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je587agoset09 - Exército

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PROPRIEDADE<br />

DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO<br />

Direcção, Redacção e Administração<br />

Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />

1069-020 Lisboa<br />

Telef: 213 567 700<br />

Fax Civil: 213 567 791 Militar: 414 091<br />

E-mail: jornal.do.exercito@mail.exercito.pt<br />

E-mail: jornal.exercito@sapo.pt<br />

E-mail − Intranet: Jornal do <strong>Exército</strong><br />

Home page: www.exercito.pt<br />

DIRECÇÃO<br />

Director<br />

Coronel de Infantaria<br />

José Custódio Madaleno Geraldo<br />

Secretária<br />

Ass Técnica Teresa Felicíssimo<br />

Soldado Condutor RC Pedro Ferreira<br />

REDACÇÃO<br />

Chefe<br />

Tenente-Coronel J. Pinto Bessa<br />

Redactores<br />

Tenente RC Paulo Moreira<br />

Alferes RC Nelson Cavaco<br />

Tenente RC Rico dos Santos<br />

Mauro Matias<br />

Operadoras Informáticas<br />

Ass Técnica Elisa Pio<br />

Ass Técnica Guiomar Brito<br />

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO<br />

Chefe<br />

Major Augusto Correia<br />

Operadores Informáticos<br />

Ass Técnica Tânia Espírito Santo<br />

2.º Cabo Gonçalo Silva<br />

Biblioteca<br />

Ass Técnica Joana Moita<br />

SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS<br />

Operador Informático<br />

Sargento-Ajudante João Belém<br />

Distribuição<br />

Sargento-Ajudante Luís Silva<br />

Ass Operacional Filomena Remédios<br />

Publicidade<br />

Sargento-Ajudante Luís Silva<br />

SECRETARIA<br />

Furriel RC João Torres<br />

COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA<br />

Lusa - Agência de Notícias<br />

de Portugal, SA<br />

Centro de Audiovisuais do <strong>Exército</strong><br />

RCRPP/GabCEME<br />

EXECUÇÃO GRÁFICA<br />

Europress, Lda<br />

Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249<br />

Lisboa<br />

Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061<br />

Europress@mail.telepac.pt<br />

Tiragem − 6 000 exemplares<br />

Sumário<br />

Ano L - N.º 587 - Agosto-Setembro de 2009<br />

Os Infantes do Marão 14<br />

Dia da Arma e da Escola Prática<br />

de Infantaria 24<br />

O Projecto “SERVIR” e<br />

o IGeoE ganha Prémio<br />

das Boas Práticas 34<br />

Suplemento<br />

V – Afonso IV<br />

e a Batalha do Salado<br />

Secções<br />

Monumentos com História Militar – 4<br />

Editorial – 5<br />

Figuras e Factos – 8 a 13 e 38 a 41<br />

Uniformes Militares – 42 e 43<br />

Concurso Fotográfico – 44<br />

Livros – 45<br />

Passatempos de outros tempos – 46<br />

Capa: Crónica do Condestável de Portugal, por um autor anónimo do Século XIV,<br />

adaptação de Jaime Cortezão, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1936<br />

Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias<br />

Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do <strong>Exército</strong> Português<br />

