je587agoset09 - Exército
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pela marcha dos peregrinos, ao som de cânticos<br />
religiosos sérvios, convidativos à meditação e à<br />
espiritualidade, tendo por pano de fundo a bela e<br />
plácida paisagem transmontana. Porém, de súbito,<br />
depararam-se elementos kosovares, empunhando<br />
a recente bandeira do País proclamado<br />
independente e ocupando a estrada de acesso ao<br />
santuário. A uma distância de segurança, a Chaimite<br />
interrompeu a sua marcha, impedindo os peregrinos<br />
de avançarem mais. Os militares tiveram então de<br />
adoptar uma atitude mais activa, pois a paragem<br />
originou reacções e tentativas, por parte dos<br />
sérvios, de ultrapassar a viatura e prosseguir. A<br />
viatura que seguia à frente procedeu a uma primeira<br />
abordagem aos kosovares no local, tendo os<br />
militares estabelecido diálogo com os manifestantes,<br />
que demonstraram indisponibilidade para<br />
desimpedirem o percurso. A tentativa de diálogo,<br />
com vista à desmobilização dos indivíduos,<br />
prosseguiu sem sucesso, com o grupo, liderado<br />
por um autarca local, manifestando-se irredutível<br />
ante as pretensões dos sérvios de efectuarem uma<br />
visita ao lugar sagrado. Entre os seus argumentos<br />
constava a memória de massacres e da guerra, o<br />
conflito próximo que opôs vizinhos e espalhou<br />
sementes de ódio inter-étnico. Uma característica<br />
geral e, neste ponto bastante realista, foi a<br />
receptividade para com os militares da KFOR, ali<br />
bem representados pelos portugueses do 1BI, que<br />
demonstraram uma hábil capacidade de diálogo.<br />
Após algum tempo e de sucessivas tentativas<br />
de negociação, a tensão foi-se instaurando, o que<br />
levou ao posicionamento, à retaguarda dos<br />
manifestantes, de um pelotão de controlo de<br />
tumultos, pronto a entrar em acção. Entretanto, do<br />
lado sérvio a tensão agudizou-se igualmente, com<br />
os peregrinos a tentarem passar a barreira interposta<br />
pelos militares. A Chaimite avançou em direcção ao<br />
santuário. Atrás dela agitavam-se as bandeiras<br />
sérvias, odiadas pelos kosovares, que dirigiam<br />
insultos aos peregrinos que se aproximavam,<br />
brandindo energicamente as suas bandeiras. O<br />
confronto parecia inevitável. O pelotão de controlo<br />
de tumultos (CRC) interpôs-se entre as duas<br />
facções, colocando-se à frente dos manifestantes.<br />
Quando a Chaimite avançou, seguida pelos sérvios,<br />
os kosovares lançaram-se contra os elementos de<br />
CRC, procurando por todas as formas alcançar os<br />
peregrinos. Os militares de CRC actuaram no sentido<br />
de travar a violência, permitindo a passagem dos<br />
sérvios que, entretanto, ladeados por outros<br />
militares e com a Chaimite a constituir uma barreira<br />
de segurança móvel, seguiram o seu percurso,<br />
chegando enfim ao silêncio do santuário onde iam<br />
rezar aos seus mortos.<br />
Numa acção exemplar do ponto de vista das<br />
operações a desenvolver no Kosovo. Note-se que<br />
este tipo de incidente requer, sobretudo, por parte<br />
das forças de controlo, uma capacidade de<br />
adaptação constante do dispositivo da força à<br />
dinâmica dos manifestantes. Um incidente destes<br />
ilustra igualmente uma boa capacidade de comando<br />
e controlo, ao nível dos vários escalões de comando,<br />
desde o mais imediato, acrescida da capacidade<br />
de tomar decisões rápidas consentâneas com o<br />
evoluir da situação.<br />
A injecção de diversos incidentes de controlo<br />
de tumultos – CRC – ao longo do Exercício “Pristina<br />
091” justificou-se, no âmbito da missão atribuída<br />
ao Batalhão Português no Kosovo, dado que,<br />
apesar de a segurança pública ser uma missão da<br />
polícia local e/ou da polícia internacional, o Batalhão<br />
pode ser chamado a desempenhar temporariamente<br />
aquela função ou, em casos extremos, utilizar<br />
técnicas de controlo de tumultos para a sua<br />
salvaguarda. O Teatro de Operações do Kosovo,<br />
em termos de CRC, caracteriza-se por poder<br />
envolver a resposta a armas de fogo e granadas de<br />
mão, bem como a utilização das unidades, tanto em<br />
espaços apertados, em zonas urbanas, como em<br />
espaços abertos, no campo. A nossa Força Nacional<br />
Destacada (designada localmente por KTM) é,<br />
aliás, uma das duas únicas unidades com<br />
capacidade para executar e dirigir operações de CRC.<br />
A essa acção subjaz o princípio de que toda e<br />
qualquer modificação do estado de normalidade da<br />
vida social pode motivar uma súbita alteração da<br />
ordem pública, devendo por isso constituir<br />
preocupação para toda a Unidade militar. Na origem<br />
dos distúrbios podem encontrar-se diversas<br />
causas, designadamente razões de índole social e/<br />
ou psicológica, motivos económicos, políticos,<br />
desastres e calamidades públicas, indefinição<br />
quanto ao estatuto final do território, falta ou quebra<br />
de autoridade, etc., uma panóplia de motivos, a<br />
maioria dos quais está na base dos conflitos no<br />
território e da própria guerra, cuja memória é recente.<br />
Enquanto esta acção decorria, na zona<br />
delimitada pela ManBox Blue, houve necessidade<br />
de proceder ao deslocamento de uma companhia<br />
para norte, para a região que representava<br />
Mitrovica, onde residia um enclave sérvio. Tratouse<br />
de uma acção que encenou uma das operações<br />
que poderá ser atribuída ao 1BI no Kosovo, ou<br />
seja, a sua actuação em Mitrovica, com vista a<br />
garantir a segurança do ICTY – Tribunal Internacional<br />
da ex-Jugoslávia. A operação agora desencadeada,<br />
no aniversário da independência do Kosovo,<br />
simulou e transpôs para o treino a situação ocorrida<br />
há um ano atrás, quando tiveram lugar as acções