>pina<strong>do</strong>s, que<br />
quase to<strong>do</strong>s os cavalos aguaram, até os que iam à mão, foi preciso san-<br />
gra-los; o que me causou a d<strong>em</strong>ora <strong>de</strong> três dia; ao que me sujeitei, por<br />
saber aí que Gomes Freire não podia sair <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro no dia que<br />
tinha me avisa<strong>do</strong>.<br />
Ocupei esse t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> andar pelo mato atiran<strong>do</strong> aos papagaios, e aos<br />
tucanos, <strong>de</strong> que se havia boa quantida<strong>de</strong>.<br />
Daqui a <strong>Paraty</strong> gastei <strong>do</strong>is dias; no primeiro fui ao sítio da Aparição,<br />
<strong>em</strong> que experimentei o mesmo frio que no reino; o segun<strong>do</strong> me levou<br />
toda a serra <strong>do</strong> <strong>Paraty</strong>, que na opinião comum, é a pior que se conhece.<br />
A estrada <strong>em</strong> partes é tão apertada, aberta <strong>em</strong> rochas, que era necessário<br />
levantar os pés até os por na garupa <strong>do</strong> cavalo; e n<strong>em</strong> com tu<strong>do</strong> isso es-<br />
capei <strong>de</strong> dar muitas boas topadas; tanto a pique, que oito dias me ficaram<br />
<strong>do</strong>en<strong>do</strong> as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> me endireitar; o chão estava calça<strong>do</strong> ou alastra<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> pedras soltas e <strong>de</strong>siguais, com muitos saltos e barrocas; e on<strong>de</strong> isto<br />
faltava era atoleiro gran<strong>de</strong> e cal<strong>de</strong>irões mais fun<strong>do</strong>s.<br />
Continuamente chove, e faz<strong>em</strong> <strong>em</strong> certo t<strong>em</strong>pos frios tão extraordinári-<br />
os, que t<strong>em</strong> já morto alguns passageiros; porque, como nela não é capaz<br />
<strong>de</strong> se andar na noite, aqueles a qu<strong>em</strong> o dia falta antes <strong>de</strong> a vencer, ficam<br />
expostos a estes perigos; pois não pod<strong>em</strong> reparar o frio com o fogo, por<br />
estar s<strong>em</strong>pre o mato, por molha<strong>do</strong>, incapaz disso.<br />
Além disso, t<strong>em</strong> duas passagens <strong>de</strong> rios bastantes más. Na vila me re-<br />
ceberam como se fora o próprio general; a passag<strong>em</strong> que nela se faz para<br />
257
258<br />
Minas, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cana, que ali se fabrica, que lhe<br />
dão alguma opulência.<br />
“... Começamos a subir a Serra <strong>do</strong> Mar, cuja altura atinge 2.500 pés.<br />
Tão escarpada ela se mostra, que o caminho, marca<strong>do</strong> por curtíssimos<br />
ziguezagues, parece encolher-se sobre si mesmo (...); a subida é lenta,<br />
pois é preciso franquear a passag<strong>em</strong> aos que <strong>de</strong>sc<strong>em</strong>, e os asnos, esfalfa-<br />
<strong>do</strong>s, a to<strong>do</strong> t<strong>em</strong>po se <strong>de</strong>têm.”<br />
Hercules Florence
Prospecto Arquitetônico<br />
Lucio Costa<br />
“Do ponto <strong>de</strong> vista da arquitetura civil, <strong>Paraty</strong> é mais um test<strong>em</strong>unho daque-<br />
la serena maturida<strong>de</strong> a que a colônia impedida <strong>de</strong> qualquer contato que<br />
não fosse com o mun<strong>do</strong> português se viu conduzida como criança asilada e<br />
da qual resultou esse mo<strong>do</strong> simples e peculiar <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> expressar-nos isto<br />
que, <strong>em</strong> termos arquitetônicos, se traduz no que se chama estilo, o nosso<br />
estilo: plantas regulares, alça<strong>do</strong>s simples, pequenos saguões, recortes <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira, treliças <strong>de</strong> resguar<strong>do</strong>, caixilharias envidraçadas, beirais corri<strong>do</strong>s.<br />
Tanto nas casas <strong>de</strong> feição mais severa e antiga, quanto naquelas con-<br />
cebidas ao gosto já liberto e acolhe<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Oitocentos, carac-<br />
teriza<strong>do</strong> pelo gracioso <strong>de</strong>senho das vidraças e pela serralheria rendada, o<br />
vocabulário é o corrente e a linguag<strong>em</strong> urbana se articula com naturali-<br />
da<strong>de</strong> à paisag<strong>em</strong>, contida entre o fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> montanha e o ritmo largo e<br />
alterna<strong>do</strong> da maré.<br />
Porque <strong>Paraty</strong> é a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> os caminhos <strong>do</strong> mar e os caminhos da<br />
terra se encontram, melhor, se entrosam. As águas não são barradas, mas<br />
avançam cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntro levadas pela Lua, e o reticula<strong>do</strong> <strong>de</strong> ruas baliza<strong>do</strong><br />
pelas igrejas - a matriz <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios e as capelas das<br />
Dores, Rosário e Santa Rita - converg<strong>em</strong> para o mar.<br />
Santa Rita <strong>de</strong> Cássia, num <strong>do</strong>s extr<strong>em</strong>os, é a mais valiosa, tanto pelo<br />
apuro da cantaria e <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, nas portas, e <strong>do</strong> ferro na sóbria<br />
elegância das sacadas <strong>do</strong> coro, quanto pela talha <strong>do</strong>s altares colaterais <strong>de</strong><br />
canto, com belas imagens <strong>de</strong> Nossa Senhora e enquanto, na forma u<strong>sua</strong>l, a<br />
capela mor. Disposição e tratamento que se repet<strong>em</strong> na mo<strong>de</strong>sta capela <strong>do</strong><br />
Rosário, localizada ao fun<strong>do</strong>, enquanto a das Dores, harmoniosa e branca,<br />
limita junto ao mar o outro extr<strong>em</strong>o da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> está a matriz inacaba-<br />
da la<strong>de</strong>an<strong>do</strong> a foz <strong>do</strong> Perequê-Assú, construção <strong>de</strong> vulto e vazia que, con-<br />
quanto não seja a primitiva, conserva algumas alfaias e imagens <strong>de</strong> valor.<br />
259
260
A Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>do</strong> Brasil<br />
Charles R. Boxer<br />
(...) Quan<strong>do</strong> as novas e ricas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> ouro finalmente insinuaram-<br />
se através das áreas colonizadas <strong>do</strong> Brasil litorâneo, entre 1695 e 1696,<br />
havia apenas <strong>do</strong>is caminhos praticáveis pelos quais os que <strong>de</strong>sejass<strong>em</strong> al-<br />
cançar as minas <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> Minas Gerais po<strong>de</strong>riam chegar até elas. O mais<br />
antigo era aquele pelo qual as ban<strong>de</strong>iras tinham viaja<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo até<br />
as ramificações superiores <strong>do</strong> rio Sõ Francisco, conheci<strong>do</strong> como <strong>Caminho</strong><br />
Geral <strong>do</strong> Sertão. Acompanhava o rio Paraíba, através da Serra da Manti-<br />
queira para a região norte <strong>do</strong> rio Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se bifurcava para o rio das<br />
Velhas e para o rio Doce. Dentro <strong>de</strong> poucos anos, no máximo até 1703,<br />
uma estrada <strong>de</strong> ligação para esse caminho tinha si<strong>do</strong> feita, vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pe-<br />
queno porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a alguns dias <strong>de</strong> navegação abaixo <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janei-<br />
ro. Essa estrada, o <strong>Caminho</strong> Velho, como <strong>de</strong>pressa foi chama<strong>do</strong>, para dis-<br />
tingui-la <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> Novo,mais direto, e aberto alguns anos <strong>de</strong>pois<br />
entrava para o interior por uma distância <strong>de</strong> cinco dias <strong>de</strong> marca numa<br />
região difícil, até reunir-se ao caminho inicial <strong>do</strong>s paulistas, <strong>em</strong> Pindamo-<br />
nhangaba. Daí por diante as duas estradas fundiam-se numa só, que o<br />