Depósito Legal n.º 1465/82<br />

ISSN 0871/8598 ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60


4<br />

MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR<br />

Escultura de Nuno Álvares Pereira,<br />

EPI<br />

As datas conhecidas que balizam a passagem terrena<br />

do Santo Condestável, que terá vivido entre 1360 e<br />

1431, são, evidentemente, bastante antigas, conduzindo-nos<br />

para os caminhos poeirentos das memórias de antepassados<br />

longínquos. No entanto, a precisão das descrições<br />

fisionómicas de D. Nuno Álvares Pereira, tal como atestadas<br />

pelos cronistas carmelitas que lhe elaboraram as primeiras<br />

biografias, são suficientes para termos dele uma imagem quase<br />

nítida. “[O] seu rosto: comprido e branco, nariz afilado, olhos<br />

pequenos e vivos, sobrancelhas arqueadas, rugas na testa,<br />

boca pequena, cabelo e barba ruivos, sendo esta pouco densa<br />

e caída.” 1<br />

Aquela que é considerada a mais verdadeira efígie do<br />

Santo foi um retrato do séc. XV que se encontrava no<br />

espaldar da sacristia do Convento do Carmo, em Lisboa,<br />

onde S. Nuno de Santa Maria era representado a meiocorpo,<br />

vestido como donato carmelita. Infelizmente, a obra<br />

perdeu-se num incêndio resultante do terramoto de 1755.<br />

Porém, subsistem algumas imagens inspiradas naquele<br />

original, como a xilogravura da segunda edição da Crónica<br />

do Condestabre (1554) e dois retratos do séc. XVII<br />

existentes no Museu Nacional de Arte Antiga. Claro que,<br />

a todas as representações os respectivos autores vão<br />

emprestando traços e adereços distintos. Ainda retratado<br />

enquanto religioso, a sua primeira aparição de corpo inteiro<br />

é numa pintura renascentista sobre tábua, onde surge<br />

também como donato carmelita. É com esta indumentária<br />

que o escultor Salvador Barata Feyo eterniza o Condestável<br />

numa colunata, em Fátima.<br />

A mais antiga figura de Nuno Álvares Pereira em traje<br />

guerreiro encontra-se também numa xilogravura na<br />

Crónica do Condestabre, mas na edição de Germão<br />

Galhardo, de 1526. D. Nuno aparece de pé, de corpo inteiro<br />

e já calvo, vestindo uma armadura e segurando em ambas<br />

as mãos uma maça, tendo o elmo aos seus pés.<br />

Recente – inaugurada em 1968 – é a conhecida estátua<br />

equestre do Santo Guerreiro, na Batalha, do escultor<br />

Simões de Almeida. Menos divulgada poderá ser uma<br />

representação de D. Nuno como pagem, que se encontra<br />

no Palácio da Justiça do Porto, num fresco da autoria de<br />

Dórdio Gomes.<br />

Na Escola Prática de Infantaria estão duas esculturas<br />

do Santo. Em ambas surge jovem, guerreiro e de corpo<br />

inteiro.<br />

Numa, em bronze, D. Nuno surge com elmo e couraça,<br />

segurando na mão direita uma espada, sobre o peito, e na<br />

esquerda um escudo ornamentado com a cruz dos Pereiras.<br />

Na outra – que serve de fundo a este texto – S. Nuno<br />

de Santa Maria foi esculpido em madeira de cedro pelo<br />

mestre escultor Domingos Soares Branco. É retratado com<br />

aspecto jovem, sem barba, austero e atlético, envergando<br />

uma longa capa escarlate e armadura completa, sobre a<br />

qual veste uma malha verde. Segura na mão direita o martelo<br />

de armas e, na esquerda, junto à ilharga, o elmo. A escultura<br />

tem proporções humanas e foi concluída em 1971, tendo<br />

sido inaugurada no encerramento do Tirocínio Magalhães<br />

Osório. Na obra, Nuno Álvares Pereira é representado<br />

sobre uma base inspirada no Convento do Carmo, última<br />

morada do Santo Condestável. Esta escultura faz parte da<br />

Colecção da Escola Prática de Infantaria, encontrando-se<br />

ali em exposição permanente.JE<br />

Tenente RC Paulo Moreira (texto e foto)<br />

1 http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?id=71919


A 14 de Agosto de 1385 ocorreu a Batalha de Aljubarrota, com o resultado e as<br />

consequências que todos os portugueses devem saber e orgulhar-se dos seus<br />

antepassados, pois muitos deles deram a vida pela Pátria. Hoje, como ontem, assim continua<br />

a ser, para que a Bandeira das Quinas continue a desfraldar-se com vigor, serenidade<br />

e respeito aos olhos do Mundo.<br />

O resultado vitorioso desta batalha frente aos castelhanos decidiu a manutenção de<br />

Portugal como nação independente. Nela se destacou o ínclito D. Nuno Álvares Pereira,<br />

ao manifestar duma forma admirável superiores dotes de comando, com uma fé inabalável<br />

no épico destino da sua Pátria. Com um entusiasmo contagiante teve o dom de animar os<br />

seus soldados e apesar de serem em número muito mais reduzido do que os seus adversários<br />

sorriu-lhes a vitória.<br />

Muitas vontades se juntam para vencer! E neste Mundo em mudança os vencederores<br />

continuam a ser os homens e as mulheres que conseguem inovar, com valores e princípios<br />

que honram aqueles que os vestem. Nuno Álvares Pereira venceu a Batalha de Aljubarrota,<br />

tal como já tinha vencido a Batalha dos Atoleiros, mandou apear os cavaleiros e organizou<br />

a formação do quadrado, com os cavaleiros, à frente, segurando as lanças e os besteiros,<br />

à retaguarda, aguardando o ataque inimigo. Depois do ataque e do desfecho vitorioso os<br />

portugueses conservaram-se três dias no campo de batalha, como era hábito na época.<br />

É nesta data memorável, 14 de Agosto, que a Arma e a Escola Prática de Infantaria<br />

celebram o seu dia. Um dia glorioso para a História de um povo que mereceu um chefe com<br />

valor ao nível da sua valentia e que a Infantaria Portuguesa escolheu para Patrono,<br />

oficialmente proclamado na década de 40 do século passado.<br />

Nos tempos que vivemos, em que as ameaças de vária índole são uma realidade, desde<br />

a crise económica ao terrorismo, da droga ao tráfico de armas, dos assaltos aos crimes<br />

violentos, todos precisamos de referências e de orientações para que a nossa sociedade<br />

continue a sua caminhada em liberdade, em democracia e a cidadania seja uma realidade.<br />

Se os Infantes de Portugal encontraram em Nuno Álvares Pereira o exemplo a seguir,<br />

pleno de virtudes militares e humanas, nós desafiamos aqueles que nos lêem, em particular<br />

a juventude portuguesa, a conhecerem melhor esta admirável personagem, herói e<br />

santo, pois para além de habitar o coração dos portugueses que o conhecem, adquiriu no<br />

passado 26 de Abril o direito de figurar nos altares do Mundo Cristão.<br />

Aquele que foi o Condestável de Portugal e mais tarde Frei Nuno de Santa Maria,<br />

quando escolheu o recolhimento do Convento do Carmo e o embaixador de Castela lhe<br />

perguntou se nunca mais despiria o hábito, o célebre patriota retorquiu “Só se o rei de<br />

Castela viesse outra vez em guerra a Portugal; neste caso, enquanto vivo, hei-de defender<br />

a Religião e a Pátria!”<br />

As suas virtudes são tantas e tamanhas que, na nossa modéstia opinião, poderia ser<br />

patrono de todos os portugueses, e associamo-nos às merecidas palavras de Rodrigues<br />

Lobo:<br />

“[...] valoroso<br />

Claro libertador da pátria terra,<br />

Que imortal fez seu nome e glorioso<br />

Em armas, em justiça, em paz e em guerra [...]”<br />

5


8<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Dia da Zona Militar da Madeira<br />

Nos dias 28 e 29 de Maio de 2009 decorreram as<br />

comemorações do Dia da Zona Militar da Madeira,<br />

presididas pelo Tenente-General Oliveira Cardoso, Vice-Chefe<br />

3.º Ano da Brigada de Intervenção<br />

A<br />

Brigada de Intervenção (BrigInt) comemorou, no<br />

dia 1 de Junho, o seu terceiro ano de existência,<br />

assinalando a data em que, decorrente da transformação do<br />

<strong>Exército</strong>, passou de Brigada Ligeira de Intervenção a Brigada<br />

de Intervenção.<br />

Como corolário das actividades desenvolvidas a<br />

propósito das comemorações do 3.º aniversário da Brigada<br />

de Intervenção, e momento mais alto das cerimónias,<br />

realizou-se uma imponente parada militar, que contou com<br />

do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, contando com a presença do<br />

Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina<br />

Monteiro.<br />

No dia 28, à noite, realizou-se no pátio interior do palácio<br />

de São Lourenço um espectáculo musical e de luz “Viva a<br />

Música no Palácio”, com a Banda Militar da Madeira,<br />

acompanhada pelo Coro Juvenil e o “Emsemble Vocal Regina<br />

Pacis”, do Gabinete Coordenador de Educação Artística. A<br />

assistência de cerca de quinhentos espectadores aplaudiu<br />

com entusiasmo a apresentação.<br />

Em 29 de Maio foi realizada a Cerimónia Militar, na parada<br />

do Regimento de Guarnição n.º 3, na qual se perfilou uma<br />

formatura representativa da estrutura base e da força<br />

operacional da ZMM, comandada pelo Coronel Portela Ribeiro,<br />

2.º Comandante da ZMM.<br />

No início teve lugar a cerimónia de Homenagem aos Militares<br />

Mortos do Arquipélago, seguida da integração do Estandarte<br />

Nacional, a alocução pelo Major-General Comandante<br />

da ZMM, a leitura da mensagem do General Chefe do Estado-<br />

Maior do <strong>Exército</strong> e a imposição de condecorações. A cerimónia<br />

terminou com o desfile das forças apeadas e em viaturas.<br />

mais de 700 efectivos oriundos de todas as Unidades<br />

dependentes do Comando da Brigada. As armas ganharam<br />

vulto na carismática Praça Heróis do Ultramar, contígua ao<br />

Centro Comercial Dolce Vita, no dia 5 de Junho.<br />

A cerimónia foi presidida pelo Vice-Chefe do Estado-<br />

Maior do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Oliveira Cardoso, tendo<br />

marcado igualmente presença o Comandante Operacional<br />

do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina Monteiro, entre outras<br />

altas entidades civis e militares.<br />

Fazendo jus às mais nobres tradições da Instituição<br />

Castrense, a data festiva do aniversário da BrigInt foi<br />

assinalada por um vasto programa de iniciativas de cariz<br />

militar, cultural, desportivo e recreativo, centrado na Cidade<br />

de Coimbra, onde a Brigada tem implantado o seu Comando,<br />

no Aquartelamento de Sant'Anna.<br />

As comemorações do Dia da BrigInt envolveram um<br />

leque variado de actividades, realçando-se: o IV Encontro<br />

de Artes, que decorreu no Comando da Brigada de<br />

Intervenção; as actuações do Grupo de Fados do Orfeon<br />

Académico de Coimbra, do Grupo Coral e Musical<br />

“Moderp” e da fanfarra da BrigInt; o Festival Gastronómico<br />

do Distrito de Coimbra; Actividades de divulgação; uma<br />

Exposição Fotográfica e Palestra sobre a Participação<br />

Portuguesa na Primeira Guerra Mundial; uma Exposição<br />

Estática de Material e Actividades Radicais; uma Exposição<br />

Estática das FND aprontadas pela Brigada de Intervenção;<br />

uma Exposição sobre o Infante D. Pedro; e o Concerto pela<br />

Orquestra Sinfónica do <strong>Exército</strong> e Quarteto de Cordas “Os<br />

Corvos”; II Open de Golfe da BrigInt.


Visita à Zona Militar da Madeira<br />

Decorreu, nos passados dias 15 e 16 de Junho, a<br />

visita de trabalho do Chefe do Estado-Maior do<br />

<strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, à Zona Militar da<br />

Madeira (ZMM), acompanhado pelo Tenente-General Artur<br />

Neves Pina Monteiro, Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>.<br />

O programa incluiu a visita a todas Unidades e Órgãos do<br />

<strong>Exército</strong> sediados na Ilha da Madeira, bem como a apresentação<br />

de cumprimentos protocolares. O primeiro dia foi sobretudo<br />

preenchido com a visita ao Comando da Zona Militar da Madeira,<br />

sediado no Palácio de São Lourenço, onde, para além de receber<br />

as honras e os cumprimentos militares devidos, foi exposta a<br />

situação da Zona Militar pelo seu Comandante, Major-General<br />

Miguel Rosas Leitão, a que se seguiu um briefing sobre a<br />

actividade operacional, envolvendo, em vídeo conferência, o<br />

Estado-Maior do Comando da Zona Militar, o Regimento de<br />

Guarnição n.º 3 e as suas Subunidades integrantes da FOPE<br />

(Força Operacional Permanente) e do Comando Operacional da<br />

Madeira.<br />

Ainda neste dia, o General Chefe do Estado-Maior do<br />

<strong>Exército</strong> apresentou cumprimentos protocolares às mais altas<br />

entidades da Região Autónoma da Madeira, como o<br />

Representante da República, o Presidente da Assembleia<br />

Regional e o Presidente do Governo Regional.<br />

A finalizar o dia, o General CEME foi presenteado com um<br />

espectáculo de música ligeira e luz no Forte de São Tiago, onde<br />

a Banda Militar da Madeira foi acompanhada pelos alunos do<br />

Conservatório - Escola das Artes, e por cantores de reconhecido<br />

valor, tendo o público acorrido em grande número.<br />

No segundo dia da visita, o General CEME começou por<br />

visitar o Museu Militar da Madeira para conhecer, in loco, o<br />

projecto de ampliação elaborado pelo Coronel Rui Carita, a que<br />

se seguiu, nas instalações do Complexo Deão, uma exposição<br />

pela Oficial Médica da Zona Militar acerca<br />

do apoio sanitário que ali é prestado à família<br />

militar residente na Madeira.<br />

Seguiu-se uma visita breve às<br />

instalações do Quartel de S. Martinho, Ex-<br />

GAG 2, onde se encontra aquartelada a<br />

Unidade de Apoio do Comando da ZMM.<br />

Na sequência da agenda desta visita de<br />

trabalho, o General Chefe do Estado-Maior<br />

do <strong>Exército</strong> deslocou-se ao Regimento de<br />

Guarnição n.º 3 que, após receber as Honras<br />

Militares e a apresentação de cumprimentos<br />

pelos militares e civis do Regimento, seguiu<br />

para uma reunião de trabalho, na qual o<br />

Coronel de Infantaria Batalha da Silva,<br />

Comandante do Regimento, apresentou, sob<br />

a forma de briefing, as limitações e desafios<br />

da Unidade, nas várias áreas a seu cargo,<br />

seguindo-se uma visita ao aquartelamento.<br />

O almoço volante, que se realizou na<br />

Messe de Oficiais do RG3, contou com a<br />

presença dos responsáveis pelas Forças e<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Serviços de Segurança na Região, Entidades Regionais e uma<br />

