je587agoset09 - Exército
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PROPRIEDADE<br />
DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO<br />
Direcção, Redacção e Administração<br />
Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />
1069-020 Lisboa<br />
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REDACÇÃO<br />
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2.º Cabo Gonçalo Silva<br />
Biblioteca<br />
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Distribuição<br />
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Ass Operacional Filomena Remédios<br />
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Sargento-Ajudante Luís Silva<br />
SECRETARIA<br />
Furriel RC João Torres<br />
COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA<br />
Lusa - Agência de Notícias<br />
de Portugal, SA<br />
Centro de Audiovisuais do <strong>Exército</strong><br />
RCRPP/GabCEME<br />
EXECUÇÃO GRÁFICA<br />
Europress, Lda<br />
Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249<br />
Lisboa<br />
Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061<br />
Europress@mail.telepac.pt<br />
Tiragem − 6 000 exemplares<br />
Sumário<br />
Ano L - N.º 587 - Agosto-Setembro de 2009<br />
Os Infantes do Marão 14<br />
Dia da Arma e da Escola Prática<br />
de Infantaria 24<br />
O Projecto “SERVIR” e<br />
o IGeoE ganha Prémio<br />
das Boas Práticas 34<br />
Suplemento<br />
V – Afonso IV<br />
e a Batalha do Salado<br />
Secções<br />
Monumentos com História Militar – 4<br />
Editorial – 5<br />
Figuras e Factos – 8 a 13 e 38 a 41<br />
Uniformes Militares – 42 e 43<br />
Concurso Fotográfico – 44<br />
Livros – 45<br />
Passatempos de outros tempos – 46<br />
Capa: Crónica do Condestável de Portugal, por um autor anónimo do Século XIV,<br />
adaptação de Jaime Cortezão, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1936<br />
Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias<br />
Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do <strong>Exército</strong> Português<br />
Depósito Legal n.º 1465/82<br />
ISSN 0871/8598 ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60
4<br />
MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR<br />
Escultura de Nuno Álvares Pereira,<br />
EPI<br />
As datas conhecidas que balizam a passagem terrena<br />
do Santo Condestável, que terá vivido entre 1360 e<br />
1431, são, evidentemente, bastante antigas, conduzindo-nos<br />
para os caminhos poeirentos das memórias de antepassados<br />
longínquos. No entanto, a precisão das descrições<br />
fisionómicas de D. Nuno Álvares Pereira, tal como atestadas<br />
pelos cronistas carmelitas que lhe elaboraram as primeiras<br />
biografias, são suficientes para termos dele uma imagem quase<br />
nítida. “[O] seu rosto: comprido e branco, nariz afilado, olhos<br />
pequenos e vivos, sobrancelhas arqueadas, rugas na testa,<br />
boca pequena, cabelo e barba ruivos, sendo esta pouco densa<br />
e caída.” 1<br />
Aquela que é considerada a mais verdadeira efígie do<br />
Santo foi um retrato do séc. XV que se encontrava no<br />
espaldar da sacristia do Convento do Carmo, em Lisboa,<br />
onde S. Nuno de Santa Maria era representado a meiocorpo,<br />
vestido como donato carmelita. Infelizmente, a obra<br />
perdeu-se num incêndio resultante do terramoto de 1755.<br />
Porém, subsistem algumas imagens inspiradas naquele<br />
original, como a xilogravura da segunda edição da Crónica<br />
do Condestabre (1554) e dois retratos do séc. XVII<br />
existentes no Museu Nacional de Arte Antiga. Claro que,<br />
a todas as representações os respectivos autores vão<br />
emprestando traços e adereços distintos. Ainda retratado<br />
enquanto religioso, a sua primeira aparição de corpo inteiro<br />
é numa pintura renascentista sobre tábua, onde surge<br />
também como donato carmelita. É com esta indumentária<br />
que o escultor Salvador Barata Feyo eterniza o Condestável<br />
numa colunata, em Fátima.<br />
A mais antiga figura de Nuno Álvares Pereira em traje<br />
guerreiro encontra-se também numa xilogravura na<br />
Crónica do Condestabre, mas na edição de Germão<br />
Galhardo, de 1526. D. Nuno aparece de pé, de corpo inteiro<br />
e já calvo, vestindo uma armadura e segurando em ambas<br />
as mãos uma maça, tendo o elmo aos seus pés.<br />
Recente – inaugurada em 1968 – é a conhecida estátua<br />
equestre do Santo Guerreiro, na Batalha, do escultor<br />
Simões de Almeida. Menos divulgada poderá ser uma<br />
representação de D. Nuno como pagem, que se encontra<br />
no Palácio da Justiça do Porto, num fresco da autoria de<br />
Dórdio Gomes.<br />
Na Escola Prática de Infantaria estão duas esculturas<br />
do Santo. Em ambas surge jovem, guerreiro e de corpo<br />
inteiro.<br />
Numa, em bronze, D. Nuno surge com elmo e couraça,<br />
segurando na mão direita uma espada, sobre o peito, e na<br />
esquerda um escudo ornamentado com a cruz dos Pereiras.<br />
Na outra – que serve de fundo a este texto – S. Nuno<br />
de Santa Maria foi esculpido em madeira de cedro pelo<br />
mestre escultor Domingos Soares Branco. É retratado com<br />
aspecto jovem, sem barba, austero e atlético, envergando<br />
uma longa capa escarlate e armadura completa, sobre a<br />
qual veste uma malha verde. Segura na mão direita o martelo<br />
de armas e, na esquerda, junto à ilharga, o elmo. A escultura<br />
tem proporções humanas e foi concluída em 1971, tendo<br />
sido inaugurada no encerramento do Tirocínio Magalhães<br />
Osório. Na obra, Nuno Álvares Pereira é representado<br />
sobre uma base inspirada no Convento do Carmo, última<br />
morada do Santo Condestável. Esta escultura faz parte da<br />
Colecção da Escola Prática de Infantaria, encontrando-se<br />
ali em exposição permanente.JE<br />
Tenente RC Paulo Moreira (texto e foto)<br />
1 http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=71919
A 14 de Agosto de 1385 ocorreu a Batalha de Aljubarrota, com o resultado e as<br />
consequências que todos os portugueses devem saber e orgulhar-se dos seus<br />
antepassados, pois muitos deles deram a vida pela Pátria. Hoje, como ontem, assim continua<br />
a ser, para que a Bandeira das Quinas continue a desfraldar-se com vigor, serenidade<br />
e respeito aos olhos do Mundo.<br />
O resultado vitorioso desta batalha frente aos castelhanos decidiu a manutenção de<br />
Portugal como nação independente. Nela se destacou o ínclito D. Nuno Álvares Pereira,<br />
ao manifestar duma forma admirável superiores dotes de comando, com uma fé inabalável<br />
no épico destino da sua Pátria. Com um entusiasmo contagiante teve o dom de animar os<br />
seus soldados e apesar de serem em número muito mais reduzido do que os seus adversários<br />
sorriu-lhes a vitória.<br />
Muitas vontades se juntam para vencer! E neste Mundo em mudança os vencederores<br />
continuam a ser os homens e as mulheres que conseguem inovar, com valores e princípios<br />
que honram aqueles que os vestem. Nuno Álvares Pereira venceu a Batalha de Aljubarrota,<br />
tal como já tinha vencido a Batalha dos Atoleiros, mandou apear os cavaleiros e organizou<br />
a formação do quadrado, com os cavaleiros, à frente, segurando as lanças e os besteiros,<br />
à retaguarda, aguardando o ataque inimigo. Depois do ataque e do desfecho vitorioso os<br />
portugueses conservaram-se três dias no campo de batalha, como era hábito na época.<br />
É nesta data memorável, 14 de Agosto, que a Arma e a Escola Prática de Infantaria<br />
celebram o seu dia. Um dia glorioso para a História de um povo que mereceu um chefe com<br />
valor ao nível da sua valentia e que a Infantaria Portuguesa escolheu para Patrono,<br />
oficialmente proclamado na década de 40 do século passado.<br />
Nos tempos que vivemos, em que as ameaças de vária índole são uma realidade, desde<br />
a crise económica ao terrorismo, da droga ao tráfico de armas, dos assaltos aos crimes<br />
violentos, todos precisamos de referências e de orientações para que a nossa sociedade<br />
continue a sua caminhada em liberdade, em democracia e a cidadania seja uma realidade.<br />
Se os Infantes de Portugal encontraram em Nuno Álvares Pereira o exemplo a seguir,<br />
pleno de virtudes militares e humanas, nós desafiamos aqueles que nos lêem, em particular<br />
a juventude portuguesa, a conhecerem melhor esta admirável personagem, herói e<br />
santo, pois para além de habitar o coração dos portugueses que o conhecem, adquiriu no<br />
passado 26 de Abril o direito de figurar nos altares do Mundo Cristão.<br />
Aquele que foi o Condestável de Portugal e mais tarde Frei Nuno de Santa Maria,<br />
quando escolheu o recolhimento do Convento do Carmo e o embaixador de Castela lhe<br />
perguntou se nunca mais despiria o hábito, o célebre patriota retorquiu “Só se o rei de<br />
Castela viesse outra vez em guerra a Portugal; neste caso, enquanto vivo, hei-de defender<br />
a Religião e a Pátria!”<br />
As suas virtudes são tantas e tamanhas que, na nossa modéstia opinião, poderia ser<br />
patrono de todos os portugueses, e associamo-nos às merecidas palavras de Rodrigues<br />
Lobo:<br />
“[...] valoroso<br />
Claro libertador da pátria terra,<br />
Que imortal fez seu nome e glorioso<br />
Em armas, em justiça, em paz e em guerra [...]”<br />
5
8<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Dia da Zona Militar da Madeira<br />
Nos dias 28 e 29 de Maio de 2009 decorreram as<br />
comemorações do Dia da Zona Militar da Madeira,<br />
presididas pelo Tenente-General Oliveira Cardoso, Vice-Chefe<br />
3.º Ano da Brigada de Intervenção<br />
A<br />
Brigada de Intervenção (BrigInt) comemorou, no<br />
dia 1 de Junho, o seu terceiro ano de existência,<br />
assinalando a data em que, decorrente da transformação do<br />
<strong>Exército</strong>, passou de Brigada Ligeira de Intervenção a Brigada<br />
de Intervenção.<br />
Como corolário das actividades desenvolvidas a<br />
propósito das comemorações do 3.º aniversário da Brigada<br />
de Intervenção, e momento mais alto das cerimónias,<br />
realizou-se uma imponente parada militar, que contou com<br />
do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, contando com a presença do<br />
Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina<br />
Monteiro.<br />
No dia 28, à noite, realizou-se no pátio interior do palácio<br />
de São Lourenço um espectáculo musical e de luz “Viva a<br />
Música no Palácio”, com a Banda Militar da Madeira,<br />
acompanhada pelo Coro Juvenil e o “Emsemble Vocal Regina<br />
Pacis”, do Gabinete Coordenador de Educação Artística. A<br />
assistência de cerca de quinhentos espectadores aplaudiu<br />
com entusiasmo a apresentação.<br />
Em 29 de Maio foi realizada a Cerimónia Militar, na parada<br />
do Regimento de Guarnição n.º 3, na qual se perfilou uma<br />
formatura representativa da estrutura base e da força<br />
operacional da ZMM, comandada pelo Coronel Portela Ribeiro,<br />
2.º Comandante da ZMM.<br />
No início teve lugar a cerimónia de Homenagem aos Militares<br />
Mortos do Arquipélago, seguida da integração do Estandarte<br />
Nacional, a alocução pelo Major-General Comandante<br />
da ZMM, a leitura da mensagem do General Chefe do Estado-<br />
Maior do <strong>Exército</strong> e a imposição de condecorações. A cerimónia<br />
terminou com o desfile das forças apeadas e em viaturas.<br />
mais de 700 efectivos oriundos de todas as Unidades<br />
dependentes do Comando da Brigada. As armas ganharam<br />
vulto na carismática Praça Heróis do Ultramar, contígua ao<br />
Centro Comercial Dolce Vita, no dia 5 de Junho.<br />
A cerimónia foi presidida pelo Vice-Chefe do Estado-<br />
Maior do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Oliveira Cardoso, tendo<br />
marcado igualmente presença o Comandante Operacional<br />
do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina Monteiro, entre outras<br />
altas entidades civis e militares.<br />
Fazendo jus às mais nobres tradições da Instituição<br />
Castrense, a data festiva do aniversário da BrigInt foi<br />
assinalada por um vasto programa de iniciativas de cariz<br />
militar, cultural, desportivo e recreativo, centrado na Cidade<br />
de Coimbra, onde a Brigada tem implantado o seu Comando,<br />
no Aquartelamento de Sant'Anna.<br />
As comemorações do Dia da BrigInt envolveram um<br />
leque variado de actividades, realçando-se: o IV Encontro<br />
de Artes, que decorreu no Comando da Brigada de<br />
Intervenção; as actuações do Grupo de Fados do Orfeon<br />
Académico de Coimbra, do Grupo Coral e Musical<br />
“Moderp” e da fanfarra da BrigInt; o Festival Gastronómico<br />
do Distrito de Coimbra; Actividades de divulgação; uma<br />
Exposição Fotográfica e Palestra sobre a Participação<br />
Portuguesa na Primeira Guerra Mundial; uma Exposição<br />
Estática de Material e Actividades Radicais; uma Exposição<br />
Estática das FND aprontadas pela Brigada de Intervenção;<br />
uma Exposição sobre o Infante D. Pedro; e o Concerto pela<br />
Orquestra Sinfónica do <strong>Exército</strong> e Quarteto de Cordas “Os<br />
Corvos”; II Open de Golfe da BrigInt.
Visita à Zona Militar da Madeira<br />
Decorreu, nos passados dias 15 e 16 de Junho, a<br />
visita de trabalho do Chefe do Estado-Maior do<br />
<strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, à Zona Militar da<br />
Madeira (ZMM), acompanhado pelo Tenente-General Artur<br />
Neves Pina Monteiro, Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>.<br />
O programa incluiu a visita a todas Unidades e Órgãos do<br />
<strong>Exército</strong> sediados na Ilha da Madeira, bem como a apresentação<br />
de cumprimentos protocolares. O primeiro dia foi sobretudo<br />
preenchido com a visita ao Comando da Zona Militar da Madeira,<br />
sediado no Palácio de São Lourenço, onde, para além de receber<br />
as honras e os cumprimentos militares devidos, foi exposta a<br />
situação da Zona Militar pelo seu Comandante, Major-General<br />
Miguel Rosas Leitão, a que se seguiu um briefing sobre a<br />
actividade operacional, envolvendo, em vídeo conferência, o<br />
Estado-Maior do Comando da Zona Militar, o Regimento de<br />
Guarnição n.º 3 e as suas Subunidades integrantes da FOPE<br />
(Força Operacional Permanente) e do Comando Operacional da<br />
Madeira.<br />
Ainda neste dia, o General Chefe do Estado-Maior do<br />
<strong>Exército</strong> apresentou cumprimentos protocolares às mais altas<br />
entidades da Região Autónoma da Madeira, como o<br />
Representante da República, o Presidente da Assembleia<br />
Regional e o Presidente do Governo Regional.<br />
A finalizar o dia, o General CEME foi presenteado com um<br />
espectáculo de música ligeira e luz no Forte de São Tiago, onde<br />
a Banda Militar da Madeira foi acompanhada pelos alunos do<br />
Conservatório - Escola das Artes, e por cantores de reconhecido<br />
valor, tendo o público acorrido em grande número.<br />
No segundo dia da visita, o General CEME começou por<br />
visitar o Museu Militar da Madeira para conhecer, in loco, o<br />
projecto de ampliação elaborado pelo Coronel Rui Carita, a que<br />
se seguiu, nas instalações do Complexo Deão, uma exposição<br />
pela Oficial Médica da Zona Militar acerca<br />
do apoio sanitário que ali é prestado à família<br />
militar residente na Madeira.<br />
Seguiu-se uma visita breve às<br />
instalações do Quartel de S. Martinho, Ex-<br />
GAG 2, onde se encontra aquartelada a<br />
Unidade de Apoio do Comando da ZMM.<br />
Na sequência da agenda desta visita de<br />
trabalho, o General Chefe do Estado-Maior<br />
do <strong>Exército</strong> deslocou-se ao Regimento de<br />
Guarnição n.º 3 que, após receber as Honras<br />
Militares e a apresentação de cumprimentos<br />
pelos militares e civis do Regimento, seguiu<br />
para uma reunião de trabalho, na qual o<br />
Coronel de Infantaria Batalha da Silva,<br />
Comandante do Regimento, apresentou, sob<br />
a forma de briefing, as limitações e desafios<br />
da Unidade, nas várias áreas a seu cargo,<br />
seguindo-se uma visita ao aquartelamento.<br />
O almoço volante, que se realizou na<br />
Messe de Oficiais do RG3, contou com a<br />
presença dos responsáveis pelas Forças e<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Serviços de Segurança na Região, Entidades Regionais e uma<br />
representação de Oficiais na Reforma. Após o almoço, teve<br />
lugar a Formatura Geral e o desfile das forças apeadas e<br />
motorizadas do Batalhão de Infantaria e da Bateria de Artilharia<br />
Antiaérea e da FOPE/ZMM.<br />
A finalizar as actividades agendadas, o General CEME visitou<br />
ainda as instalações do Centro de Recrutamento do Funchal,<br />
tendo o Chefe daquele Órgão, Tenente-Coronel Vargas,<br />
apresentado um ponto de situação relativo ao cumprimento da<br />
missão. Durante a sua visita, o General CEME realçou a<br />
importância da necessidade de aumentar o esforço de cativação<br />
dos jovens, com o contributo de todos os elementos do <strong>Exército</strong>.<br />
Este evento mostrou uma clara intenção de manter um<br />
contacto próximo e permanente com a realidade e a vivência<br />
diária da instituição.<br />
9
10<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Zona Militar dos Açores recebe Comandante do <strong>Exército</strong><br />
Integrado no programa de visita às U/E/O do <strong>Exército</strong>,<br />
a Zona Militar dos Açores (ZMA) recebeu a visita do<br />
General Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, José Luís Pinto<br />
Ramalho, nos dias 2 e 3 de Julho de 2009.<br />
Com o objectivo de promover contacto com a realidade<br />
das condições de vida nas unidades da ZMA, o General CEME<br />
promoveu o diálogo com o Comandante da Zona, Major-<br />
General Cameira Martins, que lhe expressou as suas<br />
preocupações e ambições da Zona e do seu pessoal.<br />
Acompanhado pelo Tenente-General Pina Monteiro<br />
(Comandante Operacional), o Tenente-General Formeiro<br />
Monteiro (Quartel Mestre General) , visitou o Forte de São<br />
Brás (Comando da Zona Militar), o Quartel de S. Gonçalo<br />
(Unidade de Apoio ao Comando) e o Regimento de Guarnição<br />
N.º2 (RG2), em Arrifes, tendo apresentado cumprimentos<br />
protocolares às mais altas entidades da Região Autónoma<br />
dos Açores. Devido às más condições meteorológicas, a<br />
visita prevista ao Faial e ao<br />
Regimento de Guarnição<br />
+N.º1, em Angra do Heroísmo,<br />
tiveram que ser canceladas.<br />
Regimento de<br />
Guarnição N.º2<br />
As condições climatéricas<br />
adversas que se fizeram<br />
sentir obrigaram a ligeiros<br />
ajustamentos ao programa<br />
estabelecido para a visita<br />
efectuada no dia 3 de Julho<br />
ao RG2, nos Arrifes.<br />
As devidas honras militares<br />
deram início à visita de<br />
trabalho, seguindo-se uma cerimónia de homenagem aos<br />
mortos, sendo colocada uma coroa de flores no monumento<br />
existente junto à porta de armas em homenagem aos que<br />
tombaram em combate, sacrificando a vida pela Pátria.<br />
Seguidamente, o Salão Nobre da Unidade acolheu os<br />
Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis que prestam<br />
serviço no RG2 para a apresentação de cumprimentos. Foram<br />
proferidas palavras de boas vindas por parte do Comandante<br />
do RG2, Coronel de Artilharia José António Guerreiro Martins,<br />
e do General CEME.<br />
A visita continuou na sala de reuniões do RG2, onde o<br />
Comandante da Unidade fez um briefing, referindo aspectos<br />
da missão do regimento, nomeadamente, a instrução de<br />
condução categoria “B” e “C”, os cursos de Formação Geral<br />
Comum do <strong>Exército</strong>, a instrução e treino dos encargos<br />
operacionais (2º Batalhão de Infantaria/FZMA e Bateria de<br />
Artilharia Anti-Aérea/FZMA), a colaboração e apoio a<br />
entidades civis, com particular destaque para a colaboração<br />
com a Sociedade de Promoção e Gestão Ambiental, S.A.<br />
(SPRAçores), no âmbito do protocolo assinado entre o<br />
Comando da ZMA e esta entidade.<br />
A revista à formatura do encargo operacional,<br />
equipamento, viaturas e exposição de armamento na Parada<br />
D. Nuno Álvares Pereira, juntamente com uma mostra das<br />
actividades levadas a efeito pela SPRAçores, concluíram a<br />
visita ao RG2.<br />
Inauguração do Centro de Documentação<br />
Situado na cidade de Ponta Delgada, o Centro de Documentação<br />
sediado no Forte de São Brás foi inaugurado a 3<br />
de Junho de 2009, aquando da visita do General CEME à<br />
ZMA.<br />
O projecto de criação do Centro de Documentação na<br />
ZMA partiu de uma ideia inicial que passava pela criação de<br />
um pólo de arquivo do Arquivo Geral do <strong>Exército</strong> e do Arquivo
Histórico Militar para a ZMA. Este projecto baseia-se no<br />
tratamento, preservação e divulgação do património documental<br />
militar da região e a disponibilização do mesmo à<br />
comunidade. Este projecto surgiu da necessidade da ZMA<br />
dispor de um local para tratar, organizar, gerir e disponibilizar<br />
ao público o material bibliográfico que possui, uma vez que a<br />
reestruturação do <strong>Exército</strong> não contempla o serviço de<br />
biblioteca na nova estrutura orgânica dos Comandos Militares.<br />
O Centro de Documentação dispõe de um acervo documental<br />
vasto, que demonstra o esforço do <strong>Exército</strong> Português<br />
na defesa e manutenção da soberania nacional nos<br />
Arquipélagos Atlânticos, perante a ameaça externa<br />
proveniente das estratégias político-militares decorrentes da<br />
II Guerra Mundial. O seu espólio abrange uma série de áreas,<br />
que vão desde o urbanismo, edificação e infraestruturas até<br />
aos aspectos sociológicos, geoestratégicos, económicos e<br />
político sociais.<br />
Concerto de Música Clássica<br />
A Praça de Armas do Forte de São Brás acolheu um concerto<br />
de música clássica pela Banda Militar dos Açores, que<br />
contou com a participação do Coral de São José, músicos do<br />
Conservatório Regional de Ponta Delgada, da Soprana<br />
Sandra Medeiros e do Tenor Coronel Frederico Almendra,<br />
efeméride integrada no programa da visita do General CEME.<br />
General CEME visita <strong>Exército</strong> Chileno<br />
O<br />
<strong>Exército</strong> Chileno recebeu a visita do General CEME<br />
José Luís Pinto Ramalho, no período de 20 a 23 de<br />
Julho de 2009, promovendo uma troca de impressões e<br />
reforço de amizade e cooperação com o seu homólogo, o<br />
General de <strong>Exército</strong> Óscar Izurieta Ferrer.<br />
No primeiro dia realizou-se uma reunião de trabalho em<br />
Santiago do Chile, onde foram apresentados os aspectos<br />
mais relevantes do processo de transformação do <strong>Exército</strong><br />
Chileno, sendo discutidos os principais projectos no âmbito<br />
operacional, da organização, da formação, da inovação e do<br />
reequipamento.<br />
No decorrer do dia, o Museu Militar foi o local escolhido<br />
para a condecoração do General CEME com a Medalha “Cruz<br />
de la Victoria”, destinada a agraciar e testemunhar o<br />
reconhecimento e gratidão pelo empenho no fortalecimento<br />
dos laços de amizade e cooperação entre os dois <strong>Exército</strong>s.<br />
A cerimónia contou com a presença do corpo de Oficiais<br />
Generais Chileno, a comitiva que acompanhou o General<br />
CEME, o Embaixador de Portugal no Chile, Dr. José Manuel<br />
Paes Moreira, e ainda com 2 Oficiais e 2 Sargentos, membros<br />
constituintes de uma delegação portuguesa em intercâmbio<br />
profissional na Brigada de Operações Especiais e Brigada<br />
Blindada.<br />
Ainda em Santiago do Chile, o General CEME e a<br />
respectiva comitiva visitaram a Brigada de Operações<br />
Especiais e, no dia seguinte, a Fábrica y Maestranzas del<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Foram executadas várias obras de compositores clássicos,<br />
das quais se destacam Carmina Burana, de C. Orff, Nessum<br />
Dorma, de G. Puccini e 1812, de P. Tchaikovsky, esta última<br />
com a particularidade de ter incluído salvas de artilharia.<br />
O concerto foi aberto ao público em geral, tendo superado<br />
as expectativas em termos de adesão, sendo intenção do<br />
Comando da ZMA que o mesmo venha a ter uma frequência<br />
anual e passe a integrar o calendário cultural de Ponta Delgada.<br />
Ejército, que integra toda a área industrial de produção de<br />
armamento e munições, assim como a manutenção das<br />
viaturas do <strong>Exército</strong> Chileno.<br />
O Centro de Treino de Combate Blindado, localizado em<br />
Iquique e a 2.ª Brigada Blindada “Cazadores” Forte<br />
Baquedano, situada no deserto de Atacama, foram também<br />
alvo de uma visita que teve lugar no dia 22 de Julho.<br />
11
12<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Dia dos Comandos e Encerramento do 113.º Curso de Comandos<br />
Realizou-se no dia 29 de Junho, na Serra da<br />
Carregueira, a comemoração do Dia dos Comandos<br />
e o encerramento do 113.º Curso de Comandos.<br />
A cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior do<br />
<strong>Exército</strong>, o General Pinto Ramalho, e contou com a presença<br />
do Presidente da Câmara de Sintra, Prof. Dr. Fernando Seara,<br />
entre outros ilustres convidados civis e militares.<br />
A chuva fez-se sentir com alguma intensidade, mas não<br />
fez vacilar os homens nem lhes perturbou o semblante<br />
tranquilo perante a adversidade. Deste dia salienta-se a leitura<br />
do “código Comando” (testemunho do compromisso solene<br />
assumido por aqueles que ganharam o direito a ostentar as<br />
Visita do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong> Espanhol<br />
Decorreu, entre 24 e 26 de Junho, a visita do Chefe do<br />
Estado-Maior do <strong>Exército</strong> Espanhol (CEME), General-de-<strong>Exército</strong><br />
D. Fulgencio Coll Bucher, ao <strong>Exército</strong><br />
Português. A acompanhá-lo vieram o General-de-Brigada José<br />
insígnias); a Homenagem a todos os militares que, nos<br />
“Comandos”, tombaram ao serviço da Pátria; a Imposição de<br />
Condecorações; a Imposição das Insígnias aos novos<br />
“Comandos” do 113.º Curso de Comandos; a entoação do<br />
Hino dos Comandos; e o Desfile das Forças em Parada.<br />
O Comandante do Centro de Tropas Comandos, Coronel<br />
Soeiro Graça, na sua alocução, agradeceu aos presentes por<br />
todo o apoio recebido. Na pequena resenha que deu a<br />
conhecer, sobre a história dos comandos, afirmou que “as<br />
actuais Tropas Comandos, hoje naturalmente ajustadas aos<br />
novos requisitos operacionais, herdaram a coragem, a<br />
determinação e a competência profissional, sobejamente<br />
reconhecidas aos Comandos.” Fez ainda um balanço das<br />
actividades desenvolvidas no ano que findou, realçando o<br />
113.º Curso de Comandos, deixando a estes futuros Comandos<br />
algumas palavras de apreço e confiança.<br />
O Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, na sua mensagem,<br />
manifestou o seu orgulho ao estar presente neste dia, realçando<br />
a excelente preparação física e psicológica dos Comandos,<br />
inúmeras vezes demonstrada no teatro de operações. “As tropas<br />
Comando são uma referência no conjunto das forças terrestres<br />
nacionais, uma realidade que, indiscutivelmente, orgulha a<br />
Nação e são uma mais valia do <strong>Exército</strong>.” Relembrou também o<br />
esforço de reorganização e de consolidação da estrutura desta<br />
força, que se iniciou há dois anos.<br />
Relativamente ao 113.º curso de comandos, que terminou<br />
neste dia, iniciou-se em 6 de Abril de 2009, com 80 militares,<br />
sendo 2 oficiais, 13 Sargentos e 65 praças. Concluíram o curso<br />
com aproveitamento, 1 oficial, 6 sargentos e 17 praças.<br />
Carlos de la Fuente Chacón, o Tenente-Coronel Pólo del Barrio<br />
e o Tenente-Coronel Juan Ignacio Molina Capilla.<br />
A estada em Portugal começou com uma apresentação de<br />
cumprimentos na Embaixada de Espanha, ainda na manhã do<br />
dia 24, seguida da visita ao Estado-Maior do <strong>Exército</strong>. Ali, no<br />
Pátio dos Canhões, o CEME espanhol recebeu a devidas<br />
honras militares e, depois de almoço, teve um encontro privado<br />
com o Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General Pinto<br />
Ramalho. Durante a tarde, o General-de-<strong>Exército</strong> Coll Bucher<br />
teve a oportunidade de visitar uma exposição sobre o <strong>Exército</strong><br />
Português e conheceu o Museu Militar. Antes de deixar as<br />
instalações do Estado-Maior, assinou o Livro de Honra do<br />
<strong>Exército</strong> e recebeu uma Lembrança Institucional.<br />
No dia 25, quinta-feira, deslocou-se ao Campo de Tiro de<br />
Alcochete e assistiu a uma demonstração de capacidades da<br />
Brigada de Reacção Rápida. À tarde, visitou, na Escola Prática<br />
de Infantaria, o Centro de Instrução OAP (Operações de Apoio<br />
à Paz).<br />
Na sexta-feira, dia 26, o CEME espanhol esteve na<br />
Academia Militar, em Lisboa, onde foi debatido o Processo de<br />
Bolonha aplicado ao ensino superior militar. No mesmo dia, à<br />
tarde, regressou a Espanha.
