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O Caminho do Ouro em Paraty e sua paisagem - Programa de ...

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O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>


O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>


1. I<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> b<strong>em</strong> 4<br />

2. Descrição 39<br />

3. Justificativa para inscrição 123<br />

4. Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação e fatores<br />

que afetam o b<strong>em</strong> 147<br />

5. Proteção e Gestão <strong>do</strong> b<strong>em</strong> 177<br />

6. Monitoramento 209<br />

7. Documentação 223<br />

8. Informações sobre as autorida<strong>de</strong>s responsáveis 233<br />

9. Assinaturas <strong>em</strong> nome <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-M<strong>em</strong>bro 239<br />

10. Anexos 241


1I<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />

1. a País (Esta<strong>do</strong>-m<strong>em</strong>bro, se for diferente): Brasil<br />

1. b Esta<strong>do</strong>, província ou região: Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

1. c Nome <strong>do</strong> b<strong>em</strong>: <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong><br />

1. d Localização precisa no mapa e indicação das coor<strong>de</strong>nadas geográficas até os segun<strong>do</strong>s<br />

N O NOME LOCALIZAÇÃO COORDINADAS<br />

DO PONTO<br />

CENTRAL<br />

01 <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />

**<br />

<strong>Paraty</strong> N = 7434429<br />

E = 518493<br />

02 Centro Histórico <strong>Paraty</strong> N = 7432236<br />

E = 529394<br />

03 Forte Defensor<br />

Perpétuo<br />

<strong>Paraty</strong> N = 7432944<br />

E = 529443<br />

ÁREA<br />

PROPOSTA<br />

(HA)<br />

ZONA DE<br />

AMORTECI-<br />

MENTO (HA)<br />

MAPAS<br />

105,24 102.157,08* 5.6,8,9,10,11<br />

18,14 102.157,08* 5,6,8,1213,14<br />

11,90 102.157,08* 5,6,8,12, 15,16<br />

TOTAL 135,28 102.157,08<br />

* Esta é a área <strong>de</strong> amortecimento total – área terrestre - 92.658,17 ha – área marítima = 9.498,91 ha<br />

** b<strong>em</strong> linear – 8,7 Km <strong>de</strong> comprimento and 120m<strong>de</strong> largura (60 m para cada la<strong>do</strong> <strong>do</strong> eixo)


1. e Mapas e ou plantas indican<strong>do</strong> os limites da zona proposta para inscrição e os<br />

<strong>de</strong> toda zona <strong>de</strong> amortecimento<br />

1) Sítios <strong>do</strong> Patrimônio Mundial no Brasil – 2007 (1:40.000.000);<br />

2) Localização Geral – Brasil com seus esta<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>talhe para Rio/São Paulo e Mi-<br />

nas Gerais com <strong>de</strong>staque para o município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> (1:1.600.000);<br />

3) áreas naturais protegidas <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> (1:300.000);<br />

4) Áreas da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica na régio <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> (1:300.000);<br />

5) Área Completa da Candidatura (1:100.000);<br />

6) Área Proposta (1:250.000);<br />

7) Fronteira Norte da proposta (1:90.000);<br />

8) Área proposta – o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> (1:60.000);<br />

9) O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> e <strong>Paraty</strong> (1:30.000);<br />

10) O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1:12.000);<br />

11) O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1:22.000);<br />

12) Área proposta – Centro Histórico e Forte (1:21.000);<br />

13) Detalhe <strong>do</strong> Centro Histórico (1:3.000) – mapa;<br />

14) Detalhe <strong>do</strong> Centro Histórico (1:3.000) – foto áerea;<br />

15) Forte Defensor Perpétuo (1:3.000) – mapa;<br />

16) Forte Defensor Perpétuo (1:3.000) – foto aérea<br />

R.A. – Parque Nacional da Serra da Bocaina por on<strong>de</strong> passa o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>


DJOB (Dom João) Bromélias


38<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong> – parte IV


2 Descrição<br />

2.a Descrição <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />

O município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é parte integrante <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e está<br />

situa<strong>do</strong> ao sul <strong>do</strong> mesmo Esta<strong>do</strong>, na região fisiográfica da Ilha Gran<strong>de</strong>. O<br />

município t<strong>em</strong> 937 km2 e limita-se ao norte com o Município <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s<br />

Reis, no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e, ao Sul, com o município <strong>de</strong> Ubatuba, a<br />

oeste com o município <strong>de</strong> Cunha, ambos no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo e à leste<br />

com a baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> no Oceano Atlântico.<br />

Logo nos primeiros anos da colonização <strong>do</strong> território brasileiro a Baia da<br />

Ilha Gran<strong>de</strong> exercia excelente posição relativa no contexto <strong>do</strong> litoral brasi-<br />

leiro, proporcionan<strong>do</strong>, no Atlântico Sul, excepcional articulação da zona<br />

costeira com o interior <strong>do</strong> continente americano e <strong>sua</strong> projeção sobre o<br />

território africano.<br />

Cada um <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos da proposta o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, o Núcleo Urba-<br />

no e o Forte Defensor Perpétuo, pelo que são e por aquilo que representam<br />

compõ<strong>em</strong> <strong>em</strong> si um conjunto <strong>de</strong> alto valor <strong>de</strong> paisag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> inte-<br />

resse universal. Consi<strong>de</strong>radas <strong>em</strong> conjunto compõ<strong>em</strong> um sítio <strong>de</strong> excepcional<br />

valor que merece o reconhecimento e a fruição <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>.<br />

O caminho que aí se iniciou nos primórdios da colonização, e que pe-<br />

netra fun<strong>do</strong> no interior da América <strong>do</strong> Sul foi a primeira rota <strong>do</strong><br />

ouro a ser reconhecida pela Coroa Portuguesa. Por ela se explorou<br />

a imensa riqueza <strong>do</strong> território brasileiro e se consoli<strong>do</strong>u o <strong>do</strong>mínio<br />

da cultura e da religião européia sobre o território bravio da região<br />

central <strong>do</strong> continente.<br />

O núcleo urbano <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o mais íntegro conjunto arquitetônico bra-<br />

sileiro representativo da arquitetura <strong>do</strong>s séculos XVII ao XIX, não po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>de</strong>stacadamente <strong>de</strong> seu contexto ambiental, pois mantém<br />

relações múltiplas, íntimas e recíprocas com o ambiente da floresta. Con-<br />

serva gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> <strong>sua</strong> cultura, <strong>sua</strong>s festas, ritos, relações. A escolha<br />

<strong>do</strong> local on<strong>de</strong> se implantou a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se, entre outros fatores, ao fato<br />

<strong>de</strong> apresentar condições <strong>de</strong> abrigo seguro e propício para a navegação<br />

das <strong>em</strong>barcações que vinham <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro ou diretamente da Euro-<br />

pa entre os séculos XVI e XIX.


40<br />

> M.S. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, parte IV<br />

Devi<strong>do</strong> à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> caminho e <strong>do</strong> porto <strong>do</strong> ouro, um so-<br />

fistica<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> fortificações foi implanta<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que, o último re-<br />

manescente íntegro é o Forte Defensor Perpétuo. Interagin<strong>do</strong> e comple-<br />

mentan<strong>do</strong> seu valor, localiza-se no cume <strong>de</strong> uma elevação, local on<strong>de</strong> o<br />

primeiro povoamento se assentou. Esta elevação hoje, é um relevante<br />

el<strong>em</strong>ento cênico <strong>de</strong> beleza paisagística para a cida<strong>de</strong>, está coberto por<br />

<strong>de</strong>nsa vegetação <strong>de</strong> espécies nativas.<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1)<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> fez <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a primeira rota para a colonização <strong>do</strong> in-<br />

terior mas só adquiriu <strong>sua</strong> gran<strong>de</strong> importância graças às excelentes condições<br />

<strong>de</strong> abrigo seguro e próximo para a navegação das <strong>em</strong>barcações que vinham<br />

<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro ou diretamente da Europa entre os séculos XVI e XIX.<br />

Este caminho também conheci<strong>do</strong> como Estrada Real, foi moldada atra-<br />

vés <strong>do</strong>s séculos pelo vasto interior <strong>do</strong> país, ao longo <strong>do</strong>s seus 1400 Km<br />

cruza 177 cida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> três esta<strong>do</strong>s brasileiros, 162 <strong>em</strong> Minas Gerais, 8 no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro e 7 cida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> São Paulo. Era a única via <strong>de</strong> acesso à região<br />

das principais reservas <strong>de</strong> metais preciosos – ouro e diamantes – <strong>do</strong> Brasil,<br />

situadas <strong>em</strong> Minas Gerais, autorizada pela Coroa. Dessa forma, toda a cir-<br />

culação <strong>de</strong> riquezas, merca<strong>do</strong>rias e pessoas só po<strong>de</strong>ria ser feita por este<br />

trajeto e, por isso, passou a ser chamada <strong>de</strong> Estrada Real.


A abertura <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />

Dentre os animais que resistiram à última glaciação, na região costeira situ-<br />

ada a leste da América <strong>do</strong> Sul, recoberta pela Mata Atlântica, a anta ou<br />

tapir (Tapirus terrestris), o maior e mais pesa<strong>do</strong> mamífero terrestre sul-ame-<br />

ricano, que chega a atingir 200 quilos, é o único animal <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte<br />

que consegue viver nessas compactas florestas úmidas da América <strong>do</strong> Sul,<br />

graças à <strong>sua</strong> extraordinária força. Mesmo pelo mato mais <strong>de</strong>nso e fecha<strong>do</strong>,<br />

consegue abrir picadas que os guaranis chamam <strong>de</strong> mborepirape, a mesma<br />

<strong>de</strong>signação que dão à Via Látea, por ser<strong>em</strong> essas verda<strong>de</strong>iras veredas na<br />

<strong>de</strong>nsa vegetação da floresta, comparáveis à Via Láctea, a mais importante<br />

faixa luminosa visível na abóbada celeste. Os caminhos das antas, passa-<br />

gens e ligações utilizadas por diversos animais e pelo hom<strong>em</strong>, são as trilhas<br />

mais marcantes <strong>de</strong>ntre todas aquelas que nos últimos 10 mil anos se for-<br />

maram neste território. Por ter<strong>em</strong> si<strong>do</strong> as mais largas vias disponíveis, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a pré-história os indígenas que <strong>do</strong>minaram a região Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Brasil utili-<br />

zaram-se <strong>de</strong>sses caminhos nos <strong>de</strong>slocamentos que faziam entre o planalto<br />

e o mar. Uma diferença distingue os caminhos das antas <strong>do</strong>s <strong>de</strong>slocamen-<br />

tos humanos. O paqui<strong>de</strong>rme utiliza-se com freqüência <strong>do</strong>s leitos <strong>do</strong>s rios<br />

41<br />

> Mapa mostran<strong>do</strong> as<br />

capitanias <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, Minas Gerais,<br />

São Paulo e Espírito Santo<br />

(ca 176-)


42<br />

enquanto, s<strong>em</strong>pre que possível, os indígenas buscavam passagens secas,<br />

mais propícias à salvaguarda <strong>do</strong>s bens que transportavam.<br />

Os Goianás e a trilha para São Paulo<br />

Este caminho foi utiliza<strong>do</strong> pelos índios goianás para conectar a al<strong>de</strong>ia, no<br />

alto da serra, com as praias consi<strong>de</strong>radas medicinais <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Os goianás,<br />

que na verda<strong>de</strong> se chamavam goiamimins, habitaram a baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> até<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII.<br />

Um <strong>do</strong>s raros relatos existentes sobre o Brasil no século XVI foi escrito<br />

por Anthony Knivet, corsário inglês da tripulação <strong>de</strong> Thomas Cavendish<br />

que esteve <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> 1596 e teria subi<strong>do</strong> pela trilha <strong>do</strong>s Goianas, junto<br />

com 700 portugueses e 2000 índios. Veio <strong>em</strong> companhia <strong>de</strong> Martim Cor-<br />

reia <strong>de</strong> Sá, que o havia aprisiona<strong>do</strong> e feito cativo.<br />

Em 1660, Salva<strong>do</strong>r Correia <strong>de</strong> Sá, filho <strong>de</strong> Martim Correia e governa<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, man<strong>do</strong>u “abrir e <strong>de</strong>scobrir” a estrada para o interior, por<br />

on<strong>de</strong> seu pai havia passa<strong>do</strong> algumas décadas atrás <strong>em</strong> companhia <strong>do</strong> in-<br />

glês Knivet.<br />

Por esta época, o caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> já era reconheci<strong>do</strong> como a melhor<br />

maneira <strong>de</strong> se chegar <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro a São Paulo. Do Rio, os viajantes<br />

seguiam por terra até o porto <strong>de</strong> Sepetiba e daí aproveitavam o mar prote-<br />

gi<strong>do</strong> pela Restinga <strong>de</strong> Marambaia e da baia da Ilha Gran<strong>de</strong> on<strong>de</strong> aporta-<br />

vam e subiam a Serra <strong>do</strong> Mar por <strong>Paraty</strong>, fugin<strong>do</strong> da perigosa viag<strong>em</strong> ma-<br />

rítima por mar aberto e da escabrosa subida que ligava o litoral <strong>de</strong> Santos<br />

e São Vicente a Piratininga (São Paulo).<br />

Ciclo <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />

O CAMINHO VELHO<br />

Na virada <strong>do</strong> século XVII para o XVIII, a notícia da <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro<br />

pelos paulistas <strong>em</strong> 1695 se espalha rapidamente. O Conselho Ultramari-<br />

no recomenda ao rei <strong>de</strong> Portugal que restrinja “os caminhos que levam às<br />

minas” pon<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que quanto mais caminhos houver, mais <strong>de</strong>scami-<br />

nhos haverão.<br />

A Coroa Portuguesa <strong>de</strong>termina que apenas o ga<strong>do</strong> virá da Bahia, se-<br />

guin<strong>do</strong> o Rio São Francisco, e que o ouro e d<strong>em</strong>ais merca<strong>do</strong>rias entrarão e


serão escoa<strong>do</strong>s pelo caminho <strong>do</strong>s paulistas, chegan<strong>do</strong> à costa por <strong>Paraty</strong>, e<br />

daí para o Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Esta <strong>de</strong>terminação aumenta enorm<strong>em</strong>ente o trânsito pelo <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, tornan<strong>do</strong> o porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> um <strong>do</strong>s mais importantes da colônia. Car-<br />

ta Régia <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1703 manda que se instale na cida<strong>de</strong> uma Casa <strong>do</strong><br />

Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> para controlar o fluxo <strong>do</strong> metal vin<strong>do</strong> das minas.<br />

A Casa <strong>do</strong> Registro ou Casa <strong>do</strong>s Quintos, foi instalada no <strong>Caminho</strong>, no<br />

alto da serra, e <strong>Paraty</strong> viveu seu momento <strong>de</strong> glória, enquanto merca<strong>do</strong><br />

que abastecia as tropas que iam e que vinham.<br />

A instalação da Casa <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> confirma a importância que<br />

as autorida<strong>de</strong>s portuguesas atribu<strong>em</strong> à cida<strong>de</strong> na época.<br />

O CAMINHO NOVO<br />

O caminho das Minas passan<strong>do</strong> por <strong>Paraty</strong> era marítimo-terrestre . No início<br />

<strong>do</strong> século XVIII Garcia Rodrigues Paes Betim, filho <strong>de</strong> Fernão Dias Paes<br />

L<strong>em</strong>e, um <strong>do</strong>s mais famosos <strong>de</strong>brava<strong>do</strong>res paulistas, pioneiro na <strong>de</strong>scober-<br />

ta <strong>de</strong> metais preciosos da região, abriru um novo caminho, direto ao porto<br />

<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

A picada aberta logo se tornou o novo caminho oficial. Portugal instala,<br />

então, um novo Registro para a cobrança <strong>do</strong>s impostos e restringe o uso <strong>do</strong><br />

caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

> Parte das capitanias<br />

<strong>de</strong> São Paulo, Minas<br />

Gerais, Goiás e Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro (ca 180-)<br />

43


44<br />

> Igreja <strong>de</strong> Santa Rita e<br />

Serra da Bocaina<br />

ESTRADA REAL<br />

A Estrada Real é oficialmente dividida <strong>em</strong> três caminhos: o <strong>Caminho</strong> Ve-<br />

lho, o <strong>Caminho</strong> Novo e a Rota <strong>do</strong>s Diamantes. O <strong>Caminho</strong> Velho, aberto<br />

no século XVII, que nasceu das andanças <strong>do</strong>s ban<strong>de</strong>irantes à procura <strong>de</strong><br />

riquezas que se ofereciam <strong>em</strong> abundância no solo mineiro, liga <strong>Paraty</strong> a<br />

<strong>Ouro</strong> Preto. O <strong>Caminho</strong> Novo une o Rio <strong>de</strong> Janeiro a <strong>Ouro</strong> Preto, e foi<br />

construí<strong>do</strong> no começo <strong>do</strong> século XVIII para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s da<br />

Coroa <strong>de</strong> rápi<strong>do</strong> escoamento <strong>de</strong> ouro e diamantes até Lisboa. Uma va-<br />

riante ligan<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> Preto à Diamantina, foi construída posteriormente,<br />

sen<strong>do</strong> chamada a Rota <strong>do</strong>s Diamantes. Os mais importantes monumen-<br />

tos brasileiros <strong>em</strong> estilo barroco e rococó, vários <strong>de</strong>les reconheci<strong>do</strong>s como<br />

Patrimônio Mundial, estão situa<strong>do</strong>s ao longo <strong>de</strong>ste caminho.<br />

Foi construí<strong>do</strong> com a participação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os brasileiros, começan<strong>do</strong><br />

pelas nações nativas representadas pelos Goiamimins que abriram a pri-<br />

meira passag<strong>em</strong> e <strong>de</strong>pois, pela engenharia <strong>do</strong>s portugueses e negros,<br />

entraram com o suor e fizeram o trabalho físico <strong>de</strong> calçar e cuidar.<br />

O CALÇAMENTO DE PEDRA<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, na área proposta, encontra-se calça<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

pedra, <strong>em</strong> excelente e bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, por cerca <strong>de</strong> 75% <strong>do</strong><br />

seu percurso. Os 25% r<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong>ste trecho encontram-se perfeita-<br />

mente i<strong>de</strong>ntificáveis ten<strong>do</strong> porém sofri<strong>do</strong> diferentes níveis <strong>de</strong> erosão natu-


al. A pavimentação <strong>de</strong>ste trecho <strong>do</strong> caminho com pedras foi necessária<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à alta pluviosida<strong>de</strong> da Serra combinada com <strong>de</strong>clives acentuadíssi-<br />

mos. Por isto ele só se tornou trafegável com esse calçamento construí<strong>do</strong><br />

com gran<strong>de</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> engenharia. Graças a isso esse trecho antigo <strong>do</strong><br />

caminho <strong>do</strong> ouro sobreviveu <strong>em</strong> <strong>sua</strong> materialida<strong>de</strong> enquanto outros trechos<br />

<strong>de</strong>ssa rota tornaram-se estradas hoje pavimentadas <strong>de</strong> asfalto ou <strong>de</strong>sapare-<br />

ceram na mata ou na lama. Ele foi utiliza<strong>do</strong> como principal rota entre Para-<br />

ty e o Vale <strong>do</strong> rio Paraíba <strong>do</strong> Sul até os anos 50/60 <strong>do</strong> século XX,<br />

quan<strong>do</strong> da abertura da ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha.<br />

O trecho da Estrada Real <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> – o <strong>Caminho</strong> Velho - é<br />

hoje, o maior trecho calça<strong>do</strong> e consistent<strong>em</strong>ente preserva<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

toda a rota. São 8.700 m calça<strong>do</strong>s <strong>em</strong> pedra seca, alguns trechos<br />

no século XVIII outros, no século XIX, quan<strong>do</strong> houve manuten-<br />

ção e reforma geral. Os trechos <strong>do</strong> século XVIII são compostos<br />

por pedras mais toscas, mais arre<strong>do</strong>ndadas e menos resistentes.<br />

Já no século XIX o calçamento foi composto por rochas <strong>de</strong> for-<br />

mato mais retilíneo, obtidas por explosão controlada, as maiores<br />

medin<strong>do</strong> mais <strong>de</strong> um metro <strong>de</strong> la<strong>do</strong>, entr<strong>em</strong>eadas por areia<br />

grossa e outras menores que dão uniformida<strong>de</strong> ao conjunto. A<br />

face superior é mais regular. Têm <strong>em</strong> média 20 centímetros <strong>de</strong><br />

altura, mas pedras enormes também foram utilizadas, crian<strong>do</strong><br />

momentos impressionantes ao longo <strong>do</strong> percurso.<br />

45<br />

> M.S. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, parte IV – sítio da<br />

Cachoerinha;<br />

> Lingotes <strong>de</strong> ouro


46<br />

> R R/M.R - Sítio<br />

Arqueológico da Casa <strong>do</strong><br />

Registro no <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>;<br />

> Direita - Café, Debret;<br />

> Abaixo - Desenho<br />

interpretativo da casa <strong>do</strong><br />

Registro


Esta camada superior se assenta sobre outra composta <strong>de</strong> saibro e pedregu-<br />

lho, cuja espessura varia <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 10 centímetros. Os trechos <strong>do</strong> século<br />

XIX apresentam uma faixa central <strong>de</strong> largura varian<strong>do</strong> entre 60 e 80 centí-<br />

metros, composta <strong>de</strong> pedras mais largas e regulares, com duas faixas <strong>de</strong><br />

bor<strong>do</strong>, com os blocos inclina<strong>do</strong>s <strong>em</strong> direção ao centro. Dessa forma, o cen-<br />

tro da calçada apresenta um <strong>de</strong>snível <strong>em</strong> relação aos bor<strong>do</strong>s, e direciona o<br />

correr das águas da chuva.<br />

O calçamento original foi construí<strong>do</strong> <strong>em</strong> pedra seca 1 , com trechos entre<br />

3 e até 10 metros <strong>de</strong> largura, sustenta<strong>do</strong> por muros <strong>de</strong> arrimo <strong>de</strong> até cinco<br />

metros <strong>de</strong> altura, que acompanham as curvas <strong>de</strong> nível da serra. O Marco <strong>de</strong><br />

Sesmaria 2 , o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> águas pluviais com <strong>sua</strong>s guias e<br />

drenos, bueiros, e especialmente uma galeria <strong>de</strong> pedra cobrin<strong>do</strong> um vão <strong>de</strong><br />

sete metros e meio, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> viaduto, com guarda-corpo e pinga<strong>de</strong>iras<br />

para proteger a estrutura da construção, atestam a excelência da cantaria,<br />

técnica que constitui uma especialida<strong>de</strong> portuguesa.<br />

AS CASAS DE REGISTRO<br />

Ao longo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> localizam-se os vestígios das três casas <strong>de</strong> Registro<br />

(postos alfan<strong>de</strong>gários), que funcionaram <strong>em</strong> locais e perío<strong>do</strong>s diferentes.<br />

Descrição <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong><br />

ÁREA PROPOSTA<br />

A área <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> proposta para reconhecimento como Patrimô-<br />

nio Mundial t<strong>em</strong> início no bairro <strong>do</strong>s Penha , a 9 km <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, junto ao<br />

Marco da Estrada Real, incluin<strong>do</strong> o campo situa<strong>do</strong> entre a ro<strong>do</strong>via RJ 165,<br />

a igreja Nossa Senhora <strong>do</strong>s Penha, e o Córrego <strong>do</strong> Souza <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o poço <strong>do</strong><br />

47<br />

1. pedra seca<br />

Técnica <strong>de</strong> construção<br />

<strong>em</strong> pedra s<strong>em</strong> a<br />

utilização <strong>de</strong><br />

argamassa.<br />

2. Sesmaria<br />

Marco <strong>de</strong> pedra para<br />

indicar limite <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong>.Sesmarias<br />

eram gran<strong>de</strong>s porções<br />

<strong>de</strong> terra que foram<br />

distribuídas pelos<br />

<strong>do</strong>nos das Capitanias<br />

Hereditárias, estas, as<br />

primeiras concessões<br />

<strong>de</strong> terras da Coroa<br />

Portuguesa no Brasil.


48<br />

Tobogã ate o local <strong>do</strong> antigo Registro da Cachoeira. A partir <strong>do</strong> referi<strong>do</strong><br />

Marco, sobe 8.700 metros serra acima na direção noroeste, inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

uma faixa <strong>de</strong> 120 metros <strong>de</strong> largura cujo eixo é a linha central <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>,<br />

com 60 metros para cada la<strong>do</strong>.<br />

A partir da cota <strong>de</strong> 500 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> está<br />

inseri<strong>do</strong> no Parque Nacional da Serra da Bocaina.<br />

O percurso propriamente dito, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> bairro <strong>do</strong>s Penha, po<strong>de</strong> ser<br />

resumidamente <strong>de</strong>scrito da seguinte forma:<br />

Sobe pela vertente <strong>do</strong> morro, e segue paralelo ao Córrego <strong>do</strong> Souza;<br />

Passa pela Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito e pelo bebe<strong>do</strong>uro <strong>do</strong> Pinga-Pinga, cru-<br />

za a Cachoeirinha na fazenda <strong>do</strong> mesmo nome e sobe até um pequeno<br />

campo conheci<strong>do</strong> como Campo das Nações. Logo acima localizava-se a<br />

Prove<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Registro, posto <strong>de</strong> fiscalização fazendária on<strong>de</strong> eram co-<br />

bra<strong>do</strong>s o imposto e o pedágio, e cujos vestígios ainda ali se encontram.<br />

Seguin<strong>do</strong> passa pela Lagoa Seca e pelo Rola<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Zé Migué, on<strong>de</strong> se<br />

diz haver existi<strong>do</strong> um famoso bandi<strong>do</strong> que costumava atacar as tropas,<br />

também conheci<strong>do</strong> como Boca <strong>de</strong> <strong>Ouro</strong>.<br />

Logo acima corta o Largo <strong>do</strong> Governo, sen<strong>do</strong> que, neste caso a palavra<br />

governo era usada no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> reorganização das tropas.<br />

Sobe <strong>de</strong>pois pelas Sete Voltas (sete curvas b<strong>em</strong> fechadas <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>).<br />

Segue então por <strong>de</strong>ntro da Fazenda Estiva Preta até chegar nas ruínas<br />

da casa <strong>do</strong> Registro Velho, Boca <strong>do</strong> Inferno, que ali funcionou no sé-<br />

culo XVIII.<br />

Dali o <strong>Caminho</strong> a<strong>de</strong>ntra serra acima pelo Boqueirão <strong>do</strong> Inferno, uma<br />

espécie <strong>de</strong> garganta consi<strong>de</strong>rada perigosa, tanto pela encosta escarpa-<br />

da quanto por proporcionar abrigo natural a malfeitores<br />

Logo <strong>de</strong>pois alcança a divisa com o atual município <strong>de</strong> Cunha, já no<br />

Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Para melhor <strong>de</strong>screver a área proposta como zona núcleo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, foram i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s 6 setores com características distintas quanto ao<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, ameaças, proteção e gestão.<br />

Cada um <strong>de</strong>stes setores, <strong>de</strong>scritos a partir <strong>do</strong> alto da serra, apresenta<br />

trechos varia<strong>do</strong>s, caracteriza<strong>do</strong>s por marcos notáveis <strong>do</strong> próprio <strong>Caminho</strong>,<br />

ou relaciona<strong>do</strong>s ao meio físico e biológico <strong>de</strong>scritos a seguir. Os setores I,II<br />

e III localizam-se na micro - bacia hidrográfica <strong>do</strong> córrego <strong>do</strong> Sertão, este


ultimo até a Lagoa Seca. O setores III, a partir da Lagoa Seca, IV, V e VI estão<br />

inseri<strong>do</strong>s na micro - bacia <strong>do</strong> córrego <strong>do</strong> Souza<br />

I. Alto da Serra até Registro Velho – Boca <strong>do</strong> Inferno<br />

II. Toca <strong>de</strong> Pedra<br />

1. Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />

III. Registro Velho até Estiva Preta/RJ 165<br />

2. Registro Velho, Boca <strong>do</strong> Inferno<br />

3. Estiva Preta<br />

IV. Estiva Preta até Cachoeirinha<br />

4. Sete Voltas<br />

5. Largo <strong>do</strong> Governo<br />

6. Guarita<br />

7. Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r<br />

8. Trincheiras Verticais<br />

9. Lagoa Seca<br />

10. Viaduto<br />

V. Cachoeirinha até Seu Antonio<br />

11. <strong>Caminho</strong> Limpo<br />

12. Prove<strong>do</strong>ria/ Registro<br />

13. Campo das Nações<br />

14. Pinga-Pinga<br />

15. Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito<br />

16. Canela Fe<strong>do</strong>renta<br />

17. Mirante<br />

18. Sitio <strong>do</strong> Seu Antonio<br />

VI. Seu Antonio até Marco da Sesmaria<br />

19. Pouso <strong>do</strong> Souza<br />

20. Marco da Sesmaria<br />

VII. Marco da Sesmaria até o bairro <strong>do</strong>s Penha<br />

VII. Marco da Sesmaria until Penha District<br />

I. ALTO DA SERRA ATÉ REGISTRO VELHO –<br />

BOCA DO INFERNO<br />

O acesso a este setor parte da divisa estadual<br />

entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo, que<br />

coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da<br />

49


50<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, parte I<br />

– Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />

Bocaina, no alto da serra. A ro<strong>do</strong>via RJ 165, s<strong>em</strong> nenhuma pavimentação,<br />

encontra o asfalto da ro<strong>do</strong>via SP 171. Deste ponto, entrada da pousada<br />

Santo Antonio, segue-se a pé na direção su<strong>do</strong>este pelo planalto, <strong>em</strong> cami-<br />

nho carroçável, <strong>em</strong> ambiente <strong>de</strong> pastag<strong>em</strong> e silvicultura <strong>de</strong> Eucalipto. A<br />

entrada para o <strong>Caminho</strong> é uma antiga estrada, hoje uma trilha que segue<br />

por <strong>de</strong>ntro da mata <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> ou floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa alto Montana,<br />

também conhecida como mata nebular, porém com gran<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong><br />

uma espécie <strong>de</strong> bambu chamada taquarinha – que praticamente fecha a<br />

passag<strong>em</strong> neste trecho inicial, freqüenta<strong>do</strong> quase somente por caça<strong>do</strong>res.<br />

1. Toca <strong>de</strong> Pedra – consi<strong>de</strong>rada como o marco final <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>Paraty</strong>, situada <strong>em</strong> local s<strong>em</strong>i - aberto, com pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> gramí-<br />

neas <strong>em</strong> meio a arbustos, on<strong>de</strong> fruteiras antigas e a presença <strong>de</strong> uma<br />

Araucária (pinheiro brasileiro) indicam ocupação rural não muito anti-<br />

ga. Esta toca serve eventualmente <strong>de</strong> abrigo a caça<strong>do</strong>res. Neste trecho<br />

o <strong>Caminho</strong> está totalmente recoberto pela serrapilheira (matéria orgâ-<br />

nica constituída por uma mistura <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e folhas <strong>em</strong> <strong>de</strong>composi-<br />

ção), e terra. Inúmeras árvores <strong>de</strong> pequeno porte cresc<strong>em</strong> sobre e por<br />

entre as pedras. Os indícios mais visíveis <strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong> são a existên-<br />

cia <strong>de</strong> corte <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1,5 m na encosta acima, indican<strong>do</strong> terraple-<br />

nag<strong>em</strong>, e o alinhamento da borda <strong>de</strong> pedras <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto, junto à<br />

vertente. Na cobertura vegetal pre<strong>do</strong>minam a taquarinha, arbustos e<br />

árvores <strong>em</strong> estágio inicial e secundário <strong>de</strong> regeneração. A <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong><br />

não é muito acentuada.


2. Boqueirão <strong>do</strong> Inferno – Assim <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> por abrigar, à época,<br />

ban<strong>do</strong>leiros que se aproveitavam da geografia aci<strong>de</strong>ntada <strong>do</strong> local, que<br />

forma verda<strong>de</strong>ira garganta vale abaixo, encaixada por entre gran<strong>de</strong>s<br />

matacões <strong>de</strong> rocha. Nos trechos <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, o <strong>Caminho</strong> torna-<br />

se verte<strong>do</strong>uro da água da chuva, que limpa a superfície, tornan<strong>do</strong> as<br />

pedras visíveis e causan<strong>do</strong>. A mata neste trecho po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada<br />

como floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa Montana <strong>em</strong> estágio médio a avança<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> regeneração, cujo <strong>do</strong>ssel chega a 15 metros. Após atravessar uma<br />

cachoeira a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> diminui e a taquarinha volta a pre<strong>do</strong>minar ao<br />

longo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, até encontrar as ruínas <strong>do</strong> Registro Velho.<br />

Este setor encontra-se totalmente inseri<strong>do</strong> no Parque Nacional da Serra<br />

da Bocaina. Não exist<strong>em</strong> mora<strong>do</strong>res n<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais produtivas.<br />

II. REGISTRO VELHO ATÉ ESTIVA PRETA/RODOVIA RJ 165<br />

No Registro Velho encontram–se os alicerces <strong>de</strong> pedra da antiga Casa <strong>de</strong> Re-<br />

gistro. O local encontra-se a cerca <strong>de</strong> um quilometro da ro<strong>do</strong>via RJ 165, pró-<br />

ximo <strong>de</strong> uma proprieda<strong>de</strong> rural aparent<strong>em</strong>ente aban<strong>do</strong>nada, com um trecho<br />

<strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> arvores e arbustos, que dá acesso à ro<strong>do</strong>via.<br />

3. Registro Velho – Esta área ainda não foi estudada. O sitio encontra-<br />

se <strong>em</strong> área <strong>de</strong> menor <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, com alicerces <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 12 X 9 m<br />

<strong>de</strong> comprimento e 60 cm <strong>de</strong> altura no trecho mais extenso. Na face<br />

norte <strong>sua</strong> altura chega a cerca <strong>de</strong> 2m.<br />

De acor<strong>do</strong> com Paula Freitas, Registros:<br />

51<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, parte I – Boqueirão<br />

<strong>do</strong> Inferno


52<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte II<br />

“eram lugares <strong>em</strong> que os viajantes sofriam um exame <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

as regras <strong>do</strong> fisco: tinham o pagamento <strong>de</strong> um imposto <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>,<br />

apresentavam os passaportes quan<strong>do</strong> passavam duma província a ou-<br />

tra, os far<strong>do</strong>s e as malas eram examina<strong>do</strong>s, a fim <strong>de</strong> ver se levavam <strong>de</strong><br />

contraban<strong>do</strong> ouro ou diamantes, ou se era exata com a guia a quanti-<br />

da<strong>de</strong> que transportavam, muitas vezes os viajantes tinham <strong>de</strong> apresen-<br />

tar também uns bilhetes <strong>de</strong> permuta ou bilhetes que eram da<strong>do</strong>s nas<br />

casas <strong>de</strong> permuta para pequenas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ouro <strong>em</strong> pó; enfim,<br />

tais registros eram, nos pontos <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> duma província para ou-<br />

tra, verda<strong>de</strong>iras alfân<strong>de</strong>gas interiores, inconvenientes porque constitu-<br />

íam reais barreiras entre as províncias, numa época <strong>em</strong> que o governo<br />

<strong>de</strong>via ao contrario aproximá-las umas das outras.”<br />

Em 1775 hospe<strong>do</strong>u-se <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, Martinho Lobo <strong>de</strong> Saldanha, que<br />

assumiria o governo <strong>de</strong> São Paulo. Em <strong>sua</strong> estada, opinou favoravel-<br />

mente pela transferência da Guar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Registro “Boca <strong>do</strong> Inferno”<br />

para a “Cachoeira”, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

Estas ruínas são, portanto, o marco da localização <strong>do</strong> cita<strong>do</strong> Registro<br />

“Boca <strong>do</strong> Inferno”.<br />

Neste local pre<strong>do</strong>mina a floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa Montana <strong>em</strong> estágio<br />

inicial <strong>de</strong> regeneração, com pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> quaresmeiras e outras espé-<br />

cies pioneiras, e a mesma taquarinha junto e sobre o <strong>Caminho</strong>. Foram<br />

observadas algumas pequenas mudas <strong>de</strong> palmeira juçara.


4. Estiva Preta – Este é o nome da antiga fazenda, também conhecida<br />

como sitio <strong>do</strong> Seu Neco, (último mora<strong>do</strong>r, que ven<strong>de</strong>u recent<strong>em</strong>ente<br />

<strong>sua</strong> posse para forasteiros). Situa<strong>do</strong> a menos <strong>de</strong> 200 m <strong>do</strong> Registro<br />

Velho, o <strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong> e livre <strong>de</strong> vegetação arbó-<br />

rea, pois nesta área existe uma ocupação rural que no momento parece<br />

estar aban<strong>do</strong>nada, graças à ação repressiva <strong>do</strong> IBAMA quanto a ativi-<br />

da<strong>de</strong>s produtivas no interior <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />

Neste ponto, o <strong>Caminho</strong> encontra-se integro por um trecho <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 600 metros, recoberto por vegetação rasteira, flores e pequenos<br />

arbustos <strong>de</strong> facílima r<strong>em</strong>oção, até encontrar a ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha<br />

b<strong>em</strong> <strong>em</strong> frente ao antigo Fecha Nunca.<br />

A floresta encontra-se <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> médio <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel<br />

médio <strong>de</strong> 10 a 15 m <strong>de</strong> altura, exceto no traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, reco-<br />

berto por vegetação rasteira. Observam-se também algumas espécies<br />

exóticas como gramíneas, ciprestes e fruteiras.<br />

Este local é um ponto chave para o manejo e fiscalização tanto <strong>do</strong><br />

<strong>Caminho</strong> quanto <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />

III. DA ESTIVA PRETA ATÉ A CACHOEIRINHA<br />

No marco inicial <strong>de</strong>ste trecho, encontramos as ruínas <strong>do</strong> “Fecha Nunca”,<br />

estabelecimento comercial da RJ 165, nos anos que prece<strong>de</strong>ram à constru-<br />

ção da ro<strong>do</strong>via Rio Santos - 1974, quan<strong>do</strong> esta ro<strong>do</strong>via era o único acesso<br />

terrestre a <strong>Paraty</strong>. Como diz o nome e a lenda, o Fecha Nunca ficava s<strong>em</strong>-<br />

pre aberto, com o café fumegante sobre o fogão a lenha, <strong>em</strong> um ponto da<br />

estrada on<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minava o frio, a garoa e a neblina.<br />

Neste setor o <strong>Caminho</strong> apresenta vários pontos notáveis, como as Sete<br />

Voltas, o Largo <strong>do</strong> Governo, a Toca <strong>do</strong> Zé Migué, as Trincheiras Verticais, a<br />

Lagoa Seca e o Viaduto. O trecho inicial, com cerca <strong>de</strong> um quilometro, está<br />

bastante <strong>de</strong>smantela<strong>do</strong> <strong>em</strong> razão da alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> terreno, da presen-<br />

ça <strong>de</strong> árvores enraizadas por entre as pedras, e <strong>de</strong> um pequeno curso da<br />

água que coinci<strong>de</strong> com o leito <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> vários segmentos.<br />

Aqui i<strong>de</strong>ntificamos o <strong>Caminho</strong> por seus sinais mais peculiares: o corte<br />

no barranco e as pedras enfileiradas marcan<strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong> junto à verten-<br />

te, ou vestígios <strong>do</strong> calçamento quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>scoberto pelo curso d água. O<br />

traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> geral acompanha a curva <strong>de</strong> nível, ou a cumeada<br />

<strong>do</strong> divisor <strong>de</strong> águas, por mais tênue que seja. A vegetação pre<strong>do</strong>minante no<br />

53


54<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte III – Sete<br />

Voltas<br />

inicio <strong>de</strong>ste setor é a floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa <strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> regenera-<br />

ção, com abundancia <strong>de</strong> arvores <strong>de</strong> pequeno porte e espécies arbustivas, e<br />

algumas maiores, <strong>em</strong> estagio médio, indican<strong>do</strong> uso antropico no passa<strong>do</strong>.<br />

5. Sete Voltas – Este trecho situa-se entre duas travessias da mesma<br />

cachoeira, on<strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre era construí<strong>do</strong> um pequeno arrimo sobre o<br />

leito <strong>do</strong> rio, para manter o nível <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>. Aqui encontramos um<br />

<strong>do</strong>s segmentos mais interessantes <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista da engenharia,<br />

pois, para vencer um trecho <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, foram construí<strong>do</strong>s<br />

sete verda<strong>de</strong>iros “cotovelos”, ou curvas com praticamente 90o, prote-<br />

gidas por gran<strong>de</strong>s muros <strong>de</strong> arrimo e guias <strong>de</strong> pedra para conduzir as<br />

águas pluviais, evitar a erosão e o posterior <strong>de</strong>sencaixe das pedras. O<br />

arrimo mais visível t<strong>em</strong> 5 m <strong>de</strong> comprimento e 2,40 <strong>de</strong> altura no seu<br />

ponto mais alto. Em seguida um trecho bastante erodi<strong>do</strong> mais uma<br />

vez faz <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> o leito <strong>do</strong> rio, interrompen<strong>do</strong> o ritmo harmônico<br />

da <strong>de</strong>scida. Outra travessia da cachoeira ocorre sobre um arrimo que<br />

praticamente fecha o leito <strong>do</strong> rio, indican<strong>do</strong> a presença <strong>de</strong> algum duto<br />

presumivelmente entupi<strong>do</strong>, pois a água corre pelos vãos das pedras<br />

encaixadas. A mata vai se a<strong>de</strong>nsan<strong>do</strong> <strong>em</strong> espécies arbóreas <strong>de</strong> maior<br />

porte, com ocorrência <strong>de</strong> epífitas e lianas, indican<strong>do</strong> estagio médio e<br />

avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> regeneração.


6. Largo <strong>do</strong> Governo – O <strong>Caminho</strong> então encontra menor <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong><br />

e torna-se largo e b<strong>em</strong> visível, com cerca <strong>de</strong> 8 m <strong>de</strong> largura, recoberto<br />

por pouca serrapilheira. A mata fica mais rica <strong>em</strong> espécies, o <strong>do</strong>ssel<br />

chega aos 20 metros, e nova travessia <strong>de</strong> um curso d água nos conduz<br />

ao Largo <strong>do</strong> Governo, verda<strong>de</strong>iro patamar com cerca <strong>de</strong> 600 m2, <strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong> parte calça<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedras, que se utilizava como ponto <strong>de</strong> para-<br />

da para a organização da carga e das tropas, b<strong>em</strong> como para <strong>de</strong>scan-<br />

so e alimentação <strong>do</strong>s tropeiros e viajantes. Neste local já encontramos<br />

mudas <strong>de</strong> palmeira juçara.<br />

7. Guarita – Deste trecho <strong>em</strong> diante a mata fica b<strong>em</strong> mais <strong>de</strong>nsa, com<br />

muitas arvores caídas sobre o <strong>Caminho</strong>, pois seu enraizamento por entre<br />

as pedras não sustenta os espécimes <strong>de</strong> maior porte, quan<strong>do</strong> das t<strong>em</strong>-<br />

pesta<strong>de</strong>s e ventanias mais fortes. Um pequeno alicerce à beira <strong>do</strong> Cami-<br />

nho parece indicar a existência <strong>de</strong> um posto <strong>de</strong> vigilância ou guarita.<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte III<br />

55


56<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte III – Zé Migué<br />

8. Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r – Quan<strong>do</strong> o <strong>Caminho</strong> faz uma curva b<strong>em</strong><br />

encaixada entre duas gran<strong>de</strong>s pedras, diz a lenda que o bandi<strong>do</strong> Zé<br />

Migué, também conheci<strong>do</strong> como “Boca <strong>de</strong> <strong>Ouro</strong>”, tocaiava as tropas,<br />

assustan<strong>do</strong> a mula “madrinha” (lí<strong>de</strong>r) que dispersava as d<strong>em</strong>ais e faci-<br />

litava a pilhag<strong>em</strong>. Em seguida um curso d’água faz <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> seu<br />

leito, que por um trecho <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 60 m <strong>em</strong> forte <strong>de</strong>clive encontra-<br />

se totalmente <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong>, com as pedras perfeitamente encaixadas.<br />

Este trecho <strong>de</strong>ve ser a razão <strong>do</strong> nome “Rola<strong>do</strong>r”, pois certamente era<br />

<strong>de</strong> passag<strong>em</strong> perigosa para os muares.Em um nicho entre as pedras<br />

encontramos antigas ferraduras, indican<strong>do</strong> por ali um ponto <strong>de</strong> manu-<br />

tenção da tropa <strong>de</strong> animais.<br />

9. Trincheiras Verticais – O <strong>Caminho</strong> segue com seu traça<strong>do</strong> bastante<br />

conserva<strong>do</strong> e visível, a cavaleiro <strong>do</strong> vale, agora se afastan<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio prin-<br />

cipal que <strong>de</strong>spenca serra abaixo. O <strong>Caminho</strong> segue <strong>em</strong> percurso <strong>de</strong> pou-<br />

ca <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, bastante <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong>, acompanhan<strong>do</strong> a curva <strong>de</strong> nivel.<br />

Três enormes trincheiras verticais com cerca <strong>de</strong> 80 cm <strong>de</strong> largura por 4<br />

m <strong>de</strong> altura e 3m <strong>de</strong> cava no barranco, <strong>em</strong> intervalos <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 30<br />

metros, à beira <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, indicam a realização <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong><br />

prospecção que estu<strong>do</strong>s posteriores po<strong>de</strong>rão elucidar melhor.<br />

10. Lagoa Seca – Subin<strong>do</strong> um pouco até quase o topo <strong>do</strong> morro, alcan-<br />

çamos a Lagoa Seca, que é na verda<strong>de</strong> um brejo situa<strong>do</strong> <strong>em</strong> um pata-<br />

mar, com cerca <strong>de</strong> 20 metros <strong>de</strong> largura por 40 metros <strong>de</strong> comprimen-<br />

to. Antes <strong>de</strong>la, um alicerce ou muro <strong>de</strong> arrimo com vários trechos


interrompi<strong>do</strong>s, totalizan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 60 m <strong>de</strong> comprimento, indica ves-<br />

tígios possivelmente <strong>de</strong> um quartel construí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1816, que abrigaria<br />

40 solda<strong>do</strong>s e um comandante. A Lagoa Seca <strong>de</strong>limita a divisa entre o<br />

sitio <strong>do</strong> pintor Julio <strong>Paraty</strong> e o sitio Cachoeirinha.<br />

11. Viaduto/Muro da Galeria – A partir da Lagoa Seca o percurso <strong>do</strong><br />

<strong>Caminho</strong> muda <strong>de</strong> micro bacia <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> (Córrego <strong>do</strong> Souza) e<br />

volta a <strong>de</strong>scer, <strong>sua</strong>v<strong>em</strong>ente, s<strong>em</strong> muita cobertura sobre as pedras, po-<br />

r<strong>em</strong> com muitas arvores caídas sobre seu percurso. Mudas <strong>de</strong> palmeira<br />

juçara se multiplicam e indicam melhor conservação da mata, on<strong>de</strong><br />

ocorr<strong>em</strong> touceiras esparsas <strong>de</strong> banana, indican<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> cultura<br />

que ali já foi <strong>de</strong>senvolvida. O <strong>Caminho</strong> não segue continuo <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

erosão <strong>em</strong> alguns trechos, e muda da vertente su<strong>do</strong>este para norte.<br />

Com o objetivo <strong>de</strong> prevenir <strong>de</strong>smoronamentos, gran<strong>de</strong>s muros <strong>de</strong> arrimo<br />

ali construí<strong>do</strong>s constitu<strong>em</strong> a principal característica <strong>de</strong>ste segmento. O pri-<br />

meiro, com cerca <strong>de</strong> 25 metros <strong>de</strong> comprimento por 8 metros <strong>de</strong> altura no<br />

maior trecho, é atravessa<strong>do</strong> por uma galeria <strong>de</strong> 1,5 m <strong>de</strong> altura, com cerca<br />

<strong>de</strong> 70 cm na base, que se estreita na parte superior. O segun<strong>do</strong> t<strong>em</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 60 m <strong>de</strong> comprimento, com cerca <strong>de</strong> 6 m <strong>de</strong> altura no trecho mais alto.<br />

Logo <strong>em</strong> seguida, uma nascente <strong>em</strong>erge <strong>em</strong> meio ao bananal e borbulha<br />

há mais <strong>de</strong> duzentos anos a cerca <strong>de</strong> 30 m abaixo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, ten<strong>do</strong> seu<br />

acesso totalmente calça<strong>do</strong> <strong>de</strong> pedra. Esta nascente marca o inicio <strong>do</strong> trecho<br />

<strong>de</strong> <strong>Caminho</strong> revitaliza<strong>do</strong> por Marcos e Rachel Ribas, <strong>do</strong> sitio Sh – Eco, que<br />

aqui <strong>de</strong>nominamos Cachoeirinha, o nome original.<br />

57<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte III – Lagoa<br />

Seca<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte III – Zé<br />

Migué<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Parte III<br />

– Viaduto


58<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Parte IV<br />

– <strong>Caminho</strong> Limpo e<br />

Prove<strong>do</strong>ria<br />

Neste setor a mata vai se tornan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong>nsa e mais alta conforme nos<br />

afastamos da ro<strong>do</strong>via. A floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa ocorre <strong>em</strong> estágios variá-<br />

veis <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel entre 10 e 20 m. A partir <strong>do</strong> Largo <strong>do</strong><br />

Governo encontramos mudas dispersas <strong>de</strong> palmeira juçara, cuja <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong><br />

vai aumentan<strong>do</strong> ate o sitio Cachoeirinha. A partir <strong>do</strong> Viaduto há a ocorrên-<br />

cia <strong>de</strong> touceiras <strong>de</strong> banana, que representam as culturas produtivas <strong>do</strong>s sí-<br />

tios que atravessamos, hoje praticamente aban<strong>do</strong>nadas neste local.<br />

Não foram <strong>de</strong>tecta<strong>do</strong>s sinais <strong>de</strong> animais silvestres durante este reconhe-<br />

cimento, mas os pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional<br />

listaram as espécies <strong>de</strong> flora e fauna registradas neste trecho.<br />

Este setor também se encontra totalmente inseri<strong>do</strong> no Parque Nacio-<br />

nal da Serra da Bocaina. Não exist<strong>em</strong> mora<strong>do</strong>res n<strong>em</strong> proprieda<strong>de</strong>s rurais<br />

produtivas.<br />

IV. CACHOEIRINHA ATÉ SEU ANTONIO<br />

Este setor está inseri<strong>do</strong> no Sitio Histórico Ecológico – Sh-Eco, <strong>do</strong> grupo<br />

Teatro Espaço, que realizou a limpeza, a prospecção arqueológica e a<br />

gestão eco turística da maior parte <strong>de</strong>ste trecho entre 1999 e 2005, abri-<br />

gan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 1500 m <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>. A divisa leste <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha<br />

(Sh-Eco), coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional. Dali para baixo, o<br />

local é conheci<strong>do</strong> como sitio <strong>do</strong> Seu Antonio.<br />

12 - <strong>Caminho</strong> limpo – Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi to<strong>do</strong> limpo e assim<br />

manti<strong>do</strong> entre 1999 e 2005, e encontra-se quase totalmente <strong>em</strong> per-<br />

feito esta<strong>do</strong>, com uma largura média <strong>de</strong> 4 metros e cerca <strong>de</strong> 800 m <strong>de</strong>


extensão, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong> maior parte, calça<strong>do</strong> durante o século<br />

XIX, já durante ciclo <strong>do</strong> Café. A característica mais marcante <strong>de</strong>sta<br />

obra <strong>de</strong> engenharia e cantaria é a disposição das guias que foram<br />

construídas ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o percurso. Estas guias formam um <strong>de</strong>-<br />

nivel provoca<strong>do</strong> pela disposição <strong>do</strong>s blocos <strong>de</strong> pedra, e direcionam as<br />

águas pluviais vertentes, <strong>de</strong> forma a <strong>de</strong>sviá-las <strong>do</strong> percurso das tropas,<br />

para assim proteger o calçamento da erosão, e foram dispostas a in-<br />

tervalos variáveis entre 30 e 50 m, conforme a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> e a necessi-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> direção <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>.<br />

13. Prove<strong>do</strong>ria/Registro – A Casa <strong>de</strong> Registro, como já foi <strong>de</strong>scrito aci-<br />

ma, era na pratica o Posto Alfan<strong>de</strong>gário <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Suas<br />

ruínas foram mapeadas e prospectadas, e o material encontra<strong>do</strong> foi<br />

to<strong>do</strong> cataloga<strong>do</strong> e entregue aos cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IPHAN.<br />

14. Campo das Nações – O Campo das Nações fica à direita <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>sce, logo abaixo das ruínas <strong>do</strong> Registro. Constitui –se por uma área<br />

coberta apenas por gramíneas e pequenas arvores dispersas, com cer-<br />

ca <strong>de</strong> 3 mil m², on<strong>de</strong> as tropas aguardavam para receber o visto para<br />

seguir viag<strong>em</strong>, e muitas vezes acabavam pernoitan<strong>do</strong> no local e reor-<br />

ganizan<strong>do</strong> a bagag<strong>em</strong>. Consta que o Prove<strong>do</strong>r tinha ali um pequeno<br />

comercio para aten<strong>de</strong>r e lucrar com os viajantes. Neste local o Sh-Eco<br />

montou um pequeno museu (atualmente <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong>), com os artefa-<br />

tos encontra<strong>do</strong>s na prospecção arqueológica, como pedaços <strong>de</strong> porce-<br />

lana, ferragens utilizadas pelas tropas e outros fragmentos, incluin<strong>do</strong><br />

um peso referencial. A partir <strong>do</strong> Campo das Nações a mata <strong>em</strong> recu-<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Parte IV<br />

– <strong>Caminho</strong> Limpo e<br />

Prove<strong>do</strong>ria<br />

59


60<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte IV – Berra<br />

Cabrito<br />

peração ce<strong>de</strong> lugar a pastagens, bananais, com manchas <strong>de</strong> floresta<br />

<strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> recuperação, e torna-se possível <strong>de</strong>sfrutar da pai-<br />

sag<strong>em</strong> da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. O <strong>Caminho</strong> segue serra abaixo no seu trecho<br />

<strong>de</strong> maior majesta<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> o interior <strong>do</strong> Parque Nacional na portei-<br />

ra <strong>de</strong> divisa <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha (Sh-Eco).<br />

15 . Pinga Pinga – da porteira <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha para baixo o percur-<br />

so se <strong>de</strong>senvolve no sitio <strong>do</strong> Seu Antonio. Consta que o <strong>Caminho</strong> seja<br />

majoritariamente construí<strong>do</strong> no século XVIII e posteriormente refor-<br />

ma<strong>do</strong> no século XIX. As pedras mais arre<strong>do</strong>ndadas, mais antigas, fo-<br />

ram <strong>em</strong>olduradas por blocos maiores, <strong>de</strong> formato mais retilíneo. A<br />

utilização <strong>de</strong> pólvora ficou registrada nos nichos on<strong>de</strong> o produto era<br />

coloca<strong>do</strong>, principalmente nos gran<strong>de</strong>s matacões situa<strong>do</strong>s à beira <strong>do</strong><br />

<strong>Caminho</strong>, que foram segmenta<strong>do</strong>s para permitir o calçamento <strong>do</strong> per-<br />

curso. O Pinga pinga é uma pequena bica d’água instalada junto a<br />

uma ponte <strong>de</strong> pedra com passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> galeria, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s blocos<br />

dispostos <strong>de</strong> forma a proporcionar assento para os viajantes, indicm<br />

ponto <strong>de</strong> parada e alimentação. A pedra da bica foi talhada para dire-<br />

cionar a passag<strong>em</strong> da água, que se esten<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> uma pequena<br />

cana <strong>de</strong> bambu. Posteriormente foram assenta<strong>do</strong>s alguns tijolos, per-<br />

pendicularmente à canaleta <strong>de</strong> pedra.<br />

16. Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito – neste local o <strong>Caminho</strong> fica mais estreito,<br />

pois se encaixa, <strong>em</strong> uma curva, entre enormes matacoes que foram<br />

parcialmente estoura<strong>do</strong>s para permitir o calçamento. A toca <strong>do</strong> Berra<br />

Cabrito é um gran<strong>de</strong> bloco <strong>de</strong> pedra que permite abrigo para umas 2<br />

pessoas. Alguns blocos assenta<strong>do</strong>s chegam a 2 metros <strong>de</strong> comprimen-<br />

to ou largura neste trecho entre a porteira <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha e o<br />

sitio <strong>do</strong> Seu Antonio.


17. Canela Fe<strong>do</strong>renta – Entre o Berra Cabrito e a Canela Fe<strong>do</strong>renta (ár-<br />

vore <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> canela que exala um o<strong>do</strong>r<br />

<strong>de</strong>sagradável quan<strong>do</strong> ume<strong>de</strong>cida pela chuva), encontramos o trecho<br />

melhor conserva<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste setor, com cerca <strong>de</strong> 6 metros <strong>de</strong> largura por<br />

uns 80 metros <strong>de</strong> comprimento.<br />

18. Mirante – Entre a Canela Fe<strong>do</strong>renta e os arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Mirante o Ca-<br />

minho encontra-se mais danifica<strong>do</strong> pelo aumento da <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, e<br />

também <strong>em</strong> alguns trechos recoberto pela serrapilheira e até por tou-<br />

ceiras <strong>de</strong> banana e terra, não sen<strong>do</strong> portanto totalmente visível. O<br />

mirante é um ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>em</strong> uma curva <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sfruta a<br />

paisag<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong> e da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

19. Sitio <strong>do</strong> Seu Antonio – Do Mirante até a entrada da pousada Ava-<br />

lonia, que coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> sitio <strong>do</strong> Seu Antonio e o final da<br />

estrada cimentada pela prefeitura <strong>em</strong> 2004, o <strong>Caminho</strong>, <strong>do</strong> século<br />

XVIII, percorre terreno <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, encontran<strong>do</strong>-se mais es-<br />

treito, encaixa<strong>do</strong> entre barrancos e blocos <strong>de</strong> pedra, alternan<strong>do</strong> tre-<br />

chos visíveis com outros, enterra<strong>do</strong>s sob a terra, a serrapilheira e tou-<br />

ceiras <strong>de</strong> banana.<br />

Em to<strong>do</strong> este setor, <strong>de</strong> maior ação antrópica, a mata mais <strong>de</strong>nsa ce<strong>de</strong> lugar<br />

àquela <strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> recuperação, mesclada com touceiras <strong>de</strong> bana-<br />

na, pastagens e a pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> espécies arbustivas ou pioneiras como<br />

quaresmeiras, <strong>em</strong>baúbas e jacatirões, <strong>de</strong>ntre outras <strong>de</strong> porte médio e <strong>do</strong>s-<br />

sel ate 10 m <strong>de</strong> altura na media.<br />

Na maior parte <strong>do</strong> percurso po<strong>de</strong>-se vislumbrar a paisag<strong>em</strong> da serra e da<br />

baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, proporcionan<strong>do</strong> uma visão que chega a <strong>em</strong>ocionar pela<br />

forte presença <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> toda <strong>sua</strong> plenitu<strong>de</strong>, a <strong>em</strong>anar imagens <strong>do</strong><br />

61<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte IV – Berra<br />

Cabrito


62<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte V<br />

passa<strong>do</strong> e a associação ao momento histórico marcante representa<strong>do</strong> pelos<br />

ciclos <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> e <strong>do</strong> Café.<br />

O Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional indica para este setor a instala-<br />

ção <strong>de</strong> museu aberto<br />

V – SEU ANTONIO ATÉ MARCO DA SESMARIA<br />

Este trecho é constituí<strong>do</strong> por uma pequena estrada municipal, a estrada<br />

<strong>do</strong>s Martins,na verda<strong>de</strong> um braço da estrada <strong>do</strong> Souza - que começa e<br />

termina na ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha. Este segmento foi pavimenta<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

2004, com duas faixas paralelas <strong>de</strong> cimento para permitir o acesso a veícu-<br />

los automotores. Seu traça<strong>do</strong> t<strong>em</strong> a mesma direção que o <strong>Caminho</strong>, e<br />

corta o seu percurso <strong>em</strong> 2 trechos. O <strong>Caminho</strong> está enterra<strong>do</strong> sob o bana-<br />

nal e pastagens na maior parte <strong>de</strong>ste setor, ocupa<strong>do</strong> pelo sitio <strong>do</strong> Seu An-<br />

tonio (faleci<strong>do</strong>), <strong>do</strong> Seu Oliveira e por algumas moradias <strong>de</strong> pequeno porte,<br />

totalizan<strong>do</strong> 6 edificações, todas elas dispostas ao longo da estrada munici-<br />

pal. A cobertura vegetal se alterna entre bananais on<strong>de</strong> foram plantadas<br />

palmeiras juçara (que já estão adultas), a pastag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Seu Oliveira, peque-<br />

nos cultivos e pomares.<br />

19. Pouso <strong>do</strong> Souza – No Pouso <strong>do</strong> Souza havia uma estalag<strong>em</strong> on<strong>de</strong> se<br />

hospedavam fidalgos e damas nos séculos XVIII e XIX. Localiza-se à<br />

direita <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>sce pelo <strong>Caminho</strong>, <strong>em</strong> área plana, coberta por gra-<br />

míneas, com cerca <strong>de</strong> 2000 m2, no meio <strong>de</strong> um bananal, e o único<br />

vestígio visível é um muro <strong>de</strong> arrimo situa<strong>do</strong> entre o grama<strong>do</strong> e o ba-


nanal, com cerca <strong>de</strong> 12 m <strong>de</strong> comprimento por 1.60 m <strong>de</strong> altura, ca-<br />

mufla<strong>do</strong> pelo mato.<br />

20. Marco da Sesmaria – No pequeno pasto <strong>do</strong> sitio <strong>do</strong> Seu Oliveira o<br />

<strong>Caminho</strong>, que segue mais sinuoso, na mesma direção que a estrada, é<br />

parcialmente visível sob as gramineas. Ali, à esquerda <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>sce,<br />

uma gran<strong>de</strong> pedra foi entalhada com o Marco da Sesmaria.<br />

VI – MARCO DE SESMARIA ATÉ O BAIRRO DOS PENHA – 2KM<br />

Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi totalmente limpo entre 2003 e 2004, e está sob<br />

a manutenção e operação turística <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, por meio da Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. O Cami-<br />

nho aqui foi quase totalmente construí<strong>do</strong> na cumeeira <strong>do</strong> morro, no século<br />

XVIII, e reforma<strong>do</strong> no século XIX. A área é constituída por 3 proprieda<strong>de</strong>s<br />

rurais sen<strong>do</strong> a primeira <strong>do</strong> próprio Seu Oliveira, seguida por por outra <strong>de</strong><br />

um proprietário <strong>de</strong> São Paulo, e no final a da família Penha, que <strong>de</strong>u ori-<br />

g<strong>em</strong> ao bairro <strong>do</strong> mesmo nome, on<strong>de</strong> fica o Marco inicial da Estrada Real,<br />

implanta<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2003.<br />

O <strong>Caminho</strong> inicia no mesmo patamar <strong>do</strong> Marco da Sesmaria, muito<br />

b<strong>em</strong> conserva<strong>do</strong> mas, mais estreito, com 2,5 m <strong>de</strong> largura e até menos.<br />

Segue pela cumeada por um trecho enterra<strong>do</strong> sob um pequeno campo <strong>de</strong><br />

futebol, (utiliza<strong>do</strong> pela comunida<strong>de</strong> local), continua por alguns metros,<br />

on<strong>de</strong> apresenta uma belíssima guia, com enormes blocos, muito b<strong>em</strong> en-<br />

caixa<strong>do</strong>s, junto a um gran<strong>de</strong> matacão <strong>de</strong> granito, que forma um verda<strong>de</strong>iro<br />

mirante natural. O <strong>Caminho</strong> se dissipa, s<strong>em</strong> que tenham si<strong>do</strong> encontra<strong>do</strong>s<br />

vestígios <strong>de</strong> calçamento, <strong>em</strong> um trecho <strong>de</strong> <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> mínima, <strong>em</strong> meio a<br />

um bananal. Recomeça ao iniciar a <strong>de</strong>scida, e quan<strong>do</strong> aumenta o <strong>de</strong>clive,<br />

<strong>de</strong>saparece <strong>em</strong> uma curva, após alguns <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> pedra. Na continuação<br />

morro abaixo, o traça<strong>do</strong> foi protegi<strong>do</strong> por estivas (troncos roliços <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>i-<br />

ra dispostos perpendicularmente à trilha), que formam uma escadaria <strong>de</strong><br />

largos <strong>de</strong>graus <strong>de</strong> terra, <strong>de</strong>stinada a prevenir a erosão e a enxurrada. Al-<br />

guns corrimões <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira roliça foram instala<strong>do</strong>s ao longo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />

para proteger o visitante <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes durante a <strong>de</strong>scida.<br />

Este percurso indica perfeitamente momentos distintos e surpreen<strong>de</strong>n-<br />

tes <strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento pela engenharia da época, s<strong>em</strong>pre com <strong>de</strong>sta-<br />

que para as belíssimas e até imponentes guias <strong>de</strong> escoamento, b<strong>em</strong> como<br />

para a visibilida<strong>de</strong> das obras <strong>de</strong> contenção e manutenção <strong>do</strong> seu traça<strong>do</strong>,<br />

63


64<br />

quan<strong>do</strong> o calçamento <strong>do</strong> século XVIII, mais antigo e tosco, constituí<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

pedras mais arre<strong>do</strong>ndadas, <strong>de</strong> outra constituição, mais arenosas, foi prati-<br />

camente <strong>em</strong>oldura<strong>do</strong> pelos blocos <strong>de</strong> granito mais retilíneos e regulares,<br />

muitos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensões, chegan<strong>do</strong> a 2 metros <strong>de</strong> largura ou compri-<br />

mento, assenta<strong>do</strong>s no século XIX.<br />

O <strong>Caminho</strong> serpenteia morro abaixo, e o calçamento forma verda<strong>de</strong>iros<br />

zigue-zagues, que iniciam s<strong>em</strong>pre com uma <strong>de</strong>stas guias. Em <strong>de</strong>terminada<br />

curva, o <strong>Caminho</strong> é a própria guia, que se <strong>de</strong>senvolve por mais <strong>de</strong> 30 metros,<br />

ten<strong>do</strong> uma a mesma largura que o outro, totalizan<strong>do</strong> quase 4 metros.<br />

Dois enormes troncos caí<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> um <strong>de</strong> Jequitibá, atestam a verda-<br />

<strong>de</strong>ira dimensão da Mata Atlântica no passa<strong>do</strong>, no seu esta<strong>do</strong> primário,<br />

apresentan<strong>do</strong> diâmetros que não foram observadas <strong>em</strong> nenhum espécime<br />

vivo durante a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> percorri<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o alto da serra, à<br />

exceção <strong>de</strong> um outro Jequitibá (<strong>em</strong> pé) que se divisa ao norte <strong>do</strong> Mirante<br />

próximo ao campo <strong>de</strong> futebol.<br />

Não pod<strong>em</strong>os nos esquecer que to<strong>do</strong> o casario <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, b<strong>em</strong> como<br />

<strong>sua</strong>s igrejas, foram construí<strong>do</strong>s com ma<strong>de</strong>iras nobres, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimen-<br />

sões, retiradas justamente <strong>de</strong>sta floresta, utilizadas como esteios, vigas, cai-<br />

bros, assoalhos e matéria prima para to<strong>do</strong> o mobiliário, b<strong>em</strong> como para as<br />

<strong>em</strong>barcações e canoas <strong>de</strong> voga, que chegavam a quase 2 metros <strong>de</strong> boca.<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>de</strong>sce continuo por centenas <strong>de</strong> metros, e somente foi inter-<br />

rompi<strong>do</strong>, r<strong>em</strong>ovi<strong>do</strong> ou recoberto quan<strong>do</strong> corta<strong>do</strong> pela outra extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong><br />

da estrada <strong>do</strong> Souza, que novamente encontra a <strong>Paraty</strong>/Cunha. Deste pon-<br />

to <strong>em</strong> diante seu traça<strong>do</strong> original seguia para o chama<strong>do</strong> “poço <strong>do</strong> Tar-<br />

zan”, já no bairro <strong>do</strong>s Penha. Neste local atualmente existe uma ponte es-<br />

truturada por cabos <strong>de</strong> aço, que, segun<strong>do</strong> consta, estão ancora<strong>do</strong>s junto às<br />

cabeceiras da Ponte <strong>do</strong> Registro. Uma variante construída no século XIX,<br />

que é atualmente o caminho principal, segue diretamente da estrada <strong>do</strong><br />

Souza para o Marco inicial da Estrada Real (instala<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2003), junto à<br />

escola <strong>do</strong>s Penha, que funciona também como base para a visitação publi-<br />

ca ao <strong>Caminho</strong>, no campinho da igreja, a 9 km da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

Neste setor, a encosta su<strong>do</strong>este encontra-se quase totalmente recoberta<br />

por mata secundaria <strong>em</strong> estágio inicial <strong>de</strong> recuperação, a chamada “mace-<br />

ga”, enquanto o seu reverso, marca<strong>do</strong> exatamente pela cumeeira <strong>do</strong> divi-<br />

sor <strong>de</strong> águas, constitui uma pastag<strong>em</strong>. Esta situação ambiental é bastante<br />

comum nesta região: o uso antrópico das encostas direcionadas para a face


sul foi menos intenso, pois aquelas voltadas para norte receb<strong>em</strong> maior in-<br />

solação e são portanto mais a<strong>de</strong>quadas para a agricultura e agropecuária.<br />

Como este caminho foi utiliza<strong>do</strong>, mesmo que <strong>de</strong> forma incipiente até os<br />

anos 1950/1960, para manter a via trafegável, era costume cortar a vegetação<br />

a longo da estrada para mantê-la ensolarada e seca. Assim foi apenas <strong>de</strong>pois<br />

da criação <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina <strong>em</strong> 1971 que essa prática<br />

foi abolida. Des<strong>de</strong> então a mata v<strong>em</strong> se recuperan<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong>ssa rota.<br />

Ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> este percurso a equipe <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização e os<br />

guias plantaram mudas <strong>de</strong> essências nativas, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacam as palmeiras<br />

juçara. O objetivo é a recomposição da cobertura florestal, b<strong>em</strong> como pro-<br />

porcionar sombra aos visitantes e garantir a estabilida<strong>de</strong> da encosta.<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> foi classifica<strong>do</strong> como patrimônio nacional <strong>em</strong> 1º <strong>de</strong><br />

Março <strong>de</strong> 1974, junto com to<strong>do</strong> Município por meio <strong>do</strong> Processo nº 563-<br />

T-57 IPHAN, LAEP inscrição 63 e LBA inscrição 510. A área core <strong>de</strong>sta pro-<br />

posta, inicia <strong>do</strong> Marco <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, no bairro Penha a 8,5 km <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong> ( S 23º 12’ 9” W 44º 47’6” ) e segue serra acima por cerca <strong>de</strong><br />

11.700 m, até a divisa com o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo (S 23º 10’03” W 44º<br />

50’39”), está inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong> uma faixa <strong>de</strong> 60 metros <strong>de</strong> largura cujo eixo é a<br />

linha central <strong>do</strong> caminho, com 30 m <strong>de</strong> cada la<strong>do</strong>, à exceção <strong>de</strong> um largo<br />

que abrange o patamar <strong>do</strong> Pouso <strong>do</strong> Souza<br />

Centro Histórico (2)<br />

ENQUADRAMENTO URBANO<br />

O Centro Histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi implanta<strong>do</strong> entre as <strong>em</strong>bocaduras <strong>do</strong>s<br />

rios Perequê-Açu a N. e Mateus Nunes ou Patitiba a S., <strong>em</strong> zona <strong>de</strong> planí-<br />

cie formada por sedimentação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos aluviais e marítimos. A planí-<br />

cie confronta imediatamente com o teci<strong>do</strong> urbano <strong>do</strong> bairro <strong>de</strong> Fátima a<br />

O. e com o bairro <strong>de</strong> Patitiba a SO. Na outra marg<strong>em</strong> <strong>do</strong> rio Perequê-Açu,<br />

a N. <strong>do</strong> Centro Histórico, localizam-se o Hospital da Santa Casa da Mise-<br />

ricórdia (v. e, no cimo <strong>do</strong> morro, o Forte <strong>do</strong> Defensor Perpétuo. O clima é<br />

> P.A.– Vista aérea <strong>do</strong><br />

Centro Histórico<br />

65


66<br />

> Antiga Ca<strong>de</strong>ia<br />

pre<strong>do</strong>minant<strong>em</strong>ente tropical, quente e úmi<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> estação seca, com<br />

t<strong>em</strong>peratura média <strong>de</strong> 27º C. Envolvente rica <strong>em</strong> recursos naturais, flores-<br />

tais e piscícolas.<br />

DESCRIÇÃO<br />

Conjunto urbano apresenta traça<strong>do</strong> reticula<strong>do</strong> adapta<strong>do</strong> às condições es-<br />

pecíficas <strong>do</strong> local e <strong>do</strong> terreno. Com duas direções principais, que todas as<br />

ruas segu<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma forma aproximada, mas não muito rigorosa. Exist<strong>em</strong><br />

sete ruas orientadas segun<strong>do</strong> a direção E./O. e seis Ruas <strong>de</strong> orientação N./S,<br />

não <strong>de</strong>notan<strong>do</strong> uma retilinearida<strong>de</strong> muito acentuada e varian<strong>do</strong> <strong>de</strong> largura<br />

<strong>em</strong> cada quarteirão, com um máximo <strong>de</strong> 12 m. e um mínimo <strong>de</strong> 4,5 m.<br />

O traça<strong>do</strong> urbano foi estrutura<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> séc. XVIII. As dire-<br />

ções estruturantes são o caminho que ligava as duas principais igrejas, a<br />

Matriz e a <strong>de</strong> Santa Rita, e o caminho <strong>de</strong> entrada na cida<strong>de</strong> proveniente da<br />

serra. Deste último terá havi<strong>do</strong> duas ramificações junto à povoação, que<br />

<strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong> a duas Ruas paralelas: a Rua da Ca<strong>de</strong>ia e a Rua da Ferraria,<br />

ambas <strong>de</strong>cisivas na vida urbana no final <strong>do</strong> século XVIII e XIX. A hierarquia<br />

viária não é evi<strong>de</strong>nte, haven<strong>do</strong> eixos que pela <strong>sua</strong> largura, extensão e loca-<br />

lização se <strong>de</strong>stacam na morfologia urbana. A Rua <strong>do</strong> Comércio, a Rua Dona<br />

Geralda e a Rua da Praia são os principais eixos<br />

N./S. b<strong>em</strong> como a Rua da Ca<strong>de</strong>ia e a Rua da Lapa,<br />

E./O.. As quatro praças existentes são todas perifé-<br />

ricas e têm como característica comum abrir um ou<br />

<strong>do</strong>is <strong>do</strong>s la<strong>do</strong>s ao mar ou ao rio.<br />

A maior e mais importante, a Praça da Matriz, <strong>de</strong><br />

forma retangular, é <strong>de</strong>limitada a Sul pela Rua da Ca-<br />

<strong>de</strong>ia, a Norte pela Rua da Capela, a Oeste pela Rua<br />

da Matriz e a Leste pela Rua Dona Geralda. Como a<br />

toponímia indica é on<strong>de</strong> se localiza a Igreja Matriz e<br />

se concentra a vida social <strong>do</strong> chama<strong>do</strong> “Bairro His-<br />

tórico”, com incidência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s resi<strong>de</strong>nciais e<br />

comercias, como restaurantes e bares. A praça en-<br />

contra-se parcialmente arborizada e ajardinada.<br />

A praça <strong>de</strong> Santa Rita, com a Igreja <strong>de</strong> Santa Rita<br />

e o edifício da Antiga Ca<strong>de</strong>ia, que hoje funciona<br />

como Biblioteca e o Instituto Histórico e Artístico


<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, repre-<br />

senta uma das<br />

imagens símbolo<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. De for-<br />

ma triangular, é <strong>de</strong>-<br />

limitada pelas ruas <strong>de</strong><br />

Santa Rita a Norte e pela<br />

travessa <strong>de</strong> Santa Rita a<br />

Oeste, abrin<strong>do</strong>-se à baía a Su<strong>de</strong>s-<br />

te.. Próxima <strong>de</strong>sta, a Praça da Ban<strong>de</strong>ira é um<br />

importante espaço <strong>de</strong> circulação, uma vez que aqui se encontram impor-<br />

tantes infra-estruturas da cida<strong>de</strong> tais como o merca<strong>do</strong> e o porto marítimo<br />

- on<strong>de</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos se dava uma intensa ativida<strong>de</strong> comercial, e hoje para<br />

além das <strong>em</strong>barcações pesqueiras, <strong>em</strong>barcam e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barcam diariamente<br />

centenas <strong>de</strong> turistas para passeios na baía. A praça apresenta uma forma<br />

triangular igualmente aberta ao mar, e t<strong>em</strong> acesso pela Rua da Praia, que a<br />

<strong>de</strong>limita a Oeste e pela Rua Fresca. Neste trecho da Rua da Praia é evi<strong>de</strong>nte<br />

a concentração da ativida<strong>de</strong> comercial, pela pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> edificações<br />

térreas - armazéns, só com portas. Também na Rua <strong>do</strong> Comércio é elevada<br />

a concentração das edificações térreas –armazéns, <strong>de</strong> caráter comercial e<br />

<strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s com o piso térreo ocupa<strong>do</strong> com lojas e armazéns.<br />

A praça da Capelinha, on<strong>de</strong> se encontra a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora das<br />

Dores, é a menor e a menos vivida apesar da <strong>sua</strong> localização ribeirinha, com<br />

o mar a Leste e o rio Perequê-Açu a Norte. T<strong>em</strong> acesso pela Rua da Capela<br />

e pela Rua Fresca. Exist<strong>em</strong> ainda mais <strong>do</strong>is espaços públicos, <strong>de</strong> caracterís-<br />

ticas particulares.<br />

A praça <strong>do</strong> Chafariz é a principal das três “portas <strong>de</strong> entrada” para o<br />

“Bairro Histórico”, fazen<strong>do</strong> a transição <strong>de</strong>sta zona com os d<strong>em</strong>ais bairros<br />

que se <strong>de</strong>senvolveram a Oeste. É um importante ponto <strong>de</strong> transição, on<strong>de</strong><br />

se localizam alguns serviços <strong>de</strong> apoio ao turismo. T<strong>em</strong> forma quadrangular,<br />

com um chafariz central e uma área arborizada. As outras “entradas” são<br />

a ponte sobre o rio Perequê-Açu, que <strong>de</strong>s<strong>em</strong>boca na Rua <strong>do</strong> Comércio e<br />

permite o acesso Norte, e o ancora<strong>do</strong>uro marítimo.<br />

O largo <strong>do</strong> Rosário é um espaço residual que se <strong>de</strong>senvolve nos fun<strong>do</strong>s<br />

da igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário e São Benedito, e não <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha<br />

um papel relevante ao nível formal ou social.<br />

> Príncipe <strong>de</strong> Wied<br />

- Viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> tropa no<br />

interior <strong>do</strong> Brasil.<br />

67


68<br />

> IHAP – Igreja Matriz<br />

N.S. <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios, cerca<br />

<strong>de</strong> 1950<br />

A Rua Dona Geralda, antiga Rua <strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>staca-se pelo número con-<br />

si<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s nobres, <strong>de</strong> que é ex<strong>em</strong>plo aquele <strong>em</strong> que funciona a<br />

Casa da Cultura e da Música, data<strong>do</strong> <strong>do</strong> séc. XVIII. Os quarteirões apresen-<br />

tam diferentes dimensões e formas trapezoidais, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma ligeira<br />

curvatura das ruas Norte/Sul..<br />

A cida<strong>de</strong> caracteriza-se pela <strong>sua</strong> homogeneida<strong>de</strong>, com um espaço cons-<br />

truí<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> e frentes <strong>de</strong> ruas contínuas, aspecto reforça<strong>do</strong><br />

pela inexistência <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s edifícios <strong>de</strong> arquitetura civil pública que se<br />

<strong>de</strong>staqu<strong>em</strong> <strong>do</strong> restante edifica<strong>do</strong>, que é composto principalmente por ar-<br />

quitetura civil privada e pontua<strong>do</strong> por arquitetura religiosa.<br />

A malha edificada tomou a <strong>sua</strong> forma compacta no segun<strong>do</strong> quartel <strong>do</strong><br />

século XIX ten<strong>do</strong> manti<strong>do</strong> essa característica até hoje. O teci<strong>do</strong> intra-urba-<br />

no, que revela um plano regula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rigor, é constituí<strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mi-<br />

nant<strong>em</strong>ente por lotes estreitos e fun<strong>do</strong>s, na parte central e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s di-<br />

mensões nas áreas periféricas, to<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong>s para os logra<strong>do</strong>uros. Os<br />

logra<strong>do</strong>uros periféricos sofreram alguma ocupação ao longo <strong>do</strong> séc. XX.<br />

O perfil <strong>do</strong> conjunto edifica<strong>do</strong> é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> discre-<br />

ta a presença <strong>do</strong>s quatro edifícios religiosos existentes na cida<strong>de</strong>.<br />

A igreja matriz é o edifício <strong>de</strong> maiores dimensões <strong>do</strong> centro histórico, a<br />

atual edificação foi iniciada <strong>em</strong> 1787, sen<strong>do</strong> a terceira da vila. Sua constru-<br />

ção levou quase um século, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> inaugurada <strong>em</strong> 7 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong><br />

1873. A fachada <strong>de</strong> é dividida por pilares e cunhais <strong>de</strong> cantaria, possui<br />

frontão triangular <strong>em</strong> linhas retas com óculo central e cruz <strong>de</strong> ferro. Se so-<br />

bressai no conjunto arquitetônico por <strong>sua</strong> imponência e sobrieda<strong>de</strong>. Com<br />

nave e <strong>do</strong>is corre<strong>do</strong>res laterais. Destacam-se internamente os retábulos das<br />

capelas <strong>do</strong> século XVIII, provavelmente da edificação anterior, e a pia batis-<br />

mal <strong>em</strong> mármore, <strong>do</strong> século XVII.