viajante levava cerca <strong>de</strong> vinte dias a percorrer para chegar aos primeiros<br />
campos auríferos, na região <strong>do</strong> rio das Mortes. Os paulistas, aliás, não<br />
costumavam viajar da aurora ao crepúsculo, mas só <strong>do</strong> alvorecer até o<br />
meio-dia, ou no máximo até duas ou três da tar<strong>de</strong>.O resto <strong>do</strong> dia era <strong>de</strong>-<br />
dica<strong>do</strong> à instalação <strong>do</strong> acampamento, à caça no mato e à pesca no rio, se<br />
houvesse algum por perto, a fim <strong>de</strong> arranjar carne ou peixe para a alimen-<br />
tação. Dessa maneira, levavam, habitualmente, um par <strong>de</strong> meses para<br />
viajar da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo até as minas <strong>de</strong> ouro, quan<strong>do</strong> os aventurei-<br />
ros, que faziam marchas forçadas pela estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, gastavam mais<br />
ou menos três ou quatro s<strong>em</strong>anas.(...)<br />
Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1697, mesmo os que tendiam a ouvir com ceti-<br />
cismo as notícias das primeiras <strong>de</strong>scobertas, tinham começa<strong>do</strong> a compre-<br />
en<strong>de</strong>r que havia, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, e numa escala s<strong>em</strong> precen<strong>de</strong>ntes, “gold in<br />
then thar hills”. Escreven<strong>do</strong> à Coroa, <strong>em</strong> junho daquele ano, Artur <strong>de</strong> Sá,<br />
governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> janeiro, comunicava que as minas <strong>de</strong> Caeté, apenas<br />
“ se dilatão <strong>de</strong> tal sorte pello pée <strong>de</strong> hua serra que faz enten<strong>de</strong>r aos miney-<br />
ros será o ouro naquella parte <strong>de</strong> muita durasão”. Novos e ricos pontos<br />
261
262<br />
> Debret – Carrega<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong> Café, 1826<br />
eram <strong>de</strong>scobertos quase to<strong>do</strong>s os dias <strong>em</strong> ampla área, on<strong>de</strong> cada rio, ria-<br />
cho ou regato parecia conter ouro. Era inevitável que os paulistas não<br />
pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> permanecer isentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios, na posse das jazidas, e um<br />
enxame <strong>de</strong> aventureiros e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os recantos da Colô-<br />
nia convergiu para a região, seguin<strong>do</strong> os caminhos que acima <strong>de</strong>screve-<br />
mos. “ Gente vaga e tumultuária, pella maior parte gente vil e pouco<br />
morigerada”, conforme o governa<strong>do</strong>r-geral, <strong>do</strong>m João <strong>de</strong> Lencastre, b<strong>em</strong><br />
pouco lisonjeiramente os <strong>de</strong>screvia na Bahia. Os conselheiros ultramarinos<br />
<strong>em</strong> Lisboa concordavam com essa opinião, chaman<strong>do</strong> a esses pioneiros<br />
“gente toda adventícia, tumultuária e mal estabelecida, e s<strong>em</strong> amor às<br />
terras <strong>em</strong> que não nasceram”.
Apêndice III<br />
IMPORTAÇÕES PORTUGUESAS DE OURO E DIAMANTES BRASILEIROS<br />
E DE MERCADORIAS INGLESAS (1711-50) <strong>em</strong> milhares <strong>de</strong> libras esterlinas<br />
PERÍODO<br />
QÜINQÜENAL<br />
OURO E DIAMANTES<br />
BRASILEIROS<br />
MERCADORIAS<br />
INGLESAS<br />
1711-1715 728,000 638<br />
1716-1720 315,168 695<br />
1721-1725 1,715,201 811<br />
1726-1730 693,465 914<br />
1731-1735 1,113,980 1,024<br />
1736-1740 1,311,175 1,164<br />
1741-1745 1,371,680 1,115<br />
1746-1750 ? 1,114<br />
Tabela extraída <strong>de</strong> Jorge Borges <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>, Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> história da in-<br />
dústria portuguesa no século XVIII (Lisboa, 1963), p.56, e nas fontes aí<br />
citadas. Devi<strong>do</strong> à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contraban<strong>do</strong> envolvi<strong>do</strong> nesse comércio,<br />
to<strong>do</strong>s esses cálculos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s estimativas, visto que difer-<br />
<strong>em</strong> uns <strong>do</strong>s outros, como se po<strong>de</strong> verificar ao comparar os que se encon-<br />
tram <strong>em</strong>: Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carnaxi<strong>de</strong>, O Brasil na administração pombalina<br />
(São Paulo, 1940), pp.241-52 (para o rendimento <strong>do</strong> “quinto”etc.); V.<br />
Magalhães Coutinho, “Lê Portugal, les flottes du sucre et les flottes <strong>de</strong> l’or<br />
(<strong>em</strong> Annales E.S.C., abr-jun 1950),pp. 184-7; C.R. Boxer, The gol<strong>de</strong>n age<br />
of Brazil 1695-1750 (Califórnia University Press, 1962) pp. 333-40; artigo<br />
<strong>de</strong> F. Mauro no Dizionário <strong>de</strong> história <strong>de</strong> Portugal, vol. I, pp.626-7 (1963).<br />
Os diamantes só foram oficialmente <strong>de</strong>scobertos <strong>em</strong> 1729, mas, s<strong>em</strong><br />
dúvida, alguns foram envia<strong>do</strong>s para Lisboa antes..<br />
C.R. Boxer<br />
O Império Colonial Português (1415-1825)<br />
[The Portuguese Colonial Empire (1415-1825)],<br />
Martins Fontes, São Paulo.<br />
263
264<br />
Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Methuen<br />
Roberto C. Simonsen<br />
Logo após a separação das Coroas espanhola e portuguesa, procurou<br />
esta última aproximar-se da Inglaterra e da Holanda, inimigos tradicionais<br />
<strong>do</strong> império espanhol.<br />
Com a Holanda, não foi possível aproximação estável, pelo conflito <strong>de</strong><br />
interesse, oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> apossamento pelos Batavos <strong>do</strong> Brasil holandês e <strong>de</strong><br />
colônias da África e Ásia.<br />
À Inglaterra, <strong>em</strong> sucessivos trata<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> 1642, 1654 e 1661, Portugal<br />
conce<strong>de</strong>u favores <strong>de</strong> navegação e comércio, permissão <strong>de</strong> se estabelecer-<br />
<strong>em</strong> os seus súditos até ao número <strong>de</strong> quatro famílias <strong>em</strong> cada um <strong>do</strong>s<br />
portos <strong>de</strong> Goa, Cochim, Diu, Bahia, Pernambuco e Rio <strong>de</strong> Janeiro, além<br />
<strong>do</strong> rico <strong>do</strong>te à infanta D. Catarina, no qual estavam compreendidas as<br />
cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Tanger e Bombaim.<br />
Na Inglaterra houve, no final <strong>do</strong> século XVII, uma efervescência <strong>de</strong><br />
<strong>em</strong>preendimentos comerciais e um gran<strong>de</strong> esforço por parte <strong>do</strong>s nego-<br />
ciantes para o estabelecimento <strong>de</strong> linhas internacionais <strong>de</strong> comércio. Foi<br />
a época <strong>do</strong>s negociantes aventureiros e das primeiras gran<strong>de</strong>s companh-<br />
ias fundadas para o intercâmbio com o exterior.<br />
As manufaturas inglesas que então se <strong>de</strong>senvolviam, estimuladas por uma<br />
política altamente protecionista, começaram a sofrer a concorrência <strong>do</strong>s panos<br />
orientais, trazi<strong>do</strong>s pelas frotas inglesas das companhias <strong>de</strong> comércio.<br />
Manifestou-se, <strong>de</strong>ntro da própria Inglaterra, um conflito <strong>de</strong> interesses<br />
entre os fabricantes e aquelas <strong>em</strong>presas. Foi quan<strong>do</strong> a Grã Bretanha pen-<br />
sou <strong>em</strong> conquistar um novo merca<strong>do</strong> para <strong>sua</strong>s manufaturas <strong>de</strong> lãs, <strong>de</strong>n-<br />
tro <strong>do</strong> império português, que resolvesse a <strong>sua</strong> crise e alargasse as possi-<br />
bilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s fabricações.<br />
Methuen, <strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r inglês <strong>em</strong> Portugal, conseguiu após laboriosís-<br />
simas negociações, que se concluísse, <strong>em</strong> 1703, o célebre trata<strong>do</strong> que ia<br />
ligar <strong>de</strong>finitivamente a orientação política econômica portuguesa às dire-<br />