FIGURAS e FACTOS<br />
Cerimónia de Homenagem ao Bispo das Forças Armadas<br />
D. António dos Reis Rodrigues<br />
Realizou-se dia 14 de Julho, no Auditório da Academia<br />
Militar, na Amadora, a Cerimónia de Homenagem a<br />
título póstumo ao primeiro Bispo das Forças Armadas<br />
Portuguesas, Dom António dos Reis Rodrigues, condecorado<br />
com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.<br />
A Cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior das<br />
Forças Armadas, General Valença Pinto, em quem o Presidente<br />
da República delegou competências para entregar as insígnias<br />
da Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. A cerimónia contou<br />
com a presença do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, o General<br />
Pinto Ramalho, entre outros ilustres convidados militares,<br />
civis e eclesiásticos.<br />
O Bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Januário<br />
Torgal Ferreira, o Tenente-General Pereira Pinto e o Chefe do<br />
Estado-Maior das Forças Armadas, fizeram uso da palavra e<br />
deixaram aos presentes uma ideia de quem foi Dom António<br />
dos Reis Rodrigues, desde a história da sua vida, às funções<br />
que desempenhou, “um homem da igreja e um Príncipe do<br />
pensamento”.<br />
D. António dos Reis Rodrigues nasceu em Ourém, em 24 de<br />
Junho de 1918, e faleceu no pretérito dia 3 de Fevereiro de 2009.<br />
D. António dos Reis Rodrigues deixa o seu nome ligado a<br />
gerações de jovens universitários pela formação que lhes<br />
ofereceu e pelo cunho de compromisso humano e cristão na<br />
sociedade com que impregnou as suas vidas. A homenagem<br />
que, há cerca de cinco anos, esses numerosos militantes da<br />
JUC lhe prestaram, foi um sinal público e eloquente do muito<br />
que lhe ficaram a dever. Muitos deles ocuparam, e ocupam<br />
ainda, nestas três décadas de democracia portuguesa, lugares<br />
de particular relevo, em variadíssimas áreas da vida nacional, o<br />
que atesta o grau de empenhamento, adquirido através da acção<br />
do seu assistente religioso.<br />
Realça-se o seu desempenho como capelão da Academia<br />
Militar (1947-63) e as funções de Pró-Vigário Castrense e Capelão-<br />
Mor das Forças Armadas (1967-75).<br />
Lançamento do Livro “Nuno Álvares<br />
Pereira”<br />
Realizou-se no dia 24 de Junho, no Comando-Geral<br />
da GNR, no Quartel do Carmo, em Lisboa, a apresentação<br />
do livro “Nuno Álvares Pereira”, da autoria do Prof. Dr.<br />
Jaime Nogueira Pinto, publicado pela Esfera dos Livros.<br />
A apresentação do livro coube ao Prof. Dr. Martim de<br />
Albuquerque, contando com a presença do Editor José Maria<br />
Calvin e do Inspector da GNR,Tenente-General Luís Morais<br />
de Medeiros. Estiveram presentes no Quartel do Carmo, última<br />
morada do Santo Herói, D. Duarte Pio e D. Isabel de Herédia,<br />
Duques de Bragança, casa fundada pela linhagem directa do<br />
próprio D. Nuno.<br />
O livro, de natureza biográfica, reconstitui, no quadro da<br />
época, o carácter e o percurso excepcional de Nuno Álvares<br />
É autor de diversos livros, nomeadamente o estudo “Pessoa,<br />
Sociedade e Estado”, “Nuno Álvares, Condestável e Santo”,<br />
“Vidas Autênticas”, “O homem e a ordem social e política”,<br />
“Sobre o uso da Riqueza” e “A palavra de Deus saída do<br />
Silêncio”.<br />
“Que posso mais dizer? O meu espírito abre-se de novo ao<br />
futuro, mas o futuro a Deus pertence. Talvez Deus tenha para<br />
mim algumas páginas ainda por escrever, apesar do peso dos<br />
anos que vou tendo.” − Discurso de D. António dos Reis<br />
Rodrigues na apresentação dos seus livros sobre Doutrina<br />
Social da Igreja<br />
A Ordem Militar de Cristo destina-se a distinguir serviços<br />
prestados ao País no exercício das funções dos cargos que<br />
exprimam a actividade dos órgãos de soberania ou da<br />
Administração Pública, em geral, e na magistratura e diplomacia,<br />
em particular, e que mereçam ser especialmente referidos. A<br />
ordem Militar de Cristo possui cinco diferentes graus e a sua<br />
concessão é da exclusiva competência do Presidente da<br />
República.<br />
Pereira, pajem, cavaleiro, chefe militar e homem de fé,<br />
interpretando e integrando a História de Portugal na História<br />
da Europa medieval.<br />
(Continua na página 38)<br />
13
Dr.ª Ana Rita Carvalho<br />
Infantes do Marão – é este o título que os<br />
militares do Regimento de Infantaria n.º 13<br />
(RI 13) ostentam garbosamente, assim se identificando<br />
com a geografia – física e anímica – de uma<br />
terra agreste e forte, com as cristas do Marão<br />
recortando as suas silhuetas agudas no fundo<br />
horizonte, como que prefigurando a dureza de ânimo,<br />
a coragem e a audácia dos militares que, partindo<br />
daquelas paragens, foram servir a Bandeira<br />
Portuguesa em mais uma missão de apoio à paz, no<br />
Kosovo. Trata-se do 1.º Batalhão de Infantaria da<br />
14<br />
Brigada de Intervenção que, pela sétima vez,<br />
projectou uma Força Nacional Destacada ao serviço<br />
das missões de Paz do <strong>Exército</strong> Português, dando<br />
cumprimento aos compromissos internacionais<br />
assumidos pelo nosso País.<br />
Estas missões e a meritória actuação do Soldado<br />
Português, internacionalmente reconhecida, muito<br />
têm contribuído para a conquista da Paz, da<br />
segurança interna, da liberdade e da melhoria das<br />
condições de vida das populações atingidas pela<br />
guerra ou então para a reconstrução de estados ou
afirmação de jovens países que,<br />
devido a factores diversos, desde a<br />
geopolítica, a questões étnicas e<br />
religiosas, têm requerido a ajuda<br />
internacional neste complexo início do<br />
séc. XXI. Por outro lado, as FND<br />
aprontadas e projectadas pela BrigInt<br />
permitem hoje afirmar inequivocamente<br />
o notável contributo dado por esta<br />
Brigada ao serviço do <strong>Exército</strong> e do País,<br />
constituindo a face mais visível da sua<br />
política externa e contribuindo em larga<br />
medida para a afirmação de Portugal<br />
entre os seus parceiros internacionais,<br />
em matéria de segurança e defesa.<br />
Exercício final<br />
de Aprontamento<br />
O Exercício “Pristina 091” correspondeu<br />
ao exercício final de aprontamento<br />
do 1BI/BrigInt/KFOR,<br />
enquanto FND. Tendo em vista a sua<br />
futura missão, foram validados, durante<br />
o exercício, o treino e a capacidade<br />
operacional atingidos pela Força<br />
ao longo do aprontamento, de acordo<br />
com o respectivo plano de treino<br />
operacional.<br />
O conceito e operacionalização do “Exercício<br />
Pristina 091” previa a implementação de múltiplas<br />
tarefas, tais como: “controlo e protecção de itinerários;<br />
escolta a colunas militares e humanitárias;<br />
patrulhamentos de área; operações de vigilância;<br />
garantia da segurança ao aquartelamento, face a<br />
ameaças exteriores; reacção a emboscadas e<br />
ataques de snippers; prática das regras de empenhamento<br />
(ROE), aprovadas pela KFOR; execução<br />
de acções de demonstração de força; operações de<br />
cerco e busca; condução de operações de CRC; e<br />
apoio à EULEX 1 , na luta contra o crime organizado”.<br />
O exercício decorreu entre 11 e 19 de Fevereiro<br />
e o cenário escolhido foi a cidade de Mirandela e as<br />
zonas da sua envolvência. O espaço foi naturalmente<br />
dimensionado enquanto transposição<br />
aproximada do Teatro de Operações do Kosovo,<br />
correspondendo a cidade de Mirandela a Pristina e<br />
à MNTF-C, e o distrito de Vila Real ao território do<br />
Kosovo, tendo como delimitação a Sérvia (a Norte),<br />
o Montenegro e a Albânia (a Este), e a Macedónia<br />
(a Sul), coincidindo aproximadamente com a mancha<br />
territorial dos distritos de Vila Real e Bragança. A<br />
área de actuação delimitada por estes espaços foi<br />
definida, em termos operacionais, como Manouevre<br />
box blue. Mais a Norte, a localidade de Torre de D.<br />
Chama foi definida como Manoueuvre box green,<br />
correspondendo à zona de Mitrovica, no Kosovo,<br />
região atravessada pelo Rio Ibar e que tem sido<br />
palco de alguns dos mais expressivos conflitos inter-étnicos,<br />
designadamente junto ao tribunal.<br />
No cenário de actuação do 1BI/BrigInt/KFOR,<br />
em Mirandela, foi recriada a situação político-social<br />
que se vive no Kosovo e que é caracterizada<br />
pela existência de uma população de maioria étnica<br />
albanesa, existindo enclaves sérvios ao Norte de<br />
um território marcado por uma elevada taxa de<br />
desemprego (acima dos 50%), com carências graves<br />
nas áreas da saúde, da educação, do direito de<br />
propriedade, da energia eléctrica, etc., e onde<br />
proliferam actividades ilegais - sobretudo o tráfico<br />
humano, o contrabando de armas e de<br />
estupefacientes. A existência de grupos KOS<br />
(sérvios) e KOA (albaneses) constitui também uma<br />
ameaça ao ambiente estável e seguro no Kosovo.<br />
Quanto à situação política, regista-se a actuação<br />
dos dois principais partidos que se afirmaram na<br />
cena do poder após as eleições de Novembro de<br />
2007 para a Assembleia kosovar e municípios - o<br />
Partido Democrático do Kosovo (PDK) e a Liga<br />
15
16<br />
Democrática do Kosovo (LDK). A implementação<br />
da nova constituição do Kosovo, bem como da<br />
EULEX, afirmam-se como as questões políticas mais<br />
prementes. Já do ponto de vista da segurança<br />
interna, actuam no território, para além da KFOR, a<br />
KP (Kosovo Police), e a KSF (Kosovo Protection<br />
Corps), esta em extinção, ao mesmo tempo que se<br />
encontra em criação a KSF (Kosovo Security<br />
Force). Justamente a implementação desta força<br />
policial, bem como a sua constituição, a nível do<br />
pessoal e da avaliação global, pelas partes, são<br />
algumas das problemáticas que se afirmam no plano<br />
da segurança. A problemática da convivência inter-étnica<br />
constitui-se como a questão socio-política<br />
mais significativa no território, a par das carências<br />
verificadas em domínios essenciais.<br />
As forças no terreno em Mirandela, durante o<br />
“Exercício Pristina 091”, eram constituídas pelos<br />
290 militares do Batalhão, aos quais se<br />
acrescentaram 150 elementos pertencentes ao<br />
Estado-Maior da Brigada, que incarnaram o papel<br />
de autoridades nacionais kosovares e da KFOR, à<br />
equipa de Controlo e Arbitragem, que avaliou o<br />
desempenho dos militares, às forças de cenário<br />
(militares que simularam pertencer às diversas<br />
minorias étnicas do Kosovo, sobretudo a sérvia e a<br />
albanesa, no contexto dos incidentes injectados<br />
durante o exercício), e à Companhia de<br />
Transmissões, que apoiou o exercício.<br />
Prelúdio de uma missão -<br />
A actividade diária no terreno<br />
A actividade planeada e conduzida no terreno<br />
pelo 1BI/BrigInt/KFOR - tendo por base a missão e<br />
as possibilidades do Batalhão, materializadas num<br />
conjunto de acções a desenvolver, previsivelmente,<br />
no TO do Kosovo - traduziu-se, de uma forma<br />
bastante realista, no antecipar da missão que o 1BI<br />
concretizado desde Março.<br />
Neste âmbito, cada uma das companhias de<br />
manobra - a Bravo Coy e a Charlie Coy - conduziu<br />
Framework Operations (FWO) dentro da região<br />
correspondente à Manbox Blue (MNTF-C), com<br />
vista a manter um ambiente estável e seguro, bem<br />
como a liberdade de movimentos na sua área de<br />
operações. Para isso, desenvolveu um conjunto de<br />
acções, tais como patrulhamentos, montados e<br />
apeados, Vehicle Check Points (VCP), segurança<br />
ao aquartelamento, operações de vigilância,<br />
segurança a itinerários (cada companhia tinha<br />
atribuído um conjunto de itinerários). Todas estas<br />
acções obedeceram a um planeamento, por parte dos<br />
escalões de Comando - do Batalhão e da Brigada<br />
Cada uma das companhias de manobra – a Bravo Coy e a<br />
Charlie Coy conduziu Framework Operations (FWO).<br />
(que operava também como Comando da KFOR).<br />
Desse modo, e sendo o Batalhão reserva táctica<br />
daquele Comando, foi recebendo ordens parcelares<br />
(FRAGOs), a partir das quais eram atribuídas missões,<br />
por via descendente, tendo por enquadramento geral<br />
o plano da KFOR, e INTSUMs, para actualização da<br />
situação. A Força desenvolveu as suas acções<br />
segundo um conceito de high visibility and low<br />
profile, isto é, demonstrando presença em todo o<br />
espectro de acção, com vista a manter a segurança e<br />
a dissuadir a ocorrência de conflitos, mas sem<br />
evidenciar um perfil agressivo.<br />
As acções decorreram segundo uma matriz de<br />
execução (excepto, naturalmente, as imprevisíveis,<br />
injectadas pelo Comando da KFOR/Brigada). Os dois<br />
primeiros dias - 11 e 12 de Fevereiro - corresponderam<br />
ao deslocamento para o terreno e instalação das<br />
forças, que ocuparam um complexo comercial, a<br />
“Reginorte”, cujo espaço se fez corresponder ao<br />
aquartelamento de Jubilee Barracks, em Slim Lines.<br />
Ao segundo dia, a Força estava preparada para<br />
encetar a sua missão.<br />
Informação Pública<br />
Antes mesmo de o Batalhão iniciar a sua<br />
actividade operacional, o “Aquartelamento” do 1BI<br />
era já o centro das atenções em Mirandela e era<br />
também notícia nacional, pois logo no dia 12 chegou<br />
ao local uma equipa de jornalistas da RTP 1, que<br />
realizou uma reportagem para o programa Portugal<br />
em Directo. A vertente de informação pública que
nos últimos anos se tem manifestado de crucial<br />
importância para a divulgação das actividades do<br />
<strong>Exército</strong>, afirmou-se, assim, em primeira instância, o<br />
que permitiu antecipar a abordagem, sempre profícua,<br />
das populações ao meio militar, que se verificou,<br />
durante o exercício, através do acompanhamento<br />
atento, constante e entusiástico das actividades.<br />
A reportagem conduzida no interior do<br />
aquartelamento focalizou a missão do Batalhão, a<br />
sua actividade, o seu contingente, as condições e<br />
infra-estruturas dos militares. O Comandante do 1BI,<br />
Tenente-Coronel Fernando Teixeira, concedeu uma<br />
entrevista à RTP 1, durante a qual falou sobre a<br />
missão que se avizinhava, caracterizando o cenário<br />
de actuação das forças no TO, bem como a contínua<br />
interacção que foi sendo mantida com a Força então<br />
presente no Kosovo – o Agrupamento MIKE –,<br />
sublinhando que o conhecimento das forças amigas<br />
é um factor importante para a preparação dos militares,<br />
orientada para a missão nas suas múltiplas<br />
vertentes, designadamente em caso de agravamento<br />
de tensões, com a eventual ocorrência de tumultos,<br />
situações face às quais a Força apresenta capacidades<br />
de resposta através das acções de controlo de<br />
tumultos.<br />
O Comandante do 1BI, Tenente-Coronel Fernando<br />
Teixeira, concede uma entrevista à RTP 1; Dr. José Maria<br />
Silvano, Presidente da Câmara de Mirandela.<br />
Numa outra vertente de actuação da Força, a<br />
reportagem incidiu no módulo sanitário. A prestação<br />
de cuidados de saúde, integrada nas designadas<br />
“acções CIMIC” (cooperação civil-militar),<br />
unanimemente valorizada como muito estimulante<br />
pelos militares que a exercem, tem permitido granjear<br />
um grande reconhecimento por parte das<br />
populações, desde logo no Território Nacional, onde<br />
se exerce, no âmbito destes exercícios, mediante a<br />
actuação de equipas médico-sanitárias, sobretudo<br />
em localidades mais isoladas e afastadas dos centros<br />
de saúde. Mas é sobretudo nos teatros de operações<br />
que esta área de actuação se afirma como muito<br />
meritória, junto de povos cujas carências são mais<br />
evidenciadas.<br />
A reportagem abrangeu quase todos os aspectos<br />
da vivência dos militares do 1BI, durante o Exercício<br />
“Pristina 091”, tendo para isso sido conduzida uma<br />
visita às diversas áreas funcionais do aquartelamento.<br />
Numa vertente de índole cultural, complementar<br />
ao exercício, decorreu, no segundo dia de permanência<br />
em Mirandela, a inauguração das exposições<br />
temporárias “Brigada de Intervenção”, Exercício<br />
“Pristina 091” e “Pelourinhos do Distrito de Bragança”,<br />
iniciativa conjunta da BrigInt e da Câmara<br />
Municipal de Mirandela, tendo a presidi-la o<br />
Comandante da Brigada de Intervenção, Major-General<br />
Martins Ferreira, e o Presidente da Câmara<br />
Municipal, Dr. Silvano.<br />
A anteceder a abertura da exposição temática<br />
sobre a Brigada de Intervenção, e como<br />
contextualização no Município de Mirandela, foi<br />
proferido um briefing pelo Major-General Martins<br />
Ferreira, perante um auditório composto pelo<br />
Presidente da Câmara Municipal e pelos presidentes<br />
das juntas de freguesia locais, para além de diversos<br />
órgãos de comunicação social regionais e outras<br />
entidades do meio civil. O Major-General Martins<br />
Ferreira realçou uma vertente de cidadania, ao<br />
mencionar os principais objectivos da realização<br />
do Exercício “Pristina” em Mirandela, que passaram<br />
pela divulgação do <strong>Exército</strong>, para além do objectivo<br />
prioritário de validação do aprontamento da força.<br />
A imagem do <strong>Exército</strong> relaciona-se, em grande parte,<br />
com a projecção de Forças Nacionais Destacadas.<br />
Para o sucesso das missões no estrangeiro muito<br />
contribui, segundo o Major-General Martins<br />
Ferreira, uma característica única do militar<br />
português – a sua capacidade de adaptação a<br />
qualquer força e a qualquer país, o que, nas suas<br />
palavras e de acordo com a sua experiência, não é<br />
fácil. A imagem externa do País é, pois, em grande<br />
parte, veiculada pelos nossos militares ou, na<br />
expressão do Comandante da Brigada, “o nosso<br />
17
militar tem sido o nosso embaixador junto das<br />
populações mais carenciadas e a presença dos<br />
nossos estandartes tem sido uma constante desde<br />
Timor ao Iraque passando pela Bósnia, Afeganistão<br />
e Kosovo”.<br />
A actividade operacional<br />
nas suas múltiplas vertentes<br />
Após a fase de deployment das forças para<br />
Mirandela, teve lugar, (em 13 de Fevereiro), o startex<br />
do Exercício “Pristina 091”, tendo os militares do<br />
1BI iniciado a sua missão, orientada em múltiplas<br />
vertentes. As operações conduzidas, em tudo<br />
semelhantes às implementadas no TO do Kosovo,<br />
foram operacionalizadas a partir de uma matriz que<br />
incluía os designados “incidentes”, a serem<br />
injectados, e aos quais os militares tinham de dar<br />
resposta adequada. Estes incidentes envolveram,<br />
por exemplo, tumultos entre as populações civis<br />
do Kosovo, cujas diferenças étnicas estão na origem<br />
de conflitualidade latente ou declarada. Tendo a<br />
garantia da segurança e da mobilidade das<br />
populações como principal móbil, as forças podem<br />
ser chamadas a intervir em operações de controlo<br />
de tumultos (CRC - Crowd and Riot Control), na<br />
escolta e segurança a pessoas e a instalações, em<br />
operações de cerco e busca a locais indiciados<br />
como podendo albergar matérias ou ser cenário de<br />
transacções ilícitas, ou no controlo de movimentos<br />
na via pública, através do controlo de itinerários.<br />
Patrulhamentos e check points<br />
Diariamente foram sendo realizadas patrulhas<br />
apeadas e motorizadas, nas estradas do Concelho<br />
de Mirandela, simulando as acidentadas estradas<br />
que de Pristina conduzem a Mitrovica, a Norte, e a<br />
outros locais. Se do ponto de vista da situação<br />
política os cenários português e kosovar não são<br />
comparáveis, já do ponto de vista geográfico as<br />
estradas e aldeias transmontanas em algo se<br />
assemelham às do teatro de operações, com as suas<br />
paisagens rurais de montanha, semeadas de<br />
povoações dispersas.<br />
Acompanhámos uma dessas patrulhas, com os<br />
militares a iniciarem a sua viagem de Chaimite rumo<br />
à localidade de Abambres. A missão consistia num<br />
patrulhamento pelas estradas que dão acesso<br />
àquela localidade e à de Mascarenhas, inserida no<br />
mesmo itinerário. O deslocamento, transformado<br />
num agradável percurso pela serra, conduziu-nos<br />
por diversas aldeias, cuja segurança, bem como a<br />
da circulação por estrada, os militares do 1BI tinham<br />
18<br />
por missão garantir, e decorreu sem incidentes.<br />
Esclareça-se que todo e qualquer patrulhamento<br />
tem por objectivos, definidos em regulamento<br />
próprio, “vigiar zonas não cobertas entre postos<br />
de observação, postos de controlo e outras<br />
posições assumidas por uma unidade militar,<br />
investigar eventuais incidentes, mostrar a presença<br />
da unidade às partes e à população, recolher<br />
informações e efectuar uma interposição ou<br />
intervenção em situações de crise”. Implica um<br />
efectivo mínimo de uma secção e duas viaturas,<br />
para além de diverso armamento e equipamento individual<br />
e colectivo.<br />
À chegada ao local, foi montado um check point<br />
ou posto de controlo. Um check point corresponde<br />
a um ponto ocupado, usado como meio de controlo<br />
de movimento e verificação de veículos e pessoas,<br />
com vista a reforçar medidas, ordens e<br />
regulamentos. No teatro de operações do Kosovo,<br />
os check points têm por objectivo a manutenção<br />
do SASE (Safe and Secure Environment, a<br />
manutenção de um ambiente estável e seguro),<br />
nomeadamente através do controlo de movimentos<br />
e acessos, capturando bens proibidos, como armas<br />
ilegais e explosivos, e travando actividades ilícitas<br />
como o contrabando. O check point pode ser móvel<br />
ou fixo. No caso da acção desenvolvida em<br />
Abambres, tratou-se de um check point móvel, cuja<br />
modalidade se reveste de eficácia devido ao<br />
desconhecimento, pelas partes, sobre a sua<br />
localização, que é temporária, o que permite à força<br />
empenhada prevenir movimentos e actividades<br />
ilícitas como o tráfego de armamento, munições e<br />
Acompanhámos uma dessas patrulhas, com os militares a<br />
iniciarem a sua viagem de Chaimite rumo à localidade de<br />
Abambres.