69<br />

> PDT - Matriz N.S. <strong>do</strong>s<br />

R<strong>em</strong>édios, 2003


70<br />

> PDT– Igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Rita, 2003<br />

A igreja <strong>de</strong> Santa Rita, a segunda mais importante, foi construída <strong>em</strong> 1722.<br />

A fachada, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> equilíbrio formal possui 3 janelas no coro, uma porta,<br />

frontão curvo e uma torre na lateral. Os <strong>em</strong>olduramentos da porta, janelas,<br />

<strong>do</strong> óculo, pilares e cunhais são <strong>em</strong> cantaria esculpida. De nave única, apre-<br />

senta no interior o altar-mor com colunas salomônicas e la<strong>de</strong>an<strong>do</strong> o fron-<br />

tão, os únicos anjos orantes <strong>em</strong> altares, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Possui ainda <strong>do</strong>is altares<br />

colaterais e lavatórios <strong>de</strong> cantaria. O corre<strong>do</strong>r lateral que serve <strong>de</strong> ligação<br />

entre a sacristia e a torre, é aberto para um pátio interno circunda<strong>do</strong> por<br />

colunas toscas. O c<strong>em</strong>itério <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> columbário foi construí<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX e ocupa uma das extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s.


A Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores, <strong>de</strong> pequenas dimensões, foi constru-<br />

ída <strong>em</strong> 1800, marcam a <strong>sua</strong> presença pelas torres sineiras respectivas que<br />

r<strong>em</strong>atam fachadas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> e equilíbrio, com 2 janelas no coro<br />

e uma porta. As vergas curvas, simples, lhes dá um aspecto bastan-<br />

te arcaico para a data <strong>em</strong> que foi feita. O mesmo po<strong>de</strong> ser<br />

dito <strong>do</strong> frontão e <strong>do</strong> terminal <strong>do</strong> campanário, bul-<br />

boso. As janelas <strong>de</strong> balcão da fachada lateral<br />

possu<strong>em</strong> gra<strong>de</strong>s abauladas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira traba-<br />

lhada. Destacam-se, no interior, o teto <strong>de</strong> ma-<br />

<strong>de</strong>ira apainela<strong>do</strong>, o rendilha<strong>do</strong> das sacadas e o<br />

lustre <strong>de</strong> cristal junto ao coro. Nos fun<strong>do</strong>s possui<br />

um columbário que circunda o pátio interno,<br />

com um poço central.<br />

71<br />

> R. A. – Igreja <strong>de</strong> N.S.<br />

das Dores


72<br />

> IPHAN – Igreja N.S.<br />

<strong>do</strong> Rosário, início <strong>do</strong><br />

século XX<br />

A igreja <strong>do</strong> Rosário teve <strong>sua</strong> construção iniciada <strong>em</strong> 1725. A fachada é<br />

rústica, apresenta 2 janelas na altura <strong>do</strong> coro e uma porta ao centro, enci-<br />

mada por um frontão triangular com um óculo, e uma sineira na lateral<br />

direita, também coroada por um frontão triangular. A igreja apresenta nave<br />

única e um corre<strong>do</strong>r na lateral direita <strong>de</strong> construção posterior. Possui nos<br />

altares <strong>de</strong> São Benedito e São João retábulos <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira entalhada, poli-<br />

cromada e <strong>do</strong>urada. É consi<strong>de</strong>rada a mais importante talha das igrejas <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong>, <strong>de</strong> sóbria elegância e unida<strong>de</strong> formal, <strong>de</strong>stoan<strong>do</strong> <strong>do</strong> altar principal,<br />

executa<strong>do</strong> posteriormente.


A imag<strong>em</strong> da cida<strong>de</strong> é <strong>do</strong>minada pelo relevo que a envolve e pela vegeta-<br />

ção composta por árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, como as palmeiras, que proli-<br />

feram nos logra<strong>do</strong>uros. O conjunto compreen<strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 500 imóveis que,<br />

à exceção da arquitetura religiosa, obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> a regras formais e funcionais<br />

b<strong>em</strong> patentes nos volumes e fachadas. As construções são geralmente ge-<br />

minadas e alinhadas pela frente <strong>de</strong> Rua, com telha<strong>do</strong>s <strong>em</strong> duas águas e a<br />

cumeeira paralela à fachada principal, e pare<strong>de</strong>s laterais <strong>em</strong> <strong>em</strong>pena. Nas<br />

esquinas os telha<strong>do</strong>s são <strong>de</strong> três águas. Muito comuns, nas coberturas <strong>do</strong>s<br />

sobra<strong>do</strong>s, são os mirantes e sótãos com águas furtadas.<br />

A geometria simples da composição urbana é realçada por uma arquite-<br />

tura que utiliza gran<strong>de</strong>s panos cegos <strong>de</strong> alvenaria, simplesmente reboca<strong>do</strong>s<br />

e caia<strong>do</strong>s ou alternâncias <strong>de</strong> cheios e vazios que imprim<strong>em</strong> à paisag<strong>em</strong><br />

natural envolvente o ritmo característico da ação humana. As filigranas<br />

<strong>de</strong>corativas, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, são percebidas apenas quan<strong>do</strong> com<br />

a proximida<strong>de</strong> <strong>do</strong> observa<strong>do</strong>r, quan<strong>do</strong> se torna íntimo da vila. No vocabu-<br />

lário arquitetônico <strong>do</strong>minante <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> alternam-se ex<strong>em</strong>plares, r<strong>em</strong>anes-<br />

centes das primeiras décadas <strong>do</strong> século XVIII, que se caracterizam pela ro-<br />

bustez e simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento, uma gran<strong>de</strong> parte já <strong>do</strong> século XIX. A<br />

unida<strong>de</strong> entre os imóveis é dada também pela pintura que os uniformiza.<br />

Os vãos são colori<strong>do</strong>s <strong>em</strong> padrões herda<strong>do</strong>s da tradição portuguesa. Ocre,<br />

sangue <strong>de</strong> boi, azul ultramar, ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong>staca-se contra o branco das pare-<br />

<strong>de</strong>s caiadas e o fun<strong>do</strong> ver<strong>de</strong> da Serra <strong>do</strong> Mar.<br />

O conjunto apresenta-se <strong>em</strong> <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> edificações, o sobra<strong>do</strong> e a<br />

casa térrea correspon<strong>de</strong>ntes a proprietários <strong>de</strong> camadas sociais e ativida<strong>de</strong>s<br />

73<br />

> A.M. – Casas particulares


74<br />

> Casa <strong>do</strong>s Gerânios<br />

distintas. Os pequenos comerciantes, <strong>em</strong> edificações <strong>de</strong> piso térreo, viviam<br />

nos fun<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s armazéns que eram s<strong>em</strong>pre volta<strong>do</strong>s para os logra<strong>do</strong>uros.<br />

Os comerciantes abasta<strong>do</strong>s ou tinham casa própria para habitação fora da<br />

cida<strong>de</strong>, ou viviam no sobra<strong>do</strong> on<strong>de</strong> tinham o estabelecimento. Os sobra<strong>do</strong>s<br />

têm <strong>do</strong>is pisos, sen<strong>do</strong> o piso térreo <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s ao comércio – armazéns <strong>de</strong><br />

merca<strong>do</strong>rias, ou instalações <strong>de</strong> apoio ao piso superior, ocupa<strong>do</strong> pela habi-<br />

tação. Os homens ricos seriam proprietários <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>s enquanto as casas<br />

térreas seriam <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s e famílias menos abastadas.<br />

Há gran<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minância da casas unifamiliares.<br />

As plantas das edificações possu<strong>em</strong> tipologia que pod<strong>em</strong> ser distingui-<br />

das pelo número <strong>de</strong> vãos da fachada. A tipologia interna das construções<br />

obe<strong>de</strong>cia a um programa que ainda subsiste, com uma organização funcio-<br />

nal b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finida. Na frente abr<strong>em</strong>-se para a Rua os armazéns e as salas <strong>de</strong><br />

visita, só com portas no primeiro caso e com portas e janelas no segun<strong>do</strong>;<br />

a sala <strong>de</strong> jantar ocupava o cômo<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fun<strong>do</strong>s, ponto <strong>de</strong> reunião das famí-<br />

lias, fican<strong>do</strong> a sala <strong>de</strong> visitas reservada para ocasiões especiais. Na parte<br />

central, ficavam as alcovas. A porta da rua s<strong>em</strong>pre conduz a um corre<strong>do</strong>r.<br />

Se as alcovas e salas se situam apenas <strong>de</strong> um la<strong>do</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r, t<strong>em</strong>-se casas<br />

com até três vãos na fachada; quan<strong>do</strong> se situam <strong>de</strong> ambos os la<strong>do</strong>s, pos-<br />

su<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> quatro vãos. Essa classificação indica, além da dimensão da<br />

casa, o po<strong>de</strong>r aquisitivo <strong>do</strong>s proprietários. Para os pátios interiores, s<strong>em</strong>pre<br />

arboriza<strong>do</strong>s, abr<strong>em</strong>-se as <strong>de</strong>pendências <strong>do</strong>mésticas mais privadas. Destaca-


se também <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, a regularida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s puxa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> serviços com cober-<br />

tura <strong>em</strong> meia-água; concordan<strong>do</strong> com a água posterior <strong>do</strong>s telha<strong>do</strong>s, que<br />

abrigavam cozinhas, <strong>de</strong>spensas e os d<strong>em</strong>ais compartimentos, constituíam-<br />

se <strong>em</strong> um prolongamento da construção. Abriam-se para os pátios, com<br />

fechamento pelo gracioso <strong>de</strong>senho das caixilharia das vidraças e pela serra-<br />

lheria rendada.<br />

Em algumas fachadas encontramos pequenos altares <strong>em</strong>buti<strong>do</strong>s <strong>em</strong> so-<br />

bra<strong>do</strong>s, casas e igrejas, fecha<strong>do</strong>s por gran<strong>de</strong>s portas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira almofada-<br />

das e moldura <strong>em</strong> cantaria, que se abr<strong>em</strong> para as ruas, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s pas-<br />

sos. Destinam-se, exclusivamente, à procissão <strong>do</strong> Encontro realizada durante<br />

a S<strong>em</strong>ana Santa. Localizam-se: um na fachada lateral da Igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Rita, três na rua <strong>do</strong> Comércio e <strong>do</strong>is na rua Dona Geralda. Cada um <strong>de</strong>sses<br />

seis passos r<strong>em</strong>anescentes representa um momento da Paixão <strong>de</strong> Cristo.<br />

Muito característicos são os pormenores <strong>de</strong>corativos com <strong>de</strong>staque para<br />

os trabalhos <strong>de</strong> marcenaria e carpintaria, trabalhos <strong>de</strong> ferro forja<strong>do</strong> e para<br />

pinturas nas fachadas. Outro el<strong>em</strong>ento, característico <strong>do</strong> conjunto são os<br />

cunhais, alguns <strong>em</strong> pedra, com requinte na cantaria e outros <strong>em</strong> massa, apa-<br />

rec<strong>em</strong> <strong>em</strong> geral nas esquinas, como que para d<strong>em</strong>arcar os alinhamentos.<br />

TIPOLOGIA<br />

Conjunto urbano <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le marcadamente colonial, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida-<br />

<strong>de</strong> formal e estética, com um vocabulário pre<strong>do</strong>minante da segunda meta-<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong> séc. XVIII e primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX. Exist<strong>em</strong> alguns ex<strong>em</strong>pla-<br />

res que po<strong>de</strong>rão ser <strong>do</strong> fim <strong>do</strong> séc. XVII e início <strong>do</strong> séc. XVIII, que se<br />

caracterizam por maior simplicida<strong>de</strong> e robustez. Será possível a existência<br />

<strong>de</strong> vestígios <strong>de</strong> construções <strong>do</strong> séc. XVII, que tenham sofri<strong>do</strong> alterações e<br />

ajustes às posturas construtivas e estéticas <strong>do</strong>s séculos seguintes. Determi-<br />

nadas características formais pod<strong>em</strong> indiciar a época <strong>de</strong> construção, nome-<br />

adamente a relação <strong>do</strong>s vãos com as fachadas.<br />

Enquanto no século XVIII pre<strong>do</strong>mina o cheio <strong>em</strong> relação ao vazio, no<br />

século XIX as proporções equilibram-se, com vãos <strong>de</strong> medidas equivalen-<br />

tes. No <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> séc. XIX o número <strong>de</strong> vãos aumenta, e com os terrenos<br />

vagos mura<strong>do</strong>s,os vazios passam a pre<strong>do</strong>minar. Nos Termos <strong>de</strong> Postura <strong>de</strong>-<br />

fini<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 1836, ficaram estabelecidas uma série <strong>de</strong> exigências construti-<br />

vas, s<strong>em</strong> novas <strong>de</strong>finições ao nível <strong>do</strong> zoneamento <strong>de</strong> funções ou ord<strong>em</strong><br />

75


76<br />

cronológica para as construções, que foram surgin<strong>do</strong> simultaneamente <strong>em</strong><br />

vários pontos <strong>do</strong> “bairro histórico”.<br />

Passou a ser obrigatória a licença prévia <strong>de</strong> construção, o respeito pelo<br />

alinhamento das ruas e a existência <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uro. As dimensões e o nú-<br />

mero <strong>de</strong> vãos, a altura da edificação e o pé-direito <strong>do</strong>s pisos, b<strong>em</strong> como os<br />

materiais a utilizar foram padroniza<strong>do</strong>s, passan<strong>do</strong> a ser obrigatório murar<br />

os limites <strong>do</strong>s lotes e abrir uma “porta <strong>de</strong> frente”. A altura das casas térre-<br />

as ficou estabelecida <strong>em</strong> 18 palmos e a <strong>do</strong>s sobra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 35 palmos. As<br />

portas <strong>de</strong>veriam ter 12 palmos <strong>de</strong> altura e 5 <strong>de</strong> largura.<br />

É um conjunto muito uniforme e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> repetição no esqu<strong>em</strong>a das<br />

fachadas, com ruas <strong>de</strong> frentes alinhadas e contínuas, pontuadas por muros<br />

altos <strong>de</strong> quintais arboriza<strong>do</strong>s. A entrada direta para os quintais é feita por<br />

uma porta idêntica às portas <strong>de</strong> entrada da casa.<br />

Pod<strong>em</strong>os i<strong>de</strong>ntificar na tipologia edificada el<strong>em</strong>entos arquitetônicos re-<br />

sultantes adaptação às condições atmosféricas locais, tais como: t<strong>em</strong>pera-<br />

tura quente e alto índice pluviométrico. O corre<strong>do</strong>r que liga a parte frontal<br />

a posterior serve <strong>de</strong> circulação e possibilita maior ventilação natural no in-<br />

terior. Sob o corre<strong>do</strong>r, exist<strong>em</strong> canaletas <strong>de</strong> pedra para escoamento das<br />

águas pluviais <strong>do</strong>s pátios <strong>em</strong> direção às ruas. Telha<strong>do</strong>s <strong>em</strong> duas águas, re-<br />

cobertos por telhas <strong>de</strong> barro <strong>do</strong> tipo capa-e-canal, apresentam largos bei-<br />

rais para proteção das águas das chuvas, arr<strong>em</strong>ata<strong>do</strong>s por cimalhas perfila-<br />

das, cachorros <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou beira-seveira.<br />

A estrutura era composta por pilares <strong>de</strong> pedra e cal, b<strong>em</strong> como as pare-<br />

<strong>de</strong>s divisórias entre eles e, <strong>em</strong> geral, a fachada principal. As pare<strong>de</strong>s inter-<br />

nas foram construídas <strong>em</strong> pau-a-pique, por vezes <strong>em</strong> estuque. Revestimen-<br />

tos com argamassa <strong>de</strong> cal e areia. Pavimento <strong>em</strong> tijoleira no piso térreo e


soalho nos sobra<strong>do</strong>s sobre vigamentos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Janelas <strong>de</strong> guilhotina,<br />

portadas <strong>de</strong> portas e janelas são, na <strong>sua</strong> maioria, <strong>de</strong> duas folhas cegas, sa-<br />

cadas <strong>de</strong> varandas <strong>em</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro.<br />

Uma característica <strong>do</strong>s sobra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é a não simetria entre os vãos<br />

<strong>do</strong>s primeiros e segun<strong>do</strong>s pavimentos, que o pod<strong>em</strong>os atribuir não só à<br />

construção <strong>do</strong>s pavimentos <strong>em</strong> diferentes perío<strong>do</strong>s, como também à mu-<br />

dança <strong>do</strong>s alinhamentos. Como b<strong>em</strong> observou Rodrigo Mello Franco <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, existiam gran<strong>de</strong>s saguões, principalmente nos sobra<strong>do</strong>s, que sur-<br />

giram no século XIX, que se utilizaram das casas térreas pré-existentes.<br />

O sobra<strong>do</strong> da Câmara Municipal é um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> imóvel que apresenta<br />

saguão e vãos diss<strong>em</strong>elhantes, foi instalada neste imóvel no século XIX. Não<br />

só este, como outros, apresentam uma característica peculiar, a parte térrea<br />

data <strong>do</strong> século XVIII e a parte superior <strong>do</strong> século XIX. Possui um gran<strong>de</strong> sa-<br />

guão que dá acesso ao Salão da Câmara, on<strong>de</strong> estão expostos as “Varas <strong>de</strong><br />

Vereança” e os sofás da antiga loja maçônica, com seu triângulo forra<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

vermelho e encima<strong>do</strong> por uma estrela <strong>de</strong> cinco pontas. A parte inferior era<br />

<strong>de</strong>stinada a armazém ou <strong>de</strong>pósito e a parte superior à moradia.<br />

A chegada da corte <strong>de</strong> Lisboa ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, na segunda meta<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

século XIX, e a abertura <strong>do</strong> comércio a outros países além <strong>de</strong> Portugal,<br />

nomeadamente a produtos oriun<strong>do</strong>s da indústria Inglesa, começam a in-<br />

fluenciar o gosto pelo ornamento e por novos materiais como o vidro plano<br />

e os gra<strong>de</strong>amentos <strong>de</strong> ferro fundi<strong>do</strong>. As técnicas construtivas tradicionais<br />

da época colonial mantêm-se, mas a feição passa a ser menos sóbria e se-<br />

vera. Assiste-se a uma substituição gradual das rótulas, muxarabis e porta-<br />

das cegas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira por janelas envidraçadas e das guardas <strong>de</strong> varandas<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira por ferro fundi<strong>do</strong> com <strong>de</strong>senhos profusamente elabora<strong>do</strong>s.<br />

77


78<br />

> A.M. - Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> S.<br />

Benedito <strong>do</strong>s Homens<br />

Pretos, Centro Histórico<br />

Os vãos são b<strong>em</strong> ritma<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> dimensões generosas, com vergas retas ou<br />

curvas, r<strong>em</strong>atadas com moldura salientes e trabalhadas <strong>em</strong> argamassa ou<br />

ma<strong>de</strong>ira. As ombreiras, vergas e soleiras são <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira pintada com cores<br />

fortes como o azul, o ver<strong>de</strong>, o vermelho e o amarelo. Os edifícios religiosos<br />

apresentam cantaria nos vãos, b<strong>em</strong> como alguns ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> imóveis <strong>do</strong><br />

século XVIII.<br />

As janelas são com folhas <strong>em</strong> guilhotina, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, com caixilharias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senhos muito trabalha<strong>do</strong>s. Em geral estas caixilharias são pintadas <strong>de</strong><br />

branco. Nos sobra<strong>do</strong>s com janelas <strong>de</strong> sacada e varandas, as vidraças são<br />

r<strong>em</strong>atadas por ban<strong>de</strong>iras com <strong>de</strong>senhos geométricos. As portas e portadas<br />

interiores são geralmente <strong>de</strong> duas folhas, também <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira pintada. São<br />

comuns as meias-portas, que permit<strong>em</strong> arejamento s<strong>em</strong> a <strong>de</strong>vassa da casa.<br />

As varandas <strong>do</strong>s sobra<strong>do</strong>s surg<strong>em</strong> com sacadas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira com almo-<br />

fadões e treliças quadriculadas <strong>de</strong> varas cruzadas, her<strong>de</strong>iras <strong>do</strong>s muxarabis<br />

e gelosias, tão características da arquitetura colonial <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o Brasil nos<br />

séculos. XVII e XVIII, ou com gra<strong>de</strong>amentos <strong>de</strong> ferro fundi<strong>do</strong>, com motivos<br />

ornamentais complexos e composições <strong>de</strong> ornatos repeti<strong>do</strong>s, comuns a<br />

partir <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, muitas vezes com esteios para suspensão<br />

<strong>de</strong> iluminação, r<strong>em</strong>ata<strong>do</strong>s por abacaxis e pinhas, <strong>de</strong> ferro, chapa e vidro


colori<strong>do</strong>. Estes esteios transformaram-se num pormenor <strong>de</strong>corativo muito<br />

aprecia<strong>do</strong>, com gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> motivos ornamentais, que se comple-<br />

ta com as lanternas <strong>de</strong> vidro colori<strong>do</strong>. A <strong>sua</strong> orig<strong>em</strong> terá si<strong>do</strong> a tradição <strong>de</strong><br />

iluminar as fachadas das casas <strong>em</strong> noites <strong>de</strong> festas e procissões.<br />

Outra característica <strong>de</strong>corativa da maior importância <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> é a pin-<br />

tura <strong>de</strong> motivos geométricos nas fachadas, concentra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> frisos junto<br />

aos beirais e ao nível das varandas, nos cunhais e no <strong>em</strong>basamento <strong>do</strong>s<br />

edifícios. Estes motivos são mais comuns nos sobra<strong>do</strong>s mais ricos e orna-<br />

menta<strong>do</strong>s, geralmente com varandas <strong>de</strong> ferro. Numa gran<strong>de</strong> percentag<strong>em</strong><br />

<strong>do</strong>s casos a linguag<strong>em</strong> é mais sóbria, s<strong>em</strong> existência <strong>de</strong> varandas ou com<br />

varandas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira.<br />

CARACTERÍSTICAS PARTICULARES<br />

<strong>Paraty</strong> pelas <strong>sua</strong>s características geográficas, permitia um acesso facilita<strong>do</strong><br />

ao interior <strong>do</strong> território. Foi passag<strong>em</strong> obrigatória para os transporta<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> ouro, sen<strong>do</strong> o único ponto <strong>de</strong> passag<strong>em</strong> autoriza<strong>do</strong> e funcionou como<br />

entreposto comercial regional. Toda a <strong>sua</strong> história se baseia <strong>em</strong> circuitos,<br />

acessos e meios <strong>de</strong> comunicação, terrestres, fluviais e marítimos.<br />

É possível i<strong>de</strong>ntificar na malha urbana as etapas ou fases <strong>de</strong> <strong>sua</strong> forma-<br />

ção. As ruas são pavimentadas com calçada <strong>de</strong>nominada “pé-<strong>de</strong>-moleque”<br />

e, por ter<strong>em</strong> forma <strong>de</strong> calha, permit<strong>em</strong> que a água seja escoada facilmente.<br />

Material: Pedra: calcário, granito; Terra; Cerâmica: tijolo, telha <strong>de</strong><br />

capa e canal; Metal: ferro forja<strong>do</strong>, ferro fundi<strong>do</strong>; Ma<strong>de</strong>ira, Vidro; Cal;<br />

Areia.<br />

Área bruta = approx. 155,580 m 2<br />

Observações: <strong>Paraty</strong> t<strong>em</strong> um vasto repertório <strong>de</strong> cren-<br />

ças <strong>em</strong> lendas tradicionais, muito presente <strong>em</strong> toda<br />

a história da cida<strong>de</strong>. As festas religiosas e pagãs<br />

suced<strong>em</strong>-se ao longo <strong>do</strong> ano, sen<strong>do</strong> a mais an-<br />

tiga e carismática a Festa <strong>do</strong> Divino, 50 dias<br />

após a Páscoa, cultivada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o séc. 17, her-<br />

dada da época colonial e da tradição Ibérica.<br />

Também <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> tradição é a Procissão <strong>do</strong><br />

Fogaréu, na Quinta-Feira Santa.<br />

79


80<br />

A zona núcleo proposta para o conjunto arquitetônico, urbanístico e cultu-<br />

ral <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> na Lista <strong>do</strong> Patrimônio Mundial é <strong>de</strong>limitada como a área<br />

classificada como patrimônio histórico e artístico nacional <strong>em</strong> 1958, Pro-<br />

cesso nº 563-T-57, <strong>de</strong>finida pela Portaria nº 10 <strong>de</strong> 24/09/1981: ao Norte,<br />

pela marg<strong>em</strong> direita <strong>do</strong> rio Perequê-Açú, no seu limite leste, pela rua Fres-<br />

ca, prossegue ao sul contorna<strong>do</strong> a Praça da Ban<strong>de</strong>ira e o largo <strong>de</strong> Santa<br />

Rita e pelo sul, pelo Beco das Canoas, até encontrar a rua Domingos Gon-<br />

çalves <strong>de</strong> Abreu, à oeste, por esta até encontrar o Rio Perequê-Açú.<br />

Em 1974 o Processo nº 563-T-57 foi retifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma a incluir to<strong>do</strong> o<br />

Município, nas inscrições 510 LBA e inscrição 63 LAEP.<br />

A proteção da moldura paisagística tanto <strong>do</strong> Centro Histórico, quanto<br />

<strong>do</strong> Forte Defensor Perpétuo está <strong>de</strong>finida na Portaria nº 10/81 <strong>do</strong> IPHAN,<br />

que ratifica as Leis Municipais nº 608 e 609/81. A ocupação <strong>do</strong> solo urbano<br />

é restrita, . Nessa zona exist<strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> preservação permanente on<strong>de</strong> não<br />

são autorizadas quaisquer construções. Quan<strong>do</strong> é possível construir, a au-<br />

torização é restrita a um único pavimento. Define-se como zona tampão a<br />

área <strong>de</strong> expansão urbana <strong>de</strong>finida na Lei Municipal nº 608/81, ratificada<br />

pela Portaria nº 10/81 <strong>do</strong> IPHAN, on<strong>de</strong> é permiti<strong>do</strong> edificar até <strong>do</strong>is pavi-<br />

mentos, esta restrição é estendida para to<strong>do</strong> o Município.<br />

Forte Defensor Perpétuo (3)<br />

O papel estratégico <strong>de</strong> articulação <strong>do</strong> litoral com o interior levou à a<strong>do</strong>ção<br />

<strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa militar com fortificações na cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> <strong>sua</strong> baía e<br />

na serra. A importância <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> como base militar, po<strong>de</strong> ser avaliada pela<br />

existência <strong>de</strong> um Regimento só para o Município. O Forte Defensor Perpé-<br />

tuo é o último r<strong>em</strong>anescente íntegro <strong>de</strong> to<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a e, situa-se no sítio<br />

que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> à <strong>Paraty</strong>.<br />

Com seus el<strong>em</strong>entos integra<strong>do</strong>s, o alojamento, o terrapleno, as trinchei-<br />

ras, os canhões e a casa da pólvora, separada <strong>do</strong> prédio principal, foi o<br />

principal no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong>. Este conjunto situa-se no alto <strong>do</strong><br />

morro da vila velha – on<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> foi fundada, atual morro <strong>do</strong> Forte, hoje<br />

toda a elevação pertence à União. A casa <strong>de</strong> pólvora separada <strong>do</strong> prédio<br />

principal é um <strong>do</strong>s poucos ex<strong>em</strong>plares <strong>do</strong> gênero no país.<br />

Em 1793 o forte foi construí<strong>do</strong> com baterias <strong>de</strong> barbeta, artilhadas com<br />

canhões lisos <strong>de</strong> calibre 12 e 18, monta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> reparo Onofre (carro proje-<br />

ta<strong>do</strong> por José Onofre). Foi reconstruí<strong>do</strong> no ano <strong>de</strong> 1822, quan<strong>do</strong> recebeu


o nome atual <strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> à Pedro I, Impera<strong>do</strong>r e Defensor <strong>do</strong> Perpé-<br />

tuo <strong>do</strong> Brasil.<br />

Sua construção austera apresenta amplos vãos simetricamente distribu-<br />

í<strong>do</strong>s, com amplo telha<strong>do</strong> <strong>em</strong> quatro águas, ainda com seu interior autênti-<br />

co e preservan<strong>do</strong>. Apresenta três segmentos distintos: a casa <strong>do</strong> coman-<br />

dante, com sala <strong>de</strong> visitas e jantar, escritório, quarto e cozinha; a ala <strong>do</strong><br />

quartel da tropa ao centro, com enxovias e, na outra extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>, o quar-<br />

tel <strong>do</strong>s inferiores on<strong>de</strong> residiam os cabos e Sargentos.<br />

Ao acervo <strong>do</strong> Forte estão integradas peças autênticas, confeccionadas<br />

na Grã-Bretanha, com os canhões <strong>do</strong> tipo padrão”12 Tiros”, que atirava<br />

uma bala pesan<strong>do</strong> aproximadamente 6 Kilos, alcançan<strong>do</strong> 2.000m <strong>de</strong> dis-<br />

tância, usan<strong>do</strong> 2Kg <strong>de</strong> pólvora. Dois canhões, um com a marca GR e outro<br />

com uma flexa, que foram fabrica<strong>do</strong>s pelo Governo Britânico <strong>em</strong> 1739.Um<br />

canhão fabrica<strong>do</strong> pela <strong>em</strong>presa “Carron” na Escócia <strong>em</strong> 1796.<br />

Também constitu<strong>em</strong> o acervo as tachas ou cal<strong>de</strong>irões par aprodução<br />

<strong>de</strong> açúcar, com a inscrição “Low Moor” fabrica<strong>do</strong>s pela <strong>em</strong>presa Dawsn,<br />

<strong>em</strong>presa <strong>do</strong> norte da Inglaterra. Peças oriundas <strong>de</strong> fazenda na região <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong>-Mirim, b<strong>em</strong> como o tronco <strong>de</strong> escravos e tambores <strong>de</strong> Jongo, uti-<br />

liza<strong>do</strong>s pela mão <strong>de</strong> obra escrava, indispensável no sist<strong>em</strong>a colonial e na<br />

mineração <strong>do</strong> ouro.<br />

81<br />

> PDT- Forte <strong>do</strong> Defensor<br />

Perpétuo, 2003;<br />

> PDT – Canhão<br />

<strong>do</strong> Forte <strong>do</strong> Defensor<br />

Perpétuo, 2003


82<br />

> A.M. - Vista aérea da<br />

praia da Trinda<strong>de</strong>, APA<br />

Cairuçu<br />

Está inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong> um morro <strong>de</strong>nsamente floresta<strong>do</strong> numa extensão <strong>de</strong><br />

75.108m².<br />

O Forte Defensor Perpétuo é classifica<strong>do</strong> como patrimônio histórico e<br />

artístico nacional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, por meio <strong>do</strong> Processo nº 532-T-55 IPHAN, <strong>em</strong><br />

1957, Inscrição nº 318-A LH. Sua jurisdição foi transferida <strong>do</strong> Ministério da<br />

Guerra para o <strong>de</strong> Educação e Cultura, no mesmo ano. A elevação on<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

situa limita-se à leste com o mar, ao sul, com a proprieda<strong>de</strong> da colônia <strong>de</strong><br />

Pesca<strong>do</strong>res; a oeste é contorna<strong>do</strong> pela Estrada da Jabaquara, e à nor<strong>de</strong>ste,<br />

junto a foz <strong>do</strong> rio Jabaquara, com uma proprieda<strong>de</strong> particular à beira-mar.<br />

A Serra <strong>do</strong> Mar e a paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

A orig<strong>em</strong> da Serra <strong>do</strong> Mar, da qual a Serra da Bocaina e o maciço <strong>do</strong> Cai-<br />

ruçu faz<strong>em</strong> parte, é interpretada por muitos autores como sen<strong>do</strong> o resulta-<br />

<strong>do</strong> <strong>de</strong> arqueamentos e falhamentos liga<strong>do</strong>s às antigas direções estruturais<br />

<strong>do</strong> <strong>em</strong>basamento cristalino Pré Cambriano, fruto <strong>do</strong> <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bramento <strong>do</strong><br />

continente Sul Americano e Africano. Além <strong>do</strong>s aspectos tectônicos, men-<br />

cione-se o consi<strong>de</strong>rável papel da erosão na escultura <strong>de</strong> <strong>sua</strong> morfologia<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Terciário Médio (Oligoceno).


A Serra <strong>do</strong> Mar esten<strong>de</strong>-se paralelamente ao mar por mais <strong>de</strong> mil quilôme-<br />

tros, <strong>do</strong> sul <strong>de</strong> Santa Catarina ao Norte <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Destaca-se na<br />

paisag<strong>em</strong> principalmente por <strong>sua</strong> cobertura florestal <strong>de</strong> Mata Atlântica e<br />

como verda<strong>de</strong>ira muralha ou primeiro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>grau <strong>do</strong>s planaltos <strong>do</strong> inte-<br />

rior, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>clarada, pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral, como patrimônio nacional.<br />

Constitui não apenas a borda <strong>do</strong> planalto, mas também, <strong>em</strong> muitas<br />

áreas, um conjunto <strong>de</strong> blocos soergui<strong>do</strong>s e falha<strong>do</strong>s, forman<strong>do</strong> serras mar-<br />

ginais. Alguns ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>stas são as serras da Graciosa e Marumbi no<br />

Paraná, Paranapiacaba <strong>em</strong> São Paulo, <strong>do</strong>s Órgãos e da Bocaina no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, todas elas com relevo marcante, <strong>de</strong> alto valor paisagístico, apresen-<br />

tan<strong>do</strong> altitu<strong>de</strong>s entre o nível <strong>do</strong> mar e 2200m.<br />

A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina compreen<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> varie-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>s, climas e relevos, que formam diferentes ecossist<strong>em</strong>as,<br />

> Rugendas<br />

- Ponte <strong>de</strong> cipó<br />

83


84<br />

nichos e refúgios ecológicos e apresentam uma cobertura vegetal ainda não<br />

totalmente estudada. Pod<strong>em</strong>os afirmar, portanto, que o território <strong>do</strong> Parque<br />

Nacional da Serra da Bocaina dispõe <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s maiores índices <strong>de</strong> biodiver-<br />

sida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntre as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação da Mata Atlântica no Brasil.<br />

Cerca <strong>de</strong> 85% da área <strong>do</strong> Parque é recoberta por Floresta Ombrófila<br />

Densa, constituída principalmente por formações secundárias. A Floresta<br />

Ombrófila Densa Submontana fica entre 50 e 700 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, e ocupa<br />

cerca <strong>de</strong> 26% <strong>do</strong> Parque. Nas encostas mais altas e nas escarpas voltadas<br />

para o mar, encontram-se as formações mais exuberantes da Mata Atlânti-<br />

ca, com árvores que alcançam <strong>de</strong> 24 a 28 m <strong>de</strong> altura, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> – se o<br />

jequitibá, o cedro e a massaranduba.<br />

Já no alto <strong>do</strong>s planaltos e da serra, na faixa <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 600 e 1.500 m,<br />

concentra-se boa parte das florestas primárias, com pre<strong>do</strong>mínio da Floresta<br />

Ombrófila Densa Montana, que ocupa cerca <strong>de</strong> 54% da área <strong>do</strong> Parque.<br />

Neste ambiente foi <strong>de</strong>scrita recent<strong>em</strong>ente uma nova espécie <strong>de</strong> bromélia,<br />

a Fernseea bocainensis, endêmica <strong>do</strong> altiplano da Bocaina.<br />

FAUNA<br />

Foram listadas no Parque Nacional da Serra da Bocaina 40 espécies <strong>de</strong><br />

mamíferos terrestres e 294 <strong>de</strong> aves, com 10 espécies <strong>de</strong> mamíferos e 12 <strong>de</strong><br />

aves ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção. Cinco espécies <strong>de</strong> mamíferos são endêmicas da<br />

Mata Atlântica: ouriço-cacheiro (Sphiggurus villosus), sagüi-da-serra-escuro<br />

(Callithrix aurita), bugio (Alouatta fusca), macaco-prego (Cebus apella nigritus)<br />

e mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Américas.<br />

As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a concentração


da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, com <strong>de</strong>staque para felinos<br />

como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a onça-parda (Puma concolor) e out-<br />

ros mais raros, como o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno (Leopardus tigrinus) e a onça-<br />

pintada (Panthera onça), cuja ocorrência é confirmada por mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Trin-<br />

da<strong>de</strong> e Patrimônio, na divisa entre São Paulo e rio <strong>de</strong> Janeiro. São raros os<br />

registros <strong>de</strong> anta (Tapirus terrestris) , o maior mamífero brasileiro.<br />

Das espécies <strong>de</strong> aves, 44% são apontadas como espécies endêmicas <strong>do</strong><br />

Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar entre outras o macuco (Tinamus<br />

solitarius), a jacutinga (Pipile jacutinga) e a sabiá cica (Triclaria malachitacea)<br />

como raras e ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />

85


86<br />

> Porto <strong>de</strong> turismo<br />

e <strong>de</strong> pesca<br />

No trecho da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, entre as cotas 650 e 1.000 m, a aplicação<br />

<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Avaliação Ecológica Rápida pela equipe <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong><br />

Parque Nacional permitiu registrar 112 espécies <strong>de</strong> aves, sen<strong>do</strong> 53 <strong>de</strong>las<br />

(47,3%) endêmicas <strong>do</strong> Domínio Atlântico. Deste total, 9 espécies estão pre-<br />

sumidamente ameaçadas e 1 ameaçada <strong>de</strong> extinção: o sabiá-cica (Triclaria<br />

malachitacea) (Collar et al., 1.992; Wege and Long, 1.995). Entre as 112 es-<br />

pécies, 6 pod<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas indica<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ambiente florestal contínuo<br />

no Domínio Atlântico: Pionopsitta pileata, Triclaria malachitacea, Campephilus<br />

robustus, Chamaeza meruloi<strong>de</strong>s, Carpornis cucullatus e Ilicura militaris.<br />

O LITORAL<br />

Na região Su<strong>de</strong>ste, entre São Sebastião, SP e Angra <strong>do</strong>s Reis, RJ, a faixa<br />

costeira apresenta-se ora estreita, recortada ou escarpada, ora mais ampla e


etilínea, on<strong>de</strong> as formações quaternárias apresentam-se mais <strong>de</strong>senvolvidas.<br />

Algumas elevações <strong>do</strong> conjunto cristalino submerso <strong>em</strong>erg<strong>em</strong> ao largo da<br />

costa na forma <strong>de</strong> ilhas. Entre a faixa <strong>de</strong> restinga <strong>do</strong> litoral <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

e a Serra <strong>do</strong> Mar encontram-se baixadas litorâneas com <strong>de</strong>pósitos lagunares<br />

ou fluviais, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se nas paisagens entre a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e<br />

<strong>Paraty</strong>. Nos terrenos situa<strong>do</strong>s nas margens <strong>de</strong> lagunas ou <strong>do</strong>s rios <strong>de</strong> água<br />

salobra, vicejam os manguesais, importantes berçários da vida marinha.<br />

A área <strong>de</strong> amortecimento coinci<strong>de</strong> com a área restante <strong>do</strong> Município <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong>. Todas as ilhas localizadas no Município são também protegidas pela<br />

APA <strong>do</strong> Cairuçú.<br />

<strong>Paraty</strong> distingue-se <strong>de</strong> outros locais pelos históricos movimentos hu-<br />

manos, pelo constante ir e vir entre a floresta, o mar e a cida<strong>de</strong>, pelos<br />

caminhos <strong>de</strong> pedra; <strong>sua</strong> pluralida<strong>de</strong> etnológica, <strong>em</strong> diferentes e constantes<br />

interações, caracteriza os estabelecimentos humanos e finda por abordar a<br />

força criativa da espiritualida<strong>de</strong> das festas religiosas, <strong>em</strong> um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo sustentável urbano integra<strong>do</strong> ao meio natural.<br />

87<br />

> Pesca<strong>do</strong>res puxan<strong>do</strong><br />

uma canoa na praia <strong>do</strong><br />

Sono


88<br />

> Mapa <strong>do</strong> Brasil,<br />

Hubert Vincent, 1698<br />

2.b Histórico e Desenvolvimento<br />

A Mata Atlântica que recobre a Serra <strong>do</strong> Mar está intimamente ligada à<br />

cultura brasileira. A começar pelo nome <strong>do</strong> país que, rebel<strong>de</strong> à indicação<br />

religiosa que inicialmente <strong>de</strong>nominou-a Terra <strong>de</strong> Santa Cruz, optou pelo<br />

nome da primeira riqueza aqui encontra<strong>do</strong>, o pau-brasil. Brasil <strong>de</strong>riva <strong>de</strong><br />

brasa, resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> cor avermelhada viva da tinta extraída da ma<strong>de</strong>ira<br />

utilizada para tintura <strong>de</strong> diversos teci<strong>do</strong>s.<br />

Todas as incursões coloniais b<strong>em</strong> sucedidas foram <strong>de</strong> fato tomadas <strong>do</strong><br />

conhecimento indígena que aculturou diversas plantas da natureza brasi-<br />

leira, para o qual a mandioca foi o principal el<strong>em</strong>ento principal econômi-<br />

co. Além <strong>de</strong> nomear plantas e animais e <strong>de</strong> conhecer-lhes a utilização, os<br />

indígenas ensinavam também os caminhos da terra nova aos colonos re-<br />

cém chega<strong>do</strong>s.<br />

As formas <strong>de</strong> ocupação da baixada litorânea da Capitania <strong>de</strong> São Vicen-<br />

te ou das terras <strong>do</strong> planalto <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba pelo ameríndio, <strong>em</strong> época<br />

imediatamente pré-cabralina, assim, como a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong>


circulação entre as duas áreas implicaram <strong>em</strong> longo processo <strong>em</strong> que a<br />

experiência adquirida por muitas gerações, com técnicas primitivas <strong>de</strong> uso<br />

<strong>do</strong>s recursos naturais, levou a uma <strong>de</strong>terminada organização <strong>do</strong> espaço.<br />

Nos <strong>do</strong>is primeiros séculos, a ocupação <strong>do</strong> território brasileiro <strong>de</strong>u-se<br />

pela implantação <strong>de</strong> pequenos núcleos urbanos, portos e obras militares<br />

<strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>fensivo, <strong>de</strong>ntre outras. No início da colonização foi instalada<br />

a gran<strong>de</strong> <strong>em</strong>presa agrícola produtora <strong>de</strong> açúcar <strong>em</strong> São Vicente, porém a<br />

produção fracassou. No local, Enseada <strong>de</strong> São Vicente, junto ao atual<br />

Porto <strong>de</strong> Santos, foi fundada, <strong>em</strong> 1532, a primeira Vila, por Martim Afon-<br />

so <strong>de</strong> Souza, <strong>de</strong> iniciativa privada e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao sist<strong>em</strong>a das capitanias<br />

hereditárias e à política <strong>de</strong> colonização baseada na produção <strong>de</strong> açúcar<br />

para exportação.<br />

No perío<strong>do</strong> entre 1574 e 1578, quan<strong>do</strong> se estabeleceu no Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> Governo Geral <strong>do</strong> Leste e Sul da colônia brasileira, inten-<br />

sificaram-se as comunicações entre o Rio <strong>de</strong> Janeiro e as povoações pau-<br />

listas. Esse fato <strong>de</strong>ve ter acelera<strong>do</strong> o processo espontâneo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> colonos <strong>em</strong> direção à Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>. Expandin<strong>do</strong><br />

a área <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s culturas, caminhavam na direção <strong>de</strong> sítios que oferecess<strong>em</strong><br />

melhores condições geográficas, para fixação inicial e maior facilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> comunicação com os núcleos <strong>de</strong> colonos já instala<strong>do</strong>s no Planalto.<br />

A ligação entre a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo <strong>do</strong> Piratininga<br />

dava-se por via marítimo-terrestre e o caminho mais utiliza<strong>do</strong> era o da<br />

Serra <strong>do</strong> Facão, situada logo atrás da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aberta pelos<br />

índios guaianás, a trilha iniciava <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, na costa atlântica<br />

(mapa antigo), sen<strong>do</strong> aos poucos <strong>de</strong>nominada caminho <strong>do</strong>s<br />

ban<strong>de</strong>irantes. Parati <strong>de</strong>finia-se assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI,<br />

como ponto <strong>de</strong> articulação nas comunicações entre<br />

Rio e São Paulo, intermediária obrigatória no<br />

acesso ao planalto.<br />

No início <strong>do</strong> século XVII colo-<br />

nos chegaram às margens <strong>do</strong><br />

rio Perequê-Açu on<strong>de</strong> se<br />

fixaram <strong>em</strong> uma eleva-<br />

ção próxima, constituin<strong>do</strong><br />

o núcleo original <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aí erigi-<br />

ram uma pequena capela <strong>de</strong>dicada<br />

89


à São Roque. O povoa<strong>do</strong>, que originou-se como distrito <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />

Angra <strong>do</strong>s Reis, <strong>de</strong>senvolveu-se lentamente ao longo <strong>do</strong> século XVII, sen-<br />

<strong>do</strong> que na primeira meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse século, transferiu-se <strong>do</strong> primitivo sítio<br />

no alto <strong>do</strong> morro para uma várzea entre a marg<strong>em</strong> direita <strong>do</strong> rio Perequê-<br />

Açu e a marg<strong>em</strong> esquerda <strong>do</strong> rio Patitiba. A Igreja Matriz, edificada <strong>em</strong><br />

1646 sob esteios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e coberta <strong>de</strong> palha, teve curta duração.<br />

Emancipou-se politicamente <strong>em</strong> 28 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1667, por Carta<br />

Régia <strong>de</strong> Dom Afonso VI. Mesmo eleva<strong>do</strong> à categoria <strong>de</strong> vila, o povoa<strong>do</strong><br />

continuava tão pobre que d<strong>em</strong>orou quase meio século para construir a<br />

segunda Igreja Matriz, iniciada <strong>em</strong> 1668.<br />

Em fins <strong>do</strong> século XVII, <strong>Paraty</strong> seria uma pequena vila com menos <strong>de</strong> 50<br />

casas térreas, a maior parte <strong>de</strong>las <strong>em</strong> taipa, cobertas com palhas, distribuí-<br />

das dispersamente nas ilhas, na praia e acompanhan<strong>do</strong> os primeiros cami-<br />

nhos <strong>de</strong> penetração terrestre e fluvial. Não existia cais e os <strong>em</strong>barques eram<br />

realiza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> praias e margens <strong>do</strong>s rios próximos. Emolduran<strong>do</strong> a vila,<br />

como seu cenário, a encosta íngr<strong>em</strong>e da Serra <strong>do</strong> Mar coberta pela luxu-<br />

riante Mata Atlântica já marcava <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>lével a paisag<strong>em</strong>.<br />

Na mesma época, motiva<strong>do</strong>s pela exploração <strong>de</strong> metais preciosos, os<br />

paulistas intensificaram a penetração no sertão, pelas primitivas trilhas<br />

indígenas que galgavam a serra da Mantiqueira, paralela à serra <strong>do</strong> Mar.<br />

Com o t<strong>em</strong>po foi-se <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> como uma das principais vias <strong>de</strong> penetra-<br />

ção aquela aberta pelos índios Guaianás.<br />

Na década <strong>de</strong> 1690, com a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro nas minas <strong>do</strong> Ribeirão<br />

<strong>de</strong> <strong>Ouro</strong> Preto, <strong>do</strong> Ribeirão das Mortes e <strong>do</strong> Rio das Velhas, <strong>de</strong>senvolveu-<br />

se gigantesco processo migratório no país, principalmente externo. Signi-<br />

ficativa parcela <strong>de</strong>sse fluxo chega<strong>do</strong> ao Rio <strong>de</strong> Janeiro passou forçosa-<br />

mente por Parati. A vila passou a ostentar notória posição na Colônia,<br />

com o porto servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> ligação às regiões auríferas e sen<strong>do</strong> o mais pro-<br />

> Esquerda: <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>;<br />

> Debret – <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong><br />

1827.<br />

91


cura<strong>do</strong> <strong>de</strong> toda a Capitania. Sua zona <strong>de</strong> influência abrangia Taubaté,<br />

Guaratinguetá, Pindamonhangaba e Jacareí, no vale <strong>do</strong> Paraíba.<br />

Por <strong>sua</strong> posição estratégica <strong>em</strong> 1702 o cais da cida<strong>de</strong> foi fortifica<strong>do</strong> e<br />

oficializa<strong>do</strong> o <strong>em</strong>barque <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o ouro pelo seu porto. Parati passa en-<br />

tão a ser o Porto <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>. Os quintos <strong>do</strong> Rei são ali <strong>de</strong>posita<strong>do</strong>s para<br />

ser<strong>em</strong> envia<strong>do</strong>s a Portugal. Outra medida tomada, para controlar o esco-<br />

amento <strong>do</strong> ouro, foi a criação da chamada Casa <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> ou<br />

Casa <strong>do</strong>s Quintos.<br />

A primeira ficou estabelecida <strong>em</strong> Taubaté; logo <strong>em</strong> seguida, foi criada<br />

a <strong>de</strong> Guaratinguetá; no entanto, não resistiram muito t<strong>em</strong>po, pois foram<br />

extintas com a criação <strong>de</strong> uma terceira, <strong>de</strong>sta vez <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, mesmo ano<br />

<strong>em</strong> que foi criada a <strong>de</strong> Santos.<br />

A Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi criada por uma Carta Régia <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1703 e instalada na estrada da Serra <strong>do</strong> Facão, com função <strong>de</strong><br />

cobrar pedágio e imposto sobre ouro e outras merca<strong>do</strong>rias.<br />

Em 1701, chegou <strong>de</strong> Portugal o fundi<strong>do</strong>r e cunha<strong>do</strong>r Luís da Silva. Trazia<br />

consigo um engenhoso aparelho para fundir e cunhar que <strong>de</strong>via ser mon-<br />

ta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Taubaté. O tal engenho jamais conseguiu vencer a difícil subida<br />

pela precária trilha da Serra <strong>do</strong> Facão, que naquele t<strong>em</strong>po ainda não <strong>de</strong>via<br />

permitir a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> carga, ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> ficar pelo meio <strong>do</strong> ca-<br />

minho. Talvez por força <strong>de</strong>sta mesma circunstância, Luís da Silva tenha von-<br />

<strong>do</strong> a tornar-se o primeiro fundi<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Nomea<strong>do</strong> como<br />

Prove<strong>do</strong>r Carlos Pedroso da Silveira, paulista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância nos<br />

primeiros <strong>de</strong>scobertos das minas, foi transferi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Registro <strong>de</strong> Taubaté,<br />

como também um escrivão Manuel Proença Rebello Castello Branco.<br />

Nova Carta Régia, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1704, man<strong>do</strong>u extinguir todas as<br />

Casas <strong>de</strong> Registro, com exceção <strong>de</strong> duas, a <strong>de</strong> Santos e a <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, d<strong>em</strong>ons-<br />

tran<strong>do</strong> a importância que a Coroa portuguesa dava ao porto paratiense.<br />

Para qu<strong>em</strong> vinha <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, o caminho das minas passan<strong>do</strong> por<br />

<strong>Paraty</strong> era longo e dava uma volta <strong>de</strong>snecessária. Des<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> século<br />

anterior, Garcia Rodrigues Paes Betim, filho <strong>de</strong> Fernão Dias Paes L<strong>em</strong>e,<br />

vinha tentan<strong>do</strong> conseguir abrir novo caminho, mais direto, passan<strong>do</strong> por<br />

umas roças que tinha na marg<strong>em</strong> esquerda <strong>do</strong> Rio Paraíba, local on<strong>de</strong><br />

hoje está a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paraíba <strong>do</strong> Sul. A primeira picada foi aberta entre<br />

1698 e 1699. Por volta <strong>de</strong> 1710 Portugal proibiu o caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

para transporte <strong>do</strong> ouro das minas novas. Um novo registro foi instala<strong>do</strong>,


passan<strong>do</strong> a ser conheci<strong>do</strong> como <strong>Caminho</strong> Novo e a Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> quintar, isto é, fundir ouro.<br />

A viag<strong>em</strong>, que por <strong>Paraty</strong> se fazia <strong>em</strong> trinta a trinta e cinco dias passa<br />

a ser feita <strong>em</strong> quinze a vinte dias. O caminho, porém era inóspito, precá-<br />

rio e não ainda suficient<strong>em</strong>ente habita<strong>do</strong> para ter roças e recursos para<br />

suprir as tropas. Os comerciantes <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro ped<strong>em</strong> licença para<br />

realizar pelo menos a viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> ida por <strong>Paraty</strong> e, <strong>em</strong> 1715, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a<br />

um requerimento <strong>do</strong> povo paratiense, o transporte <strong>do</strong> ouro pelo caminho<br />

velho volta a ser libera<strong>do</strong>.<br />

Durante o primeiro quartel <strong>do</strong> século XVIII as autorida<strong>de</strong>s insistiam nas<br />

obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> porto. Em 1726, após visita realizada pelo então Gover-<br />

na<strong>do</strong> Luis Vahia Monteiro acompanha<strong>do</strong> por um engenheiro militar, foi<br />

or<strong>de</strong>nada a construção <strong>de</strong> um cais flanquea<strong>do</strong> que podia também servir <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>fesa. Era gran<strong>de</strong> a preocupação com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> navios estrangei-<br />

ros que ali paravam para <strong>de</strong>ixar e comprar merca<strong>do</strong>rias. Os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barques<br />

eram então realiza<strong>do</strong>s na cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> <strong>sua</strong> praia, e com lanchas, pois a ense-<br />

ada é bastante espraiada. Na vazante da maré as <strong>em</strong>barcações ficavam<br />

todas a seco, os navios ancoravam longe da vila, na Ilha <strong>do</strong>s Mantimentos.<br />

O motivo aponta<strong>do</strong>, na ocasião, para a escolha <strong>do</strong> cais flanquea<strong>do</strong>, foi que<br />

a artilharia <strong>do</strong>s navios não po<strong>de</strong>ria atingir diretamente a vila.<br />

93<br />

> A.M. - pedras <strong>do</strong><br />

<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, século<br />

XVIII, Cachoeirinha


94<br />

> IPHAN - Procissão na<br />

rua Marechal De<strong>do</strong><strong>do</strong>ro,<br />

mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX;<br />

> IHAP - Praça da Matriz<br />

<strong>em</strong> 1894;<br />

> IPHAN - Rua Marechal<br />

Deo<strong>do</strong>ro no início <strong>do</strong><br />

século XX;<br />

> IHAP - Praça da Matriz<br />

no início <strong>do</strong> século XX<br />

Mesmo s<strong>em</strong> quintar ouro, o Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> seguiu funcionan<strong>do</strong>. Nes-<br />

sa mesma visita, à Serra o Governa<strong>do</strong>r, <strong>em</strong> or<strong>de</strong>nou um regime para esta-<br />

belecer os procedimentos e regular o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cobrança <strong>do</strong> Registro.<br />

Determinou ao Prove<strong>do</strong>r que cobrasse ainda um tributo <strong>de</strong> 40 réis por<br />

pessoa e por cavalo que passasse, contribuição a ser repartida entre os<br />

solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Registro.<br />

Em 1728 o antigo caminho <strong>do</strong>s Guaianás, amplia<strong>do</strong>, dava passag<strong>em</strong> a<br />

homens e animais <strong>de</strong> carga.<br />

O crescimento da vila, na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII, indica cla-<br />

ramente um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> florescimento econômico confirma<strong>do</strong><br />

pela realização <strong>de</strong> importantes obras, tais como a <strong>de</strong>limitação da vila <strong>em</strong><br />

1719 e 1726; a retomada das obras da matriz <strong>em</strong> 1709 e <strong>sua</strong> conclusão<br />

<strong>em</strong> 1712; o início da construção da Igreja <strong>de</strong> Santa Rita, <strong>em</strong> 1722; a cons-<br />

trução <strong>do</strong> cais <strong>em</strong> 1726; a construção da Igreja N.S. da Conceição <strong>em</strong><br />

Parati-Mirim <strong>em</strong> 1720 e a construção da Igreja Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário<br />

<strong>em</strong> 1725. Em 1746 a população urbana e rural atingia aproximadamente<br />

3.000 habitantes.<br />

Tão importantes quanto os edifícios institucionais para a estruturação<br />

da cida<strong>de</strong>, foram os rios. Des<strong>de</strong> os primeiros t<strong>em</strong>pos muitas foram as<br />

transformações nos rios da cida<strong>de</strong> e seus respectivos leitos. No ano <strong>de</strong><br />

1728 o rio Perequê-Açú que tinha <strong>sua</strong> foz natural ao norte <strong>do</strong> morro <strong>do</strong><br />

forte, foi translada<strong>do</strong> para a planície ao sul. O novo álveo foi aberto fral-<br />

<strong>de</strong>an<strong>do</strong> o morro <strong>do</strong> forte. O motivo seria a falta <strong>de</strong> água potável para os<br />

mora<strong>do</strong>res da cida<strong>de</strong>.<br />

Devi<strong>do</strong> a esse <strong>de</strong>svio algumas conseqüências ocorreram à vila, a barra<br />

<strong>do</strong> Perequê-Açú passou a correr a sul, aproximan<strong>do</strong>-se cada vez mais da


arra <strong>do</strong> Matheus Nunes, e com a corrente <strong>do</strong> mar, natural a este, passa-<br />

ram a sitiar a frente da cida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong> o porto mais baixo e lamacento<br />

e, na preamar, as respectivas águas invad<strong>em</strong> as ruas.<br />

Em 1736, uma Carta Régia or<strong>de</strong>nou que o Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, fizesse por conta da Real Fazenda uma<br />

casa com acomodação para quarenta solda<strong>do</strong>s e nomeou um capitão<br />

para a infantaria da guarda <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> Serra. O quartel foi, contu<strong>do</strong><br />

construí<strong>do</strong> na vila <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e não no Registro. A tropa <strong>de</strong> quarenta sol-<br />

da<strong>do</strong>s aos quais se <strong>de</strong>stinava era toda da guarnição que cuidava também<br />

da proteção da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> controle das <strong>em</strong>barcações, conferin<strong>do</strong> o pa-<br />

gamento <strong>de</strong> outros impostos, como o <strong>do</strong> sal, por ex<strong>em</strong>plo.<br />

Com a d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong> para a popula-<br />

ção <strong>de</strong>dicada às lavras na região <strong>do</strong> ouro, <strong>Paraty</strong> passou <strong>de</strong> simples entre-<br />

posto distribui<strong>do</strong>r a centro produtor e exporta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gêneros alimentícios<br />

para as Minas Gerais e, posteriormente, para a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

promovida a se<strong>de</strong> <strong>do</strong> novo Vice-Reina<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 1763.<br />

Foi essa nova função que permitiu a <strong>Paraty</strong> superar a crise esboçada no<br />

transcurso <strong>do</strong> século, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>u a centralização <strong>do</strong> abastecimento<br />

das Minas pelo porto <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, por meio <strong>de</strong> outro <strong>Caminho</strong><br />

95<br />

> A.M.– Vista aérea <strong>do</strong><br />

Forte Defensor Perpétuo


96<br />

> Paisag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Saco <strong>do</strong><br />

Mamanguá<br />

Novo”, a primeira ligação terrestre entre Rio e São Paulo. Por esse cami-<br />

nho e por <strong>sua</strong>s variantes posteriores, a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio passou a influir dire-<br />

tamente nos centros mineiros, dispensan<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> da função <strong>de</strong> interme-<br />

diária obrigatória.<br />

As obras da nova estrada, só foram concluídas <strong>em</strong> 1767. O caminho<br />

por <strong>Paraty</strong>, no entanto, não foi <strong>de</strong> to<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, mas os efeitos co-<br />

meçaram a se sentir com maior intensida<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, paralisan<strong>do</strong> aos<br />

poucos um ativíssimo comércio e incentivan<strong>do</strong> a venda às tropas da es-<br />

cravaria <strong>de</strong>snecessária.<br />

Muitos porém ainda consi<strong>de</strong>ravam o caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> como a me-<br />

lhor maneira <strong>de</strong> ir <strong>do</strong> Rio a São Paulo. Em 1775, o Governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São<br />

Paulo, Martinho Lobo Martim Lopes Lobo <strong>de</strong> Saldanha, ao passar por<br />

<strong>Paraty</strong> quan<strong>do</strong> vai assumir o cargo <strong>de</strong> Governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> São Paulo,<br />

escreve lamentan<strong>do</strong>-se que <strong>sua</strong> bagag<strong>em</strong> e seus familiares, que<br />

seguiram numa fragata direto até o porto <strong>de</strong> Santos ou São<br />

Vicente, tiveram mais dificulda<strong>de</strong>s e d<strong>em</strong>oras para chegar <strong>do</strong><br />

que a que ele próprio experimentara.<br />

Na ocasião, opinou favoravelmente à transferência da<br />

Guarda <strong>do</strong> Registro da Boca <strong>do</strong> Inferno para a Cachoeira que<br />

foi construída entre os anos <strong>de</strong> 1775 e 1790. O registro foi<br />

<strong>de</strong>sloca<strong>do</strong> para um local <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Afonso pouco acima <strong>do</strong><br />

Pouso <strong>do</strong> Souza (vi<strong>de</strong> Ilustração), lugar que, entretanto, parecia ter<br />

trazi<strong>do</strong> muitos probl<strong>em</strong>as para a arrecadação <strong>de</strong> impostos e controle<br />

da passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> escravos para Minas e para a região <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Rio<br />

Paraíba. Em 1790, o Vice-rei Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nou à Câmara <strong>de</strong>


<strong>Paraty</strong> que fizesse mudar o Registro para o lugar chama<strong>do</strong> Cachoeira <strong>do</strong><br />

Martins, aí estabelecen<strong>do</strong> Quartel para a guarda, patrulhas e <strong>de</strong>staca-<br />

mentos, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos consi<strong>de</strong>ráveis prejuízos à Real Fazenda com o extravio<br />

<strong>de</strong> ouro e diamantes.<br />

O Registro passou então a se situar on<strong>de</strong> hoje se encontra o bairro <strong>do</strong>s<br />

Penha, ao la<strong>do</strong> da antiga Ponte da Cachoeira, mais tar<strong>de</strong> Ponte <strong>do</strong> Regis-<br />

tro, cujos vestígios ainda pod<strong>em</strong> ser vistos, pouco acima <strong>do</strong> que hoje é<br />

conheci<strong>do</strong> como Cachoeira <strong>do</strong> Tobogã.<br />

Na ocasião, <strong>Paraty</strong> possuía duas casas <strong>de</strong> Registro. A da Cachoeira, na<br />

Estrada Geral e a <strong>do</strong> Curralinho, que fazia controle para passag<strong>em</strong> da<br />

antiga estrada Ubatuba-Taubaté. Juntas controlavam a passag<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />

ouro, escravos, merca<strong>do</strong>rias e tropas.<br />

Muitos cidadãos paratienses participaram da vida pública <strong>do</strong> país. Dentre<br />

eles sobressai Salva<strong>do</strong>r Carvalho <strong>do</strong> Amaral Gurgel que participou da In-<br />

confidência Mineira, movimento que, entre outras coisas, almejava a In-<br />

<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil.<br />

Na medida <strong>em</strong> que se aproximava o fim <strong>do</strong> século XVIII, a valorização<br />

<strong>do</strong> açúcar no merca<strong>do</strong> internacional estimulou a rápida expansão <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />

cultura <strong>em</strong> terras paratienses. Engenhos e engenhocas foram instala<strong>do</strong>s<br />

às <strong>de</strong>zenas, com numerosos pequenos proprietários espalhan<strong>do</strong>-se pela<br />

região. A complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> rios e canais navegáveis foi amplamente uti-<br />

lizada para transportar a produção <strong>em</strong> direção ao porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

> A.M. – Praia <strong>do</strong><br />

Cachadaço, Parque<br />

Nacional da Serra da<br />

Bocaina<br />

97


98<br />

> A.M. – Igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Rita e porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Nesta fase, a preocupação com a <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong> voltou à cena. Em<br />

1793 foi edifica<strong>do</strong> o Forte Defensor Perpétuo no alto <strong>do</strong> morro da vila<br />

velha. Em vistoria realizada à Vila <strong>em</strong> 1797, o engenheiro Pedro Alvarez<br />

<strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> apontou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se fortificar o cais que na ocasião<br />

encontrava-se com alicerces encobertos e, sobre eles, uma obra <strong>de</strong> faxina<br />

(paus entrecruza<strong>do</strong>s) guarnecida por quatro canhões. Informa a constru-<br />

ção <strong>de</strong> um quartel para as tropas e que todas as bocas das ruas e d<strong>em</strong>ais<br />

lugares que vão ao mar estavam fortificadas.<br />

É, porém no início <strong>do</strong> século XIX que a baía recebe novo esqu<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong>fensivo com a construção, <strong>em</strong> 1818, <strong>do</strong> Forte da Ilha das Bexigas e re-<br />

forma <strong>do</strong> Defensor Perpétuo <strong>em</strong> 1836. Além <strong>de</strong>sses, existia a bateria da<br />

vila, a Fortaleza da Patitiba, os fortes <strong>do</strong> Iticupé e Ponta Grossa, Ilha <strong>do</strong>s<br />

Mantimentos, Ilha <strong>do</strong>s Meros. A estrada da Serra era guarnecida por um<br />

quartel junto à Casa <strong>do</strong> Registro da Cachoeira. Hoje resta somente o For-<br />

te Defensor Perpétuo. Canhões, trincheiras e ruínas assinalam a localiza-<br />

ção <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais.<br />

Durante a primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XIX, <strong>Paraty</strong> expandiu-se, avan-<br />

çou <strong>em</strong> direção ao mar, a norte atravessan<strong>do</strong> o rio Perequê-Açú; <strong>em</strong> dire-<br />

ção à serra, a leste e ao sul <strong>em</strong> direção à Fortaleza, uma das fortificações<br />

da cida<strong>de</strong>. Surgiram muitas construções urbanas, notadamente sobra<strong>do</strong>s


que se utilizaram das antigas casas térreas, com pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pedra e cal,<br />

<strong>de</strong> pau-a-pique ou estuque, a Igreja <strong>de</strong> N.S. das Dores, um novo merca<strong>do</strong>,<br />

um teatro, a Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia e o forte Defensor Perpétuo.<br />

Nesse perío<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> já era uma vila <strong>de</strong> tamanho consi<strong>de</strong>rável, florescen-<br />

te e famosa. A população urbana e rural beirava 10.000 habitantes.<br />

Após o <strong>de</strong>clínio da produção <strong>do</strong> ouro, o café surge como o produto<br />

que iria propiciar o <strong>de</strong>senvolvimento e a reintegração da economia brasi-<br />

leira ao comércio mundial <strong>em</strong> expansão <strong>em</strong> princípio <strong>do</strong> século XIX. O<br />

perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> isolamento por que passara o caminho não duraria muito<br />

t<strong>em</strong>po. O café se espalhou rapidamente pelo Vale <strong>do</strong> Rio Paraíba, logo<br />

atrás das montanhas, a oeste da cida<strong>de</strong>, e o fluxo pelo velho <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong> ou o <strong>Caminho</strong> Velho <strong>do</strong> ouro, voltou a fervilhar.<br />

A infra-estrutura <strong>de</strong> caminhos, montada para escoar a produção cafe-<br />

eira no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>senvolvia-se numa linha quase parale-<br />

la à costa. No vale médio <strong>do</strong> rio Paraíba <strong>do</strong> Sul era incômoda a <strong>de</strong>pendên-<br />

cia <strong>de</strong>ssa circulação longitudinal para ganhar o porto <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Numerosas linhas transversais buscaram, então, os pequenos portos ao<br />

pé da serra para escoar mais rapidamente a produção.<br />

Mais uma vez <strong>Paraty</strong> vê reforçar-se seu papel <strong>de</strong> intermediário entre as<br />

zonas <strong>de</strong> produção e o merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, através das precárias trilhas<br />

que cortavam o paredão marítimo. Em 1822, a <strong>de</strong>speito da precarieda<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> calçamento, 160.914 cabeças <strong>de</strong> homens e animais passam por lá.<br />

99<br />

> O.A.M.T. – Trabalhos<br />

<strong>de</strong> limpeza <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>


100<br />

> A.M. – Igreja <strong>de</strong> N.S.<br />

das Dores<br />

São cerca <strong>de</strong> 14.000 por mês ou 466 por dia, números b<strong>em</strong> menores <strong>do</strong><br />

que os que talvez pass<strong>em</strong> por ali nos dias <strong>de</strong> hoje.<br />

Descen<strong>do</strong> o café <strong>do</strong> vale, subia o sal, pólvora e armamentos. Subiam<br />

também merca<strong>do</strong>rias luxuosas e escravos para trabalhar na lavoura. Além<br />

<strong>do</strong>s tropeiros, já tradicionais, com <strong>sua</strong>s filas <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> carga, o Cami-<br />

nho Velho foi também toma<strong>do</strong> por comboieiros, levan<strong>do</strong> vergonhosas<br />

filas <strong>de</strong> negros acorrenta<strong>do</strong>s. Seres humanos nos navios, nas feiras e nas<br />

fazendas, trata<strong>do</strong>s na chibata, pior <strong>do</strong> que se foss<strong>em</strong> animais.<br />

Graças ao trabalho escravo <strong>do</strong>s africanos e à engenharia militar portu-<br />

guesa, a estrada passa por várias reformas e se transforma no belo trabalho<br />

que po<strong>de</strong> ser admira<strong>do</strong> ainda hoje, <strong>em</strong> alguns trechos recupera<strong>do</strong>s. Refor-<br />

mas são realizadas <strong>em</strong> 1824, sob as or<strong>de</strong>ns <strong>do</strong> Sargento-Mor <strong>de</strong> engenhei-<br />

ros Carlos Martins Pena e outras ainda mais radicais <strong>em</strong> 1838 e 1840 pelo<br />

Capitão e Engenheiro Ernesto Augusto César Eduar<strong>do</strong> <strong>de</strong> Miranda.<br />

A partir <strong>de</strong> 1830, o café passa a ser o principal produto <strong>de</strong> exportação<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, reforçan<strong>do</strong> o intercâmbio com a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e daí<br />

para o exterior.