trizes da política comercial inglesa.<br />
Aparent<strong>em</strong>ente simples, esse trata<strong>do</strong>, que t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> tão amplamente<br />
discuti<strong>do</strong>, teria, no momento, um significa<strong>do</strong> especial. De fato, as três<br />
cláusulas que,à primeira vista, nada <strong>de</strong> anormal pod<strong>em</strong> indicar para a<br />
mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje ou para os cultores da chamada escola liberal <strong>do</strong>
século XIX, continham, no entanto, dispositivos que envolviam os próp-<br />
rios fundamentos da economia lusitana.<br />
Pela primeira, Portugal permitia a entrada <strong>de</strong> panos e outras manu-<br />
faturas <strong>de</strong> lã inglesas, cuja importação proibira <strong>em</strong> leis <strong>de</strong> 1681 e 1690,<br />
fosse qual fosse a procedência; pela cláusula segunda, os vinhos portu-<br />
gueses teriam na Inglaterra um tratamento preferencial sobre os vinhos<br />
franceses, <strong>em</strong> relação aos quais gozavam <strong>de</strong> um abatimento <strong>de</strong> 1/3 nos<br />
direitos, fican<strong>do</strong> Portugal habilita<strong>do</strong> a <strong>de</strong>nunciar o trata<strong>do</strong>, caso cessasse<br />
esse tratamento preferencial. A cláusula terceira, meramente protocolar,<br />
marcava <strong>do</strong>si meses <strong>de</strong> prazo para a ratificação <strong>do</strong> convênio.<br />
Um <strong>do</strong>s argumentos <strong>do</strong> negocia<strong>do</strong>r britânico se baseava nas indicações<br />
naturais <strong>do</strong> clima e <strong>do</strong> meio inglês para a indústria fabril e as condições<br />
favoráveis <strong>do</strong> ambiente lusitano, on<strong>de</strong> o clima não se mostrava tão ad-<br />
verso aos trabalhos <strong>de</strong> campo, para a cultura vinícola.<br />
É preciso assinalar, para a perfeita compreensão <strong>de</strong>sse trata<strong>do</strong>, que as<br />
manufaturas <strong>de</strong> pano <strong>de</strong> lã, constituíam, na época, quase que a totali-<br />
da<strong>de</strong> <strong>do</strong>s produtos industriais <strong>de</strong> exportação. Consentin<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu<br />
território, a concorrência <strong>do</strong>s panos ingleses, matou Portugal o seu parque<br />
industrial e se tornou <strong>de</strong>finitivamente uma nação agrícola, baseada na<br />
produção vinícola.<br />
Ora, o ouro <strong>do</strong> Brasil não ficaria <strong>em</strong> Portugal <strong>em</strong> pagamento <strong>de</strong> seus<br />
vinhos, n<strong>em</strong> nas reservas <strong>do</strong> erário real que, s<strong>em</strong> sal<strong>do</strong>s efetivos, não po-<br />
<strong>de</strong>ria retê-lo;atravessava o país <strong>em</strong> d<strong>em</strong>anda da Inglaterra, <strong>em</strong> pagamen-<br />
to da balança <strong>de</strong> comércio, inteiramente favorável a esta nação. Estimu-<br />
lan<strong>do</strong> o trabalho inglês, r<strong>em</strong>uneran<strong>do</strong> melhor as <strong>sua</strong>s merca<strong>do</strong>rias,<br />
concorreu para o progresso efetivo daquele povo, muito mais <strong>do</strong> que<br />
para o enriquecimento <strong>de</strong> Portugal.<br />
Nesta última nação, criou-se para várias classes um padrão <strong>de</strong> vida artifi-<br />
cial, acima <strong>do</strong> que o trabalho da terra e seus rendimentos po<strong>de</strong>riam permitir.<br />
O ouro <strong>do</strong> Brasil, estimulan<strong>do</strong> os preços <strong>em</strong> geral, conferiu novos ele-<br />
mentos à expansão britânica que a mais <strong>de</strong> meio século se preparava para<br />
a conquista <strong>de</strong> colônias e <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s.<br />
A elevação <strong>de</strong> preços internos, que provocou naquela ilha, fortaleceu o<br />
sist<strong>em</strong>a monetário inglês, permitiu o acúmulo <strong>de</strong> capitais internos e o en-<br />
riquecimento <strong>de</strong> muitos arrendatários <strong>de</strong> terras, que pu<strong>de</strong>ram, assim, se tor-<br />
nar proprietários, com funda repercussão na própria formação social inglesa.<br />
265
266<br />
A extensão <strong>do</strong>s pastos para carneiros a que obrigava a manufatura <strong>de</strong> lã,<br />
exerceu também <strong>de</strong>cisiva influência no aumento das populações urba-<br />
nas, e na conseqüente melhoria das condições políticas e sociais <strong>do</strong>s<br />
súditos britânicos.<br />
A Inglaterra já havia da<strong>do</strong> preferência ao ouro para base <strong>de</strong> seu sist<strong>em</strong>a<br />
monetário. Portugal lhe outorgara ainda condições preferenciais para o seu<br />
comércio as quais, somadas à superiorida<strong>de</strong> <strong>do</strong> aparelhamento técnico in-<br />
glês, facilitaram a conquista <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s portugueses pelas manufaturas<br />
daquele país, num momento <strong>em</strong> que surgiam das minas <strong>do</strong> Brasil gran<strong>de</strong>s<br />
signos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aquisitivo. De fato, o ouro <strong>do</strong> Brasil era, então, a maior<br />
massa aurífera que aparecera <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos mo<strong>de</strong>rnos.<br />
Lucrou, assim, a Inglaterra b<strong>em</strong> mais <strong>do</strong> que Portugal com as <strong>de</strong>sco-<br />
bertas <strong>do</strong>s ban<strong>de</strong>irantes paulistas.<br />
Por um <strong>de</strong>sses para<strong>do</strong>xos, <strong>de</strong> que a história é tão rica, os escravos af-<br />
ricanos que o ouro <strong>do</strong>s minera<strong>do</strong>res brasileiros introduziu para labutar<br />
nos sertões brasileiros, trabalharam po<strong>de</strong>rosamente para o aperfeiçoa-<br />
mento das condições sociais e políticas <strong>do</strong> povo daquela gran<strong>de</strong> nação,<br />
melhoran<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ravelmente as condições <strong>do</strong> trabalho agrícola nas Il-<br />
has Britânicas.<br />
Sob um ponto <strong>de</strong> vista internacional, é <strong>de</strong> registrar a opinião <strong>de</strong> Som-<br />
bart, que atribui ao aparecimento <strong>do</strong> ouro brasileiro uma nova etapa no<br />
perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> capitalismo. Acrescenta este autor:<br />
“S<strong>em</strong> a <strong>de</strong>scoberta (aci<strong>de</strong>ntal!) das jazidas <strong>de</strong> metais preciosos sobre as<br />
alturas das Cordilheiras e nos vales <strong>do</strong> Brasil, não teríamos o hom<strong>em</strong><br />
econômico mo<strong>de</strong>rno”.<br />
Para o Brasil, esse ouro teve resulta<strong>do</strong>s b<strong>em</strong> diversos: se não ficou incor-<br />
pora<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>em</strong>preendimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s resulta<strong>do</strong>s para o futuro, incen-<br />
tivou, no entanto, uma vultuosa imigração para o Centro-sul <strong>do</strong> país, que<br />
ocupou, <strong>de</strong>finitivamente, nossos sertões; permitiu a construção <strong>de</strong> nossas<br />
primeiras cida<strong>de</strong>s no interior, criou um gran<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> e tropas,<br />
estimulan<strong>do</strong> os Paulistas à ocupação e conquista <strong>de</strong>finitiva das regiões <strong>do</strong><br />
Sul; tornou o rio <strong>de</strong> Janeiro a capital brasileira e aí criou fortes el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong><br />
progresso; permitiu, finalmente, a concentração e a formação <strong>de</strong> capitais<br />
<strong>em</strong> escravos e tropas, que mais tar<strong>de</strong> facilitariam a implantação da lavoura<br />
<strong>de</strong> café no Vale <strong>do</strong> Paraíba e nas regiões fluminenses.<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> todas as ilusões criadas pelo ouro, o balanço geral <strong>do</strong> ciclo<br />
<strong>de</strong> mineração brasileira <strong>de</strong>ixou sal<strong>do</strong>s reais <strong>em</strong> proveito <strong>de</strong> nossa terra.
