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je587agoset09 - Exército

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20<br />

pela marcha dos peregrinos, ao som de cânticos<br />

religiosos sérvios, convidativos à meditação e à<br />

espiritualidade, tendo por pano de fundo a bela e<br />

plácida paisagem transmontana. Porém, de súbito,<br />

depararam-se elementos kosovares, empunhando<br />

a recente bandeira do País proclamado<br />

independente e ocupando a estrada de acesso ao<br />

santuário. A uma distância de segurança, a Chaimite<br />

interrompeu a sua marcha, impedindo os peregrinos<br />

de avançarem mais. Os militares tiveram então de<br />

adoptar uma atitude mais activa, pois a paragem<br />

originou reacções e tentativas, por parte dos<br />

sérvios, de ultrapassar a viatura e prosseguir. A<br />

viatura que seguia à frente procedeu a uma primeira<br />

abordagem aos kosovares no local, tendo os<br />

militares estabelecido diálogo com os manifestantes,<br />

que demonstraram indisponibilidade para<br />

desimpedirem o percurso. A tentativa de diálogo,<br />

com vista à desmobilização dos indivíduos,<br />

prosseguiu sem sucesso, com o grupo, liderado<br />

por um autarca local, manifestando-se irredutível<br />

ante as pretensões dos sérvios de efectuarem uma<br />

visita ao lugar sagrado. Entre os seus argumentos<br />

constava a memória de massacres e da guerra, o<br />

conflito próximo que opôs vizinhos e espalhou<br />

sementes de ódio inter-étnico. Uma característica<br />

geral e, neste ponto bastante realista, foi a<br />

receptividade para com os militares da KFOR, ali<br />

bem representados pelos portugueses do 1BI, que<br />

demonstraram uma hábil capacidade de diálogo.<br />

Após algum tempo e de sucessivas tentativas<br />

de negociação, a tensão foi-se instaurando, o que<br />

levou ao posicionamento, à retaguarda dos<br />

manifestantes, de um pelotão de controlo de<br />

tumultos, pronto a entrar em acção. Entretanto, do<br />

lado sérvio a tensão agudizou-se igualmente, com<br />

os peregrinos a tentarem passar a barreira interposta<br />

pelos militares. A Chaimite avançou em direcção ao<br />

santuário. Atrás dela agitavam-se as bandeiras<br />

sérvias, odiadas pelos kosovares, que dirigiam<br />

insultos aos peregrinos que se aproximavam,<br />

brandindo energicamente as suas bandeiras. O<br />

confronto parecia inevitável. O pelotão de controlo<br />

de tumultos (CRC) interpôs-se entre as duas<br />

facções, colocando-se à frente dos manifestantes.<br />

Quando a Chaimite avançou, seguida pelos sérvios,<br />

os kosovares lançaram-se contra os elementos de<br />

CRC, procurando por todas as formas alcançar os<br />

peregrinos. Os militares de CRC actuaram no sentido<br />

de travar a violência, permitindo a passagem dos<br />

sérvios que, entretanto, ladeados por outros<br />

militares e com a Chaimite a constituir uma barreira<br />

de segurança móvel, seguiram o seu percurso,<br />

chegando enfim ao silêncio do santuário onde iam<br />

rezar aos seus mortos.<br />

Numa acção exemplar do ponto de vista das<br />

operações a desenvolver no Kosovo. Note-se que<br />

este tipo de incidente requer, sobretudo, por parte<br />

das forças de controlo, uma capacidade de<br />

adaptação constante do dispositivo da força à<br />

dinâmica dos manifestantes. Um incidente destes<br />

ilustra igualmente uma boa capacidade de comando<br />

e controlo, ao nível dos vários escalões de comando,<br />

desde o mais imediato, acrescida da capacidade<br />

de tomar decisões rápidas consentâneas com o<br />

evoluir da situação.<br />

A injecção de diversos incidentes de controlo<br />

de tumultos – CRC – ao longo do Exercício “Pristina<br />

091” justificou-se, no âmbito da missão atribuída<br />

ao Batalhão Português no Kosovo, dado que,<br />

apesar de a segurança pública ser uma missão da<br />

polícia local e/ou da polícia internacional, o Batalhão<br />

pode ser chamado a desempenhar temporariamente<br />

aquela função ou, em casos extremos, utilizar<br />

técnicas de controlo de tumultos para a sua<br />

salvaguarda. O Teatro de Operações do Kosovo,<br />

em termos de CRC, caracteriza-se por poder<br />

envolver a resposta a armas de fogo e granadas de<br />

mão, bem como a utilização das unidades, tanto em<br />

espaços apertados, em zonas urbanas, como em<br />

espaços abertos, no campo. A nossa Força Nacional<br />

Destacada (designada localmente por KTM) é,<br />

aliás, uma das duas únicas unidades com<br />

capacidade para executar e dirigir operações de CRC.<br />

A essa acção subjaz o princípio de que toda e<br />

qualquer modificação do estado de normalidade da<br />

vida social pode motivar uma súbita alteração da<br />

ordem pública, devendo por isso constituir<br />

preocupação para toda a Unidade militar. Na origem<br />

dos distúrbios podem encontrar-se diversas<br />

causas, designadamente razões de índole social e/<br />

ou psicológica, motivos económicos, políticos,<br />

desastres e calamidades públicas, indefinição<br />

quanto ao estatuto final do território, falta ou quebra<br />

de autoridade, etc., uma panóplia de motivos, a<br />

maioria dos quais está na base dos conflitos no<br />

território e da própria guerra, cuja memória é recente.<br />

Enquanto esta acção decorria, na zona<br />

delimitada pela ManBox Blue, houve necessidade<br />

de proceder ao deslocamento de uma companhia<br />

para norte, para a região que representava<br />

Mitrovica, onde residia um enclave sérvio. Tratouse<br />

de uma acção que encenou uma das operações<br />

que poderá ser atribuída ao 1BI no Kosovo, ou<br />

seja, a sua actuação em Mitrovica, com vista a<br />

garantir a segurança do ICTY – Tribunal Internacional<br />

da ex-Jugoslávia. A operação agora desencadeada,<br />

no aniversário da independência do Kosovo,<br />

simulou e transpôs para o treino a situação ocorrida<br />

há um ano atrás, quando tiveram lugar as acções

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