É nesse perío<strong>do</strong> que a estrutura urbana se consolida. Porém, a preocupa-<br />

ção com as enchentes continuava, o que levou a Câmara a promulgar a<br />

Lei nº 107/1836, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a restituição da foz <strong>do</strong> rio Perequê-Açú a<br />

seu leito primordial e o corte das curvas e alargamento <strong>do</strong> rio Matheus<br />

Nunes a partir da foz.<br />

Na segunda meta<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse século e já elevada à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong><br />

11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1844, pela Lei Provincial nº 302, <strong>de</strong>ntre as obras realizadas,<br />

cite-se a r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação <strong>do</strong> forte Defensor Perpétuo (vi<strong>de</strong> anexo), a constru-<br />

ção <strong>do</strong> Chafariz (vi<strong>de</strong> foto), o novo C<strong>em</strong>itério Público e a Ca<strong>de</strong>ia (vi<strong>de</strong> ane-<br />

xo) e uma nova Casa <strong>de</strong> Câmara. Em 1856 a população urbana e rural<br />

chega a 12.000 habitantes, tornan<strong>do</strong>-se importante cida<strong>de</strong> imperial.<br />

A expansão e o crescimento da produção cafeeira aprimorou a infra-<br />

estrutura <strong>de</strong> transportes. A estrada <strong>de</strong> ferro ligan<strong>do</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro a São<br />

Paulo pelo Vale <strong>do</strong> Paraíba, atravessou o planalto paralelamente à linha<br />

<strong>de</strong> costa, chegan<strong>do</strong> a Guaratinguetá <strong>em</strong> 1870.<br />

As zonas <strong>de</strong> abastecimento que utilizavam o transporte marítimo para<br />

colocar <strong>sua</strong> produção no gran<strong>de</strong> centro consumi<strong>do</strong>r, o Rio <strong>de</strong> Janeiro, não<br />

estavam <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> competir com a produção <strong>de</strong> outras regiões, ali<br />

colocada através <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> transporte ferroviário.<br />

Por falta <strong>de</strong> base geográfica a<strong>de</strong>quada, <strong>Paraty</strong> não tinha condições <strong>de</strong><br />

produzir gêneros <strong>em</strong> escala que justificasse reestruturar to<strong>do</strong> o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

transportes, visan<strong>do</strong> a competição com a re<strong>de</strong> ferroviária. É nesse perío<strong>do</strong><br />

que t<strong>em</strong> início a <strong>de</strong>cadência econômica <strong>do</strong> Município.<br />

Foi, porém a abolição da escravatura <strong>em</strong> 1888 que, retiran<strong>do</strong> a mão-<br />

<strong>de</strong>-obra <strong>do</strong>s engenhos, das fazendas e <strong>do</strong> porto, fez com que gran<strong>de</strong><br />

parte da população aban<strong>do</strong>nasse a região <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> futuro mais pro-<br />

missor. A partir <strong>de</strong> então, acaba até a precária manutenção <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> que ficou à mercê das int<strong>em</strong>péries da natureza.<br />

Já <strong>em</strong> fins <strong>do</strong> século XIX constata-se que a população urbana e rural estava<br />

reduzida a menos <strong>de</strong> 4.000 habitantes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> antigos<br />

mora<strong>do</strong>res para as novas cida<strong>de</strong>s que floresciam ao longo da via férrea.<br />

Durante esse perío<strong>do</strong> os poucos mora<strong>do</strong>res que restaram <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> só<br />

podiam sair da cida<strong>de</strong> pelo mar, com lanchas que faziam fretes. Somente<br />

<strong>em</strong> 1954, com a abertura da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, a cida<strong>de</strong> começou a<br />

reviver com a vinda <strong>de</strong> intelectuais <strong>em</strong> busca das raízes <strong>do</strong> Brasil, que fi-<br />

101


102<br />

caram expressas e preservadas na cultura, na arte, na culinária, nas festas<br />

e, principalmente, no patrimônio arquitetônico e paisagístico.<br />

A situação durou até os anos 70 e começou a mudar a partir da aber-<br />

tura da ro<strong>do</strong>via litorânea Rio-Santos - BR-101, el<strong>em</strong>ento indutor <strong>do</strong> <strong>de</strong>-<br />

senvolvimento da região, que acarretou gran<strong>de</strong>s mudanças na ocupação<br />

<strong>do</strong> solo, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ou to<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> interesses econômicos, revigorou ati-<br />

vida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comércio e prestação <strong>de</strong> serviços, o turismo <strong>em</strong> particular,<br />

crian<strong>do</strong> novos <strong>em</strong>pregos e um acréscimo populacional. Foi um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

muitas obras e <strong>de</strong> expansão significativa <strong>do</strong> entorno imediato <strong>do</strong> núcleo<br />

histórico, que foi <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> e fecha<strong>do</strong> ao tráfego <strong>de</strong> veículos automoto-<br />

res, com o objetivo <strong>de</strong> preservar a estrutura <strong>do</strong>s velhos casarões.<br />

Observa<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s censos d<strong>em</strong>ográficos <strong>de</strong> 1970 e 1980, veri-<br />

fica-se que a população rural manteve-se praticamente a mesma (11.760<br />

habitantes <strong>em</strong> 1970 e 11.688 <strong>em</strong> 1980), enquanto que a população ur-<br />

bana passou <strong>de</strong> 4.169, <strong>em</strong> 1970, para 8.934, <strong>em</strong> 1980, registran<strong>do</strong> um<br />

aumento <strong>de</strong> 114,3%.<br />

Situada entre as duas maiores áreas metropolitanas e principais pólos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> país, <strong>Paraty</strong> reinicia um processo <strong>de</strong><br />

expansão urbana e crescimento econômico, basea<strong>do</strong> no binômio turis-<br />

mo/veraneio, resultante <strong>de</strong> uma vocação potencializada no conjunto pai-<br />

sagístico/arquitetônico <strong>do</strong> município.<br />

Os impactos <strong>de</strong>sta nova forma <strong>de</strong> inserção à economia regional foram<br />

bastante acentua<strong>do</strong>s, principalmente no que diz respeito à organização e<br />

ocupação <strong>do</strong> território, <strong>de</strong>corrência da d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> áreas para <strong>em</strong>preen-<br />

dimentos imobiliários volta<strong>do</strong>s para o turismo e o veraneio e a mudança<br />

no perfil da população local, função <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> afluxo <strong>de</strong> população flu-<br />

tuante. Em 1990 a população total passa a 23.871 habitantes, com uma<br />

taxa <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong> 1,34% ao ano, <strong>do</strong>s quais 11.429 habitantes urba-<br />

nos, cujo aumento foi <strong>de</strong> 27,9%, <strong>em</strong> relação a 1980. Segun<strong>do</strong> o censo<br />

<strong>do</strong> ano 2.000 a população <strong>do</strong> Município era estimada <strong>em</strong> 29.544 habi-<br />

tantes, sen<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 14.000 na se<strong>de</strong>.


Evolução Urbana<br />

O sítio histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é um ex<strong>em</strong>plo claro e preserva<strong>do</strong> das cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>em</strong>pório comercial portuguesas marítimas localizadas no Atlântico. Devi-<br />

<strong>do</strong> à longa fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínio econômico, ocorrida a partir <strong>do</strong> terceiro quar-<br />

tel <strong>do</strong> século XXI, conservou <strong>sua</strong> relação direta com o mar e consequen-<br />

t<strong>em</strong>ente, com as rotas marítimas estabelecidas no perío<strong>do</strong> colonial.<br />

Logo nos primeiros anos da colonização <strong>do</strong> território brasileiro a Baia<br />

da Ilha Gran<strong>de</strong> exercia excelente posição relativa no contexto <strong>do</strong> litoral<br />

brasileiro, proporcionan<strong>do</strong>, no Atlântico Sul, excepcional articulação da<br />

zona costeira com o interior <strong>do</strong> continente americano e <strong>sua</strong> projeção so-<br />

bre o território africano.<br />

Do início <strong>do</strong> século XVI e até mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII, era freqüentada<br />

não só por portugueses, que exploraram esta costa, como também por<br />

franceses, ingleses e holan<strong>de</strong>ses interessa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> negociar ma<strong>de</strong>ira, pe-<br />

les, penas, papagaios, macacos e outros produtos tropicais com os povos<br />

indígenas que habitavam a região.<br />

A ligação entre as duas principais vilas da região su<strong>de</strong>ste o Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro e São Paulo <strong>do</strong> Piratininga dava-se por via marítimo-terrestre e o<br />

caminho mais utiliza<strong>do</strong> era o da Serra <strong>do</strong> Facão, situada logo atrás da ci-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aberta pelos índios guaianás, a trilha se iniciava <strong>em</strong> Para-<br />

103<br />

> Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>,<br />

João Teixeira Albernaz,<br />

1630


104<br />

ty, na costa atlântica (mapa antigo), sen<strong>do</strong> aos poucos <strong>de</strong>nominada cami-<br />

nho <strong>do</strong>s ban<strong>de</strong>irantes. <strong>Paraty</strong> <strong>de</strong>finia-se assim <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVI, como<br />

ponto <strong>de</strong> articulação nas comunicações entre Rio e São Paulo, intermedi-<br />

ária obrigatória no acesso ao planalto.<br />

O transito ao longo da costa entre as duas principais vilas da região su-<br />

<strong>de</strong>ste, o Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo <strong>do</strong> Piratininga, favoreceu a oficialização<br />

<strong>de</strong> outras no século XVII, como Angra <strong>do</strong>s Reis - 1608, São Sebastião -<br />

1636, Ubatuba – 1637 e <strong>Paraty</strong> - 1667, os sítios escolhi<strong>do</strong>s foram os que<br />

ofereciam melhores condições geográficas para fixação inicial e maior faci-<br />

lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação com os núcleos já instala<strong>do</strong>s no planalto. Tinham<br />

como função garantir a posse <strong>do</strong> território e a <strong>de</strong>fesa da costa.<br />

Os fatores <strong>de</strong>terminantes para a implantação da vila <strong>de</strong> Nossa Senhora<br />

<strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios, hoje <strong>Paraty</strong>, foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da costa e princi-<br />

palmente, <strong>do</strong>s acessos ao interior da colônia. O local também possuía<br />

uma baía abrigada voltada para nor<strong>de</strong>ste, com ventos propícios à nave-<br />

gação, proteção facilitada pela topografia, e também, terreno fértil e<br />

água potável <strong>em</strong> abundância.<br />

Estrutura Urbana inicial – 1630/1719 – 1º perío<strong>do</strong><br />

Em 16 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1630 colonos vicentinos instalaram o primitivo povoa-<br />

mento <strong>em</strong> uma elevação próxima, às margens <strong>do</strong> rio Perequê-Açu consti-<br />

tuin<strong>do</strong> o núcleo original <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Aí erigiram uma pequena capela <strong>de</strong>dica-<br />

da à São Roque. O povoa<strong>do</strong>, que originou-se como distrito <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />

Angra <strong>do</strong>s Reis, <strong>de</strong>senvolveu-se lentamente ao longo <strong>do</strong> século XVII.<br />

Na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século, <strong>em</strong> 1646, o povoamento passou a ocupar<br />

a várzea, ao sul <strong>do</strong> referi<strong>do</strong> morro, até o rio Patitiba, após receber a <strong>do</strong>a-<br />

ção da sesmaria, foi iniciada a construção da primeira Igreja Matriz, edifi-<br />

cada sob esteios <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e coberta <strong>de</strong> palha, teve curta duração. Nes-<br />

te local <strong>de</strong>senvolveu-se transforman<strong>do</strong>-se posteriormente na vila <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios.<br />

Em 1660 foi ergui<strong>do</strong> o pelourinho, símbolo da autorida<strong>de</strong> portuguesa,<br />

mesmo ano <strong>em</strong> que a administração colonial man<strong>do</strong>u <strong>de</strong>scobrir e “abrir<br />

o caminho” da serra, acompanhan<strong>do</strong> a trilha guaianá, porém, <strong>em</strong>anci-<br />

pou-se politicamente, apenas <strong>em</strong> 1667. Mesmo elevada à categoria <strong>de</strong><br />

vila, <strong>de</strong>senvolveu-se lentamente ao longo <strong>do</strong> século XVII <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à extr<strong>em</strong>a<br />

simplicida<strong>de</strong> que vivia seus habitantes.


Em 1668 teve inicio a construção <strong>de</strong> uma nova Matriz, <strong>em</strong> pedra e cal, <strong>em</strong><br />

local mais próximo ao mar, concluída apenas <strong>em</strong> 1712.<br />

<strong>Paraty</strong> a<strong>do</strong>tou as estratégias <strong>de</strong> implantação e estruturação urbanas<br />

utilizadas nas cida<strong>de</strong>s insulares e marítimas atlânticas portuguesas. Esta<br />

fase é marcada pela existência <strong>de</strong> <strong>do</strong>is núcleos <strong>de</strong> povoamento, uma via<br />

ao longo da costa, acompanhan<strong>do</strong> a curvatura da baía constituia a estru-<br />

tura primordial <strong>de</strong> ocupação. Perpendicularmente abriam-se pequenas<br />

travessas, resolven<strong>do</strong> os probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> circulação e drenag<strong>em</strong>. As primei-<br />

ras construções faziam-se ao longo <strong>de</strong>ste caminho, <strong>em</strong> série, e observan-<br />

<strong>do</strong> diretivas construtivas da coroa, forman<strong>do</strong> uma estrutura urbana linear.<br />

Um largo se formava ao centro da povoação on<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam ser ergui<strong>do</strong>s<br />

o pelourinho, a matriz e a casa <strong>de</strong> câmara e ca<strong>de</strong>ia. Em <strong>Paraty</strong>, tal como<br />

nos pequenos povoamentos, a casa <strong>de</strong> câmara só foi construída quase<br />

um século <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à falta <strong>de</strong> recursos.<br />

> Debret - <strong>Paraty</strong><br />

<strong>em</strong> 1827<br />

105


106<br />

> Simulação – Vila <strong>de</strong><br />

São Roque – 1630/40<br />

Com a <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> ouro nas minas <strong>do</strong> Ribeirão <strong>de</strong> <strong>Ouro</strong> Preto, <strong>do</strong> Ri-<br />

beirão das Mortes e <strong>do</strong> Rio das Velhas, no final <strong>do</strong> século XVII, <strong>de</strong>senvol-<br />

veu-se gigantesco processo migratório no país, principalmente externo.<br />

Significativa parcela <strong>de</strong>sse fluxo passou forçosamente por <strong>Paraty</strong>.<br />

Por <strong>sua</strong> posição estratégica e servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> ligação às regiões auríferas,<br />

<strong>em</strong> 1702 foi ergui<strong>do</strong> um reduto com uma trincheira <strong>do</strong>tada <strong>de</strong> quatro<br />

peças, e oficializa<strong>do</strong> o <strong>em</strong>barque <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o ouro pelo seu porto, que se-<br />

guia para a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> on<strong>de</strong> era <strong>em</strong>barca<strong>do</strong> para Lisboa.<br />

Logo, <strong>em</strong> 1703, <strong>do</strong>is fortes foram construí<strong>do</strong>s, um ao norte junto ao rio<br />

Perequê-Açu e outro ao sul, junto ao rio Patitiba.<br />

Outra medida tomada, para controlar o escoamento <strong>do</strong> ouro, foi a<br />

criação da chamada Casa <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> ou Casa <strong>do</strong>s Quintos, tam-<br />

bém <strong>em</strong> 1703, na Serra, rece-<br />

ben<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> então, o reco-<br />

nhecimento oficial <strong>de</strong> <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>.<br />

Por volta <strong>de</strong> 1710 foi aber-<br />

to um novo caminho, mais curto,<br />

pela serra <strong>do</strong>s Órgãos, apenas<br />

terrestre, ligan<strong>do</strong> a região das Mi-<br />

nas diretamente ao porto <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, que só se tornou im-<br />

portante <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1720. Mas o<br />

caminho <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> não foi aban-<br />

<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, e a Vila <strong>de</strong> consoli<strong>do</strong>u a<br />

<strong>sua</strong> ocupação por <strong>de</strong>senvolver uma intensa ativida<strong>de</strong> comercial e agrícola.<br />

Em 1717, <strong>Paraty</strong> foi <strong>de</strong>scrita como uma pequena vila com menos <strong>de</strong><br />

50 casas térreas, a maior parte <strong>de</strong>las <strong>em</strong> taipa, cobertas com palhas, dis-<br />

tribuídas dispersamente nas ilhas, na praia e acompanhan<strong>do</strong> os primeiros<br />

caminhos <strong>de</strong> penetração terrestre e fluvial. Não existia cais e os <strong>em</strong>bar-<br />

ques eram realiza<strong>do</strong>s <strong>em</strong> praias e margens <strong>do</strong>s rios próximos.


Estruturação <strong>do</strong> núcleo Urbano – 1719/1787 – 2º perío<strong>do</strong><br />

INa primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XVIII foram realizadas importantes obras <strong>de</strong><br />

estruturação na vila, como a d<strong>em</strong>arcação que ocorreu <strong>em</strong> 1719.<br />

Com o crescimento populacional, formaram-se as irmanda<strong>de</strong>s (associa-<br />

ções civis com finalida<strong>de</strong> não apenas religiosa; possuíam alto grau <strong>de</strong> au-<br />

tonomia e influenciavam na vida da cida<strong>de</strong>), estas expressavam a diferen-<br />

ciação social na vila, a Igreja <strong>de</strong> Santa Rita foi edificada, <strong>em</strong> 1722, pelos<br />

par<strong>do</strong>s libertos, que eram escravos livres, mestiços <strong>de</strong> preto com branco,<br />

<strong>em</strong> local próximo à praia e ao rio Patitiba e; <strong>em</strong> 1725, foi edificada pelos<br />

negros escravos, a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário, nos arrabal<strong>de</strong>s.<br />

A construção <strong>do</strong>s edifícios religiosos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhavam importante pa-<br />

pel, como pólos <strong>de</strong> atração, consolidan<strong>do</strong> os setores da malha urbana.<br />

Durante o primeiro quartel <strong>do</strong> século XVIII as autorida<strong>de</strong>s insistiam nas<br />

obras <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> porto. Em 1726, foi or<strong>de</strong>nada a construção <strong>de</strong> um cais<br />

flanquea<strong>do</strong> para servir <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa aos <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barques, que foi construí<strong>do</strong><br />

pelos mora<strong>do</strong>res nas testadas <strong>de</strong> seus terrenos.<br />

Era gran<strong>de</strong> a preocupação com a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> navios estrangeiros<br />

que ali paravam para <strong>de</strong>ixar e comprar merca<strong>do</strong>rias. Os <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barques<br />

eram realiza<strong>do</strong>s, <strong>em</strong> pequenas <strong>em</strong>barcações, pois a enseada era bastante<br />

espraiada e na vazante da maré ficavam todas a seco, o porto, <strong>em</strong>bora<br />

abriga<strong>do</strong>, s<strong>em</strong>pre apresentou probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> atracação.<br />

107<br />

> O.A.M.T. – Maré Alta<br />

na Praça da Ban<strong>de</strong>ira


108<br />

> A.M - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, parte IV – sítio da<br />

Cachoeirinha<br />

No mesmo ano <strong>de</strong> 1726 ocorreu o balizamento para as ruas.<br />

Tão importantes quanto os edifícios religiosos para a estruturação da vila,<br />

foram os rios. Des<strong>de</strong> os primeiros t<strong>em</strong>pos houveram muitas transformações.<br />

No ano <strong>de</strong> 1728 o rio Perequê-Açú que tinha <strong>sua</strong> foz natural ao norte <strong>do</strong><br />

morro <strong>do</strong> forte, foi translada<strong>do</strong> para o sul, fral<strong>de</strong>an<strong>do</strong> o referi<strong>do</strong> morro. O<br />

motivo aponta<strong>do</strong> seria a falta <strong>de</strong> água potável para os mora<strong>do</strong>res.<br />

Devi<strong>do</strong> a esse <strong>de</strong>svio algumas conseqüências ocorreram à vila, a barra<br />

<strong>do</strong> Perequê-Açú passou a correr a sul, aproximan<strong>do</strong>-se cada vez mais da<br />

barra <strong>do</strong> Patitiba, e com a corrente <strong>do</strong> mar, natural a este, passaram a sitiar<br />

a frente da cida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong> o porto mais baixo e lamacento e, na prea-<br />

mar, as respectivas águas passaram a invadir as ruas.


Em 1746, a população urbana e rural atingia aproximadamente 3.000<br />

habitantes, e a segunda matriz já se encontrava arruinada. Documentos<br />

posteriores faz<strong>em</strong> referências a Casa <strong>de</strong> Câmara e Ca<strong>de</strong>ia neste perío<strong>do</strong>.<br />

Em 1750 ocorreu novo balizamento na vila.<br />

Nesta época ocorreu a abertura da atual rua Dona Geralda, que se cha-<br />

mava rua Nova da Praya. Os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> referência urbana cita<strong>do</strong>s nos<br />

<strong>do</strong>cumentos são, a Cruz das Almas - no caminho <strong>de</strong> Laranjeiras, e Nossa<br />

Senhora da Lapa - que se localizava no caminho entre a sacristia da Matriz<br />

e Santa Rita, o primeiro um oratório e o segun<strong>do</strong>, qu<strong>em</strong> sabe, uma capela.<br />

A vila era constituída pela rua da Praça, que já não existe mais, prova-<br />

velmente, no prolongamento da rua <strong>do</strong> Fogo; a rua Nova da Praia, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>do</strong> Merca<strong>do</strong> e atual Dona Geralda; a rua travessa da Lapa atual rua da<br />

Matriz - paralelas ao mar; e perpendiculares - a rua travessa <strong>do</strong> Rosário e,<br />

a rua que vai <strong>de</strong> Nossa Senhora da Lapa para o Campo.<br />

Em 1757 a Igreja <strong>do</strong> Rosário foi reconstruída. O merca<strong>do</strong> funcionou,<br />

neste perío<strong>do</strong>, no terreno da rua Dona Geralda esquina com a rua <strong>do</strong> Ro-<br />

sário, <strong>de</strong>slocan<strong>do</strong>-se no final <strong>do</strong> século para a mesma rua esquina <strong>do</strong> Lar-<br />

go <strong>de</strong> Santa Rita.<br />

Este segun<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> é caracteriza<strong>do</strong> pelo surgimento <strong>de</strong> um conjunto<br />

<strong>de</strong> ruas paralelas (ruas principais e secundárias) e perpendiculares à primei-<br />

ra (travessas), crian<strong>do</strong> uma malha urbana <strong>de</strong> quarteirões alonga<strong>do</strong>s, <strong>de</strong><br />

planimetria retangular, e uma hierarquia <strong>de</strong> ruas <strong>de</strong>finidas pelas ruas prin-<br />

cipais e secundárias.<br />

109<br />

> T.M - Tropas <strong>de</strong> Mulas,<br />

<strong>de</strong>senho interpretativo


110<br />

> Simulação – Vila <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora <strong>do</strong>s<br />

R<strong>em</strong>édios, 1730/40;<br />

> Abaixo: Rugendas –<br />

Tropas cruzan<strong>do</strong> rio<br />

A função <strong>de</strong> centro produtor e<br />

exporta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> gêneros alimentí-<br />

cios para as Minas Gerais e, pos-<br />

teriormente, para a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, promovida a se<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> novo Vice-Reina<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 1763,<br />

permitiu a <strong>Paraty</strong> superar a crise<br />

esboçada no transcurso <strong>do</strong> sécu-<br />

lo, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>u a centraliza-<br />

ção <strong>do</strong> abastecimento das Minas<br />

pelo porto <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>em</strong><br />

função da conclusão, <strong>em</strong> 1767,<br />

o “<strong>Caminho</strong> Novo”, a primeira ligação terrestre entre Rio e São Paulo. Por<br />

esse caminho e por <strong>sua</strong>s variantes posteriores, a cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio passou a<br />

influir diretamente nos centros mineiros, dispensan<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> da função<br />

<strong>de</strong> intermediária obrigatória.<br />

O caminho por <strong>Paraty</strong>, no entanto, não foi <strong>de</strong> to<strong>do</strong> aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>, mas<br />

os efeitos começaram a se sentir com maior intensida<strong>de</strong>, paralisan<strong>do</strong> aos<br />

poucos um ativíssimo comércio e incentivan<strong>do</strong> a venda às tropas da escra-<br />

varia <strong>de</strong>snecessária.


Estrutura Urbana Regular – 1787/1836 – 3º perío<strong>do</strong><br />

Na medida <strong>em</strong> que se aproximava o fim <strong>do</strong> século XVIII, a valorização <strong>do</strong><br />

açúcar no merca<strong>do</strong> internacional estimulou a rápida expansão <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />

cultura <strong>em</strong> terras paratienses. Engenhos e engenhocas foram instala<strong>do</strong>s<br />

às <strong>de</strong>zenas, com numerosos pequenos proprietários espalhan<strong>do</strong>-se pela<br />

região. A complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> rios e canais navegáveis foi amplamente uti-<br />

lizada para transportar a produção <strong>em</strong> direção ao porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. A pro-<br />

dução <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte reativou o porto e o caminho da serra.<br />

Do final <strong>do</strong> século XVIII ao início <strong>do</strong> século XIX, ocorr<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s transfor-<br />

mações urbanas. Já <strong>em</strong> 1787 começava-se a planejar a construção <strong>de</strong> uma<br />

nova Igreja Matriz, que foi concluída quase um século <strong>de</strong>pois <strong>em</strong> 1863.<br />

Em 1790 existiam na Villa 392 casas edificadas, das quais estão 35<br />

sobra<strong>do</strong>s, e 230 no município. A população era composta por cerca <strong>de</strong><br />

2.000 pessoas sen<strong>do</strong> 50% brancas e 50 % negras, a população rural<br />

cerca <strong>de</strong> 6.600 pessoas.<br />

A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejamento era uma constante e realizada através<br />

das correições. Os espaços públicos foram reestrutura<strong>do</strong>s com a estrutu-<br />

ração <strong>de</strong> largos nas extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> função <strong>de</strong> novos equipamentos<br />

civis e religiosos. O <strong>de</strong> Santa Rita, junto ao rio da Patitiba, on<strong>de</strong> se locali-<br />

zava o porto, o quartel da cida<strong>de</strong> e um novo merca<strong>do</strong>, e o da Praça <strong>do</strong><br />

111<br />

> Aquarela <strong>de</strong> Debret,<br />

Pedra da Montanha <strong>do</strong><br />

Forte, perto da praia <strong>do</strong><br />

Pontal, <strong>Paraty</strong>


112<br />

> A.M. – Manguezal –<br />

Saco <strong>do</strong> Mamanguá<br />

Impera<strong>do</strong>r, junto ao rio Perequê-Açú, on<strong>de</strong> estava sen<strong>do</strong> construída a<br />

nova matriz, próximo à casa <strong>de</strong> câmara e ca<strong>de</strong>ia, que posteriormente,<br />

viria a se transformar no centro cívico administrativo e religioso. A primi-<br />

tiva praça central, ainda se conservava.<br />

O campo <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong> é constant<strong>em</strong>ente cita<strong>do</strong> nos <strong>do</strong>cumentos e era<br />

utiliza<strong>do</strong>, também como referência urbana; <strong>sua</strong> primeira localização se<br />

<strong>de</strong>u provavelmente nas proximida<strong>de</strong>s da Igreja <strong>do</strong> Rosário, transferin<strong>do</strong>-<br />

se posteriormente para on<strong>de</strong> se encontra o colégio Estadual e, <strong>em</strong> mea-<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX, transferiu-se para o local <strong>do</strong> atual campo <strong>de</strong> futebol,<br />

com a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> Largo <strong>do</strong> Rocio.<br />

Os antigos caminhos foram se consolidan<strong>do</strong>. À lógica <strong>de</strong> povoamento<br />

e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano longitudinal paralelo à linha da costa, suce-<br />

<strong>de</strong>u uma ord<strong>em</strong> urbana que passou a ter como direção fundamental à<br />

direção perpendicular ao litoral, induzin<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> século XIX o cresci-<br />

mento da cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> direção ao interior.<br />

Paralelos ao litoral, avançan<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> direção à serra, o caminho<br />

que “ia <strong>do</strong> Rosário para a Boa Vista” passou a se chamar Patitiba e, foi criada<br />

a rua nova das Hortas, <strong>de</strong>pois rua Nova Gravatá e Gravatá; <strong>em</strong> direção ao<br />

mar a rua Nova da Praya passa a ser apenas, Praya e <strong>de</strong>pois Merca<strong>do</strong>.<br />

Perpendicularmente, a rua da Ferraria substituiu o “caminho <strong>do</strong> cam-<br />

po <strong>de</strong> lavag<strong>em</strong>”; e o caminho que “v<strong>em</strong> da praya <strong>de</strong> Santa Rita para as<br />

chácaras” pela rua Salva<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Couto, e já <strong>em</strong> 1805 aparece a rua da Ca<strong>de</strong>ia.


Estas ruas possu<strong>em</strong> traça<strong>do</strong> retilíneo com larguras que variam entre 35 a 40<br />

palmos. A primeiras ruas variavam <strong>de</strong> 20 a 25 palmos <strong>de</strong> largura.<br />

Dada a cada vez maior distância que separava estas sucessivas ruas<br />

longitudinais que iam sen<strong>do</strong> traçadas, e abertas as ruas perpendiculares,<br />

os quarteirões ora forma<strong>do</strong>s eram maiores, e dispunha-se perpendicular-<br />

mente à linha <strong>de</strong> costa e on<strong>de</strong> a hierarquia das ruas anteriormente verifi-<br />

cada <strong>de</strong>saparece pra dar lugar a uma nova forma on<strong>de</strong> as frentes <strong>do</strong>s lo-<br />

tes dão para as ruas e as traseiras para os interiores <strong>do</strong>s quarteirões. A<br />

malha urbana assumia assim, um mo<strong>de</strong>lo reticula<strong>do</strong>.<br />

A preocupação com a <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong> voltou à cena nesta fase. Em<br />

1793 foi edifica<strong>do</strong> o Forte Defensor Perpétuo no alto <strong>do</strong> morro da vila<br />

velha.e <strong>em</strong> 1797, foi construí<strong>do</strong> um quartel na cida<strong>de</strong> para as tropas e<br />

fortificadas todas as bocas das ruas e d<strong>em</strong>ais espaços da orla.<br />

É, no início <strong>do</strong> século XIX, que a baía recebeu um novo esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong>-<br />

fensivo com a construção, <strong>em</strong> 1818, <strong>do</strong> Forte da Ilha das Bexigas. Além<br />

<strong>de</strong>sses, existia a bateria da vila, as trincheiras <strong>do</strong> Iticupé e Ponta Grossa na<br />

costa da baía, e outros <strong>do</strong>is fortes na Ilha <strong>do</strong>s Mantimentos e Ilha <strong>do</strong>s<br />

Meros. A estrada da Serra era guarnecida por um quartel junto à Casa <strong>do</strong><br />

Registro da Cachoeira.<br />

113<br />

> A.M – Aves marítimas<br />

na Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>


A.M. - Tropa <strong>de</strong> Mulas<br />

no <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />

entre Mambucaba e São<br />

José <strong>do</strong> Barreiro<br />

Data <strong>de</strong> 1799 as primeiras posturas municipais, que refletiam a preocupa-<br />

ção com o crescimento, o aspecto e a altura das novas edificações. Regu-<br />

lamentava as dimensões das edificações ditan<strong>do</strong> medidas das portas ja-<br />

nelas e prumadas.<br />

A Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores começou a ser edificada <strong>em</strong><br />

1800, pelas senhoras da elite, <strong>em</strong> local próximo à vila, junto ao mar, indu-<br />

zin<strong>do</strong> o crescimento da cida<strong>de</strong> nesta direção. Os edifícios institucionais<br />

passam então, a se localizar fora da área central.<br />

O plano <strong>de</strong> urbanização e saú<strong>de</strong> pública foi proposto <strong>em</strong> 1804. E ainda<br />

<strong>em</strong> 1804, a Villa foi novamente medida, quan<strong>do</strong> o Vice-Rei, por meio <strong>de</strong><br />

uma Carta, <strong>de</strong>terminava que a Câmara não conce<strong>de</strong>sse mais licença para<br />

se edificar nas marinhas.<br />

Por Decreto <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1813 a vila foi enobrecida como<br />

título <strong>de</strong> Conda<strong>do</strong>. Em 1816 as obras da nova matriz recomeçaram e na<br />

o pararam mais até <strong>sua</strong> inauguração.<br />

Na segunda década <strong>do</strong> século XIX, <strong>Paraty</strong> expandiu-se: à norte - atra-<br />

vessan<strong>do</strong> o rio Perequê-Açú, foi lançada a pedra fundamental, da Santa<br />

Casa <strong>de</strong> Misericórdia, <strong>em</strong> 1822, e reforma<strong>do</strong> o Forte Defensor Perpétuo;<br />

avançan<strong>do</strong> <strong>em</strong> direção ao mar – foi aberta a rua Nova da Praia, atual rua<br />

Doutor Pereira; a poente - <strong>em</strong> direção à serra foi criada a rua Nova <strong>do</strong><br />

Ouvi<strong>do</strong>r, junto ao Campo da Lavag<strong>em</strong>; e finalmente ao sul, foi se conso-<br />

lidan<strong>do</strong> o bairro da Patitiba <strong>em</strong> direção à um <strong>do</strong>s fortes conheci<strong>do</strong> como<br />

Fortaleza, junto ao rio Patitiba.<br />

Conforme relatos, a edificação na vila s<strong>em</strong>pre foi muito difícil <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

condição <strong>do</strong> solo muito baixo e alagadiço. Por toda parte havia pequenos<br />

lugares invadi<strong>do</strong>s ao mesmo t<strong>em</strong>po pelas marés e pelos rios quan<strong>do</strong><br />

transbordavam, ou espaços cobertos por mangues on<strong>de</strong> penetrava o mar.<br />

A edificação <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi, <strong>de</strong>sta forma, o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> muito esforço.<br />

Qu<strong>em</strong> quisesse fazer a <strong>sua</strong> casa tinha primeiro que conquistar ao mar o<br />

espaço preciso. O aterro tinha <strong>de</strong> vir quase s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> canoas que os<br />

transportava das outras margens <strong>do</strong>s rios laterais.<br />

Este terceiro perío<strong>do</strong> caracteriza-se pela estruturação <strong>de</strong> praças urba-<br />

nas associadas à novos equipamentos, pela implantação <strong>de</strong> edifícios sig-<br />

nificativos (igrejas, misericórdia e fortes) fora <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> inicial, e por outro,<br />

pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> malhas urbanas <strong>em</strong> retícula, com quarteirões<br />

apresentan<strong>do</strong> uma forma quadrangular , e on<strong>de</strong> a hierarquia das ruas


anteriormente verificada <strong>de</strong>saparece para dar lugar a uma nova forma,<br />

on<strong>de</strong> as frentes <strong>do</strong>s lotes dão para as ruas e os fun<strong>do</strong>s para os interiores<br />

<strong>do</strong>s quarteirões.<br />

Reestruturação formal da malha – 1836/1870 – 4º perío<strong>do</strong><br />

Em princípio <strong>do</strong> século XIX o café surge como o produto que iria propiciar<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento e a reintegração da economia brasileira ao comércio<br />

mundial <strong>em</strong> expansão. A principal zona produtora o Vale <strong>do</strong> Rio Paraíba<br />

se utilizou da antiga estrutura <strong>de</strong> caminhos da serra e <strong>do</strong>s pequenos por-<br />

tos marítimos para escoar <strong>sua</strong> produção para o Rio <strong>de</strong> Janeiro e o fluxo<br />

pelo velho <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, voltou a fervilhar. Mais uma vez Parati vê<br />

reforça<strong>do</strong> seu papel <strong>de</strong> intermediário entre as zonas <strong>de</strong> produção e o<br />

merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, através das precárias trilhas que cortavam o pare-<br />

dão marítimo.<br />

Descen<strong>do</strong> o café <strong>do</strong> vale, subia o sal, pólvora e armamentos, e tam-<br />

bém, merca<strong>do</strong>rias luxuosas para os fazen<strong>de</strong>iros e escravos para trabalha-<br />

r<strong>em</strong> na lavoura.<br />

115<br />

> Baía da ilha Gran<strong>de</strong><br />

1819-1821, por Francisco<br />

Pedro Darbués Moreira


116<br />

> M.S. – <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, parte IV<br />

– sítio da Cachoeirinha,<br />

pavimentação <strong>do</strong> século XIX<br />

O <strong>Caminho</strong> foi inteiramente calça<strong>do</strong> no trecho da Serra e realizadas obras<br />

<strong>de</strong> engenharia necessárias, para tal, um grupo <strong>de</strong> engenheiros militares<br />

passou a trabalhar no calçamento da serra. Estes mesmos engenheiros<br />

atuaram, também no planejamento da cida<strong>de</strong>, reven<strong>do</strong> o traça<strong>do</strong>, na<br />

manutenção <strong>de</strong> ruas e praças, no <strong>de</strong>ssecamento <strong>de</strong> pântanos e mangues,<br />

esgotos e abastecimento <strong>de</strong> água.<br />

As primeiras leis urbanísticas foram aprovadas <strong>em</strong> 13 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1836,<br />

sen<strong>do</strong> possível observar os cuida<strong>do</strong>s com o alinhamento das edificações e<br />

<strong>em</strong>belezamento <strong>de</strong> edifícios públicos e praças:


Artigo 3º “Os edifícios serão levanta<strong>do</strong>s sobre pilares <strong>de</strong> pedra<br />

e cal. As casa terreas terão <strong>de</strong> altura <strong>de</strong>zoito palmos, as <strong>de</strong> sob-<br />

ra<strong>do</strong> trinta e cinco incluída a ma<strong>de</strong>ira <strong>em</strong> huãs e outras. As<br />

janellas e portas terão cinco palmos <strong>de</strong> largo; <strong>de</strong> altura estas<br />

<strong>do</strong>ze, e aquelas sete e meio, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> diminuir-se até meio<br />

palmo somente na largura das portas, e janelas, sen<strong>do</strong><br />

necessário as proporçoens relativas ao edifício, e as portas <strong>do</strong>s<br />

Armazéns, ou cocheiras terão ao menos quatorze palmos <strong>de</strong><br />

alto, e nunca menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>de</strong> vão /.../”.(Nota)<br />

Neste mesmo ano ocorreu a r<strong>em</strong>o<strong>de</strong>lação <strong>do</strong> forte Defensor Perpétuo.<br />

Como <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, a questão das constantes enchentes, o refluxo das ma-<br />

rés e <strong>do</strong> espraiamento <strong>de</strong> seu porto eram fundamentais, os engenheiros<br />

também atuaram neste viés. Para sanar estes probl<strong>em</strong>as a Câmara pro-<br />

mulgou a Lei nº 107/1837, <strong>de</strong>terminan<strong>do</strong> a restituição da foz <strong>do</strong> rio Pere-<br />

quê-Açú ao seu leito primordial e o cortamento das curvas e alargamento<br />

<strong>do</strong> rio Patitiba a partir da foz.<br />

As ruas passaram a ser calçadas com pedras re<strong>do</strong>ndas, conhecidas<br />

como pé-<strong>de</strong>-moleque, com leve inclinação <strong>em</strong> direção ao mar e aos rios,<br />

possu<strong>em</strong> uma calha central por on<strong>de</strong> escoam as águas das marés.<br />

Neste perío<strong>do</strong> verifica-se uma forte preocupação com a regularida<strong>de</strong> e o<br />

or<strong>de</strong>namento <strong>do</strong> espaço urbano.<br />

117<br />

> <strong>Paraty</strong> por Conrad<br />

Jacob <strong>de</strong> Ni<strong>em</strong>eyer <strong>em</strong><br />

1839


118<br />

Os <strong>do</strong>is quarteirões compreendi<strong>do</strong>s pelas ruas da Praia (atual Dona Geral-<br />

da), rua da Praça e rua da Lapa (atual rua da Matriz), se transformaram<br />

<strong>em</strong> um único, restan<strong>do</strong> como r<strong>em</strong>anescente apenas, a rua <strong>do</strong> Fogo, po-<br />

rém, ainda é perceptível, na rua Dona Geralda, a curvatura acompanhan-<br />

<strong>do</strong> à linha <strong>de</strong> costa. A cida<strong>de</strong> avança ainda mais <strong>em</strong> direção ao mar, pro-<br />

vavelmente pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consolidar o solo alagadiço, com a rua<br />

nova da Praia e rua Fresca. Na rua Nova da Praia (atual Doutor Pereira), no<br />

quarteirão próximo ao merca<strong>do</strong> e ao porto, encontramos um gran<strong>de</strong> nú-<br />

mero <strong>de</strong> armazéns.<br />

A vila foi elevada à categoria <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1844, pela<br />

Lei Provincial nº 302. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século a população <strong>do</strong> município era<br />

<strong>de</strong> 10.800 pessoas e da cida<strong>de</strong>, 1.900 habitantes. Milliet <strong>de</strong> Saint A<strong>do</strong>l-<br />

phe, <strong>em</strong> 1844, fez uma <strong>de</strong>scrição da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>sua</strong> economia:<br />

“Nova cida<strong>de</strong> e antiga vila populosa e mercantil da província <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, com ruas largas, casas alinhadas, sen<strong>do</strong> muitas<br />

<strong>de</strong> sobra<strong>do</strong>. As ruas <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> são largas e corr<strong>em</strong> <strong>do</strong> norte<br />

para o sul, e <strong>do</strong> nascente para o poente; as casas são b<strong>em</strong><br />

alinhadas e muitas <strong>de</strong> sobra<strong>do</strong> ..; varias escolas <strong>de</strong> primeiras<br />

lettras, uma ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> latim, uma casa <strong>de</strong> camara no primeiro<br />

andar, com a ca<strong>de</strong>ia por baixo. /.../”<br />

Muitos melhoramentos urbanos foram realiza<strong>do</strong>s. Só após 1850, com os<br />

antigos caminhos transforma<strong>do</strong>s <strong>em</strong> ruas e a cida<strong>de</strong> estruturadas, que os<br />

imóveis passaram a ser numera<strong>do</strong>s. As praças foram alvo das preocu-<br />

pações; o novo merca<strong>do</strong> próximo ao mar, provocou transformações<br />

<strong>em</strong> to<strong>do</strong> aquele setor da cida<strong>de</strong>, principalmente na praça da Igreja <strong>de</strong><br />

Santa Rita on<strong>de</strong>, também, foi <strong>de</strong>sativa<strong>do</strong> o quartel das tropas; o chafariz<br />

<strong>de</strong> mármore inaugura<strong>do</strong> no ano <strong>de</strong> 1853, no antigo campo <strong>de</strong> “lavaj<strong>em</strong>”,<br />

também alavancou melhorias urbanas na área além <strong>de</strong> solucionar o pro-<br />

bl<strong>em</strong>a <strong>do</strong> abastecimento <strong>de</strong> água e, no ano <strong>de</strong> 1858, revogou-se a medida<br />

<strong>de</strong> que proibia a construção <strong>de</strong> casas térreas na Praça Municipal, pois exis-<br />

tiam muitos vazios. Outra gran<strong>de</strong> preocupação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, que se concre-<br />

tizou a partir <strong>de</strong> 1855, foi a construção <strong>do</strong> c<strong>em</strong>itério fora da área urbana.<br />

O sítio histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> assume <strong>sua</strong>s feições atuais nesta época. Se<br />

caracteriza por uma elevada coerência formal, um <strong>de</strong>nso espaço


construí<strong>do</strong> e frentes <strong>de</strong> ruas contínuas, compon<strong>do</strong> quar-<br />

teirões diss<strong>em</strong>elhantes, mas linearmente <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>s.<br />

A tipologia arquitetônica é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong>,<br />

as edificações não têm um caráter excepcional, se anali-<br />

sadas isoladamente, mas sim enquanto células <strong>de</strong> um<br />

organismo morfologicamente coerente. É extr<strong>em</strong>amente<br />

homogêneo inclusive nos materiais e técnicas utilizadas.<br />

O espaço edifica<strong>do</strong> conjuga a casa térrea e o sobra-<br />

<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> armazéns. Alguns so-<br />

bra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX se <strong>de</strong>stacam pela inserção <strong>de</strong> por-<br />

menores arquitetônicos notáveis, tanto nos trabalhos<br />

<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro forja<strong>do</strong>, como nos frisos e pilastras<br />

ornamenta<strong>do</strong>s.<br />

Não há edifícios públicos que se <strong>de</strong>staqu<strong>em</strong> <strong>do</strong>s res-<br />

tantes. As principais referências são os t<strong>em</strong>plos religio-<br />

sos, seja pela volumetria, pela localização ou mesmo<br />

pelos materiais.<br />

Em 1870, houve nova aprovação <strong>do</strong> Código <strong>de</strong> Pos-<br />

turas Municipais, pela Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa Provincial,<br />

que repetiu basicamente o primeiro texto, enfatizan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>talhes construtivos, o recuo <strong>em</strong> relação aos rios e, a<br />

salubrida<strong>de</strong> com o <strong>de</strong>ssecamento <strong>do</strong>s terrenos alagadiços<br />

A expansão da produção cafeeira aprimorou a infra-estrutura <strong>de</strong> trans-<br />

portes. A estrada <strong>de</strong> ferro ligan<strong>do</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro a São Paulo pelo Vale<br />

<strong>do</strong> Paraíba, atravessou o planalto paralelamente à linha <strong>de</strong> costa, chegan-<br />

<strong>do</strong> a Guaratinguetá <strong>em</strong> 1870.<br />

As zonas <strong>de</strong> abastecimento que utilizavam o transporte marítimo para<br />

colocar <strong>sua</strong> produção no gran<strong>de</strong> centro consumi<strong>do</strong>r, o Rio <strong>de</strong> Janeiro, não<br />

estavam <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> competir com a produção <strong>de</strong> outras regiões, ali<br />

colocada através <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> transporte ferroviário.<br />

Por falta <strong>de</strong> base geográfica a<strong>de</strong>quada, <strong>Paraty</strong> não tinha condições <strong>de</strong><br />

produzir gêneros <strong>em</strong> escala que justificasse reestruturar to<strong>do</strong> o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

transportes, visan<strong>do</strong> a competição com a re<strong>de</strong> ferroviária. É nesse perío<strong>do</strong><br />

que t<strong>em</strong> início a <strong>de</strong>cadência econômica <strong>do</strong> Município.<br />

119<br />

> <strong>Paraty</strong> por Conrad<br />

Jacob <strong>de</strong> Ni<strong>em</strong>eyer <strong>em</strong><br />

1858-61


120<br />

Estruturação <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> intra-urbano – 1870/1945 –<br />

5ºperío<strong>do</strong><br />

Foi, porém a abolição da escravatura <strong>em</strong> 1888 que, retiran<strong>do</strong> a mão-<strong>de</strong>-<br />

obra <strong>do</strong>s engenhos, das fazendas e <strong>do</strong> porto, fez com que gran<strong>de</strong> parte<br />

da população aban<strong>do</strong>nasse a região <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> futuro mais promissor.<br />

Já <strong>em</strong> fins <strong>do</strong> século XIX constata-se que a população urbana e rural estava<br />

reduzida a menos <strong>de</strong> 4.000 habitantes <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> antigos<br />

mora<strong>do</strong>res para as novas cida<strong>de</strong>s que floresciam ao longo da via férrea.<br />

Nesta época, as características tipológicas e morfológicas da cida<strong>de</strong> se<br />

alteram, os armazéns se transformam <strong>em</strong> residência, as edificações pas-<br />

sam a se r<strong>em</strong><strong>em</strong>brar a outras e aos terrenos urbanos disponíveis, que se<br />

transformam <strong>em</strong> seus quintais, forman<strong>do</strong> gran<strong>de</strong>s proprieda<strong>de</strong>s. Também<br />

as chácaras passam a integrar a malha urbana.<br />

Os rios da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser limpos e espraiam-se. <strong>Paraty</strong> passa a<br />

importar até feijão, <strong>de</strong> que fora um <strong>do</strong>s maiores produtores.<br />

A câmara municipal tentou reabilitar a economia da cida<strong>de</strong> por meio<br />

da abertura <strong>de</strong> estradas, porém, os esforços foram <strong>em</strong> vão.<br />

Durante esse perío<strong>do</strong> os poucos mora<strong>do</strong>res que restaram <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> só<br />

podiam sair da cida<strong>de</strong> pelo mar, com lanchas que faziam fretes.<br />

Por causa das péssimas condições <strong>do</strong> seu cais, ou melhor, a ausência<br />

<strong>de</strong> um cais <strong>Paraty</strong> ficou cada vez mais fora das rotas marítimas. Com a<br />

maré cheia, o <strong>em</strong>barque e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barque era feito através <strong>de</strong> canoa e,<br />

quan<strong>do</strong> a maré baixava, aflorava um enorme lodaçal e aqueles que não<br />

quisess<strong>em</strong> se enterrar na lama até acima <strong>do</strong>s joelhos tinham que se resig-<br />

nar a ser<strong>em</strong> leva<strong>do</strong>s nas costas <strong>de</strong> carrega<strong>do</strong>res que esperavam a chegada<br />

<strong>do</strong>s vapores. Foi somente <strong>em</strong> 1931 que se fez uma ponte <strong>de</strong> atracação,<br />

que já não existia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> século XIX.<br />

A salubrida<strong>de</strong> e o <strong>em</strong>belezamento da cida<strong>de</strong>, voltaram à tona <strong>em</strong><br />

princípios <strong>do</strong> século XX, durante a segunda gestão <strong>do</strong> prefeito Dr. Samu-<br />

el Costa. A quadra existente entre o rio Perequê-Açú e a Praça da Matriz,


e parte da quadra lateral à Igreja Matriz,entre o beco da Matriz e a Rua<br />

da Ca<strong>de</strong>ia, foram <strong>de</strong>sapropriadas.<br />

O largo da Matriz, <strong>em</strong> com<strong>em</strong>oração ao centenário <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência,<br />

1922, recebeu projeto paisagístico e foi transforma<strong>do</strong> <strong>em</strong> Jardim Público,<br />

nos mol<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s jardins românticos da cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, como o<br />

Passeio Público.<br />

Também ocorreu um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> <strong>de</strong>sapropriações na rua <strong>do</strong><br />

Gragoatá, entre as ruas da Capella até a atual Avenida Roberto Silveira, form-<br />

an<strong>do</strong> uma área livre ocupada, hoje parcialmente, pelo Colégio Estadual.<br />

A luz elétrica chegou no início da década <strong>de</strong> 1920.<br />

Em 1925 uma nova estrada, ligan<strong>do</strong> <strong>Paraty</strong> a Cunha, permitin<strong>do</strong> o<br />

acesso <strong>de</strong> automóveis é aberta, aproveitan<strong>do</strong> alguns trechos <strong>do</strong> antigo<br />

caminho, na planície junto à cida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> os da subida da<br />

121<br />

> Esquerda: IPHAN<br />

– Igreja da Matriz no<br />

início <strong>do</strong> século XX;<br />

> Abaixo: DGEMN<br />

– fachadas da Rua Doutor<br />

Pereira 2003


122<br />

> A.M. – Peso para<br />

sal data<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1822<br />

encontra<strong>do</strong> na Casa <strong>de</strong><br />

Registro<br />

serra. Os combatentes da Revolução <strong>de</strong> 1930, a caminho <strong>de</strong> São Paulo<br />

<strong>de</strong>stro<strong>em</strong> a estrada, que só foi reaberta novamente <strong>em</strong> 1954.<br />

Na década <strong>de</strong> 1930, o sociólogo Gilberto Freire, acompanha<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

artista plástico Cícero Dias passa por <strong>Paraty</strong> e se encanta com a “jóia <strong>de</strong><br />

virginda<strong>de</strong> brasileira”:<br />

“Viag<strong>em</strong> rara na época para qu<strong>em</strong> fosse iletra<strong>do</strong> – permitiu<br />

<strong>de</strong>sintelectualizar-me, /.../ pisar, apalpar, sentir não só pelos<br />

olhos como pelos pés, pelas mãos, pelo olfato, pelo paladar,<br />

pelo sexo, vivências e convivências <strong>de</strong> brasileiros <strong>do</strong> sul quase<br />

para<strong>do</strong>s <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos virgens /.../ Qu<strong>em</strong> falava então, no Rio ou<br />

<strong>em</strong> São Paulo, nessa jóia <strong>de</strong> virginda<strong>de</strong> brasileira que era, <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>, no t<strong>em</strong>po, Parati? Ninguém.<br />

Transformações na malha e no teci<strong>do</strong> intra-urbano –<br />

1945/1984 – 6º perío<strong>do</strong><br />

O <strong>de</strong>clínio econômico não tirou os encantos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a preservação <strong>do</strong><br />

seu acervo paisagístico, urbanístico, arquitetônico e cultural, que atraiu à<br />

princípio os intelectuais, hoje é revela<strong>do</strong> para o mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong>.<br />

A primeira medida <strong>de</strong> proteção ao conjunto arquitetônico e urbanísti-<br />

co ocorreu <strong>em</strong> 1945 quan<strong>do</strong> foi elevada à categoria <strong>de</strong> Monumento His-<br />

tórico Estadual.<br />

Somente <strong>em</strong> 1954, com a abertura da estrada Pa-<br />

raty-Cunha, a cida<strong>de</strong> começou a reviver<br />

com a vinda <strong>de</strong> intelectuais <strong>em</strong> busca das<br />

raízes <strong>do</strong> Brasil, que ficaram expressas e<br />

preservadas na cultura, na arte, na culi-<br />

nária, nas festas e, principalmente, no<br />

patrimônio arquitetônico e paisagístico.<br />

O reconhecimento fe<strong>de</strong>ral se <strong>de</strong>u <strong>em</strong><br />

1958 quan<strong>do</strong> o conjunto arquitetôni-<br />

co e paisagístico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pa-<br />

raty foi tomba<strong>do</strong>.


No terceiro centenário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> o arquiteto Lucio Costa d<strong>em</strong>onstrou<br />

gran<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>screver a cida<strong>de</strong>:<br />

“Tanto nas casas <strong>de</strong> feição mais severa e antiga, quanto naque-<br />

las concebidas ao gosto já liberto e acolhe<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

Oitocentos, caracteriza<strong>do</strong> pelo gracioso <strong>de</strong>senho das vidraças e<br />

pela serralheria rendada, o vocabulário é o corrente e a lin-<br />

guag<strong>em</strong> urbana se articula com naturalida<strong>de</strong> à paisag<strong>em</strong>,<br />

contida entre o fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> montanha e o ritmo largo e alterna<strong>do</strong><br />

da maré.<br />

Porque <strong>Paraty</strong> é a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> os caminhos <strong>do</strong> mar e os<br />

caminhos da terra se encontram, melhor, se entrosam. As<br />

águas não são barradas, mas avançam cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntro levadas<br />

pela Lua, e o reticula<strong>do</strong> <strong>de</strong> ruas baliza<strong>do</strong> pelas igrejas- a matriz<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> R<strong>em</strong>édios e as capelas das Dores, Rosário<br />

e Santa Rita - converg<strong>em</strong> para o mar.”<br />

O Governo Nacional, <strong>em</strong> 1966 elevou o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> à categoria<br />

<strong>de</strong> Monumento Nacional.<br />

Durante c<strong>em</strong> anos a cida<strong>de</strong> pouco se transformou, permanecen<strong>do</strong> tal<br />

como foi projetada por Jacob Conrad <strong>de</strong> Ni<strong>em</strong>eyer, no século XIX.<br />

123<br />

> IPHAN – Vista aérea<br />

<strong>do</strong> perímetro urbano <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong> - 1950


124<br />

Nos anos 70 a situação começou a mudar a partir da abertura da ro<strong>do</strong>via<br />

litorânea Rio-Santos - BR-101, el<strong>em</strong>ento indutor <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

região, que acarretou gran<strong>de</strong>s mudanças na ocupação <strong>do</strong> solo, <strong>de</strong>senca-<br />

<strong>de</strong>ou to<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> interesses econômicos, revigorou ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comér-<br />

cio e prestação <strong>de</strong> serviços, o turismo <strong>em</strong> particular, crian<strong>do</strong> novos <strong>em</strong>pre-<br />

gos e um acréscimo populacional. Foi um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> muitas obras e <strong>de</strong><br />

expansão significativa <strong>do</strong> entorno imediato <strong>do</strong> sítio histórico, que foi e<br />

fecha<strong>do</strong> ao tráfego <strong>de</strong> veículos automotores, com o objetivo <strong>de</strong> preservar<br />

a estrutura <strong>do</strong>s velhos casarões.<br />

Com o tombamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o município <strong>em</strong> 1974, as medidas <strong>de</strong><br />

proteção a<strong>do</strong>tadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1945 consolidadas num Plano <strong>de</strong> Desenvolvi-<br />

mento Integra<strong>do</strong>, garantiu o <strong>de</strong>senvolvimento or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> da área <strong>de</strong> ex-<br />

pansão urbana.<br />

A volta <strong>do</strong> valor econômico provocou um processo <strong>de</strong> parcelamento/<br />

<strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bramento, agora <strong>em</strong> padrões diferentes <strong>do</strong> que ocorriam ante-<br />

riormente. Por estes da<strong>do</strong>s, pod<strong>em</strong>os concluir que, a partir da década <strong>de</strong><br />

60, os imóveis passaram a ser <strong>de</strong>sm<strong>em</strong>bra<strong>do</strong>s. Não só por parcelamentos<br />

<strong>do</strong>s terrenos, como também, recuperan<strong>do</strong> a formação fundiária anterior<br />

ao <strong>de</strong>clínio econômico.<br />

Observa<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s censos d<strong>em</strong>ográficos <strong>de</strong> 1970 e 1980, veri-<br />

fica-se que a população rural manteve-se praticamente a mesma (11.760<br />

habitantes <strong>em</strong> 1970 e 11.688 <strong>em</strong> 1980), enquanto que a população ur-<br />

bana passou <strong>de</strong> 4.169, <strong>em</strong> 1970, para 8.934, <strong>em</strong> 1980, registran<strong>do</strong> um<br />

aumento <strong>de</strong> 114,3%.<br />

Situada entre as duas maiores áreas metropolitanas e principais pólos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> país, Parati reiniciou um processo <strong>de</strong><br />

expansão urbana e crescimento econômico, basea<strong>do</strong> no binômio turis-<br />

mo/veraneio, resultante <strong>de</strong> uma vocação potencializada no conjunto pai-<br />

sagístico/arquitetônico <strong>do</strong> município. Em 2006 a população <strong>do</strong> Município<br />

era estimada <strong>em</strong> 33.695 habitantes, sen<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 17.300 na se<strong>de</strong>.<br />

A legislação <strong>de</strong> proteção <strong>do</strong> conjunto arquitetônico e paisagístico tom-<br />

ba<strong>do</strong>, assumida pelo IPHAN e Prefeitura Municipal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1945 têm ga-<br />

ranti<strong>do</strong> a preservação das principais características morfológicas <strong>de</strong>sta<br />

paisag<strong>em</strong> cultural. A relação da cida<strong>de</strong> com o mar e a montanha, tão<br />

b<strong>em</strong> <strong>de</strong>scrita por Lucio Costa, não foi rompida.


3 Justificativa<br />

para inscrição<br />

3.a Critérios sob os quais a inscrição está sen<strong>do</strong> proposta<br />

A inscrição <strong>do</strong> “<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> Paisag<strong>em</strong> ” como paisag<strong>em</strong><br />

cultural -caminho e paisag<strong>em</strong> , é proposta segun<strong>do</strong> os critérios II, IV e V.<br />

CRITÉRIO II<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é o primeiro test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> como se pro-<br />

cessaram as rotas e os caminhos <strong>de</strong> colonização <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> território<br />

brasileiro.Constituiu uma rota cultural pioneira.É test<strong>em</strong>unho marcante<br />

<strong>de</strong> como <strong>de</strong>flagrou-se a gran<strong>de</strong> aventura <strong>de</strong> ocupação portuguesa<br />

<strong>do</strong>”inter-land” da América <strong>do</strong> Sul, durante o <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> “Ciclo <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>”. D<strong>em</strong>onstra as origens econômicas culturais e comerciais <strong>do</strong> Brasil,<br />

<strong>sua</strong>s transformações e exprime <strong>de</strong> maneira singular a relação entre o<br />

hom<strong>em</strong>, a terra e seus recursos naturais.O apogeu <strong>de</strong> seu uso ocorreu<br />

entre o final <strong>do</strong> século XVII com o início da exploração <strong>do</strong> ouro e o final <strong>do</strong><br />

século XIX, com o esgotamento da produção <strong>do</strong> café na região <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />

influência,duran<strong>do</strong>, portanto, <strong>do</strong>is séculos. Os el<strong>em</strong>entos tangíveis que<br />

permaneceram <strong>de</strong>ste <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> estão principalmente no Muni-<br />

cípio <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, são to<strong>do</strong>s autênticos e integram esta proposta .<br />

A vila portuária <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> atesta o saber vernáculo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s<br />

insulares e marítimas portuguesas, advindas <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> medieval, transmi-<br />

ti<strong>do</strong> durante o ciclo <strong>do</strong>s <strong>de</strong>scobrimentos. Em perío<strong>do</strong> posterior houve a<br />

introdução <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo característico <strong>do</strong> urbanismo erudito.<br />

Por esse ponto <strong>de</strong> inflexão, advieram a civilização européia, o<br />

mercantilismo, a religião, filosofia, utensílios, toda uma civilização<br />

que a<strong>de</strong>ntrou o continente sul-americano. Chegaram in-<br />

fluências asiáticas, a cultura africana, <strong>sua</strong>s plantas,<br />

enriqueceram toda a humanida<strong>de</strong>.<br />

seus conhecimentos da natureza tropical, o tra-<br />

balho e o sofrimento <strong>do</strong>s escravos.Por esse mes-<br />

mo sist<strong>em</strong>a foram exporta<strong>do</strong>s o ouro, o café, o<br />

açúcar, ma<strong>de</strong>iras, s<strong>em</strong>entes <strong>de</strong> nossas plantas que


126<br />

> A.M. – Praia Gran<strong>de</strong> da<br />

Cajaíba, Baía <strong>do</strong> Pouso<br />

CRITÉRIO IV<br />

É marcante na paisag<strong>em</strong> cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a integração <strong>do</strong> conjunto arquite-<br />

tônico <strong>de</strong> forma harmoniosa com el<strong>em</strong>entos naturais <strong>do</strong> sítio on<strong>de</strong> está cons-<br />

truí<strong>do</strong>. As características urbanas <strong>de</strong> <strong>em</strong>pório comercial, cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços<br />

administrativos com armazéns, moradias, igrejas, fortes estão to<strong>do</strong>s presen-<br />

tes. A Vila <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, orig<strong>em</strong> e <strong>de</strong>stino terres-<br />

tre e marítimo <strong>de</strong>ste primeiro caminho, mantém-se íntegra e autêntica; isto<br />

está test<strong>em</strong>unha<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong> arquitetura, planejamento urbano, tecnologia <strong>de</strong><br />

construção e na paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> seu entorno; é ex<strong>em</strong>plo original e preserva<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> portuária e <strong>em</strong>pório comercial , administrativo, religioso <strong>do</strong> proces-<br />

so <strong>de</strong> colonização portuguesa no país.Esse conjunto é representativo <strong>do</strong> in-<br />

tercâmbio <strong>de</strong> culturas entre a América e o Mun<strong>do</strong>.<br />

Na Serra <strong>do</strong> Mar, que serve <strong>de</strong> cenário à cida<strong>de</strong>, inseri<strong>do</strong> <strong>em</strong> um Parque<br />

Nacional, encontramos o maior trecho preserva<strong>do</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong> este velho Cami-<br />

nho <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>. A tecnologia <strong>em</strong>pregada <strong>em</strong> <strong>sua</strong> construção foi trazida pelos<br />

oficiais <strong>do</strong> Real Corpo <strong>de</strong> Engenheiros <strong>de</strong> Portugal. No calçamento foram usa-<br />

das lajes <strong>de</strong> pedra, técnica capaz <strong>de</strong> enfrentar o eleva<strong>do</strong> índice pluviométrico<br />

da Serra. A localização <strong>do</strong>s Registros <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> sinalização e<br />

d<strong>em</strong>arcação e o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> <strong>do</strong> calçamento que permaneceram são<br />

el<strong>em</strong>entos tangíveis, que através <strong>de</strong> <strong>sua</strong> autenticida<strong>de</strong>, comprovam o saber<br />

<strong>de</strong>sses engenheiros.


CRITÉRIO V<br />

O cadinho <strong>de</strong> culturas representa<strong>do</strong> pelo processo <strong>de</strong> colonização portu-<br />

guesa, <strong>em</strong> especial as particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nas Américas, está<br />

presente <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Aí se miscigenaram raças, conhecimentos, mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

se apropriar da natureza tropical. Até o presente, a cida<strong>de</strong> abriga conhe-<br />

cimentos <strong>do</strong>s ancestrais indígenas na maneira <strong>de</strong> pescar, na alimentação,<br />

no folclore mesclan<strong>do</strong> tradições africanas e européias. É o resulta<strong>do</strong> da<br />

exploração econômica <strong>de</strong> inúmeros bens. O ouro <strong>do</strong> Brasil, que significou<br />

à época <strong>de</strong> <strong>sua</strong> exploração as maiores jazidas <strong>de</strong>sse metal, conhecidas <strong>em</strong><br />

to<strong>do</strong>s os t<strong>em</strong>pos, teve papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na economia brasileira, portu-<br />

guesa, africana e mundial.Propiciou transformações notáveis na organi-<br />

zação política <strong>do</strong> território continental. Foi um <strong>do</strong>s sustentáculos econô-<br />

micos que serviram <strong>de</strong> base à revolução industrial inglesa (ver C.R.<br />

Boxer-The Portuguese Seaborne Empire l4l5-l825, Apendix III – 1969).<br />

Por esse caminho foi <strong>de</strong>flagrada o a ocupação <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> território<br />

brasileiro. Esse processo resultou na integração ao território nacional <strong>de</strong><br />

cerca <strong>de</strong> l/3 da área <strong>do</strong> país que se transformou, <strong>de</strong> região habitada pelos<br />

silvícolas, <strong>em</strong> parcela excepcional <strong>do</strong> território sul americano que abriga<br />

estradas mo<strong>de</strong>rnas, plantações, indústrias, universida<strong>de</strong>s e cida<strong>de</strong>s com<br />

milhões <strong>de</strong> habitantes, monumentos artísticos <strong>de</strong> valor universal, entre<br />

eles, Brasília, a capital <strong>do</strong> país.<br />

Além <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos conti<strong>do</strong>s nos critérios que estão <strong>de</strong>scritos nos<br />

parágrafos acima, cabe ressaltar a beleza excepcional da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />

cujas montanhas abruptas são test<strong>em</strong>unho marcantes da ruptura entre os<br />

continentes africano e sul americano.Essas montanhas abrigam r<strong>em</strong>a-<br />

nescentes raros da Mata Atlântica, classificada internacionalmente entre<br />

as duas florestas tropicais mais ameaçadas <strong>de</strong> extinção. Em vista disso e<br />

por abrigar<strong>em</strong> várias áreas protegidas, entre elas o Parque Nacional da<br />

Serra da Bocaina, a UNESCO a reconheceu esse conjunto como zona nú-<br />

cleo, parte integrante <strong>de</strong> uma das mais significativas Reservas da Biosfera<br />

<strong>do</strong> <strong>Programa</strong> MAB- “O Hom<strong>em</strong> e a Biosfera”.<br />

127


128<br />

3.b Declaração <strong>de</strong> valor universal proposta<br />

A paisag<strong>em</strong> cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> conjuga <strong>de</strong> forma inigualável a obra da na-<br />

tureza com o hom<strong>em</strong>. Entre os el<strong>em</strong>entos naturais que compõ<strong>em</strong> esta<br />

proposta t<strong>em</strong>os o magnífico anfiteatro <strong>de</strong> montanhas abruptas, forma-<br />

ções <strong>de</strong> gnaisses e granitos, das mais antigas <strong>do</strong> planeta, test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong>s-<br />

taca<strong>do</strong> da fantástica ruptura continental ocorrida entre a África e a Amé-<br />

rica <strong>do</strong> Sul. Aí estão as mais altas elevações da costa brasileira, recobertas<br />

pela floresta atlântica, paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> extraordinária beleza, <strong>de</strong>bruçada so-<br />

bre as águas calmas da baia da Ilha Gran<strong>de</strong> repleta <strong>de</strong> reentrâncias, entre-<br />

cortada por ilhas coroadas por <strong>de</strong>licada vegetação; Essa baia com ensea-<br />

das, praias, pontões, parcéis, sacos, abriga também <strong>do</strong>is fior<strong>de</strong>s tropicais,<br />

únicos na América <strong>do</strong> Sul. Aí está o núcleo urbano <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o mais ínte-<br />

gro conjunto arquitetônico brasileiro representativo da arquitetura <strong>do</strong>s sé-<br />

culos XVII ao XIX, localiza<strong>do</strong> à beira mar, que conserva gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />

cultura, <strong>sua</strong>s festas, ritos, relações; Está ainda o caminho que aí se iniciou,<br />

nos primórdios da colonização, e que penetra fun<strong>do</strong> no interior da Améri-<br />

ca <strong>do</strong> Sul; Primeira rota <strong>do</strong> ouro a ser reconhecida pela coroa portuguesa,<br />

pela qual se explorou a imensa riqueza <strong>do</strong> interior da colônia e se consoli-<br />

<strong>do</strong>u o <strong>do</strong>mínio da cultura e da religião européia sobre o território bravio da<br />

região central <strong>do</strong> continente.<br />

Tu<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> ouro, as mais volumosas minas <strong>de</strong>scobertas<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a antiguida<strong>de</strong> e postas então a serviço <strong>do</strong> comércio e <strong>do</strong> acúmulo<br />

da economia mundial. Isto no mesmo momento <strong>em</strong> que nascia na Europa<br />

a revolução industrial. <strong>Ouro</strong>, muito ouro, a transformar toda a ocupação<br />

<strong>do</strong> território e a revolver a economia e o merca<strong>do</strong> internacional. <strong>Ouro</strong> que<br />

gerou a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> mais ouro, que levou esses primitivos <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>-<br />

res a penetrar ainda mais fun<strong>do</strong> no território. Ao fazer isso <strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>ciam<br />

ao papa e enterravam o trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas cujo meridiano dividia,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XV, a posse <strong>do</strong> globo entre Espanha e Portugal. O resulta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>sse formidável avanço para o oeste, perpetra<strong>do</strong> <strong>em</strong> poucas décadas<br />

pelos <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>res mamelucos, nativos brasileiros, levou ao trata<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Madri, <strong>de</strong> 1750, que re<strong>de</strong>senhou a fronteira entre os países ibéricos na<br />

América <strong>do</strong> Sul.<br />

Os mais significativos r<strong>em</strong>anescentes físicos <strong>de</strong>sse caminho perduram<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Este é reconheci<strong>do</strong> pelo Gover-<br />

no Fe<strong>de</strong>ral, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1974, <strong>em</strong> <strong>sua</strong> totalida<strong>de</strong>, como patrimônio nacional.