Indica<strong>do</strong>res Da Paisag<strong>em</strong><br />
1. Pau brasil<br />
Certa vez recorda o viajante francês Jean <strong>de</strong> Lery, um velho Tupinambá me<br />
perguntou: “Por que vocês, mairs (franceses) e uced (portugueses), vêm <strong>de</strong><br />
tão longe para buscar lenha? Por acaso não exist<strong>em</strong> árvores na <strong>sua</strong> terra?<br />
Respondi que sim, que tínhamos muitas, mas não daquela qualida<strong>de</strong>, e<br />
que não as queimávamos, como ele supunha, mas <strong>de</strong>las extraíamos tinta<br />
para tingir.<br />
Ë precisam <strong>de</strong> tanta tinta assim?, retrucou o velho Tupinambá.<br />
“Sim, respondi, “pois no nosso país exist<strong>em</strong> negociantes que possu<strong>em</strong><br />
mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras merca<strong>do</strong>rias <strong>do</strong> que se possa<br />
imaginar, e um só <strong>de</strong>les compra to<strong>do</strong> o pau-brasil que possamos carregar”.<br />
“Ah!”, tornou a retrucar o selvag<strong>em</strong>. “Você me conta maravilhas. Mas<br />
me diga: esse hom<strong>em</strong> tão rico <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> você me fala, não morre?”<br />
“Sim”, disse eu, ”morre como os outros”.<br />
Aqueles selvagens são gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>bate<strong>do</strong>res e gostam <strong>de</strong> ir ao fim <strong>de</strong><br />
qualquer assunto. Por isso, o velho indígena me inquiriu outra vez: “E<br />
quan<strong>do</strong> morr<strong>em</strong> os ricos, para qu<strong>em</strong> fica o que <strong>de</strong>ixam?”<br />
“Para seus filhos, se os têm”, respondi. “Na falta <strong>de</strong>stes, para os irmãos<br />
e parentes mais próximos”.<br />
“B<strong>em</strong> vejo agora que vocês, mairs, são mesmo uns gran<strong>de</strong>s tolos. So-<br />
fr<strong>em</strong> tanto para cruzar o mar, suportan<strong>do</strong> todas as privações e incômo<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>s quais s<strong>em</strong>pre falam quan<strong>do</strong> aqui chegam, e trabalham <strong>de</strong>ssa maneira<br />
apenas para amontoar riquezas para seus filhos ou para aqueles que vão<br />
uce<strong>de</strong>-los? A terra que os alimenta não será por acaso suficiente para ali-<br />
mentar a eles? Nós também t<strong>em</strong>os filhos que amamos. Mas estamos certos<br />
<strong>de</strong> que, <strong>de</strong>pois da nossa morte, a terra que nos nutriu nutrirá também a<br />
eles. Por isso, <strong>de</strong>scansamos s<strong>em</strong> maiores preocupações”.<br />
(Diálogo <strong>do</strong> pastor calvinista Léry e o velho Tupinambá, trava<strong>do</strong> entre março <strong>de</strong> 1557 e<br />
janeiro <strong>de</strong> 1558.)<br />
O diálogo acima ocorreu na Mata Atlântica, <strong>em</strong> algum lugar <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Rio <strong>de</strong> Janeiro, e é repleto <strong>de</strong> conotações alegóricas.<br />
267
268<br />
Muitas interpretações foram extraídas <strong>de</strong>sse diálogo ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />
De acor<strong>do</strong> com diversos autores, entretanto, este diálogo <strong>em</strong> particular<br />
(ou pelo menos o livro <strong>de</strong> Jean <strong>de</strong> Léry “ Viag<strong>em</strong> à Terra <strong>do</strong> Brasil” , pu-<br />
blica<strong>do</strong> <strong>em</strong> La Rochelle, <strong>em</strong> 1578, no qual o próprio autor é um <strong>do</strong>s<br />
personagens), inspirou o filósofo Michel Montaigne a escrever, por volta<br />
<strong>de</strong> 1580, o seu ensaio antológico “Sobre canibais”. Além <strong>de</strong> transformar<br />
”os índios brasileiros <strong>em</strong> agentes revoucionários”(Mello Franco), este tex-<br />
to teria si<strong>do</strong> a inspiração para Jean- Jacques Rousseau escrever “Consi<strong>de</strong>-<br />
rações sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>”, que foi a base da tese <strong>do</strong> Bom Selvag<strong>em</strong>.<br />
Como pod<strong>em</strong>os esquecer que as idéias Montaigne e Rousseau (assim<br />
como Locke, Montesquieu, Rousard e outros que <strong>de</strong>clararam ser leitores<br />
<strong>de</strong> Léry) se tornaram inspira<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> moto “ liberda<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong> e fra-<br />
ternida<strong>de</strong>” que a Revolução Francesa impetuosamente <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u e que<br />
causou um intenso <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue.<br />
2. Parque Nacional da Serra da Bocaina - PNSB<br />
Eduar<strong>do</strong> Bueno<br />
in Pau Brasil<br />
No Parque Nacional da Serra da Bocaina - PNSB <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, fica a única porção<br />
da unida<strong>de</strong> que inclui uma área marinha e 3 praias – Figueira, Caxadaço e <strong>do</strong><br />
Meio, sen<strong>do</strong> que a praia <strong>do</strong> Caxadaço e da Figueira encontram-se <strong>em</strong> ótimo<br />
esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, apesar <strong>de</strong> intensa visitação pública.<br />
A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> ainda está<br />
relativamente b<strong>em</strong> conservada graças à alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s encostas<br />
e conseqüente dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao seu interior na maior parte <strong>do</strong><br />
seu território.<br />
As constantes incursões <strong>de</strong> <strong>sua</strong> equipe <strong>de</strong> fiscalização que v<strong>em</strong> impe-<br />
din<strong>do</strong> a abertura <strong>de</strong> novas estradas <strong>em</strong> áreas próximas aos seus limites.<br />
Apesar da existência <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> famílias viven<strong>do</strong> no seu inte-<br />
rior, <strong>sua</strong> ocupação é bastante esparsa e rarefeita.<br />
Graças à gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> altitudinal, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a profundida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> 12 metros nas águas da Trinda<strong>de</strong>, até 1780 m no pico da Macela, ao<br />
relevo escarpa<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s montanhas e à cobertura pela floresta ombrófi-<br />
la <strong>de</strong>nsa que pre<strong>do</strong>mina <strong>em</strong> seu território, a diversida<strong>de</strong> biológica <strong>do</strong>
PNSB <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> é muito alta, e a ocupação humana, mínima. A área con-<br />
si<strong>de</strong>rada como a mais rica <strong>em</strong> biodiversida<strong>de</strong> <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o parque é justa-<br />
mente a região costeira da divisa entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro, junto a Trinda<strong>de</strong> e à APA <strong>de</strong> Cairuçu.<br />
O território <strong>do</strong> Parque compreen<strong>de</strong> varia<strong>do</strong>s ecossist<strong>em</strong>as, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ilha<br />
da Trinda<strong>de</strong>, costões rochosos, praias e ambientes marinhos, até os cam-<br />
pos <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> Planalto da Bocaina.<br />
Cerca <strong>de</strong> 85% <strong>de</strong> <strong>sua</strong> área é recoberta por Floresta Ombrófila Densa,<br />
