je587agoset09 - Exército
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Fotos: CAVE<br />
D. Nuno foi um Comandante à frente do seu<br />
tempo, na forma como estudou o terreno e o seu<br />
adversário, catapultando-o a um “altar” onde<br />
poucos ousaram chegar. Se a Infantaria, como nós<br />
a entendemos, nasceu muito tempo depois, aquilo<br />
que nasceu com Nuno Álvares Pereira foi o âmago<br />
da própria infantaria – o combate da humildade, o<br />
combate onde o chefe e os seus subordinados se<br />
ladeiam ombro a ombro, potenciando o terreno em<br />
seu proveito. O combate da sobriedade, o combate<br />
da aplicação de todas as armas, mas acima de tudo,<br />
o combate do empenhamento da própria alma. E aí,<br />
nesse empenhamento da própria alma, Nuno<br />
Álvares Pereira, o místico, aparecia como ninguém;<br />
uma bandeira que era um altar flutuante, uma<br />
palavra para cada um dos seus homens, a forma de<br />
se dirigir antes da batalha àqueles que se iam bater<br />
sobre as suas ordens, incentivando-os e incutindolhes<br />
uma confiança inabalável, “por mais que sejam<br />
não nos vencem, não só porque Deus está<br />
connosco mas porque somos muito melhores do<br />
que eles”. E rematou o Coronel Américo Henriques:<br />
“A causa mais justa e maior pela qual um Homem<br />
de Bem se pode e deve debater é a dignidade, a<br />
integridade, a liberdade, a independência e a<br />
soberania da terra onde nascemos. E porque o<br />
representou como ninguém é que Nuno Álvares<br />
Pereira, muito antes de subir aos altares de Deus,<br />
subiu aos altares da Pátria e garantiu, e Deus queira<br />
que para sempre, a perenidade da nação<br />
Portuguesa”.<br />
“D. Nuno Álvares Pereira<br />
– O Santo”<br />
Desde os tempos de infância que D. Nuno teve<br />
um contacto profundo com a religião. Em todos os<br />
seus passos o seu louvor a Deus esteve presente.<br />
Era apenas Deus que se sobrepunha às suas outras<br />
prioridades, Portugal e Família. [...]<br />
No exercício do poder como Comandante Militar,<br />
soube ser Chefe, soube liderar. Não castigava com<br />
destempero, mas com brandura, de modo que os<br />
seus homens tinham dele “mais reverência que<br />
temor” (Crónica de D. João I, 425.). Usava de<br />
fraternidade na relação com os soldados, no<br />
respeito pela sua dignidade humana, independentemente<br />
da função. Criava com os capitães e<br />
homens de armas uma família, capaz de alegria<br />
serena. Sabia repartir com generosidade, sem<br />
qualquer cobiça, o que resultasse das incursões e<br />
que fosse tomado ao inimigo. Quando terminada a<br />
guerra, fazia a distribuição dos ganhos pelos<br />
homens que o acompanhavam nos combates. [...]<br />
Arquivo JE<br />
A sua benignidade brilhava mesmo para com os<br />
inimigos, uma vez que não odiava os adversários,<br />
nem permitia que a paixão dominasse o ardor da<br />
luta. Por isso cuidava dos prisioneiros e dos feridos<br />
e não deixava que destruíssem aldeias ou campos<br />
cultivados. Amparava as mulheres, as crianças e<br />
os pobres. Em momento de especial carestia<br />
distribuiu pelos castelhanos 6400 alqueires de trigo.<br />
Era manifesto o respeito e consideração que estas<br />
atitudes de ética cristã geravam.” 3<br />
Como se constata, D. Nuno era extremamente<br />
devoto e o seu temor a Deus era tal que fazia questão<br />
de diariamente cumprir as suas obrigações<br />
religiosas. Após cada vitória dirigia-se em<br />
peregrinação ao templo mais próximo, dedicando<br />
esses sucessos a Deus.<br />
A partir de 1411, após a paz com Castela, D.<br />
Nuno despiu a pele de guerreiro e passou a crescer<br />
o monge que sempre houve dentro de si,<br />
ingressando no Convento do Carmo, como o<br />
simples Frade Nuno de Santa Maria. Nestes anos<br />
finais da sua vida “…a própria tença a que D. Duarte<br />
o obrigou distribuiu-a em esmolas e ele mesmo<br />
pediu para os pobres. Foi esta atitude radical<br />
daquele que fora o fidalgo mais poderoso do País,<br />
que conquistou o coração do povo de Lisboa.<br />
Optar por viver numa cela solitária e escura, com<br />
apenas uma mesa de pinho, catre e manta gasta,<br />
crucifixo e disciplinas, no silêncio e na<br />
contemplação, na humildade e no abandono a Deus,<br />
era prova de santidade.” 4<br />
D. Nuno morreu em 1431 na sua cela, ouvindo o<br />
evangelho de S. João e cerrando os olhos quando<br />
se identificou com as palavras de Jesus a Maria<br />
pronunciadas do alto da cruz: “Eis aí o teu filho”.<br />
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