Nele estão tangíveis, nas inúmeras curvas calçadas <strong>de</strong> pedras, os sinais<br />

escalavra<strong>do</strong>s pelas patas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> mulas, que transitaram por essa<br />

topografia <strong>de</strong>clivosa e belíssima da serra <strong>do</strong> mar.<br />

A baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a serra, a cida<strong>de</strong>, o caminho, o porto são test<strong>em</strong>unhos<br />

<strong>do</strong> primeiro momento <strong>em</strong> que por obra e graça <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sbrava<strong>do</strong>res, di-<br />

tos capitães <strong>do</strong> mato, no ano <strong>de</strong> 1695, as primeiras pepitas <strong>de</strong>sse ouro se<br />

fizeram ao mar. De <strong>Paraty</strong> foram transladadas para Lisboa, a Europa, com<br />

o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> <strong>em</strong>basar a economia <strong>do</strong> século das luzes. O ouro brasileiro <strong>do</strong><br />

século XVIII, cuja quantida<strong>de</strong>, nunca vista, vai especificada <strong>em</strong> <strong>de</strong>talhe nos<br />

anexos, gerou a primeira corrida <strong>do</strong> ouro <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno e foi ele-<br />

mento <strong>de</strong> sustentação da nascente revolução industrial.<br />

Cada um <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>sta proposta, a serra, o núcleo urbano e<br />

<strong>sua</strong>s fortificações, as relações humanas e o caminho <strong>do</strong> ouro, pelo que são<br />

e por aquilo que representam compõ<strong>em</strong> <strong>em</strong> si um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> alto valor<br />

<strong>de</strong> paisag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> cultura <strong>de</strong> interesse universal. Consi<strong>de</strong>radas <strong>em</strong> conjun-<br />

to compõ<strong>em</strong> um sítio <strong>de</strong> excepcional valor que merece o reconhecimento<br />

e a fruição <strong>de</strong> toda a humanida<strong>de</strong>.<br />

Isto porque durante cerca <strong>de</strong> 200 anos <strong>Paraty</strong>, <strong>sua</strong> baía e esse caminho<br />

serviram <strong>de</strong> rota e porto <strong>de</strong> circulação e intercâmbio das transações co-<br />

merciais entre o Brasil e a África, Ásia e a Europa. Por aí chegaram explo-<br />

ra<strong>do</strong>res, catequiza<strong>do</strong>res, autorida<strong>de</strong>s, escravos, ferramentas, armas, pól-<br />

> A.M. – Maciço <strong>do</strong><br />

Cairuçu a partir <strong>do</strong><br />

Parque Nacional da<br />

Serra da Bocaina<br />

129


130<br />

> DJOB – bromélias,<br />

Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>;<br />

> PMP – vista aérea da<br />

cida<strong>de</strong>;<br />

> R.A. – canoa no Saco<br />

<strong>do</strong> Mamanguá<br />

vora, sal, livros, instrumentos, utensílios, idéias, literatura, filosofia. Daí se<br />

fez ao mar, entre muitos outros produtos ouro, açúcar, diamantes, ma<strong>de</strong>i-<br />

ras, s<strong>em</strong>entes, animais, café e cachaça.<br />

Após o <strong>de</strong>clínio <strong>do</strong> ouro essa rota, cida<strong>de</strong> e porto serviram à exportação<br />

<strong>do</strong> café e no século XIX essa foi a riqueza que sustentou esse sist<strong>em</strong>a, a<br />

região e o país. No final <strong>de</strong>sse século com o cansaço das terras, a liberta-<br />

ção <strong>do</strong>s escravos e a construção da primeira ferrovia brasileira que <strong>de</strong>sviou<br />

para outros portos a circulação <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias, a <strong>de</strong>cadência se abateu<br />

sobre a região e a economia se estagnou. Isto garantiu por um século a<br />

manutenção <strong>de</strong>sse conjunto praticamente intacto. Foi somente no ultimo<br />

quartel <strong>do</strong> século XX que uma nova e mo<strong>de</strong>rna estrada apresentou esse<br />

conjunto outra vez aos olhos <strong>do</strong>s visitantes.<br />

Sua baía abrigada, com águas protegidas ofereceu condições i<strong>de</strong>ais<br />

para que fosse construí<strong>do</strong> to<strong>do</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> fortificações para a <strong>de</strong>fesa<br />

das <strong>em</strong>barcações. A expansão marítima portuguesa provocada pelo mer-<br />

cantilismo gerou uma larga experiência com a urbanização das cida<strong>de</strong>s.<br />

<strong>Paraty</strong> atesta <strong>em</strong> seu urbanismo a herança vernácula portuguesa, adquiri-<br />

da ainda <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos medievais e impl<strong>em</strong>entada nas cida<strong>de</strong>s insulares e<br />

marítimas <strong>do</strong> Atlântico, que se observa na estreita relação <strong>do</strong> traça<strong>do</strong> ur-<br />

bano com as características ambientais <strong>do</strong> local da implantação, posterior-<br />

mente, conjuga<strong>do</strong> a um projeto erudito resultante <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los formais<br />

regulares, implanta<strong>do</strong> por engenheiros militares.<br />

O caráter da vila ficou perfeitamente expresso na extraordinária impres-<br />

são <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> proporcionada pelas construções alinhadas, forman<strong>do</strong><br />

uma massa edificada homogênea que envolve inteiramente os quartei-<br />

rões, <strong>em</strong>prestan<strong>do</strong>-lhes monumentalida<strong>de</strong>, apesar das limitadas dimen-<br />

sões, on<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minam as casas térreas ou assobradadas. O ritmo carac-<br />

terístico das envasaduras <strong>do</strong>s armazéns é ameniza<strong>do</strong> por muros que<br />

fecham os quintais das residências, a composição urbana é <strong>de</strong> uma geo-<br />

metria simples. Dois largos laterais, marcam a paisag<strong>em</strong>. A vila <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />

apesar <strong>de</strong> diminuta, impõe-se ao esplendi<strong>do</strong> cenário constituí<strong>do</strong> pela pai-<br />

sag<strong>em</strong> serrana que a envolve. Parece que a paisag<strong>em</strong> existe apenas para<br />

<strong>em</strong>oldurar a cida<strong>de</strong>, estabelecen<strong>do</strong> uma escala <strong>de</strong> relacionamento que<br />

valoriza tanto a cida<strong>de</strong> como a paisag<strong>em</strong>.<br />

Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vida diversifica<strong>do</strong>s e preserva<strong>do</strong>s infund<strong>em</strong> experiências <strong>de</strong><br />

várias etnias e diferentes grupos forma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> nossa socieda<strong>de</strong>. <strong>Paraty</strong>


131


132<br />

> A.M. – <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, parte IV<br />

– Sítio da Cachoeirinha,<br />

pavimentação <strong>do</strong> século XIX<br />

mantém intactas as tradições <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s celebrações religiosas, que se esten-<br />

d<strong>em</strong> pelas ruas, ligan<strong>do</strong> as igrejas e oratórios durante to<strong>do</strong> ano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

perío<strong>do</strong> colonial.<br />

A existência <strong>de</strong>ssa baía e <strong>de</strong>sse porto escondi<strong>do</strong> entre montanhas, <strong>de</strong>s-<br />

sa vila e <strong>de</strong>sse caminho, gerou a consolidação, hoje como brasileiro, <strong>de</strong> um<br />

espaço físico que correspon<strong>de</strong> a mais <strong>de</strong> uma quarta parte <strong>do</strong> território<br />

europeu. O processo comercial que aí se iniciou possibilitou a formação <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>s, províncias, metrópoles no interior <strong>do</strong> continente que hoje são<br />

capitais <strong>de</strong> diversos esta<strong>do</strong>s. Esse caminho representa a penetração que<br />

permitiu a mais ampla interiorização da ocupação <strong>do</strong> centro geográfico da<br />

América <strong>do</strong> Sul.<br />

Por fim esta baía, a mais bela da costa sul americana, abraçada por<br />

montanhas ver<strong>de</strong>jantes abriga população <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res tradicionais que<br />

mescla o sangue e a cultura européia.negra e ameríndia. Manten<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>


<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> produção ancestrais viv<strong>em</strong> entre aci<strong>de</strong>ntes geográficos pro-<br />

nuncia<strong>do</strong>s, marcantes <strong>de</strong> nossa costa como o pico <strong>do</strong> Cairuçú, que encima<br />

com esplen<strong>do</strong>r o fior<strong>de</strong> <strong>do</strong> Mamanguá, a ponta da Juatinga, e outros que<br />

serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> marco e rumo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros navegantes que aqui chega-<br />

ram no alvorecer <strong>do</strong> século XVI.<br />

Esse conjunto natural serve também <strong>de</strong> refugio para espécies raras da<br />

Mata Atlântica, uma das mais ameaçadas florestas tropicais. Com picos <strong>de</strong><br />

quase 2000 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, cujas encostas <strong>de</strong>sc<strong>em</strong> ate o nível <strong>do</strong> mar, <strong>sua</strong>s<br />

florestas, restingas, ilhas e manguezais abrigam cerca <strong>de</strong> 80 espécies <strong>de</strong><br />

mamíferos, quase 400 <strong>de</strong> aves, e 60 <strong>de</strong> répteis e anfíbios, muitas <strong>de</strong>las<br />

exclusivas da Mata Atlântica e ameçadas <strong>de</strong> extinção. Na Baía <strong>de</strong> Ilha<br />

Gran<strong>de</strong>, da qual faz parte o litoral e as ilhas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, encontra-se a maior<br />

diversida<strong>de</strong> brasileira <strong>de</strong> baleias e golfinhos. <strong>Paraty</strong>. Aí estão diversas áreas<br />

protegidas, entre as quais se <strong>de</strong>stacam o Parque Nacional da Serra da Bo-<br />

caina, a Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, Reserva Ecológica da Juatinga, e as<br />

Áreas <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>do</strong> Cairuçu e da Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Abrigadas<br />

sob o <strong>do</strong>ssel <strong>de</strong> árvores fron<strong>do</strong>sas, entre cordões <strong>de</strong> montanhas, estão<br />

magníficas cascatas enfeitadas por bromélias e <strong>de</strong>licadas flores. Por ser<br />

parte significativa <strong>do</strong> principal corre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> r<strong>em</strong>anescentes da Mata Atlân-<br />

> A.M. – Praia da<br />

Sumaca;<br />

133<br />

> A.M. – juçara, espécie<br />

típica da Mata Atlântica


134<br />

> PDT – Praia da Patanguera;<br />

> PDT – Praia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Mirim;<br />

> PDT – riacho da Ponta<br />

Negra<br />

tica, o município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pela UNESCO, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992,<br />

como parte integrante da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.<br />

Este é um <strong>do</strong>s mais expressivos ex<strong>em</strong>plos da floresta, da paisag<strong>em</strong>, que<br />

<strong>de</strong>slumbrou os primeiros navegantes europeus que chegaram ao novo<br />

mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s quais sobreviv<strong>em</strong> vários relatos. Não por acaso a maioria <strong>de</strong>les,<br />

incluí<strong>do</strong>s os <strong>de</strong> Colombo e <strong>de</strong> Vespúcio, que esteve nesta baia no início <strong>de</strong><br />

janeiro <strong>de</strong> 1501, informaram a uma Europa extasiada <strong>de</strong> que haviam re-<br />

<strong>de</strong>scoberto o paraíso terrestre. Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda, o mais reno-<br />

ma<strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r brasileiro, <strong>de</strong>senvolveu tese <strong>em</strong> que relata com brilhan-<br />

tismo essa questão. Nessa tese o paraíso é representa<strong>do</strong> não apenas pela<br />

beleza in<strong>de</strong>scritível <strong>de</strong>sta paisag<strong>em</strong>, s<strong>em</strong>pre ver<strong>de</strong> e <strong>de</strong> eterna primavera,<br />

mas também, segun<strong>do</strong> as lendas, pelas riquezas materiais <strong>do</strong> espaço que<br />

o circundava, abundante <strong>em</strong> pedras preciosas e ouro, o que instigava o<br />

imaginário da mentalida<strong>de</strong> entre medieval e mercantilista <strong>de</strong>sses explora-<br />

<strong>do</strong>res. Seu título: “Visões <strong>do</strong> Paraíso”. Alguns <strong>do</strong>s trechos mais significati-<br />

vos <strong>de</strong>sse trabalho estão incluí<strong>do</strong>s nos anexos.<br />

<strong>Paraty</strong> distingue-se <strong>de</strong> outros locais pelos históricos movimentos huma-<br />

nos, pelo constante ir e vir entre a floresta, o mar e a cida<strong>de</strong>, pelos cami-<br />

nhos <strong>de</strong> pedra; <strong>sua</strong> pluralida<strong>de</strong> etnológica, <strong>em</strong> diferentes e constantes in-<br />

terações, caracteriza os estabelecimentos humanos e finda por abordar a<br />

força criativa da espiritualida<strong>de</strong> das festas religiosas, <strong>em</strong> um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo sustentável urbano integra<strong>do</strong> ao meio natural.<br />

3.c Análise comparativa<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> se diferencia e se <strong>de</strong>staca<br />

<strong>do</strong>s sítios <strong>do</strong> Patrimônio Mundial já lista<strong>do</strong>s por seus valores únicos e uni-


versais. Isto porque o sítio urbano, que está localiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> um setor da<br />

costa brasileira <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> expressão histórica, econômica e geológica,<br />

preserva <strong>sua</strong>s características como representante da expansão ultramarina<br />

portuguesa e <strong>de</strong> marco inicial <strong>do</strong> caminho que propiciou a interiorização<br />

<strong>de</strong>sse processo no contexto sul-americano. E se diferencia também pela<br />

paisag<strong>em</strong> cultural <strong>de</strong> valor e beleza excepcionais que lhe serve <strong>de</strong> cenário.<br />

Em uma primeira análise pod<strong>em</strong>os buscar a comparação entre a ci-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e outras cinco cida<strong>de</strong>s fundadas pela coroa portuguesa,<br />

no litoral <strong>do</strong> Brasil, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVI a mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVII.<br />

Duas <strong>de</strong>ntre elas foram listadas como Patrimônio Mundial: Salva<strong>do</strong>r da<br />

Bahia e São Luiz <strong>do</strong> Maranhão. No Brasil a<strong>do</strong>taram-se <strong>do</strong>is mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>s. Nos séculos XVI e XVII, pod<strong>em</strong> ser diferencia<strong>do</strong>s <strong>em</strong> forma e<br />

traça<strong>do</strong>s, as criadas pela coroa, eruditas, resultantes <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los formais<br />

regulares, projetos <strong>de</strong> engenheiros militares e as que se <strong>de</strong>senvolveram a<br />

cargo <strong>do</strong>s <strong>do</strong>natários das capitanias, criadas s<strong>em</strong> recursos técnicos, ci-<br />

da<strong>de</strong>s vernáculas. Destas duas, que tomamos inicialmente para com-<br />

paração, <strong>Paraty</strong> se diferencia por <strong>sua</strong> orig<strong>em</strong> vernácula, <strong>de</strong> iniciativa <strong>de</strong><br />

particulares. Em oposição, Salva<strong>do</strong>r e São Luiz, foram criadas por inicia-<br />

tiva oficial da coroa portuguesa com a clara intenção <strong>de</strong> garantir a posse<br />

<strong>do</strong> território da colônia. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> estagnou quase<br />

que completamente no século XIX enquanto estas outras duas cida<strong>de</strong>s se<br />

mantiveram s<strong>em</strong>pre na condição <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong> Província, hoje Esta<strong>do</strong>s e<br />

são hoje importantes núcleos urbanos, São Luiz com centenas <strong>de</strong> mil-<br />

hares <strong>de</strong> habitantes e Salva<strong>do</strong>r com quase três milhões. O cenário aqui é<br />

outro, e as condições ambientais <strong>do</strong> sítio completamente diferenciadas.<br />

Em <strong>Paraty</strong> a implantação urbana ocorreu lentamente, durante <strong>do</strong>is sécu-<br />

135<br />

> PDT – Rio <strong>do</strong> Sono;<br />

> PDT – no Parque<br />

Nacional da Serra da<br />

Bocaina – Pedra Branca;<br />

> PDT – Cachoeira no<br />

Parque Nacional da Serra<br />

da Bocaina – Iriri-Guaçú


136<br />

> Planta <strong>de</strong> Restituição da Bahia (Salva<strong>do</strong>r), João Teixeira<br />

Albernaz I, 1625;<br />

> Planta <strong>de</strong> São Luiz , Johannes Vingboons, 1640;<br />

> Planta <strong>de</strong> São Vicente, anônimo, 1765-75;<br />

> Planta <strong>de</strong> Ubatuba, João da Costa Ferreira,1815;<br />

> Planta <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong> Heroísmo, Terceira Ilha- João Baptista<br />

Amorim <strong>de</strong> Freitas, 1870


los. A orla <strong>do</strong> sítio histórico não foi urbanizada, n<strong>em</strong> ocupada com insta-<br />

lações portuárias, como nos <strong>do</strong>is casos anteriores, manten<strong>do</strong>-se aqui as<br />

características tipológicas e <strong>sua</strong>s inter-relações <strong>de</strong> uma vila marítima, en-<br />

treposto comercial. Aqui estão preservadas edificações <strong>do</strong>s séculos XVII,<br />

XVIII e XIX, os armazéns, as moradas e os sobra<strong>do</strong>s, o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong><br />

<strong>do</strong>s arruamentos e os calçamentos <strong>de</strong> pedra, conforman<strong>do</strong> um conjunto<br />

<strong>em</strong> tu<strong>do</strong> original.<br />

Outras três cida<strong>de</strong>s costeiras que lhe são cont<strong>em</strong>porâneas e <strong>de</strong> história<br />

e arquitetura originalmente ass<strong>em</strong>elhada, São Sebastião, Ubatuba e An-<br />

gra <strong>do</strong>s Reis sofreram tal ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> modificações que dificultam e até<br />

imped<strong>em</strong> a leitura <strong>de</strong> como teria si<strong>do</strong> <strong>sua</strong> configuração original, sen<strong>do</strong><br />

<strong>Paraty</strong> o único ex<strong>em</strong>plo que nos restou <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong> para que possamos<br />

avaliar e fazer suposições <strong>de</strong> como eram conforma<strong>do</strong>s arquitetônica e<br />

espacialmente esses núcleos primitivos. Para esse exercício tomamos<br />

como referência os r<strong>em</strong>anescentes históricos e os poucos ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong><br />

monumentos que hoje nelas persist<strong>em</strong>. De todas as nossas cida<strong>de</strong>s históri-<br />

cas <strong>Paraty</strong> permanece, na voz Lucio Costa, nosso mais abaliza<strong>do</strong> estudio-<br />

so e historia<strong>do</strong>r da arquitetura, como o mais íntegro ex<strong>em</strong>plo brasileiro da<br />

urbanização colonial. Além disso foi, segun<strong>do</strong> os registros, através <strong>do</strong><br />

porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que, <strong>em</strong> 1695, as primeiras pepitas <strong>do</strong> ouro <strong>do</strong> Brasil fo-<br />

ram <strong>em</strong>barcadas <strong>em</strong> naus e se fizeram ao mar, o que transformou e en-<br />

gran<strong>de</strong>ceu toda a economia mundial <strong>do</strong> século XVIII, prerrogativa única<br />

que <strong>de</strong>rivou no <strong>de</strong>sbravamento e consolidação <strong>de</strong> um caminho que resul-<br />

tou na ocupação <strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> continente sul-americano. Tes–<br />

t<strong>em</strong>unho da historia são os r<strong>em</strong>anescentes físicos <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>,<br />

preserva<strong>do</strong>s na serra que a envolve, que lhe são particulares e únicos.<br />

Goa, fundada <strong>em</strong> 1510, foi o principal centro da presença portuguesa<br />

no Oriente. Esta situada <strong>em</strong> uma encosta <strong>sua</strong>ve e a uma consi<strong>de</strong>rável<br />

distancia <strong>do</strong> mar, à beira <strong>de</strong> um rio, com um complexo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>fensivo.<br />

Apresentava uma estrutura <strong>de</strong> ruas concêntrica. Muito pouco <strong>de</strong> seu<br />

crescimento foi controla<strong>do</strong>. As igrejas eram visíveis a milhas <strong>de</strong> distância<br />

o que caracterizava a pre<strong>do</strong>minância cristã <strong>em</strong> uma região que original-<br />

mente abrigou outras expressões <strong>de</strong> religiosida<strong>de</strong>. A perda <strong>do</strong> controle da<br />

coroa portuguesa sobre as riquezas da Índia ocorreu <strong>em</strong> oposição à val-<br />

orização <strong>de</strong> <strong>sua</strong> presença no Brasil. Isto garantiu a permanência <strong>em</strong> meta-<br />

<strong>de</strong> <strong>do</strong> território sul-americano <strong>de</strong> <strong>sua</strong> língua, seus costumes e <strong>sua</strong> cultura.<br />

137


138<br />

> A.M. – Fórum,<br />

Travessa <strong>de</strong> Santa<br />

Rita<br />

Entre outros fatores esta é uma distinção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> significa<strong>do</strong> nesta<br />

comparação. Em 1843 a capital foi transferida par Pangim. Do sítio<br />

histórico <strong>de</strong> Goa restam apenas as igrejas, nenhuma outra edificação n<strong>em</strong><br />

a malha urbana foram preservadas. A paisag<strong>em</strong> <strong>em</strong>bora tropical t<strong>em</strong><br />

características topográficas e expressão totalmente diferenciadas. E en-<br />

quanto uma representa uma cultura que se esvaneceu, <strong>Paraty</strong> com toda<br />

<strong>sua</strong> estrutura urbana intacta e através <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> é o marco<br />

vivo <strong>de</strong> consolidação <strong>de</strong>ssa cultura <strong>em</strong> vastíssimo território.<br />

Macau, fundada <strong>em</strong> 1565, vai se organizar <strong>de</strong> forma pouco regular,<br />

ocupan<strong>do</strong> inicialmente uma estreita península, da ilha <strong>de</strong> mesmo nome,<br />

localizada na costa sul da China. Seu <strong>de</strong>senvolvimento ocorreu <strong>em</strong> vários<br />

núcleos centra<strong>do</strong>s <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> conventos e <strong>de</strong> outros edifícios instituci-<br />

onais. A via estruturante era a rua Direita, que percorria a península <strong>em</strong><br />

toda <strong>sua</strong> extensão. Ao longo <strong>de</strong>sta rua articulavam-se vários edifícios re-<br />

ligiosos e outros equipamentos, alguns <strong>de</strong>les associa<strong>do</strong>s a largos e praças<br />

- como era o caso <strong>do</strong> largo <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong> - e que constituíam outros tantos<br />

núcleos <strong>de</strong> crescimento urbano. Os quarteirões <strong>de</strong> seu traça<strong>do</strong> urbano,<br />

que se esten<strong>de</strong> por <strong>sua</strong>ves colinas, não estão <strong>em</strong> posição ortogonal. Tam-<br />

bém aí os ex<strong>em</strong>plos <strong>do</strong>s primeiros séculos <strong>de</strong> <strong>sua</strong> colonização encontram-<br />

se <strong>de</strong>scontínuos, separa<strong>do</strong>s por construções <strong>de</strong> outra era, cultura e feição,<br />

<strong>em</strong> oposição à integrida<strong>de</strong> única <strong>do</strong> núcleo urbano apresenta<strong>do</strong> nesta


proposta. O <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> Macau, certamente, são as fortalezas. Sua pais-<br />

ag<strong>em</strong> insular não t<strong>em</strong> nenhuma s<strong>em</strong>elhança com as espetaculares mon-<br />

tanhas florestadas que ro<strong>de</strong>iam <strong>Paraty</strong>. Como Goa, Macau representa um<br />

império que se extinguiu. <strong>Paraty</strong> e o Brasil são hoje os mais expressivos<br />

ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> sucesso, <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> expansão marítima colonial.<br />

<strong>Paraty</strong> po<strong>de</strong> também ser comparada a Angra <strong>do</strong> Heroísmo, na ilha<br />

Terceira <strong>do</strong>s Açores, hoje inscrita na lista <strong>do</strong> Patrimônio Mundial. Mesmo<br />

sen<strong>do</strong> esta <strong>do</strong>is séculos anterior, há entre as duas cida<strong>de</strong>s uma série <strong>de</strong><br />

disposições urbanísticas que se ass<strong>em</strong>elham: quer na escolha <strong>do</strong>s sítios<br />

para a implantação inicial, quer na forma como estas cida<strong>de</strong>s evoluíram e<br />

se estruturaram nas primeiras fases <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento. Ambos os<br />

sítios escolhi<strong>do</strong> para implantação inicial apresentavam amplas baías<br />

abrigadas, com ótimas condições <strong>de</strong> porto natural, protegidas nos ex-<br />

tr<strong>em</strong>os por morros, promontórios ou ilhas que assegurass<strong>em</strong> fácil <strong>de</strong>fesa<br />

da entrada <strong>do</strong> porto e da cida<strong>de</strong>. Na fase inicial, esses núcleos popula-<br />

cionais eram simples estruturas <strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong> território adaptadas às<br />

condições geográficas pré-existentes e realizadas pelos próprios colonos.<br />

Em fases posteriores <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, já contariam com o apoio <strong>de</strong><br />

técnicos <strong>de</strong> arruação. A inovação nos traça<strong>do</strong>s das cida<strong>de</strong>s marítimas por-<br />

tuguesas ocorre por meio <strong>de</strong> intervenções que reestruturam as malhas<br />

urbanos, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>los eruditos. Essas cida<strong>de</strong>s sintetizam a prática<br />

<strong>do</strong> planejamento medieval, com os <strong>em</strong>ergentes princípios teóricos <strong>do</strong> ur-<br />

banismo renascentista.<br />

139<br />

> A.M. – Igreja <strong>de</strong> Santa Rita


140<br />

As s<strong>em</strong>elhanças terminam aqui. Em Angra <strong>do</strong> Heroísmo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às con-<br />

dições topográficas ,o caminho estrutura<strong>do</strong>r da cida<strong>de</strong> se implantou no<br />

interior, distante <strong>do</strong> litoral, <strong>em</strong> local plano, que aos poucos viria a se trans-<br />

formar na rua principal <strong>do</strong> aglomera<strong>do</strong>. Uma forma <strong>de</strong> povoamento lin-<br />

ear <strong>de</strong>senvolvia-se ao longo <strong>de</strong>sse caminho. A cida<strong>de</strong> se reestruturou <strong>em</strong><br />

pouco mais <strong>de</strong> meio século, por ter assumi<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> importância como<br />

centro <strong>de</strong> construção naval, capital <strong>do</strong>s Açores. As ruas que cruzavam o<br />

eixo essencial e se dispunham perpendicularmente ao mar adquiriram<br />

uma importância crescente na estrutura da cida<strong>de</strong>, tornan<strong>do</strong>-se progres-<br />

sivamente a direção <strong>do</strong>minante <strong>do</strong> traça<strong>do</strong>. A malha reticulada das ruas<br />

ajusta-se aos antigos eixos essenciais, cruza<strong>do</strong>s e aponta<strong>do</strong>s ao mar. Para-<br />

ty guar<strong>do</strong>u durante <strong>do</strong>is séculos as características <strong>do</strong> urbanismo tradi-<br />

cional português, só receben<strong>do</strong> um mo<strong>de</strong>lo urbano reticula<strong>do</strong> no século<br />

XIX. Isto fez com que preservasse, <strong>de</strong> forma sutil, o mo<strong>de</strong>lo linear anterior,<br />

que é senti<strong>do</strong> na curvatura das ruas principais, paralelas à orla. Embora o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento tenha ocorri<strong>do</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos diferentes e <strong>de</strong> formas difer-<br />

entes as duas cida<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>stacam pela regularida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s seus traça<strong>do</strong>s.<br />

Angra <strong>do</strong> Heroísmo alcançou a posição <strong>de</strong> importante escala das Rotas<br />

Atlânticas, papel que os Açores conservam até hoje. Não existe no en-<br />

tanto s<strong>em</strong>elhança com a posição <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que além <strong>de</strong> ser um porto<br />

ANÁLISE COMPARATIVA DAS DIFERENTES ROTAS EM TODO O MUNDO<br />

LOCAL DATA USO EIXO PRINCIPAL ALTITUDE<br />

<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

ouro<br />

Brasil<br />

<strong>Caminho</strong> <strong>de</strong><br />

santiago<br />

trecho espanha<br />

<strong>Caminho</strong>s<br />

comerciais <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>serto<br />

Oriente Médio<br />

Rota da seda<br />

oriente médio<br />

Asia<br />

<strong>Caminho</strong><br />

andino<br />

Peru - Equa<strong>do</strong>r<br />

Século XVII ao<br />

Século XIX<br />

Século IX ao<br />

Século XVI<br />

Século XX a.C.<br />

ao Século XX<br />

d.C.<br />

Século V a.C. ao<br />

Século XVI d.C.<br />

Século XII ao<br />

Século XVI<br />

Comercial ouro/<br />

café governamental<br />

Religioso<br />

peregrinag<strong>em</strong><br />

Comercial<br />

especiariais<br />

incenso religioso<br />

<strong>Paraty</strong>/ <strong>Ouro</strong><br />

Preto 800 km<br />

<strong>do</strong>s quais 15 km<br />

possíveis<br />

000 a 1.200 m<br />

Trecho 1.500 Km 200m a 600m<br />

Tiro/A<strong>de</strong>n -<br />

1,200 km<br />

000 a 600 m<br />

Comercial 5,000 km 000 a 2.200 m<br />

Comercial<br />

Governamental<br />

Santiago/Chile -<br />

23,000 km<br />

000 a 6.000 m


marítimo <strong>de</strong>flagrou o processo <strong>de</strong> uma rota importantíssima para to<strong>do</strong><br />

um continente na qual se consoli<strong>do</strong>u o intercâmbio comercial e cultural<br />

<strong>do</strong> interior da América <strong>do</strong> Sul com a Europa a África e com o to<strong>do</strong> o<br />

mun<strong>do</strong>. O significa<strong>do</strong> da floresta tropical e <strong>de</strong> <strong>sua</strong> biodiversida<strong>de</strong>, parte<br />

integrante <strong>de</strong> uma das mais amplas e importantes Reservas da Biosfera<br />

<strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a MAB UNESCO, que serve <strong>de</strong> cenário a esta proposta, acentua<br />

<strong>de</strong> forma expressiva a diferenciação entre estes <strong>do</strong>is sítios.<br />

O caráter excepcional <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> dá-se pela conservação <strong>do</strong> caminho<br />

<strong>do</strong> ouro que atravessa a floresta tropical Atlântica, sen<strong>do</strong> este o primeiro<br />

caminho marítimo-terrestre que levou a civilização européia ao el<strong>do</strong>ra<strong>do</strong><br />

brasileiro. O porto <strong>do</strong> ouro, vila marítima, é pelo menos, no Brasil, a única<br />

vila portuária <strong>do</strong> século XVII, que mantém intacta as características <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>pório comercial que <strong>em</strong> nenhum momento recebeu intervenção direta<br />

da Coroa no seu processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

A paisag<strong>em</strong> especial que abriga o sítio histórico <strong>do</strong> porto <strong>do</strong> ouro po-<br />

<strong>de</strong>ria ser comparada ao conjunto representa<strong>do</strong> por Nápoles e pela Costa<br />

Amalfitana, on<strong>de</strong> há também representações dramáticas <strong>de</strong> geologia<br />

que, <strong>de</strong>bruçadas sobre o oceano, constro<strong>em</strong> paisagens <strong>de</strong> excepcional<br />

beleza. A diferença entre a natureza tropical e a <strong>de</strong> clima t<strong>em</strong>pera<strong>do</strong> é<br />

expressiva. A riqueza da floresta atlântica, a luxuriante vegetação, os pás-<br />

CLIMA TRANSPORTE CONDIÇÃO UNIQUENESS<br />

Floresta tropical<br />

montanhoso<br />

cerra<strong>do</strong><br />

T<strong>em</strong>pera<strong>do</strong><br />

montanhoso<br />

Deserto<br />

sub-tropical<br />

Deserto<br />

montanhoso<br />

t<strong>em</strong>pera<strong>do</strong><br />

Tropical e<br />

sub. Tropical <strong>de</strong><br />

altitu<strong>de</strong><br />

Tropas <strong>de</strong> burros<br />

à pé<br />

À pé<br />

peregrinos<br />

Caravanas<br />

<strong>de</strong> camelos<br />

Caravana <strong>de</strong> camelos<br />

cavalos/ barcos<br />

Lhamas<br />

à pé<br />

peatonal 0-6456<br />

Proposta apresentada<br />

ouro preto diamantina<br />

Única floresta tropical<br />

1° lista sul<br />

1° convida<strong>do</strong> como<br />

ida<strong>de</strong><br />

Lista<strong>do</strong> Mais significativo<br />

religioso p/ cristianismo<br />

que renasce<br />

El<strong>em</strong>entos da rota já<br />

lista<strong>do</strong>s<br />

Importância p/ perío<strong>do</strong><br />

à que serviu<br />

Em estu<strong>do</strong> 1ª relação permanente<br />

Candidatura <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento<br />

Relações précolombianas<br />

império<br />

inca - serviço<br />

141


142<br />

> T.V -, L.S, - FLIP<br />

saros e numerosos animais são expressivos, marcantes e únicos. Sob esse<br />

aspecto o cenário natural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o significa<strong>do</strong> histórico <strong>do</strong> caminho <strong>do</strong><br />

ouro, <strong>do</strong> seu porto e o conjunto urbano preserva<strong>do</strong> representam um con-<br />

junto que não po<strong>de</strong> ser representa<strong>do</strong> por nenhuma outra área já conhe-<br />

ci<strong>do</strong> ou já inscrita na lista <strong>do</strong> Patrimônio Mundial.<br />

3.d Autenticida<strong>de</strong> e integrida<strong>de</strong><br />

Durante 250 anos <strong>Paraty</strong> prosperou como a porta <strong>de</strong> entrada para o inte-<br />

rior brasileiro, e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou importante papel na economia <strong>do</strong> país<br />

ainda <strong>em</strong> formação. Paulatinamente afastada das gran<strong>de</strong>s linhas <strong>de</strong> inter-<br />

câmbio comercial, separada <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> Brasil por altas e escarpadas<br />

montanhas e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong> transporte marítimo que então sofria com<br />

o assoreamento <strong>de</strong> seu porto, <strong>Paraty</strong>, no último quartel <strong>do</strong> século XIX,<br />

perdia relevância no cenário nacional. Somente po<strong>de</strong> sobreviver graças à


pesca artesanal, à produção <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> gêneros alimentícios <strong>de</strong><br />

subsistência.<br />

Para<strong>do</strong>xalmente, a ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong> que ocorreu <strong>em</strong> outras cida<strong>de</strong>s históri-<br />

cas <strong>do</strong> país, esses foram os fatores responsáveis pela preservação da pai-<br />

sag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Município. Permaneceram intactas as áreas florestadas das en-<br />

costas que compõ<strong>em</strong> a ca<strong>de</strong>ia montanhosa da Serra <strong>do</strong> Mar com seus<br />

caminhos <strong>de</strong> pedra. O espaço edifica<strong>do</strong> da se<strong>de</strong> <strong>do</strong> município constitui<br />

até hoje um <strong>do</strong>s conjuntos arquitetônicos mais harmoniosos e b<strong>em</strong> con-<br />

serva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> país. A população <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das transforma-<br />

ções sócio-econômicas, manteve <strong>sua</strong>s tradições ao longo <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos,<br />

não se incorporan<strong>do</strong> às exigências da indústria cultural. To<strong>do</strong>s esses bens<br />

foram classifica<strong>do</strong>s como patrimônio histórico e artístico nacional.<br />

A estagnação econômica <strong>do</strong> Município perdurou até 1976, quan<strong>do</strong> foi<br />

aberta a ro<strong>do</strong>via litorânea <strong>de</strong>nominada BR- 101 ligan<strong>do</strong> as duas maiores<br />

metrópoles <strong>do</strong> país Rio e São Paulo.<br />

Até 1945, quan<strong>do</strong> recebeu a primeira medida <strong>de</strong> proteção histórica<br />

legal, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentava-se como no terceiro quartel <strong>do</strong> sé-<br />

culo XIX. Não se notava qualquer crescimento da periferia urbana, exce-<br />

ção feita à algumas casas situadas ao longo da estrada da serra. Fora <strong>do</strong><br />

bairro histórico só existiam o prédio da Santa Casa e, ao norte, o Forte<br />

Defensor Perpétuo <strong>do</strong>minan<strong>do</strong> a baía, conforme pod<strong>em</strong>os comparar por<br />

mapa <strong>de</strong> época e <strong>de</strong> fotografia <strong>de</strong> 1950.<br />

A <strong>de</strong>limitação <strong>do</strong> sítio histórico urbano foi <strong>de</strong>finida <strong>em</strong> 1947, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

então ten<strong>do</strong> cabi<strong>do</strong> ao IPHAN a incumbência <strong>de</strong> acompanhar as obras <strong>de</strong><br />

restauração das edificações históricas, evitan<strong>do</strong> <strong>de</strong>scaracterizações e tam-<br />

bém, a elaboração <strong>do</strong>s planos urbanísticos <strong>do</strong> Município, que até então,<br />

permitiram não ser rompida a relação <strong>do</strong> espaço edifica<strong>do</strong> com a paisa-<br />

g<strong>em</strong> circundante. Nas décadas <strong>de</strong> 1950 e 60 o IPHAN efetivou <strong>sua</strong>s áreas<br />

protegidas. Em 1974 esten<strong>de</strong>u, para to<strong>do</strong> o Município, a proteção como<br />

patrimônio cultural nacional, por enten<strong>de</strong>r que <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> o espaço cons-<br />

truí<strong>do</strong> e o meio natural se compl<strong>em</strong>entam e se interpenetram. Único mu-<br />

nicípio <strong>do</strong> Brasil inscrito integralmente <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os Livros <strong>de</strong> Tombo <strong>do</strong><br />

Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: Livro das Belas Ar-<br />

tes e Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.<br />

143


144<br />

> DJOB – <strong>Paraty</strong> e a<br />

Serra da Bocaina<br />

A presença da Serra <strong>do</strong> Mar, tão importante e imponente na paisag<strong>em</strong> da<br />

cida<strong>de</strong> é objeto <strong>de</strong> proteção pelo Decreto nº 68.172, que cria o Parque<br />

Nacional da Serra da Bocaina <strong>em</strong> 4 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1971, posteriormente<br />

retifica<strong>do</strong> pelo Decreto nº 70.694 <strong>em</strong> 8 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1972. O Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente e Recursos Renováveis - IBAMA órgão res-<br />

ponsável pela proteção <strong>do</strong> patrimônio natural <strong>do</strong> Brasil esten<strong>de</strong>u, <strong>em</strong><br />

1983, a proteção para todas as <strong>sua</strong>s ilhas e vertente sul <strong>do</strong> Município, a<br />

partir <strong>de</strong> <strong>sua</strong> se<strong>de</strong>, crian<strong>do</strong> a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental - APA <strong>do</strong> Cairu-<br />

çu e Estação Ecológica <strong>do</strong>s Tamoios, que protege integralmente 8 ilhas e<br />

seu entorno marinho.<br />

A Serra <strong>do</strong> Mar encontra-se recoberta pela floresta protegida <strong>de</strong>nsa.<br />

No seu estágio clímax é a mata mais nobre, que impressiona e intimida o<br />

visitante, consi<strong>de</strong>rada a vegetação <strong>de</strong> máxima expressão local. É compos-<br />

ta por árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte forman<strong>do</strong> um <strong>do</strong>ssel fecha<strong>do</strong>, alcançan<strong>do</strong><br />

alturas <strong>de</strong> 30 a 35 m, com árvores <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> metro <strong>de</strong> diâmetro, carac-<br />

terizada pela abundância <strong>de</strong> lianas lenhosas e epífitas, <strong>de</strong>ntre as quais se<br />

<strong>de</strong>stacam bromélias e orquí<strong>de</strong>as, paisag<strong>em</strong> que inspirou artistas <strong>do</strong> sécu-<br />

lo XIX como o holandês Rugendas, autor das gravuras que primeiro retra-<br />

taram a exuberância <strong>de</strong>sse cenário. No estrato inferior, herbáceo e arbus-<br />

tivo, <strong>de</strong>stacam-se, <strong>de</strong>ntre outras, marantáceas e floridas helicônias,<br />

vulgarmente conhecidas por bico <strong>de</strong> papagaio. Graças à <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> da<br />

área, à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso e a um histórico <strong>de</strong> ocupação restrita, a<br />

ocorrência <strong>de</strong> rica fauna silvestre ficou protegida.<br />

No trecho situa<strong>do</strong> no Parque Nacional da Serra da Bocaina, o <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> encontra-se tal como foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> no século XIX, após quase<br />

três séculos como uma das principais vias <strong>de</strong> penetração. Esse test<strong>em</strong>u-<br />

nho da história <strong>do</strong> Brasil e da América <strong>do</strong> Sul, amplamente utiliza<strong>do</strong> no<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico <strong>do</strong> país, principalmente no sé-<br />

culo XVII, encontra-se hoje íntegro e autêntico.


As ban<strong>de</strong>iras, expedições cujo objetivo era a procura <strong>de</strong> riqueza no interior<br />

como o ouro e diamante, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> litoral e passan<strong>do</strong> por este caminho,<br />

contribuíram significativamente para ocupar e povoar o interior <strong>do</strong> Brasil,<br />

fundan<strong>do</strong> povoa<strong>do</strong>s, crian<strong>do</strong> vilas e dan<strong>do</strong> início à exploração minera<strong>do</strong>ra.<br />

Sua atuação, contu<strong>do</strong>, foi <strong>de</strong>cisiva na consolidação da presença portugue-<br />

sa além da linha <strong>de</strong>limitada pelo trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Tor<strong>de</strong>silhas e ampliou consi<strong>de</strong>-<br />

ravelmente as fronteiras da colônia. Para resolver as contínuas disputas<br />

entre espanhóis e portugueses, foi assina<strong>do</strong>, <strong>em</strong> 1750, um novo trata<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> limites, o <strong>de</strong> Madri. Por aqui passaram to<strong>do</strong>s que acorriam ao interior<br />

<strong>do</strong> Brasil <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> riquezas e que <strong>de</strong>ram ao país, como alargamento<br />

<strong>de</strong> <strong>sua</strong>s fronteiras, as proporções continentais que hoje t<strong>em</strong>.<br />

Nesse caminho, preserva<strong>do</strong> pela floresta da Serra <strong>do</strong> Mar, ainda encon-<br />

tramos r<strong>em</strong>anescentes integra<strong>do</strong>s, tais como el<strong>em</strong>entos <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>-<br />

fesa e <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> ouro. I<strong>de</strong>ntificam-se ruínas da casa <strong>do</strong> regimento <strong>de</strong><br />

uma das casas <strong>de</strong> quinto. Essas casas tinham por objetivo cobrar o impos-<br />

to <strong>de</strong> 20%, ou seja, um quinto <strong>do</strong> ouro extraí<strong>do</strong>, relativo à extração <strong>do</strong><br />

ouro e também controlar os viajantes, a circulação <strong>de</strong> escravos e merca<strong>do</strong>-<br />

rias, que <strong>em</strong> geral eram taxa<strong>do</strong>s. Os marcos naturais <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação cita-<br />

<strong>do</strong>s nos <strong>do</strong>cumentos históricos ainda possu<strong>em</strong> a mesma <strong>de</strong>nominação.<br />

Na época colonial o diamante também circulou por este caminho e,<br />

posteriormente, no Império, o café o reativou, fazen<strong>do</strong> circular não só a<br />

produção cafeeira como gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> manufaturas e produtos <strong>de</strong><br />

luxo encomenda<strong>do</strong>s pelos Barões <strong>do</strong> Café <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba.<br />

Tanto no perío<strong>do</strong> colonial como no imperial, as tropas ou caravanas <strong>de</strong><br />

animais eqüí<strong>de</strong>os se constituíram no principal meio <strong>de</strong> transporte terres-<br />

tre <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias no Brasil (Anexo). Possuíam normas especiais para<br />

entrar no espaço urbano, ficavam no Campo da Lavag<strong>em</strong>, espaço <strong>do</strong> qual<br />

não sobrou nenhum test<strong>em</strong>unho <strong>em</strong> nenhuma cida<strong>de</strong> no Brasil e que<br />

145


146<br />

> A.M. – Cotia,<br />

Preguiça, Furão,<br />

Tamandua-Mirim,<br />

macaco-prego, tucano<br />

ainda po<strong>de</strong> ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, hoje ocupa<strong>do</strong> por um campo <strong>de</strong><br />

futebol. Junto a esse campo encontra-se o Portão <strong>de</strong> Ferro da chácara <strong>de</strong><br />

mesmo nome que funcionou como Posto Fiscal <strong>do</strong> Império, e uma casa,<br />

raro ex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong> residência rural <strong>do</strong> litoral su<strong>de</strong>ste. Outro el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong><br />

referência no espaço urbano, amplamente cita<strong>do</strong> nos livros <strong>de</strong> escrituras<br />

<strong>do</strong> século XVIII, é o Oratório da Cruz das Almas, on<strong>de</strong> eram feitas orações<br />

para os que faleciam na travessia da serra.<br />

A vila portuária, primeiro porto <strong>do</strong> ouro <strong>do</strong> Brasil, guarda construções<br />

<strong>do</strong>s séculos XVIII e XIX, sen<strong>do</strong> a única cida<strong>de</strong> portuária brasileira que con-<br />

serva características <strong>de</strong> <strong>em</strong>pório comercial, s<strong>em</strong> construções ricas, luxuo-<br />

sas ou suntuosas, cuja única exceção é a Igreja Matriz. Pod<strong>em</strong>os observar<br />

o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> armazéns, principalmente na área junto ao porto,<br />

praça da Ban<strong>de</strong>ira. (foto Samuel Costa e atual). A arquitetura paratiense<br />

caracteriza-se por possuir a incrível capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptar-se às condi-<br />

ções climáticas que apresentam t<strong>em</strong>peratura quente e alto índice pluvio-<br />

métrico. Embasamentos, estruturas e cunhais <strong>em</strong> pedra das edificações<br />

mantêm-se íntegros. A configuração das ruas e espaços livres públicos, o<br />

traça<strong>do</strong> urbano e o calçamento estão integralmente preserva<strong>do</strong>s.<br />

Sobre o encontro das águas <strong>do</strong> mar com a cida<strong>de</strong> pronunciou-se o<br />

maior arquiteto urbanista <strong>do</strong> Brasil, Lucio Costa:<br />

“... Porque <strong>Paraty</strong> é a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> os caminhos <strong>do</strong> mar e os<br />

caminhos da terra se encontram, melhor, se entrosam. As<br />

águas não são barradas, mas avançam cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntro levadas<br />

pela Lua ...”


O forte Defensor Perpétuo, situa<strong>do</strong> no alto da Ponta da Defesa, com ele-<br />

mentos integra<strong>do</strong>s como o alojamento, o terrapleno, as trincheiras, os<br />

canhões e a casa da pólvora separada <strong>do</strong> prédio principal, foi o principal<br />

no sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da cida<strong>de</strong>. Esse conjunto situa-se no alto <strong>do</strong> morro<br />

da vila velha, atual morro <strong>do</strong> Forte, on<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> foi fundada. Hoje toda<br />

a elevação pertence à União. O alojamento foi restaura<strong>do</strong> nos anos <strong>de</strong><br />

1970, com fins <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong> <strong>sua</strong> integrida<strong>de</strong> e abriga o Museu <strong>de</strong><br />

Artes e Tradições Populares <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. A casa <strong>de</strong> pólvora separada <strong>do</strong><br />

prédio principal é um <strong>do</strong>s poucos ex<strong>em</strong>plares <strong>do</strong> gênero no país.<br />

Como cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância portuária, sofreu várias influên-<br />

cias <strong>em</strong> <strong>sua</strong> cultura e costumes, pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong>, é claro, as tradições por-<br />

tuguesas e européias que lá se aninharam. O carnaval é um misto <strong>do</strong><br />

ibérico com influências francesa e italiana, traduzida nas máscaras <strong>de</strong><br />

papel machê e nos solitários mascara<strong>do</strong>s <strong>do</strong> carnaval <strong>de</strong> Veneza. As folias<br />

são r<strong>em</strong>iniscências <strong>do</strong>s trova<strong>do</strong>res medievais, que exist<strong>em</strong> até hoje nos<br />

Açores, com a mesma forma, músicos e funções. A S<strong>em</strong>ana Santa é mais<br />

espanhola que portuguesa, nos mol<strong>de</strong>s sevilhanos. A Festa <strong>do</strong> Divino Es-<br />

pírito Santo, mais ass<strong>em</strong>elhada à que acontece nos Açores é altamente<br />

diferente da <strong>de</strong> Portugal continental. As festas juninas r<strong>em</strong>ontam, s<strong>em</strong><br />

dúvida, ao Minho português, especialmente a festa <strong>de</strong> <strong>do</strong> Santoínho,<br />

corruptela <strong>de</strong> Santo Antoninho, <strong>de</strong> Viana <strong>do</strong> Castelo. Essa mescla <strong>de</strong> cul-<br />

tura, agregada à <strong>do</strong>s índios e à <strong>do</strong>s negros africanos, resultou no que se<br />

po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> religião e cultura paratiense.<br />

Nas Zonas <strong>de</strong> Proteção da Vida Silvestre da APA <strong>de</strong> Cairuçu e Reserva<br />

Ecológica da Juatinga, <strong>em</strong> nível <strong>de</strong> proteção estadual, b<strong>em</strong> como nas<br />

147


148<br />

> A.M. – Folha <strong>de</strong> samambaia


vertentes <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, ainda pod<strong>em</strong> ser en-<br />

contra<strong>do</strong>s alguns <strong>do</strong>s maiores e mais raros mamíferos da Mata Atlântica,<br />

como a onça pintada (Panthera onca), a suçuarana (Felis concolor), <strong>de</strong> cor<br />

par<strong>do</strong>-amarelada e o muriqui ou mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi-<br />

<strong>de</strong>s, o maior primata das Américas.<br />

Nessa área, das 156 espécies <strong>de</strong> mamíferos não-voa<strong>do</strong>res com distribui-<br />

ção para a Mata Atlântica levanta<strong>do</strong>s <strong>em</strong> 1996, foram registradas 64 espé-<br />

cies, boa parte <strong>de</strong>las ameaçadas <strong>de</strong> extinção conforme listag<strong>em</strong> <strong>do</strong> IBAMA,<br />

sen<strong>do</strong> cinco espécies endêmicas da Mata Atlântica, o ouriço-cacheiro (Sphi-<br />

ggurus villosus), o sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita), o bugio (Alouat-<br />

ta fusca), o macaco-prego (Cebus apella nigritus) e o mono-carvoeiro.<br />

Foram registradas 394 espécies diferentes <strong>de</strong> aves para a região que<br />

abrange a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> território <strong>do</strong> Parque Nacional e APA <strong>de</strong> Cairuçú.<br />

Destas espécies, 135 são apontadas como espécies endêmicas <strong>do</strong> Domí-<br />

nio da Floreta Atlântica. Cerca <strong>de</strong> 13 espécies estão ameaçadas <strong>de</strong> extin-<br />

ção como o macuco, papagaio chauá, papagaio <strong>do</strong> peito roxo, pixoxó,<br />

sabiá cica. Todas essas espécies são o melhor indica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> autenticida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sta floresta, cuja riqueza vegetal, na APA <strong>de</strong> Cairucu, chega a quase<br />

1000 espécies <strong>de</strong> plantas superiores (angiospermas), 115 espécies <strong>de</strong> sa-<br />

mambaias e 117 espécies <strong>de</strong> algas marinhas.<br />

A área <strong>de</strong> proteção ambiental da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi criada através da<br />

Lei Municipal no. 685/84 e seu propósito é <strong>de</strong> proteger a fauna marinha<br />

e os recursos pesqueiros na área composta pelas baías <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Parati-<br />

Mirim, Saco <strong>do</strong> Fundão e Saco <strong>do</strong> Mamanguá.<br />

Já a Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, instituída pelo <strong>de</strong>creto fe<strong>de</strong>ral n°<br />

98.864, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1990, é uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong><br />

proteção integral que visa a preservação integral <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> 29<br />

ilhas, ilhotas, lajes e roche<strong>do</strong>s com abrangência <strong>de</strong> 1km na area marinha<br />

ao seu re<strong>do</strong>r , nos municípios <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e Angra <strong>do</strong>s Reis.<br />

No município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a ESEC Tamoios sobrepõe a APA <strong>de</strong> Cairuçu nas<br />

Ilhas <strong>do</strong> Catimbau, <strong>do</strong>s Ganchos, das Palmas, Comprida e Gran<strong>de</strong> (<strong>em</strong> Ta-<br />

rituba), Pequena, Araçatiba, Laje <strong>do</strong> Cesto, Ilha Araraquarinha e Araraqua-<br />

ra, Ilha Jurubaiba, Roche<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Pedro e Ilha <strong>do</strong> Algodão (<strong>do</strong> norte).<br />

Em nível estadual, foi criada a Reserva Ecológica da Juatinga, subordi-<br />

nada ao IEF- Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, com 8.000<br />

ha, protegen<strong>do</strong> o maciço e contrafortes <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçu, on<strong>de</strong> viv<strong>em</strong><br />

149


150<br />

> A.M. – Bromélia<br />

da pesca e <strong>do</strong> turismo as comunida<strong>de</strong>s tradicionais <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res <strong>do</strong><br />

Saco <strong>do</strong> Mamanguá, Cajaíba, Juatinga, Ponta Negra e Praia <strong>do</strong> Sono. Esta<br />

É a única criada por Lei Estadual, <strong>de</strong> no 1.859, <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1991,<br />

e pelo Decreto No 17.981 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1992. A Reserva encon-<br />

tra-se inserida <strong>em</strong> <strong>sua</strong> totalida<strong>de</strong> na APA <strong>do</strong> Cairuçu, e seu uso é muito<br />

mais restrito.<br />

Em 2006, o Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente criou o Mosaico Bocaina,<br />

por meio da Portaria Ministerial 349, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro, objetivan<strong>do</strong><br />

integrar e aperfeiçoar a gestão e proteção <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

conservação fe<strong>de</strong>rais, estaduais e municipais da região <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e Angra<br />

<strong>do</strong>s Reis no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> outras no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo, localizadas na área <strong>de</strong> influencia <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra<br />

da Bocaina.<br />

Esse conjunto forma<strong>do</strong> pelos mais significativos r<strong>em</strong>anescentes <strong>do</strong> pri-<br />

meiro caminho <strong>do</strong> ouro da Américas, pela mais homogênea das cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>do</strong> império luso e pela paisag<strong>em</strong> singular da Serra <strong>do</strong> Mar e da Mata<br />

Atlântica é autêntica e <strong>de</strong>tém <strong>sua</strong> integrida<strong>de</strong> singular, única entre to<strong>do</strong>s<br />

os r<strong>em</strong>anescentes da expansão portuguesa.


4 Esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> conservação e<br />

fatores que afetam o b<strong>em</strong><br />

4.a Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação atual<br />

MEIO FÍSICO<br />

A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, está muito<br />

b<strong>em</strong> conservada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s encostas e conseqüen-<br />

te dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao seu interior, na maior parte <strong>do</strong> seu território.<br />

A área é recoberta pela floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa, apresenta excelentes<br />

níveis <strong>de</strong> preservação. No extr<strong>em</strong>o sul <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> o Parque<br />

protege também 3 praias, uma ilha e uma porção <strong>de</strong> área marinha.<br />

Adjacente ao Parque, a Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>do</strong> Cairuçú<br />

é responsável pela proteção não só da flora e fauna, como também <strong>do</strong>s<br />

sist<strong>em</strong>as estuarinos <strong>do</strong> Saco <strong>do</strong> Mamanguá e baía <strong>de</strong> Parati-Mirim. al<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> todas as 63 ilhas e ilhotes <strong>do</strong> municipio.<br />

Sobreposta a APA t<strong>em</strong>os a Reserva Ecológica da Juatinga,<br />

que correspon<strong>de</strong> ao maciço <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçú, que <strong>do</strong>mina<br />

a paisag<strong>em</strong> meridional da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> como<br />

marco notável a Ponta da Juatinga, promontório rochoso<br />

que marca a entrada da baía <strong>de</strong> Parati. Nestas áreas, isola-<br />

das, pois o acesso só é possível <strong>de</strong> barco, encontramos co-<br />

munida<strong>de</strong>s caiçaras (mestiço <strong>do</strong> índio, afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e<br />

colonos europeus), que ainda guardam no seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida<br />

às ativida<strong>de</strong>s tradicionais como pesca, agricultura <strong>de</strong> subsis-<br />

tência e artesanato.<br />

O Parque Nacional da Serra da Bocaina está situa<strong>do</strong> na<br />

porção da Serra <strong>do</strong> Mar <strong>em</strong> que vertentes íngr<strong>em</strong>es formam<br />

verda<strong>de</strong>iro anfiteatro volta<strong>do</strong> para a baia da Ilha Gran<strong>de</strong>, na<br />

região <strong>de</strong> divisa <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo,<br />

abrangen<strong>do</strong> os municípios <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s Reis, <strong>Paraty</strong>, Ubatuba,<br />

Cunha, Areias e São José <strong>do</strong> Barreiro. Com 104 mil hectares, é a<br />

maior unida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> proteção integral da Mata Atlântica na<br />

região costeira <strong>do</strong> Brasil.


152<br />

> A.M. – Jequitibá na<br />

Serra da Bocaina<br />

Seus pontos culminantes, com mais <strong>de</strong> 2 mil metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, encon-<br />

tram-se no planalto da Bocaina, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, cujas monta-<br />

nhas a noroeste <strong>de</strong>sc<strong>em</strong> ora abruptas ora mais <strong>sua</strong>ves pelos mares <strong>de</strong><br />

morros <strong>em</strong> direção ao Vale <strong>do</strong> Paraíba. Na região da divisa entre os esta-<br />

<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro o Parque Nacional é sobreposto pelo<br />

Parque Estadual da Serra <strong>do</strong> Mar, <strong>em</strong> São Paulo, e à APA <strong>de</strong> Cairuçu, <strong>em</strong><br />

<strong>Paraty</strong>, na qual está inserida a Reserva Ecológica da Juatinga. Estas áreas<br />

protegidas atualmente faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong> Mosaico Bocaina, cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2006<br />

pelo Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente.<br />

A maior importância regional <strong>do</strong> Parque Nacional consiste <strong>em</strong> integrar<br />

extenso corre<strong>do</strong>r contínuo <strong>de</strong> Mata Atlântica entre Rio <strong>de</strong> Janeiro e São<br />

Paulo, abrigan<strong>do</strong> no Planalto da Bocaina as cabeceiras <strong>do</strong> Rio Paraíba <strong>do</strong><br />

Sul, cuja bacia abastece as cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Paraíba e Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina compreen<strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>s, climas e relevos, que abrigam diferentes ecossiste-


mas, inclusive costeiros e marinhos, que formam nichos e refúgios ecoló-<br />

gicos, e apresentam uma cobertura vegetal ainda não totalmente estuda-<br />

da. Esta riqueza <strong>de</strong> ambientes nos leva a afirmar que o seu território<br />

apresenta um <strong>do</strong>s maiores índices <strong>de</strong> biodiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntre as unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> conservação da Mata Atlântica no Brasil.<br />

Cerca <strong>de</strong> 85% da área <strong>do</strong> Parque é recoberta por Floresta Ombrófila<br />

Densa, constituída principalmente por formações secundárias. A Floresta<br />

Ombrófila Densa Submontana fica entre 50 e 700 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, e ocupa<br />

cerca <strong>de</strong> 26% <strong>do</strong> Parque. Nas encostas mais altas e nas escarpas voltadas<br />

para o mar, encontram-se as formações mais exuberantes da Mata Atlân-<br />

tica, com árvores que alcançam <strong>de</strong> 24 a 28 m <strong>de</strong> altura, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> – se<br />

o jequitibá, o cedro e a massaranduba.<br />

Já no alto <strong>do</strong>s planaltos e da serra, na faixa <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 600 e 1.500<br />

m, concentra-se boa parte das florestas primárias, com pre<strong>do</strong>mínio da<br />

Floresta Ombrófila Densa Montana, que ocupa cerca <strong>de</strong> 54% da área <strong>do</strong><br />

Parque. Neste ambiente foi <strong>de</strong>scrita recent<strong>em</strong>ente uma nova espécie <strong>de</strong><br />

bromélia, a Fernseea bocainensis, endêmica <strong>do</strong> altiplano da Bocaina.<br />

FAUNA E FLORA<br />

Foram listadas no Parque Nacional da Serra da Bocaina 40 espécies <strong>de</strong><br />

mamíferos terrestres e 294 <strong>de</strong> aves, com 10 espécies <strong>de</strong> mamíferos e 12<br />

<strong>de</strong> aves ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção. Cinco espécies <strong>de</strong> mamíferos são endê-<br />

micas da Mata Atlântica: ouriço-cacheiro (Sphiggurus villosus), sagüi-da-<br />

serra-escuro (Callithrix aurita), bugio (Alouatta fusca), macaco-prego (Ce-<br />

bus apella nigritus) e mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior<br />

primata das Américas.<br />

As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a con-<br />

centração da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, com <strong>de</strong>staque<br />

para felinos como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a onça-parda (Puma<br />

concolor) e outros mais raros, como o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno (Leopardus<br />

tigrinus) e a onça-pintada (Panthera onça), cuja ocorrência é confirmada<br />

por mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Trinda<strong>de</strong> e Patrimônio, na divisa entre São Paulo e rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro. São raros os registros <strong>de</strong> anta (Tapirus terrestris) , o maior ma-<br />

mífero brasileiro.<br />

Das espécies <strong>de</strong> aves, 44% são apontadas como espécies endêmicas<br />

<strong>do</strong> Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar entre outras o macuco (Tina-<br />

153


154<br />

mus solitarius), a jacutinga (Pipile jacutinga) e a sabiá cica (Tricla-<br />

ria malachitacea) como raras e ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />

No trecho da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, entre as cotas 650 e<br />

1.000 m, a aplicação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Avaliação Ecológica Rápida<br />

pela equipe <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional permitiu<br />

registrar 112 espécies <strong>de</strong> aves, sen<strong>do</strong> 53 <strong>de</strong>las (47,3%) endêmi-<br />

cas <strong>do</strong> Domínio Atlântico. Deste total, 9 espécies estão pre-<br />

sumidamente ameaçadas e 1 ameaçada <strong>de</strong> extinção: o<br />

sabiá-cica (Triclaria malachitacea) (Collar et al.,<br />

1.992; Wege and Long, 1.995). Entre as 112<br />

espécies, 6 pod<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas<br />

indica<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ambiente florestal<br />

contínuo no Domínio Atlântico:<br />

Pionopsitta pileata, Triclaria mala-<br />

chitacea, Campephilus robustus,<br />

Chamaeza meruloi<strong>de</strong>s, Carpornis cucullatus<br />

e Ilicura militaris.<br />

Esta área apresenta alto valor histórico e estético, b<strong>em</strong> como precioso<br />

recurso educacional e <strong>de</strong> pesquisa científica. O traça<strong>do</strong> da <strong>Paraty</strong>-Cunha<br />

<strong>de</strong>ve ser entendi<strong>do</strong> como estratégico para a educação ambiental, o ecotu-<br />

rismo e a conservação da Mata Atlântica, um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> uso que atenda<br />

às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> fluxo regional e <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />

A Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>do</strong> Cairuçú é responsável pela<br />

proteção não só da flora e fauna, como também <strong>do</strong>s sist<strong>em</strong>as estuarinos<br />

<strong>do</strong> Saco <strong>do</strong> Mamanguá e baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>-Mirim, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> todas as 63 ilhas<br />

e ilhotes <strong>do</strong> municipio. Sobreposta à APA encontra-se a Reserva Ecológica<br />

da Juatinga, que correspon<strong>de</strong> ao maciço <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçú, ponto cul-<br />

minante na paisag<strong>em</strong> meridional da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>, ten<strong>do</strong> como<br />

marco notável a Ponta da Juatinga, promontório rochoso que marca a<br />

entrada da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

Nestas áreas, isoladas, pois o acesso só é possível <strong>de</strong> barco, encontra-<br />

mos comunida<strong>de</strong>s caiçaras (mestiços <strong>do</strong> índio, afro-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes e colo-<br />

nos europeus), que ainda guardam no seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida ativida<strong>de</strong>s tradi-


cionais como pesca e agricultura <strong>de</strong> subsistência, b<strong>em</strong> como a utilização<br />

<strong>de</strong> tecnologias patrimoniais que inclu<strong>em</strong> o fabrico artesanal da farinha <strong>de</strong><br />

mandioca, as técnicas construtivas com pau-a-pique e taipa <strong>de</strong> mão, co-<br />

berturas <strong>de</strong> sapê, confecção <strong>de</strong> canoas, r<strong>em</strong>os, gamelas, cestos diversos<br />

e mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> artes diferentes <strong>de</strong> pesca artesanal.<br />

A Zona <strong>de</strong> Vida Silvestre da APA <strong>de</strong> Cairuçu é quase totalmente reco-<br />

berta pela Floresta Ombrófila Densa, <strong>em</strong> vários estágios <strong>de</strong> regeneração,<br />

mas sobretu<strong>do</strong> naqueles mais avança<strong>do</strong>s.<br />

Nesta área se encontram as praias <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, as ilhas fora <strong>do</strong> perímetro<br />

da baía, as comunida<strong>de</strong>s caiçaras e os bairros rurais. A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> popula-<br />

cional <strong>do</strong> município chega a 32 habitantes/km 2 , mas a ocupação se con-<br />

centra nas praias <strong>de</strong> Trinda<strong>de</strong>, Laranjeiras, Sono, Ponta Negra, Cajaíba,<br />

Saco <strong>do</strong> Mamanguá, <strong>Paraty</strong> Mirim, Guerra, Tarituba e Mambucaba, es-<br />

ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se para o interior no vale <strong>do</strong> rio Mambucaba e ao longo <strong>do</strong>s<br />

rios Carapitanga, <strong>Paraty</strong> Mirim, Mateus Nunes, Perequê-Açu, Barra Gran-<br />

<strong>de</strong>, Taquari e São Gonçalo.<br />

A região da APA <strong>de</strong> Cairuçu, que ocupa quase 1/3 <strong>do</strong> município <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong> foi mapeada a partir <strong>de</strong> fotos aéreas <strong>de</strong> 1995 e imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> satélite<br />

<strong>de</strong> 2000; o uso <strong>de</strong> seu solo foi amplamente discuti<strong>do</strong> e<br />

resultou <strong>em</strong> cartografia que <strong>de</strong>limita as<br />

áreas para ocupação e aquelas<br />

para proteção.<br />

Possui especial impor-<br />

tância, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a pre-<br />

155


156<br />

sença, <strong>em</strong> seus limites, <strong>do</strong>s diversos tipos <strong>de</strong> vegetação da mata atlântica<br />

meridional. Isto ocorre <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a gran<strong>de</strong> diferença altitudinal abrangen<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> restinga e matas palu<strong>do</strong>sas ao nível <strong>do</strong> mar até matas <strong>de</strong><br />

neblina e o pico <strong>do</strong> Cairuçu.<br />

Nas áreas mais baixas estão os habitats <strong>de</strong> influência flúvio-marítima<br />

como as áreas <strong>de</strong> praias, costões rochosos, brejos salobros, restingas e<br />

mangues. A<strong>de</strong>ntran<strong>do</strong>-se o interior começam a aparecer formações flo-<br />

restais ocorren<strong>do</strong> nas áreas <strong>de</strong> solos inundáveis pequenos trechos <strong>de</strong> ma-<br />

tas palu<strong>do</strong>sas e nas <strong>de</strong> solo profun<strong>do</strong> e seco entre os terrenos costeiros e<br />

a encosta abrupta, reduzi<strong>do</strong>s trechos da floresta <strong>de</strong> planície.<br />

BAIA DE PARATY<br />

Des<strong>de</strong> a abertura da ro<strong>do</strong>via Rio Santos, BR 101, <strong>em</strong> 1974, observou-se um<br />

progressivo crescimento da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. A região costeira, antes habi-<br />

tada por pesca<strong>do</strong>res, passou a ser ocupada por residências <strong>de</strong> veraneio. As<br />

ilhas, antes <strong>de</strong>sertas, passaram a abrigar bares, restaurantes e mansões.<br />

A floresta ainda pre<strong>do</strong>mina na região, porém, a localida<strong>de</strong> da Boa Vista<br />

foi ocupada por marinas e, a Ponta Grossa, um costão rochoso, por resi-<br />

dências <strong>de</strong> veraneiro, fatos que alteraram a imag<strong>em</strong> representada por De-<br />

bret <strong>em</strong> <strong>sua</strong> aquarela. Pod<strong>em</strong>os também verificar o a<strong>de</strong>nsamento urbano<br />

na Ilha <strong>do</strong> Araújo e Praia Gran<strong>de</strong>.<br />

Os canhões <strong>do</strong> Bom Jardim, a roda <strong>de</strong> ferro da praia <strong>do</strong><br />

Engenho, o casarão da Boa Vista e os ban<strong>do</strong>s <strong>de</strong> biguás,<br />

trinta réis e gaivotões que habitam ilhotas e lajes ainda nos<br />

r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a um t<strong>em</strong>po antigo, <strong>em</strong> que pesca<strong>do</strong>res traziam<br />

meros, lulas, garoupas e robalos enormes, muita tainha,<br />

muito camarão e até lagosta. Mas a especulação imobiliária,<br />

o turismo predatório, a pesca <strong>de</strong> arrasto e os efluentes da<br />

cida<strong>de</strong> vêm <strong>em</strong>pobrecen<strong>do</strong> a baía, <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> e <strong>sua</strong><br />

fauna marinha.<br />

<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (1)<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> fez <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a primeira rota<br />

para a colonização <strong>do</strong> interior e foi construí<strong>do</strong>


com a participação <strong>de</strong> diversos brasileiros, começan<strong>do</strong> pelas nações nati-<br />

vas representadas pelos Goiamimins que abriram a primeira passag<strong>em</strong> e<br />

<strong>de</strong>pois, pela engenharia <strong>do</strong>s portugueses e negros que entraram com o<br />

suor e fizeram o trabalho físico <strong>de</strong> calçar e cuidar.<br />

O calçamento, <strong>em</strong> pedra seca, possui trechos <strong>de</strong> até 10 metros <strong>de</strong> largura,<br />

muros <strong>de</strong> arrimo <strong>de</strong> até cinco metros <strong>de</strong> altura que acompanham as curvas<br />

<strong>de</strong> nível da serra, marco <strong>de</strong> sesmaria; sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> águas plu-<br />

viais com drenos e bueiros <strong>em</strong> cantaria – uma especialida<strong>de</strong> portuguesa.<br />

Ao longo <strong>do</strong> percurso se i<strong>de</strong>ntificam vestígios <strong>do</strong> Registro <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> da<br />

Cachoeira e ruínas da Casa <strong>do</strong> Regimento, com total visibilida<strong>de</strong> da cida-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e da Ilha <strong>do</strong> Mantimento, on<strong>de</strong> aportavam as <strong>em</strong>barcações<br />

vindas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Os trechos mais preserva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> provavelmente são os mais<br />

recentes, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XIX e estão próximos ao campo <strong>de</strong> futebol<br />

<strong>do</strong> bairro <strong>do</strong> Souza e <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Sítio Histórico Ecológico <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, no interior <strong>do</strong> Parque Nacional.<br />

Nesses trechos, o calçamento é feito com gran<strong>de</strong>s lajes, obtidas da<br />

explosão controlada <strong>de</strong> rochas, que formam três <strong>de</strong>senhos básicos. Um<br />

> A.M - Saco <strong>do</strong><br />

Mamangua<br />

157


158<br />

<strong>de</strong>les é a capistrana, on<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s lajes ficam no centro <strong>do</strong> calçamento,<br />

como nas ruas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e, provavelmente, cida<strong>de</strong>s cont<strong>em</strong>porâneas. Ou-<br />

tro é o enxaimel, on<strong>de</strong> elas ficam <strong>em</strong> X, com lajes menores no centro. O<br />

terceiro é o <strong>em</strong>oldura<strong>do</strong>, com lajes gran<strong>de</strong>s ou média nas beiradas e me-<br />

nores no centro.<br />

O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> é excepcionalmente b<strong>em</strong> construí<strong>do</strong> e seu<br />

sist<strong>em</strong>a construtivo é <strong>do</strong> século XIX, manten<strong>do</strong> s<strong>em</strong>elhanças com a Estra-<br />

da Real, no trecho entre <strong>Ouro</strong> Preto e <strong>Ouro</strong> Branco, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais, que foi reforma<strong>do</strong> a man<strong>do</strong> <strong>de</strong> D. Pedro I, primeiro impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Brasil, logo após <strong>sua</strong> coroação.<br />

O trecho menos preserva<strong>do</strong> <strong>do</strong> calçamento, acima <strong>do</strong> bairro Penha,<br />

provavelmente é o mais antigo, <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII. O granito é<br />

mais poroso e granula<strong>do</strong> e as gran<strong>de</strong>s lajes dão lugar a pedras menores,<br />

muitas <strong>de</strong>las seixos médios rola<strong>do</strong>s, apanha<strong>do</strong>s <strong>em</strong> águas encachoeiradas<br />

e com marcas <strong>de</strong> ferraduras <strong>de</strong> muares.<br />

Nesse trecho <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> se encontra falho,<br />

porque as enxurradas levaram partes <strong>do</strong> calçamento, crian<strong>do</strong> <strong>de</strong>pressões.<br />

Outros trechos <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> revela<strong>do</strong>s pela prospecção arque-<br />

ológica foram construí<strong>do</strong>s no século XVIII e reforma<strong>do</strong>s ou reconstruí<strong>do</strong>s<br />

no século XIX, o que é possível constatar pela coexistência <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is tipos<br />

<strong>de</strong> calçamento aponta<strong>do</strong>s, além <strong>de</strong> travamentos entre as pedras realiza-<br />

<strong>do</strong>s por ferraduras.<br />

Nesses trechos, gran<strong>de</strong>s rochas ainda guardam marcas <strong>de</strong> explosões e<br />

lajes retiradas jaz<strong>em</strong> pelo chão, como se o trabalho houvesse si<strong>do</strong> suspenso<br />

antes <strong>de</strong> finaliza<strong>do</strong>, o que coinci<strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> <strong>do</strong>cumentos históricos, com a<br />

<strong>de</strong>cadência <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> como via <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> bens e merca<strong>do</strong>rias.<br />

ACHADOS ARQUEOLÓGICOS<br />

A prospecção <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> também revelou gran<strong>de</strong>s roche<strong>do</strong>s <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>scortinam to<strong>do</strong>s os arre<strong>do</strong>res, até a baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Esses roche<strong>do</strong>s eram<br />

utiliza<strong>do</strong>s como mirantes pelos militares encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> evitar o contra-<br />

ban<strong>do</strong> e a sonegação <strong>de</strong> impostos sobre as merca<strong>do</strong>rias transportadas. No<br />

trecho estuda<strong>do</strong> há cerca <strong>de</strong> seis mirantes, mas as referências históricas le-<br />

vam a crer que havia apenas <strong>do</strong>is vigias, com um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> comunicação<br />

entre si, através <strong>de</strong> espelhos, ban<strong>de</strong>irolas, tiros <strong>de</strong> mosquete ou apitos.