representação de Oficiais na Reforma. Após o almoço, teve<br />

lugar a Formatura Geral e o desfile das forças apeadas e<br />

motorizadas do Batalhão de Infantaria e da Bateria de Artilharia<br />

Antiaérea e da FOPE/ZMM.<br />

A finalizar as actividades agendadas, o General CEME visitou<br />

ainda as instalações do Centro de Recrutamento do Funchal,<br />

tendo o Chefe daquele Órgão, Tenente-Coronel Vargas,<br />

apresentado um ponto de situação relativo ao cumprimento da<br />

missão. Durante a sua visita, o General CEME realçou a<br />

importância da necessidade de aumentar o esforço de cativação<br />

dos jovens, com o contributo de todos os elementos do <strong>Exército</strong>.<br />

Este evento mostrou uma clara intenção de manter um<br />

contacto próximo e permanente com a realidade e a vivência<br />

diária da instituição.<br />

9


10<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Zona Militar dos Açores recebe Comandante do <strong>Exército</strong><br />

Integrado no programa de visita às U/E/O do <strong>Exército</strong>,<br />

a Zona Militar dos Açores (ZMA) recebeu a visita do<br />

General Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, José Luís Pinto<br />

Ramalho, nos dias 2 e 3 de Julho de 2009.<br />

Com o objectivo de promover contacto com a realidade<br />

das condições de vida nas unidades da ZMA, o General CEME<br />

promoveu o diálogo com o Comandante da Zona, Major-<br />

General Cameira Martins, que lhe expressou as suas<br />

preocupações e ambições da Zona e do seu pessoal.<br />

Acompanhado pelo Tenente-General Pina Monteiro<br />

(Comandante Operacional), o Tenente-General Formeiro<br />

Monteiro (Quartel Mestre General) , visitou o Forte de São<br />

Brás (Comando da Zona Militar), o Quartel de S. Gonçalo<br />

(Unidade de Apoio ao Comando) e o Regimento de Guarnição<br />

N.º2 (RG2), em Arrifes, tendo apresentado cumprimentos<br />

protocolares às mais altas entidades da Região Autónoma<br />

dos Açores. Devido às más condições meteorológicas, a<br />

visita prevista ao Faial e ao<br />

Regimento de Guarnição<br />

+N.º1, em Angra do Heroísmo,<br />

tiveram que ser canceladas.<br />

Regimento de<br />

Guarnição N.º2<br />

As condições climatéricas<br />

adversas que se fizeram<br />

sentir obrigaram a ligeiros<br />

ajustamentos ao programa<br />

estabelecido para a visita<br />

efectuada no dia 3 de Julho<br />

ao RG2, nos Arrifes.<br />

As devidas honras militares<br />

deram início à visita de<br />

trabalho, seguindo-se uma cerimónia de homenagem aos<br />

mortos, sendo colocada uma coroa de flores no monumento<br />

existente junto à porta de armas em homenagem aos que<br />

tombaram em combate, sacrificando a vida pela Pátria.<br />

Seguidamente, o Salão Nobre da Unidade acolheu os<br />

Oficiais, Sargentos, Praças e Funcionários Civis que prestam<br />

serviço no RG2 para a apresentação de cumprimentos. Foram<br />

proferidas palavras de boas vindas por parte do Comandante<br />

do RG2, Coronel de Artilharia José António Guerreiro Martins,<br />

e do General CEME.<br />

A visita continuou na sala de reuniões do RG2, onde o<br />

Comandante da Unidade fez um briefing, referindo aspectos<br />

da missão do regimento, nomeadamente, a instrução de<br />

condução categoria “B” e “C”, os cursos de Formação Geral<br />

Comum do <strong>Exército</strong>, a instrução e treino dos encargos<br />

operacionais (2º Batalhão de Infantaria/FZMA e Bateria de<br />

Artilharia Anti-Aérea/FZMA), a colaboração e apoio a<br />

entidades civis, com particular destaque para a colaboração<br />

com a Sociedade de Promoção e Gestão Ambiental, S.A.<br />

(SPRAçores), no âmbito do protocolo assinado entre o<br />

Comando da ZMA e esta entidade.<br />

A revista à formatura do encargo operacional,<br />

equipamento, viaturas e exposição de armamento na Parada<br />

D. Nuno Álvares Pereira, juntamente com uma mostra das<br />

actividades levadas a efeito pela SPRAçores, concluíram a<br />

visita ao RG2.<br />

Inauguração do Centro de Documentação<br />

Situado na cidade de Ponta Delgada, o Centro de Documentação<br />

sediado no Forte de São Brás foi inaugurado a 3<br />

de Junho de 2009, aquando da visita do General CEME à<br />

ZMA.<br />

O projecto de criação do Centro de Documentação na<br />

ZMA partiu de uma ideia inicial que passava pela criação de<br />

um pólo de arquivo do Arquivo Geral do <strong>Exército</strong> e do Arquivo


Histórico Militar para a ZMA. Este projecto baseia-se no<br />

tratamento, preservação e divulgação do património documental<br />

militar da região e a disponibilização do mesmo à<br />

comunidade. Este projecto surgiu da necessidade da ZMA<br />

dispor de um local para tratar, organizar, gerir e disponibilizar<br />

ao público o material bibliográfico que possui, uma vez que a<br />