Uma das principais missões cometidas a uma FND, no apoio<br />
à Paz, consiste na garantia da segurança de pessoas e bens<br />
explosivos. Chegadas ao local as duas Chaimites,<br />
o pessoal apeou, ficando os veículos a uma<br />
distância de cerca de 50 metros, em cada um dos<br />
extremos da faixa de rodagem, por forma a impedir a<br />
circulação de qualquer veículo, caso fosse<br />
necessário.<br />
As secções foram distribuídas por áreas<br />
distintas, tais como a de detecção e identificação<br />
de viaturas e respectivos ocupantes e uma área de<br />
cobertura e protecção. Na estrada, os<br />
automobilistas depararam com material de<br />
sinalização, designadamente pinos e placas<br />
indicadoras de limite de velocidade. À passagem<br />
das viaturas militares designadas para o efeito,<br />
efectuou-se a sua imobilização, seguindo-se a<br />
revista aos ocupantes e à viatura, um procedimento<br />
que, no teatro de operações, é extremamente<br />
minucioso, com vista a garantir que, por exemplo,<br />
uma arma seja interceptada e que a circulação de<br />
bens e pessoas se faça segundo estritas normas de<br />
segurança. Paralelamente, foi realizado um<br />
patrulhamento apeado à aldeia de Mascarenhas,<br />
por outra secção. O patrulhamento apeado tem<br />
essencialmente os mesmos objectivos do<br />
patrulhamento motorizado, sendo composto por<br />
uma secção de atiradores, dotada de armamento e<br />
equipamento individual e colectivo. A patrulha e o<br />
check point decorreram conforme o previsto, tendo<br />
as populações simpaticamente manifestado a sua<br />
colaboração com os militares, em simples e<br />
significativos gestos como o da oferta de café ou<br />
comida. Entre o real e o fictício, entre a componente<br />
de exercício e o convívio salutar com as populações,<br />
a coluna seguiu a sua marcha, dando continuidade<br />
ao patrulhamento motorizado.<br />
Segurança a itinerários<br />
e controlo de tumultos<br />
Uma das principais missões cometidas a uma<br />
FND, no apoio à Paz, consiste na garantia da<br />
segurança de pessoas e bens, bem como da<br />
mobilidade em territórios potencialmente afectados<br />
pela conflitualidade inter-étnica ou por qualquer tipo<br />
de ameaças à ordem pública e à liberdade de<br />
movimentos. No caso no Kosovo, os conflitos<br />
radicam nas oposições étnicas e religiosas,<br />
designadamente entre as etnias sérvia e albanesa,<br />
com a existência de enclaves sérvios afirmando-se<br />
sobretudo a Norte e a Noroeste.<br />
Uma das acções desenvolvidas no contexto do<br />
Exercício “Pristina 91” foi o acompanhamento de uma<br />
peregrinação religiosa a um mosteiro ortodoxo,<br />
levada a cabo por um grupo de populares sérvios. O<br />
lugar sagrado (no mapa nacional correspondente a<br />
N.ª Sr.ª de Jerusalém do Romeu) onde os sérvios<br />
pretendiam realizar o culto religioso encontrava-se<br />
inserido no território do Kosovo, tornado<br />
independente há um ano atrás, pelo que o<br />
deslocamento dos peregrinos poderia ser perturbado<br />
pela presença de kosovares e a sua eventual<br />
resistência. Para os militares, a missão consistia em<br />
garantir a segurança do itinerário, através de pontos<br />
de controlo de movimentos, acção que, não sendo<br />
embora uma escolta, visava garantir a total protecção<br />
dos civis em deslocamento, evitar os confrontos<br />
directos entre as partes e garantir um clima de paz e<br />
de liberdade religiosa.<br />
A acção envolveu pessoal e meios materiais,<br />
designadamente uma viatura blindada Chaimite, que<br />
seguiu à frente dos peregrinos, e duas Pandur,<br />
estacionadas junto ao santuário, para garantir a<br />
segurança no local, para além de outras viaturas,<br />
seguindo no trajecto da peregrinação, e que tinham<br />
sobretudo por objectivo fornecer informação sobre<br />
o estado do itinerário e assegurar que após a<br />
passagem dos sérvios a segurança estava garantida.<br />
As forças militares deslocaram-se inicialmente à<br />
localidade de Jerusalém do Romeu, no sopé no monte<br />
onde se ergue o santuário de Nossa Senhora com o<br />
mesmo nome. Aí tomaram um primeiro contacto com<br />
os elementos sérvios, que seguiram, ordeiramente e<br />
sempre acompanhados por militares apeados, em<br />
peregrinação rumo ao santuário.<br />
O percurso decorreu sem incidentes durante<br />
algum tempo, cadenciado pelo trote da Chaimite e<br />
19
20<br />
pela marcha dos peregrinos, ao som de cânticos<br />
religiosos sérvios, convidativos à meditação e à<br />
espiritualidade, tendo por pano de fundo a bela e<br />
plácida paisagem transmontana. Porém, de súbito,<br />
depararam-se elementos kosovares, empunhando<br />
a recente bandeira do País proclamado<br />
independente e ocupando a estrada de acesso ao<br />
santuário. A uma distância de segurança, a Chaimite<br />
interrompeu a sua marcha, impedindo os peregrinos<br />
de avançarem mais. Os militares tiveram então de<br />
adoptar uma atitude mais activa, pois a paragem<br />
originou reacções e tentativas, por parte dos<br />
sérvios, de ultrapassar a viatura e prosseguir. A<br />
viatura que seguia à frente procedeu a uma primeira<br />
abordagem aos kosovares no local, tendo os<br />
militares estabelecido diálogo com os manifestantes,<br />
que demonstraram indisponibilidade para<br />
desimpedirem o percurso. A tentativa de diálogo,<br />
com vista à desmobilização dos indivíduos,<br />
prosseguiu sem sucesso, com o grupo, liderado<br />
por um autarca local, manifestando-se irredutível<br />
ante as pretensões dos sérvios de efectuarem uma<br />
visita ao lugar sagrado. Entre os seus argumentos<br />
constava a memória de massacres e da guerra, o<br />
conflito próximo que opôs vizinhos e espalhou<br />
sementes de ódio inter-étnico. Uma característica<br />
geral e, neste ponto bastante realista, foi a<br />
receptividade para com os militares da KFOR, ali<br />
bem representados pelos portugueses do 1BI, que<br />
demonstraram uma hábil capacidade de diálogo.<br />
Após algum tempo e de sucessivas tentativas<br />
de negociação, a tensão foi-se instaurando, o que<br />
levou ao posicionamento, à retaguarda dos<br />
manifestantes, de um pelotão de controlo de<br />
tumultos, pronto a entrar em acção. Entretanto, do<br />
lado sérvio a tensão agudizou-se igualmente, com<br />
os peregrinos a tentarem passar a barreira interposta<br />
pelos militares. A Chaimite avançou em direcção ao<br />
santuário. Atrás dela agitavam-se as bandeiras<br />
sérvias, odiadas pelos kosovares, que dirigiam<br />
insultos aos peregrinos que se aproximavam,<br />
brandindo energicamente as suas bandeiras. O<br />
confronto parecia inevitável. O pelotão de controlo<br />
de tumultos (CRC) interpôs-se entre as duas<br />
facções, colocando-se à frente dos manifestantes.<br />
Quando a Chaimite avançou, seguida pelos sérvios,<br />
os kosovares lançaram-se contra os elementos de<br />
CRC, procurando por todas as formas alcançar os<br />
peregrinos. Os militares de CRC actuaram no sentido<br />
de travar a violência, permitindo a passagem dos<br />
sérvios que, entretanto, ladeados por outros<br />
militares e com a Chaimite a constituir uma barreira<br />
de segurança móvel, seguiram o seu percurso,<br />
chegando enfim ao silêncio do santuário onde iam<br />
rezar aos seus mortos.<br />
Numa acção exemplar do ponto de vista das<br />
operações a desenvolver no Kosovo. Note-se que<br />
este tipo de incidente requer, sobretudo, por parte<br />
das forças de controlo, uma capacidade de<br />
adaptação constante do dispositivo da força à<br />
dinâmica dos manifestantes. Um incidente destes<br />
ilustra igualmente uma boa capacidade de comando<br />
e controlo, ao nível dos vários escalões de comando,<br />
desde o mais imediato, acrescida da capacidade<br />
de tomar decisões rápidas consentâneas com o<br />
evoluir da situação.<br />
A injecção de diversos incidentes de controlo<br />
de tumultos – CRC – ao longo do Exercício “Pristina<br />
091” justificou-se, no âmbito da missão atribuída<br />
ao Batalhão Português no Kosovo, dado que,<br />
apesar de a segurança pública ser uma missão da<br />
polícia local e/ou da polícia internacional, o Batalhão<br />
pode ser chamado a desempenhar temporariamente<br />
aquela função ou, em casos extremos, utilizar<br />
técnicas de controlo de tumultos para a sua<br />
salvaguarda. O Teatro de Operações do Kosovo,<br />
em termos de CRC, caracteriza-se por poder<br />
envolver a resposta a armas de fogo e granadas de<br />
mão, bem como a utilização das unidades, tanto em<br />
espaços apertados, em zonas urbanas, como em<br />
espaços abertos, no campo. A nossa Força Nacional<br />
Destacada (designada localmente por KTM) é,<br />
aliás, uma das duas únicas unidades com<br />
capacidade para executar e dirigir operações de CRC.<br />
A essa acção subjaz o princípio de que toda e<br />
qualquer modificação do estado de normalidade da<br />
vida social pode motivar uma súbita alteração da<br />
ordem pública, devendo por isso constituir<br />
preocupação para toda a Unidade militar. Na origem<br />
dos distúrbios podem encontrar-se diversas<br />
causas, designadamente razões de índole social e/<br />
ou psicológica, motivos económicos, políticos,<br />
desastres e calamidades públicas, indefinição<br />
quanto ao estatuto final do território, falta ou quebra<br />
de autoridade, etc., uma panóplia de motivos, a<br />
maioria dos quais está na base dos conflitos no<br />
território e da própria guerra, cuja memória é recente.<br />
Enquanto esta acção decorria, na zona<br />
delimitada pela ManBox Blue, houve necessidade<br />
de proceder ao deslocamento de uma companhia<br />
para norte, para a região que representava<br />
Mitrovica, onde residia um enclave sérvio. Tratouse<br />
de uma acção que encenou uma das operações<br />
que poderá ser atribuída ao 1BI no Kosovo, ou<br />
seja, a sua actuação em Mitrovica, com vista a<br />
garantir a segurança do ICTY – Tribunal Internacional<br />
da ex-Jugoslávia. A operação agora desencadeada,<br />
no aniversário da independência do Kosovo,<br />
simulou e transpôs para o treino a situação ocorrida<br />
há um ano atrás, quando tiveram lugar as acções
A par da missão geral que lhe é cometida, o <strong>Exército</strong> afirmase<br />
hodiernamente como uma instituição vocacionada para<br />
as designadas “outras missões de interesse público”.<br />
de protesto e os distúrbios, junto ao tribunal de Mitrovica,<br />
ao ser hasteada a recente bandeira nacional<br />
do Kosovo, levando a que as Nações Unidas fossem<br />
obrigadas a intervir, prendendo os dissidentes. Na<br />
acção desencadeada durante o Exercício “Pristina<br />
091”, uma das companhias foi deslocada, juntamente<br />
com um núcleo do estado-maior (que estabeleceu a<br />
ligação ao comando multinacional, já que a Força não<br />
fica, nestes casos, sob comando directo da multinacional)<br />
para uma região situada a norte (Torre de D.<br />
Chama), durante dois dias, tendo-se instalado numa<br />
escola secundária, que representava o tribunal, e desenvolvido<br />
a partir dali acções de controlo de tumultos,<br />
controlo de itinerários, patrulhamentos apeados<br />
e montados, etc., em defesa do “tribunal”/escola.<br />
Moral e bem-estar<br />
A manutenção do moral e bem-estar dos<br />
militares em missão é um desígnio que não deve ser<br />
descurado em qualquer missão e teatro de<br />
operações. A assistência religiosa é parte integrante<br />
e significativa da vertente de moral e bem-estar,<br />
com incidência, directa ou indirecta no estado<br />
psicológico das tropas e na manutenção do seu<br />
próprio nível de motivação. Nesta importante área,<br />
o capelão militar do Batalhão, Tenente Silva, exerceu,<br />
ao longo do exercício, uma importante acção, quer<br />
junto dos militares quer das populações. Estando<br />
prevista a celebração da missa dominical no TO do<br />
Kosovo, também em Mirandela se cumpriu o ritual<br />
religioso, com a celebração da eucaristia, na Igreja<br />
dos Salesianos. O capelão militar do Batalhão subiu<br />
ao altar como co-celebrante, enquanto na assembleia<br />
estavam presentes o Major-General Martins Ferreira,<br />
o Tenente-Coronel Teixeira, Comandante do 1.º<br />
Batalhão de Infantaria, e diversos militares do<br />
Batalhão e da Brigada de Intervenção, que assim<br />
tiveram a oportunidade de assistir à missa de Domingo,<br />
num espaço e num tempo de recolhimento e<br />
espiritualidade tão necessários para contrabalançarem<br />
o desgaste rápido das suas acções diárias. Ali<br />
se rezou pelos militares que iam partir em missão e<br />
por todos aqueles que, ao longo dos tempos, deram<br />
a sua vida ao serviço da Pátria e dos seus semelhantes.<br />
No final, diversas pessoas dirigiram-se carinhosamente<br />
aos militares, formulando votos de uma boa<br />
missão e oferecendo a sua oração a esta causa.<br />
O <strong>Exército</strong> junto<br />
das populações - Acções<br />
de Cooperação Civil-Militar<br />
O <strong>Exército</strong> Português, modernamente, mantendo<br />
embora a sua missão primordial de garantir a<br />
integridade do território e a soberania do Estado,<br />
encontra-se envolvido em outras missões,<br />
designadamente as que decorrem dos seus<br />
compromissos internacionais - de âmbito ONU,<br />
NATO e União Europeia - no quadro dos quais se<br />
inserem e justificam as missões de apoio à Paz. Por<br />
outro lado, a par da missão geral que lhe é cometida,<br />
o <strong>Exército</strong> afirma-se igualmente como uma<br />
instituição vocacionada para as designadas “outras<br />
missões de interesse público”, que se materializam<br />
em acções de âmbito civil, direccionadas para<br />
necessidades imediatas das populações. As<br />
chamadas “acções de cooperação civil-militar”<br />
(CIMIC, Civil and Military Cooperation) pressupõem,<br />
conforme o nome indica, a assunção de<br />
compromissos entre a Instituição Militar e a<br />
sociedade civil, com vista ao cumprimento de<br />
objectivos comuns.<br />
A Brigada de Intervenção vem, desde o início,<br />
estabelecendo uma estreita correlação com o meio<br />
civil envolvente, tanto no espaço de inserção do<br />
seu Comando, em Coimbra, como no das unidades<br />
regimentais sob a sua dependência hierárquica. Na<br />
sua fértil experiência como unidade aprontadora de<br />
FND, a Brigada tem procurado ramificar e potenciar<br />
as relações com o meio civil, designadamente ao<br />
integrar, no âmbito do treino operacional<br />
propriamente dito, acções paralelas direccionadas<br />
para o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida<br />
das populações. Neste sentido, os exercícios finais<br />
21
22<br />
de aprontamento das unidades enquanto FND têm<br />
integrado acções CIMIC em duas vertentes fundamentais<br />
- o apoio médico-sanitário e as actividades de<br />
cariz cultural.<br />
O apoio médico-sanitário concretizou-se, durante<br />
o “Exercício Pristina 091”, através da actuação do<br />
módulo sanitário do Batalhão junto das populações<br />
das freguesias do Concelho de Mirandela. O módulo<br />
sanitário é constituído por equipas de enfermeiros e<br />
socorristas, aos quais superintende o oficial médico,<br />
que integra o estado-maior técnico da Unidade.<br />
Esta missão decorreu dentro da normalidade,<br />
sendo de realçar a excelente receptividade às acções<br />
de apoio médico por parte das populações, que<br />
também receberam com apreço a visita do capelão<br />
militar. Este intercâmbio com a população civil das<br />
aldeias próximas de Mirandela foi muito gratificante<br />
para os militares que, através da sua presença,<br />
divulgaram o papel do <strong>Exército</strong> junto das populações.<br />
Se os militares se dirigiram às populações, muitas<br />
vezes ocorreu o movimento inverso, tendo o<br />
aquartelamento recebido diariamente diversas escolas<br />
e grupos de crianças, jovens e adultos, que procuraram<br />
conhecer mais de perto a actividade diária de uma<br />
unidade do <strong>Exército</strong>, ou que simplesmente entraram<br />
para recordar a sua própria experiência militar.<br />
As visitas ao aquartelamento do 1BI, que no final<br />
ascendiam ao número de 350, foram conduzidas pela<br />
Oficial CIMIC do Batalhão, Tenente Pereira, e por<br />
outros graduados, que percorreram as instalações e<br />
foram descrevendo os equipamentos e meios<br />
observados e prestando esclarecimentos acerca da<br />
missão do Batalhão e sobre a vida militar em geral. Os<br />
visitantes percorreram as áreas funcionais do<br />
aquartelamento, terminando junto à viatura Pandur 8<br />
X 8 estacionada junto à Porta de Armas que, pela sua<br />
modernidade e robustez, constituiu o cenário preferido<br />
para as fotografias de grupo.<br />
Visita do Comandante<br />
da KFOR ao 1BI/BrigInt/KFOR<br />
No decorrer do Exercício, o Major-General Martins<br />
Ferreira visitou as tropas aquarteladas em<br />
Mirandela. Tratou-se, na realidade, de mais uma acção<br />
realizada no contexto do “Exercício Pristina 091”, em<br />
que o Comandante da Brigada de Intervenção<br />
desempenhou o papel de Comandante da KFOR, em<br />
visita ao Batalhão Português.<br />
À sua chegada, o Major-General Martins Ferreira<br />
recebeu as honras militares devidas, designadamente<br />
uma Guarda de Honra e a continência prestada pelas<br />
forças em parada. As forças militares pertencentes às<br />
três companhias que compõem o Batalhão desfilaram<br />
O Comandante da Brigada de Intervenção desempenhou o<br />
papel de Comandante da KFOR, em visita ao Batalhão<br />
Português<br />
em continência ao Comandante da Brigada, numa<br />
cerimónia singela, mas muito significativa do ponto<br />
de vista simbólico da coesão, da disciplina e de outros<br />
valores militares que inspiram as nossas forças,<br />
concretamente este Batalhão, a mais recente força a<br />
ser aprontada pelo <strong>Exército</strong> Português para missões<br />
de apoio à Paz. A mística de união e de espírito de<br />
corpo que une estes 290 homens e mulheres<br />
transpareceu bem naquele acto solene, ao qual a<br />
população de Mirandela fez questão de se associar,<br />
deixando bem evidenciado o respeito, a admiração e o<br />
carinho que nutre pelos seus militares. Após o desfile<br />
militar e já no interior do aquartelamento, o Major-<br />
General Martins Ferreira assistiu a um briefing sobre<br />
o 1.º Batalhão de Infantaria, constituído como KTM<br />
(Kosovo Tactical Reserve Manoueuvre Batallion)<br />
da KFOR, no qual participaram o Comandante do 1BI,<br />
Tenente-Coronel Teixeira, o segundo Comandante,<br />
Major Sá, e os oficiais que compõem o Estado-Maior<br />
do Batalhão – Oficial de Pessoal, Informações,<br />
Logística, Manutenção, Finanças, Transmissões,<br />
Médico, Capelão, Oficial CIMIC, bem como os<br />
Comandantes das três companhias – Alfa Coy, Bravo<br />
Coy e Charlie Coy.<br />
DVD do Exercício “Pristina 091”<br />
No final do Exercício “Pristina 091” teve lugar,<br />
em 19 de Fevereiro, o Distinguish Visitors Day (DVD)<br />
do Exercício, evento presidido pelo Comandante<br />
Operacional, Tenente-General Artur Neves Pina<br />
Monteiro. Do programa do DVD destacam-se os<br />
briefings proferidos no auditório do Centro Cultural<br />
de Mirandela, pelo Major-General Martins Ferreira,<br />
Comandante da Brigada de Intervenção, pelo Chefe<br />
do Estado-Maior da Brigada de Intervenção, Tenente-<br />
Coronel Magalhães, e pelo Comandante do 1BI/
O momento mais significativo deste DVD foi, a<br />
demonstração de capacidades e meios do 1BI, à qual<br />
assistiram centenas de pessoas<br />
BrigInt/KFOR, Tenente-Coronel Teixeira, que<br />
descreveram genericamente o historial, a missão e<br />
possibilidades do Batalhão agora projectado para o<br />
Kosovo, a sua constituição modular, efectivos, meios<br />
e materiais, bem como aspectos relativos ao<br />
planeamento e condução do Exercício “Pristina 091”<br />
e ao conceito de treino operacional que lhe foi<br />
subjacente. Seguiu-se uma visita às exposições temporárias<br />
patentes no Centro Cultural de Mirandela.<br />
O momento mais significativo deste DVD foi,<br />
como seria de esperar, a demonstração de capacidades<br />
e meios do 1BI, à qual assistiram centenas de pessoas.<br />
Os militares do 1BI exemplificaram diversas acções<br />
desenvolvidas durante o exercício de preparação para<br />
a sua intervenção no Teatro de Operações, designadamente<br />
controlo de itinerários, patrulhamentos e<br />
check points, revista a viaturas e pessoas, apreensão<br />
de armamento, protecção a altas entidades e resgate<br />
de prisioneiros, operações de controlo de tumultos,<br />
inactivação de engenhos explosivos, escoltas, etc.<br />
A cerimónia militar que se lhe seguiu constituiu<br />
uma verdadeira apoteose, com o Batalhão a fazer a<br />
sua entrada triunfal no espaço onde decorrera a<br />
demonstração, ao som de uma marcha militar, ao<br />
mesmo tempo que três granadas de fumos<br />
desenhavam no ar as cores da Bandeira Nacional.<br />
Frente à tribuna de honra, o Batalhão prestou<br />
continência à Alta Entidade e escutou as palavras do<br />
Comandante Operacional, que expressou o seu voto<br />
de confiança nos militares do Batalhão e no seu<br />
Comando, relativamente a mais uma missão de<br />
prestígio para Portugal, no teatro de operações do<br />
Kosovo, testemunhando publicamente o seu apreço,<br />
enquanto Comandante Operacional, pelo meritório<br />
trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos<br />
nossos militares em missão nos diversos teatros de<br />
operações para onde Portugal tem projectado forças.<br />
Os militares do 1BI entoaram o hino do Batalhão, num<br />
momento que concentrou grande carga emotiva e<br />
simbólica, cujo efeito se propagou à população que,<br />
no final, rompeu em fortes aplausos.<br />
A energia e a coesão de um Batalhão, força viva<br />
dos valores militares também se sente e transmite,<br />
especialmente, nestes momentos de elevado simbolismo.<br />
Os “Infantes do Marão” desfilaram e nesse<br />
movimento síncrono simbolizaram a sua marcha<br />
contínua e contumaz rumo à missão, através da qual<br />
vão continuar a cumprir Portugal, aguerridamente<br />
transpondo, se necessário, a fronteira do possível e<br />
do finito.<br />
Hino do 1BI/BrigInt<br />
(Refrão)<br />
Em terras de Trás-os-Montes,<br />
Nas encostas do Marão,<br />
Mulheres e Homens fortes<br />
Formam o 1.º Batalhão.<br />
Pelas cristas do Marão<br />
Nasceu um nobre ideal:<br />
A força de um Batalhão<br />
Para servir Portugal.<br />
Com honra e dignidade<br />
A Pátria defendem e amam,<br />
Com audácia e humildade<br />
P'la Bandeira sofrem e zelam.<br />
No escudo a neve prateada,<br />
O lobo negro rampante,<br />
Uma baioneta dourada<br />
Faixa vermelho brocante.<br />
Como lobos em alcateia,<br />
Assim age o Batalhão,<br />
Trabalhando em equipa<br />
Sempre cumprindo a missão.<br />
Fotos da 1 BI/BrigInt.<br />
JE<br />
1 A EULEX (European Union Rule of Law Mission in<br />
Kosovo) consiste na missão da NATO, no Kosovo,<br />
relacionada com o apoio à administração civil do território.<br />
Entrou em actuação em Julho de 2008, em substituição da<br />
UNMIK (A United Nations Interim Administration in<br />
Kosovo), criada em 10 de Junho de 1999, com base na<br />
Resolução 1244 do CSNU, que determinou o<br />
estabelecimento de uma administração civil interina na<br />
província do Kosovo, liderada pela NATO e tendo em vista<br />
assegurar a autonomia da população.<br />
23
Tenente RC Paulo Moreira<br />
No dia 14 de Agosto comemorou-se, em<br />
Mafra, o dia da Arma e da Escola Prática<br />
de Infantaria. A cerimónia, engalanada com os seus<br />
mais dignos motivos, foi presidida pelo Chefe do<br />
Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto<br />
Ramalho, acompanhado pelo Vice-Chefe do Estado-<br />
24<br />
Maior do <strong>Exército</strong> e Director Honorário da Arma de<br />
Infantaria, Tenente-General Mário de Oliveira<br />
Cardoso.<br />
A Cerimónia Militar teve início às 10h30, com as<br />
Honras Militares à Alta Entidade, com a integração<br />
do Estandarte Nacional e a Homenagem aos Mortos.