No entorno <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> também se localizam <strong>do</strong>is marcos, pró-<br />

ximos um <strong>do</strong> outro, com padrões s<strong>em</strong>elhantes e i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s popular-<br />

mente como marcos <strong>de</strong> sesmaria. São afloramentos rochosos <strong>de</strong> granito<br />

parati, <strong>em</strong> tu<strong>do</strong> s<strong>em</strong>elhantes aos <strong>de</strong>scritos acima, mas com uma cruz <strong>em</strong><br />

pe<strong>de</strong>stal gravada <strong>em</strong> baixo relevo com instrumento perfurante.<br />

Além <strong>do</strong>s marcos <strong>de</strong> sesmaria, o sítio apresenta um conjunto <strong>de</strong> pesa-<br />

<strong>do</strong>s alicerces <strong>de</strong> pedra <strong>de</strong> 6 metros <strong>de</strong> extensão por 1,60 m <strong>de</strong> altura,<br />

i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s como as ruínas <strong>do</strong> Pouso <strong>do</strong> Souza, antiga estalag<strong>em</strong> on<strong>de</strong>,<br />

segun<strong>do</strong> os <strong>do</strong>cumentos, se hospedavam fidalgos e damas <strong>do</strong>s séculos<br />

XVIII e XIX, <strong>em</strong> viag<strong>em</strong> para o interior ou o litoral.<br />

O material coleta<strong>do</strong> no trecho entre o bairro <strong>do</strong> Penha e o Pouso <strong>do</strong><br />

Souza consiste <strong>em</strong> acha<strong>do</strong>s dispersos, s<strong>em</strong> conteú<strong>do</strong> estrutural <strong>de</strong> perma-<br />

nência <strong>em</strong> local algum, como metais, vidros, cerâmicas e outros. Já na<br />

antiga casa <strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Registro, a pesquisa revelou, além <strong>de</strong>sse tipo<br />

<strong>de</strong> material, to<strong>do</strong> um aparato para cobrar impostos.<br />

159<br />

> A.M. - <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, parte III – Zé<br />

Migué


160<br />

O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Conservação <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> foi avalia<strong>do</strong> para cada um<br />

<strong>do</strong>s setores e marcos notáveis abaixo enumera<strong>do</strong>s. Os setores on<strong>de</strong> o<br />

<strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>em</strong> melhor esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação são o IV – Ca-<br />

choeirinha ate o Seu Antonio, que inclui o trecho recupera<strong>do</strong> pelo Sitio<br />

Histórico Cultural Sh – Eco ( sitio Cachoeirinha), <strong>do</strong>s produtores culturais<br />

Marcos e Rachel Ribas, e o setor VI – Marco da Sesmaria ate o bairro <strong>do</strong>s<br />

Penha, recupera<strong>do</strong> pelo Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>,<br />

iniciativa da Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> com Prefeitura<br />

Municipal e SEBRAE.<br />

SETORES SUB-SETORES<br />

I - Alto da Serra até Registro Velho 1) Toca <strong>de</strong> Pedra<br />

2) Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />

II - Registro Velho até Estiva Preta/RJ 165 3) Registro Velho<br />

4) Estiva Preta<br />

III - Estiva Preta até Cachoeirinha 5) Sete Voltas<br />

6) Largo <strong>do</strong> Governo<br />

7) Guarita<br />

8) Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r<br />

9) Trincheiras Verticais<br />

10) Lagoa Seca<br />

11) Viaduto<br />

IV - Cachoeirinha até Seu Antonio 12) <strong>Caminho</strong> Limpo<br />

13) Prove<strong>do</strong>ria/ Registro<br />

14) Campo das Nações<br />

15) Pinga-Pinga<br />

16) Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito<br />

17) Canela Fe<strong>do</strong>renta<br />

18) Mirante<br />

19) Sítio <strong>do</strong> Seu Antonio<br />

V - Seu Antonio até Marco da Sesmaria 20) Pouso <strong>do</strong> Souza<br />

21) Marco da Sesmaria<br />

VI - Marco da Sesmaria até Penha district<br />

SETOR I - ALTO DA SERRA ATÉ REGISTRO VELHO<br />

O acesso a este setor parte da divisa estadual entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e São Paulo, que coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra<br />

da Bocaina, no alto da serra. A entrada para o <strong>Caminho</strong> é uma antiga estra-<br />

da, hoje uma trilha que segue por <strong>de</strong>ntro da mata <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> ou floresta


ombrófila <strong>de</strong>nsa alto Montana, também conhecida como mata nebular, po-<br />

rém com gran<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> bambu chamada taquarinha<br />

– que praticamente fecha a passag<strong>em</strong> neste trecho inicial, freqüenta<strong>do</strong> qua-<br />

se somente por caça<strong>do</strong>res.<br />

Trecho 1 – Toca <strong>de</strong> Pedra – o <strong>Caminho</strong> está recoberto por terra e serra-<br />

pilheira, com presença <strong>de</strong> arbustos e pequenas árvores sobre seu tra-<br />

ça<strong>do</strong>. A <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> não é alta e são visíveis os cortes no barranco e as<br />

pedras alinhadas <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto, junto à vertente, seu esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> con-<br />

servação é razoável. Este setor encontra-se totalmente inseri<strong>do</strong> no Par-<br />

que Nacional da Serra da Bocaina. Não exist<strong>em</strong> mora<strong>do</strong>res n<strong>em</strong> pro-<br />

prieda<strong>de</strong>s rurais produtivas.<br />

Trecho 2 – Boqueirão <strong>do</strong> Inferno – Boqueirão <strong>do</strong> Inferno, a alta <strong>de</strong>cli-<br />

vida<strong>de</strong> <strong>do</strong> terreno, a presença <strong>de</strong> arvores <strong>de</strong> maior porte cujas raízes<br />

soltam as pedras, e a constante passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> água das chuvas faz com<br />

que este segmento, cujas pedras são mais visíveis, seja o trecho <strong>em</strong><br />

pior esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

II. REGISTRO VELHO ATÉ ESTIVA PRETA/ RODOVIA RJ 165<br />

O local encontra-se a cerca <strong>de</strong> um quilometro da ro<strong>do</strong>via RJ 165. No Registro<br />

Velho encontram – se os alicerces <strong>de</strong> pedra da antiga Casa <strong>de</strong> Registro Boca<br />

<strong>do</strong> Inferno.<br />

Trecho 3 - Registro Velho – Registro Velho - Esta área ainda não foi es-<br />

tudada. As ruínas sitio encontram-se <strong>em</strong> área <strong>de</strong> pouca <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>,<br />

com alicerces <strong>de</strong> pedra medin<strong>do</strong> 12 X 9 m <strong>de</strong> comprimento e 60 cm<br />

<strong>de</strong> altura no trecho mais extenso. Na face norte <strong>sua</strong> altura chega a 2m.<br />

O <strong>Caminho</strong> está quase totalmente recoberto por terra e serrapilheira,<br />

pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong> a taquarinha e <strong>sua</strong> folhag<strong>em</strong> sobre seu traça<strong>do</strong>. A <strong>de</strong>-<br />

clivida<strong>de</strong> não é alta e são visíveis os cortes no barranco e <strong>em</strong> alguns<br />

trechos pedras alinhadas <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto, junto à vertente. Seu esta<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> conservação é razoável.<br />

Neste local pre<strong>do</strong>mina a floresta ombrófila <strong>de</strong>nsa Montana <strong>em</strong> estágio<br />

inicial <strong>de</strong> regeneração, com pre<strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> quaresmeiras e outras es-<br />

pécies pioneiras, e a mesma taquarinha junto e sobre o <strong>Caminho</strong>, in-<br />

161


162<br />

dica<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alteração. Foram observadas algumas pequenas<br />

mudas <strong>de</strong> palmeira juçara.<br />

Trecho 4 – Estiva Preta – Estiva Preta - Este é o nome da antiga fazenda,<br />

também conhecida como sitio <strong>do</strong> Seu Neco. Situa<strong>do</strong> a menos <strong>de</strong> 200<br />

m <strong>do</strong> Registro Velho, o <strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>de</strong>simpedi<strong>do</strong> e livre <strong>de</strong><br />

vegetação arbórea.<br />

O <strong>Caminho</strong> encontra-se integro por um trecho <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 500 metros,<br />

recoberto apenas por vegetação rasteira, flores e pequenos arbustos <strong>de</strong><br />

facílima r<strong>em</strong>oção, até encontrar a ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha b<strong>em</strong> <strong>em</strong> frente<br />

ao antigo Fecha Nunca.<br />

Não exist<strong>em</strong> árvores n<strong>em</strong> interrupções <strong>em</strong> seu traça<strong>do</strong>, que atravessa<br />

<strong>do</strong>is pequenos cursos d’ água. Sua largura chega a 4 m e segue por<br />

cerca <strong>de</strong> 600m, sen<strong>do</strong> corta<strong>do</strong> no inicio pela antiga estrada <strong>de</strong> acesso<br />

à proprieda<strong>de</strong> rural que parece aban<strong>do</strong>nada. Neste local a floresta en-<br />

contra-se <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> médio <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel médio <strong>de</strong> 10 a<br />

15 m <strong>de</strong> altura, exceto no traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>, recoberto por vegeta-<br />

ção rasteira. Observam-se também algumas espécies exóticas como<br />

gramíneas, ciprestes e fruteiras.<br />

Ao cruzar a ro<strong>do</strong>via o <strong>Caminho</strong> per<strong>de</strong> a visibilida<strong>de</strong>, parece ter si<strong>do</strong> re-<br />

coberto ou <strong>de</strong>struí<strong>do</strong> pela estrada.<br />

III. ESTIVA PRETA ATÉ CACHOEIRINHA<br />

Neste setor o <strong>Caminho</strong> apresenta vários pontos notáveis, como as Sete<br />

Voltas, o Largo <strong>do</strong> Governo, a Toca <strong>do</strong> Zé Migué, as Trincheiras Verticais,<br />

a Lagoa Seca e o Viaduto.<br />

O trecho inicial, com cerca <strong>de</strong> um quilometro, está bastante <strong>de</strong>sman-<br />

tela<strong>do</strong> <strong>em</strong> razão da alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> terreno, da presença <strong>de</strong> árvores<br />

enraizadas por entre as pedras, e <strong>de</strong> um pequeno curso da água que<br />

coinci<strong>de</strong> com o leito <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> vários segmentos.<br />

A vegetação pre<strong>do</strong>minante neste inicio é a floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa<br />

<strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> regeneração, com abundancia <strong>de</strong> arvores <strong>de</strong> peque-<br />

no porte e espécies arbustivas, e algumas maiores, <strong>em</strong> estagio médio,<br />

indican<strong>do</strong> uso antropico no passa<strong>do</strong>.<br />

Pod<strong>em</strong>os dizer que, excetuan<strong>do</strong>-se os 1000 metros iniciais, o <strong>Caminho</strong><br />

encontra-se melhor <strong>do</strong> que nos Setores I e II, sen<strong>do</strong> mais visível o seu


traça<strong>do</strong> , recoberto apenas por uma fina camada <strong>de</strong> matéria orgânica nos<br />

trechos <strong>de</strong> menor <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong>, manten<strong>do</strong> a largura <strong>de</strong> 4 a 6 metros <strong>em</strong><br />

media por vários segmentos extensões, interrompi<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>smantela<strong>do</strong><br />

s<strong>em</strong>pre que a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> aumenta , e conseqüent<strong>em</strong>ente a erosão cau-<br />

sada pelas enxurradas<br />

Neste setor a mata vai se tornan<strong>do</strong> mais <strong>de</strong>nsa e mais alta conforme<br />

nos afastamos da ro<strong>do</strong>via. A floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa ocorre <strong>em</strong> estágios<br />

variáveis <strong>de</strong> regeneração, com <strong>do</strong>ssel entre 10 e 20 m. A partir <strong>do</strong> Largo<br />

<strong>do</strong> Governo encontramos mudas dispersas <strong>de</strong> palmeira juçara, cuja <strong>de</strong>n-<br />

sida<strong>de</strong> vai aumentan<strong>do</strong> ate o sitio Cachoeirinha.<br />

IV. CACHOEIRINHA ATÉ SEU ANTONIO<br />

Este setor está inseri<strong>do</strong> no Sitio Histórico Ecológico – Sh-Eco, <strong>do</strong> grupo<br />

Teatro Espaço, que realizou a limpeza, a prospecção arqueológica e a<br />

gestão eco turística da maior parte <strong>de</strong>ste trecho entre 1999 e 2005, abri-<br />

gan<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 1500 m <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong>. A divisa leste <strong>do</strong> sitio Cachoeirinha<br />

(Sh-Eco), coinci<strong>de</strong> com a divisa <strong>do</strong> Parque Nacional. A partir <strong>de</strong>ste, o local<br />

é conheci<strong>do</strong> como sitio <strong>do</strong> Seu Antonio.<br />

Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi to<strong>do</strong> limpo e assim manti<strong>do</strong> entre 1999 e<br />

2005, e encontra-se quase totalmente <strong>em</strong> perfeito esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conserva-<br />

ção, com uma largura média <strong>de</strong> 4 metros e cerca <strong>de</strong> 800 m <strong>de</strong> extensão,<br />

ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong> maior parte, calça<strong>do</strong> durante o século XIX.<br />

No trecho 13 – encontra-se a Prove<strong>do</strong>ria/Registro – A Casa <strong>de</strong> Registro<br />

era na pratica o Posto Alfan<strong>de</strong>gário <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>. Suas ruí-<br />

nas foram mapeadas e prospectadas, e o material encontra<strong>do</strong> foi to<strong>do</strong><br />

cataloga<strong>do</strong> e entregue aos cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IPHAN.<br />

Pod<strong>em</strong>os dizer que neste setor o <strong>Caminho</strong> encontra-se <strong>em</strong> ótimo es-<br />

ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>em</strong> 90% <strong>do</strong> percurso, com o calcamento quase<br />

intacto, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> limpo, apenas recoberto <strong>em</strong> alguns<br />

trechos por gramíneas e vegetação rasteira, sen<strong>do</strong> visível o seu traça-<br />

<strong>do</strong>, as guias, a distinção entre as pedras assentadas no século XVIII e<br />

XIX, a marca <strong>do</strong>s canu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pólvora para explosão <strong>do</strong>s matacoes,<br />

manten<strong>do</strong> a largura media <strong>de</strong> 4 a 6 metros, interrompi<strong>do</strong> ou <strong>de</strong>sman-<br />

tela<strong>do</strong> apenas no trecho ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Mirante quan<strong>do</strong> aumenta a <strong>de</strong>-<br />

clivida<strong>de</strong> e conseqüent<strong>em</strong>ente a erosão.<br />

163<br />

> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte I<br />

> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte I<br />

> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte II<br />

> A.M. – <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong>, Parte III – Sete<br />

Voltas


164<br />

Em toda esta área, <strong>de</strong> maior ação antrópica, a mata mais <strong>de</strong>nsa ce<strong>de</strong><br />

lugar àquela <strong>em</strong> estagio inicial <strong>de</strong> recuperação, mesclada com toucei-<br />

ras <strong>de</strong> banana, pastagens e a pre<strong>do</strong>minância <strong>de</strong> espécies arbustivas ou<br />

pioneiras como quaresmeiras, <strong>em</strong>baúbas e jacatirões, <strong>de</strong>ntre outras <strong>de</strong><br />

porte médio e <strong>do</strong>ssel ate 10 m <strong>de</strong> altura na media.<br />

V - SEU ANTONIO ATÉ MARCO DA SESMARIA<br />

Trecho 18 - Este trecho é constituí<strong>do</strong> por uma pequena estrada municipal,<br />

a estrada <strong>do</strong>s Martins, na verda<strong>de</strong> um braço da estrada <strong>do</strong> Souza - que<br />

começa e termina <strong>em</strong> diferentes pontos da ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>/Cunha. Este<br />

segmento foi pavimenta<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2004, com duas faixas paralelas <strong>de</strong> ci-<br />

mento para permitir o acesso a veículos automotores. Seu traça<strong>do</strong> t<strong>em</strong><br />

a mesma direção que o <strong>Caminho</strong>, e corta o seu percurso <strong>em</strong> 2 trechos.<br />

O <strong>Caminho</strong> está enterra<strong>do</strong> sob o bananal e pastagens na maior parte<br />

<strong>de</strong>ste setor, ocupa<strong>do</strong> por duas proprieda<strong>de</strong>s rurais, e por algumas mora-<br />

dias <strong>de</strong> pequeno porte, totalizan<strong>do</strong> 6 edificações, todas elas dispostas<br />

ao longo da estrada <strong>do</strong>s Martins. A cobertura vegetal se alterna entre<br />

bananais on<strong>de</strong> foram plantadas palmeiras juçara, pastagens, pequenos<br />

cultivos e pomares.<br />

Trecho 19 – o <strong>Caminho</strong> está totalmente recoberto pelo bananal e pelas<br />

gramíneas no pasto, à exceção <strong>de</strong> um trecho da estrada <strong>do</strong>s Martins,<br />

on<strong>de</strong> ele a atravessa, visível, <strong>em</strong> diagonal ao pavimento cimenta<strong>do</strong>.<br />

Como a <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> é pouca, o calçamento não <strong>de</strong>ve ter sofri<strong>do</strong> muita<br />

interferência das int<strong>em</strong>péries climáticas. A pedra on<strong>de</strong> foi entalha<strong>do</strong> o<br />

Marco da Sesmaria, no entanto, <strong>de</strong>staca-se na paisag<strong>em</strong> e é perfeita-<br />

mente visível.<br />

VI - MARCO DA SESMARIA ATÉ O DISTRITO DA PENHA - 2 KM<br />

Neste setor o <strong>Caminho</strong> foi totalmente limpo entre 2003 e 2004, e está<br />

sob a manutenção e operação turística <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong><br />

<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, por meio da Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo <strong>de</strong> Para-<br />

ty. O <strong>Caminho</strong> aqui foi quase totalmente construí<strong>do</strong> na cumeeira <strong>do</strong> mor-<br />

ro, no século XVIII, e reforma<strong>do</strong> no século XIX.<br />

A encosta su<strong>do</strong>este encontra-se quase totalmente recoberta por mata<br />

secundaria <strong>em</strong> estágio inicial <strong>de</strong> recuperação, a chamada “macega”, en-


quanto o seu reverso, marca<strong>do</strong> exatamente pela cumeeira <strong>do</strong> divisor <strong>de</strong><br />

águas, constitui uma pastag<strong>em</strong>. Esta situação ambiental é bastante comum<br />

nesta região: o uso antrópico das encostas direcionadas para a face sul foi<br />

menos intenso, pois aquelas voltadas para norte receb<strong>em</strong> maior insolação<br />

e são portanto mais a<strong>de</strong>quadas para a agricultura e agropecuária.<br />

Ao longo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> este percurso a equipe <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Revitalização e os<br />

guias plantaram mudas <strong>de</strong> essências nativas, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacam as palmeiras<br />

juçara. O objetivo é a recomposição da cobertura florestal, b<strong>em</strong> como pro-<br />

porcionar sombra aos visitantes e garantir a estabilida<strong>de</strong> da encosta.<br />

Em to<strong>do</strong> este setor, com cerca <strong>de</strong> 2 km, o <strong>Caminho</strong> está totalmente<br />

limpo, praticamente <strong>em</strong> perfeito esta<strong>do</strong>, por cerca <strong>de</strong> 90% <strong>do</strong> percurso.<br />

Sua manutenção v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> realizada por um trabalha<strong>do</strong>r braçal, contra-<br />

ta<strong>do</strong> exclusivamente para este serviço pela Associação <strong>do</strong>s Guias <strong>de</strong> Turis-<br />

mo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

165<br />

> O.A.M.T. - Festa <strong>do</strong><br />

Divino


166<br />

VI Marco da Sesmaria<br />

até Penha district<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rural estates foi totalmente limpo entre 2003 e 2004, ótimo<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.<br />

Marco <strong>de</strong> sesmaria – b<strong>em</strong> conserva<strong>do</strong>.<br />

V Seu Antonio até<br />

Marco da Sesmaria<br />

20) Pouso <strong>do</strong> Souza<br />

21) Marco da Sesmaria<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rural estates Razoável – necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong> prospecção e<br />

conservação.<br />

IV Cachoeirinha até<br />

Seu Antonio<br />

12) <strong>Caminho</strong> Limpo<br />

13) Prove<strong>do</strong>ria/ Registro<br />

14) Campo das Nações<br />

15) Pinga-Pinga<br />

16) Toca <strong>do</strong> Berra Cabrito<br />

17) Canela Fe<strong>do</strong>renta<br />

18) Mirante<br />

19) Sítio <strong>do</strong> Seu Antonio<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Parque<br />

Nacional da<br />

Bocaina<br />

Limpo e manti<strong>do</strong> entre 1999 e 2005, encontrase<br />

quase totalmente <strong>em</strong> perfeito esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

conservação.<br />

As ruínas da edificação oficial existente no<br />

local, casa <strong>de</strong> Registro e/ou Prove<strong>do</strong>ria foram<br />

prospectadas e limpas.<br />

III Estiva Preta até<br />

Cachoeirinha<br />

5) Sete Voltas<br />

6) Largo <strong>do</strong> Governo<br />

7) Guarita<br />

8) Toca <strong>do</strong> Zé Migué/Rola<strong>do</strong>r<br />

9) Trincheiras Verticais<br />

10) Lagoa Seca<br />

11) Viaduto<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Parque<br />

Nacional da<br />

Bocaina<br />

Ruínas <strong>do</strong> “Fecha Nunca” – necessita <strong>de</strong><br />

consolidação.<br />

O caminho está razoável na maior parte.<br />

II Registro Velho até<br />

Estiva Preta/RJ 165<br />

3) Registro Velho<br />

4) Estiva Preta<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Parque<br />

Nacional da<br />

Bocaina<br />

3) Casa <strong>de</strong> Registro Boca <strong>do</strong> Inferno –<br />

necessita prospecção e consolidação. <strong>Caminho</strong><br />

<strong>em</strong> esta<strong>do</strong> razoável, necessita <strong>de</strong> limpeza.<br />

4) Bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.<br />

I Alto da Serra até<br />

Registro Velho<br />

1) Toca <strong>de</strong> Pedra<br />

2) Boqueirão <strong>do</strong> Inferno<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Parque<br />

Nacional da<br />

Bocaina<br />

1) Razoável – necessita <strong>de</strong> limpeza.<br />

2) Razoável – necessita <strong>de</strong> consolidação.<br />

Nº NOME ENDEREÇO<br />

TOMBAMEN-<br />

TO/ RELEVÂN-<br />

CIA<br />

SITUAÇÃO<br />

FUNDIÁRIA<br />

ESTADO DE CONSERVAÇÃO


Centro Histórico (2)<br />

O caráter <strong>do</strong> centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> está perfeitamente expresso na ex-<br />

traordinária impressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> proporcionada pelas construções ali-<br />

nhadas, forman<strong>do</strong> uma massa edificada homogênea que envolve inteira-<br />

mente os quarteirões, <strong>em</strong>prestan<strong>do</strong>-lhes monumentalida<strong>de</strong>, apesar das<br />

limitadas dimensões, on<strong>de</strong> pre<strong>do</strong>minam as casas térreas ou assobradas. O<br />

ritmo característico das envasaduras <strong>do</strong>s armazéns é ameniza<strong>do</strong>, por muros<br />

que fecham os quintais das residências, a composição urbana é <strong>de</strong> uma<br />

geometria simples. A intensa luminosida<strong>de</strong> obtida pela caiação das facha-<br />

das é amenizada pelo ver<strong>de</strong> que recobre as escarpas íngr<strong>em</strong>es da Serra <strong>do</strong><br />

Mar <strong>em</strong>olduran<strong>do</strong> o conjunto.<br />

Caracteriza-se por uma elevada coerência formal, um <strong>de</strong>nso espaço<br />

construí<strong>do</strong> e frentes <strong>de</strong> ruas contínuas, compon<strong>do</strong> quarteirões diss<strong>em</strong>e-<br />

lhantes, mas linearmente <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>s.<br />

A tipologia arquitetônica é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> uniformida<strong>de</strong>. Os imóveis foram<br />

construí<strong>do</strong>s essencialmente entre mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XVIII e mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

século XIX e estão b<strong>em</strong> preserva<strong>do</strong>s, s<strong>em</strong> adulterações relevantes. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, as edificações não têm um caráter excepcional, se analisadas<br />

isoladamente, mas sim enquanto células <strong>de</strong> um organismo morfologica-<br />

mente coerente.<br />

> A.M - Rua Maria<br />

Jacome <strong>de</strong> Melo<br />

167


168<br />

O espaço edifica<strong>do</strong> conjuga a casa térrea e o sobra<strong>do</strong>. Alguns sobra<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

século XIX se <strong>de</strong>stacam pela inserção <strong>de</strong> pormenores arquitetônicos notá-<br />

veis, tanto nos trabalhos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e ferro forja<strong>do</strong>, como nos frisos e pi-<br />

lastras ornamenta<strong>do</strong>s. A intensa luminosida<strong>de</strong> das pare<strong>de</strong>s caiadas é ame-<br />

nizada pelo ver<strong>de</strong> da serra, que faz pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>.<br />

Não há edifícios públicos que se <strong>de</strong>staqu<strong>em</strong> <strong>do</strong>s restantes, porque o<br />

conjunto é extr<strong>em</strong>amente homogêneo, inclusive nos materiais e técnicas<br />

utiliza<strong>do</strong>s. Os gran<strong>de</strong>s el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque são os t<strong>em</strong>plos religiosos,<br />

seja pela volumetria, pela localização ou mesmo pelos materiais utiliza<strong>do</strong>s.<br />

As primeiras medidas <strong>de</strong> proteção ao conjunto arquitetônico e urbanís-<br />

tico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foram tomadas <strong>em</strong> 1945, quan<strong>do</strong> a cida<strong>de</strong> foi <strong>de</strong>clarada<br />

Monumento Estadual <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Des<strong>de</strong> então, medidas como a<br />

nomeação como Monumento Nacional, <strong>em</strong> 1966 e um conjunto <strong>de</strong> leis<br />

municipais e fe<strong>de</strong>rais vêm garantin<strong>do</strong> a preservação <strong>de</strong>sse patrimônio.<br />

Recuperação <strong>do</strong> Patrimônio Ambiental Urbano<br />

Nas década <strong>de</strong> 60 e 70 foram utiliza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> forma exagerada el<strong>em</strong>entos<br />

<strong>de</strong>corativos, sobrepostos principalmente a frisos, faixas e fustes <strong>de</strong> cunhais<br />

<strong>de</strong> prédios assobrada<strong>do</strong>s, e mesmo <strong>em</strong> algumas casas térreas, acentuan-<br />

<strong>do</strong> formas bizarras pela utilização <strong>de</strong> cores primárias, freqüent<strong>em</strong>ente<br />

com objetivos falsamente cenográficos. Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o extr<strong>em</strong>o bom<br />

gosto e sobrieda<strong>de</strong> que muitos <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos são utiliza<strong>do</strong>s, enrique-<br />

cen<strong>do</strong> o vocabulário arquitetônico <strong>do</strong> século XIX, é lamentável que ainda<br />

permaneçam causan<strong>do</strong> sensação pelo insólito das formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfigura-<br />

ção <strong>do</strong> Bairro Histórico.<br />

Para a integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos que compõe as fachadas é essencial<br />

que sejam manti<strong>do</strong>s:<br />

os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> serralheria como os gradis <strong>em</strong> ferro forja<strong>do</strong> e os supor-<br />

tes <strong>de</strong>corativos;<br />

os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> marcenaria: sacadas, guarda-corpos, cimalhas, cachor-<br />

ros e d<strong>em</strong>ais el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira;<br />

os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> cantaria: <strong>em</strong>basamentos, molduras, cunhai, pilastras e<br />

d<strong>em</strong>ais el<strong>em</strong>entos <strong>em</strong> pedra;<br />

os vãos: portas, janelas cegas ou com postigos e os caixilhos. Com <strong>sua</strong><br />

composição cromática original.


A quase serialização da arquitetônica a repetição <strong>do</strong>s mesmos el<strong>em</strong>entos<br />

tipológicos – cantarias, esquadrias, gradis sobre uma volumetria e uma<br />

repartição <strong>de</strong> lotes praticamente constantes, acirra a vocação à individu-<br />

alida<strong>de</strong> através da cor. O fato <strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> ter recebi<strong>do</strong> mora<strong>do</strong>res e técni-<br />

cos vin<strong>do</strong>s <strong>de</strong> núcleos urbanos <strong>de</strong> maior porte, faz com que a pressão<br />

para a alteração, tanto das cores como <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais el<strong>em</strong>entos se <strong>de</strong>sse<br />

<strong>em</strong> função <strong>do</strong> padrão conheci<strong>do</strong> por eles, como por ex<strong>em</strong>plo, a preferên-<br />

cia por utilização das cores <strong>em</strong> tons pastéis.<br />

Dentre as tendências atuais <strong>de</strong>scaracteriza<strong>do</strong>ras pod<strong>em</strong>os citar a utiliza-<br />

ção <strong>de</strong> um único padrão <strong>de</strong> cores para marcar os imóveis ocupa<strong>do</strong>s por uma<br />

pousada, que congrega muitos imóveis, <strong>em</strong> uma única quadra, ou <strong>em</strong> qua-<br />

dras diferentes, e a tendências a diferenciação, pela cor nos vãos, que v<strong>em</strong><br />

ocorren<strong>do</strong> nos diversos comércios que funcionam, num mesmo edifício.<br />

Numa visão <strong>de</strong> conjunto, o uso das cores únicas ou próximas entre si<br />

ten<strong>de</strong> a tornar o panorama monótono; já o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong> cores principais<br />

contrastantes funciona b<strong>em</strong> para curta e longas distâncias. Sen<strong>do</strong> assim,<br />

nas edificações <strong>do</strong> século XX, utiliza-se a mesma palheta cromática.<br />

O uso ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>de</strong> luminárias apostas à fachada ou mesmo, <strong>em</strong>bu-<br />

tidas nas cimalhas será <strong>em</strong> breve soluciona<strong>do</strong>, agora que a cida<strong>de</strong> rece-<br />

beu novo projeto <strong>de</strong> iluminação urbana.<br />

Os anúncios estão regulamenta<strong>do</strong>s e salvo algumas exceções, obe<strong>de</strong>-<br />

c<strong>em</strong> ao padrão proposto.<br />

A malha urbana encontra-se íntegra, mesmo fora <strong>do</strong> perímetro <strong>de</strong>fini-<br />

<strong>do</strong> como centro histórico, sen<strong>do</strong> necessária a recuperação <strong>do</strong> calçamento<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> aos serviços das diversas concessionárias, que só po<strong>de</strong>rá ser reali-<br />

za<strong>do</strong>s após a conclusão <strong>do</strong>s obras <strong>de</strong> saneamento básico.<br />

De acor<strong>do</strong> com o Inventário <strong>do</strong>s Bens Imóveis INBI-SU/IPHAN 2002/3,<br />

ex<strong>em</strong>plifica<strong>do</strong> com algumas fichas no anexo <strong>de</strong>sta nominação, no sítio<br />

histórico urbano, os edifícios públicos e religiosos estão <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> regular<br />

<strong>de</strong> manutenção. Em compensação as residências particulares, estão <strong>em</strong><br />

muito bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.<br />

No Bairro Histórico verificamos um equilíbrio entre o uso resi<strong>de</strong>ncial e<br />

o comercial:<br />

resi<strong>de</strong>ncial: 50%<br />

comercial: 40%<br />

outros: 10%<br />

169


170<br />

A maioria <strong>do</strong>s imóveis resi<strong>de</strong>nciais é <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res permanentes, sen<strong>do</strong><br />

60% <strong>de</strong> pessoas naturais <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

Além <strong>do</strong> Inventário supra-cita<strong>do</strong>, o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentou <strong>em</strong><br />

Abril <strong>de</strong> 2003, o Projeto <strong>Paraty</strong>/RJ – Carta Consulta, <strong>Programa</strong> Monumen-<br />

ta/BID com os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento das ações estratégicas<br />

para a recuperação <strong>do</strong> patrimônio histórico <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, on<strong>de</strong> foram elenca-<br />

<strong>do</strong>s os serviços necessários para a recuperação <strong>do</strong>s imóveis que não estão<br />

<strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, incluí<strong>do</strong>s particulares e institucionais.<br />

De acor<strong>do</strong> com o Inventário Arquitetônico – O Registro Multimídia <strong>do</strong><br />

Patrimônio – Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e Monumentos Nacionais, Direção<br />

<strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação – Lisboa/Portugal, realizou o Inven-<br />

tário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003.<br />

Foram registra<strong>do</strong>s cerca <strong>de</strong> 460 imóveis no Sítio Histórico:<br />

375 <strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação<br />

74 <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> razoável<br />

11 mal<br />

Nº NOME ENDEREÇO<br />

1 Igreja <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora das<br />

Dores<br />

2 Igreja <strong>de</strong> Nossa<br />

Senhora <strong>do</strong><br />

Rosário<br />

3 Igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Rita<br />

4 Igreja Nossa<br />

Senhora <strong>do</strong>s<br />

R<strong>em</strong>édios ou<br />

Matriz<br />

5 Casa da Cultura<br />

sobra<strong>do</strong> e casa<br />

térrea<br />

A casa térrea pre<strong>do</strong>mina, foram levanta<strong>do</strong>s 75 sobra<strong>do</strong>s.<br />

Rua Fresca com rua<br />

da Capela<br />

Largo <strong>do</strong> Rosário<br />

com rua <strong>do</strong><br />

Comércio ou rua<br />

Tenente Francisco<br />

Antonio<br />

Praça Santa Rita<br />

com rua Santa Rita<br />

TOMBAMENTO/<br />

RELEVÂNCIA<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Praça da Matriz Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

Rua Dona Geralda<br />

com rua <strong>do</strong> Rosário<br />

ou rua Samuel Costa<br />

UTILIZAÇÃO<br />

ATUAL<br />

SITUAÇÃO<br />

FUNDIÁRIA<br />

Culto religioso Diocese <strong>de</strong><br />

Parati<br />

Culto religioso Diocese <strong>de</strong><br />

Parati<br />

Culto religioso<br />

e Museu <strong>de</strong><br />

Arte Sacra<br />

Culto religioso<br />

e pinacoteca<br />

<strong>de</strong>sativada<br />

Relevante Casa da<br />

Cultura<br />

Diocese <strong>de</strong><br />

Parati<br />

Diocese <strong>de</strong><br />

Parati<br />

Prefeitura<br />

Municipal <strong>de</strong><br />

Parati<br />

ESTADO DE<br />

CONSERVAÇÃO<br />

Bom, restauração <strong>de</strong><br />

retábulos.<br />

Bom, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong><br />

restaurada pelo IPHAN<br />

<strong>em</strong> 2002.<br />

Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

intervenção na cobertura,<br />

forros, instalação elétrica,<br />

hidráulica, alvenaria,<br />

restauração <strong>de</strong> retábulos<br />

e pintura geral.<br />

Em Restauração – fase <strong>de</strong><br />

conclusão necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

intervenção na cobertura,<br />

forros, instalação elétrica,<br />

hidráulica, alvenaria,<br />

cantaria, pisos, restauração<br />

<strong>de</strong> retábulos e bens móveis<br />

integra<strong>do</strong>s.<br />

Bom, sobra<strong>do</strong> restaura<strong>do</strong>,<br />

casa térrea necessitan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> conservação.


Nº NOME ENDEREÇO<br />

6 Ca<strong>de</strong>ia Velha Praça <strong>de</strong> Santa Rita<br />

com rua travessa<br />

Santa Rita<br />

7 Passos da Paixão Rua Dona Geralda e<br />

rua <strong>do</strong> Comércio ou<br />

rua Tenente<br />

Francisco Antonio<br />

8 Praça <strong>do</strong> Beco<br />

<strong>do</strong> Propósito<br />

e Capela da<br />

Santa Cruz<br />

9 Praça <strong>do</strong><br />

Chafariz<br />

Rua Domingos <strong>de</strong><br />

Abreu.<br />

Rua Domingos <strong>de</strong><br />

Abreu.<br />

10 Largo <strong>do</strong> Rosário Entre as ruas <strong>do</strong><br />

Comércio ou rua<br />

Tenente Francisco<br />

Antonio e rua<br />

Domingos <strong>de</strong> Abreu.<br />

11 Praça da Matriz Entre as ruas da<br />

Ca<strong>de</strong>ia ou rua Mal<br />

Deo<strong>do</strong>ro, Josephina<br />

e Dona Geralda.<br />

12 Praça da<br />

Capelinha<br />

13 Praça <strong>do</strong> Porto<br />

ou praça da<br />

Ban<strong>de</strong>ira<br />

14 Praça da Santa<br />

Rita<br />

15 Rua <strong>do</strong> Fogo ou<br />

rua das Flores<br />

Rua Fresca, <strong>em</strong><br />

frente à Igreja Nossa<br />

Senhora das Dores.<br />

Entre a rua da Praia<br />

ou rua Dr. Pereira e<br />

a rua Fresca.<br />

TOMBAMENTO/<br />

RELEVÂNCIA<br />

UTILIZAÇÃO<br />

ATUAL<br />

Relevante Instituto<br />

Histórico e<br />

Artístico <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong><br />

SITUAÇÃO<br />

FUNDIÁRIA<br />

Prefeitura<br />

Municipal <strong>de</strong><br />

Parati<br />

Relevante Culto religioso Irmanda<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

Santíssimo<br />

Sacramento da<br />

Paróquia Nossa<br />

Senhora <strong>do</strong>s<br />

R<strong>em</strong>édios<br />

Relevante Culto religioso Prefeitura<br />

Municipal<br />

Relevante Logra<strong>do</strong>uro<br />

Público<br />

Inseri<strong>do</strong> no<br />

perímetro<br />

oficial <strong>de</strong><br />

tombamento<br />

Inseri<strong>do</strong> no<br />

perímetro<br />

oficial <strong>de</strong><br />

tombamento<br />

Inseri<strong>do</strong> no<br />

perímetro<br />

oficial <strong>de</strong><br />

tombamento<br />

Inseri<strong>do</strong> no<br />

perímetro<br />

oficial <strong>de</strong><br />

tombamento<br />

Rua Santa Rita Inseri<strong>do</strong> no<br />

perímetro<br />

oficial <strong>de</strong><br />

tombamento<br />

Entre as ruas Santa<br />

Rita e da Lapa ou<br />

rua Maria Jacome<br />

<strong>de</strong> Melo.<br />

Inseri<strong>do</strong> no<br />

perímetro<br />

oficial <strong>de</strong><br />

tombamento<br />

Logra<strong>do</strong>uro<br />

Público<br />

Logra<strong>do</strong>uro<br />

Público<br />

Logra<strong>do</strong>uro<br />

Público<br />

Logra<strong>do</strong>uro<br />

Público<br />

Logra<strong>do</strong>uro<br />

Público<br />

Logra<strong>do</strong>uro<br />

Público<br />

Prefeitura<br />

Municipal<br />

Prefeitura<br />

Municipal<br />

Prefeitura<br />

Municipal<br />

Prefeitura<br />

Municipal<br />

Prefeitura<br />

Municipal<br />

Prefeitura<br />

Municipal<br />

Prefeitura<br />

Municipal<br />

ESTADO DE<br />

CONSERVAÇÃO<br />

171<br />

Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

intervenção no forro,<br />

alvenaria, piso, instalação<br />

elétrica, hidráulica e<br />

pintura.<br />

Bom, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

pintura.<br />

Logra<strong>do</strong>uro: razoável,<br />

necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

calçamento, tratamento<br />

paisagístico, iluminação e<br />

recuperação <strong>do</strong> chafariz.<br />

Capela: regular, necessitan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> intervenção nas<br />

esquadrias, cobertura e<br />

pintura.<br />

Bom, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

transla<strong>do</strong> <strong>do</strong> chafariz ao<br />

seu local original.<br />

Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento paisagístico,<br />

calçamento e recuperação<br />

<strong>de</strong> chafariz.<br />

Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento paisagístico,<br />

calçamento, integração<br />

<strong>do</strong>s espaços <strong>do</strong> entorno e<br />

recuperação <strong>de</strong> chafariz.<br />

Razoavel, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento paisagístico,<br />

calçamento.<br />

Regular, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento paisagístico,<br />

calçamento.<br />

Razoável, necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

tratamento paisagístico,<br />

calçamento e recuperação<br />

<strong>de</strong> chafariz.<br />

Regular, necessitan<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> restauração <strong>do</strong><br />

calçamento.


172<br />

> A.M – Forte<br />

Defensor Perpétuo<br />

Nº NOME ENDEREÇO<br />

I Forte Defensor<br />

Perpétuo<br />

Forte Defensor Perpétuo (3)<br />

O Forte Defensor Perpétuo encontra-se <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> razoável <strong>de</strong> conserva-<br />

ção. Em 1957 foi autorizada a transferência <strong>de</strong> <strong>sua</strong> jurisdição <strong>do</strong> Ministé-<br />

rio da Guerra para o Ministério da Educação e Cultura. O imóvel que<br />

abriga o Quartel, Casa <strong>do</strong> Comandante e Alojamento foi restaura<strong>do</strong> da<br />

década <strong>de</strong> 1960 pelo IPHAN, que têm a <strong>sua</strong> guarda, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong> toda<br />

a elevação on<strong>de</strong> se situa. A Casa da Pólvora, também, foi restaurada na<br />

ocasião. A praça D`Armas permanece autêntica com os canhões <strong>em</strong> <strong>sua</strong>s<br />

posições originais.<br />

O morro on<strong>de</strong> se situa, a recomposição da mata nativa atingiu seu ponto<br />

máximo, sen<strong>do</strong> o el<strong>em</strong>ento paisagístico <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>staque na área urbana.<br />

Avenida Orlan<strong>do</strong><br />

Carpinelli, s/nº.<br />

TOMBAMENTO/<br />

RELEVÂNCIA<br />

Tombamento<br />

Fe<strong>de</strong>ral<br />

UTILIZAÇÃO<br />

ATUAL<br />

Museu <strong>de</strong><br />

Artes e<br />

Tradições <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong><br />

SITUAÇÃO<br />

FUNDIÁRIA<br />

ESTADO DE<br />

CONSERVAÇÃO<br />

União Razoável. Necessita <strong>de</strong><br />

revisão no piso,<br />

implantação <strong>do</strong> projeto<br />

luminotécnico e revisão<br />

nas instalações elétricas e<br />

hidráulicas.


4.b Fatores que afetam o b<strong>em</strong><br />

I) PRESSÕES ADVINDAS AO DESENVOLVIMENTO<br />

Uma série <strong>de</strong> medidas foram impl<strong>em</strong>entadas no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> conter a cres-<br />

cente pressão <strong>do</strong> turismo <strong>do</strong> crescimento urbano e <strong>sua</strong>s conseqüências e<br />

<strong>de</strong>ntre elas listamos:<br />

A maior pressão ambiental e cultural sobre <strong>Paraty</strong> concretizou-se com<br />

a construção da ro<strong>do</strong>via Rio Santos – a BR 101, que faz a ligação, pela<br />

região litorânea, das cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro (RJ) e Santos (SP).<br />

Desprovida <strong>de</strong> outra ligação por terra que não fosse a sinuosa e lama-<br />

centa ro<strong>do</strong>via <strong>Paraty</strong>-Cunha, cujo novo traça<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixou obsoleto o Ca-<br />

minho <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> na Serra da Bocaina, a construção <strong>de</strong>sta ro<strong>do</strong>via fe<strong>de</strong>-<br />

ral <strong>em</strong> 1974 trouxe a <strong>Paraty</strong> seu mais recente ciclo econômico, o ciclo<br />

<strong>do</strong> turismo.<br />

A ro<strong>do</strong>via Rio-Santos atravessou o Parque Nacional da Serra da Bocai-<br />

na na divisa com o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo, e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>sua</strong> construção, há<br />

30 anos atrás, a população <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> praticamente triplicou.<br />

Sua economia saiu da incipiente produção pesqueira artesanal e das<br />

roças subsistência, banana e cana <strong>de</strong> açúcar para a era da especulação<br />

imobiliária que, graças aos dispositivos legais <strong>de</strong> proteção ao seu patri-<br />

mônio arquitetônico, paisagístico, natural e histórico, não evoluiu tan-<br />

to quanto nos municípios vizinhos <strong>de</strong> Angra <strong>do</strong>s Reis (RJ) e Ubatuba<br />

(SP), cujo crescimento populacional foi, <strong>em</strong> 2000, cerca <strong>de</strong> 3 a 4 vezes<br />

maior <strong>do</strong> que <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

As pressões inerentes ao crescimento urbano t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> controladas pe-<br />

las Leis nº 608/81<strong>de</strong> Uso e Ocupação <strong>do</strong> Solo, Lei nº 609/81 <strong>de</strong> Parce-<br />

lamento <strong>do</strong> solo urbano, ratificadas pela Portaria nº 10/81 <strong>do</strong> IPHAN,<br />

Zoneamento Geral <strong>do</strong> Município, aprova<strong>do</strong> através <strong>do</strong> Ofício nº IPHAN,<br />

e o Código <strong>de</strong> Obras Lei nº 655/83. O Parque Nacional da Serra da<br />

Bocaina possui um Plano <strong>de</strong> Manejo que <strong>de</strong>finiu setores, como sen<strong>do</strong> a<br />

Zona Histórico-Cultural local on<strong>de</strong> se encontra o <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>.<br />

As solicitações <strong>de</strong> exame <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> intervenção arquitetônicas<br />

para atendimento <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> restauração no sítio histórico e novas<br />

construções na zona tampão são encaminhadas pela Prefeitura ao Es-<br />

critório local <strong>do</strong> IPHAN para análise e aprovação.<br />

173


174<br />

Após a abertura da ro<strong>do</strong>via Rio-Santos, a paisag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> veio a<br />

sofrer certa alteração <strong>em</strong> função <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> aumento <strong>do</strong> fluxo turísti-<br />

co, com a instalação <strong>de</strong> residências <strong>de</strong> veraneio e o a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong><br />

algumas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesca<strong>do</strong>res na zona costeira, principalmente<br />

na região da APA <strong>de</strong> Cairuçu.<br />

Com a aprovação <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão Ambiental da APA <strong>de</strong> Cairuçu e<br />

<strong>do</strong> Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> possível disciplinar a evolução<br />

da ocupação turística para conservar a beleza <strong>do</strong> seu litoral, b<strong>em</strong> como<br />

o crescimento das vilas rurais.<br />

A atuação enérgica <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Florestas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro serve <strong>de</strong><br />

bom ex<strong>em</strong>plo para muitos <strong>de</strong>savisa<strong>do</strong>s ou mal intenciona<strong>do</strong>s que não<br />

respeitaram a legislação vigente e sofreram gran<strong>de</strong> prejuízo: durante o<br />

ano <strong>de</strong> 2003 o IEF-RJ promoveu a d<strong>em</strong>olição <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena<br />

<strong>de</strong> residências construídas irregularmente <strong>em</strong> terras <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Pa-<br />

raty Mirim, b<strong>em</strong> como na Praia <strong>do</strong> Sono, no interior da Reserva Ecoló-<br />

gica da Juatinga.<br />

O Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, disciplina<br />

uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que até então vinha se <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> <strong>de</strong> manei-<br />

ra informal. A implantação <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>sse Plano <strong>de</strong> Manejo no setor <strong>do</strong><br />

Parque situa<strong>do</strong> no Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> está entre as priorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Mi-<br />

nistério <strong>do</strong> Meio Ambiente.<br />

O aeródromo existente <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> aten<strong>de</strong> uma d<strong>em</strong>anda turística, es-<br />

pecialmente, <strong>de</strong> aviões particulares, não <strong>de</strong>stina-se n<strong>em</strong> possui condi-<br />

ções <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a uma d<strong>em</strong>anda comercial nacional e internacional.<br />

A pista <strong>de</strong> pouso no local on<strong>de</strong> se encontra, divi<strong>de</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>em</strong> duas<br />

áreas b<strong>em</strong> distintas, cristalizan<strong>do</strong> fisicamente as diferenças sociais exis-<br />

tentes entre os <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s e obstruin<strong>do</strong> a circulação urbana.A situação<br />

<strong>de</strong>licada <strong>do</strong> relacionamento urbano com o aeródromo <strong>de</strong>verá se agra-<br />

var a cada dia, seu entorno está <strong>em</strong> avança<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conurbação.<br />

O uso pre<strong>do</strong>minante encontra<strong>do</strong> na área é o resi<strong>de</strong>ncial, com casas <strong>de</strong><br />

um ou <strong>do</strong>is pavimentos.<br />

A posição transversal da pista <strong>em</strong> relação ao bairro histórico atenua os<br />

riscos com respeito à <strong>sua</strong> integrida<strong>de</strong>. No entanto os riscos para a popu-<br />

lação aumentam a cada concentração <strong>de</strong> fluxo <strong>do</strong>s vôos.


Ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista a ina<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> atual aeródromo, <strong>em</strong> 2001, foi forma-<br />

<strong>do</strong> um Grupo <strong>de</strong> Trabalho para o estu<strong>do</strong> da viabilida<strong>de</strong> da construção <strong>de</strong><br />

um novo aeroporto <strong>em</strong> local próximo à cida<strong>de</strong>. A Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Transportes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - Superintendência <strong>de</strong> Engenha-<br />

ria <strong>de</strong> Transportes - Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria Aeroviária incluiu o aeroporto <strong>de</strong> Pa-<br />

raty na Lei <strong>do</strong> PROFAA – Lei <strong>do</strong> Plano Aeroviário, e também, o Ministério<br />

da Aeronáutica – Departamento <strong>de</strong> Aviação Civil – DAC, apoiou os tra-<br />

balhos e também <strong>de</strong>senvolveu estu<strong>do</strong>s específicos.<br />

O objetivo <strong>do</strong> projeto foi a formulação <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento para a infraestrutura aeronáutica, <strong>de</strong>stinaram-se, também, a esta-<br />

belecer a viabilida<strong>de</strong> técnico/econômica para a implantação <strong>do</strong> referi<strong>do</strong><br />

aeroporto. Possibilitan<strong>do</strong> o município contar com uma infra-estrutura ae-<br />

ronáutica condizente com seu potencial sócio-econômico e perfeitamen-<br />

te harmoniza<strong>do</strong> com <strong>sua</strong>s diretrizes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano.<br />

Os estu<strong>do</strong>s concluíram pela <strong>de</strong>sativação <strong>do</strong> aeródromo existente, reco-<br />

mendan<strong>do</strong> a ocupação da área com equipamentos mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s para<br />

a socieda<strong>de</strong>, restabelecen<strong>do</strong> assim, a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> urbano e<br />

proporcionan<strong>do</strong> a segurança <strong>de</strong>sejada.<br />

Com o apoio <strong>de</strong> equipe <strong>do</strong> ITA - INSTITUTO DE TECNOLOGIA DA AERO-<br />

NÁUTICA - e técnicos especializa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> aeroportos com aproximação <strong>de</strong><br />

precisão, foram pesquisa<strong>do</strong>s os locais que apresentavam condições para<br />

operações aéreas no Município e o sítio escolhi<strong>do</strong> foi o da Barra Gran<strong>de</strong>,<br />

conclusão que foi reiterada pelos estu<strong>do</strong>s compl<strong>em</strong>entares realiza<strong>do</strong>s pe-<br />

los técnicos <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Aviação Civil.<br />

Para alicerçar este processo foi proposta a criação <strong>de</strong> um Plano Estratégi-<br />

co, instrumento <strong>de</strong> gestão capaz <strong>de</strong> congregar <strong>em</strong>presaria<strong>do</strong> local, o<br />

governo, os investi<strong>do</strong>res, órgãos públicos e socieda<strong>de</strong> local. Partiu-se <strong>do</strong><br />

pressuposto que apenas através da PPP – parceria público privada - será<br />

possível a realização <strong>de</strong>ste projeto, e controlar as transformações urba-<br />

nas e econômicas <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>sua</strong> implantação.<br />

II) PRESSÕES AO MEIO AMBIENTE<br />

(POLUIÇÃO, MUDANÇAS CLIMÁTICAS, DESERTIFICAÇÃO)<br />

O processo <strong>de</strong> colmatação da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, <strong>em</strong>bora seja um processo <strong>de</strong><br />

erosão natural, v<strong>em</strong> se agravan<strong>do</strong> nas últimas décadas <strong>em</strong> função <strong>do</strong><br />

crescimento urbano e <strong>do</strong> <strong>de</strong>spejo <strong>de</strong> <strong>de</strong>jetos nos rios que têm provoca<strong>do</strong><br />

175


176<br />

> O.A.M.T - 1Pavimentação<br />

<strong>do</strong> século XVIII <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong><br />

<strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>. Parte VII – entre<br />

o Marco da Sesmaria e o<br />

Distrito da Penha<br />

aterro da baía. Soma<strong>do</strong> ao arruamento periférico, construí<strong>do</strong> na década<br />

<strong>de</strong> 1970 <strong>em</strong> frente ao bairro histórico, conseqüent<strong>em</strong>ente sobrelevou o<br />

lençol freático.<br />

O setor <strong>do</strong> centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> mais próximo <strong>do</strong> mar s<strong>em</strong>pre so-<br />

freu a influencia <strong>de</strong> marés cheias que ocasionalmente ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a<br />

uma conjugação <strong>de</strong> fatores naturais. Essa região, a mais baixa da cida<strong>de</strong>,<br />

foi construída <strong>em</strong> área <strong>de</strong> aluvião resulta<strong>do</strong> da sedimentação <strong>de</strong> material<br />

carrea<strong>do</strong> pelos rios Pereque-Açu e Matheus Nunes. Esse processo é conti-<br />

nuo e ocorre até os dias <strong>de</strong> hoje forman<strong>do</strong> um cordão arenoso <strong>de</strong>nomina-<br />

<strong>do</strong> “Terra Nova” situada entre o centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e o mar.<br />

Na última e <strong>de</strong>finitiva expansão <strong>do</strong> centro histórico ocorrida no século<br />

XIX, durante o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> café, a cida<strong>de</strong> avançou alguns poucos quartei-<br />

rões na direção <strong>do</strong> mar.. Como eram terras mais baixas, contíguas ao te-<br />

ci<strong>do</strong> urbano, essa foi uma solução natural. Traçadas as ruas com alinha-


mento retilíneo foram estas calçadas com pedras à maneira <strong>de</strong><br />

pé-<strong>de</strong>-moleque, com caimento para o centro das vias, on<strong>de</strong> possui pedras<br />

retangulares <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> calha, e naturalmente inclinadas <strong>em</strong> direção ao<br />

mar, como estava conforma<strong>do</strong> o terreno e da forma que é preciso para o<br />

escoamento das águas da chuva.<br />

Ocorre que há alguns episódios climáticos especiais quan<strong>do</strong> t<strong>em</strong>os lua<br />

nova ou lua cheia coinci<strong>de</strong>nte com cheias <strong>do</strong>s rios que la<strong>de</strong>iam a cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a fortes chuvas e o soprar <strong>de</strong> certos ventos que represam e elevam<br />

as águas da baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Normalmente <strong>em</strong> toda a maré cheia a água<br />

<strong>do</strong> mar chega às franjas da cida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong> mansamente lamber o <strong>de</strong>grau<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> peixes situa<strong>do</strong> <strong>de</strong>fronte à baía. Com menos freqüência na<br />

conjugação <strong>de</strong> alguns <strong>do</strong>s fatores menciona<strong>do</strong>s acima, duas a três vezes<br />

ao ano, a maré a<strong>de</strong>ntra a parte mais baixa <strong>de</strong> algumas das ruas situadas<br />

junto ao mar pelo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> poucas horas.<br />

Esse fenômeno consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> “poético” constitui atração turística da<br />

cida<strong>de</strong> e é aprecia<strong>do</strong> por muitos, aceito por to<strong>do</strong>s, canta<strong>do</strong> <strong>em</strong> verso e<br />

prosa e à lua cheia consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> inspiração para serenatas.<br />

Mais raramente, a cada três anos, a conjugação <strong>de</strong>sses três fatores: maré<br />

cheia <strong>de</strong> lua, ventos excepcionalmente fortes e rios cheios <strong>de</strong> água po-<br />

d<strong>em</strong> levar a que a elevação <strong>do</strong> mar suba mais meio metro, não mais que<br />

isso. Nesses casos os turistas se consi<strong>de</strong>ram afortuna<strong>do</strong>s por po<strong>de</strong>r<strong>em</strong><br />

apreciar o fenômeno <strong>em</strong> toda a <strong>sua</strong> intensida<strong>de</strong>. Os estabelecimentos<br />

comerciais das ruas próximas <strong>do</strong> mar já estão acostuma<strong>do</strong>s ao fenômeno<br />

e t<strong>em</strong> maneiras <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>rias <strong>de</strong> forma que a maré<br />

cheia não prejudique seu negócio.<br />

Até o presente a cida<strong>de</strong> conviveu com o fenômeno da maré cheia s<strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>rar que isso seja uma questão grave ou motivo <strong>de</strong> preocupação.<br />

Prepara<strong>do</strong>s para esse fenômeno natural o aceitam e consi<strong>de</strong>ram-no um<br />

el<strong>em</strong>ento mais <strong>de</strong> atração aos visitantes.<br />

No caso das mudanças climáticas que se avizinham, se o nível <strong>do</strong> mar<br />

se elevar mais <strong>de</strong> 10 a 20 cm e chegar a ultrapassar 50 cm o nível atual <strong>do</strong><br />

mar. A área <strong>em</strong> que se encontra o centro histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> será certamen-<br />

te um motivo <strong>de</strong> séria preocupação. Nesse caso somente a construção <strong>de</strong><br />

diques <strong>de</strong> contenção po<strong>de</strong>rá solucionar esse probl<strong>em</strong>a. Para isso o trecho<br />

chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Terra Nova” situa<strong>do</strong> <strong>de</strong> fronte à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vera ser o local<br />

on<strong>de</strong> esses diques terão <strong>de</strong> ser construí<strong>do</strong>s com barragens e comportas na<br />

177


178<br />

foz <strong>do</strong>s rios. A experiência <strong>do</strong> norte europeu, nesse campo já foi cogitada.<br />

Consulta<strong>do</strong>s especialistas nesse setor manifestaram-se por uma solução que<br />

não seja <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a dificulda<strong>de</strong> para esse caso. O mesmo probl<strong>em</strong>a se rela-<br />

ciona com a questão da coleta e tratamento <strong>do</strong>s esgotos <strong>do</strong> centro histórico<br />

que apresenta maior grau <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e exigirá a construção <strong>de</strong> uma<br />

estação elevatória, <strong>em</strong> local próximo.<br />

III) DESASTRES NATURAIS E PRECAUÇÕES<br />

(TERREMOTOS, ENCHENTES, INCÊNDIOS, ETC)<br />

Os escorregamentos na Serra, provoca<strong>do</strong> pelas fortes chuvas, são uma ame-<br />

aça a conservação <strong>do</strong>s caminhos <strong>de</strong> pedra.<br />

IV) AMEAÇAS GERADAS PELO FLUXO DE VISITANTES E TURISTAS<br />

<strong>Paraty</strong> recebe um fluxo <strong>de</strong> turismo constante durante to<strong>do</strong> o ano, sen<strong>do</strong> os<br />

franceses, segui<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s ingleses e americanos os que mais visitam a cida<strong>de</strong>.<br />

Suas festas religiosas e populares atra<strong>em</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas, po-<br />

rém nos feriadões, como carnaval e reveillon a cida<strong>de</strong> recebe um número<br />

muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> visitantes, sen<strong>do</strong>, nestas épocas, as infra-estruturas mos-<br />

tram-se <strong>de</strong>ficientes. Porém, não chegam a causar danos ao sítio histórico.<br />

No Parque por não possuir estrada pavimentada que dê, acesso às antigas<br />

trilhas, a pressão não acontece, <strong>em</strong> breve <strong>de</strong>verá ser implantada um sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>de</strong> Estrada Parque, com duas guaritas <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> fluxo <strong>do</strong>s visitantes. O<br />

caminho antigo, só é explora<strong>do</strong> turisticamente <strong>em</strong> <strong>do</strong>is trechos, sen<strong>do</strong> a con-<br />

servação <strong>de</strong>ste <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s proprietários. Projeto para abertura <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong> trajeto à visitação pública está <strong>em</strong> andamento e <strong>de</strong>verão ser orienta<strong>do</strong>s<br />

pelo IPHAN e IBAMA – Parque Nacional da Serra da Bocaina.<br />

Recent<strong>em</strong>ente foi implanta<strong>do</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> sinalização turística.<br />

V) POPULAÇÃO ASSENTADA NO BEM E NAS ZONAS TAMPÃO<br />

De acor<strong>do</strong> com o IBGE, a população estimada para <strong>Paraty</strong> é:<br />

Centro Histórico – 1800<br />

Zona <strong>de</strong> amortecimento urbana – 15.500<br />

Zonas <strong>de</strong> amortecimento rurais – 16.395<br />

Total <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – 33.695<br />

2006


5 Proteção<br />

e Gestão <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />

5.a Direito <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong><br />

A Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> t<strong>em</strong> autonomia administrativa sobre a cida-<br />

<strong>de</strong>, submeten<strong>do</strong>-se hierarquicamente à legislação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da União.<br />

O b<strong>em</strong> proposto para a inscrição na lista <strong>do</strong> patrimônio mundial (área<br />

tombada) é na <strong>sua</strong> maioria <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> privada, mas o Município pos-<br />

sui algumas, b<strong>em</strong> como a União.<br />

O IPHAN possui as seguintes proprieda<strong>de</strong>s: Sobra<strong>do</strong> à Praça Monse-<br />

nhor Hélio Pires nº 11 – se<strong>de</strong> <strong>do</strong> IPHAN; o Forte Defensor Perpétuo que<br />

abriga o Museu <strong>de</strong> Arte e Tradições Populares e o morro on<strong>de</strong> está loca-<br />

liza<strong>do</strong>. Através <strong>de</strong> convênio com a Mitra Diocesana <strong>de</strong> Barra <strong>do</strong> Piraí ad-<br />

ministra o Museu <strong>de</strong> Arte Sacra.<br />

Parque Nacional da Serra da Bocaina – é administra<strong>do</strong> pelo IBAMA,<br />

conforme o disposto no Sist<strong>em</strong>a Nacional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

– SNUC – Lei Fe<strong>de</strong>ral no 9985/2000, <strong>em</strong> seu Art. 11: § O Parque Nacional<br />

é <strong>de</strong> posse e <strong>do</strong>mínio públicos, sen<strong>do</strong> que as áreas particulares incluídas<br />

<strong>em</strong> seus limites serão <strong>de</strong>sapropriadas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o que dispõe a lei.<br />

Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>de</strong> Cairuçu - Conforme o SNUC – Lei Fe<strong>de</strong>-<br />

ral no 9985/2000, <strong>em</strong> seu Art. 15: § 1o A Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental é<br />

constituída por terras públicas ou privadas.<br />

No caso das 63 ilhas que faz<strong>em</strong> parte da APA <strong>de</strong> Cai-<br />

ruçu, todas elas, com exceção da Ilha da Bexiga, Ilha<br />

<strong>do</strong> Araújo e Ilha <strong>do</strong> Algodão, são proprieda<strong>de</strong> da<br />

União, conforme a Constituição Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Reserva Ecológica da Juatinga é consi<strong>de</strong>-<br />

rada <strong>de</strong> <strong>do</strong>mínio público, administrada pelo<br />

Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas – IEF, da Se-<br />

cretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ambiente <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro – SEA.