reestruturação do <strong>Exército</strong> não contempla o serviço de<br />

biblioteca na nova estrutura orgânica dos Comandos Militares.<br />

O Centro de Documentação dispõe de um acervo documental<br />

vasto, que demonstra o esforço do <strong>Exército</strong> Português<br />

na defesa e manutenção da soberania nacional nos<br />

Arquipélagos Atlânticos, perante a ameaça externa<br />

proveniente das estratégias político-militares decorrentes da<br />

II Guerra Mundial. O seu espólio abrange uma série de áreas,<br />

que vão desde o urbanismo, edificação e infraestruturas até<br />

aos aspectos sociológicos, geoestratégicos, económicos e<br />

político sociais.<br />

Concerto de Música Clássica<br />

A Praça de Armas do Forte de São Brás acolheu um concerto<br />

de música clássica pela Banda Militar dos Açores, que<br />

contou com a participação do Coral de São José, músicos do<br />

Conservatório Regional de Ponta Delgada, da Soprana<br />

Sandra Medeiros e do Tenor Coronel Frederico Almendra,<br />

efeméride integrada no programa da visita do General CEME.<br />

General CEME visita <strong>Exército</strong> Chileno<br />

O<br />

<strong>Exército</strong> Chileno recebeu a visita do General CEME<br />

José Luís Pinto Ramalho, no período de 20 a 23 de<br />

Julho de 2009, promovendo uma troca de impressões e<br />

reforço de amizade e cooperação com o seu homólogo, o<br />

General de <strong>Exército</strong> Óscar Izurieta Ferrer.<br />

No primeiro dia realizou-se uma reunião de trabalho em<br />

Santiago do Chile, onde foram apresentados os aspectos<br />

mais relevantes do processo de transformação do <strong>Exército</strong><br />

Chileno, sendo discutidos os principais projectos no âmbito<br />

operacional, da organização, da formação, da inovação e do<br />

reequipamento.<br />

No decorrer do dia, o Museu Militar foi o local escolhido<br />

para a condecoração do General CEME com a Medalha “Cruz<br />

de la Victoria”, destinada a agraciar e testemunhar o<br />

reconhecimento e gratidão pelo empenho no fortalecimento<br />

dos laços de amizade e cooperação entre os dois <strong>Exército</strong>s.<br />

A cerimónia contou com a presença do corpo de Oficiais<br />

Generais Chileno, a comitiva que acompanhou o General<br />

CEME, o Embaixador de Portugal no Chile, Dr. José Manuel<br />

Paes Moreira, e ainda com 2 Oficiais e 2 Sargentos, membros<br />

constituintes de uma delegação portuguesa em intercâmbio<br />

profissional na Brigada de Operações Especiais e Brigada<br />

Blindada.<br />

Ainda em Santiago do Chile, o General CEME e a<br />

respectiva comitiva visitaram a Brigada de Operações<br />

Especiais e, no dia seguinte, a Fábrica y Maestranzas del<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Foram executadas várias obras de compositores clássicos,<br />

das quais se destacam Carmina Burana, de C. Orff, Nessum<br />

Dorma, de G. Puccini e 1812, de P. Tchaikovsky, esta última<br />

com a particularidade de ter incluído salvas de artilharia.<br />

O concerto foi aberto ao público em geral, tendo superado<br />

as expectativas em termos de adesão, sendo intenção do<br />

Comando da ZMA que o mesmo venha a ter uma frequência<br />

anual e passe a integrar o calendário cultural de Ponta Delgada.<br />

Ejército, que integra toda a área industrial de produção de<br />

armamento e munições, assim como a manutenção das<br />

viaturas do <strong>Exército</strong> Chileno.<br />

O Centro de Treino de Combate Blindado, localizado em<br />

Iquique e a 2.ª Brigada Blindada “Cazadores” Forte<br />

Baquedano, situada no deserto de Atacama, foram também<br />

alvo de uma visita que teve lugar no dia 22 de Julho.<br />

11


12<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Dia dos Comandos e Encerramento do 113.º Curso de Comandos<br />

Realizou-se no dia 29 de Junho, na Serra da<br />

Carregueira, a comemoração do Dia dos Comandos<br />

e o encerramento do 113.º Curso de Comandos.<br />

A cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior do<br />

<strong>Exército</strong>, o General Pinto Ramalho, e contou com a presença<br />

do Presidente da Câmara de Sintra, Prof. Dr. Fernando Seara,<br />

entre outros ilustres convidados civis e militares.<br />

A chuva fez-se sentir com alguma intensidade, mas não<br />

fez vacilar os homens nem lhes perturbou o semblante<br />

tranquilo perante a adversidade. Deste dia salienta-se a leitura<br />

do “código Comando” (testemunho do compromisso solene<br />

assumido por aqueles que ganharam o direito a ostentar as<br />

Visita do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong> Espanhol<br />

Decorreu, entre 24 e 26 de Junho, a visita do Chefe do<br />

Estado-Maior do <strong>Exército</strong> Espanhol (CEME), General-de-<strong>Exército</strong><br />