constituída principalmente por formações secundárias, com maior con-<br />
centração no município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />
A Floresta Ombrófila Densa Submontana fica entre 50 e 700 m <strong>de</strong> al-<br />
titu<strong>de</strong>, e ocupa cerca <strong>de</strong> 26 % <strong>do</strong> parque. Nas mais altas encostas e es-<br />
carpas da serra voltadas para o mar, encontram-se as formações mais<br />
exuberantes da Mata Atlântica, com árvores que alcançam <strong>de</strong> 24 a 28 m<br />
<strong>de</strong> altura, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> – se o jequitibá, o cedro e a massaranduba.<br />
Já no alto <strong>do</strong>s planaltos e da serra, na faixa <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 600 e 1.500<br />
m, concentra-se boa parte das florestas primárias, com pre<strong>do</strong>mínio da<br />
Floresta Ombrófila Densa Montana, que ocupa cerca <strong>de</strong> 54% da área<br />
total <strong>do</strong> PNSB. Neste ambiente foi <strong>de</strong>scrita recent<strong>em</strong>ente uma nova espé-<br />
cie <strong>de</strong> bromélia, a Fernseea bocainensis, consi<strong>de</strong>rada como endêmica <strong>do</strong><br />
altiplano da Bocaina.<br />
FAUNA<br />
Foram listadas no PNSB 40 espécies <strong>de</strong> mamíferos terrestres e 294 <strong>de</strong> aves,<br />
com 10 espécies <strong>de</strong> mamíferos e 12 <strong>de</strong> aves ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />
Cinco espécies <strong>de</strong> mamíferos são endêmicas da Mata Atlântica: ouri-<br />
ço-cacheiro (Sphiggurus villosus), sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita),<br />
bugio (Alouatta fusca), macaco-prego (Cebus apella nigritus) e mono-car-<br />
voeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Américas.<br />
As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a con-<br />
centração da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, com <strong>de</strong>staque<br />
para os felinos como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a onça-parda<br />
(Puma concolor) e outros mais raros, como o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno (Le-<br />
opardus tigrinus) e a onça-pintada (Panthera onça), cuja ocorrência é<br />
confirmada por mora<strong>do</strong>res locais. São raros os registros <strong>de</strong> anta (Tapirus<br />
terrestris) , o maior mamífero brasileiro.<br />
269
270<br />
AVIFAUNA<br />
Das espécies <strong>de</strong> aves, 44% são apontadas como espécies endêmicas <strong>do</strong><br />
Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar entre outras o macuco (Tinamus<br />
solitarius), a jacutinga (Pipile jacutinga) e a sabiá cica (Triclaria malachita-<br />
cea) como raras e ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />
No trecho da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, entre as cotas 650 e 1.000 m, a<br />
aplicação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Avaliação Ecológica Rápida permitiu registrar<br />
112 espécies <strong>de</strong> aves, sen<strong>do</strong> 53 <strong>de</strong>las (47,3%) endêmicas <strong>do</strong> Domínio<br />
Atlântico e pelo manos uma ameaçada <strong>de</strong> extinção: o sabiá-cica (Triclaria<br />
malachitacea).<br />
3. Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>de</strong> Cairuçu<br />
A Zona <strong>de</strong> Preservação da Vida Silvestre (ZPVS) da APA <strong>de</strong> Cairuçu, que faz<br />
parte da proposta <strong>de</strong> zona tampão <strong>de</strong>ste sítio, correspon<strong>de</strong> aos maciços<br />
florestais contínuos localiza<strong>do</strong>s nas <strong>sua</strong>s maiores altitu<strong>de</strong>s, como na região<br />
<strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçu e nas adjacências <strong>do</strong> Parque Nacional. Esta zona prote-<br />
ge as escarpas mais acentuadas, os topos <strong>de</strong> morro e as nascentes <strong>do</strong>s<br />
cursos d’água que abastec<strong>em</strong> as comunida<strong>de</strong>s que viv<strong>em</strong> no interior da<br />
APA, b<strong>em</strong> como to<strong>do</strong>s os seus manguezais, que são muito importantes<br />
para a reprodução <strong>do</strong>s organismos marinhos.<br />
Todas as ilhas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> faz<strong>em</strong> parte da Zona <strong>de</strong> Preservação da Vida<br />
Silvestre (ZPVS) da APA <strong>de</strong> Cairuçu<br />
4. Reserva Ecológica da Juatinga<br />
A Reserva Ecológica da Juatinga está sobreposta à APA <strong>de</strong> Cairuçu na<br />
totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu território, e conta com legislação b<strong>em</strong> mais restritiva,<br />
sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rada unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> uso indireto, ao contrário<br />
da primeira.<br />
Sua área correspon<strong>de</strong> à região <strong>do</strong> maciço <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçu, que<br />
<strong>do</strong>mina a paisag<strong>em</strong> da porção mais meridional da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>,<br />
ten<strong>do</strong> como marco notável a Ponta da Juatinga, promontório rochoso<br />
que marca a entrada <strong>de</strong>sta baía.<br />
Um <strong>do</strong>s aspectos mais importantes <strong>de</strong>sta Reserva é a existência das<br />
comunida<strong>de</strong>s tradicionais caiçaras mais isoladas da região, pois o acesso<br />
à reserva sé é possível por meio <strong>de</strong> trilhas ou <strong>de</strong> barco. Seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida
ainda está bastante liga<strong>do</strong> às ativida<strong>de</strong>s tradicionais da cultura caiçara,<br />
como a pesca, a agricultura <strong>de</strong> subsistência e a utilização <strong>de</strong> tecnologias<br />
patrimoniais no seu cotidiano.<br />
O melhor indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação da APA <strong>de</strong> Cairuçu,<br />
que inclui a Reserva Ecológica da Juatinga, é a porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> áreas<br />
mapeadas pelo Plano <strong>de</strong> Gestão Ambiental cobertas pela Mata Atlânti-<br />
ca, que ocupa 80% <strong>de</strong> <strong>sua</strong> área total <strong>de</strong> 33 mil hectares, com apenas 1%<br />
<strong>de</strong> área resi<strong>de</strong>ncial.<br />
Outro da<strong>do</strong> que atesta a riqueza <strong>de</strong> <strong>sua</strong> biodiversida<strong>de</strong> é o registro <strong>de</strong><br />
1328 espécies vegetais, pertencentes a quatro gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> plan-<br />
tas: as algas (117), as Briófitas (musgos, com 124 espécies), as Pteridófitas<br />
(samambaias, com 115) e as Angiospermas , com 972 espécies.<br />
Quanto às espécies <strong>de</strong> animais, foram registradas 389 espécies <strong>de</strong><br />
aves, 74 <strong>de</strong> mamíferos terrestres e 61 <strong>de</strong> répteis e anfíbios. Das espécies<br />
<strong>de</strong> animais encontradas, 104 são endêmicas da Mata Atlântica e 16 ame-<br />
açadas <strong>de</strong> extinção.<br />
Comparan<strong>do</strong>-se com os números totais para a mata atlântica segun<strong>do</strong><br />
Mittermeier et all, 1999, foram encontradas na APA <strong>do</strong> Cairuçu 28% <strong>do</strong><br />
total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> mamíferos, 63 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong><br />
> DJOB – Peixe seco na<br />
praia <strong>do</strong> Sono<br />
271
272<br />