180<br />

5.b Medidas <strong>de</strong> Proteção<br />

A primeira medida <strong>de</strong> proteção legal <strong>do</strong> conjunto arquitetônico e urbanís-<br />

tico da cida<strong>de</strong> foi o Decreto-Lei Estadual nº 1.450, <strong>de</strong> 18/09/45 que elevou<br />

<strong>Paraty</strong> a categoria <strong>de</strong> Monumento Histórico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

O <strong>de</strong>creto vinculou o conjunto arquitetônico e urbanístico tradicional <strong>de</strong><br />

Parati à supervisão da Diretoria <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacio-<br />

nal, já que na ocasião não existiam órgão estadual n<strong>em</strong> municipal.<br />

O Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN inscre-<br />

veu nos Livros <strong>de</strong> Tombo das Belas Artes e no Arqueológico, Etnográfico e<br />

Paisagístico, através <strong>do</strong> Processo nº 563-T-57, o “Conjunto Arquitetônico<br />

e Paisagístico da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e especialmente o prédio da Santa<br />

Casa”, no ano <strong>de</strong> 1958. O Forte Defensor Perpétuo já havia si<strong>do</strong> tomba<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> 1957, e, posteriormente, <strong>em</strong> 1962; foram tombadas as quatro igrejas:<br />

Igreja Matriz <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios, Igreja <strong>de</strong> Santa Rita, Igreja<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário e a Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores.<br />

O Governo Fe<strong>de</strong>ral, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aos reclamos <strong>de</strong> diversas entida<strong>de</strong>s in-<br />

teressadas na preservação histórica e paisagística <strong>do</strong> município, e ten<strong>do</strong><br />

<strong>em</strong> vista o valor excepcional <strong>do</strong> seu conjunto arquitetônico, além da ex-<br />

traordinária beleza natural e a originalida<strong>de</strong> da área, e também pelo pa-<br />

pel histórico que representou como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> ligação entre as capita-<br />

nias <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, erigiu como<br />

Monumento Nacional o “Conjunto Paisagístico <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, e<br />

especialmente o acervo arquitetônico da cida<strong>de</strong>” pelo Decreto Lei 58.077<br />

<strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1966.<br />

Além <strong>do</strong> IPHAN, outros órgãos foram <strong>de</strong>signa<strong>do</strong>s a dar cumprimento<br />

<strong>do</strong> cita<strong>do</strong> Decreto. A proteção <strong>do</strong> patrimônio florestal <strong>do</strong> município foi<br />

assegurada por meio <strong>do</strong> Decreto nº 68.172/71 e posteriormente ratifica-<br />

<strong>do</strong> pelo Decreto nº 70.694 / 72, que altera a <strong>de</strong>limitação estabelecida<br />

pelo Decreto anterior, o “Parque Nacional da Serra da Bocaina”.<br />

O reconhecimento <strong>do</strong> valor excepcional da <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>, constituída<br />

por formações físicas e biológicas <strong>de</strong> relevante interesse estético e cientí-<br />

fico, além <strong>do</strong> seu caráter histórico e cultural, foi posteriormente reafirma-<br />

<strong>do</strong> através da extensão <strong>do</strong> tombamento <strong>do</strong> conjunto arquitetônico para<br />

to<strong>do</strong> o “Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>”, que foi inscrito nos Livros <strong>de</strong> Tombo das<br />

Belas Artes e no Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong>


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional <strong>em</strong> 01 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1974 através<br />

<strong>do</strong> Processo nº 563-T-57. É o único município <strong>do</strong> Brasil registra<strong>do</strong> inte-<br />

gralmente no Livro <strong>de</strong> Tombo das Belas Artes e o primeiro a ser reconhe-<br />

ci<strong>do</strong> por <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> excepcional. A partir <strong>de</strong> então, <strong>de</strong>flagrou-se o<br />

processo, e várias foram as formas <strong>de</strong> proteção a<strong>do</strong>tadas pelas entida<strong>de</strong>s<br />

responsáveis pela preservação ambiental e natural. (certidão <strong>em</strong> anexo)<br />

O Decreto Estadual visava a proteção, manutenção e conservação <strong>do</strong><br />

conjunto arquitetônico urbano e regulamentava as obras <strong>de</strong> construção e<br />

reforma, e a expansão <strong>do</strong>s bairros limítrofes. No primeiro tombamento<br />

fe<strong>de</strong>ral além <strong>do</strong> sítio histórico urbano inclu<strong>em</strong>-se outras edificações e pro-<br />

tege-se também a paisag<strong>em</strong> <strong>do</strong> entorno, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter<br />

inalterada <strong>sua</strong> feição peculiar. Por <strong>sua</strong> vez, a conversão <strong>do</strong> Município <strong>em</strong><br />

Monumento Nacional, além <strong>de</strong> reafirmar e ratificar os tombamentos an-<br />

teriores, cria uma área <strong>de</strong> proteção especialíssima <strong>em</strong> torno <strong>do</strong> sítio histó-<br />

rico, num círculo <strong>de</strong> 5 km <strong>de</strong> raio, cujo eixo se situa na praça da Matriz.<br />

O tombamento <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> representa o fortalecimento <strong>de</strong><br />

uma concepção <strong>de</strong> preservação como ativida<strong>de</strong> global, que envolve a<br />

cultura e o meio ambiente.<br />

O Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, vincula<strong>do</strong> ao<br />

Ministério da Cultura, é a mais antiga instituição <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> bens<br />

culturais da América Latina. Caracteriza-se pela diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s atri-<br />

buições, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as ações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, proteção, restauração,<br />

preservação e fiscalização <strong>de</strong> bens físicos, paisagísticos, arqueológicos,<br />

até a administração <strong>de</strong> bibliotecas, arquivos e museus, abrangen<strong>do</strong> as-<br />

pectos importantes <strong>do</strong> panorama cultural brasileiro.<br />

A ação <strong>do</strong> IPHAN se <strong>de</strong>senvolve por meio <strong>de</strong> 14 superintendências<br />

regionais e 19 sub-regionais, <strong>de</strong> 12 museus nacionais e 18 museus regio-<br />

nais, nove casas históricas e um parque histórico. É também da responsa-<br />

bilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Governo Brasileiro, por meio <strong>do</strong> IPHAN, a preservação <strong>de</strong><br />

onze bens <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>s pela Unesco Patrimônio Mundial.<br />

O IPHAN atua <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> através da 6ª Superintendência Regional, com<br />

se<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, e é representa<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> pela 8ª Sub-<br />

Regional, que realiza a fiscalização, análise e o acompanhamento <strong>do</strong>s<br />

processos <strong>de</strong> intervenção arquitetônica e urbanística <strong>em</strong> toda a área tom-<br />

bada, no resgate e manutenção das festas e tradições populares, na res-<br />

tauração e preservação <strong>do</strong> acervo sacro e no apoio às manifestações cul-<br />

181


182<br />

turais. Funciona ainda no atendimento à t<strong>em</strong>as relaciona<strong>do</strong>s com a<br />

preservação, prestan<strong>do</strong> esclarecimentos e orientações à população.<br />

Preocupa<strong>do</strong>s com a proteção <strong>do</strong> r<strong>em</strong>anescente <strong>de</strong> mata atlântica que<br />

cobre cerca <strong>de</strong> 70% <strong>do</strong> município os legisla<strong>do</strong>res criaram uma série <strong>de</strong><br />

leis, <strong>de</strong>cretos e portarias instituin<strong>do</strong> parques florestais, área <strong>de</strong> proteção<br />

ambiental e reservas ecológicas. Após a inscrição <strong>de</strong> toda a área <strong>do</strong> mu-<br />

nicípio no livro <strong>de</strong> tombo <strong>do</strong> IPHAN, uma séria <strong>de</strong> áreas naturais protegi-<br />

das foram criadas para garantir a conservação da paisag<strong>em</strong> natural, da<br />

Mata Atlântica e <strong>do</strong>s seus principais atributos, como a biodiversida<strong>de</strong>, a<br />

beleza cênica e as manifestações culturais tradicionais:<br />

Parque Nacional da Serra da Bocaina - foi cria<strong>do</strong> pelo Decreto<br />

n o 68.172 / 71 e posteriormente ratifica<strong>do</strong> pelo Decreto n o 70.694<br />

/ 72, que altera a <strong>de</strong>limitação estabelecida pelo Decreto anterior. É<br />

uma parte preservada da Floresta Tropical Atlântica, que tão b<strong>em</strong><br />

soube guardar “O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>” situada na região litoral,<br />

entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Sua paisag<strong>em</strong>,<br />

<strong>de</strong> rara beleza, se encontra no meio <strong>do</strong> caminho das duas maiores<br />

metrópoles <strong>do</strong> Brasil - São Paulo e Rio <strong>de</strong> Janeiro. Este parque<br />

nacional <strong>de</strong> 100.000 ha é um belo ex<strong>em</strong>plar <strong>de</strong> floresta oceânica<br />

protegida que abriga uma fauna e flora muito rica on<strong>de</strong> o melhor<br />

das espécies está ameaça<strong>do</strong> <strong>de</strong> extinção. É um <strong>do</strong>s únicos sítios<br />

conserva<strong>do</strong>s <strong>do</strong> litoral.<br />

Apa <strong>do</strong> Cairuçu - Decreto n o 89.242 / 83, foi criada para assegurar<br />

a proteção <strong>do</strong> ambiente, que abriga espécies raras e ameaçadas <strong>de</strong><br />

extinção, paisagens <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> beleza cênica, sist<strong>em</strong>as hidrológicos<br />

da região e as comunida<strong>de</strong>s caiçaras integradas neste ecossist<strong>em</strong>a.<br />

A APA abrange uma parte continental e outra insular. Proíbe ou<br />

restringe: obras <strong>de</strong> terraplanag<strong>em</strong>, abertura <strong>de</strong> canais, implantação<br />

<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s industriais potencialmente polui<strong>do</strong>ras, ativida<strong>de</strong>s<br />

capazes <strong>de</strong> provocar a erosão <strong>do</strong>s solos, que ameac<strong>em</strong> a biota etc.;<br />

Reserva da Juatinga - Decreto nº 17.981/92. Criada com área non<br />

aedificandi a ser administrada pela Fundação IEF. Nos termos <strong>do</strong><br />

artigo 2º, a Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Meio Ambiente expedirá os atos<br />

normativos e as instituições necessárias à efetiva implantação da<br />

reserva, obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> a legislação <strong>em</strong> vigor. Justifica-se <strong>sua</strong> criação<br />

pelo esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> preservação da Mata Atlântica, <strong>do</strong>s manguesais <strong>do</strong>


Saco <strong>do</strong> Mamanguá e pela existência <strong>de</strong> várias espécies da fauna e<br />

da flora, endêmicas ou ameaçadas <strong>de</strong> extinção e também pelas<br />

diversas comunida<strong>de</strong>s caiçaras.<br />

APA Municipal da Baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e Saco <strong>do</strong> Mamanguá, <strong>em</strong> 1984;<br />

Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, <strong>em</strong> 1990;<br />

Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, que inclui <strong>Paraty</strong>, <strong>em</strong> 1992.<br />

A Prefeitura Municipal – É importante salientar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Código <strong>de</strong><br />

Obras <strong>de</strong> 1947 o IPHAN e a Prefeitura Municipal atuam com a mesma<br />

legislação. O Plano Diretor – revisão, ora <strong>em</strong> fase conclusão foi uma ini-<br />

ciativa <strong>do</strong> IBAMA-IPHAN através <strong>do</strong> <strong>Programa</strong> Patrimônio Natural <strong>em</strong> Nú-<br />

cleos Históricos. Estas ações visam garantir a or<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> crescimento<br />

da cida<strong>de</strong>, estabelecen<strong>do</strong> a política urbana, as áreas <strong>de</strong> expansão, a<br />

preservação <strong>do</strong> patrimônio histórico e Natural, a locação das ativida<strong>de</strong>s, o<br />

parcelamento <strong>do</strong> solo e normas para edificações e posturas (Anexo ...)<br />

5.c Meios para impl<strong>em</strong>entação das medidas <strong>de</strong> proteção<br />

A autonomia política e administrativa, no Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, é exercida<br />

pelos três po<strong>de</strong>res constitucionais <strong>do</strong> país: executivo, legislativo e judiciário.<br />

O po<strong>de</strong>r executivo é exerci<strong>do</strong> pelo prefeito municipal, eleito pelo povo<br />

para um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> quatro anos. A ele cabe administrar o município pro-<br />

moven<strong>do</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento e progresso. O po<strong>de</strong>r legislativo, compos-<br />

> PDT – Praia <strong>de</strong><br />

Tarituba, 2003<br />

183


184<br />

SISTEMA DE<br />

VALORES<br />

Meio Ambiente<br />

Social<br />

Cultural<br />

Tecnologico<br />

Econômico<br />

to por onze verea<strong>do</strong>res, eleitos também para um mandato <strong>de</strong> quatro<br />

anos, elabora as leis e diretrizes da vida municipal. O po<strong>de</strong>r judiciário é<br />

exerci<strong>do</strong> pelo juiz <strong>de</strong> direito da comarca, <strong>de</strong> livre nomeação <strong>do</strong> Governo<br />

Estadual e t<strong>em</strong> a função <strong>de</strong> fiscalizar o cumprimento das leis.<br />

Estes três po<strong>de</strong>res, cada um <strong>em</strong> <strong>sua</strong>s funções específicas, administram<br />

o município <strong>em</strong> toda <strong>sua</strong> extensão territorial. Atualmente o Município<br />

está dividi<strong>do</strong> <strong>em</strong> três distritos: o primeiro é Parati (se<strong>de</strong>), o segun<strong>do</strong> é<br />

Parati-Mirim e o terceiro, Tarituba.<br />

O Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, b<strong>em</strong> como o Forte Defensor Perpétuo, as Igre-<br />

jas e o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> incluin-<br />

<strong>do</strong> a Santa Casa, são bens tomba<strong>do</strong>s pelo IPHAN, sen<strong>do</strong> <strong>sua</strong> atribuição a<br />

preservação <strong>de</strong>stes bens. O Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico<br />

Nacional foi cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1937, com a promulgação da Lei<br />

nº 378, foi instituí<strong>do</strong> como Autarquia Pública Fe<strong>de</strong>ral <strong>em</strong> 1990, vincula<strong>do</strong><br />

ao Ministério da Cultura – MinC.<br />

Biodiversida<strong>de</strong><br />

Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Pesca<br />

Fabricação<br />

<strong>de</strong> Barcos<br />

Artesanato<br />

e Cachaça<br />

Agricultura<br />

Lazer<br />

Participação<br />

Social<br />

Comunida<strong>de</strong><br />

I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

Religiosida<strong>de</strong><br />

PARATY<br />

Música<br />

Trabalho<br />

Habitação<br />

Educação<br />

Turismo Cultural<br />

Patrimônio<br />

Imaterial<br />

Patrimônio<br />

Material<br />

Merca<strong>do</strong><br />

Imobiliário<br />

Ecoturismo<br />

Comércio<br />

Mata Atlântica<br />

Clima


O Parque Nacional da Serra da Bocaina, a APA <strong>do</strong> Cairuçú e a Estação<br />

Ecológica <strong>do</strong>s Tamoios são administra<strong>do</strong>s pelo IBAMA - Instituto Brasileiro<br />

<strong>do</strong> Meio Ambiente e <strong>do</strong>s Recursos Naturais Renováveis, Autarquia Fe<strong>de</strong>-<br />

ral, <strong>de</strong> Regime Especial, criada pela lei n° 7.735, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong><br />

1989, alterada pelas leis n° 7.804, <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1989, n° 7.957 <strong>de</strong><br />

20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1989, e n° 8.028 <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1990, vinculada<br />

ao Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, <strong>do</strong>s Recursos Hídricos e da Amazônia<br />

Legal – MMA.<br />

A Reserva Ecológica da Juatinga e gerida pelo Instituto Estadual <strong>de</strong><br />

Florestas, cria<strong>do</strong> pela Lei n.º 1.071, <strong>de</strong> 18/11/86, vincula<strong>do</strong> à Secretaria <strong>de</strong><br />

Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ambiente (SEA) <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

5.d Políticas e programas relativos à valorização e à<br />

promoção <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />

PLANO DIRETOR DE PARATY<br />

Lei <strong>do</strong> Plano Diretor <strong>de</strong> Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

– 1996. O Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela Secretaria <strong>de</strong> Plane-<br />

jamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, e foi realiza<strong>do</strong> pela Prefeitura Muni-<br />

cipal, IPHAN, IBAMA, com ampla participação da comunida<strong>de</strong> segun<strong>do</strong><br />

objetivo específico, foi orienta<strong>do</strong> para aten<strong>de</strong>r o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento sustenta<strong>do</strong>, restabelecen<strong>do</strong> a relação orgânica entre o meio am-<br />

biente natural e construí<strong>do</strong>, potencializan<strong>do</strong> recursos, estimulan<strong>do</strong> projetos<br />

<strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda para a população e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

para o engran<strong>de</strong>cimento das dimensões humanas, culturais e ecológicas.<br />

Além da legislação <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> uso e ocupação <strong>do</strong> solo e preservação <strong>do</strong><br />

meio ambiente, natural e construí<strong>do</strong>, que está sen<strong>do</strong> concluída.<br />

PLANO DIRETOR DE DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO DO MUNICÍPIO<br />

DE PARATY<br />

foi elabora<strong>do</strong> pela Solving Consultoria <strong>em</strong> Turismo, no ano <strong>de</strong> 2003, com<br />

o apoio da Secretaria <strong>de</strong> Turismo e Cultura da Prefeitura, IBAMA, IEF, SE-<br />

BRAE, SOS Mata Atlântica, TurisRio. Teve como objetivo planejar o <strong>de</strong>sen-<br />

volvimento <strong>do</strong> turismo no Município <strong>de</strong> forma sustentável através da pro-<br />

moção da melhoria das relações sociais – menores <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais,<br />

185


186<br />

aumento da renda média e <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> compra da população local, da<br />

valorização da cultura, preservação <strong>do</strong> meio-ambiente e <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi-<br />

mento da economia <strong>de</strong> forma equilibrada e consistente.<br />

As ações propostas visaram estabelecer os objetivos e metas <strong>do</strong> muni-<br />

cípio com relação ao <strong>de</strong>senvolvimento econômico, e através <strong>de</strong>ste, estabe-<br />

lecer as diretrizes ou a política municipal <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> turismo.<br />

Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis <strong>em</strong> Sítios Históricos Urba-<br />

nos Tomba<strong>do</strong>s - Conjunto Arquitetônico e Paisagístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, re-<br />

aliza<strong>do</strong> pelo Departamento <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação e Documentação <strong>do</strong><br />

IPHAN, foi concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> outubro <strong>de</strong> 2003. Teve como objetivo regis-<br />

trar sist<strong>em</strong>aticamente os imóveis, como forma <strong>de</strong> produzir conheci-<br />

mento sobre o sítio, possibilitan<strong>do</strong> estabelecer mecanismos mais efi-<br />

cazes <strong>de</strong> preservação. To<strong>do</strong>s os imóveis <strong>do</strong> sítio histórico, cerca <strong>de</strong> 460,<br />

foram cadastra<strong>do</strong>s. Os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentais existentes nos arquivos e<br />

bibliotecas públicas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>Paraty</strong> foram levanta<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>-<br />

ram orig<strong>em</strong> a um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Pesquisa Histórica. Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s por<br />

meio <strong>do</strong> levantamento arquitetônico e da pesquisa histórica compõ<strong>em</strong><br />

um sist<strong>em</strong>a informatiza<strong>do</strong>, um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> é possível acessar<br />

as plantas <strong>do</strong>s imóveis, além <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre: o proprietário, esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

conservação e preservação, aspectos sócio-econômicos <strong>de</strong> seus mora-<br />

<strong>do</strong>res, uso, materiais construtivos e etc...<br />

Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio – Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e<br />

Monumentos Nacionais, Direção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divul-<br />

gação – Lisboa/Portugal, t<strong>em</strong> por objetivo registrar todas as cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

orig<strong>em</strong> portuguesa. O Inventário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico foi reali-<br />

za<strong>do</strong> <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003, que resultou n o registro multimídia, elabo-<br />

ra<strong>do</strong> pelo Centro <strong>de</strong> Computação Gráfica – Lisboa/Portugal. O <strong>do</strong>cu-<br />

mento contém a <strong>de</strong>scrição arquitetônica <strong>do</strong> sítio histórico, cronologia<br />

histórica e, plantas cadastrais com da<strong>do</strong>s sobre a tipologia das edifi-<br />

cações, datação <strong>do</strong>s imóveis, elevações das quadras, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

PROGRAMA MONUMENTA/BID<br />

O Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentou <strong>em</strong> Abril <strong>de</strong> 2003 a O PROJETO PARA-<br />

TI/RJ - Carta Consulta, resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento <strong>de</strong> ações estratégicas<br />

para a recuperação <strong>do</strong> patrimônio histórico <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.


O MONUMENTA é um programa <strong>de</strong> recuperação sustentável <strong>do</strong> patrimô-<br />

nio histórico urbano brasileiro sob tutela fe<strong>de</strong>ral, resultante <strong>de</strong> Contrato<br />

<strong>de</strong> Empréstimo 1200/OC-BR, entre o BID – Banco Interamenricano <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento e a República Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil. Desenvolve-se no<br />

âmbito <strong>do</strong> Ministério da Cultura, com a participação <strong>do</strong> Instituto <strong>do</strong> Patri-<br />

mônio Histórico e Artístico Nacional.<br />

A área objeto <strong>de</strong> atuação <strong>do</strong> <strong>Programa</strong> são os sítios histórico urbanos<br />

nacionais (SHUN) e os conjuntos urbanos <strong>de</strong> monumentos nacionais<br />

(CUMN) tomba<strong>do</strong>s pelo IPHAN. Promove a execução <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> conser-<br />

vação, restauro e propõe medidas econômicas, institucionais e educativas<br />

que vis<strong>em</strong> a manutenção sustentável <strong>do</strong> patrimônio preserva<strong>do</strong>.<br />

PROJETO ORLA<br />

O Projeto <strong>de</strong> Gestão Integrada da Orla Marítima – é uma iniciativa <strong>do</strong><br />

Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente – MMA, <strong>em</strong> parceria com a Secretaria <strong>do</strong><br />

Patrimônio da União – SPU, com interveniência Da FEEMA e <strong>do</strong> IPHAN,<br />

busca contribuir, <strong>em</strong> escala nacional, para aplicação <strong>de</strong> diretrizes gerais<br />

<strong>de</strong> disciplinamento <strong>de</strong> uso <strong>do</strong> solo e ocupação <strong>do</strong> solo da Orla Marítima.<br />

Desenvolvi<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2003.<br />

O seu <strong>de</strong>senho institucional se orienta no senti<strong>do</strong> da <strong>de</strong>scentralização<br />

<strong>de</strong> ações <strong>de</strong> planejamento e gestão <strong>de</strong>ste espaço, da esfera fe<strong>de</strong>ral para<br />

a <strong>do</strong> município. Articula os Órgãos Estaduais <strong>de</strong> Meio Ambiente – OE-<br />

MAs, Gerências Regionais <strong>do</strong> Patrimônio da União – GRPUs, administra-<br />

ções Municipais e organizações não governamentais locais, e outras enti-<br />

da<strong>de</strong>s e instituições relacionadas ao patrimônio histórico, artístico e<br />

cultural. As questões abordadas são as fundiárias e as ativida<strong>de</strong>s econô-<br />

micas específicas – como as portuárias ou relativas à exploração petrolífe-<br />

ra, cuja atuação tenha rebatimento <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> naquele espaço.<br />

São objetivos estratégicos <strong>do</strong> Projeto Orla o fortalecimento da capaci-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuação e a articulação <strong>de</strong> diferentes atores <strong>do</strong> setor público e<br />

priva<strong>do</strong> na gestão integrada da orla; o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mecanismos<br />

institucionais <strong>de</strong> mobilização social para <strong>sua</strong> gestão integrada; e o estímu-<br />

lo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s sócio-econômicas compatíveis com o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável da orla.<br />

187


188<br />

> J.P.- Vista aérea da<br />

Estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha (à<br />

esquerda) e <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong><br />

<strong>Ouro</strong> (no alto à direita)<br />

Em <strong>Paraty</strong> o projeto se dirigiu para as questões <strong>do</strong> assoreamento da orla<br />

da cida<strong>de</strong>, regularização fundiária <strong>do</strong>s terrenos <strong>de</strong> marinha e urbanização<br />

<strong>do</strong>s espaços livres públicos, <strong>de</strong> forma que não venham a interferir no sítio<br />

histórico urbano e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>.<br />

PLANO DE MANEJO DO PARQUE NACIONAL DA BOCAINA<br />

Resultou <strong>de</strong> um convênio entre o Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente, o Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Meio Ambiente (IBAMA)/Diretoria <strong>de</strong> Ecossist<strong>em</strong>as (DIREC)/<br />

Departamento <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (DEUC) e a Associação Pró<br />

Bocaina, firma<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1996, contan<strong>do</strong> com o apoio da Secre-<br />

taria <strong>do</strong> Meio Ambiente São Paulo/ Unicamp – Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Engenharia<br />

Civil e Reserva da Biosfera da Mata Atlântica. Foi entregue <strong>em</strong> 2002.<br />

Está organiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> seis encartes que representam passos <strong>do</strong> planeja-<br />

mento, com procedimentos e conteú<strong>do</strong>s específicos. A estrutura parte <strong>de</strong>


um contexto amplo, da organização fe<strong>de</strong>ral das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conserva-<br />

ção até o <strong>de</strong>talhamento <strong>do</strong>s recursos naturais e aspectos sócio-econômi-<br />

cos e culturais que afetam, direta ou indiretamente, o Parque Nacional da<br />

Serra da Bocaina (PNSB).<br />

Estabeleceu o zoneamento e as normas que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> orientar o uso, o<br />

manejo <strong>do</strong>s seus recursos naturais e a implantação das estruturas físicas<br />

necessárias à gestão <strong>de</strong>sta Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação. Estas orientações fo-<br />

ram norteadas por objetivos específicos, obti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> um diagnóstico ambien-<br />

tal que analisa tanto a Unida<strong>de</strong> como <strong>sua</strong> Zona <strong>de</strong> Amortecimento, enten-<br />

dida como a área circundante que exerce influência no Parque Nacional.<br />

PLANO DE GESTÃO AMBIENTAL DA APA DO CAIRUÇÚ<br />

Em <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1998 a Fundação SOS Mata Atlântica e o IBAMA, assina-<br />

ram um Termo <strong>de</strong> Cooperação Técnica com o objetivo da elaboração e<br />

impl<strong>em</strong>entação <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão Ambiental da APA <strong>de</strong> CAIRUÇU. Em<br />

abril <strong>de</strong> 1999 foram formalizadas parcerias com o Instituto Estadual <strong>de</strong><br />

Florestas - IEF, e Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> com o objetivo <strong>de</strong> integrar<br />

neste Plano a Reserva Ecológica da Juatinga - REJ e o po<strong>de</strong>r público local.<br />

O Plano teve por objetivo cont<strong>em</strong>plar as principais informações sócio<br />

ambientais <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação e a regulamentação <strong>do</strong> uso <strong>do</strong><br />

seu território. Na área da APA exist<strong>em</strong> outras unida<strong>de</strong>s a Reserva Ecológi-<br />

ca da Juatinga e o Parque Nacional da Bocaina.<br />

Ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista a participação das comunida<strong>de</strong>s da APA no processo <strong>de</strong><br />

planejamento, e gestão da unida<strong>de</strong>, a elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão foi<br />

acompanhada <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação ambiental e mobi-<br />

lização social, que vieram a constituir o “Projeto Cairuçu”, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong><br />

pela Fundação SOS Mata Atlântica, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s objetivos estabeleci<strong>do</strong>s pe-<br />

los termos <strong>de</strong> cooperação com IBAMA, IEF-RJ e Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

A diretriz <strong>do</strong> Projeto Cairuçu foi trabalhar a elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong><br />

Gestão Ambiental <strong>de</strong> forma participativa, informativa e pedagógica, ouvin-<br />

<strong>do</strong> a comunida<strong>de</strong> e divulgan<strong>do</strong> os principais conceitos <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável. Concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2002, este plano foi aprova<strong>do</strong> pela Camara Mu-<br />

nicipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>do</strong> mesmo ano, e pelo IBAMA <strong>em</strong> 2005.<br />

189


190<br />

ILUMINAÇÃO URBANA DO CENTRO HISTÓRICO<br />

Projeto para a implantação da re<strong>de</strong> elétrica <strong>de</strong> distribuição subterrânea e<br />

implantação <strong>do</strong> novo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> iluminação <strong>do</strong> centro histórico <strong>de</strong> Parati.<br />

As obras subterrâneas já foram completadas e permitirão eliminar a<br />

poluição vi<strong>sua</strong>l causada pela re<strong>de</strong> aérea <strong>de</strong> distribuição hoje existente. O<br />

Projeto luminotécnico foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela 6ªSR/IPHAN, contribuirá sig-<br />

nificativamente para o aumento <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> no suprimento<br />

<strong>de</strong> energia elétrica, propician<strong>do</strong> assim, a redução no consumo <strong>de</strong> energia<br />

elétrica. Os trabalhos estão <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> conclusão, e o convênio foi assi-<br />

na<strong>do</strong> por FURNAS –Centrais Elétricas Brasileiras, Eletrobrás, Companhia<br />

<strong>de</strong> Eletricida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Energia da In-<br />

dústria Naval e <strong>do</strong> Petróleo, o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e o Instituto <strong>do</strong> Patri-<br />

mônio Histórico e Artístico Nacional.<br />

PROGRAMA INTERNACIONAL PARA O APRIMORAMENTO DO<br />

SANEAMENTO EM PARATY<br />

O programa foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo MIT – Instituto <strong>de</strong> Tecnologia <strong>de</strong> Mas-<br />

sachussets, BIOCONSULT, KEMWATER BRASIL, a Prefeitura Municipal,<br />

com apoio da Pró-<strong>Paraty</strong>, Associações e <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong> e o Instituto Histórico Artístico e Cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, ten<strong>do</strong> como<br />

patrocina<strong>do</strong>res a BIOCONSULT e KEMWATER BRASIL. O trabalho constou<br />

da avaliação da infraestrutura <strong>de</strong> água, análise da qualida<strong>de</strong> química e<br />

microbiológica da água – das captações <strong>do</strong> município, caixa d’água, tor-<br />

neira, rios e praias. Avaliação da infraestrutura <strong>de</strong> esgoto: físico-químico<br />

com sal férrico, eletrólise, uso da água <strong>do</strong> mar. Foram propostas soluções<br />

<strong>de</strong> infraestrutura e custo para água e esgoto – coleta, transporte e trata-<br />

mento. O projeto conceitual <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> esgotos elabora<strong>do</strong>, apontou<br />

como alternativa, o tratamento convencional por gravida<strong>de</strong>, por pressão,<br />

por vácuo e <strong>de</strong> pequeno diâmetro, sen<strong>do</strong> necessário a construção <strong>de</strong> es-<br />

tações <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> esgoto. No Bairro Histórico optou-se pela coleta<br />

por gravida<strong>de</strong> - mo<strong>de</strong>lo hidráulico.<br />

PROGRAMAS DE PRESERVAÇÃO DE MONUMENTOS<br />

Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário – A 8ª Sub-Regional/IPHAN, com<br />

verbas da Secretaria <strong>de</strong> Cultura - Ministério da Cultura/PR, realizou obras<br />

<strong>de</strong> restauração <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos integra<strong>do</strong>s: retábulos e talhas <strong>do</strong>s altares -


<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> – guia <strong>de</strong> águas pluviais<br />

191


192<br />

> A.M. – Vila <strong>do</strong> Cruzeiro<br />

no saco <strong>do</strong> Mamanguá<br />

mor e colaterais, <strong>em</strong> 2002. O telha<strong>do</strong> foi restaura<strong>do</strong>, com a supervisão 8ª<br />

Sub-Regional e o apoio da Prefeitura Municipal e da Diocese.<br />

Casa <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – Foram realizadas as obras <strong>de</strong> restaura-<br />

ção <strong>do</strong> imóvel sito à rua Dona Geralda esquina com a rua Doutor Sa-<br />

muel Costa, pela Fundação Roberto Marinho, com apoio <strong>do</strong> IPHAN e<br />

a Prefeitura Municipal. No local foi implanta<strong>do</strong> um Centro <strong>de</strong> Referên-<br />

cia Cultural.<br />

Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das Dores – Foram restaura<strong>do</strong>s os telha<strong>do</strong>s e<br />

os altares principal e laterais, b<strong>em</strong> como as catacumbas e o poço na ára<br />

externa. Os trabalhos foram supervisiona<strong>do</strong>s pelo 8ª. Sub-regional <strong>do</strong><br />

IPHAN e o apoio da Prefeitura Municipal e da Diocese.<br />

Igreja Matriz <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios – A igreja está sen-<br />

<strong>do</strong> restaurada com recursos da Lei Rouanet, através <strong>do</strong> BNDES e além<br />

das obras civis serão substituídas as instalações elétricas e hidrálicas, e<br />

serão instaladas medidas anti-furto e <strong>de</strong> combate a incêndios. O pro-<br />

jeto está sen<strong>do</strong> supervisiona<strong>do</strong> pela 8ª Sub-Regional <strong>do</strong> IPHAN.<br />

S<strong>em</strong>inário “<strong>Paraty</strong> – Planejamento e Patrimônio Mundial” – A<br />

Prefeitura Municipal, a Fundação Roberto Marinho, o IPHAN a Re<strong>de</strong><br />

Globo e o Comitê Executivo Pró-Unesco – <strong>Paraty</strong>, com recursos da Lei<br />

<strong>de</strong> Incentivo à Cultura – MinC realizaram <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001 o<br />

S<strong>em</strong>inário que contou com a participação <strong>de</strong> diversos especialista na-<br />

cionais e internacionais e com ampla participação da comunida<strong>de</strong>. Foi<br />

um importante passo para a união <strong>de</strong> esforços <strong>em</strong> prol da Candidatu-


a. Foi elaborada uma publicação conten<strong>do</strong> a transcrição das palestras<br />

e as conclusões <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> trabalho. Foi formula<strong>do</strong> um <strong>do</strong>cumento<br />

intitula<strong>do</strong> “Carta <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>” que se resume na Declaração <strong>de</strong> Valor<br />

atribuí<strong>do</strong>s ao b<strong>em</strong>, e apontadas as ações <strong>de</strong> planejamento que serão<br />

<strong>de</strong>talhadas pelo Plano <strong>de</strong> Gestão, proposto neste Dossiê.<br />

Educação Patrimonial – Inventário <strong>do</strong>s Bens Materiais e Culturais <strong>de</strong><br />

todas as comunida<strong>de</strong>s e criação da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Educação Patrimonial <strong>em</strong><br />

todas as escolas municipais O projeto está sen<strong>do</strong> executa<strong>do</strong> pelo Comi-<br />

tê Executivo Pró-Unesco, as Secretarias Municipais <strong>de</strong> Educação e <strong>de</strong><br />

Turismo e Cultura. O objetivo <strong>do</strong> projeto é levar a toda a população <strong>de</strong><br />

Parati a proposta <strong>de</strong> tornar o município um Patrimônio <strong>do</strong> Cidadão Pa-<br />

ratiense, para assim, po<strong>de</strong>r levar oferecer os patrimônios locais ao Esta-<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, ao Brasil e ao Mun<strong>do</strong>. As reuniões estão sen<strong>do</strong><br />

realizadas nas 26 escolas municipais.<br />

Essa iniciativa visa a estabelecer uma relação consciente e criativa entre a<br />

comunida<strong>de</strong> e seu patrimônio. A comunida<strong>de</strong> participa <strong>de</strong> uma tarefa que<br />

consiste <strong>em</strong> fazer com que se compreenda que a história pessoal <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />

os habitantes está intimamente ligada ao passa<strong>do</strong> da cida<strong>de</strong> e que a pre-<br />

servação <strong>do</strong> patrimônio local passa pela preservação <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les.<br />

O Levantamento faz parte das metas estabelecidas no Relatório <strong>de</strong> Es-<br />

tratégia Local da Campanha, que o Movimento Pró-<strong>Paraty</strong> Patrimônio<br />

Mundial redigiu durante a Oficina <strong>de</strong> trabalho “<strong>Paraty</strong> para o Mun<strong>do</strong>”<br />

realizada <strong>em</strong> janeiro <strong>de</strong> 2002.<br />

Organização <strong>de</strong> uma associação civil “Pró-<strong>Paraty</strong>”, que contribuiu para<br />

estimular e viabilizar as medidas necessárias à preservação <strong>do</strong> rico patri-<br />

mônio físico, ambiental, histórico e cultural da cida<strong>de</strong>.<br />

O <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver <strong>Paraty</strong> transformada <strong>em</strong> Patrimônio da Humanida<strong>de</strong> é<br />

antigo da cida<strong>de</strong> conforme pod<strong>em</strong>os comprovar no abaixo-assina<strong>do</strong> da<br />

década <strong>de</strong> 1980.<br />

5.e Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>do</strong> B<strong>em</strong><br />

O Plano Diretor <strong>de</strong> Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> é o instrumento <strong>de</strong> plane-<br />

jamento capaz <strong>de</strong> orientar o <strong>de</strong>senvolvimento sócio-político e econômico<br />

<strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>-Monumento Nacional, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> prioritaria-<br />

193


194<br />

mente as ações <strong>de</strong> preservação cultural e natural, e instituí<strong>do</strong> parcialmen-<br />

te pela Lei nº 1352/2002, estabeleceu as políticas públicas que orientam<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento sócio-econômico <strong>do</strong> município.<br />

O Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, segun<strong>do</strong> objetivo específico, foi orienta<strong>do</strong><br />

para aten<strong>de</strong>r o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento sustenta<strong>do</strong>, restabelecen<strong>do</strong> a<br />

relação orgânica entre o meio ambiente natural e construí<strong>do</strong>, potenciali-<br />

zan<strong>do</strong> recursos, estimulan<strong>do</strong> projetos <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda para a popu-<br />

lação e <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para o engran<strong>de</strong>cimento das di-<br />

mensões humanas, culturais e ecológicas. Além da legislação <strong>de</strong> controle<br />

<strong>do</strong> uso e ocupação <strong>do</strong> solo e preservação <strong>do</strong> meio ambiente, natural e<br />

construí<strong>do</strong>, que está sen<strong>do</strong> concluída.<br />

O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> controle <strong>do</strong> Município é compartilha<strong>do</strong> <strong>em</strong> diversas ins-<br />

tâncias e instituições publicas. O licenciamento <strong>de</strong> obras e os projetos <strong>de</strong><br />

parcelamento e urbanos é prerrogativa municipal, com análise prévia e<br />

autorização <strong>do</strong> IPHAN <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o Município e <strong>do</strong> IBAMA, na APA <strong>do</strong> Cai-<br />

ruçú. A fiscalização é via <strong>de</strong> regra, compartilhada pela Prefeitura e o<br />

IPHAN, além <strong>de</strong> outras instituições públicas <strong>de</strong> controles específicos, meio<br />

ambiente e controle das infra-estruturas. As questões que extrapolam as<br />

medidas administrativas das quais a Prefeitura, o IPHAN e o IBAMA são<br />

capazes, encontram meios <strong>de</strong> controle através <strong>do</strong> Ministério Público (Fe-<br />

<strong>de</strong>ral e Estadual) e <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a judiciário.<br />

O Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong><br />

está anexa<strong>do</strong> a este <strong>do</strong>ssiê. A filosofia a<strong>do</strong>tada para o Plano <strong>de</strong> Gestão foi<br />

a da manutenção e melhorias <strong>do</strong>s bens existentes no sítio s<strong>em</strong>, no entan-<br />

to, interferir no mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida daqueles que faz<strong>em</strong> parte <strong>do</strong> conjunto;<br />

pelo contrário, enten<strong>de</strong>-se como necessária a revitalização e preservação<br />

das características próprias <strong>de</strong> cada etnia.<br />

Visa garantir para as gerações futuras a beleza e a biodiversida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

sítio <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. As ações a ser<strong>em</strong> implantadas levarão <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a<br />

i<strong>de</strong>ntificação das ameaças ao b<strong>em</strong>.<br />

Ação <strong>de</strong> fundamental importância para a preservação <strong>do</strong> sítio <strong>de</strong> Para-<br />

ty é a integração e participação da população local que <strong>de</strong>ve ser intensi-<br />

vamente orientada e esclarecida acerca <strong>do</strong>s critérios a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para a pre-<br />

servação <strong>do</strong> sítio.<br />

A meta <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão é a <strong>de</strong> conciliar o binômio turismo e pro-<br />

teção, que contará com o apoio da população paratiense das Organiza-


ções não Governamentais e das esferas governamentais, a saber, munici-<br />

pal, estadual e fe<strong>de</strong>ral, para que haja a formação <strong>de</strong> uma política pública<br />

<strong>de</strong> preservação e manejo da área.<br />

Em 23 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003, por meio <strong>do</strong> Decreto nº 076/2003 foi<br />

instituída a Comissão Permanente pró-Sítio <strong>do</strong> Patrimônio Mundial <strong>de</strong> Pa-<br />

raty, que é encarregada <strong>de</strong> acompanhar as ações necessárias para obter o<br />

reconhecimento <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> como Sítio <strong>do</strong> Patrimônio Mundial. A Comissão<br />

é integrada por servi<strong>do</strong>res públicos municipais, estaduais e fe<strong>de</strong>rais está-<br />

veis ou <strong>em</strong> comissão, e representantes <strong>de</strong> associações não governamen-<br />

tais, as reuniões realizadas, mensalmente (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então), são abertas a to-<br />

<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s. A Comissão é composta <strong>de</strong> 12 m<strong>em</strong>bros fixos.<br />

Procedimento e Normas encontram-se no Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>em</strong> anexo.<br />

O Plano <strong>de</strong> Gestão foi elabora<strong>do</strong> entre 2006 e 2007 pelos represen-<br />

tantes <strong>do</strong> Comitê Executivo.<br />

O CAMINHO DO OURO EM PARATY E SUA PAISAGEM – PLANO DE GESTÃO<br />

PROGRAMA DE<br />

EDUCAÇÃO<br />

CONHECIMENTO<br />

DO PATRIMÔNIO<br />

PLANO DE<br />

GESTÃO<br />

QUALIDADE<br />

DE VIDA<br />

USO SOCIAL<br />

E RECURSOS<br />

TURÍSTICOS<br />

PROGRAMA DE<br />

COMUNICAÇÃO<br />

APROPRIAÇÃO<br />

CULTURAL<br />

195


196<br />

5.f Fontes e níveis <strong>de</strong> financiamento<br />

Lei Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Incentivo à Cultura – nº 8313/91 – Ministério da<br />

Cultura – investimento <strong>do</strong> BNDES na restauração da Igreja Matriz - R$<br />

3.887.000,00<br />

Monumenta/BID <strong>Programa</strong> Estratégico <strong>do</strong> PPA 2000-2003 (Avança<br />

Brasil), objeto <strong>do</strong> Contrato <strong>de</strong> Empréstimo 1200/OC-BR, entre a Repú-<br />

blica Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil e o Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimen-<br />

to – BID - R$ 5.000.000,00.<br />

Furnas – Centrais Elétricas, <strong>de</strong>stinou uma verba <strong>de</strong> R$ 7.000.000,00<br />

para o projeto <strong>de</strong> Iluminação Urbana e Cabeamento Subterrâneo <strong>do</strong><br />

Bairro Histórico.<br />

Parque Nacional da Serra da Bocaina e APA <strong>de</strong> Cairuçu - Têm<br />

como fonte <strong>de</strong> recursos o orçamento anual da União, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pelo<br />

governo fe<strong>de</strong>ral e aprova<strong>do</strong> pelo Congresso Nacional. No ano <strong>de</strong> 2007<br />

o Parque Nacional dispôs <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> R$ 1.000.000,00,<br />

Reserva Ecológica da Juatinga - É administrada com recursos <strong>do</strong><br />

orçamento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, a partir <strong>de</strong> orçamento elabo-<br />

ra<strong>do</strong> pelo governo estadual e aprova<strong>do</strong> pela Ass<strong>em</strong>bléia Legislativa.<br />

No ano <strong>de</strong> 2007, a Reserva Ecológica teve um orçamento <strong>de</strong> R$<br />

500.000,00.<br />

5.g Níveis <strong>de</strong> competência e <strong>de</strong> formação relativas às<br />

técnicas <strong>de</strong> conservação e gestão<br />

O Parque Nacional da Serra da Bocaina é o principal agente <strong>de</strong> fiscalização<br />

<strong>do</strong>s <strong>Caminho</strong>s <strong>de</strong> Pedra da Serra. Embora, ainda existam proprieda<strong>de</strong>s par-<br />

ticulares no Parque, ações estão sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvidas no senti<strong>do</strong> da implan-<br />

tação <strong>do</strong> Parque.<br />

A maior parte <strong>do</strong>s caminhos estão enterra<strong>do</strong>s. Cabe a iniciativa <strong>de</strong> par-<br />

ticulares, s<strong>em</strong>pre sob a supervisão <strong>do</strong> Parque, da Prefeitura Municipal e <strong>do</strong><br />

IPHAN a manutenção <strong>de</strong> alguns trechos. O Projeto Na trilha da História está<br />

realizan<strong>do</strong> a limpeza e manutenção <strong>do</strong>s d<strong>em</strong>ais trechos.<br />

A conservação <strong>do</strong> sítio urbano exige da Municipalida<strong>de</strong> um esforço<br />

técnico constante. O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> infra-estrutura, pavimentação, esgotos,<br />

iluminação e força, etc., requer<strong>em</strong> manutenção especial e constante. Par-


ticularmente para o calçamento <strong>de</strong> pedras a Prefeitura está aguardan<strong>do</strong><br />

as obras <strong>de</strong> cabeamento subterrâneo da iluminação pública, que <strong>de</strong>verão<br />

ser realizadas concomitant<strong>em</strong>ente a implantação <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> sanea-<br />

mento para fazer as revisões necessárias.<br />

A Prefeitura Municipal está buscan<strong>do</strong> integrar-se a programas nacio-<br />

nais <strong>de</strong> preservação <strong>de</strong> sítios históricos, tal como o Monumenta-BID <strong>do</strong><br />

Ministério da Cultura/IPHAN, para <strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong> restauração <strong>de</strong><br />

edifícios públicos e religiosos e revitalização <strong>de</strong> áreas livres públicas. Outro<br />

<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque é o Projeto Orla, que visa a capacitação <strong>do</strong>s técni-<br />

cos da Prefeitura no trato das questões relativas e na proposição <strong>de</strong> pro-<br />

jetos para a orla, este Projeto está sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo Ministério <strong>do</strong><br />

Meio Ambiente/IBAM, SPU – Secretaria <strong>do</strong> Patrimônio da União, com<br />

apoio da FEEMA – Fundação Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente, IBAM– Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Administração Municipal, e <strong>do</strong> IPHAN.<br />

O IBAMA dispõe <strong>de</strong> um escritório local da APA <strong>do</strong> Cairuçú, com aten-<br />

dimento administrativo um diretor e 3 técnicos <strong>de</strong> nível superior, to<strong>do</strong>s<br />

Engenheiros Florestais, além <strong>de</strong> um técnico <strong>em</strong> educacão ambiental. O<br />

Parque Nacional da Bocaina possui <strong>sua</strong> se<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

O Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas t<strong>em</strong> <strong>sua</strong> se<strong>de</strong> no distrito <strong>de</strong> Parati-Mi-<br />

rim, e conta com um diretor e 2 agentes <strong>de</strong> fiscalização.<br />

O IPHAN dispõe <strong>de</strong> um escritório local, com um diretor responsável -<br />

arquiteto, que aten<strong>de</strong> as d<strong>em</strong>andas relativas às intervenções, e um técni-<br />

co para o atendimento administrativo.<br />

197<br />

> IPHAN – Travessa <strong>de</strong><br />

Santa Rita – 1960


198<br />

5.h Equipamentos turísticos e estatísticas <strong>de</strong> visitação<br />

A cida<strong>de</strong> dispõe <strong>de</strong> <strong>do</strong>is museus, <strong>do</strong>is espaços culturais e a Casa da Cultura. O<br />

número <strong>de</strong> visitantes <strong>de</strong> cada equipamento até maio <strong>de</strong> 2007 são os que se-<br />

gu<strong>em</strong> abaixo:<br />

Museu <strong>de</strong> Arte Sacra <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Visitantes: 14052<br />

Casa <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Total <strong>de</strong> visitantes: 11.866<br />

4.381 estudantes<br />

2.156 mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

Espaço Cultural da Ca<strong>de</strong>ia Velha<br />

Visitantes: 12569<br />

Espaço Cultural <strong>do</strong> IPHAN<br />

Visitors na última exposição: 370<br />

Forte <strong>do</strong> Defensor Perpétuo – Museu da Arte e Tradição<br />

Populares<br />

Visitantes: 4722<br />

Centro <strong>de</strong> Informações Turísiticas<br />

Visitantes: 16.261<br />

5.i Políticas e programas <strong>de</strong> promoção<br />

e conservação <strong>do</strong> b<strong>em</strong><br />

A proteção eficaz <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> através <strong>de</strong> mecanismos legais da<br />

União, Esta<strong>do</strong>, Municipais e mesmo internacionais, se impõe, sobr<strong>em</strong>o<strong>do</strong>,<br />

além <strong>do</strong> aspecto arquitetônico e cultural, preserva-se também o lega<strong>do</strong> na-<br />

tural <strong>de</strong> florestas, nascentes, litoral e mangues. O patrimônio natural <strong>do</strong> Mu-<br />

nicípio é representa<strong>do</strong> pelo seu acervo natural <strong>de</strong> áreas protegidas por vasta<br />

legislação ambiental – o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a APA <strong>do</strong> Cai-<br />

ruçú, Estação Ecológica <strong>do</strong>s Tamoios, a Reserva Ecológica da Juatinga e o<br />

próprio Decreto nº 58.077, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1966, que consi<strong>de</strong>ra to<strong>do</strong> o<br />

“Conjunto Paisagístico <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e especialmente o acervo ar-<br />

quitetônico da cida<strong>de</strong> como Monumento Nacional”. Dos cinco sist<strong>em</strong>as na-<br />

turais <strong>do</strong> Brasil consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s Patrimônio Natural pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral,<br />

três inclu<strong>em</strong> territórios <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>: a Mata Atlântica, a Serra <strong>do</strong>


Mar e a Zona Costeira. Estes sist<strong>em</strong>as são preserva<strong>do</strong>s por seu povo, porque<br />

<strong>sua</strong> vida e <strong>sua</strong> própria cultura <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> da preservação e conservação <strong>do</strong><br />

meio <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>, pois que <strong>de</strong>le é resulta<strong>do</strong>.<br />

<strong>Paraty</strong> se <strong>de</strong>staca pelos diversos Plano <strong>de</strong> Preservação <strong>de</strong> seu Patrimônio,<br />

sen<strong>do</strong> importante citá-los:<br />

Código <strong>de</strong> Obras – Decreto-Lei Municipal nº 51 <strong>de</strong> 27/05/47, - foram<br />

fixadas as condições <strong>de</strong> zoneamento no Município e estabeleceu dire-<br />

trizes <strong>de</strong> preservação para o conjunto arquitetônico e paisagístico.<br />

UNESCO – O arquiteto belga Fre<strong>de</strong>ric <strong>de</strong> Limburg Stirum, contrata<strong>do</strong><br />

pela UNESCO e o IPHAN na década <strong>de</strong> 1960, foi o primeiro a elaborar<br />

um plano <strong>de</strong> expansão urbanística da cida<strong>de</strong>; os princípios fundamen-<br />

tais foram apropria<strong>do</strong>s nos que seguiram.<br />

Tinha como objetivo a salvaguarda <strong>do</strong> bairro histórico e seu entorno –<br />

criava junto ao bairro uma “área non aedificandi”, zona ver<strong>de</strong>, para maior<br />

proteção. Localizava a área <strong>de</strong> expansão urbana <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong> <strong>do</strong> rio Pe-<br />

requê-Açú, e previa para a área adjacente ao bairro, uma ocupação rare-<br />

feita, com gabarito baixo, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a conservar a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> conjunto<br />

arquitetônico <strong>em</strong>oldura<strong>do</strong> pelas montanhas da Serra <strong>do</strong> Mar.<br />

O plano <strong>de</strong> Fre<strong>de</strong>ric <strong>de</strong> Limburg iria permitir o <strong>de</strong>senvolvimento da cida<strong>de</strong>,<br />

manten<strong>do</strong> o nível <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que cessa-<br />

ria com a <strong>de</strong>struição das reservas naturais, dan<strong>do</strong>, com isso a <strong>de</strong>vida im-<br />

portância ao planejamento urbano. Dedicou especial atenção ao assorea-<br />

mento da orla e à drenag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s terrenos, propon<strong>do</strong> como solução para<br />

o probl<strong>em</strong>a, a criação <strong>de</strong> bacias <strong>de</strong> <strong>de</strong>cantação.<br />

Projeto TURIS - O instrumento que <strong>de</strong>clarou o Município - Monumento<br />

Nacional, estabeleceu, também, o Projeto Turis - EMBRATUR, cujo obje-<br />

tivo era o <strong>de</strong> implantar o turismo no litoral sul <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro, com priorida<strong>de</strong> para Parati. Este projeto durou <strong>de</strong> 1968 a 1971.<br />

CNPI – Dan<strong>do</strong> prosseguimento às <strong>de</strong>terminações <strong>do</strong> Decreto nº<br />

58.077, a SPHAN contratou a CNPI - Companhia Nacional <strong>de</strong> Planeja-<br />

mento Integra<strong>do</strong>, para a elaboração <strong>de</strong> um plano urbanístico <strong>de</strong> Pro-<br />

teção <strong>do</strong> Bairro Histórico, que visava não só à preservação <strong>do</strong> acervo<br />

arquitetônico e natural <strong>do</strong> sítio histórico, quanto o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

à valorização da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Município.<br />

199


200<br />

O mo<strong>de</strong>lo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> teve como base o trinômio Conservação – Desen-<br />

volvimento – Turismo, sen<strong>do</strong> este último componente a ativida<strong>de</strong> pro-<br />

pulsora para as d<strong>em</strong>ais; a meto<strong>do</strong>logia a<strong>do</strong>tada separou os enfoques<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> três óticas paralelas: o município; a área urbana e o bairro<br />

histórico, foi concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 1972 e a proposta orientada <strong>em</strong><br />

<strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s:<br />

Qualquer proposição <strong>de</strong> extinção, incr<strong>em</strong>ento ou implantação <strong>de</strong> ati-<br />

vida<strong>de</strong>s na área municipal <strong>de</strong>ve, antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, ser orientada no sen-<br />

ti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> preserva<strong>do</strong>s, os valores históricos e naturais, quer <strong>em</strong><br />

relação à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e seu Bairro Histórico, quer <strong>em</strong> relação ao<br />

resto <strong>do</strong> Município.<br />

O turismo <strong>de</strong>veria se tornar a principal ativida<strong>de</strong> econômica <strong>em</strong><br />

Parati, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> todas as outras, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, se vin-<br />

cular<strong>em</strong> a esta.<br />

Esse Plano teve aprova<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> números I a VII pela Câ-<br />

mara Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e foi sanciona<strong>do</strong> pelo Prefeito através da<br />

Deliberação nº 501/73.<br />

Nos anos 70 dá-se a abertura da Estrada Rio-Santos, ligan<strong>do</strong> Parati aos<br />

<strong>do</strong>is maiores centros urbanos <strong>do</strong> país: Rio <strong>de</strong> Janeiro e São Paulo, facil-<br />

itan<strong>do</strong> o acesso à cida<strong>de</strong> e tornan<strong>do</strong>-a um gran<strong>de</strong> centro turístico na-<br />

cional, s<strong>em</strong> que houvesse si<strong>do</strong> implantada uma estrutura para receber<br />

o fluxo <strong>de</strong> pessoas.<br />

PLANAVE - Também <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as atribuições previstas no referi<strong>do</strong><br />

Decreto nº 58.077/66, <strong>em</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1973 o Ministério da Indústria<br />

e Comércio através da EMBRATUR contratou a PLANAVE para elaborar<br />

um <strong>Programa</strong> <strong>de</strong> Investimentos para o litoral Rio-Santos, que continha o<br />

subproduto Parati, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>de</strong> “Plano <strong>de</strong> Organização da Área <strong>de</strong><br />

Expansão Urbana da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Parati”. Este plano <strong>de</strong> urbanização visou<br />

fornecer el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> controle urbanístico, paisagístico e ambiental<br />

para a área <strong>de</strong> expansão urbana da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que as propostas<br />

<strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong> solo estivess<strong>em</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com um planejamento glo-<br />

bal; também <strong>de</strong>talhou e elaborou os projetos propostos no Plano Inte-<br />

gra<strong>do</strong>: o porto da Boa Vista, o sist<strong>em</strong>a viário, a ro<strong>do</strong>viária e propôs um<br />

zoneamento para a área <strong>de</strong> expansão urbana. Foi utiliza<strong>do</strong> como critério<br />

na análise <strong>de</strong> projetos no Município pela SPHAN até 1981.


SECPLAN – Em 1979 a Secretaria <strong>de</strong> Planejamento da Governa<strong>do</strong>ria<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - SECPLAN elaborou, a pedi<strong>do</strong> da Prefei-<br />

tura Municipal uma proposta <strong>de</strong> zoneamento para a área urbana da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Parati, que não foi aceita integralmente pela SPHAN, mas<br />

serviu <strong>de</strong> alerta à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão da atualização da legislação<br />

vigente, face ao crescimento econômico, e, portanto, populacional <strong>do</strong><br />

município, e principalmente da área urbana.<br />

S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - O S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> con-<br />

junto com a Prefeitura, o IPHAN, INEPAC – Instituto Estadual <strong>do</strong> Patri-<br />

mônio Cultural/RJ e a Socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Amigos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, e contou com o<br />

apoio da Fundação Roberto Marinho, reuniu mais <strong>de</strong> c<strong>em</strong> pessoas<br />

num <strong>de</strong>bate sobre os probl<strong>em</strong>as <strong>do</strong> Município, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> agosto a 1º<br />

<strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1979. Funcionaram quatro comissões: Patrimônio<br />

Cultural e Meio Ambiente; Educação e Cultura; Higiene, Saú<strong>de</strong> e Pro-<br />

moção Cultural e Probl<strong>em</strong>as da Terra.<br />

A comissão sobre Patrimônio Cultural e Meio Ambiente recomendava<br />

a criação <strong>de</strong> uma equipe que, no prazo <strong>de</strong> nove meses, <strong>de</strong>veria apre-<br />

sentar proposta <strong>de</strong> compatibilização <strong>do</strong>s planos e diplomas legais, pro-<br />

postos ou vigentes, que incidiam sobre o <strong>de</strong>senvolvimento, uso <strong>do</strong><br />

solo e preservação <strong>do</strong> Município.<br />

A equipe, criada para a elaboração <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> legislações, foi<br />

formada por técnicos <strong>do</strong> IPHAN, INEPAC, e um especialista na matéria,<br />

contrata<strong>do</strong> pela Fundação Roberto Marinho. Esta Comissão estu<strong>do</strong>u a<br />

reformulação da legislação da área urbana e propôs, <strong>de</strong>ntre outros, <strong>do</strong>is<br />

textos que, analisa<strong>do</strong>s pela Câmara Municipal e sanciona<strong>do</strong>s pelo Pre-<br />

feito, se tornaram as Leis Municipais nº 608/ 81, que fixa as normas para<br />

o zoneamento da Área Urbana e <strong>de</strong> Expansão Urbana <strong>do</strong> Município <strong>de</strong><br />

Parati, e a 609/81, que regula o parcelamento <strong>do</strong> solo para fins urbanos,<br />

no município <strong>de</strong> Parati, leis estas ratificadas pelo SPHAN, pela Portaria nº<br />

10, <strong>de</strong> 24/09/81. A Lei <strong>do</strong> Zoneamento Geral <strong>do</strong> Município cujas dire-<br />

trizes se tornou critério para a análise <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> obras, tanto pela<br />

Prefeitura como pelo IPHAN. O Código <strong>de</strong> Obras, transforma<strong>do</strong> <strong>em</strong> Lei<br />

Municipal nº 655/83, incorporou as diretrizes <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong> con-<br />

junto arquitetônico e paisagístico propostas pelo CNPI.<br />

201


202<br />

> Arquivo IPHAN/RJ – Vista aérea <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> –1964


203


204<br />

> DJOB – Vista áéra <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong> – 1976<br />

PNMA/PNNH – Por meio <strong>do</strong> <strong>Programa</strong> Nacional <strong>do</strong> Meio Ambiente<br />

(PNMA) - Projeto Patrimônio Natural <strong>em</strong> Núcleos Históricos (PNNH) <strong>do</strong><br />

Instituto Brasileiro <strong>do</strong> Meio Ambiente e <strong>do</strong>s Recursos Naturais Renová-<br />

veis (IBAMA), convênio IBAMA nº 121/92 e nº 032/95 - firma<strong>do</strong> com a<br />

Prefeitura Municipal com recursos provenientes <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> <strong>do</strong> Emprés-<br />

timo Nº 3173-BR - Banco Mundial e o Governo Brasileiro, foi realizada<br />

pela Prefeitura Municipal a revisão e atualização <strong>do</strong> Plano Diretor <strong>de</strong>


Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Parati, concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1995, que contou<br />

a assessoria da Secretaria <strong>de</strong> Planejamento da Governa<strong>do</strong>ria <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - SECPLAN/RJ, a qu<strong>em</strong> coube a coor<strong>de</strong>nação técnica,<br />

com a participação efetiva <strong>do</strong> IPHAN e com o apoio <strong>do</strong> IBAMA, FEEMA<br />

– Fundação Estadual <strong>de</strong> Meio Ambiente e IEF – Instituto Estadual <strong>de</strong><br />

Florestas, socieda<strong>de</strong> e associações <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

O PNNH objetivou atuar na convergência das questões ambien-<br />

tais e <strong>de</strong> preservação <strong>do</strong> patrimônio cultural. Entre análises diversas e<br />

revisões por parte <strong>do</strong> Executivo Municipal, Legislativo e <strong>do</strong> Fórum para<br />

205


206<br />

o Desenvolvimento Sustenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o <strong>do</strong>cumento encontra-se<br />

atualmente <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> elaboração <strong>do</strong>s mapas <strong>de</strong> zoneamento.<br />

Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina – Foi elabo-<br />

ra<strong>do</strong> e aprova<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2002 e dá a orientação para o manejo ecológico<br />

através <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> mapas t<strong>em</strong>áticos além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o zonea-<br />

mento e os programas <strong>de</strong> gestão que asseguram a preservação <strong>do</strong><br />

Parque. O Plano também indicou a infra-estrutura necessária para<br />

cada área <strong>de</strong> interesse especial, inclusive a “ área <strong>de</strong> interesse histórico<br />

<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>” além <strong>de</strong> realizar inspeções ambientais periódicas.<br />

Plano <strong>de</strong> Manejo da APA <strong>do</strong> Cairuçú – foi elaborada a caracteriza-<br />

ção sócio-ambiental e uma série <strong>de</strong> mapas t<strong>em</strong>áticos, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />

o seu zoneamento e manejo, através <strong>de</strong> 11 Áreas Estratégicas e regu-<br />

lamentou as ativida<strong>de</strong>s para o seu <strong>de</strong>senvolvimento sustentável atra-<br />

vés <strong>de</strong> um Conselho com representantes da comunida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> institui-<br />

ções envolvidas na <strong>sua</strong> gestão.<br />

Lei Municipal nº 107/01 – Instituiu o Código Municipal <strong>de</strong> Meio Am-<br />

biente – com o objetivo <strong>de</strong> regular a ação <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r público municipal<br />

e <strong>sua</strong> relação com os cidadãos e instituições publicas e privadas, na<br />

preservação, conservação, <strong>de</strong>fesa, melhoria, recuperação e controle<br />

<strong>do</strong> meio ambiente ecologicamente equilibra<strong>do</strong>, b<strong>em</strong> <strong>de</strong> uso comum<br />

<strong>do</strong> povo e essencial à sadia qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

O Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, o Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da<br />

Serra da Bocaina Plano <strong>de</strong> Gestão da APA <strong>do</strong> Cairuçú e o Plano Diretor<br />

<strong>de</strong> Turismo, já <strong>de</strong>scritos, d<strong>em</strong>onstram que a preservação <strong>do</strong> Patrimônio<br />

<strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> hoje é fruto <strong>de</strong> um processo contínuo <strong>de</strong> amadurecimento,<br />

on<strong>de</strong> as ações culturais e naturais, não mais se distingu<strong>em</strong>. Além da<br />

proteção concedida por toda a legislação codificada e pela Constituição<br />

Fe<strong>de</strong>ral, <strong>Paraty</strong>, mais <strong>do</strong> que qualquer outro local possui diversificadas<br />

formas específicas <strong>de</strong> proteção, tanto pela legislação ambiental quanto<br />

pela cultural, nos três níveis, fe<strong>de</strong>ral, estadual e municipal.<br />

Outras entida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>bora não pertencen<strong>do</strong> à estrutura <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r pú-<br />

blico, atuam com significativa <strong>de</strong>senvoltura na <strong>de</strong>limitação das políti-<br />

cas públicas, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caráter cultural e ambiental. São entida<strong>de</strong>s<br />

civis <strong>de</strong> direito priva<strong>do</strong>, s<strong>em</strong> fins lucrativos, cada qual atuan<strong>do</strong> con-


forme dispõe <strong>sua</strong>s finalida<strong>de</strong>s estatutárias, s<strong>em</strong>pre que d<strong>em</strong>anda<strong>do</strong>s<br />

na <strong>de</strong>fesa cultural <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />

Fundação Roberto Marinho, Instituto Histórico Artístico e Cultu-<br />

ral <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, CAPES – Conselho administrativo da Paróquia – <strong>de</strong>di-<br />

cada principalmente a organizar e promover as celebrações religiosas,<br />

<strong>em</strong> especial e Festa <strong>do</strong> Divino Espírito Santo, SEBRAE, Fórum DELIS,<br />

COMAMP, ESALQ e a,<br />

Associação Casa Azul <strong>de</strong>senvolve o Projeto <strong>de</strong> Revitalização <strong>do</strong>s Espa-<br />

ços Públicos <strong>de</strong> Borda D’Água da cida<strong>de</strong>, agin<strong>do</strong> com questões ligadas a<br />

<strong>de</strong>terioração da foz <strong>do</strong> rio Perequê-Açú, o assoreamento da orla, a dre-<br />

nag<strong>em</strong> <strong>do</strong>s arruamentos <strong>do</strong> Bairro Histórico, além <strong>de</strong> propor soluções<br />

urbanísticas para a revitalização <strong>de</strong>stes espaços. Apóia projetos <strong>de</strong> pre-<br />

servação <strong>do</strong>s fazeres tradicionais liga<strong>do</strong>s a engenharia náutica e os arte-<br />

fatos <strong>de</strong> pesca, como as técnicas artesanais próprias para a captura <strong>do</strong>s<br />

peixes <strong>em</strong> cerca<strong>do</strong>s e covos. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>em</strong>barcações existente <strong>em</strong><br />

Parati já constitui outro acervo <strong>de</strong> bens culturais, que necessita, igual-<br />

mente <strong>de</strong> ser preservada<br />

A Associação Casa Azul promove <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003, anualmente,<br />

a” Festa Literária Internacional <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>”.Essa iniciativa <strong>do</strong>s paratiens-<br />

es e seus simpatizantes, pioneira no país, pois até então não havia <strong>em</strong><br />

nossa história festivais <strong>de</strong>ssa natureza, transformou-se no mais impor-<br />

tante e prestigioso encontro <strong>de</strong> literatura <strong>do</strong> continente.<br />

Cerca <strong>de</strong> l5.000 pessoas aflu<strong>em</strong>, por quatro dias, uma vez por ano a<br />

<strong>Paraty</strong> para ler, ouvir e <strong>de</strong>bater literatura. Os maiores escritores e in-<br />

telectuais <strong>do</strong> país e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>la participam .Em 2007 contou com<br />

<strong>do</strong>is Prêmios Nobel , Nadine Gordimer e J.M.Coetzee,além <strong>de</strong> Amos<br />

Oz, Jim Dodge, Will Self, Ahdaf Soucif, Alan Pauls,Guillermo Arriaga<br />

e muitos outros.Em anos anteriores já participaram Paul Auster, José<br />

Eduar<strong>do</strong> Agualusa, Salman Rushdie, Margareth Atwood, Eric<br />

Hobsbawm ,Rosa Montero, David Grossman.To<strong>do</strong>s hoje amigos e<br />

amantes <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

Na mesma direção iniciou-se há três anos , <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro,o festival in-<br />

ternacional <strong>de</strong> fotografias <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> ”<strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> foco”. A cida<strong>de</strong> v<strong>em</strong><br />

assim se firman<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma consistente como uma atratora <strong>de</strong> cultura,<br />

207


208<br />

estrutura<strong>do</strong>ra ,transforma<strong>do</strong>ra, cria<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> cultura <strong>do</strong> mais alto nível.<br />

Essa qualida<strong>de</strong> única é um importante suporte das tarefas que advirão<br />

<strong>de</strong> <strong>sua</strong> listag<strong>em</strong> como sítio <strong>do</strong> Patrimônio Mundial.<br />

5.j Equipes técnicas (profissional, técnica e <strong>de</strong><br />

conservação)<br />

Prefeitura Municipal<br />

Total: 1238 funcionários<br />

Secretaria Municipal <strong>de</strong> Cultura, Turismo e Meio Ambiente:<br />

25 funcionários<br />

Secretaria <strong>de</strong> Obras: 176<br />

Secretaria <strong>de</strong> Educação: 507<br />

Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental da Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>: 4<br />

Comitê Executivo Pró-<strong>Paraty</strong> : 12<br />

IPHAN – 6º Superintendência Regional<br />

Total: 120 funcionários<br />

8ª Sub-Regional<br />

Total: 4 funcionários<br />

IBAMA – Parque Nacional da Serra da Bocaina<br />

Total: 18 funcionários<br />

IBAMA – APA <strong>do</strong> Cairuçú<br />

Total: 6 funcionários<br />

IEF/RJ Reserva Ecológica da Juatinga<br />

Total: 4 funcionários


209


210


6 Monitoramento<br />

O monitoramento t<strong>em</strong> como objetivo avaliar a evolução <strong>do</strong> planejamento<br />

físico-territorial e <strong>sua</strong> impl<strong>em</strong>entação, <strong>do</strong> aperfeiçoamento e aplicação<br />

<strong>do</strong>s instrumentos legais <strong>de</strong> proteção, da gestão, da visitação turística, da<br />

sustentabilida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>do</strong> sitio proposto.<br />

Esta avaliação <strong>de</strong>ve ocorrer na esfera <strong>do</strong>s vários órgãos responsáveis<br />

pela gestão <strong>do</strong> patrimônio histórico, cultural, arquitetônico, paisagístico e<br />

ambiental nos níveis municipal, estadual e fe<strong>de</strong>ral, mas a consolidação<br />

<strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong>verá ser elaborada pelo Comitê Executivo Pró Unesco,<br />

que congrega instituições governamentais e <strong>do</strong> terceiro setor en-<br />

volvidas com a gestão, proteção, conservação e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta avaliação <strong>de</strong>ve gerar um<br />

<strong>do</strong>cumento a ser elabora<strong>do</strong> anualmente, com indicação <strong>do</strong>s prin-<br />

cipais avanços e probl<strong>em</strong>as, b<strong>em</strong> como propostas <strong>de</strong> aperfeiçoa-<br />

mento <strong>do</strong>s processos <strong>em</strong> curso.<br />

A implantação das ações previstas no Plano <strong>de</strong> Gestão visam a<br />

aten<strong>de</strong>r às principais d<strong>em</strong>andas <strong>de</strong> monitoramento listadas.<br />

A tabela <strong>em</strong> anexo <strong>de</strong>finiu os indica<strong>do</strong>res e fontes <strong>de</strong> verificação<br />

para possibilitar o monitoramento <strong>do</strong>s vários componentes <strong>do</strong>s te-<br />

mas relaciona<strong>do</strong>s ao Meio Ambiente, <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Centro<br />

Histórico e Forte Defensor Perpétuo.<br />

6.a Principais indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> está b<strong>em</strong> conserva<strong>do</strong>, encontra-se parcialmente<br />

soterra<strong>do</strong>. Trechos importantes foram recupera<strong>do</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

critérios específicos <strong>de</strong> prospecção arqueológica <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s pelo IPHAN.<br />

75% <strong>do</strong> calçamento estão <strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação e 25%<br />

necessitam <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> conservação.<br />

De acor<strong>do</strong> com o Inventário <strong>do</strong>s Bens Imóveis INBI-SU/IPHAN 2002/3,<br />

no sítio histórico urbano, os edifícios públicos e religiosos estão <strong>em</strong> es-<br />

ta<strong>do</strong> regular <strong>de</strong> manutenção. Em compensação as residências particu-<br />

lares, estão <strong>em</strong> muito bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação.


212<br />

Além <strong>do</strong> Inventário supra-cita<strong>do</strong>, o Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> apresentou <strong>em</strong><br />

Abril <strong>de</strong> 2003, o Projeto <strong>Paraty</strong>/RJ - Carta Consulta, <strong>Programa</strong> Monumenta/<br />

BID com os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento das ações estratégicas<br />

para a recuperação <strong>do</strong> patrimônio histórico <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, on<strong>de</strong> foram elenca-<br />

<strong>do</strong>s os serviços necessários para a recuperação <strong>do</strong>s imóveis que não estão<br />

<strong>em</strong> bom esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, incluí<strong>do</strong>s particulares e institucionais.<br />

O Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio – Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e<br />

Monumentos Nacionais, Direção <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação–<br />

Lisboa/Portugal, realizou o Inventário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong> <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003.<br />

Os principais indica<strong>do</strong>res <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação atual da área natu-<br />

ral são:<br />

A manutenção <strong>do</strong>s atuais índices <strong>de</strong> preservação da flora e fauna. A<br />

presença <strong>de</strong> quase totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s animais terrestres nativos originais<br />

da Floresta Atlântica, comprovada por levantamentos recentes, assim<br />

como mais <strong>de</strong> 130 espécies <strong>de</strong> peixes. Recent<strong>em</strong>ente se registrou, com<br />

gáudio, o retorno das baleias à baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, consi<strong>de</strong>rada a mais rica<br />

<strong>em</strong> mamíferos marinhos <strong>do</strong> país.<br />

O esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação da cobertura florestal po<strong>de</strong> ser comprovada<br />

através da comparação entre anos atuais e anteriores <strong>de</strong> fotos aéreas<br />

e imagens <strong>de</strong> satélite. Os levantamentos da Fundação SOS Mata Atlân-<br />

tica – 2005, mostram <strong>Paraty</strong> entre os municípios que mantêm um per-<br />

centual excepcional <strong>de</strong> r<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong> Mata Atläntica protegida –<br />

cerca <strong>de</strong> 80%.<br />

Os indica<strong>do</strong>res foram estabeleci<strong>do</strong>s com base no Plano Diretor <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />

Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina, no Plano <strong>de</strong><br />

Manejo da APA <strong>de</strong> Cairuçu e nos Inventários supra cita<strong>do</strong>s.