D. Fulgencio Coll Bucher, ao <strong>Exército</strong><br />

Português. A acompanhá-lo vieram o General-de-Brigada José<br />

insígnias); a Homenagem a todos os militares que, nos<br />

“Comandos”, tombaram ao serviço da Pátria; a Imposição de<br />

Condecorações; a Imposição das Insígnias aos novos<br />

“Comandos” do 113.º Curso de Comandos; a entoação do<br />

Hino dos Comandos; e o Desfile das Forças em Parada.<br />

O Comandante do Centro de Tropas Comandos, Coronel<br />

Soeiro Graça, na sua alocução, agradeceu aos presentes por<br />

todo o apoio recebido. Na pequena resenha que deu a<br />

conhecer, sobre a história dos comandos, afirmou que “as<br />

actuais Tropas Comandos, hoje naturalmente ajustadas aos<br />

novos requisitos operacionais, herdaram a coragem, a<br />

determinação e a competência profissional, sobejamente<br />

reconhecidas aos Comandos.” Fez ainda um balanço das<br />

actividades desenvolvidas no ano que findou, realçando o<br />

113.º Curso de Comandos, deixando a estes futuros Comandos<br />

algumas palavras de apreço e confiança.<br />

O Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, na sua mensagem,<br />

manifestou o seu orgulho ao estar presente neste dia, realçando<br />

a excelente preparação física e psicológica dos Comandos,<br />

inúmeras vezes demonstrada no teatro de operações. “As tropas<br />

Comando são uma referência no conjunto das forças terrestres<br />

nacionais, uma realidade que, indiscutivelmente, orgulha a<br />

Nação e são uma mais valia do <strong>Exército</strong>.” Relembrou também o<br />

esforço de reorganização e de consolidação da estrutura desta<br />

força, que se iniciou há dois anos.<br />

Relativamente ao 113.º curso de comandos, que terminou<br />

neste dia, iniciou-se em 6 de Abril de 2009, com 80 militares,<br />

sendo 2 oficiais, 13 Sargentos e 65 praças. Concluíram o curso<br />

com aproveitamento, 1 oficial, 6 sargentos e 17 praças.<br />

Carlos de la Fuente Chacón, o Tenente-Coronel Pólo del Barrio<br />

e o Tenente-Coronel Juan Ignacio Molina Capilla.<br />

A estada em Portugal começou com uma apresentação de<br />

cumprimentos na Embaixada de Espanha, ainda na manhã do<br />

dia 24, seguida da visita ao Estado-Maior do <strong>Exército</strong>. Ali, no<br />

Pátio dos Canhões, o CEME espanhol recebeu a devidas<br />

honras militares e, depois de almoço, teve um encontro privado<br />

com o Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General Pinto<br />

Ramalho. Durante a tarde, o General-de-<strong>Exército</strong> Coll Bucher<br />

teve a oportunidade de visitar uma exposição sobre o <strong>Exército</strong><br />

Português e conheceu o Museu Militar. Antes de deixar as<br />

instalações do Estado-Maior, assinou o Livro de Honra do<br />

<strong>Exército</strong> e recebeu uma Lembrança Institucional.<br />

No dia 25, quinta-feira, deslocou-se ao Campo de Tiro de<br />

Alcochete e assistiu a uma demonstração de capacidades da<br />

Brigada de Reacção Rápida. À tarde, visitou, na Escola Prática<br />

de Infantaria, o Centro de Instrução OAP (Operações de Apoio<br />

à Paz).<br />

Na sexta-feira, dia 26, o CEME espanhol esteve na<br />

Academia Militar, em Lisboa, onde foi debatido o Processo de<br />

Bolonha aplicado ao ensino superior militar. No mesmo dia, à<br />

tarde, regressou a Espanha.


FIGURAS e FACTOS<br />

Cerimónia de Homenagem ao Bispo das Forças Armadas<br />

D. António dos Reis Rodrigues<br />

Realizou-se dia 14 de Julho, no Auditório da Academia<br />

Militar, na Amadora, a Cerimónia de Homenagem a<br />

título póstumo ao primeiro Bispo das Forças Armadas<br />

Portuguesas, Dom António dos Reis Rodrigues, condecorado<br />

com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.<br />

A Cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior das<br />

Forças Armadas, General Valença Pinto, em quem o Presidente<br />

da República delegou competências para entregar as insígnias<br />

da Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. A cerimónia contou<br />

com a presença do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, o General<br />