Foto: Tenente Paulo Moreira<br />
Terminou com a Imposição de Condecorações, a<br />
entrega de prémios de “Patrulha D. Nuno Álvares<br />
Pereira” (primeiro prémio à Patrulha da Guarda<br />
Nacional Republicana; segundo prémio à Patrulha<br />
da Escola Prática de Infantaria; terceiro prémio à<br />
Patrulha do Centro de Tropas de Operações<br />
Especiais) e com o Desfile das Forças em Parada.<br />
Decorreu ainda uma demonstração de saltos de Páraquedistas.<br />
624 anos passados sobre a Batalha de Aljubarrota<br />
– 14 de Agosto de 1385 –, de onde saiu Portugal<br />
independente aos ombros do seu maior herói, a<br />
figura de D. Nuno Álvares Pereira, Patrono da<br />
Infantaria, no preciso ano da sua canonização, foi<br />
marcadamente incontornável nas celebrações de<br />
mais um aniversário daquela secular Escola. Em<br />
todas as alocuções que ilustraram a manhã do dia<br />
14 – pelo Coronel João Manuel Ormonde Mendes,<br />
Comandante da Escola Prática de Infantaria, pelo<br />
Director Honorário da Arma de Infantaria e pela<br />
Foto: Tenente Paulo Moreira<br />
mensagem do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong><br />
– foi lembrada a memória do Condestável, autor de<br />
vitais glórias dos infantes portugueses sobre<br />
cavaleiros castelhanos.<br />
Assim, associando as comemorações da Arma de<br />
Infantaria ao ano da canonização e celebração do Santo<br />
Condestável, foram promovidas algumas iniciativas<br />
em torno da vida e obra de D. Nuno Álvares Pereira.<br />
Inaugurada, precisamente, no dia 14 de Agosto,<br />
esteve patente, na Escola Prática de Infantaria, até<br />
27 de Setembro, a exposição “D. Nuno Álvares<br />
Pereira – O Legado, As Batalhas, As Representações”,<br />
onde foi reunido um interessante conjunto<br />
iconográfico do Santo, algumas referências à sua<br />
passagem pelo Convento do Carmo e uma maqueta<br />
com a encenação da Batalha de Atoleiros, elaborada<br />
e cedida pela Brigada Mecanizada. No dia 26 de<br />
Junho, a Escola Prática de Infantaria patrocinou a<br />
realização de um Colóquio intitulado “D. Nuno<br />
Álvares Pereira: o Homem, o Militar e o Santo”.<br />
Foto: Tenente Paulo Moreira<br />
25
26<br />
Colóquio sobre<br />
D. Nuno Álvares Pereira 1<br />
Nuno Álvares Pereira, Patrono da Arma de<br />
Infantaria, é uma figura incontornável da História<br />
Nacional, em todos os aspectos como se nos<br />
apresenta, em todas as formas como se nos revela.<br />
Nas suas diversas facetas surge-nos sempre como<br />
uma personagem muito à frente do seu tempo,<br />
contrapondo à sua juventude uma notável<br />
clarividência política e militar, contrapondo aos costumes<br />
da guerra medieval uma humanidade singular<br />
e contrapondo às usuais demonstrações de<br />
poder pessoal de então, e ainda de hoje, uma<br />
abnegação e caridade muito próprias. [...]<br />
Com o presente artigo pretende-se resumir as<br />
várias intervenções neste Colóquio, cuja versão<br />
integral está publicada na revista da Infantaria<br />
“Azimute”, na sua edição de Agosto de 2009.<br />
O Colóquio foi organizado em dois grandes<br />
painéis. O primeiro abordou a figura de D. Nuno<br />
Álvares Pereira como “Homem” comum, pelo<br />
Tenente-Coronel de Artilharia (Reserva) António<br />
Pires Nunes, como “Militar” de excepção, pelo<br />
Coronel de Infantaria (Reforma) Américo Henriques,<br />
e como pessoa sublime e insigne elevada a “Santo”,<br />
por D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa.<br />
O segundo painel abordou o “enquadramento<br />
Político-Militar e a Guerra dos Cem Anos”, pelo<br />
Tenente-Coronel de Infantaria Luís Barroso, “a<br />
Crise Dinástica de 1383/1385 e a Batalha de<br />
Atoleiros”, pelo Capitão de Infantaria Carlos<br />
Afonso e, por último, “a Invasão Castelhana e a<br />
Batalha de Aljubarrota”, pelo Tenente-Coronel<br />
Infantaria Lemos Pires.<br />
O Colóquio foi presidido pelo Vice-Chefe do<br />
Estado-Maior do <strong>Exército</strong> e Director-Honorário da<br />
Arma de Infantaria, Tenente-General Mário de<br />
Oliveira Cardoso, e contou com uma diversificada<br />
plateia de personalidades militares, religiosas e de<br />
entidades de alguma forma relacionadas com D.<br />
Nuno Álvares Pereira.<br />
“D. Nuno Álvares Pereira<br />
– O Homem”<br />
Desde cedo na sua infância que D. Nuno se<br />
revelou audaz e com uma grande autoconfiança,<br />
qualidades importantes que, anos mais tarde, se<br />
revelariam vitais para o desenrolar da situação de<br />
crise que se viveu entre 1383 e 1385.<br />
Feito cavaleiro aos 13 anos, foi como escudeiro<br />
da Rainha que fomentou o seu gosto pelos valores<br />
da cavalaria medieval, como são a Honra, a Coragem<br />
e a Lealdade. [...]<br />
No plano religioso, D. Nuno sempre tentou<br />
manter a pureza da sua alma e do seu corpo, sendo<br />
disso exemplo a sua relutância em contrair<br />
matrimónio, como se essa condição lhe retirasse a<br />
proximidade com Deus. [...] D. Nuno foi um homem<br />
de fé que sempre se voltou para Deus em todos os<br />
momentos, com particular incidência na parte final<br />
da sua vida, quando pôde dedicar o fim dos seus<br />
dias à Santa Igreja.<br />
Paralelamente a estas facetas, desenvolveu-se<br />
o mito de D. Nuno Álvares Pereira como Herói. “A<br />
imprevisibilidade de atitudes e a expectativa sobre<br />
o comportamento de D. Nuno, face aos<br />
acontecimentos deve ter generalizado a ideia de<br />
que ele era, no mínimo, diferente. Daí até à sua<br />
aceitação como Herói vai apenas a constatação de<br />
que essa diferença conduzia a actos superiores que<br />
não estavam ao alcance de qualquer um, sempre<br />
em favor da sua Pátria em perigo. Foi um herói<br />
consciente dos seus comportamentos, que jogou<br />
sempre incondicionalmente a vida e para quem a<br />
timidez, o medo e a hesitação o levavam<br />
frequentemente à exasperação.” 2<br />
“D. Nuno Álvares Pereira<br />
– O Militar”<br />
[...] O Patrono da Infantaria portuguesa foi<br />
desde cedo, junto da ordem do Hospital, adestrado<br />
para o superior desempenho da arte das armas,<br />
acompanhando esse treino prático com uma<br />
preparação adequada, designadamente ao nível dos<br />
valores que um chefe militar deverá seguir, como a<br />
Honra, a Lealdade e, acima de tudo, o amor inabalável<br />
à terra que o viu nascer – o Patriotismo.<br />
Em paralelo com a intangibilidade deste factor,<br />
foi igualmente importante a forma soberba como D.<br />
Nuno soube sempre ajustar as suas tropas por forma<br />
a tirar partido do valor do terreno, quer fosse pela<br />
influência Hospitalária, quer fosse pelo contacto<br />
com os Ingleses ou pelas leituras que fazia, o certo<br />
é que, como ninguém o havia feito na Península<br />
Ibérica até então, D. Nuno adequou criteriosamente,<br />
em todas as batalhas que travou, a sua hoste ao<br />
terreno, tornando uma aparente desvantagem em<br />
algo que lhe traria uma vitória segura. [...]<br />
Por outro lado, a relação de proximidade com os<br />
seus homens constituiu um importante elemento<br />
Moreira<br />
da singularidade do seu comando. O exercício do Paulo<br />
comando pelo exemplo, assumindo sempre o lugar<br />
de maior perigo nas batalhas que travou, levou a Tenente<br />
que os seus subordinados o seguissem cegamente. Foto:
Fotos: CAVE<br />
D. Nuno foi um Comandante à frente do seu<br />
tempo, na forma como estudou o terreno e o seu<br />
adversário, catapultando-o a um “altar” onde<br />
poucos ousaram chegar. Se a Infantaria, como nós<br />
a entendemos, nasceu muito tempo depois, aquilo<br />
que nasceu com Nuno Álvares Pereira foi o âmago<br />
da própria infantaria – o combate da humildade, o<br />
combate onde o chefe e os seus subordinados se<br />
ladeiam ombro a ombro, potenciando o terreno em<br />
seu proveito. O combate da sobriedade, o combate<br />
da aplicação de todas as armas, mas acima de tudo,<br />
o combate do empenhamento da própria alma. E aí,<br />
nesse empenhamento da própria alma, Nuno<br />
Álvares Pereira, o místico, aparecia como ninguém;<br />
uma bandeira que era um altar flutuante, uma<br />
palavra para cada um dos seus homens, a forma de<br />
se dirigir antes da batalha àqueles que se iam bater<br />
sobre as suas ordens, incentivando-os e incutindolhes<br />
uma confiança inabalável, “por mais que sejam<br />
não nos vencem, não só porque Deus está<br />
connosco mas porque somos muito melhores do<br />
que eles”. E rematou o Coronel Américo Henriques:<br />
“A causa mais justa e maior pela qual um Homem<br />
de Bem se pode e deve debater é a dignidade, a<br />
integridade, a liberdade, a independência e a<br />
soberania da terra onde nascemos. E porque o<br />
representou como ninguém é que Nuno Álvares<br />
Pereira, muito antes de subir aos altares de Deus,<br />
subiu aos altares da Pátria e garantiu, e Deus queira<br />
que para sempre, a perenidade da nação<br />
Portuguesa”.<br />
“D. Nuno Álvares Pereira<br />
– O Santo”<br />
Desde os tempos de infância que D. Nuno teve<br />
um contacto profundo com a religião. Em todos os<br />
seus passos o seu louvor a Deus esteve presente.<br />
Era apenas Deus que se sobrepunha às suas outras<br />
prioridades, Portugal e Família. [...]<br />
No exercício do poder como Comandante Militar,<br />
soube ser Chefe, soube liderar. Não castigava com<br />
destempero, mas com brandura, de modo que os<br />
seus homens tinham dele “mais reverência que<br />
temor” (Crónica de D. João I, 425.). Usava de<br />
fraternidade na relação com os soldados, no<br />
respeito pela sua dignidade humana, independentemente<br />
da função. Criava com os capitães e<br />
homens de armas uma família, capaz de alegria<br />
serena. Sabia repartir com generosidade, sem<br />
qualquer cobiça, o que resultasse das incursões e<br />
que fosse tomado ao inimigo. Quando terminada a<br />
guerra, fazia a distribuição dos ganhos pelos<br />
homens que o acompanhavam nos combates. [...]<br />
Arquivo JE<br />
A sua benignidade brilhava mesmo para com os<br />
inimigos, uma vez que não odiava os adversários,<br />
nem permitia que a paixão dominasse o ardor da<br />
luta. Por isso cuidava dos prisioneiros e dos feridos<br />
e não deixava que destruíssem aldeias ou campos<br />
cultivados. Amparava as mulheres, as crianças e<br />
os pobres. Em momento de especial carestia<br />
distribuiu pelos castelhanos 6400 alqueires de trigo.<br />
Era manifesto o respeito e consideração que estas<br />
atitudes de ética cristã geravam.” 3<br />
Como se constata, D. Nuno era extremamente<br />
devoto e o seu temor a Deus era tal que fazia questão<br />
de diariamente cumprir as suas obrigações<br />
religiosas. Após cada vitória dirigia-se em<br />
peregrinação ao templo mais próximo, dedicando<br />
esses sucessos a Deus.<br />
A partir de 1411, após a paz com Castela, D.<br />
Nuno despiu a pele de guerreiro e passou a crescer<br />
o monge que sempre houve dentro de si,<br />
ingressando no Convento do Carmo, como o<br />
simples Frade Nuno de Santa Maria. Nestes anos<br />
finais da sua vida “…a própria tença a que D. Duarte<br />
o obrigou distribuiu-a em esmolas e ele mesmo<br />
pediu para os pobres. Foi esta atitude radical<br />
daquele que fora o fidalgo mais poderoso do País,<br />
que conquistou o coração do povo de Lisboa.<br />
Optar por viver numa cela solitária e escura, com<br />
apenas uma mesa de pinho, catre e manta gasta,<br />
crucifixo e disciplinas, no silêncio e na<br />
contemplação, na humildade e no abandono a Deus,<br />
era prova de santidade.” 4<br />
D. Nuno morreu em 1431 na sua cela, ouvindo o<br />
evangelho de S. João e cerrando os olhos quando<br />
se identificou com as palavras de Jesus a Maria<br />
pronunciadas do alto da cruz: “Eis aí o teu filho”.<br />
27
28<br />
“Raras vezes na história, um herói que alterou a<br />
história de um povo é um santo, que não precisa de<br />
lenda para ser grande na integridade de carácter, na<br />
inteireza de costumes, na unidade de vida. Têm sido<br />
as lendas a reduzir a personagem a um sanhudo<br />
impetuoso, um Orlando furioso, dado a intervalos<br />
místicos. Estamos perante um extraordinário chefe<br />
militar, marcado pela ética cristã. Estamos diante de<br />
alguém com uma visão para o país, pautado por<br />
valores cristãos. Venceu nas armas por causas<br />
nobres, venceu-se a si mesmo pela entrega a Deus.<br />
São assim os santos: deslumbrantes, a dar carne à<br />
transcendência.” 5<br />
A Situação Político-Militar<br />
na Guerra dos Cem Anos<br />
(1337-1453)<br />
[...] Historicamente, as causas da Guerra dos<br />
Cem Anos remontam à conquista de Inglaterra, por<br />
Guilherme, o Conquistador, que manteve no<br />
continente europeu extensos domínios senhoriais,<br />
nomeadamente em França, algo que ameaçava o<br />
projecto de consolidação da monarquia francesa.<br />
Este conflito teve como oponentes, como<br />
referido, a Inglaterra de Eduardo III e a França de<br />
Felipe VI. Estes soberanos mantiveram durante anos<br />
um clima de aceso confronto, no que respeitava ao<br />
direito ao trono da França, do qual Eduardo III,<br />
neto de Felipe IV, foi afastado em detrimento de<br />
Felipe VI, sobrinho do anterior Rei; às pretensões<br />
aos territórios gauleses até então administrados<br />
pelo Rei de Inglaterra, e que Felipe queria tomar<br />
para si; à disputa pela influência sobre a Flandres,<br />
território de grande importância comercial, cujo<br />
controlo cada um dos Reis pretendia. Por outro<br />
lado, saliente-se o apoio da França aos rebeldes<br />
escoceses, que a norte pressionavam os Ingleses,<br />
numa constante tentativa de ganhar soberania; o<br />
declínio do sistema feudal que, com o surgimento<br />
de uma nova classe, a Burguesia, cada vez mais<br />
colocava em causa o poder dos grandes senhores<br />
feudais; o facto de, nesta altura, a igreja católica<br />
estar dividida, chegando mesmo a existir dois Papas<br />
em simultâneo. As duas nações respondiam a<br />
cada um deles (Inglaterra a Roma e França a Avignon).<br />
Do ponto de vista militar, o Tenente-Coronel<br />
Luís Barroso destacou as diferenças entre as duas<br />
forças em confronto. Por um lado, a França com um<br />
exército grande, com uma Cavalaria robusta, que<br />
assentava a sua conduta no seu grande poder de<br />
choque e protecção, mas que, em contrapartida,<br />
era demasiado dispendiosa e pouco ágil. Por outro<br />
lado, os ingleses com características mais ligeiras,<br />
combinando a cavalaria feudal com soldados de<br />
infantaria e, entre eles, soldados arqueiros cujo valor<br />
militar tinha já ficado demonstrado em Gales, no<br />
final do século XII (Eduardo I). Com terreno de<br />
montanhas, a cavalaria treinada para combate<br />
simétrico e em terreno aberto era pouco eficaz. 6<br />
Estes dois modelos<br />
de “máquinas de guerra”<br />
confrontaram-se durante<br />
os cerca de 116<br />
anos de guerra, sendo de<br />
realçar a importância<br />
crucial de duas batalhas<br />
em particular, a de Crecy<br />
e de Poitier. A Guerra<br />
dos Cem Anos, em particular<br />
estas duas<br />
batalhas, foi de particular<br />
importância para o<br />
que viria a acontecer em<br />
Aljubarrota, revelando o<br />
papel preponderante<br />
das informações no<br />
campo de batalha, da<br />
preparação do terreno,<br />
da unidade de comando<br />
e do elemento apeado<br />
fazendo frente a um<br />
adversário mais forte.<br />
A crise<br />
de 1383-1385<br />
e a Batalha<br />
de Atoleiros<br />
Vista a situação no<br />
plano Europeu, marcado<br />
pelo conflito, importa reflectir um pouco sobre o<br />
que se passava na Península Ibérica naquele tempo.<br />
Em Castela, desde a morte de D. Afonso XI,<br />
acalentava-se uma acesa disputa entre os vários<br />
pretendentes ao trono, que se alastrou aos países<br />
vizinhos, entre os quais D. Fernando, que subiu ao<br />
trono de Portugal em 1367 e que levou a que este<br />
soberano se envolvesse em guerras sucessivas com<br />
Castela – as guerras Fernandinas –, que se<br />
revelariam desastrosas para o Reino, pela forma<br />
como foram resolvidas, com o casamento da única<br />
filha de D. Fernando com o Rei de Castela, D. Juan<br />
I, em 1383.<br />
Neste ano morreu D. Fernando, deixando o<br />
Reino mergulhado numa dolorosa crise dinástica,
com vários pretendentes à Coroa nacional, sendo<br />
de destacar D. João Mestre de Avis, filho de D.<br />
Pedro I, que contava com o apoio do povo e de<br />
alguma nobreza, entre os quais D. Nuno, e D. Juan<br />
I, pelo casamento com D. Beatriz, com o apoio da<br />
alta nobreza.<br />
Ao longo do período de crise foram vários os<br />
confrontos e escaramuças<br />
entre os partidários<br />
das duas partes,<br />
mas a primeira batalha<br />
digna desse nome ocorreu<br />
perto de Portalegre,<br />
em Fronteira, Atoleiros,<br />
a 6 de Abril de 1384.<br />
Nesta Batalha, o<br />
nosso patrono comandou,<br />
com mestria, um<br />
exército manifestamente<br />
inferior ao castelhano,<br />
colocando em prática os<br />
ensinamentos retirados<br />
de Crecy e Poitier. Neste<br />
sentido, D. Nuno escolheu<br />
o terreno que<br />
mais lhe convinha para<br />
combater, usou de forma<br />
criteriosa o armamento de<br />
que dispunha, dispondo<br />
superiormente os seus<br />
besteiros e arqueiros e<br />
fazendo apear a sua<br />
cavalaria. Enfim, soube<br />
adaptar a sua força ao<br />
terreno, tirando proveito<br />
das suas vantagens.<br />
Após três investidas<br />
castelhanas, todas<br />
mal sucedidas, a hoste<br />
Portuguesa pôde cantar<br />
vitória, fazendo ressaltar a primazia da infantaria<br />
ligeira, ágil, fazendo frente a uma Cavalaria robusta<br />
e móvel, mas com pouca flexibilidade e utilidade<br />
num terreno que lhe era desfavorável.<br />
“[...] Do ponto de vista político, Atoleiros foi o<br />
primeiro sinal claro da determinação de defender<br />
Portugal e de que o partido do Mestre de Avis não<br />
se tratava de um conjunto de revoltosos<br />
desorganizados, mas sim de uma força com<br />
identidade nacional;<br />
Do ponto de vista psicológico, provou aos<br />
portugueses que os castelhanos não eram<br />
invencíveis e contribuiu para reforçar a ideia de<br />
que a legitimidade e a justiça estavam do lado do<br />
Mestre de Avis;<br />
In História do <strong>Exército</strong> Português, General Ferreira Martins<br />
Do ponto de vista militar, foi a primeira<br />
experiência portuguesa nos campos de batalha da<br />
Europa. A infantaria, armada de piques, em formação<br />
cerrada e com um adequado aproveitamento do<br />
terreno, conseguia ser um adversário à altura da<br />
cavalaria pesada;<br />
Do ponto de vista do comando, a acção de D.<br />
Nuno revelou-se intocável, conseguindo quebrar<br />
as opiniões mais cépticas de que se tratava de um<br />
jovem inconsciente e um pouco alucinado,<br />
reforçando a sua imagem como comandante militar<br />
de ciência e de valor.” 7<br />
A invasão Castelhana<br />
e a Batalha de Aljubarrota<br />
Após as derrotas de Atoleiros e de Trancoso,<br />
D. Juan decide invadir Portugal para colocar um<br />
ponto final nesta contenda. Assim, em Julho de<br />
1385, entra no território nacional, à frente de um<br />
poderoso exército, em direcção a Lisboa,<br />
encontrando-se a sua Armada ao largo da capital<br />
desde o mês de Junho. O seu avanço processou-se<br />
naturalmente e em 7 de Agosto já se encontrava a<br />
sul de Coimbra.<br />
A hoste nacional, sob o comando do Mestre de<br />
Avis, encontrava-se em Abrantes, onde foi reunido<br />
um Conselho de Guerra para decidir sobre a<br />
modalidade a adoptar: fazer frente a D. Juan,<br />
impedindo-o de chegar a Lisboa, ou atacar a sua<br />
retaguarda, em território castelhano.<br />
A primeira opção, do agrado do Condestável,<br />
foi posta de parte pelo Conselho, levando a que D.<br />
Nuno tomasse uma decisão inesperada,<br />
abandonando o Conselho e partindo com os seus<br />
homens ao encontro de D Juan I. Esta acção, muito<br />
discutida, levou a que o Rei voltasse atrás na sua<br />
decisão e seguisse o seu Condestável, provocando<br />
uma dramática batalha real, que colocaria em jogo a<br />
sua própria Coroa.<br />
[...] À semelhança de Atoleiros, D. Nuno<br />
começou por escolher o terreno que lhe era mais<br />
conveniente, resultado de um reconhecimento<br />
minuciosamente conduzido. Esta foi, talvez, a<br />
decisão mais consequente que terá tomado, dada a<br />
clara vantagem que o terreno conferia à hoste<br />
Lusitana. Demonstrando um elevado conhecimento<br />
da forma de actuar do seu adversário, antevê a sua<br />
manobra e, numa operação de decepção, dá a<br />
entender que pretende enfrentar o seu adversário<br />
por norte, quando na realidade já havia mandado<br />
preparar o terreno para um ataque por sul.<br />
Organizou as suas forças para o combate,<br />
adoptando “uma formação de quadrado a duas azes<br />
29
(batalhas), com uma Vanguarda que ele próprio (D.<br />
Nuno Álvares Pereira) comandava, a seiscentas<br />
lanças; uma Ala direita de duzentas lanças de<br />
cavaleiros, cujo comando seria atribuído a Mem<br />
Rodrigues, coadjuvado por seu irmão Rui Mendes;<br />
uma Ala esquerda de duzentos homens de armas<br />
que Antão Vasques comandaria; e, recuada, uma<br />
Retaguarda, com el-Rei, de setecentas lanças,<br />
montadas tanto quanto possível para maior<br />
mobilidade como Reserva, pronta para contra-atacar<br />
ou reforçar a Vanguarda, a Ala esquerda e a Ala<br />
direita, por esta ordem; os arqueiros ingleses<br />
atribuídos à Ala esquerda; os besteiros guarneciam<br />
todas as faces do dispositivo, com prioridade para<br />
as Alas e, juntamente com os peões, montariam<br />
guarda à carriagem, esta colocada por trás da<br />
Reserva, com excepção de um reduzido trem de<br />
apoio ao combate dos arqueiros e besteiros que se<br />
situaria dentro do quadrado”. 8<br />
Na conduta da operação revelou uma grande<br />
flexibilidade, deixando perceber que a recusa de<br />
Castela em dar-lhe combate por norte não lhe era<br />
estranha, dada a rapidez com que reajustou o<br />
dispositivo fazendo face ao movimento e acções<br />
de Castela. “Quanto à composição e articulação<br />
das forças, pensara não serem necessárias grandes<br />
alterações. Desde logo pondera que talvez tivesse<br />
que reforçar a Frente à custa da Reserva, aí com<br />
umas oitenta a cem lanças, porque o terreno era<br />
mais fraco e mais extensa a frente a cobrir mas, face<br />
à possibilidade do inimigo empregar em qualquer<br />
direcção, mesmo pela retaguarda, a sua cavalaria<br />
ligeira sob o comando do Mestre de Alcântara (…)<br />
optara por manter a Reserva forte (…) esta última<br />
posição permitia-lhe, também, criar um saco (uma<br />