aves, 13 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> répteis e 14 % <strong>do</strong> número<br />
total <strong>de</strong> anfíbios. De um total <strong>de</strong> 546 espécies endêmicas da mata atlân-<br />
tica foram encontradas 104 durante os trabalhos <strong>de</strong> campo (19%).<br />
Em termos <strong>de</strong> ictiofauna, foram registradas 134 espécies, pertencen-<br />
tes a 59 famílias <strong>de</strong> peixes marinhos na região da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>. Já<br />
a região <strong>do</strong> Saco <strong>de</strong> Mamanguá é constituída, no mínimo, por 100 espé-<br />
cies <strong>de</strong> peixes (41 famílias), sen<strong>do</strong> 38 permanentes, 21 espécies sazonais<br />
e 41 espécies ocasionais.<br />
5. APA da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />
OCORRÊNCIA DE MAMÍFEROS MARINHOS<br />
Breve histórico<br />
Informes sobre a ocorrência <strong>de</strong> mamíferos marinhos na região da Baía da<br />
Ilha Gran<strong>de</strong> e águas <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> datam <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial. A<br />
abundância <strong>de</strong> baleias nas águas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> teve o seu primeiro relato no<br />
Diário <strong>de</strong> Jornada da viag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro à Santos, <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Assumar, <strong>em</strong> 1717.<br />
“...pelas duas horas da manhã nos <strong>em</strong>barcamos e navegamos<br />
athé o meio dia por entre muitas ilhas , e a terra firme....por<strong>em</strong><br />
com muito mais susto neste dia (30 <strong>de</strong> julho) pela muita quanti-<br />
da<strong>de</strong> <strong>de</strong> Baleas, que encontramos <strong>em</strong> hua Bahia (baía) que<br />
fazião duas ilhas, sen<strong>do</strong> a Mayor gritaria <strong>do</strong>s Pilotos, e r<strong>em</strong>a-<br />
<strong>do</strong>res com o Me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que <strong>em</strong>constan<strong>do</strong> se alguma Canoa, a<br />
virasse como algumas vezes t<strong>em</strong> sucedi<strong>do</strong>, Sahimos com bom<br />
sucesso da Bahia (baía) e fomos jantar a villa <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> (...)<br />
Neste relato, nota-se o gran<strong>de</strong> t<strong>em</strong>or que os navegantes da época tinham <strong>em</strong><br />
colidir ou mesmo <strong>em</strong> ser<strong>em</strong> afunda<strong>do</strong>s pela constante presença <strong>de</strong> baleias na<br />
região. Este risco <strong>de</strong> colisão ainda era maior na medida <strong>em</strong> que as <strong>em</strong>barca-<br />
ções da época, movidas a r<strong>em</strong>o ou vela, não produziam ruí<strong>do</strong>s.<br />
A CAÇA E AS ARMAÇÕES<br />
A expansão da caça a baleia e a instalação <strong>de</strong> importantes armações (fá-<br />
brica <strong>de</strong> processamento da baleia ) no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro foram<br />
<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>sua</strong> importância como ativida<strong>de</strong> econômica. O óleo extraí-<br />
<strong>do</strong> da gordura <strong>de</strong>ste animal era utiliza<strong>do</strong> na iluminação das cida<strong>de</strong>s, na
produção <strong>de</strong> uma argamassa utilizada na construção civil e <strong>sua</strong>s barbata-<br />
nas serviam para a fabricação <strong>de</strong> chicotes, escovas, guarda-chuvas e ou-<br />
tros utensílios. De acor<strong>do</strong> com Hetzel e Lodi (1996 a), muitas casas e pré-<br />
dios das cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>Paraty</strong> foram construí<strong>do</strong>s com óleo<br />
das baleias arpoadas <strong>em</strong> nosso litoral, e ambas as cida<strong>de</strong>s foram ilumina-<br />
das por esse óleo.<br />
Com a diminuição <strong>de</strong> baleias a níveis que não mais sustentavam a dis-<br />
pendiosa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caça e beneficiamento, e com a assinatura <strong>do</strong>s tra-<br />
ta<strong>do</strong>s internacionais proibin<strong>do</strong> essa ativida<strong>de</strong>, as baleias finalmente tive-<br />
ram um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trégua. No Brasil, somente <strong>em</strong> 1987 é que os cetáceos<br />
foram legalmente protegi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> qualquer forma <strong>de</strong> molestamento inten-<br />
cional, através da Lei Fe<strong>de</strong>ral n° 7.643, <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1987, e da Porta-<br />
ria n°2.306 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1990, <strong>do</strong> Ibama.<br />
SITUAÇÃO ATUAL<br />
Em 1990, é inicia<strong>do</strong> o “Projeto Golfinhos” sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Bia Het-<br />
zel e Liliane Lodi. Entre 1990 e 1994, foram realiza<strong>do</strong>s levantamentos <strong>de</strong><br />
campo na Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> foram registra<strong>do</strong>s a ocorrência <strong>de</strong> 13<br />
espécies <strong>de</strong> cetáceos no local, o que <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as autoras, faz da re-<br />
gião o local <strong>de</strong> maior diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cetáceos no Brasil.<br />
Cinco espécies <strong>de</strong> baleias ocorr<strong>em</strong> na Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>: a baleia-<strong>de</strong>-bry-<br />
<strong>de</strong> (Balaenoptera e<strong>de</strong>ni), a baleia-franca-<strong>do</strong>-sul (Eubalaena australis), a baleia-<br />
minke (B.acutorostrata), a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) e a Orca<br />
(Orcinus orca). Dentre estas, a jubarte e a franca-<strong>do</strong>-sul constam da Lista Ofi-<br />
cial <strong>de</strong> Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas <strong>de</strong> Extinção, enquanto as ou-<br />
tras aparec<strong>em</strong> como “insuficient<strong>em</strong>ente conhecidas”. Já na região <strong>de</strong> mar<br />
aberto, entre a Ponta da Juatinga e da Trinda<strong>de</strong> foram avistadas por pesca<strong>do</strong>-<br />
res baleias da espécie Cachalote (Physeter macrocephalus).<br />
Entre abril <strong>de</strong> 1997 e janeiro <strong>de</strong> 1998, foram realiza<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sobre<br />
grupos <strong>de</strong> Boto-cinza (Sotalia fluviatilis) que freqüent<strong>em</strong>ente são avista<strong>do</strong>s<br />
na Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Constatou-se que estes grupos são os mais numerosos<br />
já registra<strong>do</strong>s na literatura, forman<strong>do</strong> grupos <strong>de</strong> até 450 indivíduos (Hetzel<br />
e Lodi, 1998).<br />
273
274<br />
Festas Religiosas<br />
Festas <strong>de</strong> Santa Rita<br />
Nesta festa, que aqui acontece <strong>em</strong> julho para não coincidir com as festas<br />
<strong>do</strong> Divino, reza-se tão somente ladainhas e missa solene no dia festivo,<br />
além <strong>de</strong> procissão e leilão <strong>de</strong> prendas. Cabe aqui l<strong>em</strong>brar o costume <strong>de</strong><br />
distribuir pão bento no dia <strong>de</strong> Santo Antonio e no dia <strong>de</strong> São Roque cor-<br />
tava-se uma fita estreita no tamanho da imag<strong>em</strong> pequena <strong>de</strong>ste orago.<br />
Esta fita era atada no pescoço das pessoas para protegê-las da raiva, mui-<br />