Pinto Ramalho, entre outros ilustres convidados militares,<br />

civis e eclesiásticos.<br />

O Bispo das Forças Armadas e de Segurança, D. Januário<br />

Torgal Ferreira, o Tenente-General Pereira Pinto e o Chefe do<br />

Estado-Maior das Forças Armadas, fizeram uso da palavra e<br />

deixaram aos presentes uma ideia de quem foi Dom António<br />

dos Reis Rodrigues, desde a história da sua vida, às funções<br />

que desempenhou, “um homem da igreja e um Príncipe do<br />

pensamento”.<br />

D. António dos Reis Rodrigues nasceu em Ourém, em 24 de<br />

Junho de 1918, e faleceu no pretérito dia 3 de Fevereiro de 2009.<br />

D. António dos Reis Rodrigues deixa o seu nome ligado a<br />

gerações de jovens universitários pela formação que lhes<br />

ofereceu e pelo cunho de compromisso humano e cristão na<br />

sociedade com que impregnou as suas vidas. A homenagem<br />

que, há cerca de cinco anos, esses numerosos militantes da<br />

JUC lhe prestaram, foi um sinal público e eloquente do muito<br />

que lhe ficaram a dever. Muitos deles ocuparam, e ocupam<br />

ainda, nestas três décadas de democracia portuguesa, lugares<br />

de particular relevo, em variadíssimas áreas da vida nacional, o<br />

que atesta o grau de empenhamento, adquirido através da acção<br />

do seu assistente religioso.<br />

Realça-se o seu desempenho como capelão da Academia<br />

Militar (1947-63) e as funções de Pró-Vigário Castrense e Capelão-<br />

Mor das Forças Armadas (1967-75).<br />

Lançamento do Livro “Nuno Álvares<br />

Pereira”<br />

Realizou-se no dia 24 de Junho, no Comando-Geral<br />

da GNR, no Quartel do Carmo, em Lisboa, a apresentação<br />

do livro “Nuno Álvares Pereira”, da autoria do Prof. Dr.<br />

Jaime Nogueira Pinto, publicado pela Esfera dos Livros.<br />

A apresentação do livro coube ao Prof. Dr. Martim de<br />

Albuquerque, contando com a presença do Editor José Maria<br />

Calvin e do Inspector da GNR,Tenente-General Luís Morais<br />

de Medeiros. Estiveram presentes no Quartel do Carmo, última<br />

morada do Santo Herói, D. Duarte Pio e D. Isabel de Herédia,<br />

Duques de Bragança, casa fundada pela linhagem directa do<br />

próprio D. Nuno.<br />

O livro, de natureza biográfica, reconstitui, no quadro da<br />

época, o carácter e o percurso excepcional de Nuno Álvares<br />

É autor de diversos livros, nomeadamente o estudo “Pessoa,<br />

Sociedade e Estado”, “Nuno Álvares, Condestável e Santo”,<br />

“Vidas Autênticas”, “O homem e a ordem social e política”,<br />

“Sobre o uso da Riqueza” e “A palavra de Deus saída do<br />

Silêncio”.<br />

“Que posso mais dizer? O meu espírito abre-se de novo ao<br />

futuro, mas o futuro a Deus pertence. Talvez Deus tenha para<br />

mim algumas páginas ainda por escrever, apesar do peso dos<br />

anos que vou tendo.” − Discurso de D. António dos Reis<br />

Rodrigues na apresentação dos seus livros sobre Doutrina<br />

Social da Igreja<br />

A Ordem Militar de Cristo destina-se a distinguir serviços<br />

prestados ao País no exercício das funções dos cargos que<br />

exprimam a actividade dos órgãos de soberania ou da<br />

Administração Pública, em geral, e na magistratura e diplomacia,<br />

em particular, e que mereçam ser especialmente referidos. A<br />

ordem Militar de Cristo possui cinco diferentes graus e a sua<br />

concessão é da exclusiva competência do Presidente da<br />

República.<br />

Pereira, pajem, cavaleiro, chefe militar e homem de fé,<br />

interpretando e integrando a História de Portugal na História<br />

da Europa medieval.<br />

(Continua na página 38)<br />

13


Dr.ª Ana Rita Carvalho<br />

Infantes do Marão – é este o título que os<br />

militares do Regimento de Infantaria n.º 13<br />

(RI 13) ostentam garbosamente, assim se identificando<br />

com a geografia – física e anímica – de uma<br />

terra agreste e forte, com as cristas do Marão<br />

recortando as suas silhuetas agudas no fundo<br />

horizonte, como que prefigurando a dureza de ânimo,<br />

a coragem e a audácia dos militares que, partindo<br />

daquelas paragens, foram servir a Bandeira<br />

Portuguesa em mais uma missão de apoio à paz, no<br />

Kosovo. Trata-se do 1.º Batalhão de Infantaria da<br />

14<br />

Brigada de Intervenção que, pela sétima vez,<br />

projectou uma Força Nacional Destacada ao serviço<br />

das missões de Paz do <strong>Exército</strong> Português, dando<br />

cumprimento aos compromissos internacionais<br />

assumidos pelo nosso País.<br />

Estas missões e a meritória actuação do Soldado<br />

Português, internacionalmente reconhecida, muito<br />

têm contribuído para a conquista da Paz, da<br />

segurança interna, da liberdade e da melhoria das<br />

condições de vida das populações atingidas pela<br />

guerra ou então para a reconstrução de estados ou


afirmação de jovens países que,<br />

devido a factores diversos, desde a<br />

geopolítica, a questões étnicas e<br />

religiosas, têm requerido a ajuda<br />

internacional neste complexo início do<br />

séc. XXI. Por outro lado, as FND<br />

aprontadas e projectadas pela BrigInt<br />

permitem hoje afirmar inequivocamente<br />

o notável contributo dado por esta<br />

Brigada ao serviço do <strong>Exército</strong> e do País,<br />

constituindo a face mais visível da sua<br />

política externa e contribuindo em larga<br />

medida para a afirmação de Portugal<br />

entre os seus parceiros internacionais,<br />

em matéria de segurança e defesa.<br />

Exercício final<br />

de Aprontamento<br />

O Exercício “Pristina 091” correspondeu<br />

ao exercício final de aprontamento<br />

do 1BI/BrigInt/KFOR,<br />

enquanto FND. Tendo em vista a sua<br />

futura missão, foram validados, durante<br />

o exercício, o treino e a capacidade<br />

operacional atingidos pela Força<br />

ao longo do aprontamento, de acordo<br />

com o respectivo plano de treino<br />

operacional.<br />

O conceito e operacionalização do “Exercício<br />

Pristina 091” previa a implementação de múltiplas<br />

tarefas, tais como: “controlo e protecção de itinerários;<br />

escolta a colunas militares e humanitárias;<br />

patrulhamentos de área; operações de vigilância;<br />

garantia da segurança ao aquartelamento, face a<br />

ameaças exteriores; reacção a emboscadas e<br />

ataques de snippers; prática das regras de empenhamento<br />

(ROE), aprovadas pela KFOR; execução<br />

de acções de demonstração de força; operações de<br />

cerco e busca; condução de operações de CRC; e<br />

apoio à EULEX 1 , na luta contra o crime organizado”.<br />

O exercício decorreu entre 11 e 19 de Fevereiro<br />