LOCALIZAÇÃO DOS<br />

DOCUMENTOS<br />

INDICADORES VERIFICAÇÃO<br />

PAISAGEM<br />

Registro Fotográfico anual Comitê Pró-Unesco<br />

Perturbação da harmonia <strong>do</strong> conjunto pela existência ou a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong> edificações,<br />

queimadas, <strong>de</strong>smoronamentos ou cortes nas encostas, topos <strong>de</strong> morro,<br />

margens <strong>do</strong>s rios, praias, ilhas e costoes rochosos<br />

CENÁRIO<br />

FEEMA<br />

Aterros nos manguezais, praias e costões rochosos<br />

INPE, Fundação SOS Mata<br />

Atlântica<br />

Sensoriamento R<strong>em</strong>oto quinquenal<br />

área ocupada pela cobertura vegetal natural<br />

COBERTURA VEGETAL<br />

Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />

Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />

Avaliação Ecológica Rápida <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<br />

anos<br />

dimensão e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> especies arbóreas indica<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> floresta <strong>em</strong> estágios<br />

avanca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> regeneração<br />

Avaliação Ecológica Rápida quinquenal Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />

Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />

freqüência <strong>de</strong> avistag<strong>em</strong> ou indícios da presenca <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves e mamiferos<br />

terrestres e marinhos, principalmente aqueles ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção<br />

FAUNA<br />

Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />

Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />

Avaliação Ecológica Rápida <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<br />

anos<br />

riqueza <strong>de</strong> espécies arbóreas por hectare<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> palmeira juçara<br />

BIODIVERSIDADE<br />

riqueza e abundância <strong>de</strong> especies <strong>de</strong> fauna silvestre<br />

Relatórios Anuais FEEMA<br />

índices <strong>de</strong> balneabilida<strong>de</strong> das praias mais frequentadas<br />

índice <strong>de</strong> poluição na foz <strong>do</strong>s principais rios<br />

QUALIDADE DAS ÁGUAS<br />

índice <strong>de</strong> efluentes líqui<strong>do</strong>s trata<strong>do</strong>s<br />

CEDAE<br />

índice <strong>de</strong> coleta <strong>do</strong>miciliar<br />

Relatórios Anuais Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

tonelag<strong>em</strong> <strong>de</strong> vidro, papel, plástico e metais encaminha<strong>do</strong>s para reciclag<strong>em</strong><br />

Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, pequenos<br />

<strong>em</strong>presarios <strong>do</strong> ramo<br />

volume <strong>de</strong> resíduos sóli<strong>do</strong>s processa<strong>do</strong>s <strong>em</strong> aterro sanitário<br />

RESÍDUOS SÓLIDOS<br />

Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Colônia <strong>de</strong><br />

Pesca<strong>do</strong>res<br />

Relatórios anuais <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barque nos<br />

pontos <strong>de</strong> distribuição, entrevistas nas<br />

peixarias<br />

produção pesqueira especialmente <strong>de</strong> crustáceos - lula, camarão e lagosta<br />

Secretaria <strong>de</strong> Obras<br />

Relatórios quinquenais<br />

índice <strong>de</strong> assoreamento da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

AMBIENTES MARINHOS<br />

FEEMA - Fundação Estadual <strong>de</strong><br />

Meio Ambiente<br />

Relatórios Anuais<br />

balneabilida<strong>de</strong> das praias<br />

Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, INPE,<br />

Fundação SOS Mata Atlântica<br />

sensoriamento r<strong>em</strong>oto quinquenal,<br />

<strong>do</strong>cumentação fotográfica anual<br />

integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s manguezais<br />

Instituto Chico Men<strong>de</strong>s e<br />

IBAMA, Instituto Estadual <strong>de</strong><br />

Florestas, Secretaria Estadual<br />

<strong>do</strong> Meio Ambiente, Prefeitura<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Conselhos Consultivos,<br />

COMAMP, Conselho<br />

Nacional da Reserva da Biosfera<br />

Atas <strong>de</strong> reuniões, Relatórios Anuais<br />

Conselho Gestor <strong>do</strong> Mosaico Bocaina<br />

Atas <strong>de</strong> reuniões, Relatórios Anuais<br />

Conselhos Consultivos instala<strong>do</strong>s, participan<strong>do</strong> da gestão <strong>do</strong> Parque Nacional, da<br />

Reserva Ecológica e das APAs <strong>de</strong> Cairuçu e Baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, <strong>Paraty</strong> Mirim, Saco <strong>do</strong><br />

Mamanguá e Tarituba<br />

Atas <strong>de</strong> reuniões, Relatórios Anuais<br />

<strong>Programa</strong>s <strong>de</strong> Proteção e licenciamento, Pesquisa, Uso Público e Educação Ambiental<br />

<strong>em</strong> operação conforme objetivos e metas <strong>do</strong>s respectivos Planos <strong>de</strong> Manejo<br />

IMPLANTAÇÃO DAS<br />

ÁREAS PROTEGIDAS<br />

Relatórios Anuais<br />

Parcerias com instituições públicas e privadas para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s<br />

programas <strong>de</strong> manejo<br />

Relatórios Anuais<br />

Projetos e parcerias com instituições públicas e privadas para o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

sustentável<br />

Instituto Chico Men<strong>de</strong>s e<br />

IBAMA, Instituto Estadual <strong>de</strong><br />

Florestas, Secretaria Estadual<br />

<strong>do</strong> Meio Ambiente, Prefeitura<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Conselhos Consultivos,<br />

COMAMP, Conselho<br />

Nacional da Reserva da Biosfera<br />

Atas <strong>do</strong> Conselho, número <strong>de</strong> licenças,<br />

número <strong>de</strong> autos <strong>de</strong> infração, relatórios<br />

anuais<br />

Conselho Municipal <strong>de</strong> Meio Ambiente, licenciamento integra<strong>do</strong>, legislação<br />

aplicada, Plano Diretor aprova<strong>do</strong> e impl<strong>em</strong>enta<strong>do</strong><br />

GESTÃO<br />

SOCIOAMBIENTAL<br />

Capitania <strong>do</strong>s Portos, Colônia<br />

<strong>de</strong> Pesca<strong>do</strong>res<br />

registros anuais<br />

<strong>em</strong>barcações pesqueiras<br />

MMA, Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />

Sindicato <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res<br />

Rurais, IDACO, COMAMP<br />

Relatórios Anuais<br />

proprieda<strong>de</strong>s com ativida<strong>de</strong> agroflorestal<br />

SUSTENTABILIDADE<br />

CEDAE, Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />

COMAMP<br />

Relatórios Anuais<br />

Abastecimento <strong>de</strong> água tratada<br />

CAMINHO DO OURO<br />

Associação <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong><br />

Turismo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - AGTP,<br />

Comitê Pró-Unesco<br />

Registro Fotográfico Anual nos setores II a<br />

VI; quinquenal no setor I<br />

Perturbação da harmonia <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> por novas construções ou a<strong>de</strong>nsamento <strong>de</strong><br />

edificações no seu entorno, ocorrência <strong>de</strong> queimadas, <strong>de</strong>smoronamentos,<br />

<strong>de</strong>smatamentos<br />

CENÁRIO<br />

AGTP, INPE, Fundacao SOS<br />

Mata, Comitê Pró-Unesco<br />

Sensoriamento R<strong>em</strong>oto e <strong>do</strong>cumentação<br />

fotográfica quinquenal<br />

área ocupada pela cobertura vegetal natural<br />

COBERTURA VEGETAL<br />

dimensão e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies arbóreas<br />

Avaliação Ecológica Rápida quinquenal Associacao <strong>de</strong> Guias <strong>de</strong> Turismo<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - AGTP, Instituições <strong>de</strong><br />

Pesquisa - Universida<strong>de</strong>s,<br />

IBAMA, Comitê Pró-Unesco<br />

freqüência <strong>de</strong> avistag<strong>em</strong> ou indícios da presença <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves e mamíferos<br />

terrestres, principalmente aqueles ameaça<strong>do</strong>s <strong>de</strong> extinção<br />

FAUNA<br />

Avaliação Ecológica Rápida quinquenal AGTP, Instituições <strong>de</strong> Pesquisa -<br />

Universida<strong>de</strong>s, IBAMA<br />

riqueza <strong>de</strong> espécies arbóreas<br />

<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matrizes <strong>de</strong> palmeira juçara<br />

BIODIVERSIDADE<br />

riqueza e abundância <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> fauna silvestre<br />

Relatórios Anuais AGTP, IPHAN, Comitê Pró-<br />

Unesco<br />

integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong> conjunto<br />

encaixe das pedras<br />

CALÇAMENTO<br />

erosão<br />

CAMINHO DO OURO<br />

Prospecções arqueológicas nos setores e sub-setores Relatórios Anuais e fotográficos AGTP, IPHAN, Comitê Pró-<br />

Unesco<br />

REGISTROS<br />

213<br />

IPHAN, Instituicoes <strong>de</strong> Pesquisa,<br />

Comitê Pró-Unesco<br />

Trabalhos publica<strong>do</strong>s, acervo organiza<strong>do</strong> e disponível Relatorio quinquenal da Pesquisa historica<br />

e arqueologica<br />

GESTÃO DO<br />

CONHECIMENTO


214<br />

> Parque Nacional da<br />

Serra da Bocaina e Baía<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

6.b Medidas Administrativas para o monitoramento <strong>do</strong><br />

b<strong>em</strong><br />

No Município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> a estrutura <strong>de</strong> gestão está formada, e é objeto <strong>de</strong><br />

atenção constante <strong>do</strong>s agentes envolvi<strong>do</strong>s. É atribuição da Comissão Per-<br />

manente a integração e acompanhamento <strong>de</strong>stas ações.<br />

O IPHAN através <strong>do</strong> seu Escritório <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

e o Município t<strong>em</strong> participa<strong>do</strong> conjuntamente ou <strong>de</strong> forma separada, <strong>de</strong><br />

várias ações <strong>de</strong> preservação no Município, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a restauração e con-<br />

servação <strong>do</strong>s monumentos e <strong>do</strong> acervo <strong>de</strong> arte sacra, b<strong>em</strong> como, na ex-<br />

ecução <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> revitalização da área urbana, como o recente pro-<br />

jeto <strong>de</strong> iluminação <strong>do</strong> bairro histórico, e d<strong>em</strong>ais projetos <strong>de</strong> estruturação e<br />

infra-estruturas. Estas três instâncias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r estiveram <strong>em</strong> parceria <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

a década <strong>de</strong> 1940 na proposição das legislações urbanísticas.<br />

Des<strong>de</strong> 1945 o IPHAN investe sist<strong>em</strong>aticamente na manutenção restau-<br />

ração, revitalização e gestão da área protegida <strong>do</strong> bairro histórico, tom-<br />

bamento e entorno, a princípio com intervenções pontuais sobre os im-<br />

óveis, ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po, estas passaram a ocorrer apenas, nos edifícios<br />

públicos e religiosos. Porém, a orientação técnica e o acompanhamento<br />

<strong>de</strong> todas as obras permanec<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> as principais ativida<strong>de</strong>s. O IPHAN<br />

s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> apoia<strong>do</strong> as manifestações culturais da cida<strong>de</strong> e está sob <strong>sua</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> o Museu <strong>de</strong> Arte Sacra que funciona na Igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Rita, que hoje <strong>de</strong>senvolve um programa <strong>de</strong> restauração sist<strong>em</strong>ática da<br />

imaginária, o Museu <strong>de</strong> Arte e Tradições Populares, instala<strong>do</strong> no Forte


Defensor Perpétuo, que abriga a exposição O Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Fazer, com mostra<br />

<strong>do</strong> artesanato e as etapas <strong>de</strong> execução e uma sala <strong>de</strong> exposições que at-<br />

en<strong>de</strong> à d<strong>em</strong>anda <strong>do</strong>s artistas cont<strong>em</strong>porâneos.<br />

A Prefeitura t<strong>em</strong> ações diretas, mas com significativas dificulda<strong>de</strong>s op-<br />

eracionais <strong>em</strong> razão da falta <strong>de</strong> recurso e das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso à<br />

recursos externos. Outras instituições, tais como a Fundação Roberto<br />

Marinho e o BNDES, vêm atuan<strong>do</strong> através da Lei <strong>de</strong> incentivo à Cultura,<br />

na restauração <strong>de</strong> imóveis.<br />

O IBAMA é a agência responsável pela conservação <strong>do</strong> Parque Na-<br />

cional da Bocaina e da APA <strong>do</strong> Cairuçu. O Instituto Estadual <strong>de</strong> Florestas-<br />

IEF/RJ é responsável pela Reserva Ecológica da Juatinga e a Prefeitura Mu-<br />

nicipal é responsável pela APA da Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Além das áreas citadas,<br />

há outras áreas protegidas sob gestão <strong>de</strong>ssas instituições.<br />

A Constituição Brasileira protege o patrimônio cultural além das<br />

florestas e a biodiversida<strong>de</strong>. A legislação que criou o IPHAN e o Código<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Florestas são instrumentos legais.<br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral – Ministério da Cultura – IPHAN<br />

Superinten<strong>de</strong>nte Regional: Carlos Fernan<strong>do</strong> <strong>de</strong> Souza Leão Andra<strong>de</strong><br />

End.: Avenida Rio Branco nº 46 – 3º andar<br />

Cep: 20090-002 – Centro – Rio <strong>de</strong> Janeiro / RJ<br />

215


216<br />

Governo Fe<strong>de</strong>ral – Ministério <strong>do</strong> Meio Ambiente – IBAMA<br />

Responsável: Leonar<strong>do</strong> Rocha<br />

Centro Regional <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação<br />

End.: Praça XV nº 42 – 5 o andar<br />

Cep: 20010-010 – Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ<br />

Governo Estadual – Secretaria <strong>do</strong> Ambiente - SEA<br />

Secretário: Carlos Minc<br />

End.: Rua Pinheiro Macha<strong>do</strong> – Palácio da Guanabara<br />

Cep: 22231-090 – Laranjeiras – Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Governo Estadual – SERLA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Marilene Ramos<br />

End: Campo <strong>de</strong> São Cristóvão,138<br />

Cep: 20921-440 – Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ<br />

Governo Estadual - FEEMA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Axel Schmidt Grael<br />

Praça Elói Andra<strong>de</strong> s/n – Cep: 21040-120 – Rio <strong>de</strong> Janeiro – RJ<br />

Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Prefeito: José Carlos Porto Neto<br />

End: Alameda Princesa Isabel, s/n, Pontal<br />

Cep: 23970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

IPHAN – 8ª Sub-Regional<br />

Diretora: Cynthia Tarisse<br />

End: Praça Monsenhor Hélio Pires nº 11<br />

Cep: 23970-000 – Bairro Histórico – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

IBAMA/Instituto Chico Men<strong>de</strong>s – Parque Nacional da Serra da<br />

Bocaína:<br />

Diretor: Dalton Novaes<br />

End: Ro<strong>do</strong>via Estadual da Bocaína – SP 221, s/nº<br />

Fazenda <strong>do</strong> Pau-D’Alho, São José <strong>do</strong> Barreiro – SP<br />

IBAMA/Instituto Chico Men<strong>de</strong>s – APA <strong>do</strong> Cairuçú:<br />

Diretor: Marcelo Pessanha<br />

End: Rua 08, nº 3 – Cep: 23970-000 – Portal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – <strong>Paraty</strong> – RJ


IEF – Reserva Ecológica da Juatinga<br />

Diretor: René Duque Wolmann<br />

Address: Rua Antônio Nubile França, s/nº<br />

Cep: 23970-000 – Chácara da Sauda<strong>de</strong> – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

6.c Resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> avaliações e relatórios<br />

anteriores a esta proposta<br />

ÁREA NATURAL<br />

A cobertura florestal natural da Mata Atlântica, bioma on<strong>de</strong> se insere o<br />

município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, v<strong>em</strong> sen<strong>do</strong> monitorada pela Fundação SOS Mata<br />

Atlântica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1985, com base <strong>em</strong> imagens <strong>de</strong> satélite Landsat. O re-<br />

sulta<strong>do</strong> é o Atlas <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>anescentes <strong>de</strong> Mata Atlântica, publica<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1990 a cada cinco anos.<br />

217<br />

> A.M. – Vista aérea da<br />

região da Santa Casa


218<br />

a) Avaliação <strong>do</strong>s 5 anos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica<br />

Uma avaliação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a<br />

MAB- UNESCO foi realizada por José Pedro <strong>de</strong> Oliveira Costa e publica-<br />

da na série “Ca<strong>de</strong>rnos” <strong>de</strong>ssa Reserva no ano <strong>de</strong> 1997.<br />

A Reserva da Biosfera da Mata Atlântica foi reconhecida pelo programa<br />

MAB, na área <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong>sta proposta que contém o Município <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong>, entre os anos <strong>de</strong> 1991 e 1992. Um <strong>do</strong>s seus princípios estru-<br />

turantes é a manutenção da biodiversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> corre<strong>do</strong>r principal <strong>de</strong> re-<br />

manescentes da floresta atlântica <strong>do</strong> qual <strong>Paraty</strong> é um elo crucial. Como<br />

resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta avaliação foi recomenda<strong>do</strong> para este setor a implan-<br />

tação completa das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação aí situadas.<br />

Passo significativo foi da<strong>do</strong> nesse senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então com a execução,<br />

pelo IBAMA, <strong>do</strong>s Planos <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da<br />

Bocaina e da Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental <strong>do</strong> Cairuçú. Esses Planos<br />

viabilizaram a organização <strong>do</strong> território e especificaram as ações<br />

necessárias à consolidação <strong>de</strong>ssas importantes unida<strong>de</strong>s. Nesse Parque<br />

Nacional encontra-se a zona núcleo <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>de</strong>sta pro-<br />

posta. Essas duas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação compõ<strong>em</strong> o cenário prin-<br />

cipal <strong>de</strong>sta nominação.<br />

Os m<strong>em</strong>bros sul-americanos da UICN - União Internacional para Con-<br />

servação da Natureza, realizaram <strong>em</strong> 1992, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, na Igreja <strong>de</strong> San-<br />

ta Rita, uma das <strong>sua</strong>s reuniões. Entre as conclusões que resultaram <strong>de</strong>sse<br />

encontro, foi aprovada por unanimida<strong>de</strong> a recomendação da inscrição<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e <strong>de</strong> <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong> na lista <strong>do</strong>s sítios <strong>do</strong> Patrimônio Mundial.<br />

b) Realização <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Bocaina<br />

Concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2000, representa o primeiro inventário completo <strong>de</strong><br />

fauna realiza<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, b<strong>em</strong> como o mapeamento <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>sua</strong>s fisonomias vegetais.<br />

Cobertura Vegetal<br />

O Plano <strong>de</strong> Manejo constata que a Floresta Ombrofila Densa ocupa<br />

85% da área <strong>do</strong> Parque, ocorren<strong>do</strong> principalmente nos estágios médio<br />

e avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> regeneração, conforme indica a tabela abaixo:


CAMPOS<br />

FLORESTAS<br />

FOR-<br />

MAÇÕES<br />

PIONEIRAS<br />

Fauna<br />

CATEGORIAS<br />

Ombrófila<br />

Densa<br />

Restinga<br />

Estádio<br />

Médio <strong>de</strong><br />

Regeneração<br />

ESTADO<br />

DE CON-<br />

SERVAÇÃO<br />

<strong>de</strong> Altitu<strong>de</strong> Naturais ou<br />

Antropiza<strong>do</strong>s<br />

Alto Montana<br />

Montana<br />

Submontana<br />

Entre as altitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> 0 a 1.500 m<br />

Degradada<br />

Preservada<br />

Degradada<br />

Preservada<br />

Degradada<br />

Naturais ou<br />

Degradadas<br />

Naturais ou<br />

Degradadas<br />

ÁREA (HA)<br />

2,501.13 2.41<br />

5,097.16<br />

23,083.08<br />

32,950.26<br />

8,693.43<br />

18,612.96<br />

20.15<br />

PERCEN-<br />

TUAL DE<br />

COBERTURA<br />

4.91<br />

22.24<br />

31.75<br />

8.38<br />

17.94<br />

0.02<br />

239.80 0.23<br />

Foram listadas no Parque 40 espécies <strong>de</strong> mamíferos não-voa<strong>do</strong>res,<br />

sen<strong>do</strong> que 25% <strong>de</strong>las estão ameaçadas <strong>de</strong> extinção. Destas, cinco es-<br />

pécies são endêmicas da Mata Atlântica: ouriço-cacheiro (Sphiggurus<br />

villosus), sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita), bugio (Alouatta fus-<br />

ca), macaco-prego (Cebus apella nigritus) e mono-carvoeiro (Brach-<br />

yteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Américas.<br />

As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a con-<br />

centração da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, como a lon-<br />

tra (Lontra longicaudis), o cateto (Pecari tajacu), queixada (Tayassu<br />

pecari), a anta (Tapirus terrestris), os felinos como a jaguatirica (Leop-<br />

ardus pardalis) e a onça-parda (Puma concolor).<br />

O mono-carvoeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Améri-<br />

cas, po<strong>de</strong> ser encontra<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Parque <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> grotões <strong>de</strong> mata<br />

<strong>de</strong> difícil acesso, ainda <strong>em</strong> bom estágio <strong>de</strong> preservação. Já o sagüi-da-ser-<br />

ra-escuro (Callithrix aurita) está presente <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong> mata secundária.<br />

A onça-parda (Puma concolor) possui vasto território, e se <strong>de</strong>sloca por to-<br />

<strong>do</strong>s os ambientes <strong>do</strong> parque. Outro felino raro é o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno<br />

(Leopardus tigrinus). Quanto à onça-pintada (Panthera onça), mora<strong>do</strong>res<br />

locais afirmam <strong>sua</strong> existência. A ocorrência <strong>de</strong>stes felinos d<strong>em</strong>onstra a im-<br />

portância da preservação <strong>do</strong>s ecossist<strong>em</strong>as <strong>do</strong> parque. São raros os regis-<br />

tros <strong>de</strong> anta (Tapirus terrestris) , o maior mamífero brasileiro.<br />

219


220<br />

Avifauna<br />

Ainda no PNSB foram registradas, por levantamentos <strong>de</strong> campo, 294<br />

espécies <strong>de</strong> aves. Doze <strong>de</strong>las estão ameaçadas <strong>de</strong> extinção e 26 pre-<br />

sumidamente ameaçadas. Desta lista, 44,2% são apontadas como es-<br />

pécies endêmicas <strong>do</strong> Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar: Tina-<br />

mus solitarius, Pipile jacutinga, Claravis go<strong>de</strong>frida, Touit melanonota,<br />

Triclaria malachitacea, Macropsalis creagra, Campephilus robustus,<br />

Myrmotherula minor, Hylopezus nattereri, Xiphocolaptes albicollis,<br />

Phylloscartes paulistus, Onychorhynchus c. swainsoni, Tijuca atra, Car-<br />

pornis cucullatus e Piprites pileatus.<br />

c) Plano <strong>de</strong> Manejo da APA <strong>de</strong> Cairucu<br />

Concluí<strong>do</strong> <strong>em</strong> 2005, este Plano caracterizou a flora, a fauna e<br />

os ambientes marinhos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, al<strong>em</strong> <strong>de</strong> realizar uma carac-<br />

terização sócio - econômica e cultural, o cadastramento das<br />

populações caiçaras, e a avaliação <strong>do</strong>s atrativos turísticos en-<br />

contra<strong>do</strong>s na APA e na Reserva Ecológica da Juatinga, total-<br />

mente inserida nos limites da APA.<br />

A APA <strong>de</strong> Cairucu apresenta 78% <strong>do</strong> seu território recoberto<br />

pela floresta ombrofila <strong>de</strong>nsa nos seus vários estágios suces-<br />

sionais. A floresta palu<strong>do</strong>sa (caixeta) e os manguesais repre-<br />

sentam 2%.<br />

Flora<br />

Foram registradas 1328 espécies vegetais, pertencentes a<br />

quatro gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> plantas: algas (117), musgos<br />

(124), samambaias (115), angiospermas dicotile<strong>do</strong>nias<br />

(807) e angiospermas monocotile<strong>do</strong>nias (165).<br />

Fauna<br />

Fauna terrestre – Foram registradas 74 espécies <strong>de</strong> mamí-<br />

feros, 345 <strong>de</strong> aves, 61 <strong>de</strong> répteis e anfíbios. Destas, 104<br />

são endêmicas da Mata Atlântica, e 22 ameacadas<br />

<strong>de</strong> extinção: cuíca, sagüi-taquara, bugio, mono-<br />

carvoeiro, jaguatirica, onça-parda, onça-<br />

pintada, cateto, vea<strong>do</strong>-mateiro, paca,


ato taquara, macuco, gavião-pombo, gavião-pega macaco, gavião-<br />

cinzento, apuim, sabiá-cica, curica, papagaio-chauá, pavó, caneleirin-<br />

ho-<strong>de</strong>-boné e urutu-cruzeiro.<br />

Fauna marinha – Foram registradas 134 especies <strong>de</strong> peixes, e cinco <strong>de</strong><br />

baleias: baleia-<strong>de</strong>-bry<strong>de</strong>, baleia-franca-<strong>do</strong>-sul, baleia-minke, baleia-ju-<br />

barte, orça e cachalote, sen<strong>do</strong> que as baleias jubarte e a franca-<strong>do</strong>-sul<br />

constam da lista oficial <strong>de</strong> especies ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />

Dos golfinhos, foram avista<strong>do</strong>s indivíduos das especies steno bredan-<br />

ensis e sotalia fluviatilis, entre outros. A ocorrência <strong>de</strong> 13 espécies <strong>de</strong><br />

cetáceos na baia da Ilha Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> está inserida a baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>,<br />

faz da região o local <strong>de</strong> maior diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cetáceos no Brasil.<br />

Comparan<strong>do</strong>-se com os números totais para a mata atlântica, foram<br />

encontra<strong>do</strong>s na APA <strong>do</strong> Cairuçu 28% <strong>do</strong> total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> mamífer-<br />

os, 60 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves, 13 % <strong>do</strong> número total<br />

<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> répteis e 14 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> anfíbios.<br />

De um total <strong>de</strong> 546 espécies endêmicas da mata atlântica foram en-<br />

contradas durante os trabalhos <strong>de</strong> campo 104 (19 %).<br />

ÁREA CULTURAL<br />

Todas as ações <strong>de</strong> conservação e preservação exercidas pelo IPHAN na<br />

cida<strong>de</strong> encontram-se registradas no escritório técnico local e na 6ª Super-<br />

intendência Regional no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Anualmente é expedi<strong>do</strong> para a<br />

Presidência <strong>do</strong> IPHAN um relatório sobre as ativida<strong>de</strong>s locais.<br />

a) Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis IPHAN<br />

O IPHAN realizou nos anos <strong>de</strong> 2002 e 2003 o Inventário Nacional <strong>de</strong><br />

Bens Imóveis <strong>em</strong> Sítios Históricos Urbanos Tomba<strong>do</strong>s - Conjunto Ar-<br />

quitetônico e Paisagístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. To<strong>do</strong>s os imóveis <strong>do</strong> sítio histórico,<br />

cerca <strong>de</strong> 460, foram cadastra<strong>do</strong>s, b<strong>em</strong> como, to<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cu-<br />

mentais existentes nos arquivos e bibliotecas públicas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro e <strong>Paraty</strong>. Resultou num banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s on<strong>de</strong> é possível acessar<br />

as plantas <strong>do</strong>s imóveis, além <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s sobre: o proprietário, esta<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

conservação e preservação, aspectos sócio-econômicos <strong>de</strong> seus mora-<br />

<strong>do</strong>res e etc...<br />

221


222<br />

b) Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio<br />

A Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e Monumentos Nacionais - Direção <strong>de</strong><br />

Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação – Lisboa/Portugal, realizou o In-<br />

ventário <strong>do</strong> Patrimônio Arquitetônico <strong>do</strong> sítio histórico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>em</strong><br />

set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003, o <strong>do</strong>cumento contém a <strong>de</strong>scrição arquitetônica <strong>do</strong><br />

sítio histórico, cronologia e da<strong>do</strong>s sobre a tipologia das edificações,<br />

datação <strong>do</strong>s imóveis, <strong>de</strong>ntre outros. Resultou <strong>em</strong> um registro multimí-<br />

<strong>de</strong>a, que foi coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelo Centro <strong>de</strong> Computação Gráfica – Lis-<br />

boa/Portugal.<br />

c) <strong>Caminho</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro - Inventário <strong>de</strong> bens culturais - Secre-<br />

taria Estadual <strong>de</strong> Cultura -<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento territorial<br />

<strong>de</strong> caminhos singulares <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro/ SEBRAE<br />

Realiza<strong>do</strong> pelo Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Cultural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro/ INEPAC, com o apoio <strong>do</strong> SEBRAE, esse Inventário atua na pesqui-<br />

sa histórica e no levantamento <strong>de</strong> campo. A pesquisa, iniciada pelo<br />

<strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, apresentou relatórios analíticos e a perio-<br />

dização <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong> território <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro, teve por objetivo <strong>de</strong> fundamentar a elaboração <strong>do</strong>s roteiros<br />

histórico-culturais <strong>do</strong>s <strong>Caminho</strong>s <strong>do</strong> Açúcar, <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, <strong>do</strong> Café e <strong>do</strong> Sal.<br />

EXERCÍCIOS DE MONITORAMENTO REALIZADOS PELA SOCIEDADE<br />

a) Elaboração <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong>sta Proposta<br />

O Plano <strong>de</strong> Gestão para esta nominação “O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>Paraty</strong> e <strong>sua</strong> paisag<strong>em</strong>” foi elabora<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma participativa e repre-<br />

sentou um exercício <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> expressão na integração <strong>de</strong> diversos<br />

setores da socieda<strong>de</strong> no processo <strong>de</strong> compreensão das questões, <strong>de</strong>fin-<br />

ição <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s e acompanhamento <strong>do</strong> monitoramento <strong>do</strong>s princi-<br />

pais valores culturais e naturais abrangi<strong>do</strong>s pelas áreas propostas.<br />

b) S<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> Planejamento e Patrimônio Mundial – A<br />

Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a Fundação Roberto Marinho, o Insti-<br />

tuto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional com o apoio da Re<strong>de</strong><br />

Globo, realizaram o S<strong>em</strong>inário <strong>em</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2001, na Igreja <strong>de</strong><br />

Santa Rita. Foram <strong>do</strong>is dias <strong>de</strong> palestras e discussões com a comuni-<br />

da<strong>de</strong> sobre a presente candidatura. Na ocasião foi elaborada a Carta


<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que contém a Declaração <strong>de</strong> Valor <strong>do</strong> Sítio e elaborou pro-<br />

postas <strong>de</strong> planejamento. Dentre as ações propostas, cabe salientar, o<br />

novo projeto <strong>de</strong> iluminação urbana para o bairro histórico, o projeto<br />

foi concluí<strong>do</strong>, a verba necessária está <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> liberação e as obras<br />

terão início no próximo ano. A Casa <strong>de</strong> Cultura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi restau-<br />

rada e inaugurada <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 2004, com a implantação <strong>do</strong> Centro<br />

<strong>de</strong> Referências Culturais.<br />

c) <strong>Paraty</strong> para o Mun<strong>do</strong><br />

Em Janeiro <strong>de</strong> 2002 foi realizada a Oficina <strong>de</strong> Trabalho “<strong>Paraty</strong> para o<br />

Mun<strong>do</strong>”, organizada pela Prefeitura Municipal, a Associação Pró-<strong>Paraty</strong><br />

o Comitê Executivo Pró-Unesco e o IPHAN. Dentre as ações estratégicas<br />

da campanha, foi proposto a realização <strong>de</strong> um inventário <strong>do</strong>s bens cul-<br />

turais <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Município, como forma <strong>de</strong> envolver<br />

a população na campanha. As reuniões foram realizadas <strong>em</strong> 26 locais,<br />

nas escolas públicas.<br />

223


224


7 Documentação<br />

7.a Fotos, diapositivos, filmes ou ví<strong>de</strong>os<br />

Estão apresenta<strong>do</strong>s no Anexo I:<br />

7.b Textos relativos à proteção, plano <strong>de</strong> gestão e<br />

legislação<br />

Vi<strong>de</strong> anexo.<br />

7.c Forma e data <strong>do</strong>s inventários mais recentes<br />

Inventário Nacional <strong>de</strong> Bens Imóveis <strong>em</strong> Sítios Históricos<br />

Urbanos Tomba<strong>do</strong>s – IPHAN - 2003<br />

Conjunto Arquitetônico e Paisagístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>Caminho</strong>s <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro - Inventário <strong>de</strong> bens culturais - Secretaria Estadual <strong>de</strong><br />

Cultura -<strong>Programa</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento territorial <strong>de</strong> caminhos<br />

singulares <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro/ SEBRAE - 2005.<br />

Registro Multimídia <strong>do</strong> Patrimônio - 2004<br />

Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios e Monumentos Nacionais -Direção <strong>de</strong><br />

Serviços <strong>de</strong> Inventário e Divulgação – Lisboa – Portugal<br />

Plano <strong>de</strong> Manejo <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina - 2002<br />

Pano <strong>de</strong> Manejo da APA <strong>do</strong> Cairuçú - 2003<br />

Plano <strong>de</strong> Manejo da Estação Ecológica <strong>de</strong> Tamoios, 2006


226<br />

7.d En<strong>de</strong>reços on<strong>de</strong> inventários e arquivos são manti<strong>do</strong>s<br />

Escritórios <strong>do</strong> IPHAN no Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />

Avenida Rio Branco nº 46 – 3º andar - Cep: 20090-002 Centro -<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro / RJ<br />

Praça Monsenhor Hélio Pires nº 11 - Cep: 23970-000 - Bairro<br />

Histórico - <strong>Paraty</strong> / RJ<br />

INEPAC – Secretaria <strong>de</strong> Cultura <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Rua da Ajuda, 5 – 13º Andar – Cep: 20040-000 – Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Representação local <strong>do</strong> IBAMA – Parque Nacional da Serra da<br />

Bocaína:<br />

Diretor: Dalton Novaes<br />

End: Ro<strong>do</strong>via Estadual da Bocaína –SP 221, s/nº- Fazenda <strong>do</strong><br />

Pau-D’ Alho, São José <strong>do</strong> Barreiro / SP<br />

Representação local <strong>do</strong> IBAMA – APA <strong>do</strong> Cairuçú :<br />

Diretor: Marcelo Pessanha<br />

End: Rua 08, nº 3 - CEP 23970-000- Portal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> - <strong>Paraty</strong> / RJ<br />

Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />

End: Alameda Princesa Isabel , s/n , Pontal –<br />

23970-000 <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

O material relativo à esta inscrição encontra-se no:<br />

Instituto Histórico e Artístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Largo <strong>de</strong> Santa Rita – Antiga Ca<strong>de</strong>ia


227


228<br />

7.e Bibliografia<br />

ABREU, Capistrano <strong>de</strong>. Capítulos <strong>de</strong> História Colonial, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Li-<br />

vraria Briguiet, 1954.<br />

ADONIAS, Isa. MAPA; Imagens da Formação Territorial Brasileira, Funda-<br />

ção Emílio O<strong>de</strong>brecht, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1993.<br />

ALENCASTRO, Luiz Felipe <strong>de</strong>, O Trato <strong>do</strong>s Viventes, Formação <strong>do</strong> Brasil<br />

no Atlântico Sul, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.<br />

ANTONIL, André João, Cultura e Opulência <strong>do</strong> Brasil, Belo Horizonte,<br />

Editora Itatiaia, 1997.<br />

ARAÚJO, Emanuel, O Teatro <strong>do</strong>s Vícios, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora José<br />

Olympio, 1997.<br />

AZEVEDO, Arol<strong>do</strong>. Vilas e cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Brasil Colonial. FFCR - Boletim <strong>do</strong><br />

Departamento <strong>de</strong> Geografia da USP, 1955.<br />

AZEVEDO, Paulo Ormin<strong>do</strong> <strong>de</strong>. Urbanismo <strong>de</strong> Traça<strong>do</strong> Regular nos Dois<br />

Primeiros Séculos da Colonização Brasileira - Origens. In: Colectânea <strong>de</strong><br />

Estu<strong>do</strong>s - Universo Urbanístico Português 1415-1822, Lisboa: Comissão<br />

Nacional para as Com<strong>em</strong>orações <strong>do</strong>s Descobrimentos Portugueses, 1998.<br />

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BOXER, Charles R, A Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>do</strong> Brasil: Dores <strong>de</strong> Crescimento <strong>de</strong><br />

Uma Socieda<strong>de</strong> Colonial, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2000.<br />

. Salva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> Sá and the Struggle for Brazil and Angola 1602-1686,<br />

Universitary of Lon<strong>do</strong>n, The Athlone Press, 1952.<br />

BRITO, Bernar<strong>do</strong> Gomes <strong>de</strong>, História Trágico Marítima, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Lacerda Editores / Contraponto, 1998.<br />

BUENO, Eduar<strong>do</strong>, A Viag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Descobrimento, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora<br />

Objetiva, 1998.<br />

jetiva, 1998.<br />

. Náufragos, Traficantes e Degreda<strong>do</strong>s, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Editora Ob-<br />

. Capitães <strong>do</strong> Brasil, Rio <strong>de</strong> Janeiro,Editora Objetiva, 1998.<br />

CASADEI, Thalita <strong>de</strong> Oliveira. <strong>Paraty</strong> – uma vida uma sauda<strong>de</strong>. Editora<br />

Sol Nascente, Niterói/RJ, 1998.<br />

CASAL, Manuel Aires <strong>de</strong>, Corografia Brasílica ou Relação Históricogeo-<br />

gráfica <strong>do</strong> Reino <strong>do</strong> Brasil, Belo Horizonte, Editora Itatiaia, São Paulo, Ed.<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 1976.<br />

CONSÓRCIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO INTEGRADO. Plano <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento Integra<strong>do</strong> e Proteção <strong>do</strong> Bairro Histórico <strong>do</strong> Município


<strong>de</strong> Parati. IPHAN/ Ministério da Educação e Cultura, books 1,2 and 3, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, 1972.<br />

COTRIM, Cássio Ramiro Mohall<strong>em</strong>. <strong>Paraty</strong>: Um perfil Histórico <strong>de</strong> <strong>sua</strong><br />

Riqueza Econômica. In SENE, Maria e outros - Julia Mann: uma vida entre<br />

duas culturas. São Paulo, Editora Estação Liberda<strong>de</strong> Ltda.,1997.<br />

CUNHA, Washington Denner <strong>do</strong>s Santos. Crime e Cotidiano <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>:<br />

1840-1888. Instituto <strong>de</strong> Filosofia e Ciências Humanas/ UERJ. Rio <strong>de</strong> Janei-<br />

ro, 1994 (monography).<br />

CURY, Isabelle. A Evolução Urbana e Fundiária <strong>de</strong> Parati <strong>do</strong> século XVII<br />

até o século XX, <strong>em</strong> face da a<strong>de</strong>quação das normas <strong>de</strong> proteção <strong>de</strong> seu<br />

patrimônio cultural. São Paulo, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, FAU-USP,<br />

2002. (Master’s Degree Thesis)<br />

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S/A, 1997.<br />

SOUZA, Laura <strong>de</strong> Mello e; BICALHO, Maria Fernanda Baptista. Viran<strong>do</strong><br />

Séculos, São Paulo, companhia <strong>de</strong> Letras, 2000.<br />

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TAUNAY, Affonso <strong>de</strong> E. Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> História Paulista. São Paulo, Diário<br />

Oficial, Editores J. Leite & Cia, 1927.<br />

TEIXEIRA, Manuel C, e VALLA, Margarida. O Urbanismo Português, Sé-<br />

culos XII - XVIII, Portugal - Brasil. Lisboa/ Portugal, Livros Horizonte, 1999.<br />

VASCONCELOS, Diogo. História Antiga das Minas Gerais, Belo Horizon-<br />

te, Editora Itatiaia, 1999.<br />

1999.<br />

. História Média das Minas Gerais, Belo Horizonte, Editora Itatiaia,<br />

233


234


8 Informações<br />

sobre as<br />

autorida<strong>de</strong>s responsáveis<br />

PREFEITURA MUNICIPAL DE PARATY<br />

Prefeito: José Carlos Porto Neto<br />

End: Alameda Princesa Isabel, s/n - Pontal. – Cep: 23970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Tel. (24) 3371.9900<br />

8.a Preparação <strong>do</strong> <strong>do</strong>ssiê<br />

COMITÊ EXECUTIVO PRO-UNESCO<br />

Amaury Barbosa - Presi<strong>de</strong>nte. Sociólogo gradua<strong>do</strong> <strong>em</strong> Ciências Ambientais<br />

Diuner Mello - Historia<strong>do</strong>r<br />

Maria José S. Rameck - Coor<strong>de</strong>nação e revisão administrativa<br />

End: Instituto Histórico e Artístico <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Largo <strong>de</strong> Santa Rita/Antiga Ca<strong>de</strong>ia – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Tel: (24) 3371.1056<br />

Email: comiteprounesco@paratyweb.com.br<br />

COORDENAÇÃO GERAL<br />

José Pedro <strong>de</strong> Oliveira Costa - Professor da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e<br />

Urbanismo da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo<br />

COORDENAÇÃO DE PATRIMÔNIO CULTURAL E REDAÇÃO DE TEXTOS<br />

Isabelle Cury - Master´s of Science, IPHAN-RJ<br />

COORDENAÇÃO AMBIENTAL E CARTOGRÁFICA<br />

Adriana <strong>de</strong> Queirós Mattoso - Arquiteta<br />

PESQUISADORES DO CAMINHO DO OURO<br />

João Fernan<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Oliveira<br />

Marcos Caetano Ribas


236<br />

TEXTOS<br />

Adriana <strong>de</strong> Queirós Mattoso<br />

Amaury Barbosa<br />

Carlos Fernan<strong>do</strong> <strong>de</strong> Moura Delphin<br />

Diuner José Mello da Silva<br />

Isabelle Cury<br />

José Pedro <strong>de</strong> Oliveira Costa<br />

Julio Cézar Dantas<br />

Maria Brasilícia Dall’Anese<br />

Maria Luiza Luna Dias<br />

Marcos Caetano Ribas<br />

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO<br />

Silvia Finguerut<br />

CONSULTORIA<br />

Suzana Sampaio<br />

CARTOGRAFIA<br />

Arcplan<br />

DESIGN GRÁFICO<br />

Inventum Design<br />

IMPRESSÃO<br />

Sir Speedy<br />

FOTÓGRAFOS<br />

(AA) Araquém Alcântara, (AM) Adriana Mattoso, (DJMS) Diuner José Mello<br />

da Silva, (FPC) Fausto Pires <strong>de</strong> Campos, (DJOB) Dom João <strong>de</strong> Orleans e<br />

Bragança, (JP) Juvenal Pereira, (LC) Lia Capovilla, (LS) Luciana Serra, (OT) Og<br />

Torres, (PA) Patrick Allien, (RA) Renato <strong>do</strong>s Anjos, (RBR) Richard Barclay<br />

Roberts, (RR/MR) Rachel Ribas/Marcos Ribas, (TM) Theresa Maia, (TV) Tuca<br />

Vieira, (VF) Vald<strong>em</strong>ir Ferreira.<br />

FOTOS ANTIGAS E ILUSTRAÇÕES<br />

Acervos: (IHAP) João S. Miranda/IHAP, (DGEMN) Direção Geral <strong>de</strong> Edifícios<br />

e Monumentos Nacionais, (PDT) Plano Diretor <strong>de</strong> Turismo, (PMP) Prefeitura<br />

Municipal <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e arquivos pessoais <strong>do</strong>s cidadãos paratienses.<br />

Ilustrações: Patricia Sada, Rachel Ribas, Tom Maia, José Pedro <strong>de</strong> Ol-<br />

iveira Costa.


PATROCINADORES<br />

Antonio Carlos Canto Porto Filho, Arnal<strong>do</strong> Colluci, Banco Itaú S.A., Carmo<br />

e Jovelino Mineiro, Eletronuclear, Emiliano Empreendimentos e Partici-<br />

pações Hoteleiras Ltda., Fundação Arruda Botelho, Fundação Roberto Mar-<br />

inho, Henrique <strong>de</strong> Almeida, Instalmax, João Augusto Pereira <strong>de</strong> Queiroz,<br />

Ministério <strong>do</strong> Turismo, Oi, Osval<strong>do</strong> <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Junior, Pedro Augusto Perei-<br />

ra <strong>de</strong> Queiroz, Resort Portobello Ltda., Roberto Irineu Marinho, São Gonça-<br />

lo Empreendimentos Imobiliários e Urbanísticos Ltda., SOS Mata Atlântica,<br />

Thomaz Farkas e Vivo.<br />

COLABORADORES DESTE DOSSIÊ<br />

Acácio Luiz, Álvaro Luiz <strong>de</strong> Assumpção, Antonio Álvaro Rodrigues Foz An-<br />

tonio Ricarte, Ariel Antonio Selene, Arman<strong>do</strong> Martins <strong>de</strong> Barros, Berndt<br />

Von Droste, Carlos Eduar<strong>do</strong> Guimarães, Carolina Campos, Corina Tarsila <strong>de</strong><br />

Oliveira Rocha, Delmo Manoel Pinho, Domingos Oliveira, Eliane Tomé S.<br />

Oliveira, Flor e Gilberto Carvalho, Gleyson Rocha, Helena e José Carlos <strong>de</strong><br />

Oliveira Freire, Jean-Pierre Halévy, João Carlos Miranda Freire, Dom João <strong>de</strong><br />

Orleans e Bragança, José Cláudio <strong>de</strong> Araújo, Lia Capovilla, Lúcia Basto, Luiz<br />

Arman<strong>do</strong> França <strong>de</strong> Carvalho, Luiz Filipe <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> Soares, Luzia Me<strong>de</strong>i-<br />

ros, Marcelo Dantas, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Zuquim, Marília van Boekel Cheola,<br />

Mário Augusto Bernar<strong>de</strong>s Ron<strong>do</strong>n, Mario Jura<strong>do</strong>, Marli Ângela Mariano,<br />

Milena Moraes, Nena Gama, Paulo Dartanham Marques <strong>de</strong> Amorim, Paulo<br />

França, Raquel Ribas, Saint Clair Valente Castro, Silvio Luiz Veloso, Thays<br />

Pessotto Zugliani, Vald<strong>em</strong>ir Ferreira.<br />

COMERCIANTES QUE CONTRIBUIRAM PARA O DOSSIÊ<br />

Hotel Canoas, Hotel Coxixo, Parque Hotel Perequê, Pousada Aconchego,<br />

Pousada Água Viva, Pousada <strong>do</strong> Cais, Pousada <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong>, Pousada <strong>do</strong> Prínci-<br />

pe, Pousada <strong>do</strong> Sândi, Pousada Pôr <strong>do</strong> Sol, Pousada Porto Imperial, Pousada<br />

Provence, Pousada Varandas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, Pousada Vila Harmonia, Pousada<br />

Villa Del Sol, Restaurante Acad<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> Cozinha, Restaurante Banana da<br />

Terra, Restaurante da Matriz, Restaurante <strong>do</strong> Hiltinho, Restaurante Refúgio,<br />

Restaurante Santa Rita.<br />

8.b Instituições Oficiais Locais<br />

PREFEITURA MUNICIPAL DE PARATY<br />

Prefeito: José Carlos Porto Neto<br />

En<strong>de</strong>reço: Alameda Princesa Isabel, s/n, Pontal – Cep: 23970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Tel. (24) 3371.9900<br />

237


238<br />

CÂMARA MUNICIPAL DE PARATY<br />

Presi<strong>de</strong>nte: An<strong>de</strong>rson Rangel Antunes <strong>de</strong> Vasconcellos<br />

En<strong>de</strong>reço: Rua Dr. Samuel Costa, 23 /25 – <strong>Paraty</strong> – RJ – Cep. 23970 -000<br />

Tel. (24) 3371.1424 – E-mail: camara@paraty.rj.gov.<br />

8.c Instituições Locais<br />

ASSOCIAÇÃO CASA AZUL<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Mauro Munhoz<br />

Alam. Princesa Isabel, s/nº - Pontal<br />

Tel. (24) 337l.7082<br />

Email: mauro@casaazul.org.br<br />

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE PARATY<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Carlos José Gama Miranda<br />

Tel. (24) 337l.2095<br />

Email: acip@terra.com.br<br />

ASSOCIAÇÃO PARATY CULTURAL – CASA DA CULTURA<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Rodrigo Cunha<br />

Gerência Executiva: Milena Moraes<br />

Rua Dona Geralda, 37 – Centro Histórico – Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Tel. (24) 3371.2325<br />

Email: milena.moraes@casadaculturaparaty.org.br<br />

COMAMP - CONSELHO MUNICIPAL DE ASSOCIAÇÕES DE<br />

MORADORES DE PARATY<br />

Presi<strong>de</strong>nte: José Joaquim Bittencourt<br />

Caixa Postal: 74 957 – Cep: 23 970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Tel. (24) 3371.4296<br />

Email: comamp.paraty@gmail.com.br<br />

ESPAÇO CULTURAL DE PARATY<br />

Marcos Caetano Ribas<br />

Rua Dona Geralda, 327 – Centro Histórico – Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Tel. (24) 3371.1240<br />

Email: rachel@ecparaty.org.br


INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN<br />

Chefe <strong>do</strong> Escritório Técnico: Cynthia V. Tarrisse da Fontoura<br />

Praça da Matriz, s/n° - <strong>Paraty</strong> – RJ, Cep. 23970 – 000<br />

Tel. (24) 3371.2051 - 3371.2180<br />

Email: etecparaty@iphan.gov.br<br />

INSTITUTO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DE PARATY – IHAP<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Maria José S. Rameck<br />

Largo da Santa Rita – Antiga Ca<strong>de</strong>ia – <strong>Paraty</strong> – RJ – Cep. 23970 – 000<br />

Telefax (24) 3371.1056<br />

E-mail: ihap@ihap.org.br<br />

MUSEU DE ARTE SACRA E FORTE DEFENSOR PERPÉTUO<br />

Diretor: Júlio César Dantas<br />

Igreja <strong>de</strong> Santa Rita, Largo <strong>de</strong> Sta. Rita s/n. Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Fones: 3371.1620 e 3371.2133<br />

SECRETARIA DE TURISMO E CULTURA<br />

Secretária: Renata Cristina <strong>de</strong> Castro<br />

Av. Roberto da Silveira, s/n. Chácara – Cep: 23.970-000 – <strong>Paraty</strong> – RJ<br />

Tel. (24) 3371.1222 - 3371.1897 - 3371.1760<br />

Email: sectur@pm.paraty.rj.gov.br<br />

SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS - SEBRAE<br />

Analista Responsável: Maria Auxilia<strong>do</strong>ra Dabela da Silva<br />

Av. Roberto da Silveira, 149, sala 7<br />

Telefax (24) 3371.2150<br />

Email: masilva@rj.sebrae.com.br e www.sebraerj.com.br<br />

239


240


9 Assinaturas<br />

<strong>em</strong> nome<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-M<strong>em</strong>bro<br />

Instituto <strong>do</strong> Patrimônio Histórico e Artístico Nacional<br />

LUIZ FERNANDO DE ALMEIDA<br />

Prefeito <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

JOSÉ CARLOS PORTO NETO


242


Anexos<br />

Visão <strong>do</strong> paraíso<br />

O <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong><br />

As Tropas<br />

Prospecto Arquitetônico<br />

A Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>do</strong> Brasil<br />

Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Methuen<br />

Indica<strong>do</strong>res da paisag<strong>em</strong><br />

Pau brasil<br />

Parque Nacional da Serra da Bocaina - PNSB<br />

Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>de</strong> Cairuçu<br />

Reserva Ecológica da Juatinga<br />

APA da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

Festas Religiosas<br />

Legislação<br />

Plano <strong>de</strong> Gestão da Candidatura <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>


244<br />

Visão <strong>do</strong> paraíso<br />

Sergio Buarque <strong>de</strong> Holanda<br />

“Não só o DESLUMBRAMENTO <strong>de</strong> um Colombo divisava as <strong>sua</strong>s índias e as<br />

pintava, ora segun<strong>do</strong> os mo<strong>de</strong>los edênicos provin<strong>do</strong>s largamente <strong>de</strong> esque-<br />

mas literários, ora segun<strong>do</strong> os próprios termos que tinham servi<strong>do</strong> aos poetas<br />

gregos e romanos para exaltar a ida<strong>de</strong> feliz, posta no começo <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos,<br />

quan<strong>do</strong> um solo generoso, sob constante primavera dava <strong>de</strong> si espontanea-<br />

mente os mais saborosos frutos, on<strong>de</strong> os homens, insetos da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada<br />

cobiça ( pois tu<strong>do</strong> tinham s<strong>em</strong> esforço e <strong>de</strong> sobejo ), não conheciam “ferros,<br />

n<strong>em</strong> aço, n<strong>em</strong> armas”, n<strong>em</strong> eram aptos para eles – são estas, aliás, as própri-<br />

as palavras <strong>de</strong> que se servirá o genovês ao tratar <strong>do</strong>s gentios das ilhas <strong>de</strong>sco-<br />

bertas - , mas até os <strong>de</strong> mais profun<strong>do</strong> e repousa<strong>do</strong> saber, se inclinavam a<br />

encarar os mun<strong>do</strong>s novos sob a aparência <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los antigos.<br />

...<br />

Esse pensamento justificaria as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> Colombo quan<strong>do</strong> <strong>sua</strong> im-<br />

aginação <strong>de</strong>slumbrada lhe apresentava as terras <strong>de</strong>scobertas sob aspec-<br />

tos paradisíacos e, ainda mais, quan<strong>do</strong> pretendia que nelas ou por elas<br />

seria da<strong>do</strong> ao gênero humano regenerar-se à espera <strong>do</strong> Dia <strong>do</strong> Juízo. N<strong>em</strong><br />

po<strong>de</strong>ria pensar muito diversamente qu<strong>em</strong> acreditava que, num sitio<br />

daquelas partes, se encontrava o próprio horto on<strong>de</strong> o Senhor colocara o<br />

primeiro hom<strong>em</strong>. Pretensão, esta, que o Almirante não se limitara a expor<br />

aos reis católicos, mas que chegara a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r até perante o Sumo<br />

Pontífïce, na carta que dirige <strong>em</strong> 1502, a Sua Santida<strong>de</strong> pedin<strong>do</strong> a r<strong>em</strong>es-<br />

sa <strong>de</strong> seis missionários. “Creí”, escreve, com efeito, “y creo aquello que<br />

creyeron y creen to<strong>do</strong>s santos y sábios teólogos que alli, <strong>em</strong> la comarca,<br />

es el Paraíso terrenal”. A comarca situava-se naturalmente, nas regiões ao<br />

sul <strong>do</strong> Pária, on<strong>de</strong> se estendiam terras infinitas.<br />

...<br />

... nada perdia o cenário americano, para numerosos viajantes, <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s<br />

misteriosas e inegáveis possibilida<strong>de</strong>s. Ali o milagre parecia novamente<br />

incorpora<strong>do</strong> à natureza: uma natureza ainda cheia <strong>de</strong> graça matinal, <strong>em</strong><br />

perfeita harmonia e correspondência com o Cria<strong>do</strong>r. Colombo, s<strong>em</strong> dis-<br />

<strong>sua</strong>dir-se <strong>de</strong> que atingira pelo Oci<strong>de</strong>nte as partes <strong>do</strong> Oriente, julgou-se<br />

<strong>em</strong> outro mun<strong>do</strong> ao avistar a costa <strong>do</strong> Pária, on<strong>de</strong> tu<strong>do</strong> lhe dizia estar o<br />

caminho <strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro Paraíso Terreal.


Ganha com isso o seu significa<strong>do</strong> pleno aquela expressão “Novo Mun-<br />

<strong>do</strong>”, que o próprio <strong>de</strong>scobri<strong>do</strong>r estava na iminência <strong>de</strong> <strong>em</strong>pregar e que o<br />

humanista <strong>de</strong> Anghiera cunharia, antes mesmo <strong>de</strong> Vespúcio, para <strong>de</strong>sig-<br />

nar as terras <strong>de</strong>scobertas. Novo, não só porque, ignora<strong>do</strong>, até então, das<br />

gentes da Europa e ausente da geografia <strong>de</strong> Ptolomeu, fora “novamente”<br />

encontra<strong>do</strong>, mas porque parecia o mun<strong>do</strong> renovar-se ali, e regenerar-se,<br />

vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> imutável, banha<strong>do</strong> numa perene primavera, alheio à<br />

varieda<strong>de</strong> e aos rigores das estações, como se estivesse verda<strong>de</strong>iramente<br />

restituí<strong>do</strong> à gloria <strong>do</strong>s dias da Criação.<br />

...<br />

O TEMA PARADISÍACO <strong>em</strong> esta<strong>do</strong> puro, e não através <strong>de</strong> longínquas re-<br />

frações, aparece, aliás, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ce<strong>do</strong>, e a propósito <strong>do</strong> Brasil, <strong>em</strong> um texto<br />

<strong>de</strong> Américo Vespúcio, narra<strong>do</strong>r muito mais sóbrio e objetivo <strong>do</strong> que Co-<br />

lombo. Efetivamente, na carta chamada Bartolozze, redigida <strong>em</strong> 1502, a<br />

abundância e viço das plantas e flores <strong>em</strong> nossas matas, o <strong>sua</strong>ve aroma<br />

que <strong>de</strong>las <strong>em</strong>ana, e ainda o sabor das frutas e raízes, chegam a sugerir ao<br />

florentino a impressão da vizinhança <strong>do</strong> Paraíso Terreal.<br />

...<br />

“Quorum proprietates si nobis note essent non dubito quin huma-<br />

nis corporis saluti forent, et certe si paradisus terrestris in aliqua sit<br />

terra parte, non longe ab illis regionibus distare extimo”.<br />

H. Vignaud, Mundus Novus, atribuída a Américo Vespúcio<br />

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246<br />

O <strong>Caminho</strong> Do <strong>Ouro</strong><br />

A História <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong><br />

CASA DOS QUINTOS<br />

Marcos Caetano Ribas<br />

Ocupadas, por um Escrivão e um fundi<strong>do</strong>r que trabalhavam sob as or<strong>de</strong>ns<br />

<strong>de</strong> um Prove<strong>do</strong>r, as Casas <strong>do</strong>s Quintos, também chamadas <strong>de</strong> Registros<br />

eram verda<strong>de</strong>iras alfân<strong>de</strong>gas, on<strong>de</strong> os viajantes, além <strong>de</strong> pagar os impos-<br />

tos, tinham que apresentar um passaporte quan<strong>do</strong> estavam in<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />

província para outra.<br />

Ali, tinham <strong>sua</strong>s cargas e malas examinadas para ver se levavam contra-<br />

ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> ouro e diamante e se o seu conteú<strong>do</strong> conferia com as guias que<br />

traziam. Os escravos eram também conferi<strong>do</strong>s, e seus papéis, checa<strong>do</strong>s.<br />

O principal objetivo <strong>de</strong>ssas casas, pelo menos no início <strong>de</strong> <strong>sua</strong> criação, era<br />

cobrar o imposto relativo à extração <strong>do</strong> ouro, que era <strong>de</strong> 20%, ou seja, um<br />

quinto <strong>do</strong> ouro extraí<strong>do</strong> – daí o nome. Também era cobra<strong>do</strong>s um imposto<br />

sobre a circulação <strong>de</strong> escravos e merca<strong>do</strong>rias <strong>em</strong> geral e um pedágio.<br />

Segun<strong>do</strong> uma carta <strong>do</strong> Governa<strong>do</strong>r da Capitania <strong>de</strong> São Paulo, Antônio<br />

da Silva Pimentel, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1728, o valor <strong>do</strong> imposto era <strong>de</strong><br />

“duas patacas e quatro vinténs por pessoa e quatro patacas por cavalo”.<br />

Nos primeiros momentos da exploração das minas, no fim <strong>do</strong> século XVII<br />

e início <strong>do</strong> século XVIII, o ouro era fundi<strong>do</strong> nessas casas e transforma<strong>do</strong> <strong>em</strong><br />

barretas <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z centímetros <strong>de</strong> comprimento por <strong>do</strong>is <strong>de</strong> largura, nas<br />

quais se imprimia: a marca da Coroa portuguesa, o teor <strong>de</strong> pureza (quantos<br />

quilates – que se i<strong>de</strong>ntificava pela palavra “toque”) e outras informações rela-<br />

tivas ao pagamento da taxa real. A isto se chamava “quintar“ o ouro.<br />

EM PARATY<br />

A Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> foi criada por uma Carta Régia <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong><br />

maio <strong>de</strong> 1703 e instalada na estrada da Serra <strong>do</strong> Facão, com a função <strong>de</strong><br />

cobrar o pedágio e o imposto sobre o ouro e outras merca<strong>do</strong>rias.<br />

Foi nomea<strong>do</strong> Prove<strong>do</strong>r Carlos Pedroso da Silveira, paulista <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

importância nos primeiros <strong>de</strong>scobertos das minas, transferi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Registro<br />

<strong>de</strong> Taubaté. Foram nomea<strong>do</strong>s também um escrivão e um fundi<strong>do</strong>r, que<br />

“fundi<strong>do</strong> o ouro <strong>em</strong> barretas, lhe põ<strong>em</strong> o cunho real, sinal <strong>do</strong> quinto que<br />

se pagou a El-Rei”


Em 1701, Luís da Silva havia si<strong>do</strong> manda<strong>do</strong> <strong>de</strong> Portugal como fundi<strong>do</strong>r e<br />

cunha<strong>do</strong>r, trazen<strong>do</strong> consigo um engenho (aparelho para fundir e cunhar)<br />

que <strong>de</strong>via ser monta<strong>do</strong> <strong>em</strong> Taubaté. O tal engenho jamais conseguiu<br />

vencer a difícil subida pela precária trilha da Serra <strong>do</strong> Facão, que naque-<br />

le t<strong>em</strong>po ainda não <strong>de</strong>via permitir a passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> carga, e<br />

teve que ficar pelo meio <strong>do</strong> caminho. Talvez por força <strong>de</strong>sta mesma cir-<br />

cunstância, Luís da Silva acabou se tornan<strong>do</strong> o primeiro fundi<strong>do</strong>r <strong>do</strong><br />

Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

O primeiro escrivão foi Manuel <strong>de</strong> Proença Rebello Castello Branco, que<br />

mais tar<strong>de</strong> foi transferi<strong>do</strong> para o Registro <strong>de</strong> Paraíba, no <strong>Caminho</strong> Novo.<br />

Uma nova Carta Régia, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1704, man<strong>do</strong>u extinguir todas<br />

as casas <strong>de</strong> Registro, com exceção <strong>de</strong> duas, a <strong>de</strong> Santos e a <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, d<strong>em</strong>ons-<br />

tran<strong>do</strong> a importância que a Coroa portuguesa dava ao porto paratiense.<br />

Em 1710, com a abertura <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> Novo e a instalação <strong>do</strong> Registro <strong>de</strong><br />

Paríba Velha, Portugal proibiu o uso da estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> para o transporte <strong>do</strong><br />

ouro das minas novas, e a Casa <strong>do</strong>s Quintos <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> quintar ouro<br />

(fundir). O fundi<strong>do</strong>r Luís da Silva foi envia<strong>do</strong> <strong>de</strong> volta para Portugal.<br />

Cinco anos <strong>de</strong>pois, o povo <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> pediu requerimento para o Rei <strong>de</strong><br />

Portugal que a estrada fosse novamente liberada, e foi atendi<strong>do</strong> por uma<br />

carta Régia, <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> maio.<br />

REGISTRO DA SERRA<br />

Mesmo s<strong>em</strong> quintar ouro, o Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> seguiu funcionan<strong>do</strong>. Um<br />

regime para estabelecer os procedimentos e regular o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cobran-<br />

ça <strong>do</strong> Registro foi cria<strong>do</strong> <strong>em</strong> 1726 pelo autoritário governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro Luiz Vahia Monteiro, também conheci<strong>do</strong> como o “Onça“. Em<br />

“Ord<strong>em</strong> apartada”, este governa<strong>do</strong>r <strong>de</strong>terminou ao Prove<strong>do</strong>r que co-<br />

brasse ainda um tributo <strong>de</strong> 40 réis por pessoa e por cavalo que passas-<br />

s<strong>em</strong>. Isto motivou uma reclamação da Câmara <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, que recebeu<br />

como resposta uma repreensão <strong>do</strong> governa<strong>do</strong>r, dizen<strong>do</strong> que esta contri-<br />

buição era para ser repartida entre os solda<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Registro, já que “nin-<br />

guém po<strong>de</strong> estar trabalhan<strong>do</strong> e fazen<strong>do</strong> o serviço <strong>de</strong>bal<strong>de</strong>” e que eles, os<br />

oficiais da Câmara, <strong>de</strong>veriam ser os primeiros a dar o seu apoio.<br />

Em 1736, uma Carta Régia or<strong>de</strong>nou que o Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Ja-<br />

neiro, Gomes Freire <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, fizesse por conta da Real Fazenda uma<br />

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248<br />

casa com “acomodação para quarenta solda<strong>do</strong>s e um capitão ... dan<strong>do</strong><br />

quartel a infantaria que se acha na guarda <strong>de</strong>ste Registro”.<br />

Pelos termos <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento, fica a impressão <strong>de</strong> que este quartel foi<br />

construí<strong>do</strong> na vila <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> e não no local <strong>do</strong> Registro. A tropa <strong>de</strong> qua-<br />

renta solda<strong>do</strong>s aos quais se <strong>de</strong>stinava era toda <strong>de</strong> guarnição que cuidava<br />

também da proteção da cida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> controle das <strong>em</strong>barcações, conferin-<br />

<strong>do</strong> o pagamento <strong>de</strong> outros impostos, como o <strong>do</strong> sal, por ex<strong>em</strong>plo, men-<br />

ciona<strong>do</strong> no mesmo <strong>do</strong>cumento.<br />

Em 1775, Martim Lopes Lobo <strong>de</strong> Saldanha, que viajava <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

para São Paulo para assumir o cargo <strong>de</strong> Capitão-General, enviou um ofício ao<br />

Vice-Rei Marquês <strong>do</strong> Lavradio, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> com <strong>de</strong>talhes a viag<strong>em</strong> e mencio-<br />

nan<strong>do</strong> um pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> guarnição da Casa <strong>de</strong> Registro <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> – o <strong>de</strong>staca-<br />

mento <strong>de</strong> milícia <strong>do</strong>s “Auxiliares <strong>do</strong> Terço” para mudar o Registro da localida-<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong> Boca <strong>do</strong> Inferno para o local conheci<strong>do</strong> como Cachoeira.<br />

Por esta informação <strong>de</strong>duz-se que, naquele momento, a guarda <strong>do</strong><br />

registro era feita por “tropa auxiliar”, ou seja, milicianos locais que rece-<br />

biam como sol<strong>do</strong> apenas “ 3 quartas <strong>de</strong> farinha por mês” , e não “tropas<br />

e linha”, profissionais, pagos pelo governo, o que justificava a ord<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />

governa<strong>do</strong>r Luiz Vahia Monteiro <strong>em</strong> 1726.<br />

Em <strong>do</strong>cumento <strong>de</strong> 1804, o Coronel João Aires da Gama, Chefe <strong>do</strong><br />

Regimento <strong>de</strong> Milícias <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, informou que até 1765 os registros foram<br />

guarneci<strong>do</strong>s por tropas regulares (“<strong>de</strong> linha“) mandadas <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janei-<br />

ro: “<strong>em</strong> atenção a guerra e por precisão <strong>de</strong> tropa que <strong>de</strong>stacou então o<br />

sul, se retirou o Destacamento fican<strong>do</strong> suprin<strong>do</strong> o serviço <strong>do</strong>s Registros a<br />

Tropa Auxiliar que havia, pratican<strong>do</strong> esta hum igual zelo, s<strong>em</strong> que houves-<br />

se diminuição algua athe o anno <strong>de</strong> 1793, que <strong>de</strong>stacou para a mesma<br />

Vila bua Companhia <strong>do</strong> Regimento d’Estr<strong>em</strong>os pela <strong>de</strong>sconfiança da guer-<br />

ra, e nela se conservou te o anno <strong>de</strong> 1797,que por ord<strong>em</strong> <strong>do</strong> Exmo. Snr.<br />

Vice-Rei, retirou a dita compania para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, fican<strong>do</strong> ultima-<br />

mente aqueles registros guarneci<strong>do</strong>s pela Tropa <strong>de</strong> Regimento <strong>de</strong> Milícias<br />

da mesma Vila como atualmente se conserva s<strong>em</strong> alteração algua”.<br />

Em algum momento, no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong> entre 1775, data da carta<br />

<strong>de</strong> Lobo <strong>de</strong> Saldanha, e 1790, o registro foi <strong>de</strong>sloca<strong>do</strong> da tal Boca ou Boquei-<br />

rão <strong>do</strong> Inferno, para um local “junto ao Afonso”, “pouco acima <strong>do</strong> lugar<br />

<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> pouzo <strong>do</strong> Souza”, muito provavelmente na área on<strong>de</strong> hoje se<br />

encontra o Sítio Histórico e Ecológico <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> (Sh-eco).


Este lugar, entretanto, parecia ter trazi<strong>do</strong> muitos probl<strong>em</strong>as para a arreca-<br />

dação <strong>do</strong>s impostos e o controle da passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> escravos para a região<br />

<strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Rio Paraíba e para as Minas. Em 1790, o vice-Rei, Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Resen<strong>de</strong>, “aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aos consi<strong>de</strong>ráveis prejuízos que t<strong>em</strong> resulta<strong>do</strong> a<br />

Real Fazenda no extravio <strong>de</strong> oiro e diamantes (...) e ainda mais pela omis-<br />

são e abominável conduta daquelles mesmos que se obrigão a respon<strong>de</strong>r<br />

pela boa arrecadação <strong>do</strong>s Direitos <strong>de</strong> S. Majesta<strong>de</strong> “, or<strong>de</strong>nou à Câmara<br />

<strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> que fizesse mudar o Registro para o lugar chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> Cacho-<br />

eira <strong>do</strong> Martins, “estabelecen<strong>do</strong> nella Quartel para a <strong>sua</strong> guarda, Patru-<br />

lhas e <strong>de</strong>stacamentos.”<br />

Para garantir o bom cumprimento <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s or<strong>de</strong>ns, o Vice-Rei man<strong>do</strong>u<br />

para a cida<strong>de</strong> o Capitão Domingos Francisco Ramos Fialho com a missão<br />

<strong>de</strong> efetuar a mudança e organizar a fiscalização militar. O registro passou<br />

então a se situar on<strong>de</strong> hoje se encontra o bairro <strong>do</strong>s Penha, ao la<strong>do</strong> da<br />

antiga Ponte da Cachoeira, mais tar<strong>de</strong> Ponte <strong>do</strong> Registro, cujos vestígios<br />

ainda pod<strong>em</strong> ser vistos, pouco acima <strong>do</strong> que hoje é conheci<strong>do</strong> como Ca-<br />

choeira <strong>do</strong> Tobogã.<br />

O novo local é realmente mais apropria<strong>do</strong>, que já se encontra entre<br />

<strong>do</strong>is rios: o Rio <strong>do</strong> Souza ou Carrasquinho, que, ao parece, era conheci<strong>do</strong><br />

na época como Cachoeira <strong>do</strong> Martins, e o Perequê-açu. O Rio <strong>do</strong> Souza<br />

cortava a passag<strong>em</strong> das tropas naquele ponto, in<strong>do</strong> <strong>de</strong>saguar no Pere-<br />

quê. Isto forçava os viajantes a cruzar<strong>em</strong> o rio por cima <strong>de</strong> uma laje estrei-<br />

ta (que fica acima da pedra da Cachoeira <strong>do</strong> Tobogã) que dava passag<strong>em</strong><br />

quan<strong>do</strong> as águas estavam calmas. Mais tar<strong>de</strong> foi construída pouco acima<br />

da Ponte <strong>do</strong> Registro, que foi <strong>de</strong>pois substituída por outra que se encon-<br />

tra alguns metros mais abaixo, hoje na estrada asfaltada, e que é reco-<br />

nhecida como Ponte <strong>do</strong> Guia.<br />

Em 1790 o Registro estava s<strong>em</strong> Prove<strong>do</strong>r, sen<strong>do</strong> a função repassada ao<br />

Comandante da Vila, Capitão Francisco Soares da Silva.<br />

Militar competente, o Capitão Domingos estabeleceu para a guarda<br />

regras <strong>de</strong>talhadas que dispunham inclusive sobre como proce<strong>de</strong>r à revista<br />

das mulheres, que <strong>de</strong>veriam ser levadas até a cida<strong>de</strong> “pelos melhores<br />

solda<strong>do</strong>s”, que as encaminhariam `a presença <strong>do</strong> Comandante da Vila,<br />

que <strong>de</strong>veria então “proce<strong>de</strong>r com ellas o que lhe he <strong>de</strong> costuma praticar-<br />

se por <strong>de</strong>cência <strong>do</strong> mesmo sexo”, ou seja, faze-las revistar pela esposa <strong>do</strong><br />

Prove<strong>do</strong>r ( ou no caso, pela <strong>sua</strong> própria), como era <strong>de</strong> praxe.<br />

249


250<br />

Determinou que <strong>do</strong>is solda<strong>do</strong>s fariam uma ronda, in<strong>do</strong> para cima, até o<br />

Souza, e que uma patrulha <strong>de</strong> outros <strong>do</strong>is solda<strong>do</strong>s guarneceria a encru-<br />

zilhada <strong>do</strong> rego d’água ( ainda existente no local), que <strong>de</strong>sce <strong>do</strong> Paço <strong>do</strong><br />

carretão, na parte <strong>do</strong> caminho que por volta <strong>de</strong>ssa época passou a ser<br />

referi<strong>do</strong> como Estrada da patrulha.<br />

Por fim, <strong>de</strong>terminou que a guarda <strong>do</strong> Registro fosse composta por um<br />

total <strong>de</strong> 11 praças, retira<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s 26 solda<strong>do</strong>s existentes na cida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong><br />

“hum Oficial subalterno, hum cabo d’Esquadra e nove solda<strong>do</strong>s”. Or<strong>de</strong>-<br />

nou então a construção <strong>do</strong> quartel, que ficou pronto <strong>em</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro.<br />

Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que as or<strong>de</strong>ns iniciais <strong>do</strong> Vice-Rei Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong><br />

haviam si<strong>do</strong> dadas no dia 3 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro, po<strong>de</strong>-se concluir que as insta-<br />

lações <strong>do</strong> quartel <strong>de</strong>viam ser b<strong>em</strong> simples já que <strong>sua</strong> construção se fez <strong>em</strong><br />

pouco mais <strong>de</strong> um mês. O quartel ficava a “sete braças da parte <strong>de</strong> sima<br />

da Cachoeira”, livre das freqüências inundações que ocorriam no local.<br />

Na carta <strong>em</strong> que Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> passa <strong>sua</strong>s or<strong>de</strong>ns ao Capitão<br />

Domingos Ramos, ela diz que “as pessoas que <strong>de</strong> cima vier<strong>em</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

ser lhe dar busca na forma já dita, se lhe porá nas costas <strong>do</strong> Bilhete que<br />

trouxer no Registro <strong>de</strong> cima = Revisto na Guarda da Cachoeira”, (subli-<br />

nha<strong>do</strong> no original) e para os que sob<strong>em</strong>, a guarda <strong>de</strong>ve colocar “Visto na<br />

Guarda da Cachoeira”.<br />

Esse trecho é muito importante por que esta instrução <strong>de</strong>ixa claro que<br />

havia um posto mais acima da Guarda, on<strong>de</strong> eram efetua<strong>do</strong>s os paga-<br />

mentos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>s e on<strong>de</strong> os viajantes recebiam a guia necessária ou bilhe-<br />

te, que era <strong>de</strong>pois apenas revisto pelos solda<strong>do</strong>s. Ou seja, na Cachoeira<br />

estava o Quartel da Guarda <strong>do</strong> Registro, e mais acima, a Prove<strong>do</strong>ria, da<br />

mesma forma como ainda hoje, nas estradas brasileiras, estão separa<strong>do</strong>s<br />

os postos da fiscalização fazendária <strong>do</strong>s da Polícia Ro<strong>do</strong>viária.<br />

Entanto o Registro s<strong>em</strong> Prove<strong>do</strong>r e a prove<strong>do</strong>ria ao cargo <strong>do</strong> coman-<br />

dante <strong>do</strong> Quartel da cida<strong>de</strong>, o Capitão Domingos <strong>de</strong>cidiu que a guia ou<br />

bilhete <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> ia <strong>de</strong> cima para baixo <strong>de</strong>veria ser feito pela própria guar-<br />

da, indican<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>sua</strong>s or<strong>de</strong>ns que ”<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se lhes dar busca na forma<br />

já dita, se lhes porá no bilhete que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> apresentar ao Snr. Comandan-<br />

te da Vila = Apresentou-se Fulano nesta Guarda da Cachoeira vinda <strong>de</strong> tal<br />

parte, com tantos escravos /pelos seus nomes, e tantos camaradas / da<br />

mesma forma/; <strong>de</strong>o ao manifesto tantas barras <strong>de</strong> ouro, com <strong>sua</strong>s guias<br />

V. <strong>em</strong> tantos <strong>de</strong> tal mez, e asignará com a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> seo Posto.”