to comum no mês <strong>de</strong> agosto.<br />
Festa <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios<br />
Apesar <strong>de</strong> ser a festa da padroeira da cida<strong>de</strong>, não difere <strong>em</strong> muito da<br />
festa <strong>de</strong> Santa Rita. Missas e ladainhas celebram-se durante a novena.<br />
Nesta festa, porém há duas procissões: uma no dia 07 (sete) <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro<br />
<strong>em</strong> que a imag<strong>em</strong> da Virg<strong>em</strong> sai da igreja <strong>de</strong> Santa Rita para a Matriz e a<br />
outra no dia da Festa (8/9), que percorre o itinerário habitual. Leilões e<br />
queima <strong>de</strong> fogos <strong>de</strong> artifício encerram os festejos. Exib<strong>em</strong>-se nela as mais<br />
ricas alfaias, a prataria <strong>de</strong> rico lavor e beleza e a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sfila coberta<br />
<strong>de</strong> brincos <strong>de</strong> ouro e pedras preciosas, correntes e rosários <strong>de</strong> ouro e res-<br />
plan<strong>de</strong>cente. É, portanto, a mais rica das procissões.<br />
Festa <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário e São Benedito<br />
Esta festa se realizava nos dias 26 e 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro para aproveitar a<br />
presença <strong>do</strong>s ricos fazen<strong>de</strong>iros e seus escravos na cida<strong>de</strong> por ocasião <strong>do</strong><br />
natal. Recent<strong>em</strong>ente foi transferida para o terceiro <strong>do</strong>mingo <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>-<br />
bro. Dela po<strong>de</strong> se dizer que é a festa <strong>do</strong> Divino <strong>do</strong>s pretos. Durante a no-<br />
vena há a procissão <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras para a igreja <strong>do</strong> Rosário, rezas <strong>de</strong> ladai-<br />
nhas e missas. As ban<strong>de</strong>iras são brancas e t<strong>em</strong> no centro a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Rei<br />
e Rainha negros. O rei e a rainha são coroa<strong>do</strong>s durante a missa cantada e<br />
<strong>de</strong>pois assist<strong>em</strong> as danças populares: Chiba, jongo e ciranda, da qual par-<br />
ticipa o povo. Era pobre a irmanda<strong>de</strong>, se b<strong>em</strong> que as imagens <strong>de</strong> seus ti-<br />
tulares exib<strong>em</strong> nas procissões ricas coroas <strong>em</strong> ouro, resplen<strong>do</strong>res <strong>de</strong> prata,
osários <strong>em</strong> ouro e ametistas, vistosos brincos com pedras preciosas e vá-<br />
rias correntes <strong>de</strong> ouro.<br />
A Folia <strong>de</strong> Reis<br />
Assim como nas festas juninas, o ciclo natalino se caracteriza com festejos<br />
populares. Eram comuns, hoje são poucas, as folias <strong>de</strong> reis, que percorr<strong>em</strong> as<br />
casas na cida<strong>de</strong> e nas roças, visitan<strong>do</strong> os presépios ou simplesmente anun-<br />
cian<strong>do</strong> o natal. Iniciam <strong>sua</strong>s andanças no dia oito (oito) <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro e a en-<br />
cerram dia 20 <strong>de</strong> janeiro. De igual número <strong>de</strong> participantes que a folia <strong>do</strong> Di-<br />
vino, <strong>de</strong>la se diferenciava por somente se apresentar a noite. Muitas vezes as<br />
visitas são propositalmente combinadas outras vezes surg<strong>em</strong> s<strong>em</strong> avisar. Mas,<br />
<strong>em</strong> qualquer um <strong>do</strong>s casos, a moradia tinha que estar com portas e janelas<br />
fechadas e com as luzes apagadas. Em frente à porta iniciavam <strong>sua</strong>s cantorias<br />
dizen<strong>do</strong> qu<strong>em</strong> eram e pedin<strong>do</strong> que se lhes abrisse a casa. Depois <strong>do</strong>s rituais,<br />
aberta a porta, iniciava a cantoria. Nela, <strong>em</strong> versos cantavam o nascimento <strong>do</strong><br />
Menino Jesus ou versejavam sobre as figuras que compunham o cenário da<br />
noite <strong>de</strong> natal. Encerra<strong>do</strong>s os cantos eram servi<strong>do</strong>s aos presentes <strong>do</strong>ces e be-<br />
bidas típicas daquela ocasião: rabanadas, bolos, frutas, goiabada e vinho. Não<br />
sen<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>s, recebiam eles somente algum presente ou dinheiro para<br />
que comprass<strong>em</strong> o que comer e beber.<br />
> PDT – Procissão <strong>do</strong><br />
Fogaréu na Igreja <strong>de</strong><br />
N. S. das Dores<br />
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Festas Juninas<br />
Estas festas, <strong>de</strong>dicadas a Santo Antonio, São João e a São Pedro, aconte-<br />
c<strong>em</strong> na zona rural. Apesar <strong>de</strong> se rezar primeiro uma ladainha e cantar<br />
versos ao santo festeja<strong>do</strong>, o mais importante eram os festejos populares:<br />
a fogueira, os fogos, as comidas e <strong>do</strong>ces típicos e principalmente as dan-<br />
ças: ciranda, cana-ver<strong>de</strong>-<strong>de</strong>-mão, cana-ver<strong>de</strong>-valsada, caranguejo, a ma-<br />
rabá, o Felipe e principalmente o Chiba, que duravam até o dia raiar.<br />
S<strong>em</strong>ana Santa<br />
Ainda guarda as cerimônias litúrgicas <strong>em</strong> que sobressa<strong>em</strong> as procissões<br />
soleníssimas, com imagens <strong>de</strong> vestir ou <strong>de</strong> roca, <strong>em</strong> tamanho natural, que<br />
acontec<strong>em</strong> no tríduo santo.<br />
Quinta – Feira: data festiva da ceia <strong>do</strong> Senhor, missa solene, lava-pés<br />
se realizam na Igreja Matriz ricamente a<strong>do</strong>rnada. A meia-noite realiza-<br />
se a interessante “Procissão <strong>do</strong> Fogaréu” conduzin<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />
Senhor da Cana-ver<strong>de</strong> <strong>em</strong> an<strong>do</strong>r <strong>de</strong>cora<strong>do</strong> com ervas medicinais pelas<br />
ruas da cida<strong>de</strong>. Ela simboliza a prisão <strong>de</strong> Cristo e se realiza com a ci-<br />
da<strong>de</strong> às escuras, com os fiéis conduzin<strong>do</strong> tochas <strong>de</strong> bambu acesas.<br />
Durante a procissão um personag<strong>em</strong>, vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> centurião romano faz<br />
soar uma corneta nas esquinas e portas das igrejas, juntamente com o<br />
grave e soturno das matracas. As ervas medicinais: alecrim, erva-<strong>de</strong>-<br />
Santa-Maria e manjericão usadas para benzer feridas, traumatismos e<br />
cortes, acreditava o povo, atenuariam o sofrimento <strong>de</strong> Cristo, causa<strong>do</strong><br />
pelas machucaduras.<br />
Sexta – Feira: as 10:00 h. os homens sa<strong>em</strong> <strong>em</strong> procissão com a ima-<br />
g<strong>em</strong> <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos, imag<strong>em</strong> <strong>em</strong> tamanho natural, vestida <strong>de</strong><br />
velu<strong>do</strong> púrpura, genuflecta, que carrega ao ombro imensa cruz <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira. Percorre as ruas <strong>em</strong> que se encontram os “Passos da Paixão”.<br />
Enquanto isso as mulheres se reún<strong>em</strong> na Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das<br />