bolsa), uma zona de morte onde nos derradeiros<br />
momentos antes do contacto, o inimigo aí entrado,<br />
seria sujeito a um potencial de tiro das armas de<br />
arremesso que queria devastador”. [...]<br />
A Batalha de Aljubarrota foi “a batalha mais<br />
brilhante, a mais decisiva nos seus resultados e<br />
aquela que maior eco teve em Portugal e no<br />
mundo”. 9<br />
Jornadas de Infantaria 2009 10<br />
A Escola Prática de Infantaria (EPI) promove<br />
anualmente uma actividade designada por Jornadas<br />
de Infantaria, envolvendo-se directamente em debates<br />
e estudos sobre temáticas da actualidade.<br />
No sentido de dar continuidade a este desígnio,<br />
realizaram-se entre 18 e 22 de Junho de 2009 as<br />
Jornadas de Infantaria 2009 (JI09), subordinadas<br />
ao tema geral “As Pequenas Unidades de Infantaria<br />
no Combate em Áreas Edificadas”. Os trabalhos<br />
30<br />
integraram naturalmente os representantes de todas<br />
as Unidades de Infantaria, dos Comandos Funcionais<br />
e do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, passando<br />
pela Academia Militar, pela Escola de Sargentos do<br />
<strong>Exército</strong> e pelo Instituto de Estudos Superiores<br />
Militares.<br />
As temáticas abordadas e as respectivas<br />
conclusões, que foram apresentadas a uma vasta<br />
audiência presidida pelo Tenente-General Mário de<br />
Oliveira Cardoso, Director Honorário da Arma de<br />
Infantaria e Vice-Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />
farão parte integrante da Revista Azimute n.º 188, a<br />
publicar em Dezembro de 2009.<br />
A principal finalidade das Jornadas de Infantaria<br />
é a promoção da reflexão ao nível da Arma, sobre<br />
temas e assuntos que directa ou indirectamente<br />
poderão influenciar a Infantaria Portuguesa,<br />
nomeadamente sobre os aspectos doutrinários,<br />
técnicos e de emprego das pequenas Unidades de<br />
Infantaria. [...]<br />
A este evento, anualmente integrado no<br />
programa das Comemorações do Dia da Arma de<br />
Infantaria e da EPI, sucederam-se outros dois que<br />
começaram logo no dia do encerramento das<br />
Jornadas, nomeadamente a inauguração da<br />
“Exposição Fotográfica alusiva à Primeiras Guerra<br />
Mundial”, que foi preparada e apresentada na Sala<br />
de Honra da Infantaria, e ainda a abertura da<br />
tradicional Prova de Patrulhas, representativas das<br />
unidades de Infantaria do <strong>Exército</strong>, da Guarda<br />
Nacional Republicana e do Corpo de Fuzileiros – a<br />
Patrulha D. Nuno Álvares Pereira.<br />
Sessão de Abertura,<br />
em 18 de Junho de 2009<br />
A sessão de abertura foi presidida pelo<br />
Presidente do Conselho da Arma de Infantaria,<br />
Major-General António Noé Pereira Agostinho. [...]<br />
Os trabalhos iniciaram-se com a intervenção do<br />
Comandante da EPI, Coronel de Infantaria João<br />
Ormonde Mendes, que deu as Boas-Vindas a todos<br />
os presentes e fez a introdução ao tema das<br />
Jornadas de Infantaria 2009.<br />
Seguidamente, o Presidente do Conselho da<br />
Arma de Infantaria usou da palavra para salientar a<br />
actualidade e a pertinência do Combate em Áreas<br />
Edificadas, tendo em conta que os conflitos actuais<br />
se desenvolvem maioritariamente tendo como pano<br />
de fundo este tipo de ambientes, complexos e física<br />
e psicologicamente exigentes.<br />
No primeiro dia, após a apresentação de um<br />
conjunto de palestras que permitiram enquadrar o<br />
tema geral acima referido e que seguidamente
apresentaremos em resumo, foram debatidos os<br />
temas propostos no seio de Grupos de Trabalho<br />
(GT) com representação das diferentes Unidades,<br />
Estabelecimentos e Órgãos, na modalidade de<br />
workshop. [...]<br />
A primeira apresentação, feita pelo Tenente-<br />
Coronel Martin Farenfield, do <strong>Exército</strong> dos Estados<br />
Unidos da América, da Embaixada dos EUA em<br />
Lisboa, focou o tema “The tactical Employment at<br />
Squad and Platoon Level and the Infantry Tactics<br />
in MOUNT/FIBUA” e as lições retiradas da<br />
Operação Phantom Fury em Fallujah, Iraque –<br />
Novembro 2004. Na sua apresentação destacou<br />
quatro ensinamentos que o exército americano<br />
colheu e que rapidamente introduziu na doutrina<br />
e programa de cursos:<br />
O combate urbano combina infantaria e carros<br />
de combate (CC). Além da necessidade, utilidade<br />
e complementaridade dos CC e da Infantaria, o<br />
orador alertou para o problema dos ângulos mortos<br />
dos CC e que são ainda mais evidentes nas áreas<br />
edificadas;<br />
A Infantaria deve ser treinada para fazer<br />
abertura de brechas com explosivos. A formação e<br />
manejo de explosivos eram matéria exclusiva da<br />
engenharia. O aumento que se fez sentir para o<br />
emprego de explosivos impôs que a formação nesta<br />
área passasse a ser extensível a todos os militares;<br />
O maior perigo para a infantaria é a passagem<br />
entre edifícios. Foi apresentada a grande<br />
dificuldade sentida na progressão em área<br />
edificadas, sendo consequentemente a passagem<br />
entre edifícios o período que expõe mais a<br />
infantaria e transforma a força militar num alvo<br />
vulnerável;<br />
Técnicas de limpeza de compartimentos e treino<br />
Foto: CAVE<br />
de tiro em ambiente urbano. Foram apresentadas<br />
algumas técnicas de entrada em edifícios, tendo<br />
sido dado grande realce ao tiro como factor fundamental<br />
para o sucesso de qualquer unidade de<br />
combate.<br />
A segunda apresentação, feita pelo Tenente-<br />
Coronel Niels Windeuser, do JALLC, tratou o tema<br />
“The Interoperability within NATO Urban Operations<br />
at Small tactical Units” e organizou a<br />
sua apresentação nos seguintes pontos:<br />
O processo de lições aprendidas do JALLC;<br />
O relatório sobre The Dismounted Soldier System<br />
– DSS (Soldado do Futuro) efectuado por<br />
militares do JALLC que acompanharam uma força<br />
do exército do Reino Unido no Afeganistão;<br />
Lições Aprendidas nas operações correntes<br />
da NATO.<br />
Da sua apresentação, preparada em coordenação<br />
com o Tenente-Coronel de Infantaria<br />
Jorge Costa Campos, são de salientar as seguintes<br />
conclusões:<br />
Com o DSS pretende-se a integração de tudo<br />
o que o soldado utiliza, transporta e consome para<br />
potenciar as suas capacidades individuais e<br />
colectivas (Pequenas Unidades) dentro da sua<br />
estrutura nacional de Comando e Controlo;<br />
A Interoperabilidade é fundamental e a<br />
Infantaria Ligeira desempenha um papel<br />
predominante, pois o combate é conduzido<br />
praticamente sempre apeado e em terreno<br />
complexo, com as Áreas Edificadas e os IED<br />
(Engenhos Explosivos Improvisados) sempre<br />
omnipresentes, levando as operações a<br />
caracterizarem-se por grande intensidade;<br />
O peso dos equipamentos é um factor-chave.<br />
Como não é possível à Infantaria Ligeira<br />
transportar todos os equipamentos disponíveis,<br />
o soldado tem sempre a preocupação de ajustar e<br />
decidir quais os equipamentos a transportar para<br />
cada Missão.<br />
No que se refere à multinacionalidade das<br />
operações foram destacados os aspectos culturais<br />
e linguísticos (críticos nos baixos escalões), a<br />
existência de diferentes Tácticas, Técnicas e<br />
Procedimentos nos diferentes países da NATO e<br />
a exagerada confiança na tecnologia (que se<br />
começa a sentir).<br />
A terceira apresentação feita pelo Capitão<br />
Rafael Lopes, Comandante da Companhia de Apoio<br />
à Formação da EPI e representante português no<br />
Urban Operations Working Group (UOWG), foi<br />
sobre o “ UOWG – Situação Actual e Perspectivas<br />
Futuras”.<br />
O Grupo de Trabalho depende directamente<br />
do Army Sub-Group (ASG) que está subordinado<br />
31
32<br />
ao NATO Training Group (NTG) e recebe apoio<br />
das nações representadas no GT no treino e<br />
documentação relativa ao Combate em Áreas<br />
Edificadas (CAE); analisa Técnicas, Tácticas e<br />
Procedimentos de forma a criar um conceito comum<br />
e integrado de CAE; e assegura que a formação e<br />
treino do CAE se mantém actualizado de acordo<br />
com as mais recentes missões e ameaças.<br />
No que diz respeito às perspectivas de futuro,<br />
destacou:<br />
O CAE como base da formação do Infante;<br />
Promover a discussão do emprego de armas<br />
combinadas no CAE (já iniciado);<br />
Apoiar no Desenvolvimento do Projecto de<br />
Ampliação do “ALDEIA CAMÕES”, situado na<br />
Tapada Militar de Mafra e contribuir para a<br />
actualização dos programas de instrução dos<br />
cursos ministrados na EPI;<br />
Análise do Cap. V do Urban Operations Tactical<br />
Handbook (UOTH), no que diz respeito às<br />
funções de Combate;<br />
Aprovação do Vol. II do UOTH e passagem do<br />
Vol. I a ATP;<br />
Decorrerá em Portugal, entre 26 a 30 de Abril de<br />
2010, a Reunião do UOWG no âmbito das<br />
“Informações no CAE”.<br />
A quarta apresentação feita pelo Capitão de<br />
Infantaria Alexandre Capote, da Brigada Mecanizada,<br />
tratou o tema “As Pequenas Unidades de<br />
Infantaria no Combate em Áreas Edificadas –<br />
Perspectiva do emprego de meios mecanizados e<br />
blindados”. Da sua apresentação destacam-se uma<br />
série de apontamentos (a desenvolver na próxima<br />
edição da Revista Azimute) e que são o resultado<br />
do estudo e da experiência feita pelo Agrupamento<br />
em NRF. A apresentação debruçou-se sobre:<br />
O emprego de meios mecanizados e blindados;<br />
O treino da Força em Áreas Edificadas.<br />
Cerimónia de Encerramento e<br />
Apresentação das Conclusões<br />
A Cerimónia de Encerramento das JI09 contou<br />
com a presença dos Comandantes das Unidades<br />
de Infantaria e foi presidida pelo Director Honorário<br />
da Arma de Infantaria, Tenente-General Mário de<br />
Oliveira Cardoso.<br />
Nesta sessão foi feita a apresentação das<br />
conclusões por parte dos GT, efectuadas pelos seus<br />
coordenadores, que seguidamente se resumem:<br />
O Tenente-Coronel de Infantaria Jorge Gamito<br />
Torres (GT1), que trabalhou o tema “A Condução<br />
de Operações de Combate em Ambiente Urbano –<br />
Requisitos de Capacidades de Informação nos<br />
Foto: CAVE<br />
Baixos Escalões (Companhia, Pelotão e Secção) ”,<br />
apresentou as conclusões de acordo com os<br />
seguintes tópicos:<br />
Doutrina – As Técnicas, Tácticas e<br />
Procedimentos de combate em áreas edificadas<br />
devem ser conjugadas com a doutrina ISTAR<br />
(impacto dos novos meios);<br />
Treino – Aplicação dos meios – Impacto no<br />
treino individual e colectivo, (integração e gestão<br />
de sensores e C 2);<br />
Organização – As células de gestão de sensores<br />
(UAV’s/UGV’s) deverão ser orgânicas da UEB;<br />
Meios – Requisitos de capacidades dos<br />
sistemas para actuarem de forma autónoma;<br />
Liderança – Planeamento centralizado, execução<br />
descentralizada – maior exigência e responsabilidades<br />
na coordenação das Operações aos baixos<br />
escalões;<br />
Pessoal – Necessidades de novas competências:<br />
selecção; especialização; ambiente multinacional/língua;<br />
Interoperabilidade – Uso do SICCE na integração<br />
de todos os meios C4ISR até ao escalão secção.<br />
O Major de Infantaria Jorge Varanda Pinto (GT2),<br />
que tratou o “Emprego Táctico de uma Unidade de<br />
Escalão Companhia, em todo o Espectro das<br />
Operações, num Cenário de Contra-subversão Urbana”,<br />
apresentou as conclusões que se destacam<br />
nos seguintes tópicos:<br />
Doutrina – foi proposto que fossem elaborados<br />
dois manuais pela EPI, coadjuvada pela FOPE, sobre<br />
Combate Urbano;<br />
Treino e material – proposta de algumas alterações<br />
e aquisições de novas tecnologias;<br />
Liderança – área essencial para os novos quadros;<br />
Quanto às infra-estruturas, a proposta vai no<br />
sentido de se ampliar e melhorar as infra-estruturas<br />
existentes para o CAE pois estas devem permitir a<br />
execução de tiro real, a utilização de viaturas<br />
mecanizadas e blindadas e alterar as situações de
treino, para o tornar mais realista;<br />
A interoperabilidade – as propostas vão no sentido<br />
de a doutrina ser comum ou, no mínimo, compatível e<br />
possibilitar o emprego combinado de forças;<br />
O treino deve ser do tipo Cross Training para<br />
adaptação e integração. É no entanto no material<br />
(Armamento, Transmissões, etc.) onde existem mais<br />
sistemas que requerem compatibilidade. Quanto ao<br />
pessoal, deve ter as competências para participar em<br />
operações combinadas (Linguística).<br />
O Tenente-Coronel de Infantaria Rui Mendes Dias<br />
(GT3), que teve como objectivo trabalhar o tema<br />
“Requisitos Operacionais e Técnicos de Simulação<br />
para os Sistemas de Combate de Infantaria dos baixos<br />
escalões tácticos (Companhia, pelotão e Secção) em<br />
ambiente urbano”, apresentou os seguintes tópicos<br />
de conclusões:<br />
A definição de uma política de simulação nacional<br />
deve ser construída com base nos conceitos basilares<br />
da NATO (Simulação, Interoperabilidade e Reutilização),<br />
bem como nos seus princípios guia, a normalização de<br />
tácticas e procedimentos fruto das lições aprendidas e<br />
a revisão dos diversos referenciais de curso;<br />
Quanto à organização, a proposta vai no sentido<br />
de se criarem dois níveis de Simuladores: o primeiro<br />
nível nas EPR, para que todos tenham acesso aos<br />
sistemas; o segundo nível, para material específico de<br />
uma unidade da FOPE, ficando neste caso o simulador<br />
na unidade utilizadora, destinado ao treino do pessoal;<br />
No que diz respeito às infra-estruturas, as<br />
recomendações vão no sentido de haver uma avaliação<br />
custo/eficácia, de o sistema de simulação estar<br />
associado à infra-estrutura real, da criação de infraestrutura<br />
para acolher sistemas de simulação e da<br />
rentabilização das infra-estruturas reais, permitindo o<br />
seu desenvolvimento;<br />
As propostas respeitantes ao pessoal vão no<br />
sentido da criação de órgãos ou entidades<br />
responsáveis pela gestão da formação de quadros<br />
qualificados (Operar, Manter e Reparar), da<br />
vinculação/permanência dos militares e da<br />
contratualização de formação, manutenção e<br />
reutilização, com análise custo/eficácia, relativamente<br />
a estes equipamentos mais específicos.<br />
Sítio da Infantaria<br />
No final da sessão de Encerramento das JI09 foi<br />
ainda apresentado, pelo Comandante da EPI, uma<br />
proposta de sítio da Infantaria. Este sítio terá como<br />
objectivo constituir-se num repositório dos<br />
documentos relacionados com a infantaria portuguesa<br />
e estará disponível na internet. Foi com muito agrado<br />
e receptividade que este assunto foi visto, pois permite<br />
ocupar uma lacuna existente e será um local de debate<br />
e encontro entre Infantes.JE<br />
1 Texto da Escola Prática de Infantaria.<br />
2 António Pires Nunes, Tenente-Coronel – “D. Nuno<br />
Álvares Pereira – o Homem”.<br />
3 D. Carlos Azevedo, “São Nuno de Santa Maria: um santo<br />
condestável e carmelita”.<br />
4 Idem.<br />
5 Ibidem.<br />
6 Tenente-Coronel Barroso, “A Situação Político-Militar<br />
na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) ”.<br />
7 Capitão Afonso, “A crise de 1383-1385 e a Batalha de<br />
Atoleiros”.<br />
8 Tenente-Coronel Lemos Pires, “A invasão Castelhana e<br />
a Batalha de Aljubarrota”.<br />
9 General Themudo Barata.<br />
10 Texto da Escola Prática de Infantaria.<br />
Foto: Tenente Paulo Moreira<br />
33
Texto e Fotos do TCor. Art. Eng.º Geógrafo<br />
António Jaime Gago Afonso<br />
A<br />
Cartografia Militar Portuguesa na sua<br />
escala 1:25000, por ser a escala base de<br />
Portugal, sempre serviu de suporte ao <strong>Exército</strong>, às<br />
Forças Armadas e, duma forma mais lata, o<br />
desenvolvimento do país como base no estudo e<br />
planeamento dos projectos mais importantes dos<br />
últimos anos. A forma de obtenção dos dados para<br />
a sua elaboração acompanha a evolução dos tempos.<br />
O Instituto Geográfico do <strong>Exército</strong> (IGeoE),<br />
desenvolve estudos e metodologias para a<br />
actualização da sua Cartografia Militar de forma<br />
rápida e exacta, uma vez que terminou em 2006 a<br />
aquisição em formato vectorial de todo o Território<br />
Nacional. O método de posicionamento em modo<br />
de Base – RTK, constituía a forma tradicional da<br />
Secção de Topografia do IGeoE para adquirir<br />
informação geo-referenciada, necessária aos<br />
diversos processos de produção dessa Cartografia.<br />
Actualmente, com a utilização do projecto<br />
SERVIR (Sistema de Estações de Referência GNSS<br />
VIRtuais), permite reduzir os quantitativos em meios<br />
humanos, materiais e logísticos, melhorar<br />
significativamente a realização do apoio topográfico<br />
e optimizar drasticamente o tempo consumido por<br />
parte das equipas topográficas do IGeoE quando<br />
comparado com a tradicional metodologia RTK para<br />
apoio topográfico em WGS84 (World Geodetic<br />
System 1984).<br />
34<br />
Figura 1<br />
Figura 2
Este projecto, liderado pelo Instituto Geográfico<br />
do <strong>Exército</strong>, utiliza a rede de comunicações do<br />
<strong>Exército</strong>, Marinha e Força Aérea sob supervisão do<br />
SICOM (Sistema Integrado de Comunicações das<br />
Forças Armadas) e do Regimento de Transmissões<br />
do <strong>Exército</strong>, numa perspectiva de optimização das<br />
infraestrutras existentes, diminuindo assim os<br />
custos em comunicações entre as Estações de<br />
Referência e o centro de controlo e monitorização<br />
do sistema, optimizando desta forma o investimento<br />
efectuado pelo Estado e o Erário Público. Conta<br />
ainda com o apoio das Unidades Militares onde as<br />
Estações de Referência GNSS (Figura 1) estão<br />
instaladas, facilitando a manutenção e o apoio<br />
logístico, além de aumentar a segurança física das<br />
mesmas. Desde o iníco deste projecto que o seu<br />
parceiro estratégico é a Faculdade de Ciências da<br />
Universidade de Lisboa e mais recentemente a<br />
Universidade da Beira Interior.<br />
Actualmente a rede tem 26 estações em<br />
funcionamento (GPS + GLONASS) e uma na fase e<br />
resolução de problemas de comunicações.<br />
Arquitectura do Projecto<br />
SERVIR<br />
A arquitectura da rede deste projecto foi<br />
concebida de forma a garantir a maior segurança<br />
possível, fiabilidade e rapidez de funcionamento,<br />
através da redundância de cálculo (dois<br />
computadores em simultâneo); assim, em caso de<br />
alguma ocorrência inoportuna com um deles, o<br />
outro assegura automaticamente o fornecimento<br />
das correcções da rede aos utilizadores. Pode<br />
assegurar até 50 utilizadores em simultâneo (ver<br />
Figura 2).<br />
É uma plataforma electrónica assente em 4<br />
componentes fundamentais:<br />
- As estações de referência GNSS localizadas em<br />
instalações da Marinha, Força Aérea e <strong>Exército</strong>;<br />
- A rede de dados do <strong>Exército</strong> e das Forças<br />
Armadas;<br />
- O centro de monitorização e cálculo do sistema<br />
localizado no IGeoE;<br />
- A rede de comunicações nacional GPRS das<br />
operadoras nacionais.<br />
Esta plataforma permite ao utilizador estabelecer<br />
uma comunicação com o SERVIR, o qual identifica a<br />
sua posição no terreno enviando-lhe as correcções<br />
diferencias em tempo real, permitindo ao utente obter<br />
coordenadas exactas de acordo com os serviços<br />
disponibilizados: RTK - 10 cm; DGPS - 80 cm e ainda<br />
efectuar análise de dados em pós-processamento<br />
com o download dos ficheiros RINEX.<br />
Serviços disponibilizados<br />
pelo Projecto SERVIR<br />
Para aceder aos serviços disponibilizados é<br />
preciso ter permissão de acesso, pelo que o IGeoE<br />
deverá ser contactado através de mailto:igeoe-<br />
@igeoe.pt?subject=ProjectoSERVIR, ou endereço<br />
electrónico geral: igeoe@igeoe.pt, disponibilizado<br />
na página Web do IGeoE (www.igeoe.pt), ou fazer a<br />
inscrição através da página Web das Estações de<br />
Referência (http://213.63.136.12).<br />
Figura 3<br />
Rede servir − Loja RENEX<br />
Os serviços disponibilizados são:<br />
- DGPS: as correcções diferenciais são disponibilizadas<br />
no formato de mensagem RTCM 2.3;<br />
- RTK: As correcções diferenciais são disponibilizadas<br />
nos formatos de mensagens CMR, CMR+,<br />
cujos formatos são proprietários, ou RTCM 2.3 cujo<br />
formato é padrão, e RTCM 3.0;<br />
- A análise de dados em pós-processamento é<br />
possível com o download dos ficheiros RINEX (Receiver<br />
Independent Exchange Format) directamente<br />
da respectiva página Web (http://213.63.136.12)<br />
Benefícios do Projecto<br />
SERVIR<br />
O projecto SERVIR permitiu obter mais valias na<br />
componente interna das Forças Armadas e na<br />
componente externa ao nível do cidadão e de<br />
organizações empreendedoras.<br />
Na componente interna destaca-se o facto de:<br />
- Contribuir para a melhoria das comunicações<br />
da rede de dados do <strong>Exército</strong>;<br />
- Reduzir o tempo e custos de operação na aquisição<br />
dos dados por parte das equipas topográficas<br />
do IGeoE e do IH (Instituto Hidrográfico);<br />
- Aumentar a produtividade com a optimização<br />
dos recursos humanos permitindo o seu emprego<br />
35
Apoio Campo para obter coordenadas de 160 pontos em<br />
WGS84 antes de Abril de 2006<br />
noutras tarefas (planeamento e execução doutros<br />
trabalhos);<br />
- Contribuir para a melhoria da imagem junto do<br />
cidadão quer do IGeoE em particular, quer do<br />
<strong>Exército</strong> e das Forças Armadas em geral.<br />
Conclusão: Para a mesma necessidade de apoio<br />
de campo houve um ganho de 4 semanas e 9 militares.<br />
Na componente externa permitiu:<br />
- Partilhar a informação para todos os intervenientes<br />
(Universidades, Empresas, Organismos Públicos);<br />
- Disponibilizar os serviços 24h por dia / 365<br />
dias por ano;<br />
- Aumentar a produtividade em mais de 50%<br />
para cidadãos empreendedores;<br />
- Reduzir em mais de 25% os custos globais de<br />
operação para os utilizadores;<br />
- Melhorar o serviço prestado ao cidadão<br />
reduzindo os tempos na aquisição de dados;<br />
- Maior celeridade nos processos disponibilizando<br />
a informação online;<br />
- Acompanhar as melhores práticas internacionais<br />
na disponibilização da informação em formato digital;<br />
- Fornecer serviços inovadores acompanhando<br />
a evolução tecnológica e de utilidade pública.<br />
O Projecto SERVIR ganha<br />
o Prémio das Boas Práticas<br />