Já os que subiam teriam <strong>sua</strong>s guias preparadas pelo Comandante da Vila<br />

e apenas conferidas pelo guarda <strong>do</strong> Registro: “E <strong>em</strong> quanto aos que so-<br />

bir<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve examinar-se o Despacho, que levão, e se nelle vão incluídas<br />

todas as pessoas cont<strong>em</strong>pladas, e achan<strong>do</strong> certo se <strong>de</strong>ixarão passar.”<br />

Po<strong>de</strong>-se concluir que, portanto, que a mudança <strong>de</strong> local e <strong>de</strong> todas as<br />

reestruturações mencionadas anteriormente seguiam or<strong>de</strong>ns militares e<br />

se referiam apenas ao Quartel da Guarda <strong>de</strong> Registro, enquanto que a<br />

Prove<strong>do</strong>ria, que era um órgão civil, continuava no mesmo lugar, estan<strong>do</strong><br />

apenas aban<strong>do</strong>nada por estar s<strong>em</strong> Prove<strong>do</strong>r, que havia si<strong>do</strong> provisoria-<br />

mente substituí<strong>do</strong> pelo Comandante Militar da Vila.<br />

> A.M. – Praia <strong>do</strong><br />

Pontal na baía <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong><br />

251


252<br />

> DJOB – Canoa e<br />

Pesca<strong>do</strong>r na Baía <strong>de</strong><br />

<strong>Paraty</strong>


As Tropas<br />

Marcos Caetano Ribas<br />

Chamavam-se tropas as caravanas <strong>de</strong> animais eqüí<strong>de</strong>os, que por alguns<br />

séculos se constituíram no principal meio <strong>de</strong> transporte terrestre <strong>de</strong> mer-<br />

ca<strong>do</strong>rias <strong>do</strong> Brasil. As tropas possuíam estruturas simples, mas b<strong>em</strong> or-<br />

ganizadas, com sist<strong>em</strong>a próprio <strong>de</strong> funcionamento, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> à função<br />

que cumpriam.<br />

Cada tropa geralmente era li<strong>de</strong>rada pelo proprietário <strong>do</strong>s animais.<br />

Comerciante, mas também <strong>em</strong>presário <strong>de</strong> transporte, este tropeiro ou<br />

arrieiro, como era chama<strong>do</strong>, por um preço combina<strong>do</strong>, carregava <strong>sua</strong>s<br />

mulas e seguia pelos caminhos.<br />

Figura <strong>de</strong> prestígio nas cida<strong>de</strong>s e fazendas que visitava, era espera<strong>do</strong><br />

não só como merca<strong>do</strong>r, mas também como porta<strong>do</strong>r das novida<strong>de</strong>s e das<br />

informações <strong>do</strong> resto <strong>do</strong> país e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com o qual era muitas vezes o<br />

único contato.<br />

“O tropeiro era hom<strong>em</strong> abasta<strong>do</strong>, pois ganhava gordas porcentagens<br />

sobre as merca<strong>do</strong>rias que negociava (...) Altamente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelos<br />

principais <strong>do</strong>s lugares on<strong>de</strong> negociava, <strong>em</strong> muitos casos até confi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> figuras representativas locais,o tropeiro era s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong> recebi<strong>do</strong> nas<br />

casas senhoriais, <strong>de</strong>positário que era <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s e pequenos”.<br />

As tropas eram divididas por lotes – pequenas porções <strong>de</strong> cargueiros<br />

– conduzi<strong>do</strong>s por um “camarada” , que também chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> toca<strong>do</strong>r ou<br />

tange<strong>do</strong>r, e contavam ainda com cozinheiro e um cão <strong>de</strong> guarda. Os lotes<br />

variam <strong>de</strong> tamanho, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da região: 7 mulas no Rio <strong>de</strong> Janeiro, 9<br />

<strong>em</strong> Minas Gerais e 11 no esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Goiás.<br />

Cada animal era capaz <strong>de</strong> levar <strong>de</strong> 6 a 12 arrobas <strong>de</strong> carga, ou seja, entre<br />

90 e 180 quilos. As tropas podiam ter até 200 ou 300 animais. Assim,<br />

consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> uma tropa <strong>de</strong> 200 cargueiros e toman<strong>do</strong> uma média <strong>de</strong> 8<br />

arrobas por mula, t<strong>em</strong>os que, numa só viag<strong>em</strong>, podia-se transportar 24<br />

toneladas <strong>de</strong> carga, um feito inigualável para a época.<br />

Encabeçan<strong>do</strong> a fileira <strong>de</strong> burros e mulas, estava s<strong>em</strong>pre a madrinha da<br />

tropa, que era um animal mais velho, b<strong>em</strong> conheci<strong>do</strong> como os outros,<br />

que se dispunham a segui-lo.<br />

253


254<br />

Enfeitar a madrinha era uma tradição s<strong>em</strong>pre respeitada e motivo <strong>de</strong><br />

orgulho para tropeiros e tange<strong>do</strong>res. Os caprichosos enfeites tinham tam-<br />

bém um significa<strong>do</strong> importante na hierarquia das tropas.<br />

Se a tropa possuía mais <strong>de</strong> 5 lotes, era consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> primeira cate-<br />

goria, e a madrinha portava uma “cabeçada” ornada <strong>de</strong> prata e enfeitada<br />

<strong>de</strong> martinetes e campainhas, com uma boneca <strong>de</strong> pano, uma pluma, es-<br />

pelhos ou laços <strong>de</strong> fita colori<strong>do</strong>s, fixa<strong>do</strong>s entre as orelhas e o peitoral<br />

cheio <strong>de</strong> guizos e tilintantes.<br />

Se o conjunto reunisse somente <strong>de</strong> 3 a 5 lotes, a madrinha trazia o<br />

peitoral com guizos, e não lhe era permiti<strong>do</strong> o uso <strong>de</strong> cabeçada. Se fosse<br />

composta <strong>de</strong> menos <strong>de</strong> 3 lotes, o que raramente acontecia, não tinha<br />

direito a nenhuma insígnia.<br />

Se uma tropa <strong>de</strong> cavaleiros chegava a fazer 6 a 7 léguas por dia (entre<br />

36 e 42 quilômetros ), um cargueiro <strong>de</strong> burros e mulas não andavam mais<br />

que 3 ou 4 ( entre 18 e 24 quilômetros ). Sen<strong>do</strong> que no primeiro dia,<br />

<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao t<strong>em</strong>po gasto com as paradas para rearrumar a carga, a marcha<br />

dificilmente ultrapassava 2 léguas (12 quilômetros). Depois, uma acomo-<br />

dação final se <strong>de</strong>finia e a marcha se estabilizava.<br />

A duração das viagens variava <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a procedência das tropas.<br />

Os paulistas costumavam viajar somente até o meio-dia ou, quan<strong>do</strong> mui-<br />

to, até a uma hora ou as duas da tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da t<strong>em</strong>peratura, os<br />

baianos caminhavam até três horas, e os mineiros andavam <strong>de</strong> sol a sol.<br />

O caminho que seguia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> subin<strong>do</strong> pelas Serras <strong>de</strong> Muquipioca<br />

e Vimitinga, <strong>de</strong>pois conhecidas como Serra <strong>do</strong> Facão, já era usa<strong>do</strong> pelos<br />

índios antes da chegada <strong>do</strong>s portugueses. No século XVII, era consi<strong>de</strong>ra-<br />

<strong>do</strong> a melhor maneira <strong>de</strong> ir <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro a São Paulo e, a partir <strong>do</strong><br />

século XVIII, ganhou gran<strong>de</strong> importância como a via <strong>de</strong> acesso mais utili-<br />

zada pela gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aventureiros que surgiu no Brasil <strong>em</strong><br />

d<strong>em</strong>anda das minas <strong>de</strong> ouro <strong>do</strong> sertão <strong>do</strong>s Cataguases.<br />

Esta importância manteve-se no século seguinte com o cultivo <strong>do</strong> café<br />

nas fazendas <strong>do</strong> vale <strong>do</strong> rio Paraíba que buscavam escoamento para a <strong>sua</strong><br />

própria produção através <strong>de</strong> caminhos que ligass<strong>em</strong> aquele vale ao litoral.<br />

Apenas <strong>de</strong> Portugal, entre 1705 e 1750, veio um número tão gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pessoas que a Coroa baixou uma lei conten<strong>do</strong> medidas proibitivas para<br />

controlar a evasão <strong>do</strong>s portugueses com <strong>de</strong>stino ao Brasil, que já provo-<br />

cava até mesmo escassez <strong>de</strong> tripulantes para guarnições <strong>do</strong>s navios.


Entre 1837 e 1838, o Registro <strong>do</strong> Tabuão, na base da serra da estrada<br />

<strong>Paraty</strong>-Cunha, acusava uma média <strong>de</strong> 30 mulas por dia, e entre 1854 e<br />

1855, já subia para 150 mulas por dia transportan<strong>do</strong> 179.463 arrobas <strong>de</strong><br />

café (mais ou menos duas toneladas e meia).<br />

A gran<strong>de</strong> comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tropas e tropeiros, que por mais <strong>de</strong> <strong>do</strong>is<br />

séculos, foi o principal elo <strong>de</strong> comunicação e comércio entre os povos <strong>do</strong><br />

Brasil, acabou por se tornar uma importante instituição, que era ainda<br />

compl<strong>em</strong>entada por uma série <strong>de</strong> artesãos que se integravam ao grupo ,<br />

às vezes <strong>do</strong>bran<strong>do</strong> com o serviço <strong>de</strong> toca<strong>do</strong>r ou camarada e às vezes não.<br />

Eram os cangalheiros, seleiros, trança<strong>do</strong>res, jacazeiros, funileiros, ferreiros<br />

e ferra<strong>do</strong>res, que tinham um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida e até uma linguag<strong>em</strong> especial<br />

e característica, que foi incorporada ao falar nacional, na forma <strong>de</strong> provér-<br />

bios e expressões populares como: “Quan<strong>do</strong> um burro fala o outro abaixa<br />

a orelha; boas idéias e burros mancos chegam s<strong>em</strong>pre atrasa<strong>do</strong>s; dar com<br />

burros n’água ; cor <strong>de</strong> burro quan<strong>do</strong> foge; picar a mula; é burrice; estar<br />

<strong>em</strong>burra<strong>do</strong>; <strong>de</strong>s<strong>em</strong>bestar; teimoso como uma mula; é uma bruaca; estar<br />

<strong>em</strong>burra<strong>do</strong>; cagar na retranca; é bom pra burro; <strong>de</strong> pensar morreu um<br />

burro”e muitas outras.<br />

“ A vila <strong>de</strong> Guaratinguetá <strong>em</strong> que fiquei naquele dia, por ser necessário<br />

adiante mandar avisar os sítios por on<strong>de</strong> havia <strong>de</strong> passar, já é mais rica <strong>do</strong><br />

que as outras,por ser passag<strong>em</strong> para as Minas daqueles que v<strong>em</strong> buscar<br />

a estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, pela qual me asseguram andavam 1.300 cavaleiros<br />

conduzin<strong>do</strong> cargas.<br />

“Aqui <strong>de</strong>ixei o caminho da esquerda que vai a Serra da Mantiqueira, e<br />

daí às Minas, e toman<strong>do</strong> a direita, fui <strong>do</strong>rmir ao sítio da Piratinga, march-<br />

an<strong>do</strong> to<strong>do</strong> dia morro a baixo, morro a cima tão altos e <strong>em</strong>pina<strong>do</strong>s, que<br />

quase to<strong>do</strong>s os cavalos aguaram, até os que iam à mão, foi preciso san-<br />

grá-los; o que me causou a d<strong>em</strong>ora <strong>de</strong> três dia; ao que me sujeitei, por<br />

saber aí que Gomes Freire não podia sair <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro no dia que<br />

tinha me avisa<strong>do</strong>.<br />

“Ocupei esse t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> andar pelo mato atiran<strong>do</strong> aos papagaios, e<br />

aos tucanos, <strong>de</strong> que se havia boa quantida<strong>de</strong>.<br />

“Daqui a <strong>Paraty</strong> gastei <strong>do</strong>is dias; no primeiro fui ao sítio da Aparição,<br />

<strong>em</strong> que experimentei o mesmo frio que no reino; o segun<strong>do</strong> me levou<br />

toda a serra <strong>do</strong> <strong>Paraty</strong>, que na opinião comum, é a pior que se conhece.<br />

A estrada <strong>em</strong> partes é tão apertada, aberta <strong>em</strong> rochas, que era necessário<br />

255


256<br />

> DJOB – Barco na<br />

Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

levantar os pés até os por na garupa <strong>do</strong> cavalo; e n<strong>em</strong> com tu<strong>do</strong> isso es-<br />

capei <strong>de</strong> dar muitas boas topadas; tanto a pique, que oito dias me ficaram<br />

<strong>do</strong>en<strong>do</strong> as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> me endireitar; o chão estava calça<strong>do</strong> ou alastra<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> pedras soltas e <strong>de</strong>siguais, com muitos saltos e barrocas; e on<strong>de</strong> isto<br />

faltava era atoleiro gran<strong>de</strong> e cal<strong>de</strong>irões mais fun<strong>do</strong>s.<br />

“ Continuamente chove, e faz<strong>em</strong> <strong>em</strong> certos t<strong>em</strong>pos frios tão ex-<br />

traordinários, que t<strong>em</strong> já morto alguns passageiros; porque, como nela<br />

não é capaz <strong>de</strong> se andar na noite, aqueles a qu<strong>em</strong> o dia falta antes <strong>de</strong> a<br />

vencer, ficam expostos a estes perigos; pois não pod<strong>em</strong> reparar o frio com<br />

o fogo, por estar s<strong>em</strong>pre o mato, por molha<strong>do</strong>, incapaz disso.<br />

“ Além disso, t<strong>em</strong> duas passagens <strong>de</strong> rios bastantes más. Na vila me<br />

receberam como se fora o próprio general; a passag<strong>em</strong> que nela se faz<br />

para Minas, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cana, que ali se fabrica,<br />

que lhe dão alguma opulência.”


Registro <strong>do</strong>s Viajantes<br />

Marcos Caetano Ribas<br />

Alguns <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> época são significativos por apresentar<strong>em</strong> as<br />

condições <strong>em</strong> que se realizava essa viag<strong>em</strong>;<br />

A vila <strong>de</strong> Guaratinguetá <strong>em</strong> que fiquei naquele dia, por ser necessário<br />

adiante mandar avisar os sítios por on<strong>de</strong> havia <strong>de</strong> passar, já é mais rica <strong>do</strong><br />

que as outras,por ser passag<strong>em</strong> para as Minas daqueles que v<strong>em</strong> buscar<br />

a estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, pela qual me asseguram andavam 1.300 cavaleiros<br />

conduzin<strong>do</strong> cargas.<br />

Aqui <strong>de</strong>ixei o caminho da esquerda que vai a Serra da Mantiqueira, e<br />

daí às Minas, e toman<strong>do</strong> a direita, fui <strong>do</strong>rmir ao sítio da Piratinga, march-<br />

an<strong>do</strong> to<strong>do</strong> dia morro a baixo, morro a cima tão altos e <strong>em</strong>pina<strong>do</strong>s, que<br />

quase to<strong>do</strong>s os cavalos aguaram, até os que iam à mão, foi preciso san-<br />

gra-los; o que me causou a d<strong>em</strong>ora <strong>de</strong> três dia; ao que me sujeitei, por<br />

saber aí que Gomes Freire não podia sair <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro no dia que<br />

tinha me avisa<strong>do</strong>.<br />

Ocupei esse t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> andar pelo mato atiran<strong>do</strong> aos papagaios, e aos<br />

tucanos, <strong>de</strong> que se havia boa quantida<strong>de</strong>.<br />

Daqui a <strong>Paraty</strong> gastei <strong>do</strong>is dias; no primeiro fui ao sítio da Aparição,<br />

<strong>em</strong> que experimentei o mesmo frio que no reino; o segun<strong>do</strong> me levou<br />

toda a serra <strong>do</strong> <strong>Paraty</strong>, que na opinião comum, é a pior que se conhece.<br />

A estrada <strong>em</strong> partes é tão apertada, aberta <strong>em</strong> rochas, que era necessário<br />

levantar os pés até os por na garupa <strong>do</strong> cavalo; e n<strong>em</strong> com tu<strong>do</strong> isso es-<br />

capei <strong>de</strong> dar muitas boas topadas; tanto a pique, que oito dias me ficaram<br />

<strong>do</strong>en<strong>do</strong> as ca<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> me endireitar; o chão estava calça<strong>do</strong> ou alastra<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> pedras soltas e <strong>de</strong>siguais, com muitos saltos e barrocas; e on<strong>de</strong> isto<br />

faltava era atoleiro gran<strong>de</strong> e cal<strong>de</strong>irões mais fun<strong>do</strong>s.<br />

Continuamente chove, e faz<strong>em</strong> <strong>em</strong> certo t<strong>em</strong>pos frios tão extraordinári-<br />

os, que t<strong>em</strong> já morto alguns passageiros; porque, como nela não é capaz<br />

<strong>de</strong> se andar na noite, aqueles a qu<strong>em</strong> o dia falta antes <strong>de</strong> a vencer, ficam<br />

expostos a estes perigos; pois não pod<strong>em</strong> reparar o frio com o fogo, por<br />

estar s<strong>em</strong>pre o mato, por molha<strong>do</strong>, incapaz disso.<br />

Além disso, t<strong>em</strong> duas passagens <strong>de</strong> rios bastantes más. Na vila me re-<br />

ceberam como se fora o próprio general; a passag<strong>em</strong> que nela se faz para<br />

257


258<br />

Minas, e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> cana, que ali se fabrica, que lhe<br />

dão alguma opulência.<br />

“... Começamos a subir a Serra <strong>do</strong> Mar, cuja altura atinge 2.500 pés.<br />

Tão escarpada ela se mostra, que o caminho, marca<strong>do</strong> por curtíssimos<br />

ziguezagues, parece encolher-se sobre si mesmo (...); a subida é lenta,<br />

pois é preciso franquear a passag<strong>em</strong> aos que <strong>de</strong>sc<strong>em</strong>, e os asnos, esfalfa-<br />

<strong>do</strong>s, a to<strong>do</strong> t<strong>em</strong>po se <strong>de</strong>têm.”<br />

Hercules Florence


Prospecto Arquitetônico<br />

Lucio Costa<br />

“Do ponto <strong>de</strong> vista da arquitetura civil, <strong>Paraty</strong> é mais um test<strong>em</strong>unho daque-<br />

la serena maturida<strong>de</strong> a que a colônia impedida <strong>de</strong> qualquer contato que<br />

não fosse com o mun<strong>do</strong> português se viu conduzida como criança asilada e<br />

da qual resultou esse mo<strong>do</strong> simples e peculiar <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> expressar-nos isto<br />

que, <strong>em</strong> termos arquitetônicos, se traduz no que se chama estilo, o nosso<br />

estilo: plantas regulares, alça<strong>do</strong>s simples, pequenos saguões, recortes <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, treliças <strong>de</strong> resguar<strong>do</strong>, caixilharias envidraçadas, beirais corri<strong>do</strong>s.<br />

Tanto nas casas <strong>de</strong> feição mais severa e antiga, quanto naquelas con-<br />

cebidas ao gosto já liberto e acolhe<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mea<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Oitocentos, carac-<br />

teriza<strong>do</strong> pelo gracioso <strong>de</strong>senho das vidraças e pela serralheria rendada, o<br />

vocabulário é o corrente e a linguag<strong>em</strong> urbana se articula com naturali-<br />

da<strong>de</strong> à paisag<strong>em</strong>, contida entre o fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> montanha e o ritmo largo e<br />

alterna<strong>do</strong> da maré.<br />

Porque <strong>Paraty</strong> é a cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> os caminhos <strong>do</strong> mar e os caminhos da<br />

terra se encontram, melhor, se entrosam. As águas não são barradas, mas<br />

avançam cida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntro levadas pela Lua, e o reticula<strong>do</strong> <strong>de</strong> ruas baliza<strong>do</strong><br />

pelas igrejas - a matriz <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios e as capelas das<br />

Dores, Rosário e Santa Rita - converg<strong>em</strong> para o mar.<br />

Santa Rita <strong>de</strong> Cássia, num <strong>do</strong>s extr<strong>em</strong>os, é a mais valiosa, tanto pelo<br />

apuro da cantaria e <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, nas portas, e <strong>do</strong> ferro na sóbria<br />

elegância das sacadas <strong>do</strong> coro, quanto pela talha <strong>do</strong>s altares colaterais <strong>de</strong><br />

canto, com belas imagens <strong>de</strong> Nossa Senhora e enquanto, na forma u<strong>sua</strong>l, a<br />

capela mor. Disposição e tratamento que se repet<strong>em</strong> na mo<strong>de</strong>sta capela <strong>do</strong><br />

Rosário, localizada ao fun<strong>do</strong>, enquanto a das Dores, harmoniosa e branca,<br />

limita junto ao mar o outro extr<strong>em</strong>o da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> está a matriz inacaba-<br />

da la<strong>de</strong>an<strong>do</strong> a foz <strong>do</strong> Perequê-Assú, construção <strong>de</strong> vulto e vazia que, con-<br />

quanto não seja a primitiva, conserva algumas alfaias e imagens <strong>de</strong> valor.<br />

259


260


A Ida<strong>de</strong> <strong>do</strong> <strong>Ouro</strong> <strong>do</strong> Brasil<br />

Charles R. Boxer<br />

(...) Quan<strong>do</strong> as novas e ricas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> ouro finalmente insinuaram-<br />

se através das áreas colonizadas <strong>do</strong> Brasil litorâneo, entre 1695 e 1696,<br />

havia apenas <strong>do</strong>is caminhos praticáveis pelos quais os que <strong>de</strong>sejass<strong>em</strong> al-<br />

cançar as minas <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> Minas Gerais po<strong>de</strong>riam chegar até elas. O mais<br />

antigo era aquele pelo qual as ban<strong>de</strong>iras tinham viaja<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo até<br />

as ramificações superiores <strong>do</strong> rio Sõ Francisco, conheci<strong>do</strong> como <strong>Caminho</strong><br />

Geral <strong>do</strong> Sertão. Acompanhava o rio Paraíba, através da Serra da Manti-<br />

queira para a região norte <strong>do</strong> rio Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se bifurcava para o rio das<br />

Velhas e para o rio Doce. Dentro <strong>de</strong> poucos anos, no máximo até 1703,<br />

uma estrada <strong>de</strong> ligação para esse caminho tinha si<strong>do</strong> feita, vin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pe-<br />

queno porto <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, a alguns dias <strong>de</strong> navegação abaixo <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janei-<br />

ro. Essa estrada, o <strong>Caminho</strong> Velho, como <strong>de</strong>pressa foi chama<strong>do</strong>, para dis-<br />

tingui-la <strong>do</strong> <strong>Caminho</strong> Novo,mais direto, e aberto alguns anos <strong>de</strong>pois<br />

entrava para o interior por uma distância <strong>de</strong> cinco dias <strong>de</strong> marca numa<br />

região difícil, até reunir-se ao caminho inicial <strong>do</strong>s paulistas, <strong>em</strong> Pindamo-<br />

nhangaba. Daí por diante as duas estradas fundiam-se numa só, que o<br />

viajante levava cerca <strong>de</strong> vinte dias a percorrer para chegar aos primeiros<br />

campos auríferos, na região <strong>do</strong> rio das Mortes. Os paulistas, aliás, não<br />

costumavam viajar da aurora ao crepúsculo, mas só <strong>do</strong> alvorecer até o<br />

meio-dia, ou no máximo até duas ou três da tar<strong>de</strong>.O resto <strong>do</strong> dia era <strong>de</strong>-<br />

dica<strong>do</strong> à instalação <strong>do</strong> acampamento, à caça no mato e à pesca no rio, se<br />

houvesse algum por perto, a fim <strong>de</strong> arranjar carne ou peixe para a alimen-<br />

tação. Dessa maneira, levavam, habitualmente, um par <strong>de</strong> meses para<br />

viajar da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo até as minas <strong>de</strong> ouro, quan<strong>do</strong> os aventurei-<br />

ros, que faziam marchas forçadas pela estrada <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>, gastavam mais<br />

ou menos três ou quatro s<strong>em</strong>anas.(...)<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 1697, mesmo os que tendiam a ouvir com ceti-<br />

cismo as notícias das primeiras <strong>de</strong>scobertas, tinham começa<strong>do</strong> a compre-<br />

en<strong>de</strong>r que havia, <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, e numa escala s<strong>em</strong> precen<strong>de</strong>ntes, “gold in<br />

then thar hills”. Escreven<strong>do</strong> à Coroa, <strong>em</strong> junho daquele ano, Artur <strong>de</strong> Sá,<br />

governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> janeiro, comunicava que as minas <strong>de</strong> Caeté, apenas<br />

“ se dilatão <strong>de</strong> tal sorte pello pée <strong>de</strong> hua serra que faz enten<strong>de</strong>r aos miney-<br />

ros será o ouro naquella parte <strong>de</strong> muita durasão”. Novos e ricos pontos<br />

261


262<br />

> Debret – Carrega<strong>do</strong>res<br />

<strong>de</strong> Café, 1826<br />

eram <strong>de</strong>scobertos quase to<strong>do</strong>s os dias <strong>em</strong> ampla área, on<strong>de</strong> cada rio, ria-<br />

cho ou regato parecia conter ouro. Era inevitável que os paulistas não<br />

pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> permanecer isentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>safios, na posse das jazidas, e um<br />

enxame <strong>de</strong> aventureiros e <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>do</strong>s <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os recantos da Colô-<br />

nia convergiu para a região, seguin<strong>do</strong> os caminhos que acima <strong>de</strong>screve-<br />

mos. “ Gente vaga e tumultuária, pella maior parte gente vil e pouco<br />

morigerada”, conforme o governa<strong>do</strong>r-geral, <strong>do</strong>m João <strong>de</strong> Lencastre, b<strong>em</strong><br />

pouco lisonjeiramente os <strong>de</strong>screvia na Bahia. Os conselheiros ultramarinos<br />

<strong>em</strong> Lisboa concordavam com essa opinião, chaman<strong>do</strong> a esses pioneiros<br />

“gente toda adventícia, tumultuária e mal estabelecida, e s<strong>em</strong> amor às<br />

terras <strong>em</strong> que não nasceram”.


Apêndice III<br />

IMPORTAÇÕES PORTUGUESAS DE OURO E DIAMANTES BRASILEIROS<br />

E DE MERCADORIAS INGLESAS (1711-50) <strong>em</strong> milhares <strong>de</strong> libras esterlinas<br />

PERÍODO<br />

QÜINQÜENAL<br />

OURO E DIAMANTES<br />

BRASILEIROS<br />

MERCADORIAS<br />

INGLESAS<br />

1711-1715 728,000 638<br />

1716-1720 315,168 695<br />

1721-1725 1,715,201 811<br />

1726-1730 693,465 914<br />

1731-1735 1,113,980 1,024<br />

1736-1740 1,311,175 1,164<br />

1741-1745 1,371,680 1,115<br />

1746-1750 ? 1,114<br />

Tabela extraída <strong>de</strong> Jorge Borges <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong>, Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> história da in-<br />

dústria portuguesa no século XVIII (Lisboa, 1963), p.56, e nas fontes aí<br />

citadas. Devi<strong>do</strong> à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contraban<strong>do</strong> envolvi<strong>do</strong> nesse comércio,<br />

to<strong>do</strong>s esses cálculos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s estimativas, visto que difer-<br />

<strong>em</strong> uns <strong>do</strong>s outros, como se po<strong>de</strong> verificar ao comparar os que se encon-<br />

tram <strong>em</strong>: Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Carnaxi<strong>de</strong>, O Brasil na administração pombalina<br />

(São Paulo, 1940), pp.241-52 (para o rendimento <strong>do</strong> “quinto”etc.); V.<br />

Magalhães Coutinho, “Lê Portugal, les flottes du sucre et les flottes <strong>de</strong> l’or<br />

(<strong>em</strong> Annales E.S.C., abr-jun 1950),pp. 184-7; C.R. Boxer, The gol<strong>de</strong>n age<br />

of Brazil 1695-1750 (Califórnia University Press, 1962) pp. 333-40; artigo<br />

<strong>de</strong> F. Mauro no Dizionário <strong>de</strong> história <strong>de</strong> Portugal, vol. I, pp.626-7 (1963).<br />

Os diamantes só foram oficialmente <strong>de</strong>scobertos <strong>em</strong> 1729, mas, s<strong>em</strong><br />

dúvida, alguns foram envia<strong>do</strong>s para Lisboa antes..<br />

C.R. Boxer<br />

O Império Colonial Português (1415-1825)<br />

[The Portuguese Colonial Empire (1415-1825)],<br />

Martins Fontes, São Paulo.<br />

263


264<br />

Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Methuen<br />

Roberto C. Simonsen<br />

Logo após a separação das Coroas espanhola e portuguesa, procurou<br />

esta última aproximar-se da Inglaterra e da Holanda, inimigos tradicionais<br />

<strong>do</strong> império espanhol.<br />

Com a Holanda, não foi possível aproximação estável, pelo conflito <strong>de</strong><br />

interesse, oriun<strong>do</strong> <strong>do</strong> apossamento pelos Batavos <strong>do</strong> Brasil holandês e <strong>de</strong><br />

colônias da África e Ásia.<br />

À Inglaterra, <strong>em</strong> sucessivos trata<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> 1642, 1654 e 1661, Portugal<br />

conce<strong>de</strong>u favores <strong>de</strong> navegação e comércio, permissão <strong>de</strong> se estabelecer-<br />

<strong>em</strong> os seus súditos até ao número <strong>de</strong> quatro famílias <strong>em</strong> cada um <strong>do</strong>s<br />

portos <strong>de</strong> Goa, Cochim, Diu, Bahia, Pernambuco e Rio <strong>de</strong> Janeiro, além<br />

<strong>do</strong> rico <strong>do</strong>te à infanta D. Catarina, no qual estavam compreendidas as<br />

cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Tanger e Bombaim.<br />

Na Inglaterra houve, no final <strong>do</strong> século XVII, uma efervescência <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>preendimentos comerciais e um gran<strong>de</strong> esforço por parte <strong>do</strong>s nego-<br />

ciantes para o estabelecimento <strong>de</strong> linhas internacionais <strong>de</strong> comércio. Foi<br />

a época <strong>do</strong>s negociantes aventureiros e das primeiras gran<strong>de</strong>s companh-<br />

ias fundadas para o intercâmbio com o exterior.<br />

As manufaturas inglesas que então se <strong>de</strong>senvolviam, estimuladas por uma<br />

política altamente protecionista, começaram a sofrer a concorrência <strong>do</strong>s panos<br />

orientais, trazi<strong>do</strong>s pelas frotas inglesas das companhias <strong>de</strong> comércio.<br />

Manifestou-se, <strong>de</strong>ntro da própria Inglaterra, um conflito <strong>de</strong> interesses<br />

entre os fabricantes e aquelas <strong>em</strong>presas. Foi quan<strong>do</strong> a Grã Bretanha pen-<br />

sou <strong>em</strong> conquistar um novo merca<strong>do</strong> para <strong>sua</strong>s manufaturas <strong>de</strong> lãs, <strong>de</strong>n-<br />

tro <strong>do</strong> império português, que resolvesse a <strong>sua</strong> crise e alargasse as possi-<br />

bilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s fabricações.<br />

Methuen, <strong>em</strong>baixa<strong>do</strong>r inglês <strong>em</strong> Portugal, conseguiu após laboriosís-<br />

simas negociações, que se concluísse, <strong>em</strong> 1703, o célebre trata<strong>do</strong> que ia<br />

ligar <strong>de</strong>finitivamente a orientação política econômica portuguesa às dire-<br />

trizes da política comercial inglesa.<br />

Aparent<strong>em</strong>ente simples, esse trata<strong>do</strong>, que t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> tão amplamente<br />

discuti<strong>do</strong>, teria, no momento, um significa<strong>do</strong> especial. De fato, as três<br />

cláusulas que,à primeira vista, nada <strong>de</strong> anormal pod<strong>em</strong> indicar para a<br />

mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje ou para os cultores da chamada escola liberal <strong>do</strong>


século XIX, continham, no entanto, dispositivos que envolviam os próp-<br />

rios fundamentos da economia lusitana.<br />

Pela primeira, Portugal permitia a entrada <strong>de</strong> panos e outras manu-<br />

faturas <strong>de</strong> lã inglesas, cuja importação proibira <strong>em</strong> leis <strong>de</strong> 1681 e 1690,<br />

fosse qual fosse a procedência; pela cláusula segunda, os vinhos portu-<br />

gueses teriam na Inglaterra um tratamento preferencial sobre os vinhos<br />

franceses, <strong>em</strong> relação aos quais gozavam <strong>de</strong> um abatimento <strong>de</strong> 1/3 nos<br />

direitos, fican<strong>do</strong> Portugal habilita<strong>do</strong> a <strong>de</strong>nunciar o trata<strong>do</strong>, caso cessasse<br />

esse tratamento preferencial. A cláusula terceira, meramente protocolar,<br />

marcava <strong>do</strong>si meses <strong>de</strong> prazo para a ratificação <strong>do</strong> convênio.<br />

Um <strong>do</strong>s argumentos <strong>do</strong> negocia<strong>do</strong>r britânico se baseava nas indicações<br />

naturais <strong>do</strong> clima e <strong>do</strong> meio inglês para a indústria fabril e as condições<br />

favoráveis <strong>do</strong> ambiente lusitano, on<strong>de</strong> o clima não se mostrava tão ad-<br />

verso aos trabalhos <strong>de</strong> campo, para a cultura vinícola.<br />

É preciso assinalar, para a perfeita compreensão <strong>de</strong>sse trata<strong>do</strong>, que as<br />

manufaturas <strong>de</strong> pano <strong>de</strong> lã, constituíam, na época, quase que a totali-<br />

da<strong>de</strong> <strong>do</strong>s produtos industriais <strong>de</strong> exportação. Consentin<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu<br />

território, a concorrência <strong>do</strong>s panos ingleses, matou Portugal o seu parque<br />

industrial e se tornou <strong>de</strong>finitivamente uma nação agrícola, baseada na<br />

produção vinícola.<br />

Ora, o ouro <strong>do</strong> Brasil não ficaria <strong>em</strong> Portugal <strong>em</strong> pagamento <strong>de</strong> seus<br />

vinhos, n<strong>em</strong> nas reservas <strong>do</strong> erário real que, s<strong>em</strong> sal<strong>do</strong>s efetivos, não po-<br />

<strong>de</strong>ria retê-lo;atravessava o país <strong>em</strong> d<strong>em</strong>anda da Inglaterra, <strong>em</strong> pagamen-<br />

to da balança <strong>de</strong> comércio, inteiramente favorável a esta nação. Estimu-<br />

lan<strong>do</strong> o trabalho inglês, r<strong>em</strong>uneran<strong>do</strong> melhor as <strong>sua</strong>s merca<strong>do</strong>rias,<br />

concorreu para o progresso efetivo daquele povo, muito mais <strong>do</strong> que<br />

para o enriquecimento <strong>de</strong> Portugal.<br />

Nesta última nação, criou-se para várias classes um padrão <strong>de</strong> vida artifi-<br />

cial, acima <strong>do</strong> que o trabalho da terra e seus rendimentos po<strong>de</strong>riam permitir.<br />

O ouro <strong>do</strong> Brasil, estimulan<strong>do</strong> os preços <strong>em</strong> geral, conferiu novos ele-<br />

mentos à expansão britânica que a mais <strong>de</strong> meio século se preparava para<br />

a conquista <strong>de</strong> colônias e <strong>de</strong> merca<strong>do</strong>s.<br />

A elevação <strong>de</strong> preços internos, que provocou naquela ilha, fortaleceu o<br />

sist<strong>em</strong>a monetário inglês, permitiu o acúmulo <strong>de</strong> capitais internos e o en-<br />

riquecimento <strong>de</strong> muitos arrendatários <strong>de</strong> terras, que pu<strong>de</strong>ram, assim, se tor-<br />

nar proprietários, com funda repercussão na própria formação social inglesa.<br />

265


266<br />

A extensão <strong>do</strong>s pastos para carneiros a que obrigava a manufatura <strong>de</strong> lã,<br />

exerceu também <strong>de</strong>cisiva influência no aumento das populações urba-<br />

nas, e na conseqüente melhoria das condições políticas e sociais <strong>do</strong>s<br />

súditos britânicos.<br />

A Inglaterra já havia da<strong>do</strong> preferência ao ouro para base <strong>de</strong> seu sist<strong>em</strong>a<br />

monetário. Portugal lhe outorgara ainda condições preferenciais para o seu<br />

comércio as quais, somadas à superiorida<strong>de</strong> <strong>do</strong> aparelhamento técnico in-<br />

glês, facilitaram a conquista <strong>do</strong>s merca<strong>do</strong>s portugueses pelas manufaturas<br />

daquele país, num momento <strong>em</strong> que surgiam das minas <strong>do</strong> Brasil gran<strong>de</strong>s<br />

signos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aquisitivo. De fato, o ouro <strong>do</strong> Brasil era, então, a maior<br />

massa aurífera que aparecera <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong>s t<strong>em</strong>pos mo<strong>de</strong>rnos.<br />

Lucrou, assim, a Inglaterra b<strong>em</strong> mais <strong>do</strong> que Portugal com as <strong>de</strong>sco-<br />

bertas <strong>do</strong>s ban<strong>de</strong>irantes paulistas.<br />

Por um <strong>de</strong>sses para<strong>do</strong>xos, <strong>de</strong> que a história é tão rica, os escravos af-<br />

ricanos que o ouro <strong>do</strong>s minera<strong>do</strong>res brasileiros introduziu para labutar<br />

nos sertões brasileiros, trabalharam po<strong>de</strong>rosamente para o aperfeiçoa-<br />

mento das condições sociais e políticas <strong>do</strong> povo daquela gran<strong>de</strong> nação,<br />

melhoran<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ravelmente as condições <strong>do</strong> trabalho agrícola nas Il-<br />

has Britânicas.<br />

Sob um ponto <strong>de</strong> vista internacional, é <strong>de</strong> registrar a opinião <strong>de</strong> Som-<br />

bart, que atribui ao aparecimento <strong>do</strong> ouro brasileiro uma nova etapa no<br />

perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> capitalismo. Acrescenta este autor:<br />

“S<strong>em</strong> a <strong>de</strong>scoberta (aci<strong>de</strong>ntal!) das jazidas <strong>de</strong> metais preciosos sobre as<br />

alturas das Cordilheiras e nos vales <strong>do</strong> Brasil, não teríamos o hom<strong>em</strong><br />

econômico mo<strong>de</strong>rno”.<br />

Para o Brasil, esse ouro teve resulta<strong>do</strong>s b<strong>em</strong> diversos: se não ficou incor-<br />

pora<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>em</strong>preendimentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s resulta<strong>do</strong>s para o futuro, incen-<br />

tivou, no entanto, uma vultuosa imigração para o Centro-sul <strong>do</strong> país, que<br />

ocupou, <strong>de</strong>finitivamente, nossos sertões; permitiu a construção <strong>de</strong> nossas<br />

primeiras cida<strong>de</strong>s no interior, criou um gran<strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>do</strong> ga<strong>do</strong> e tropas,<br />

estimulan<strong>do</strong> os Paulistas à ocupação e conquista <strong>de</strong>finitiva das regiões <strong>do</strong><br />

Sul; tornou o rio <strong>de</strong> Janeiro a capital brasileira e aí criou fortes el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong><br />

progresso; permitiu, finalmente, a concentração e a formação <strong>de</strong> capitais<br />

<strong>em</strong> escravos e tropas, que mais tar<strong>de</strong> facilitariam a implantação da lavoura<br />

<strong>de</strong> café no Vale <strong>do</strong> Paraíba e nas regiões fluminenses.<br />

A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> todas as ilusões criadas pelo ouro, o balanço geral <strong>do</strong> ciclo<br />

<strong>de</strong> mineração brasileira <strong>de</strong>ixou sal<strong>do</strong>s reais <strong>em</strong> proveito <strong>de</strong> nossa terra.


Indica<strong>do</strong>res Da Paisag<strong>em</strong><br />

1. Pau brasil<br />

Certa vez recorda o viajante francês Jean <strong>de</strong> Lery, um velho Tupinambá me<br />

perguntou: “Por que vocês, mairs (franceses) e uced (portugueses), vêm <strong>de</strong><br />

tão longe para buscar lenha? Por acaso não exist<strong>em</strong> árvores na <strong>sua</strong> terra?<br />

Respondi que sim, que tínhamos muitas, mas não daquela qualida<strong>de</strong>, e<br />

que não as queimávamos, como ele supunha, mas <strong>de</strong>las extraíamos tinta<br />

para tingir.<br />

Ë precisam <strong>de</strong> tanta tinta assim?, retrucou o velho Tupinambá.<br />

“Sim, respondi, “pois no nosso país exist<strong>em</strong> negociantes que possu<strong>em</strong><br />

mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras merca<strong>do</strong>rias <strong>do</strong> que se possa<br />

imaginar, e um só <strong>de</strong>les compra to<strong>do</strong> o pau-brasil que possamos carregar”.<br />

“Ah!”, tornou a retrucar o selvag<strong>em</strong>. “Você me conta maravilhas. Mas<br />

me diga: esse hom<strong>em</strong> tão rico <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> você me fala, não morre?”<br />

“Sim”, disse eu, ”morre como os outros”.<br />

Aqueles selvagens são gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>bate<strong>do</strong>res e gostam <strong>de</strong> ir ao fim <strong>de</strong><br />

qualquer assunto. Por isso, o velho indígena me inquiriu outra vez: “E<br />

quan<strong>do</strong> morr<strong>em</strong> os ricos, para qu<strong>em</strong> fica o que <strong>de</strong>ixam?”<br />

“Para seus filhos, se os têm”, respondi. “Na falta <strong>de</strong>stes, para os irmãos<br />

e parentes mais próximos”.<br />

“B<strong>em</strong> vejo agora que vocês, mairs, são mesmo uns gran<strong>de</strong>s tolos. So-<br />

fr<strong>em</strong> tanto para cruzar o mar, suportan<strong>do</strong> todas as privações e incômo<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s quais s<strong>em</strong>pre falam quan<strong>do</strong> aqui chegam, e trabalham <strong>de</strong>ssa maneira<br />

apenas para amontoar riquezas para seus filhos ou para aqueles que vão<br />

uce<strong>de</strong>-los? A terra que os alimenta não será por acaso suficiente para ali-<br />

mentar a eles? Nós também t<strong>em</strong>os filhos que amamos. Mas estamos certos<br />

<strong>de</strong> que, <strong>de</strong>pois da nossa morte, a terra que nos nutriu nutrirá também a<br />

eles. Por isso, <strong>de</strong>scansamos s<strong>em</strong> maiores preocupações”.<br />

(Diálogo <strong>do</strong> pastor calvinista Léry e o velho Tupinambá, trava<strong>do</strong> entre março <strong>de</strong> 1557 e<br />

janeiro <strong>de</strong> 1558.)<br />

O diálogo acima ocorreu na Mata Atlântica, <strong>em</strong> algum lugar <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, e é repleto <strong>de</strong> conotações alegóricas.<br />

267


268<br />

Muitas interpretações foram extraídas <strong>de</strong>sse diálogo ao longo <strong>do</strong> t<strong>em</strong>po.<br />

De acor<strong>do</strong> com diversos autores, entretanto, este diálogo <strong>em</strong> particular<br />

(ou pelo menos o livro <strong>de</strong> Jean <strong>de</strong> Léry “ Viag<strong>em</strong> à Terra <strong>do</strong> Brasil” , pu-<br />

blica<strong>do</strong> <strong>em</strong> La Rochelle, <strong>em</strong> 1578, no qual o próprio autor é um <strong>do</strong>s<br />

personagens), inspirou o filósofo Michel Montaigne a escrever, por volta<br />

<strong>de</strong> 1580, o seu ensaio antológico “Sobre canibais”. Além <strong>de</strong> transformar<br />

”os índios brasileiros <strong>em</strong> agentes revoucionários”(Mello Franco), este tex-<br />

to teria si<strong>do</strong> a inspiração para Jean- Jacques Rousseau escrever “Consi<strong>de</strong>-<br />

rações sobre a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>”, que foi a base da tese <strong>do</strong> Bom Selvag<strong>em</strong>.<br />

Como pod<strong>em</strong>os esquecer que as idéias Montaigne e Rousseau (assim<br />

como Locke, Montesquieu, Rousard e outros que <strong>de</strong>clararam ser leitores<br />

<strong>de</strong> Léry) se tornaram inspira<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> moto “ liberda<strong>de</strong>, igualda<strong>de</strong> e fra-<br />

ternida<strong>de</strong>” que a Revolução Francesa impetuosamente <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u e que<br />

causou um intenso <strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> sangue.<br />

2. Parque Nacional da Serra da Bocaina - PNSB<br />

Eduar<strong>do</strong> Bueno<br />

in Pau Brasil<br />

No Parque Nacional da Serra da Bocaina - PNSB <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong>, fica a única porção<br />

da unida<strong>de</strong> que inclui uma área marinha e 3 praias – Figueira, Caxadaço e <strong>do</strong><br />

Meio, sen<strong>do</strong> que a praia <strong>do</strong> Caxadaço e da Figueira encontram-se <strong>em</strong> ótimo<br />

esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação, apesar <strong>de</strong> intensa visitação pública.<br />

A área <strong>do</strong> Parque Nacional da Serra da Bocaina <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> ainda está<br />

relativamente b<strong>em</strong> conservada graças à alta <strong>de</strong>clivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s encostas<br />

e conseqüente dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao seu interior na maior parte <strong>do</strong><br />

seu território.<br />

As constantes incursões <strong>de</strong> <strong>sua</strong> equipe <strong>de</strong> fiscalização que v<strong>em</strong> impe-<br />

din<strong>do</strong> a abertura <strong>de</strong> novas estradas <strong>em</strong> áreas próximas aos seus limites.<br />

Apesar da existência <strong>de</strong> algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> famílias viven<strong>do</strong> no seu inte-<br />

rior, <strong>sua</strong> ocupação é bastante esparsa e rarefeita.<br />

Graças à gran<strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong> altitudinal, que vai <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a profundida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 12 metros nas águas da Trinda<strong>de</strong>, até 1780 m no pico da Macela, ao<br />

relevo escarpa<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>sua</strong>s montanhas e à cobertura pela floresta ombrófi-<br />

la <strong>de</strong>nsa que pre<strong>do</strong>mina <strong>em</strong> seu território, a diversida<strong>de</strong> biológica <strong>do</strong>


PNSB <strong>em</strong> <strong>Paraty</strong> é muito alta, e a ocupação humana, mínima. A área con-<br />

si<strong>de</strong>rada como a mais rica <strong>em</strong> biodiversida<strong>de</strong> <strong>em</strong> to<strong>do</strong> o parque é justa-<br />

mente a região costeira da divisa entre os Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> São Paulo e Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, junto a Trinda<strong>de</strong> e à APA <strong>de</strong> Cairuçu.<br />

O território <strong>do</strong> Parque compreen<strong>de</strong> varia<strong>do</strong>s ecossist<strong>em</strong>as, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ilha<br />

da Trinda<strong>de</strong>, costões rochosos, praias e ambientes marinhos, até os cam-<br />

pos <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> Planalto da Bocaina.<br />

Cerca <strong>de</strong> 85% <strong>de</strong> <strong>sua</strong> área é recoberta por Floresta Ombrófila Densa,<br />

constituída principalmente por formações secundárias, com maior con-<br />

centração no município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>.<br />

A Floresta Ombrófila Densa Submontana fica entre 50 e 700 m <strong>de</strong> al-<br />

titu<strong>de</strong>, e ocupa cerca <strong>de</strong> 26 % <strong>do</strong> parque. Nas mais altas encostas e es-<br />

carpas da serra voltadas para o mar, encontram-se as formações mais<br />

exuberantes da Mata Atlântica, com árvores que alcançam <strong>de</strong> 24 a 28 m<br />

<strong>de</strong> altura, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> – se o jequitibá, o cedro e a massaranduba.<br />

Já no alto <strong>do</strong>s planaltos e da serra, na faixa <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 600 e 1.500<br />

m, concentra-se boa parte das florestas primárias, com pre<strong>do</strong>mínio da<br />

Floresta Ombrófila Densa Montana, que ocupa cerca <strong>de</strong> 54% da área<br />

total <strong>do</strong> PNSB. Neste ambiente foi <strong>de</strong>scrita recent<strong>em</strong>ente uma nova espé-<br />

cie <strong>de</strong> bromélia, a Fernseea bocainensis, consi<strong>de</strong>rada como endêmica <strong>do</strong><br />

altiplano da Bocaina.<br />

FAUNA<br />

Foram listadas no PNSB 40 espécies <strong>de</strong> mamíferos terrestres e 294 <strong>de</strong> aves,<br />

com 10 espécies <strong>de</strong> mamíferos e 12 <strong>de</strong> aves ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />

Cinco espécies <strong>de</strong> mamíferos são endêmicas da Mata Atlântica: ouri-<br />

ço-cacheiro (Sphiggurus villosus), sagüi-da-serra-escuro (Callithrix aurita),<br />

bugio (Alouatta fusca), macaco-prego (Cebus apella nigritus) e mono-car-<br />

voeiro (Brachyteles arachnoi<strong>de</strong>s), o maior primata das Américas.<br />

As florestas situadas ao longo da Serra da Bocaina favorec<strong>em</strong> a con-<br />

centração da gran<strong>de</strong> maioria das espécies <strong>de</strong> mamíferos, com <strong>de</strong>staque<br />

para os felinos como a jaguatirica (Leopardus pardalis), a onça-parda<br />

(Puma concolor) e outros mais raros, como o gato-<strong>do</strong>-mato-pequeno (Le-<br />

opardus tigrinus) e a onça-pintada (Panthera onça), cuja ocorrência é<br />

confirmada por mora<strong>do</strong>res locais. São raros os registros <strong>de</strong> anta (Tapirus<br />

terrestris) , o maior mamífero brasileiro.<br />

269


270<br />

AVIFAUNA<br />

Das espécies <strong>de</strong> aves, 44% são apontadas como espécies endêmicas <strong>do</strong><br />

Domínio Atlântico, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>stacar entre outras o macuco (Tinamus<br />

solitarius), a jacutinga (Pipile jacutinga) e a sabiá cica (Triclaria malachita-<br />

cea) como raras e ameaçadas <strong>de</strong> extinção.<br />

No trecho da estrada <strong>Paraty</strong>-Cunha, entre as cotas 650 e 1.000 m, a<br />

aplicação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Avaliação Ecológica Rápida permitiu registrar<br />

112 espécies <strong>de</strong> aves, sen<strong>do</strong> 53 <strong>de</strong>las (47,3%) endêmicas <strong>do</strong> Domínio<br />

Atlântico e pelo manos uma ameaçada <strong>de</strong> extinção: o sabiá-cica (Triclaria<br />

malachitacea).<br />

3. Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental – APA <strong>de</strong> Cairuçu<br />

A Zona <strong>de</strong> Preservação da Vida Silvestre (ZPVS) da APA <strong>de</strong> Cairuçu, que faz<br />

parte da proposta <strong>de</strong> zona tampão <strong>de</strong>ste sítio, correspon<strong>de</strong> aos maciços<br />

florestais contínuos localiza<strong>do</strong>s nas <strong>sua</strong>s maiores altitu<strong>de</strong>s, como na região<br />

<strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçu e nas adjacências <strong>do</strong> Parque Nacional. Esta zona prote-<br />

ge as escarpas mais acentuadas, os topos <strong>de</strong> morro e as nascentes <strong>do</strong>s<br />

cursos d’água que abastec<strong>em</strong> as comunida<strong>de</strong>s que viv<strong>em</strong> no interior da<br />

APA, b<strong>em</strong> como to<strong>do</strong>s os seus manguezais, que são muito importantes<br />

para a reprodução <strong>do</strong>s organismos marinhos.<br />

Todas as ilhas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> faz<strong>em</strong> parte da Zona <strong>de</strong> Preservação da Vida<br />

Silvestre (ZPVS) da APA <strong>de</strong> Cairuçu<br />

4. Reserva Ecológica da Juatinga<br />

A Reserva Ecológica da Juatinga está sobreposta à APA <strong>de</strong> Cairuçu na<br />

totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> seu território, e conta com legislação b<strong>em</strong> mais restritiva,<br />

sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rada unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> uso indireto, ao contrário<br />

da primeira.<br />

Sua área correspon<strong>de</strong> à região <strong>do</strong> maciço <strong>do</strong> Pico <strong>do</strong> Cairuçu, que<br />

<strong>do</strong>mina a paisag<strong>em</strong> da porção mais meridional da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>,<br />

ten<strong>do</strong> como marco notável a Ponta da Juatinga, promontório rochoso<br />

que marca a entrada <strong>de</strong>sta baía.<br />

Um <strong>do</strong>s aspectos mais importantes <strong>de</strong>sta Reserva é a existência das<br />

comunida<strong>de</strong>s tradicionais caiçaras mais isoladas da região, pois o acesso<br />

à reserva sé é possível por meio <strong>de</strong> trilhas ou <strong>de</strong> barco. Seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida


ainda está bastante liga<strong>do</strong> às ativida<strong>de</strong>s tradicionais da cultura caiçara,<br />

como a pesca, a agricultura <strong>de</strong> subsistência e a utilização <strong>de</strong> tecnologias<br />

patrimoniais no seu cotidiano.<br />

O melhor indica<strong>do</strong>r <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> conservação da APA <strong>de</strong> Cairuçu,<br />

que inclui a Reserva Ecológica da Juatinga, é a porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> áreas<br />

mapeadas pelo Plano <strong>de</strong> Gestão Ambiental cobertas pela Mata Atlânti-<br />

ca, que ocupa 80% <strong>de</strong> <strong>sua</strong> área total <strong>de</strong> 33 mil hectares, com apenas 1%<br />

<strong>de</strong> área resi<strong>de</strong>ncial.<br />

Outro da<strong>do</strong> que atesta a riqueza <strong>de</strong> <strong>sua</strong> biodiversida<strong>de</strong> é o registro <strong>de</strong><br />

1328 espécies vegetais, pertencentes a quatro gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> plan-<br />

tas: as algas (117), as Briófitas (musgos, com 124 espécies), as Pteridófitas<br />

(samambaias, com 115) e as Angiospermas , com 972 espécies.<br />

Quanto às espécies <strong>de</strong> animais, foram registradas 389 espécies <strong>de</strong><br />

aves, 74 <strong>de</strong> mamíferos terrestres e 61 <strong>de</strong> répteis e anfíbios. Das espécies<br />

<strong>de</strong> animais encontradas, 104 são endêmicas da Mata Atlântica e 16 ame-<br />

açadas <strong>de</strong> extinção.<br />

Comparan<strong>do</strong>-se com os números totais para a mata atlântica segun<strong>do</strong><br />

Mittermeier et all, 1999, foram encontradas na APA <strong>do</strong> Cairuçu 28% <strong>do</strong><br />

total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> mamíferos, 63 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong><br />

> DJOB – Peixe seco na<br />

praia <strong>do</strong> Sono<br />

271


272<br />

aves, 13 % <strong>do</strong> número total <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> répteis e 14 % <strong>do</strong> número<br />

total <strong>de</strong> anfíbios. De um total <strong>de</strong> 546 espécies endêmicas da mata atlân-<br />

tica foram encontradas 104 durante os trabalhos <strong>de</strong> campo (19%).<br />

Em termos <strong>de</strong> ictiofauna, foram registradas 134 espécies, pertencen-<br />

tes a 59 famílias <strong>de</strong> peixes marinhos na região da baía da Ilha Gran<strong>de</strong>. Já<br />

a região <strong>do</strong> Saco <strong>de</strong> Mamanguá é constituída, no mínimo, por 100 espé-<br />

cies <strong>de</strong> peixes (41 famílias), sen<strong>do</strong> 38 permanentes, 21 espécies sazonais<br />

e 41 espécies ocasionais.<br />

5. APA da baia <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong><br />

OCORRÊNCIA DE MAMÍFEROS MARINHOS<br />

Breve histórico<br />

Informes sobre a ocorrência <strong>de</strong> mamíferos marinhos na região da Baía da<br />

Ilha Gran<strong>de</strong> e águas <strong>do</strong> município <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> datam <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> colonial. A<br />

abundância <strong>de</strong> baleias nas águas <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> teve o seu primeiro relato no<br />

Diário <strong>de</strong> Jornada da viag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro à Santos, <strong>do</strong> Con<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Assumar, <strong>em</strong> 1717.<br />

“...pelas duas horas da manhã nos <strong>em</strong>barcamos e navegamos<br />

athé o meio dia por entre muitas ilhas , e a terra firme....por<strong>em</strong><br />

com muito mais susto neste dia (30 <strong>de</strong> julho) pela muita quanti-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> Baleas, que encontramos <strong>em</strong> hua Bahia (baía) que<br />

fazião duas ilhas, sen<strong>do</strong> a Mayor gritaria <strong>do</strong>s Pilotos, e r<strong>em</strong>a-<br />

<strong>do</strong>res com o Me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que <strong>em</strong>constan<strong>do</strong> se alguma Canoa, a<br />

virasse como algumas vezes t<strong>em</strong> sucedi<strong>do</strong>, Sahimos com bom<br />

sucesso da Bahia (baía) e fomos jantar a villa <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong> (...)<br />

Neste relato, nota-se o gran<strong>de</strong> t<strong>em</strong>or que os navegantes da época tinham <strong>em</strong><br />

colidir ou mesmo <strong>em</strong> ser<strong>em</strong> afunda<strong>do</strong>s pela constante presença <strong>de</strong> baleias na<br />

região. Este risco <strong>de</strong> colisão ainda era maior na medida <strong>em</strong> que as <strong>em</strong>barca-<br />

ções da época, movidas a r<strong>em</strong>o ou vela, não produziam ruí<strong>do</strong>s.<br />

A CAÇA E AS ARMAÇÕES<br />

A expansão da caça a baleia e a instalação <strong>de</strong> importantes armações (fá-<br />

brica <strong>de</strong> processamento da baleia ) no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro foram<br />

<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> <strong>sua</strong> importância como ativida<strong>de</strong> econômica. O óleo extraí-<br />

<strong>do</strong> da gordura <strong>de</strong>ste animal era utiliza<strong>do</strong> na iluminação das cida<strong>de</strong>s, na


produção <strong>de</strong> uma argamassa utilizada na construção civil e <strong>sua</strong>s barbata-<br />

nas serviam para a fabricação <strong>de</strong> chicotes, escovas, guarda-chuvas e ou-<br />

tros utensílios. De acor<strong>do</strong> com Hetzel e Lodi (1996 a), muitas casas e pré-<br />

dios das cida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>Paraty</strong> foram construí<strong>do</strong>s com óleo<br />

das baleias arpoadas <strong>em</strong> nosso litoral, e ambas as cida<strong>de</strong>s foram ilumina-<br />

das por esse óleo.<br />

Com a diminuição <strong>de</strong> baleias a níveis que não mais sustentavam a dis-<br />

pendiosa ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caça e beneficiamento, e com a assinatura <strong>do</strong>s tra-<br />

ta<strong>do</strong>s internacionais proibin<strong>do</strong> essa ativida<strong>de</strong>, as baleias finalmente tive-<br />

ram um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trégua. No Brasil, somente <strong>em</strong> 1987 é que os cetáceos<br />

foram legalmente protegi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> qualquer forma <strong>de</strong> molestamento inten-<br />

cional, através da Lei Fe<strong>de</strong>ral n° 7.643, <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1987, e da Porta-<br />

ria n°2.306 <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1990, <strong>do</strong> Ibama.<br />

SITUAÇÃO ATUAL<br />

Em 1990, é inicia<strong>do</strong> o “Projeto Golfinhos” sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Bia Het-<br />

zel e Liliane Lodi. Entre 1990 e 1994, foram realiza<strong>do</strong>s levantamentos <strong>de</strong><br />

campo na Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> foram registra<strong>do</strong>s a ocorrência <strong>de</strong> 13<br />

espécies <strong>de</strong> cetáceos no local, o que <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as autoras, faz da re-<br />

gião o local <strong>de</strong> maior diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cetáceos no Brasil.<br />

Cinco espécies <strong>de</strong> baleias ocorr<strong>em</strong> na Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>: a baleia-<strong>de</strong>-bry-<br />

<strong>de</strong> (Balaenoptera e<strong>de</strong>ni), a baleia-franca-<strong>do</strong>-sul (Eubalaena australis), a baleia-<br />

minke (B.acutorostrata), a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) e a Orca<br />

(Orcinus orca). Dentre estas, a jubarte e a franca-<strong>do</strong>-sul constam da Lista Ofi-<br />

cial <strong>de</strong> Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas <strong>de</strong> Extinção, enquanto as ou-<br />

tras aparec<strong>em</strong> como “insuficient<strong>em</strong>ente conhecidas”. Já na região <strong>de</strong> mar<br />

aberto, entre a Ponta da Juatinga e da Trinda<strong>de</strong> foram avistadas por pesca<strong>do</strong>-<br />

res baleias da espécie Cachalote (Physeter macrocephalus).<br />

Entre abril <strong>de</strong> 1997 e janeiro <strong>de</strong> 1998, foram realiza<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sobre<br />

grupos <strong>de</strong> Boto-cinza (Sotalia fluviatilis) que freqüent<strong>em</strong>ente são avista<strong>do</strong>s<br />

na Baía <strong>de</strong> <strong>Paraty</strong>. Constatou-se que estes grupos são os mais numerosos<br />

já registra<strong>do</strong>s na literatura, forman<strong>do</strong> grupos <strong>de</strong> até 450 indivíduos (Hetzel<br />

e Lodi, 1998).<br />

273


274<br />

Festas Religiosas<br />

Festas <strong>de</strong> Santa Rita<br />

Nesta festa, que aqui acontece <strong>em</strong> julho para não coincidir com as festas<br />

<strong>do</strong> Divino, reza-se tão somente ladainhas e missa solene no dia festivo,<br />

além <strong>de</strong> procissão e leilão <strong>de</strong> prendas. Cabe aqui l<strong>em</strong>brar o costume <strong>de</strong><br />

distribuir pão bento no dia <strong>de</strong> Santo Antonio e no dia <strong>de</strong> São Roque cor-<br />

tava-se uma fita estreita no tamanho da imag<strong>em</strong> pequena <strong>de</strong>ste orago.<br />

Esta fita era atada no pescoço das pessoas para protegê-las da raiva, mui-<br />

to comum no mês <strong>de</strong> agosto.<br />

Festa <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong>s R<strong>em</strong>édios<br />

Apesar <strong>de</strong> ser a festa da padroeira da cida<strong>de</strong>, não difere <strong>em</strong> muito da<br />

festa <strong>de</strong> Santa Rita. Missas e ladainhas celebram-se durante a novena.<br />

Nesta festa, porém há duas procissões: uma no dia 07 (sete) <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro<br />

<strong>em</strong> que a imag<strong>em</strong> da Virg<strong>em</strong> sai da igreja <strong>de</strong> Santa Rita para a Matriz e a<br />

outra no dia da Festa (8/9), que percorre o itinerário habitual. Leilões e<br />

queima <strong>de</strong> fogos <strong>de</strong> artifício encerram os festejos. Exib<strong>em</strong>-se nela as mais<br />

ricas alfaias, a prataria <strong>de</strong> rico lavor e beleza e a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sfila coberta<br />

<strong>de</strong> brincos <strong>de</strong> ouro e pedras preciosas, correntes e rosários <strong>de</strong> ouro e res-<br />

plan<strong>de</strong>cente. É, portanto, a mais rica das procissões.<br />

Festa <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário e São Benedito<br />

Esta festa se realizava nos dias 26 e 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro para aproveitar a<br />

presença <strong>do</strong>s ricos fazen<strong>de</strong>iros e seus escravos na cida<strong>de</strong> por ocasião <strong>do</strong><br />

natal. Recent<strong>em</strong>ente foi transferida para o terceiro <strong>do</strong>mingo <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>-<br />

bro. Dela po<strong>de</strong> se dizer que é a festa <strong>do</strong> Divino <strong>do</strong>s pretos. Durante a no-<br />

vena há a procissão <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras para a igreja <strong>do</strong> Rosário, rezas <strong>de</strong> ladai-<br />

nhas e missas. As ban<strong>de</strong>iras são brancas e t<strong>em</strong> no centro a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong> Rei<br />

e Rainha negros. O rei e a rainha são coroa<strong>do</strong>s durante a missa cantada e<br />

<strong>de</strong>pois assist<strong>em</strong> as danças populares: Chiba, jongo e ciranda, da qual par-<br />

ticipa o povo. Era pobre a irmanda<strong>de</strong>, se b<strong>em</strong> que as imagens <strong>de</strong> seus ti-<br />

tulares exib<strong>em</strong> nas procissões ricas coroas <strong>em</strong> ouro, resplen<strong>do</strong>res <strong>de</strong> prata,


osários <strong>em</strong> ouro e ametistas, vistosos brincos com pedras preciosas e vá-<br />

rias correntes <strong>de</strong> ouro.<br />

A Folia <strong>de</strong> Reis<br />

Assim como nas festas juninas, o ciclo natalino se caracteriza com festejos<br />

populares. Eram comuns, hoje são poucas, as folias <strong>de</strong> reis, que percorr<strong>em</strong> as<br />

casas na cida<strong>de</strong> e nas roças, visitan<strong>do</strong> os presépios ou simplesmente anun-<br />

cian<strong>do</strong> o natal. Iniciam <strong>sua</strong>s andanças no dia oito (oito) <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro e a en-<br />

cerram dia 20 <strong>de</strong> janeiro. De igual número <strong>de</strong> participantes que a folia <strong>do</strong> Di-<br />

vino, <strong>de</strong>la se diferenciava por somente se apresentar a noite. Muitas vezes as<br />

visitas são propositalmente combinadas outras vezes surg<strong>em</strong> s<strong>em</strong> avisar. Mas,<br />

<strong>em</strong> qualquer um <strong>do</strong>s casos, a moradia tinha que estar com portas e janelas<br />

fechadas e com as luzes apagadas. Em frente à porta iniciavam <strong>sua</strong>s cantorias<br />

dizen<strong>do</strong> qu<strong>em</strong> eram e pedin<strong>do</strong> que se lhes abrisse a casa. Depois <strong>do</strong>s rituais,<br />

aberta a porta, iniciava a cantoria. Nela, <strong>em</strong> versos cantavam o nascimento <strong>do</strong><br />

Menino Jesus ou versejavam sobre as figuras que compunham o cenário da<br />

noite <strong>de</strong> natal. Encerra<strong>do</strong>s os cantos eram servi<strong>do</strong>s aos presentes <strong>do</strong>ces e be-<br />

bidas típicas daquela ocasião: rabanadas, bolos, frutas, goiabada e vinho. Não<br />

sen<strong>do</strong> espera<strong>do</strong>s, recebiam eles somente algum presente ou dinheiro para<br />

que comprass<strong>em</strong> o que comer e beber.<br />

> PDT – Procissão <strong>do</strong><br />

Fogaréu na Igreja <strong>de</strong><br />

N. S. das Dores<br />

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Festas Juninas<br />

Estas festas, <strong>de</strong>dicadas a Santo Antonio, São João e a São Pedro, aconte-<br />

c<strong>em</strong> na zona rural. Apesar <strong>de</strong> se rezar primeiro uma ladainha e cantar<br />

versos ao santo festeja<strong>do</strong>, o mais importante eram os festejos populares:<br />

a fogueira, os fogos, as comidas e <strong>do</strong>ces típicos e principalmente as dan-<br />

ças: ciranda, cana-ver<strong>de</strong>-<strong>de</strong>-mão, cana-ver<strong>de</strong>-valsada, caranguejo, a ma-<br />

rabá, o Felipe e principalmente o Chiba, que duravam até o dia raiar.<br />

S<strong>em</strong>ana Santa<br />

Ainda guarda as cerimônias litúrgicas <strong>em</strong> que sobressa<strong>em</strong> as procissões<br />

soleníssimas, com imagens <strong>de</strong> vestir ou <strong>de</strong> roca, <strong>em</strong> tamanho natural, que<br />

acontec<strong>em</strong> no tríduo santo.<br />

Quinta – Feira: data festiva da ceia <strong>do</strong> Senhor, missa solene, lava-pés<br />

se realizam na Igreja Matriz ricamente a<strong>do</strong>rnada. A meia-noite realiza-<br />

se a interessante “Procissão <strong>do</strong> Fogaréu” conduzin<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong> <strong>do</strong><br />

Senhor da Cana-ver<strong>de</strong> <strong>em</strong> an<strong>do</strong>r <strong>de</strong>cora<strong>do</strong> com ervas medicinais pelas<br />

ruas da cida<strong>de</strong>. Ela simboliza a prisão <strong>de</strong> Cristo e se realiza com a ci-<br />

da<strong>de</strong> às escuras, com os fiéis conduzin<strong>do</strong> tochas <strong>de</strong> bambu acesas.<br />

Durante a procissão um personag<strong>em</strong>, vesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> centurião romano faz<br />

soar uma corneta nas esquinas e portas das igrejas, juntamente com o<br />

grave e soturno das matracas. As ervas medicinais: alecrim, erva-<strong>de</strong>-<br />

Santa-Maria e manjericão usadas para benzer feridas, traumatismos e<br />

cortes, acreditava o povo, atenuariam o sofrimento <strong>de</strong> Cristo, causa<strong>do</strong><br />

pelas machucaduras.<br />

Sexta – Feira: as 10:00 h. os homens sa<strong>em</strong> <strong>em</strong> procissão com a ima-<br />

g<strong>em</strong> <strong>do</strong> Senhor <strong>do</strong>s Passos, imag<strong>em</strong> <strong>em</strong> tamanho natural, vestida <strong>de</strong><br />

velu<strong>do</strong> púrpura, genuflecta, que carrega ao ombro imensa cruz <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira. Percorre as ruas <strong>em</strong> que se encontram os “Passos da Paixão”.<br />

Enquanto isso as mulheres se reún<strong>em</strong> na Capela <strong>de</strong> Nossa Senhora das<br />

Dores e sa<strong>em</strong> <strong>em</strong> procissão conduzin<strong>do</strong> a imag<strong>em</strong> da virg<strong>em</strong>, imag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> roca, vestida <strong>de</strong> velu<strong>do</strong> roxo, ten<strong>do</strong> nas mãos um lenço branco,<br />

exibin<strong>do</strong> olhos lacrimejantes e um vistoso punhal <strong>de</strong> prata crava<strong>do</strong> no<br />

peito. Encontram-se as procissões na esquina das ruas da Santa Rita<br />

com Dona Geralda, on<strong>de</strong> um padre prega o sermão <strong>do</strong> encontro entre<br />

filho e mãe e da <strong>do</strong>r <strong>de</strong> ambos. Por volta <strong>de</strong> 15h. Realiza-se na Matriz


a cerimônia da a<strong>do</strong>ração da Cruz, finda a qual, abr<strong>em</strong>-se as cortinas<br />

da capela mor e aparece a cena da crucificação com uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira <strong>em</strong> tamanho natural e personagens bíblicos. As 19h acontece<br />

a procissão <strong>do</strong> Senhor morto, que percorre o itinerário <strong>de</strong> costume<br />

conduzin<strong>do</strong> as imagens <strong>do</strong> Senhor e da Senhora da Soleda<strong>de</strong>. Ao lon-<br />

go <strong>do</strong> trajeto o Anjo Cantor entoa composições sacras, a banda <strong>de</strong><br />

música acompanha o cortejo, tocan<strong>do</strong> a marcha fúnebre.<br />

Sába<strong>do</strong>: as 20h. acontece na Matriz as cerimônias pascais, seguida da<br />

Missa da Ressurreição, com festivo bimbalhar <strong>do</strong>s sinos e intensa par-<br />

ticipação <strong>do</strong>s féis. Finda esta cerimônia acontece a Procissão festiva<br />

com a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Cristo ressuscita<strong>do</strong>.<br />

Festa <strong>do</strong> Divino Espírito Santo<br />

É anunciada com a levantação <strong>do</strong> mastro no Domingo <strong>de</strong> Páscoa, esta<br />

festa inicia-se quarenta dias após a Páscoa. Todas as noites festivas, com<br />

procissões <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>iras se dirig<strong>em</strong> à Igreja Matriz on<strong>de</strong> se faz<strong>em</strong> as ora-<br />

ções da novena, retornan<strong>do</strong> <strong>em</strong> seguida à casa <strong>do</strong> festeiro. Nesta casa,<br />

sob <strong>do</strong>ssel <strong>de</strong> velu<strong>do</strong> vermelho, fica arma<strong>do</strong> um altar ricamente a<strong>do</strong>rna<strong>do</strong><br />

e sobre ele a salva <strong>de</strong> pé, a coroa e o cetro <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Divino. Estas<br />

peças, <strong>de</strong> prata lavradas, <strong>do</strong> Séc. XVIII, são as insígnias <strong>do</strong> impera<strong>do</strong>r e<br />

são objetos <strong>de</strong> veneração e <strong>de</strong>voção da população simples e crente. Junto<br />

ao império ficam as ban<strong>de</strong>iras vermelhas <strong>em</strong> cujo centro está bordada a<br />

pomba branca que simboliza o Divino Espírito Santo, circundada por raios<br />

<strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s. Carregar estas ban<strong>de</strong>iras nas procissões da festa <strong>do</strong> Divino é a<br />

mais comum das promessas <strong>do</strong> povo <strong>de</strong>voto.<br />

Após as rezas das ladainhas acontec<strong>em</strong> várias brinca<strong>de</strong>iras e danças<br />

para a diversão <strong>do</strong>s presentes. Nos últimos dias da festa aparec<strong>em</strong>, para<br />

alegrar a criançada, as figuras folclóricas <strong>do</strong> boi-<strong>de</strong>-pano, <strong>do</strong> cavalinho e<br />

<strong>do</strong> capinha. Estas figuras num arr<strong>em</strong>e<strong>do</strong> <strong>de</strong> tourada, faz<strong>em</strong> o boi investir<br />

contra o povo e fazê-lo correr, tu<strong>do</strong> ao som <strong>de</strong> um toque <strong>de</strong> caixa e os<br />

gritos <strong>de</strong> coman<strong>do</strong> <strong>do</strong> Capinha ou patrão <strong>do</strong> boi. No último dia o boi<br />

morre e o seu patrão distribui, <strong>em</strong> versos, seus pedaços pelo povo e au-<br />

torida<strong>de</strong>s. No sába<strong>do</strong>, véspera da festa, por volta <strong>de</strong> 10 h., ban<strong>de</strong>iras,<br />

folia, banda <strong>de</strong> música e povo sa<strong>em</strong> <strong>em</strong> ban<strong>do</strong> precatório pelas ruas e<br />

bairros da cida<strong>de</strong> pedin<strong>do</strong> esmolas para a realização da festa. A chegada<br />

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das ban<strong>de</strong>iras, farto almoço é ofereci<strong>do</strong> ao povo, enquanto brinca<strong>de</strong>iras<br />

infantis <strong>de</strong>safiam a força e a <strong>de</strong>streza da rapaziada.<br />

Durante a última novena coroa-se um rapaz como Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Divi-<br />

no, que <strong>em</strong> seguida assiste as danças folclóricas realizadas <strong>em</strong> <strong>sua</strong> home-<br />

nag<strong>em</strong>. O Domingo <strong>de</strong> Pentecostes começa com alegre alvorada da folia<br />

e banda <strong>de</strong> música pelas ruas da cida<strong>de</strong>, badalar <strong>de</strong> sinos e espocar <strong>de</strong><br />

foguetes. As l0h. dirige-se para a Igreja o cortejo com o Impera<strong>do</strong>r e o<br />

an<strong>do</strong>r com o símbolo <strong>do</strong> Divino Espírito Santo para a celebração da Missa<br />

Cantada. Em seguida são distribuí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>ces para as crianças. As 17h ini-<br />

cia-se a procissão <strong>de</strong> encerramento, a Missa e Te Deum. Esta era a única<br />

festa religiosa feita por populares e não por irmanda<strong>de</strong>.<br />

<strong>Paraty</strong>, como cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância portuária, produtora e ex-<br />

porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> aguar<strong>de</strong>nte nos séculos XVIII e XIX, sofreu várias influências<br />

<strong>em</strong> <strong>sua</strong> cultura e costumes, nelas pre<strong>do</strong>minan<strong>do</strong>, é claro, as tradições<br />

portuguesas e as européias que lá se aninharam. Nosso carnaval é um<br />

misto <strong>do</strong> ibérico com gran<strong>de</strong> influência francesa e italiana, traduzida nas<br />

máscaras <strong>de</strong> papel machê e nos solitários mascara<strong>do</strong>s <strong>do</strong> carnaval <strong>de</strong> Ve-<br />

neza. Nossas folias, r<strong>em</strong>iniscências <strong>do</strong>s trova<strong>do</strong>res medievais, que exist<strong>em</strong><br />

até hoje nos Açores, com a mesma forma, músicos e funções. A S<strong>em</strong>ana<br />

Santa é mais espanhola, muito mais a sevilhana, que a portuguesa. A<br />

Festa <strong>do</strong> Divino Espírito Santo é a que mais se ass<strong>em</strong>elha com a que acon-<br />

tece nos Açores e altamente diferente da <strong>de</strong> Portugal continental. As<br />

festas juninas r<strong>em</strong>ontam, s<strong>em</strong> dúvida, ao Minho português, especialmen-<br />

te a <strong>do</strong> Santoinho (Santo Antoninho), <strong>em</strong> Viana <strong>do</strong> Castelo. Esta mescla<br />

<strong>de</strong> cultura, agregada a <strong>do</strong>s índios e a <strong>do</strong>s negros africanos, resultou no<br />

que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> religião e cultura paratiense.


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> R. A. – Procissão da Festa <strong>do</strong> Divino


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Ministério<br />

<strong>do</strong> Turismo

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