Dores e sa<strong>em</strong> <strong>em</strong> procissão conduzin<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong> da virg<strong>em</strong>, imag<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong> roca, vestida <strong>de</strong> velu<strong>do</strong> roxo, ten<strong>do</strong> nas mãos um lenço branco,<br />
exibin<strong>do</strong> olhos lacrimejantes e um vistoso punhal <strong>de</strong> prata crava<strong>do</strong> no<br />
peito. Encontram-se as procissões na esquina das ruas da Santa Rita<br />
com Dona Geralda, on<strong>de</strong> um padre prega o sermão <strong>do</strong> encontro entre<br />
filho e mãe e da <strong>do</strong>r <strong>de</strong> ambos. Por volta <strong>de</strong> 15h. Realiza-se na Matriz
a cerimônia da a<strong>do</strong>ração da Cruz, finda a qual, abr<strong>em</strong>-se as cortinas<br />
da capela mor e aparece a cena da crucificação com uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira <strong>em</strong> tamanho natural e personagens bíblicos. As 19h acontece<br />
a procissão <strong>do</strong> Senhor morto, que percorre o itinerário <strong>de</strong> costume<br />
conduzin<strong>do</strong> as imagens <strong>do</strong> Senhor e da Senhora da Soleda<strong>de</strong>. Ao lon-<br />
go <strong>do</strong> trajeto o Anjo Cantor entoa composições sacras, a banda <strong>de</strong><br />
música acompanha o cortejo, tocan<strong>do</strong> a marcha fúnebre.<br />
Sába<strong>do</strong>: as 20h. acontece na Matriz as cerimônias pascais, seguida da<br />
Missa da Ressurreição, com festivo bimbalhar <strong>do</strong>s sinos e intensa par-<br />
ticipação <strong>do</strong>s féis. Finda esta cerimônia acontece a Procissão festiva<br />
com a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Cristo ressuscita<strong>do</strong>.<br />
Festa <strong>do</strong> Divino Espírito Santo<br />
É anunciada com a levantação <strong>do</strong> mastro no Domingo <strong>de</strong> Páscoa, esta<br />
festa inicia-se quarenta dias após a Páscoa. Todas as noites festivas, com<br />
procissões <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras se dirig<strong>em</strong> à Igreja Matriz on<strong>de</strong> se faz<strong>em</strong> as ora-<br />
ções da novena, retornan<strong>do</strong> <strong>em</strong> seguida à casa <strong>do</strong> festeiro. Nesta casa,<br />
sob <strong>do</strong>ssel <strong>de</strong> velu<strong>do</strong> vermelho, fica arma<strong>do</strong> um altar ricamente a<strong>do</strong>rna<strong>do</strong><br />
e sobre ele a salva <strong>de</strong> pé, a coroa e o cetro <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Divino. Estas<br />
peças, <strong>de</strong> prata lavradas, <strong>do</strong> Séc. XVIII, são as insígnias <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r e<br />
são objetos <strong>de</strong> veneração e <strong>de</strong>voção da população simples e crente. Junto<br />
ao império ficam as ban<strong>de</strong>iras vermelhas <strong>em</strong> cujo centro está bordada a<br />
pomba branca que simboliza o Divino Espírito Santo, circundada por raios<br />
<strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s. Carregar estas ban<strong>de</strong>iras nas procissões da festa <strong>do</strong> Divino é a<br />
mais comum das promessas <strong>do</strong> povo <strong>de</strong>voto.<br />
Após as rezas das ladainhas acontec<strong>em</strong> várias brinca<strong>de</strong>iras e danças<br />
para a diversão <strong>do</strong>s presentes. Nos últimos dias da festa aparec<strong>em</strong>, para<br />
alegrar a criançada, as figuras folclóricas <strong>do</strong> boi-<strong>de</strong>-pano, <strong>do</strong> cavalinho e<br />
<strong>do</strong> capinha. Estas figuras num arr<strong>em</strong>e<strong>do</strong> <strong>de</strong> tourada, faz<strong>em</strong> o boi investir<br />
contra o povo e fazê-lo correr, tu<strong>do</strong> ao som <strong>de</strong> um toque <strong>de</strong> caixa e os<br />
gritos <strong>de</strong> coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> Capinha ou patrão <strong>do</strong> boi. No último dia o boi<br />
morre e o seu patrão distribui, <strong>em</strong> versos, seus pedaços pelo povo e au-<br />
torida<strong>de</strong>s. No sába<strong>do</strong>, véspera da festa, por volta <strong>de</strong> 10 h., ban<strong>de</strong>iras,<br />
folia, banda <strong>de</strong> música e povo sa<strong>em</strong> <strong>em</strong> ban<strong>do</strong> precatório pelas ruas e<br />
bairros da cida<strong>de</strong> pedin<strong>do</strong> esmolas para a realização da festa. A chegada<br />
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das ban<strong>de</strong>iras, farto almoço é ofereci<strong>do</strong> ao povo, enquanto brinca<strong>de</strong>iras<br />
infantis <strong>de</strong>safiam a força e a <strong>de</strong>streza da rapaziada.<br />
Durante a última novena coroa-se um rapaz como Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Divi-<br />
no, que <strong>em</strong> seguida assiste as danças folclóricas realizadas <strong>em</strong> <strong>sua</strong> home-<br />
nag<strong>em</strong>. O Domingo <strong>de</strong> Pentecostes começa com alegre alvorada da folia<br />
e banda <strong>de</strong> música pelas ruas da cida<strong>de</strong>, badalar <strong>de</strong> sinos e espocar <strong>de</strong><br />
foguetes. As l0h. dirige-se para a Igreja o cortejo com o Impera<strong>do</strong>r e o<br />
an<strong>do</strong>r com o símbolo <strong>do</strong> Divino Espírito Santo para a celebração da Missa<br />
Cantada. Em seguida são distribuí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>ces para as crianças. As 17h ini-<br />
cia-se a procissão <strong>de</strong> encerramento, a Missa e Te Deum. Esta era a única<br />
festa religiosa feita por populares e não por irmanda<strong>de</strong>.<br />
<strong>Paraty</strong>, como cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância portuária, produtora e ex-<br />
porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte nos séculos XVIII e XIX, sofreu várias influências<br />
<strong>em</strong> <strong>sua</strong> cultura e costumes, nelas pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong>, é claro, as tradições<br />
portuguesas e as européias que lá se aninharam. Nosso carnaval é um<br />
misto <strong>do</strong> ibérico com gran<strong>de</strong> influência francesa e italiana, traduzida nas<br />
máscaras <strong>de</strong> papel machê e nos solitários mascara<strong>do</strong>s <strong>do</strong> carnaval <strong>de</strong> Ve-<br />
neza. Nossas folias, r<strong>em</strong>iniscências <strong>do</strong>s trova<strong>do</strong>res medievais, que exist<strong>em</strong><br />
até hoje nos Açores, com a mesma forma, músicos e funções. A S<strong>em</strong>ana<br />
Santa é mais espanhola, muito mais a sevilhana, que a portuguesa. A<br />
Festa <strong>do</strong> Divino Espírito Santo é a que mais se ass<strong>em</strong>elha com a que acon-<br />
tece nos Açores e altamente diferente da <strong>de</strong> Portugal continental. As<br />
festas juninas r<strong>em</strong>ontam, s<strong>em</strong> dúvida, ao Minho português, especialmen-<br />
te a <strong>do</strong> Santoinho (Santo Antoninho), <strong>em</strong> Viana <strong>do</strong> Castelo. Esta mescla<br />
<strong>de</strong> cultura, agregada a <strong>do</strong>s índios e a <strong>do</strong>s negros africanos, resultou no<br />
que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> religião e cultura paratiense.
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> R. A. – Procissão da Festa <strong>do</strong> Divino
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Ministério<br />
<strong>do</strong> Turismo