no Sector Público<br />
Conforme noticiado no passado mês de Julho, no<br />
JE n.º 586, o Projecto Servir do IGeoE foi<br />
galardoado, na categoria de Melhoria de<br />
Processos, com o Prémio Boas Práticas.<br />
Aproveitamos o ensejo para partilhar com os<br />
36<br />
leitores a carta enviada ao IGeoE pela organização<br />
do evento (uma iniciativa da Deloitte e do Diário<br />
Económico, tendo como parceiros a Fundação<br />
Luso-Americana e o Instituto Nacional de<br />
Administração, IP).<br />
“O Prémio Boas Práticas no Sector Público,<br />
reconhecido pela sua independência, visa divulgar<br />
anualmente iniciativas de relevo que sirvam de<br />
exemplo para os diversos organismos e cujas ideias<br />
possam ser reaproveitadas para o aumento de<br />
eficácia, eficiência e externalidades positivas dos<br />
serviços do Estado.<br />
Face ao galardão de excelência alcançado por<br />
V. Exas. na 7ª edição desta iniciativa, vimos por<br />
este meio reforçar as nossas felicitações pela<br />
inovação, empenho e perseverança aplicados no<br />
desenvolvimento da vossa actividade,<br />
ingredientes obrigatórios para a consolidação de<br />
boas práticas.<br />
Esta distinção, é um importante sinal de<br />
reconhecimento público do valor do V. projecto e<br />
um claro sinal da importância da replicação dessa<br />
boa prática. Estamos, pois, convictos que<br />
continuarão a percorrer o caminho da mudança e
Após Abril de 2006, para mesma necessidade de apoio de<br />
campo, houve um ganho de quatro semanas e nove militares<br />
que, como vencedores, irão incentivar outros na<br />
persecução de boas ideias e na implementação de<br />
boas práticas, contribuindo activamente como<br />
mentores da excelência.”<br />
Para obter mais informação consulte http://<br />
www.boaspraticas.com/.<br />
Conclusão<br />
A rede SERVIR, cujo acesso é livre e gratuito desde<br />
Abril de 2006 para qualquer utilizador (enquanto o<br />
orçamento do IGeoE puder suportar os custos de<br />
manutenção), permitiu ao IGeoE efectuar os seus<br />
trabalhos de topografia de forma mais rápida,<br />
económica e com menos recursos humanos,<br />
aumentando assim a sua produtividade. De uma média<br />
de 8 pontos fotogramétricos (PF´s), por dia e por<br />
equipa, passámos para 20 PF´s.<br />
Portugal Continental, nos dias de hoje, pode-se<br />
orgulhar de ter uma das mais modernas redes de<br />
estações de referência GNSS a funcionar em modo<br />
rede - RTK, a nível Europeu.<br />
Tal como a Cartografia Militar, a rede SERVIR está<br />
disponível para quem necessite de a utilizar.<br />
Este importante Prémio e Reconhecimento Público<br />
premeia não só o IGeoE, mas todos os parceiros acima<br />
referidos, assim como ao nível individual de todos<br />
aqueles que directa e indirectamente contribuíram para<br />
a realização deste projecto que hoje é uma<br />
realidade.JE<br />
37
38<br />
Exercício “ZARCO 091”<br />
Exercício “PRISTINA 092”<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
A<br />
Zona Militar da Madeira (ZMM) participou no<br />
Exercício Conjunto “ZARCO 091”, que decorreu, numa<br />
primeira fase, sob a forma de CPX/CAX, entre 22 a 23 de Abril,<br />
no Comando Operacional da Madeira e, numa segunda fase,<br />
como LIVEX, entre 25 e 27 Maio, na região do Caniçal, no<br />
Concelho de Machico.<br />
No cenário do exercício, as Forças Armadas colaboraram<br />
com as Forças e Serviços de Segurança na realização de uma<br />
operação de segurança a uma cimeira na Ilha da Madeira, sobre<br />
a qual pendia um grau de ameaça credível, referente a ataques<br />
No âmbito do aprontamento do 1.º Batalhão de<br />
Infantaria Mecanizado (1.º BIMec), que constitui a<br />
Força Nacional Destacada a enviar para o Kosovo em<br />
Setembro de 2009, realizou-se, entre 15 e 23 de Julho, o<br />
terroristas, num período de normalidade constitucional.<br />
O exercício foi planeado de acordo com o novo<br />
enquadramento legal (Lei n.º 53/2009 – lei de Segurança Interna)<br />
e contou, na fase do CPX, com participação de todas as Forças<br />
e Serviços de Segurança, assim como com o próprio Presidente<br />
do Gabinete Coordenador de Segurança da Região Autónoma<br />
da Madeira, na qualidade de observador.<br />
O exercício “ZARCO 091” teve como objectivos específicos<br />
para o <strong>Exército</strong> treinar os procedimentos tácticos e a proficiência<br />
das forças terrestres em operações, nomeadamente: na<br />
prontidão e acção de comando por parte dos postos de<br />
comando da ZMM (Batalhão de Infantaria e Bateria de Artilharia<br />
Anti-aérea); no emprego de regras de empenhamento (ROE’s)<br />
até ao escalão táctico mais baixo; no Sistema de Defesa Antiaérea<br />
da Madeira, na capacidade de detecção de alvos aéreos a baixa<br />
e muito baixa altitude, nos procedimentos de reporte da BAAA<br />
ao Comando Operacional da Força Aérea e na utilização<br />
adequada das respectivas ROE.<br />
Nos últimos dois anos, a ZMM tem treinado com afinco<br />
estas operações num cenário virtual, o que tem permitido testar<br />
a interoperabilidade de procedimentos operacionais e tácticos<br />
com os outros Ramos das Forças e Serviços de Segurança<br />
sediados na região. O Exercício “ZARCO 091” demonstrou,<br />
novamente, a excelente cooperação existente, quer a nível<br />
operacional, quer a nível táctico, entre a Zona Militar da Madeira,<br />
os outros comandos militares e as entidades primariamente<br />
responsáveis pela segurança interna na Região.<br />
exercício “PRISTINA 092”.<br />
O exercício representou a fase final do aprontamento, onde<br />
foram avaliados os níveis de treino do aperfeiçoamento<br />
operacional alcançado, ministrados durante a aplicação do Plano<br />
de Treino Operacional. Assim, foram praticados, neste exercício,<br />
o planeamento, o controlo e a conduta de Operações Tácticas,<br />
associadas às Operações de Apoio à Paz, no quadro das missões<br />
e tarefas passíveis de serem desempenhadas pelo 1.º BIMec/<br />
KTM, tendo como referencial o ambiente operacional que se<br />
vive no Kosovo e as evoluções possíveis que tal ambiente<br />
pode assumir. Para tal, foi criado um cenário realístico, em<br />
conformidade com a avaliação dos riscos e ameaças do Teatro<br />
de Operações do Kosovo, de forma a permitir à Unidade praticar<br />
as acções militares relacionadas com a missão.<br />
O exercício culminou no dia 23 de Julho de 2009 com o<br />
Distinguished Visitors Day (DVD), estando presente o Comandante<br />
Operacional do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina Monteiro,<br />
e diversas entidades militares e civis convidadas.<br />
Entretanto, em paralelo com o exercício, desenvolveram-se<br />
actividades prioritariamente dirigidas à população local, como<br />
uma exposição que decorreu na Sala de Exposições do Centro<br />
Cultural de Fronteira, entre 15 e 23 de Julho, e um Concerto pela<br />
Orquestra Ligeira do <strong>Exército</strong>, em 16 Julho, na Praça do Coreto<br />
de Fronteira.
Lançamento do Livro “Um Certo<br />
Oriente”<br />
Realizou-se, no dia 5 de Junho, no Salão Nobre do<br />
Palácio da Independência, em Lisboa, o lançamento<br />
do livro Um Certo Oriente, da autoria do Sargento-Ajudante<br />
António José Rodrigues.<br />
O livro transporta-nos à cultura Árabe-Islâmica, às<br />
ligações Árabes com Portugal, aos primeiros passos da<br />
Sociedade Islamita. “Cada Crónica é uma janela vista por um<br />
Ocidental, onde não existe uma visão do Oriente e Ocidente,<br />
existe um Ponto de Vista”.<br />
A obra foi apresentada pelo Jornalista Alexandre Guerra,<br />
contando com a presença do Editor da Prefácio, Dr. Nuno<br />
Carvalho, e com uma especial participação do filho do autor,<br />
André Rodrigues.<br />
Faleceu o Tenente-General Lopes<br />
dos Santos<br />
No dia 1 de Agosto de 2009<br />
faleceu o Tenente-General<br />
António Adriano Faria Lopes dos<br />
Santos.<br />
Nascido na freguesia da Sé, concelho<br />
de Bragança, em 28 de Dezembro<br />
de 1919, o Tenente-General António<br />
Adriano Faria Lopes dos Santos iniciou o seu percurso militar<br />
a 6 de Agosto de 1939. Formado com o curso de Engenharia,<br />
foi colocado no desempenho de funções na Escola Prática de<br />
Engenharia em Abril de 1944, após ter sido promovido ao<br />
posto de Alferes, em 1 de Abril de 1944.<br />
Destacou-se no comando dos pelotões de sapadores de<br />
assalto, facto que lhe valeu um louvor aquando da inauguração<br />
das novas instalações da Escola Prática de Engenharia.<br />
Ao serviço da Pátria foi por 4 vezes destacado para<br />
representar as nossas forças além fronteiras, tendo participado<br />
em missões em Macau, Moçambique, Guiné e Cabo-Verde,<br />
durante as décadas de 1950 e 1960.<br />
Foi promovido ao posto de General em 12 de Setembro de<br />
1974, passando à situação de reserva 4 anos mais tarde.<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
39
40<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Leopard motiva visita do Presidente<br />
da Comissão de Defesa Nacional<br />
A<br />
Brigada Mecanizada (BrigMec) recebeu no dia 6 de<br />
Julho de 2009 a visita do Presidente da Comissão de<br />
Defesa Nacional, Dr. Miranda Calha, para assistir à<br />
apresentação do Carro de Combate (CC) Leopard.<br />
Acompanhado pelo Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />
General Pinto Ramalho, e pelo Comandante Operacional,<br />
Tenente-General Pina Monteiro, a visita iniciou-se com a<br />
prestação das honras militares pela Guarda de Polícia à entrada<br />
do Comando da BrigMec.<br />
Após a apresentação, seguiu-se para o Quartel de Cavalaria<br />
para assistir a um briefing sobre os Carros de Combate, seguido<br />
de uma apresentação do CC Leopard e um passeio, para o qual<br />
estavam disponíveis 2 CC Leopard 2 A6.<br />
A visita terminou com a oferta de livros da Brigada ao<br />
Presidente da Comissão de Defesa Nacional.<br />
Nota da Redacção<br />
Um leitor assíduo e atento do Jornal do <strong>Exército</strong>, a quem<br />
agradecemos desde já, identificou, num artigo publicado recentemente<br />
– JE n.º 585, de Junho de 2009, “A Biblioteca do <strong>Exército</strong>” –, uma<br />
afirmação que escapava ao máximo rigor pretendido por esta publicação.<br />
Em causa estava o facto ali transcrito onde se assegurava que o Pe.<br />
Ernesto Augusto Pereira de Salles, Patrono da Biblioteca do <strong>Exército</strong>,<br />
exercera “funções de docência no Instituto dos Pupilos do <strong>Exército</strong> de<br />
Terra e Mar”. Primeiro: o Pe. Perreira de Salles, conforme o Decreto de<br />
17 de Junho de 1911 (Diário do Governo n.º 172, I Série, 26 de Julho<br />
de 1911), foi nomeado como professor para o Instituto Profissional<br />
dos Pupilos dos <strong>Exército</strong>s de Terra e Mar; no entanto, um Diploma de<br />
19 de Agosto de 1911 (Diário do Governo n.º 211, I Série, 9 de Setembro<br />
de 1911) mostra um pedido de exoneração do Pe. Salles daquelas<br />
funções; ora, se os primeiros alunos daquele Instituto só foram<br />
admitidos em Janeiro de 1912, o Pe. Pereira de Salles não exerceu ali, de<br />
facto, funções de docência. Segundo: deve ser esclarecida também a<br />
designação correcta do referido Instituto, que será Instituto Profissional<br />
dos Pupilos dos <strong>Exército</strong>s de Terra e Mar.<br />
No Editorial, do JE nº 585, onde se lê “Igreja do Bom João” deve<br />
ler-se “Basílica do Bom Jesus de Goa”.<br />
Pelas imprecisões, o JE apresenta um pedido de desculpas.
Batalha de Ourique<br />
O<br />
870.º aniversário da Batalha de Ourique celebrouse<br />
em São Pedro das Cabeças e Castro Verde, no<br />
dia 25 de Julho, numa iniciativa conjunta da Câmara Municipal<br />
de Castro Verde e do <strong>Exército</strong> Português.<br />
A Batalha de Ourique foi travada entre D. Afonso<br />
Henriques e um vasto exército muçulmano comandado por 5<br />
reis mouros, a 25 de Julho de 1139, dia de Santiago, que a<br />
lenda popular tinha tomado como patrono da luta contra os<br />
mouros. Conta a lenda que a batalha terá ocorrido nos então<br />
chamados “Campos de Ourique”, sendo São Pedro das<br />
Cabeças uma referência constante na historiografia<br />
portuguesa, como um dos possíveis locais onde terá<br />
decorrido o mítico confronto entre as tropas portuguesas e<br />
muçulmanas. As vitórias militares que D. Afonso Henriques<br />
obteve na sua incursão para sul, partindo de Coimbra, e que<br />
culminaram na Batalha de Ourique, asseguraram-lhe um vasto<br />
território, suficiente para que o Reino de Portugal fosse<br />
conhecido além-fronteiras e para se intitular de Rei de Portugal.<br />
Esta dimensão histórica e cultural foi relembrada nas<br />
palavras do Major José Martinho, do Regimento de Infantaria<br />
n.º3 de Beja, ao referir que a Batalha de Ourique “é um evento<br />
histórico fundamental à consolidação da monarquia lusitana<br />
e alicerce da independência de Portugal.”<br />
Na opinião do presidente da autarquia, Sr. Francisco<br />
Duarte, a celebração do dia 25 de Julho associa o nascimento<br />
de Portugal “enquanto reino independente e autónomo” e<br />
“pode funcionar como uma plataforma de diálogo, de<br />
aprofundar de conhecimentos, de discussão de ideias entre<br />
a sociedade civil, o poder local e o <strong>Exército</strong>, enquanto ramo<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
terrestre das Forças Armadas, encarregado da defesa militar<br />
do País e na participação e representação de Portugal em<br />
diversas missões de paz no estrangeiro.”<br />
A efeméride foi lembrada com um conjunto de iniciativas<br />
que tiveram início pela manhã, com a deposição de flores em<br />
São Pedro de Cabeças, seguida de uma cerimónia militar em<br />
homenagem aos mortos no confronto. A homenagem<br />
prolongou-se pela manhã com nova cerimónia militar frente<br />
à Igreja dos Remédios, cuja tradição indica que foi ali que D.<br />
Afonso Henriques mandou construir uma pequena capela<br />
depois da vitória das suas forças.<br />
Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas celebrado<br />
em Espanha<br />
O<br />
contingente português no NATO Rapid Deployable<br />
Corps, Espanha (NRDC-SP) comemorou a 10 de<br />
Junho, em Bétera, Valência, o dia de Camões, de Portugal e<br />
das Comunidades.<br />
A cerimónia a que assistiram todos os militares colocados<br />
no NRDC-SP e a que presidiu o seu comandante, General<br />
Sánches-Lafuente Caudevilla, teve início com um breve<br />
discurso alusivo à efeméride, proferido pelo Coronel<br />
Carvalhão Tavares. De seguida, procedeu-se à rotação das<br />
bandeiras dos países representados no NRDC-SP, momento<br />
em que as bandeiras foram arreadas ao som do hino nacional<br />
português para serem içadas novamente, depois de rodadas<br />
para a sua nova posição no conjunto dos mastros.<br />
A cerimónia terminou com uma homenagem aos mortos<br />
ao serviço da NATO, após o que os cerca de 80 convidados<br />
do contingente português se dirigiram ao Maestrazgo, um<br />
pavilhão pertencente à messe militar de Bétera, anexo às<br />
instalações do NRDC-SP.<br />
O Major-General Diamantino Correia, “Deputy Commander”<br />
do NRDC-SP e, simultaneamente, “Senior National<br />
Representative” português, recebeu os convidados com<br />
uma curta intervenção onde sublinhou a ligação entre o 10<br />
de Junho e a diáspora portuguesa, após o que presidiu a um<br />
brinde que uniu o país anfitrião e Portugal.<br />
41
42<br />
UNIFORMES MILITARES<br />
Manuel A. Ribeiro Rodrigues<br />
Os Uniformes da Guerra Peninsular (1806 – 1815) (VI)<br />
Oficiais-Generais e Brigadeiros<br />
Marechal-do-<strong>Exército</strong> (1)<br />
Grande-Uniforme<br />
Grande bordadura em fio de ouro por toda a farda<br />
(2), sendo a parte da frente (lado direito e<br />
esquerdo) conforme as fig. 1 e 2, e os canhões das mangas<br />
como a fig. 3.<br />
Figura 1 Figura 2<br />
Figura 3<br />
Pequeno-Uniforme<br />
Somente a bordadura na gola e canhões das mangas.<br />
General<br />
Curiosamente, este é um posto em que existem poucas<br />
referências iconográficas, uma vez que, geralmente, a maioria<br />
dos textos, quando se referem ao posto de General, estão a<br />
referir-se ao posto de Tenente-General, como é ainda hoje<br />
hábito na Armada chamar-se “Almirante” à maioria dos Vice-<br />
Almirantes e, no <strong>Exército</strong>, os Tenentes-Generais e Majores-<br />
Generais serem tratados simplesmente por “General”.<br />
Contudo é necessário distinguir muito bem estes postos.<br />
Neste posto existiam três qualidades a saber: General de<br />
Infantaria, Cavalaria ou Artilharia.<br />
Grande-Uniforme<br />
Grande bordadura em fio de ouro (2), sendo o lado direito<br />
conforme a fig. 4 e o oposto como a fig. 5. Canhão das mangas<br />
bordado como se vê na fig. 6.<br />
Figura 4 Figura 5<br />
Figura 6
Pequeno-Uniforme<br />
Bordadura em fio de ouro igual à do grande uniforme,<br />
mas somente na gola e nos canhões das mangas.<br />
Dragona<br />
Como sinal distintivo, os Generais de qualquer uma das<br />
três Armas, além da bordadura particular do seu posto, ainda<br />
ostentavam, no ombro esquerdo, um sinal distintivo extremamente<br />
curioso, que era uma dragona entrançada a torçal de<br />
fio de ouro, de onde, da sua extremidade, saía um cordão de<br />
fio de ouro entrançado, tendo nas duas extremidades uma<br />
agulheta de metal dourado a fogo, tudo conforme a figura 7.<br />
Estas dragonas com cordão utilizavam-se no Grande e<br />
Pequeno uniforme.<br />
(1) Este posto tem criado certas confusões, nomeadamente com<br />
o de Marechal-de-Campo. O fundador do Real Colégio Militar tinha<br />
este último posto, o que quer dizer que, hierarquicamente, situava-se<br />
entre o Brigadeiro e o General.<br />
(2) Conforme o esquema da fig. 1, publicado no JE n.º 582, de<br />
Março deste ano, p.56.<br />
Ilustrações<br />
Figuras 8, 9 e 10<br />
Trata-se de três gravuras<br />
do Marechal-do-<strong>Exército</strong><br />
e Comandante-em-Chefe do<br />
<strong>Exército</strong> Português William<br />
Carr Beresford, em todas<br />
envergando o Grande Uniforme.<br />
A última gravura foi<br />
dedicada aos Voluntários<br />
Reais do Comércio, por<br />
Henrique José da Silva, e<br />
esculpida por F. Bartolozzi,<br />
em Lisboa no ano de 1812.<br />
Figura 7<br />
Figura 8<br />
UNIFORMES MILITARES<br />
Figura 9<br />
Figura 11<br />
Figura 10<br />
Primeira página da Ordem do Dia publicada com a<br />
nomeação do Marechal-do-<strong>Exército</strong> Beresford, datada de 15<br />
de Março de 1809. Note-se que as Ordens do Dia começaram<br />
a ser publicadas precisamente com esta nomeação, continuando<br />
a ser publicadas até mudarem para o nome que<br />
actualmente têm: Ordens do <strong>Exército</strong>.JE<br />
Todos os desenhos, gravuras e documentos são da colecção do<br />
autor.<br />
43
O<br />
Jornal do <strong>Exército</strong> organiza um concurso de fotografia tendo<br />
por principal objectivo a obtenção de trabalhos fotográficos<br />
para publicação no JE, principalmente para as suas capas/<br />
contracapas, ao qual poderão concorrer todos os amadores e profissionais<br />
de fotografia (militares ou civis).<br />
1. TEMA DO CONCURSO<br />
Ao concurso podem ser apresentados trabalhos fotográficos em papel, a<br />
preto e branco ou a cores, alusivos ao seguinte tema: «O <strong>Exército</strong>, a sua vivência<br />
e o seu património».<br />
Deverão ser abordados aspectos relacionados com a vida militar, privilegiando-se<br />
os trabalhos que valorizem o ramo <strong>Exército</strong>, embora se admitam<br />
trabalhos que foquem acções conjuntas do <strong>Exército</strong> com os outros ramos das<br />
Forças Armadas.<br />
2. QUANTIDADE DE TRABALHOS E FORMATO<br />
Cada participante pode apresentar até 4 trabalhos que deverão ter o formato<br />
mínimo de 15X20 e o máximo de 24X30. Por razões de enquadramento, serão aceites<br />
ainda formatos com outras proporções, desde que não sejam inferiores à área do<br />
formato mínimo nem superiores à área do formato máximo.<br />
3. IDENTIFICAÇÃO DOS TRABALHOS<br />
a) No verso de cada trabalho deverão constar em letra bem legível:<br />
- Nº e Título do trabalho (de acordo com o boletim de inscrição)<br />
- Pseudónimo do autor<br />
b) Juntamente com os trabalhos, deverá ser entregue um envelope<br />
fechado contendo no exterior apenas o pseudónimo do autor e no interior<br />
o boletim de inscrição devidamente preenchido.<br />
4. ENVIO E DEVOLUÇÃO DOS TRABALHOS<br />
a) Os trabalhos poderão ser entregues em mão ou enviados por<br />
correio para:<br />
JORNAL DO EXÉRCITO<br />
“XIII Concurso de Fotografia”<br />
Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />
1069-020 Lisboa<br />
B O L E T I M D E I N S C R I Ç Ã O<br />
P s e u d ó n i m<br />
N o m e<br />
o<br />
M o r a d a<br />
T e le fo n e c ivil T e le fo n e m ilita r U n id a d e<br />
Posto/Profissão ( riscar o q u e n ã o in te re ssa )<br />
N º .F o t o T ítu lo L oc a l/ D e sc r iç ão sum ária<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
b) Os concorrentes terão 30 dias, após a divulgação dos resultados, para<br />
fazer o levantamento dos trabalhos nas instalações do JE.<br />
5. JÚRI DO CONCURSO<br />
a) Os trabalhos recebidos serão apreciados por um júri, a designar pela<br />
organização.<br />
b) As decisões do júri são inapeláveis.<br />
6. PRÉMIOS<br />
a) Serão atribuídos os seguintes prémios:<br />
1º - • 500 / 2º - • 350 / 3º - • 250<br />
b) Os trabalhos premiados ficam na posse da organização.<br />
c) O júri poderá decidir a não atribuição de quaisquer dos prémios ou a sua<br />
atribuição ex aequo e, ainda, as menções honrosas que entender.<br />
7. DIVERSOS<br />
a) O JE poderá utilizar trabalhos seleccionados mas não premiados para<br />
efeitos de publicação, sendo devida, nestes casos, remuneração por colaboração.<br />
b) Será tomado o maior cuidado com os trabalhos recebidos, mas a<br />
organização não se responsabiliza por danos ou extravios que eventualmente<br />
venham a ocorrer.<br />
c) A participação no concurso implica a aceitação integral deste regulamento.<br />
d) Os casos omissos no regulamento serão analisados e esclarecidos pela<br />
organização de cuja decisão não há recurso.<br />
e) Com os trabalhos premiados e seleccionados poderá vir a ser efectuada<br />
uma exposição em local e data a comunicar, caso a quantidade e qualidade dos<br />
trabalhos o justifique.<br />
8. CALENDÁRIO<br />
- Recepção dos trabalhos até 20 de Novembro de 2009<br />
- Reunião do Júri: 27 de Novembro de 2009<br />
- A comunicação dos resultados aos premiados será feita no primeiro<br />
Jornal do <strong>Exército</strong> após a reunião do júri.
