je587agoset09 - Exército
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“Raras vezes na história, um herói que alterou a<br />
história de um povo é um santo, que não precisa de<br />
lenda para ser grande na integridade de carácter, na<br />
inteireza de costumes, na unidade de vida. Têm sido<br />
as lendas a reduzir a personagem a um sanhudo<br />
impetuoso, um Orlando furioso, dado a intervalos<br />
místicos. Estamos perante um extraordinário chefe<br />
militar, marcado pela ética cristã. Estamos diante de<br />
alguém com uma visão para o país, pautado por<br />
valores cristãos. Venceu nas armas por causas<br />
nobres, venceu-se a si mesmo pela entrega a Deus.<br />
São assim os santos: deslumbrantes, a dar carne à<br />
transcendência.” 5<br />
A Situação Político-Militar<br />
na Guerra dos Cem Anos<br />
(1337-1453)<br />
[...] Historicamente, as causas da Guerra dos<br />
Cem Anos remontam à conquista de Inglaterra, por<br />
Guilherme, o Conquistador, que manteve no<br />
continente europeu extensos domínios senhoriais,<br />
nomeadamente em França, algo que ameaçava o<br />
projecto de consolidação da monarquia francesa.<br />
Este conflito teve como oponentes, como<br />
referido, a Inglaterra de Eduardo III e a França de<br />
Felipe VI. Estes soberanos mantiveram durante anos<br />
um clima de aceso confronto, no que respeitava ao<br />
direito ao trono da França, do qual Eduardo III,<br />
neto de Felipe IV, foi afastado em detrimento de<br />
Felipe VI, sobrinho do anterior Rei; às pretensões<br />
aos territórios gauleses até então administrados<br />
pelo Rei de Inglaterra, e que Felipe queria tomar<br />
para si; à disputa pela influência sobre a Flandres,<br />
território de grande importância comercial, cujo<br />
controlo cada um dos Reis pretendia. Por outro<br />
lado, saliente-se o apoio da França aos rebeldes<br />
escoceses, que a norte pressionavam os Ingleses,<br />
numa constante tentativa de ganhar soberania; o<br />
declínio do sistema feudal que, com o surgimento<br />
de uma nova classe, a Burguesia, cada vez mais<br />
colocava em causa o poder dos grandes senhores<br />
feudais; o facto de, nesta altura, a igreja católica<br />
estar dividida, chegando mesmo a existir dois Papas<br />
em simultâneo. As duas nações respondiam a<br />
cada um deles (Inglaterra a Roma e França a Avignon).<br />
Do ponto de vista militar, o Tenente-Coronel<br />
Luís Barroso destacou as diferenças entre as duas<br />
forças em confronto. Por um lado, a França com um<br />
exército grande, com uma Cavalaria robusta, que<br />
assentava a sua conduta no seu grande poder de<br />
choque e protecção, mas que, em contrapartida,<br />
era demasiado dispendiosa e pouco ágil. Por outro<br />
lado, os ingleses com características mais ligeiras,<br />
combinando a cavalaria feudal com soldados de<br />
infantaria e, entre eles, soldados arqueiros cujo valor<br />
militar tinha já ficado demonstrado em Gales, no<br />
final do século XII (Eduardo I). Com terreno de<br />
montanhas, a cavalaria treinada para combate<br />
simétrico e em terreno aberto era pouco eficaz. 6<br />
Estes dois modelos<br />
de “máquinas de guerra”<br />
confrontaram-se durante<br />
os cerca de 116<br />
anos de guerra, sendo de<br />
realçar a importância<br />
crucial de duas batalhas<br />
em particular, a de Crecy<br />
e de Poitier. A Guerra<br />
dos Cem Anos, em particular<br />
estas duas<br />
batalhas, foi de particular<br />
importância para o<br />
que viria a acontecer em<br />
Aljubarrota, revelando o<br />
papel preponderante<br />
das informações no<br />
campo de batalha, da<br />
preparação do terreno,<br />
da unidade de comando<br />
e do elemento apeado<br />
fazendo frente a um<br />
adversário mais forte.<br />
A crise<br />
de 1383-1385<br />
e a Batalha<br />
de Atoleiros<br />
Vista a situação no<br />
plano Europeu, marcado<br />
pelo conflito, importa reflectir um pouco sobre o<br />
que se passava na Península Ibérica naquele tempo.<br />
Em Castela, desde a morte de D. Afonso XI,<br />
acalentava-se uma acesa disputa entre os vários<br />
pretendentes ao trono, que se alastrou aos países<br />
vizinhos, entre os quais D. Fernando, que subiu ao<br />
trono de Portugal em 1367 e que levou a que este<br />
soberano se envolvesse em guerras sucessivas com<br />
Castela – as guerras Fernandinas –, que se<br />
revelariam desastrosas para o Reino, pela forma<br />
como foram resolvidas, com o casamento da única<br />
filha de D. Fernando com o Rei de Castela, D. Juan<br />
I, em 1383.<br />
Neste ano morreu D. Fernando, deixando o<br />
Reino mergulhado numa dolorosa crise dinástica,