O<br />
<strong>Exército</strong>, sob a coordenação da Comissão<br />
Coordenadora para as Comemorações dos 200 Anos<br />
da Guerra Peninsular, dinamizou e apoiou actividades, em<br />
colaboração, nomeadamente, com a Assembleia da República,<br />
autarquias, universidades, escolas e associações cívicas,<br />
relativamente aos acontecimentos correspondentes à 1.ª<br />
Invasão Francesa, estando em curso um conjunto de acções<br />
relativas à 2.ª Invasão e com a participação de diversas<br />
unidades do <strong>Exército</strong>.<br />
Pretende-se organizar, no fim das Comemorações dos<br />
acontecimentos alusivos a cada Invasão, uma publicação com<br />
o título “O <strong>Exército</strong> Português e as Comemorações dos 200<br />
Anos da Guerra Peninsular”, dando relevo às actividades do<br />
<strong>Exército</strong>, nas Comemorações dos 200 Anos dos principais<br />
acontecimentos da Guerra Peninsular, cuja publicação, em<br />
quatro volumes, deverá, em primeira instância, reportar as<br />
diferentes modalidades de apoio ou participação do <strong>Exército</strong><br />
nas Comemorações, levadas a efeito por iniciativa do ramo ou<br />
de outras entidades.<br />
Livros<br />
“O <strong>Exército</strong> Português e as Comemorações dos 200 Anos da Guerra Peninsular<br />
(I Volume − 2007-2008)”<br />
Pretende-se que o “I Volume<br />
- 2007-2008”, relativo às<br />
“Comemorações da 1.ª Invasão”,<br />
espelhe e registe, para<br />
memória futura, os eventos<br />
realizados nos Concelhos e<br />
Autarquias onde ocorreram<br />
comemorações correspondentes<br />
aos acontecimentos<br />
desta Invasão, acompanhados<br />
das correspondentes<br />
análises históricas temáticas,<br />
contando com a colaboração<br />
de especialistas, civis e<br />
militares.<br />
A publicação mencionada, uma obra com mais de 300<br />
páginas, é ilustrada com fotografias dos eventos e iconografia<br />
alusiva aos acontecimentos, numa co-edição do <strong>Exército</strong><br />
Português com a Tribuna da História.JE<br />
45
46<br />
PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS<br />
in Jornal do <strong>Exército</strong> n.º 10 de Outubro de 1960<br />
Soluções deste número:<br />
1 - Base da guarita; 2 - Granadas no portão; 3 - Mãos da sentinela; 4 - Degraus do edifício; 5 - Baioneta da espingarda do rapaz; 6 - Meias<br />
do rapaz; 7 - Burro e moleiro no caminho; 8 - Chaminé no edifício central.<br />
Pretendo assinar o Jornal do <strong>Exército</strong><br />
Para encomendar basta fotocopiar o cupão e enviar para ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO – Secção de<br />
Logística, Rua dos Remédios, n.º 202 – 1140-065 LISBOA<br />
Nome: ____________________________________________________ Profissão: _________________<br />
Morada: ______________________________________________________________________________<br />
Código Postal: __________________ Localidade: ___________________ Telefone: _______________<br />
(Só para Militares) Posto: _________________ Ramo das FA: _______________ NIF: _____________<br />
Assinatura Anual – Continente e Ilhas: € 20.00 - Via Aérea: Países Europeus € 45.00 - Restantes Países € 65.00<br />
Para pedido de números atrasados, ou encadernações, contacte-nos para: Largo S. Sebastião da Pedreira - 1069-020 Lisboa,<br />
Tel: 213 567 700 ou via email: jornal.exercito@sapo.pt<br />
PARA PAGAMENTO DA MINHA ASSINATURA<br />
TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA: Nacional 0781 0112 0112 0011 6976 9 – D.G.T.<br />
CHEQUE: junto envio o Cheque n.º - ________________ s/Banco - ______________________ à ordem da<br />
Secção de Logística do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>.<br />
VALE POSTAL: junto envio o vale postal n.º ______________ no valor de ___________________________
Cronologia<br />
1291 (8 de Fevereiro) –<br />
D. Afonso IV nasce em<br />
Lisboa.<br />
1320-1324 – Como<br />
príncipe, desencadeia<br />
uma guerra civil contra<br />
o pai, reclamando direitos<br />
de sucessão.<br />
1325 – É aclamado rei<br />
de Portugal.<br />
1326-1329 – Guerra contra<br />
Afonso Sanches.<br />
1336 – Guerra contra<br />
Afonso XI de Castela.<br />
Descoberta do Arquipélago<br />
das Canárias.<br />
1340 – Assinatura da<br />
paz com Castela, em<br />
Sevilha (10 de Julho).<br />
Comanda a hoste portuguesa<br />
na batalha do<br />
Salado, combatendo os<br />
muçulmanos ao lado de<br />
Afonso XI (30 de Outubro).<br />
1353 – Tratado de comércio<br />
com Inglaterra<br />
(válido por 50 anos).<br />
1355 – Provável envolvimento<br />
no assassinato<br />
de Inês de Castro; o<br />
príncipe herdeiro D.<br />
Pedro desencadeia guerra<br />
contra D. Afonso IV.<br />
D. Pedro é nomeado cogovernador<br />
do reino.<br />
1357 (28 ou 29 de Maio)<br />
– Morre em Lisboa.<br />
Afonso IV<br />
e a Batalha do Salado<br />
Última grande batalha da Reconquista Peninsular,<br />
a Batalha do Salado é um dos mais<br />
importantes episódios de guerra da História,<br />
atendendo à presença de quatro soberanos, ao<br />
desenvolvimento táctico operado e às suas<br />
consequências. Uma batalha onde a presença<br />
militar portuguesa e o comando do rei D. Afonso<br />
IV foram decisivos.<br />
O Comandante<br />
Sétimo rei de Portugal, D. Afonso IV é, ainda hoje,<br />
um monarca com contornos biográficos pouco<br />
definidos, algo “obscurecido” pelo reinado<br />
exaltante de D. Dinis, a montante, e pela tragicomédia<br />
do de D. Pedro I, a jusante. No entanto, reinou<br />
durante 32 anos, um dos mais longos e<br />
conseguidos reinados da História de Portugal.<br />
Começou e terminou o seu magistério em ambiente<br />
de guerra civil “no seio familiar”: ainda príncipe,<br />
contra o pai para sustentar os direitos de sucessão,<br />
pois D. Dinis pretendia entregar a coroa ao filho<br />
bastardo Afonso Sanches; após ser aclamado rei,<br />
quando Afonso Sanches, exilado em Castela,<br />
invade Portugal por Bragança devido ao confisco<br />
dos seus bens; no final, contra o herdeiro da coroa,<br />
decorrente do assassinato de Inês de Castro (1355),<br />
a que terá anuído por razões de Estado, que impeliu<br />
D. Pedro a uma guerra que assolou o País.<br />
Internamente, dedicou-se à centralização do poder<br />
régio e ao desenvolvimento social, legislando<br />
profusamente em termos administrativos e de<br />
justiça, enquanto preceitos de boa governação,<br />
procurando esbater o espartilho municipal do reino<br />
e a ingerência da nobreza senhorial.<br />
Em termos peninsulares, as relações com Castela<br />
estiveram no centro das preocupações de D. Afonso<br />
IV, onde a manutenção de liberdade de acção era o<br />
normativo estratégico, como o provam as políticas<br />
de casamento: casado com D. Beatriz, irmã do rei<br />
Afonso XI, acordou o casamento deste com sua<br />
filha, D. Maria; e foi também em Castela que acertou<br />
casamento para o herdeiro D. Pedro, com D.<br />
Constança, filha de João Manuel, rival político de<br />
Afonso XI. Estes dois últimos casamentos<br />
estiveram na origem da guerra entre os dois Reinos<br />
(1337-1340). No primeiro caso, D. Afonso IV acusou<br />
o genro de repudiar e maltratar a filha; no segundo,<br />
de reter D. Constança em Castela, pois o rei castelhano<br />
opunha-se ao casamento desta em Portugal.<br />
Mas o perigo do inimigo comum muçulmano, que<br />
cercou Tarifa, ameaçando o comércio mediterrânico<br />
D. Afonso IV.<br />
Fonte: http://fotos.sapo.pt<br />
a partir do Estreito de Gibraltar e colocando em<br />
causa o status quo cristão na Península, favoreceu a<br />
paz (Julho de 1340) e viabilizou a guerra combinada<br />
contra Granada e os berberes Benimerines.<br />
Claramente, para D. Afonso IV a defesa das<br />
fronteiras portuguesas ligava-se ao conceito mais<br />
amplo que envolvia o quadro estratégico peninsular.<br />
Daí ter acedido ao pedido de auxílio de Afonso<br />
XI, não sendo de negligenciar o prestígio de<br />
participar numa cruzada com o patrocínio espiritual<br />
de Bento XII, e terá mesmo ganho o cognome de<br />
“O Bravo” na Batalha do Salado, onde a sua<br />
actuação é considerada militarmente decisiva.<br />
Garantida a segurança peninsular e as boas relações<br />
com Castela, D. Afonso IV impulsiona o<br />
desenvolvimento da Marinha, conjugando a<br />
importância da linha de costa com a capacidade<br />
naval. A este facto não são alheios os conflitos<br />
navais recorrentes com os berberes, a reclamação<br />
de soberania das Canárias, descobertas em 1336,<br />
conforme carta enviada ao Papa, em 1345,<br />
lembrando que “os nossos naturais foram os<br />
primeiros que acharam as mencionadas ilhas” e<br />
o importante tratado comercial celebrado com a<br />
Inglaterra, em 1353. Portanto, qual paradoxo, D.<br />
Afonso IV lavrou um próspero reinado de cariz<br />
medieval conjugando uma postura política que<br />
assenta na razão de Estado a visão estratégica que<br />
o coloca nos alvores da modernidade em Portugal.<br />
37
38<br />
Enquadramento<br />
Político-Estratégico da Época<br />
Depois de séculos de dilatação e retracção das<br />
fronteiras peninsulares, no início do séc. XIV, o<br />
mosaico ibérico conta com três reinos cristãos e o<br />
reino muçulmano de Granada.<br />
Em Leão e Castela, vive-se um período de<br />
instabilidade desde que Afonso XI subiu ao<br />
trono, em 1325 (precisamente no mesmo ano que<br />
D. Afonso IV). Instabilidade que encontra raízes<br />
na guerra civil que opõe membros da alta<br />
nobreza, que aproveita os governos de regência<br />
para dominar, e a coroa, que se procura afirmar. A<br />
agravar a situação, Afonso XI tem ameaças<br />
muçulmanas a Sul que impedem a segurança das<br />
fronteiras e obriga o monarca a uma acção<br />
“itinerante” pelo território.<br />
Em Portugal, D. Afonso IV reafirma o papel<br />
centralizador da coroa, sendo o início do seu<br />
reinado marcado pelo conflito interno contra o<br />
seu irmão bastardo, Afonso Sanches. A nível<br />
externo, a cooperação existente entre Portugal e<br />
Castela sustentada no “Acordo de Confirmação”<br />
(1328), pelo qual Afonso XI casa com D. Maria,<br />
filha de D. Afonso IV, cessa quando o rei<br />
português acusa o rei de Castela de<br />
comportamento indigno perante a rainha sua<br />
filha. O resultado é a guerra entre os dois Estados<br />
(1336-1340), marcada por operações terrestres e<br />
navais de reduzida envergadura, confinadas às<br />
fronteiras do Minho, do Alentejo-Estremadura<br />
hispânica e do Algarve.<br />
A coroa de Pedro IV de Aragão atravessa um dos<br />
períodos mais profícuos, mantendo boas relações<br />
com a França e de relativa acomodação com<br />
Castela, que lhe permite uma influência e dinamismo<br />
comercial no Mediterrâneo consideráveis.<br />
Granada é o último bastião muçulmano na<br />
Península. É um enclave ameaçado externamente<br />
pelos cristãos, por um lado, e por Abu-l-<br />
Hasan’Ali, que desde 1331, é sultão do povo<br />
berbere benimerine, ou merínida (substituta da<br />
dinastia dos almóadas no Norte de África).<br />
Na segunda metade da década de 1330, enquanto<br />
os reinos cristãos se digladiam numa guerra de<br />
desgaste sem resultados práticos, Yssuf-Abu-<br />
Hajiab, rei de Granada, firma uma aliança com o<br />
sultão de Marrocos, Abu-l-Hasan’Ali. Se, para<br />
Granada, a motivação é a expansão dos seus<br />
territórios, aproveitando a oportunidade que a<br />
debilidade política (dificuldade de firmar alianças)<br />
e militar (desgaste nos exércitos) oferece, para o<br />
sultão benimerine o status quo que se vive na<br />
Reino de Granada.<br />
Fonte: http://1.bp.blogspot.com<br />
Península, permite-lhe a possibilidade de<br />
concretização do sonho de reedição do al-<br />
Andaluz, edificado por Tarik sete séculos antes.<br />
Acresce que o controlo do Estreito e a importância<br />
que os portos de Málaga, Algeciras<br />
(domínios de Granada), Gibraltar e Tarifa (praças<br />
de Castela) têm no controlo do comércio<br />
marítimo entre o Mediterrâneo e o Atlântico<br />
justificam por si só uma intervenção militar<br />
marroquina na Hispânia.<br />
Assim, em 1338, começam a sentir-se grandes<br />
movimentações navais (equipamento, forças<br />
militares, abastecimentos e, inclusivamente,<br />
famílias) no Estreito de Gibraltar sob o comando<br />
de Abu Malik, filho do sultão de Marrocos. No<br />
ano seguinte, o rei de Granada, com o apoio de<br />
Abu Malik, conquista Gibraltar e outros<br />
territórios no sul da Andaluzia, obrigando<br />
Afonso XI, perante a exaustão das suas forças,<br />
a firmar tréguas com os muçulmanos. Com esta<br />
pausa operacional, o rei de Castela procura<br />
regenerar as suas forças e garantir o tempo<br />
necessário para arregimentar aliados para a<br />
contra ofensiva. Perante as notícias de uma<br />
aliança entre granadinos e benimerines, aproximase<br />
politicamente de Pedro IV de Aragão e de D.<br />
Afonso IV de Portugal e solicita ao Papa Bento<br />
XII as indulgências para a guerra.
Então, quando em princípios de<br />
1340, o sultão de Marrocos<br />
intensifica a transferência de<br />
tropas para Granada, Afonso XI<br />
assina, em Sevilha, um tratado de<br />
paz com Portugal e Aragão de<br />
modo a permitir a estabilidade das<br />
fronteiras a oeste e, assim, orientar<br />
o seu esforço militar para a frente<br />
sul, estabelecendo uma liga<br />
ofensiva e defensiva entre os<br />
reinos cristãos contra a aliança<br />
benimerine. Reúne, então, uma<br />
frota com o apoio de Aragão que<br />
destrói a esquadra muçulmana no<br />
Estreito. A par deste sucesso, em<br />
terra as hostes castelhanas dão<br />
combate a uma hoste marroquina,<br />
na região de Librija (celeiro da<br />
Andaluzia) matando, nesta peleja,<br />
Abu Malik. Este facto é o<br />
catalisador específico que<br />
precipita o desembarque de Abu-l-<br />
Hasan’Ali na Península Ibérica.<br />
Abu-l-Hasan envia forças militares<br />
para a Andaluzia e põe cerco a<br />
Tarifa, cuja defesa se encontra,<br />
apenas, nas mãos de uma reduzida<br />
guarnição. Em resposta, Afonso<br />
XI envia a armada conjunta de<br />
Castela e Aragão para controlar o<br />
espaço naval do Estreito de<br />
Gibraltar, porém, frente a uma<br />
armada mais numerosa e com<br />
superioridade táctica, a armada<br />
cristã sofre uma retumbante derrota, em 16 de<br />
Abril de 1340. Com as linhas de comunicação<br />
marítimas desimpedidas, Abu-l-Hasan’Ali<br />
atravessa o estreito e desembarca o seu exército<br />
em Algeciras, onde as forças do rei de Granada se<br />
lhe reúnem.<br />
Com Tarifa sob assédio e o controlo do estreito<br />
ameaçado, Afonso XI solicita o auxílio do sogro,<br />
através da rainha D. Maria. D. Afonso IV, que<br />
até então negara o auxílio ao genro, perante a<br />
reunião de um poderoso exército muçulmano<br />
nas costas da Andaluzia e a provável<br />
incapacidade da aliança castelhano-aragonesa<br />
para lhe fazer frente, reconhece o risco que um<br />
fracasso cristão pode representar para as<br />
fronteiras portuguesas, pelo que, diante dos<br />
rogos da sua filha, acede em se aliar a Afonso<br />
XI. Mas, impõe como condições que o rei<br />
castelhano expulse da corte a amante Leonor de<br />
Guzman, conceda à rainha D. Maria, sua filha, a<br />
Fonte: http://images.google.pt<br />
Afonso XI de Leão e Castela.<br />
dignidade exigível e permita que D. Constança<br />
viaje para Portugal para materializar os esponsais<br />
previstos com o príncipe D. Pedro de Portugal.<br />
Aceites as condições, Portugal e Castela assinam<br />
a paz em 10 de Julho de 1340.<br />
Portanto, a Batalha do Salado decorre das<br />
recorrentes pressões militares fronteiriças contra<br />
Castela efectuadas pelo rei de Granada, Yusûf I,<br />
em 1339, das dificuldades de navegação cristã<br />
no Estreito e na transferência de um<br />
considerável volume de tropas do sultão de<br />
Marrocos, Abu-l-Hassan’Ali, para Granada, em<br />
inícios de 1340. Esta conjuntura fez soar as<br />
“campainhas de alarme” na cristandade pois<br />
estava em curso uma guerra santa muçulmana<br />
com objectivo de reconquistar o espaço<br />
peninsular cristão. Como resposta, o Papa Bento<br />
XII lança a Bula Exultamus in Te, recuperando o<br />
espírito de cruzada na Península Ibérica e<br />
exortando os reinos cristãos à cooperação.<br />
39
40<br />
A Arte da Guerra<br />
e a Caracterização<br />
do Aparelho Militar Português<br />
Quando, em 1325, D. Dinis morre, a Dinastia<br />
Afonsina está consolidada e a estrutura de<br />
defesa nacional coerente com os superiores<br />
desígnios do Estado. Enquanto a conquista<br />
definitiva do Algarve, ainda no reinado de D.<br />
Afonso III, culmina a reconquista em território<br />
português e fixa as suas fronteiras a Sul, o<br />
Tratado de Alcanises (1297), ajusta questões<br />
territoriais pendentes a Leste, definindo a limes<br />
do reino. Entretanto, cerceando o livre arbítrio do<br />
poder nobiliárquico, as leis promulgadas, em<br />
1290, proíbem as construções de cariz militar<br />
(torres e paços acastelados) nas terras ou solares<br />
de fidalgos, iniciando-se a construção e o<br />
restauro de castelos, onde a introdução de uma<br />
torre de menagem lhes confere um carácter<br />
defensivo mais dinâmico.<br />
Paralelamente, D. Dinis adapta à realidade<br />
portuguesa o Libro de las Siete Partidas de seu<br />
avô, Afonso X de Castela, sendo a Segunda<br />
Partida, referente à organização e doutrina<br />
táctica, a que tem maior influência na<br />
reestruturação da componente militar portuguesa<br />
do século XIV, designada Regimento de Guerra.<br />
Surgem, então, reestruturações na hoste de<br />
grande amplitude, constituindo a organização<br />
dos besteiros de conto o facto inovador. Reflexo<br />
de um corpo militar permanente e profissional em<br />
Portugal, os besteiros de conto assentam o<br />
recrutamento no alistamento regular da antiga<br />
peonagem, preferencialmente mesteirais (homens<br />
de ofícios), estando sujeitos a um treino regular<br />
contínuo. Chamam-se besteiros por combater<br />
com a besta e de conto (ou número), por ser<br />
obrigatório cada concelho fornecer para a hoste<br />
um efectivo previamente fixado.<br />
Assim, a partir de D. Dinis, a hoste real é<br />
constituída por três tipos de cavalaria: a dos<br />
nobres (pesada e paga); a dos cavaleiros vilões<br />
(ligeira e gratuita); a das Ordens Militares (Avis,<br />
Hospital, Santiago, Cristo), com orgânica<br />
específica e carácter profissional. Relativamente à<br />
tropa apeada, existem os besteiros de conto e a<br />
peonagem dos concelhos (arqueiros, lanceiros e<br />
fundibulários). A hoste podia ainda ser<br />
aumentada, em caso de necessidade, pelo sistema<br />
de contratação estipendiária, mercenários e<br />
homiziados. A contratação estipendiária, realizada<br />
internamente à medida das necessidades,<br />
estipulava o número de homens a admitir, o<br />
Fonte: Damião Peres, História de Portugal.<br />
O Armamento no século XIV<br />
Para além das alterações verificadas pelo<br />
Regimento de Guerra, verifica-se por toda a<br />
Europa um aperfeiçoamento na tecnologia<br />
militar. A besta generalizou-se, colocando nas<br />
mãos de peões uma arma que permite atingir<br />
o adversário à distância, em que formações<br />
regulares (aumentando a coesão e o espírito<br />
ofensivo) podem fazer frente, de forma<br />
eficaz, à cavalaria.<br />
O desenvolvimento na arte de trabalhar o<br />
ferro é outra das inovações que garantem<br />
uma alteração significativa neste período da<br />
História. O uso da armadura completa<br />
(arneses) generaliza-se e os elmos passam a<br />
ter debaixo do queixo uma cinta metálica<br />
(barbote ou baveira), a que se articula a<br />
viseira móvel (que se pode erguer acima<br />
deste). Por sua vez, o escudo torna-se mais<br />
pequeno e leve. Os cavalos de guerra são<br />
equipados com caparazões de ferro, o que<br />
aumenta, substancialmente, o peso a<br />
suportar, diminuindo, por isso, a sua<br />
mobilidade no campo de batalha.<br />
armamento a utilizar e o tempo de serviço,<br />
mediante soldo acordado. Quanto aos<br />
homiziados, tratavam-se de indivíduos a contas<br />
com a justiça, que podiam beneficiar da<br />
remissão das penas em situações de guerra,<br />
sendo normalmente orientados para o<br />
Equipamento do séc XIV.
desempenho de acções arriscadas, revelandose<br />
combatentes temíveis, nomeadamente em<br />
África. O recurso a mercenários, prática<br />
generalizada na Europa a partir de finais do<br />
século XIII, consistia no recrutamento de<br />
elementos especializados além fronteiras.<br />
Para além da reestruturação operada ao nível da<br />
hoste real, D. Dinis nacionaliza as Ordens Militares<br />
cujas perceptorias respondem ante mestres<br />
instalados fora de Portugal. Os freires de Palmela<br />
(Santiago), são os primeiros, obtendo D.<br />
Dinis uma bula papal que autoriza os<br />
espatários por- tugueses a<br />
elegerem mes- tre próprio. A<br />
Ordem de Avis (fundada por D.<br />
Afonso Henriques<br />
como Ordem<br />
de Évora,<br />
mas sujeita ao<br />
mestrado castelhano<br />
de Calatrava)<br />
não é<br />
tão célere.<br />
Entretanto,<br />
num<br />
golpe<br />
Fonte: Michele Byam, Armas e armaduras, Editorial Verbo, 1997.<br />
Besteiro do séc XIV.<br />
diplomático de génio, obtém autorização papal<br />
para criar, partir das cinzas da Ordem do Templo<br />
(extinta por Clemente V, em 1312), a Ordem de<br />
Cristo, que marcaria a navegação portuguesa<br />
nos anos vindouros, dando corpo a uma<br />
estratégia naval.<br />
É ainda D. Dinis que regulamenta as seguintes<br />
funções/cargos militares: adaíl, chefe de troço da<br />
cavalaria vilã e dos batedores de terreno, a quem<br />
compete estudar o terreno e o inimigo e<br />
desenvolver acções de peonagem; coudel, que<br />
tem a tarefa de zelar pela boa organização da<br />
cavalaria vilã e da peonagem no seu distrito;<br />
coudel-mor, que fiscaliza esse serviço em todo o<br />
reino; anadel, o responsável pela organização e<br />
treino dos besteiros em cada concelho; anadelmor,<br />
que superintende ao alistamento e<br />
organização dos besteiros de conto em todo o<br />
reino (o anadel-mor e o coudel-mor são<br />
nomeados pelo Rei enquanto os anadeis e os<br />
coudéis pelos concelhos); mantiveram-se os<br />
altos cargos de alferes-mor, fronteiro-mor e<br />
alcaide.<br />
O sistema de convocação dos acontiados<br />
dos concelhos, que abrange as localidades<br />
não sujeitas aos direitos senhoriais, está<br />
regulamentado, cabendo ao coudel-mor e<br />
aos coudéis zelar pela mecânica do<br />
processo. Assim, o coudel avalia os<br />
bens de fortuna de cada residente para<br />
participar nas campanhas com o<br />
armamento e o equipamento prescritos. Esta<br />
informação, permanentemente actualizada,<br />
é passada ao coudel-mor, o responsável<br />
régio pela gestão dos recursos<br />
concelhios. Sempre que necessário, o<br />
coudel concentra os acontiados procedendo ao<br />
alardo (revista).<br />
Em termos de ordem de batalha, a hoste é<br />
organizada em três partes: dianteira, costaneiras<br />
e saga. A unidade táctica é a lança, que<br />
compreende um cavaleiro, um escudeiro, um ou<br />
dois besteiros e um pagem. 150 lanças formam<br />
uma companhia com pendão,<br />
comandada pelo capitão. Em<br />
marcha, a hoste deveria fazê-lo<br />
numa só coluna, não devendo a<br />
dianteira afastar-se mais que um tiro<br />
de besta. A escolha do terreno é tarefa<br />
dos guias que, sob o comando do adaíl,<br />
orienta a hoste. Porém, a orientação geral<br />
efectuada por estes guias é completada pelos<br />
almogávares, que têm o dever de “descobrir a<br />
terra dos inimigos por segurança da hoste”<br />
(Ordenações Afonsinas).<br />
41
44<br />
Descrição da Batalha<br />
Quando o sultão benimerine desembarca em<br />
Algeciras, a 14 de Agosto de 1340 e junta esforços<br />
avultados à intenção do rei granadino de cercar<br />
Tarifa em meados de Setembro, Afonso XI de<br />
Castela solicita apoio, contando com o concurso<br />
de Aragão e de Portugal. Uma frota naval<br />
aragonesa e uma armada de 10 galés portuguesas<br />
seguem, assim, para o Estreito de Gibraltar.<br />
Ao mesmo tempo, D. Afonso IV levanta um<br />
exército, auxiliado pelas sinergias, entre outros,<br />
do prior do Hospital, D. Álvaro Gonçalves<br />
Pereira, do Mestre de Santiago, D. Garcia Peres e<br />
do Mestre de Avis, D. Frei Gonçalo Vaz.<br />
Enquanto os homens convocados na<br />
Estremadura, no Alentejo e no Algarve se<br />
concentram em Elvas, os recrutados em Trás-os-<br />
Montes e Entre Douro-e-Minho seguem<br />
directamente para Sevilha, ponto de reunião dos<br />
efectivos portugueses e castelhanos. Para aí se<br />
dirige também D. Afonso IV, a partir de Évora, ao<br />
encontro do rei de Castela.<br />
Em Sevilha, os monarcas cristãos reúnem com os<br />
seus conselheiros e decidem combater os<br />
muçulmanos, enviando para o efeito “carta de<br />
desafio”. Deste modo, a 16 de Outubro, saem de<br />
Sevilha e marcham para Tarifa, demorando no<br />
percurso 15 dias, durante os quais recebem a<br />
aceitação em dar batalha pelos exércitos inimigos.<br />
Na manhã de 29 Outubro, as hostes cristãs<br />
chegam a Peña del Ciervo, uma pequena serra,<br />
com 400 metros de elevação, a cerca de 4 Km de<br />
Tarifa, onde bivacam, em segurança e a coberto<br />
das vistas inimigas. Neste local, de onde<br />
observam o colossal exército muçulmano, ocorre<br />
um novo conselho de guerra, onde a força<br />
combinada de 18000 cavaleiros e cerca de 40000<br />
peões (os números são muito varáveis consoante<br />
as fontes), maioritariamente castelhanas, onde se<br />
incluem 1000 lanças portuguesas e contingentes<br />
aragoneses e genoveses, é organizada para a<br />
batalha.<br />
Do lado muçulmano, alertados pela marcha do<br />
exército cristão, estes decidem-se pela batalha,<br />
antevendo que a derrota do inimigo não só lhes<br />
garantiria a posse de Tarifa como a necessária<br />
liberdade de acção para uma posterior ofensiva<br />
em larga escala na Península. Apoiam a sua fé na<br />
vitória no poder do número, três vezes superiores<br />
e na escolha do campo de batalha, um terreno<br />
dominante a nordeste de Tarifa, que tinha no rio<br />
Salado uma excelente OAZR, caso a iniciativa de<br />
ataque pertencesse aos cristãos, como<br />
aconteceu. Abu-l-Hasan e Yusûf I<br />
posicionam as suas forças ocupando uma frente<br />
de cerca de cinco quilómetros por dois de<br />
profundidade. No flanco esquerdo, perto do mar,<br />
os benimerines e no flanco direito, na serra, os<br />
granadinos. Enquanto aqueles devem fixar a<br />
frente inimiga e sustentar a posição, estes<br />
atacariam de flanco para envolver os cristãos, se<br />
tentassem forçar passagem pelo rio. No entanto,<br />
separados por um cotovelo do rio Salado, os dois<br />
exércitos carecem de apoio mútuo, além de não<br />
manifestarem preocupações de trabalho<br />
defensivo, o que se estranha num “grupo de<br />
exércitos” que concede a iniciativa da batalha ao<br />
adversário. Como se verificará, o dispositivo<br />
instalado obrigará os exércitos de Granada e<br />
benimerino a combater separados, como se cada<br />
um travasse a sua própria batalha, situação<br />
aproveitada tacticamente pela coordenação de<br />
esforços cristãos.<br />
Ainda na noite de 29 de Outubro, os cristãos<br />
desenvolvem um ardil destinado fragilizar a<br />
capacidade militar moura, enviando um troço<br />
“oculto” de 1 000 cavaleiros e 4 000 infantes pela<br />
linha de costa, que se infiltra em Tarifa. A praça é,<br />
assim, reforçada e sem disso ter conhecimento, o<br />
sultão berbere tem um considerável efectivo<br />
adversário nas suas costas.<br />
Na aurora de 30 de Outubro inicia-se, então, a<br />
Batalha do Salado, com uma ofensiva cristã<br />
coordenada. Afonso XI efectua um ataque<br />
frontal ao dispositivo de Abu-l-Hasan,<br />
secundando a vanguarda comandada pelo<br />
infante de Castela Juan Manuel e apoiado no<br />
flanco direito pelas embarcações fundeadas no<br />
Mediterrâneo, que desembarcam tropas na área.<br />
Complementando a ofensiva, D. Afonso IV,<br />
ataca a cavalaria de Granada, reforçado com a<br />
hoste do príncipe D. Pedro (herdeiro do trono de<br />
Castela) e as cavalarias de Calatrava e do mestre<br />
de Alcântara.<br />
Numa primeira fase, enquanto a vanguarda de<br />
Juan Manuel é travada pela centro dos<br />
benimerines, envolvendo-se em sangrentos<br />
combates corpo-a-corpo nas margens do<br />
Salado, Afonso XI procura forçar passagem<br />
mediante uma reiteração de esforços e D. Afonso<br />
IV, pese a resistência encontrada, consegue<br />
atravessar o rio e fixa as forças da parte central<br />
do dispositivo de Granada. Possibilita assim que<br />
Afonso XI, procurando resolver o impasse na<br />
sua zona de acção, manobre à retaguarda da<br />
vanguarda, que continua empenhada e sem<br />
capacidade de progressão, e ataque o flanco<br />
esquerdo de Abu-l-Hasan. É nesta fase que<br />
Afonso de Benavides, aproveitando a manobra
Esquema da Batalha do Salado.<br />
do rei de Castela, acomete a retaguarda do<br />
sultão com os homens que infiltrara em Tarifa<br />
apanhando-o de surpresa, obrigando-o a<br />
desviar forças e a combater em duas frentes.<br />
Nessa altura, D. Afonso IV contorna a serra e<br />
efectua um envolvimento montado ao<br />
dispositivo de Granada, beneficiando do<br />
ataque apeado que os asturianos, comandados<br />
por Pedro Nuñez de Guzmán, realizam ao<br />
centro. Esta acção instala o pânico no<br />
adversário, obrigando o rei Yusûf I a retirar.<br />
Consumada a derrota granadina, a situação<br />
entre os benimerines rapidamente se degrada.<br />
Fonte: adaptado de Esteves Pereira, Revista Militar, Nov-Dez 1970.<br />
As forças do sultão estão cercadas e o seu<br />
próprio arraial é atacado, culminando a<br />
resistência numa fuga desordenada.<br />
Os cristãos efectuam, de seguida, a<br />
perseguição, que termina na ribeira de<br />
Guadalmesí, regressando, então, ao campo de<br />
batalha, onde recolhem avultados despojos,<br />
enquanto os sobreviventes se refugiam em<br />
Algeciras. A avaliar pelas próprias fontes<br />
árabes, as baixas terão sido avultadas,<br />
considerando a Batalha do Salado “infausta e<br />
cruel para os fiéis que sofreram em grande<br />
número o martírio da espada”.<br />
45
Análise da Batalha<br />
O Salado é uma batalha que demonstra que a maior<br />
quantidade de meios e a boa escolha do terreno<br />
nem sempre são suficientes para a vitória. Da<br />
análise da batalha sobressai a importância da<br />
argúcia e da capacidade de liderança dos<br />
comandantes que, conjugadas eficazmente com a<br />
fundamental ponderação dos restantes factores de<br />
decisão – Missão, Inimigo, Terreno e Meios<br />
(humanos, materiais e de tempo) –, permitem<br />
Carga durante a batalha.<br />
Fonte: http://www.tarifaweb.com<br />
produzir resultados decisivos e alcançar uma vitória<br />
tão significativa.<br />
A vitória da coligação cristã encontra explicações<br />
diversas em factores de ordem táctica que<br />
resultaram da correcta visão e interpretação das<br />
variáveis de combate presentes. Se é certo que a<br />
aliança muçulmana possuía um contingente<br />
superior e colocou as suas tropas num terreno<br />
aparentemente mais vantajoso, apoiado por<br />
obstáculos naturais, a falta de apoio mútuo entre os<br />
dois exércitos, ampliada pela não organização<br />
defensiva do terreno e pela crença desmesurada na<br />
vitória, criaram as condições suficientes para que os<br />
cristãos explorassem da melhor forma as brechas do<br />
dispositivo inimigo. Efectivamente, a escolha da<br />
manobra cristã permitiu a capacidade para criar,<br />
aumentar e explorar as vulnerabilidades<br />
muçulmanas, ao encontrar os intervalos (fraquezas<br />
no sistema defensivo adversário) e,<br />
46<br />
consequentemente, penetrar, envolver e destruir o<br />
dispositivo inimigo.<br />
Inicialmente, a forma de ataque escolhido pelos<br />
cristãos (frontal), tirando partido da falta de apoio<br />
mútuo dos muçulmanos, que o terreno<br />
proporcionava, permitiu fixar a parte central de um<br />
dispositivo adversário com fraco poder de<br />
protecção. Estavam, então, criadas as<br />
circunstâncias para o envolvimento múltiplo do<br />
adversário, materializado num tridente devastador:<br />
Afonso XI ataca o flanco esquerdo de Abu-l-<br />
Hasan, D. Afonso IV efectua um envolvimento<br />
profundo pela direita, acometendo o dispositivo<br />
granadino e, simultaneamente, Afonso de<br />
Benavides desorganiza e provoca o caos na<br />
retaguarda do sultão com a sua infiltração vinda de<br />
Tarifa. Obrigados a combater em diversas frentes,<br />
sem capacidade para alterar o decurso da batalha,<br />
mais não resta aos muçulmanos que a fuga<br />
Torre de la Peña.<br />
Fonte: http://farm1.static.flickr.com<br />
desordenada. Apesar de uma já reduzida<br />
capacidade de apoio logístico, a perseguição<br />
sangrenta e a exploração do sucesso táctico<br />
levadas a cabo pelos cristãos, resultaram na derrota<br />
humilhante e destruição dos exércitos muçulmanos,<br />
com importantes consequências nos seus planos<br />
de reocupação da Península.<br />
Enfim, esta vitória permite aquilatar da presença e<br />
importância dos princípios das operações,<br />
fundamentais para o sucesso militar; realçam-se os<br />
do objectivo, da flexibilidade, da iniciativa, da<br />
surpresa e, principalmente, os da cooperação e da<br />
unidade de esforços. De facto, além do excelente<br />
resultado provocado pelo ardil criado em Tarifa e da<br />
iniciativa do envolvimento da hoste de D. Afonso<br />
IV, o sincronismo ocorrido nas diversas acções<br />
permitiu às forças cristãs coligadas a reunião das<br />
sinergias necessárias para arremeter um adversário<br />
numericamente superior.
Reinos da Península Ibérica à época do Salado.<br />
Consequências da Batalha<br />
A vitória no Salado anulou, em definitivo, a ameaça<br />
muçulmana na Península Ibérica e favoreceu a<br />
estreita colaboração entre Portugal e Castela,<br />
interrompida pelo conflito de 1337-1340. Se, o Reino<br />
de Granada ficou confinado a um espaço territorial<br />
falho de entreajuda externa, os benimerines<br />
perderam a iniciativa da guerra, embora Abu-l-<br />
Hassan’Ali ainda ataque, sem sucesso, as fronteiras<br />
castelhanas, na Primavera de 1341. Devido ao<br />
desastre do Salado, a cooperação estratégica entre<br />
granadinos e marroquinos ressentiu-se<br />
enormemente, a força anímica esvaiu-se e a<br />
capacidade de financiamento para sustentar a<br />
guerra em larga escala ficou comprometida. Aliás, o<br />
saque efectuado pelos cristãos ao arraial<br />
muçulmano em Tarifa foi de tal maneira proveitoso<br />
em metais preciosos que a cotação do ouro e da<br />
prata se ressentiu em algumas praças europeias.<br />
Entretanto, os dois reinos cristãos mantiveram a<br />
ofensiva, derrotando as forças do Crescente numa<br />
importante batalha naval, perto de Ceuta, em 1341,<br />
sendo as 10 galés portuguesas presentes<br />
comandadas pelo Almirante Manuel Pessanha.<br />
Seguiu-se o cerco da praça muçulmana de<br />
Algeciras, no ano seguinte, sitiada por forças<br />
terrestres de Castela e um destacamento de lanças e<br />
besteiros portugueses comandado pelo prior do<br />
Hospital D. Álvaro Pereira, apoiado por meios<br />
navais portugueses, castelhanos, aragoneses e<br />
genoveses. Com os abastecimentos à praça<br />
Fonte: http:// redul.wikispaces.com<br />
cortados, Algeciras, incapaz de resistir, rendeu-se a<br />
Afonso XI em 1344. Definitivamente, as linhas de<br />
comunicação navais de Granada ficaram<br />
estranguladas, embora sustente Gibraltar, onde,<br />
aliás, o rei de Castela perderia a vida em 1350,<br />
durante um cerco.<br />
Enquanto Afonso XI de Castela morria na<br />
reconquista da Andaluzia e passava à História como<br />
o monarca que derrotou a última grande ofensiva<br />
muçulmana na Península, D. Afonso IV<br />
apresentava-se à cristandade como um soberano<br />
capaz de trocar antagonismos seculares dinásticos<br />
pelo combate ao inimigo de fé, sendo enaltecido<br />
como um dos paladinos do Salado. Doravante,<br />
Portugal e Castela norteariam as suas relações pela<br />
acomodação, num respeito mútuo de vizinhança.<br />
Um status relacional que só quebrará nos reinados<br />
de D. Fernando de Portugal e Henrique II de<br />
Castela, no decénio de 1370, numa altura em que as<br />
ondas de choque da Guerra dos Cem Anos afectam<br />
o xadrez político peninsular.<br />
A par da conjuntural relação com Castela, D.<br />
Afonso IV mantém a ligação “estrutural” a Aragão e<br />
aproxima-se comercialmente da Inglaterra, num<br />
prenúncio da secular aliança que D. Fernando e D.<br />
João I firmarão em tratados posteriores. A razão de<br />
Estado impõe-se, à semelhança dos assuntos da<br />
governação que passam, então, a estar no centro<br />
das atenções de um rei que abandona a sela em<br />
proveito do “gabinete”. O passo seguinte é o mar,<br />
visto como elo de comunicação, fonte de riqueza e<br />
espaço de poder.<br />
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48<br />
Curiosidades<br />
Uma das razões que explicam a firme disposição de<br />
D. Afonso IV em bramir armas em apoio de Afonso<br />
XI, numa altura em que os dois monarcas estavam<br />
em situação de guerra, encontra-se na personagem<br />
que terá motivado o corte de relações, D. Maria, a<br />
malquista rainha de Castela e filha do monarca<br />
português. Efectivamente, Afonso XI, necessitando<br />
do auxílio militar do sogro para anular a ameaça<br />
muçulmana junto às suas fronteiras, socorre-se da<br />
esposa que enviou como parlamentar à Coroa<br />
Portuguesa, onde o rei atendeu os argumentos que<br />
a «Formosíssima Maria» sua filha lhe expôs.<br />
Camões dedica ao episódio algumas estrofes no<br />
Canto III de Os Lusíadas.<br />
102<br />
Entrava a fermosíssima Maria<br />
Pelos paternais paços sublimados,<br />
Lindo o gesto, mas fora de alegria,<br />
E seus olhos em lágrimas banhados.<br />
Os cabelos angélicos trazia<br />
Pelos ebúrneos ombros espalhados.<br />
Diante do pai ledo, que a agasalha,<br />
Estas palavras tais, chorando, espalha:<br />
104<br />
“Aquele que me deste por marido,<br />
Por defender sua terra amedrontada,<br />
Co pequeno poder, oferecido<br />
Ao duro golpe está da Maura espada,<br />
E, se não for contigo socorrido,<br />
Ver-me-ás dele e do Reino ser privada;<br />
Viúva e triste e posta em vida escura,<br />
Sem marido, sem Reino e sem ventura”<br />
Como em outras batalhas entre a Cruz e o Crescente,<br />
também no Salado a lenda marca presença.<br />
O ataque português contra as forças granadinas<br />
revelou-se tarefa complicada, durando o combate<br />
desde a alva até ao pôr-do-sol. A resistência da<br />
hoste de Yusûf I foi de tal forma tenaz que a partir<br />
de determinado momento se temeu o pior do lado<br />
lusitano. Só que, entretanto, chegou ao campo de<br />
batalha a Vera Cruz de Marmelar, uma relíquia do<br />
Autores:<br />
Tenente-Coronel Abílio Pires Lousada, Professor de História Militar do IESM.<br />
Major Luís Falcão Escorrega, Professor de Estratégia do IESM.<br />
Major António Cordeiro Menezes, Professor de Táctica do IESM.<br />
Padrão da batalha do Salado em Guimarães.<br />
Santo Lenho (que tinha sido usado no dia de<br />
véspera durante as manifestações religiosas de<br />
preparação para a batalha). Empunhada pelo prior<br />
da Ordem do Hospital, a sua presença extasiou de<br />
tal forma o coração dos guerreiros portugueses que,<br />
próximo do crepúsculo do dia, a hoste comandada<br />
por D. Afonso IV desbaratou completamente o<br />
infiel, obrigando-o a retirar do campo de batalha.<br />
Afonso XI ordenou, então, que os imensos e<br />
riquíssimos despojos da peleja fossem divididos.<br />
Assim, o quinto real dos mesmos seguiu para Tarifa,<br />
com os prisioneiros, onde o rei de Portugal, a quem<br />
tanto se devia a vitória, podia escolher o que lhe<br />
aprouvesse. Contudo, o monarca português<br />
escolheu apenas uma cimitarra e um sobrinho de<br />
Abu-l-Hasan’Ali que levou para Portugal como<br />
prisioneiro. Com este gesto, D. Afonso IV vincava o<br />
preceito espiritual subjacente à Ordem de Cavalaria,<br />
onde a defesa da cristandade falava mais alto que a<br />
recolha de bens materiais.<br />
Bibliografia<br />
- CONDE, Lorenzo, Las Batallas Decisivas en la Historia del Mundo, San Sebastian, J. Gilbert Editor, 1941.<br />
- COSTA, Célia Pereira da, “A Participação Portuguesa na Batalha do Salado”, in Portugal e os Conflitos Militares<br />
Internacionais, XIV Colóquio de História Militar, CPHM, Lisboa, 2005.<br />
- FERNANDÉZ, Manuel López, “La batalla del Salado sobre la toponimia actual de Tarifa”, in Aljaranda, Nº. 67, año XVII,<br />
Deciembre 2007.<br />
- LEÃO, Duarte Nunes de, Chronica del Rei D. Afonso IV, Porto, Lello & Irmão, 1975.<br />
- PEREIRA, J. A. de Esteves, “Reconquista Cristã da Península Ibérica. Salado (30 de Outubro de 1340)”, in Revista Militar,<br />
Nov/Dez de 1970.<br />
- RIBEIRO, Major Jorge e VALENTE, Major Daniel, A Reconquista da Península e a Batalha do Salado, Trabalho de<br />
Investigação do Curso de Estado-Maior, Instituto de Estudos Superiores Militares, 2008.<br />
- SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, D. Afonso IV, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2005.<br />
Fonte http://www.cm-guimaraes.pt