e o cenário escolhido foi a cidade de Mirandela e as<br />

zonas da sua envolvência. O espaço foi naturalmente<br />

dimensionado enquanto transposição<br />

aproximada do Teatro de Operações do Kosovo,<br />

correspondendo a cidade de Mirandela a Pristina e<br />

à MNTF-C, e o distrito de Vila Real ao território do<br />

Kosovo, tendo como delimitação a Sérvia (a Norte),<br />

o Montenegro e a Albânia (a Este), e a Macedónia<br />

(a Sul), coincidindo aproximadamente com a mancha<br />

territorial dos distritos de Vila Real e Bragança. A<br />

área de actuação delimitada por estes espaços foi<br />

definida, em termos operacionais, como Manouevre<br />

box blue. Mais a Norte, a localidade de Torre de D.<br />

Chama foi definida como Manoueuvre box green,<br />

correspondendo à zona de Mitrovica, no Kosovo,<br />

região atravessada pelo Rio Ibar e que tem sido<br />

palco de alguns dos mais expressivos conflitos inter-étnicos,<br />

designadamente junto ao tribunal.<br />

No cenário de actuação do 1BI/BrigInt/KFOR,<br />

em Mirandela, foi recriada a situação político-social<br />

que se vive no Kosovo e que é caracterizada<br />

pela existência de uma população de maioria étnica<br />

albanesa, existindo enclaves sérvios ao Norte de<br />

um território marcado por uma elevada taxa de<br />

desemprego (acima dos 50%), com carências graves<br />

nas áreas da saúde, da educação, do direito de<br />

propriedade, da energia eléctrica, etc., e onde<br />

proliferam actividades ilegais - sobretudo o tráfico<br />

humano, o contrabando de armas e de<br />

estupefacientes. A existência de grupos KOS<br />

(sérvios) e KOA (albaneses) constitui também uma<br />

ameaça ao ambiente estável e seguro no Kosovo.<br />

Quanto à situação política, regista-se a actuação<br />

dos dois principais partidos que se afirmaram na<br />

cena do poder após as eleições de Novembro de<br />

2007 para a Assembleia kosovar e municípios - o<br />

Partido Democrático do Kosovo (PDK) e a Liga<br />

15


16<br />

Democrática do Kosovo (LDK). A implementação<br />

da nova constituição do Kosovo, bem como da<br />

EULEX, afirmam-se como as questões políticas mais<br />

prementes. Já do ponto de vista da segurança<br />

interna, actuam no território, para além da KFOR, a<br />

KP (Kosovo Police), e a KSF (Kosovo Protection<br />

Corps), esta em extinção, ao mesmo tempo que se<br />

encontra em criação a KSF (Kosovo Security<br />

Force). Justamente a implementação desta força<br />

policial, bem como a sua constituição, a nível do<br />

pessoal e da avaliação global, pelas partes, são<br />

algumas das problemáticas que se afirmam no plano<br />

da segurança. A problemática da convivência inter-étnica<br />

constitui-se como a questão socio-política<br />

mais significativa no território, a par das carências<br />

verificadas em domínios essenciais.<br />

As forças no terreno em Mirandela, durante o<br />

“Exercício Pristina 091”, eram constituídas pelos<br />

290 militares do Batalhão, aos quais se<br />

acrescentaram 150 elementos pertencentes ao<br />

Estado-Maior da Brigada, que incarnaram o papel<br />

de autoridades nacionais kosovares e da KFOR, à<br />

equipa de Controlo e Arbitragem, que avaliou o<br />

desempenho dos militares, às forças de cenário<br />

(militares que simularam pertencer às diversas<br />

minorias étnicas do Kosovo, sobretudo a sérvia e a<br />

albanesa, no contexto dos incidentes injectados<br />

durante o exercício), e à Companhia de<br />

Transmissões, que apoiou o exercício.<br />

Prelúdio de uma missão -<br />

A actividade diária no terreno<br />

A actividade planeada e conduzida no terreno<br />

pelo 1BI/BrigInt/KFOR - tendo por base a missão e<br />

as possibilidades do Batalhão, materializadas num<br />

conjunto de acções a desenvolver, previsivelmente,<br />

no TO do Kosovo - traduziu-se, de uma forma<br />

bastante realista, no antecipar da missão que o 1BI<br />

concretizado desde Março.<br />

Neste âmbito, cada uma das companhias de<br />

manobra - a Bravo Coy e a Charlie Coy - conduziu<br />

Framework Operations (FWO) dentro da região<br />

correspondente à Manbox Blue (MNTF-C), com<br />

vista a manter um ambiente estável e seguro, bem<br />

como a liberdade de movimentos na sua área de<br />

operações. Para isso, desenvolveu um conjunto de<br />

acções, tais como patrulhamentos, montados e<br />

apeados, Vehicle Check Points (VCP), segurança<br />

ao aquartelamento, operações de vigilância,<br />

segurança a itinerários (cada companhia tinha<br />

atribuído um conjunto de itinerários). Todas estas<br />

acções obedeceram a um planeamento, por parte dos<br />

escalões de Comando - do Batalhão e da Brigada<br />

Cada uma das companhias de manobra – a Bravo Coy e a<br />

Charlie Coy conduziu Framework Operations (FWO).<br />

(que operava também como Comando da KFOR).<br />

Desse modo, e sendo o Batalhão reserva táctica<br />

daquele Comando, foi recebendo ordens parcelares<br />

(FRAGOs), a partir das quais eram atribuídas missões,<br />

por via descendente, tendo por enquadramento geral<br />

o plano da KFOR, e INTSUMs, para actualização da<br />

situação. A Força desenvolveu as suas acções<br />

segundo um conceito de high visibility and low<br />

profile, isto é, demonstrando presença em todo o<br />

espectro de acção, com vista a manter a segurança e<br />

a dissuadir a ocorrência de conflitos, mas sem<br />

evidenciar um perfil agressivo.<br />

As acções decorreram segundo uma matriz de<br />

execução (excepto, naturalmente, as imprevisíveis,<br />

injectadas pelo Comando da KFOR/Brigada). Os dois<br />

primeiros dias - 11 e 12 de Fevereiro - corresponderam<br />

ao deslocamento para o terreno e instalação das<br />

forças, que ocuparam um complexo comercial, a<br />

“Reginorte”, cujo espaço se fez corresponder ao<br />

aquartelamento de Jubilee Barracks, em Slim Lines.<br />

Ao segundo dia, a Força estava preparada para<br />

encetar a sua missão.<br />

Informação Pública<br />

Antes mesmo de o Batalhão iniciar a sua<br />

actividade operacional, o “Aquartelamento” do 1BI<br />

era já o centro das atenções em Mirandela e era<br />

também notícia nacional, pois logo no dia 12 chegou<br />

ao local uma equipa de jornalistas da RTP 1, que<br />

realizou uma reportagem para o programa Portugal<br />

em Directo. A vertente de informação pública que


nos últimos anos se tem manifestado de crucial<br />

importância para a divulgação das actividades do<br />

<strong>Exército</strong>, afirmou-se, assim, em primeira instância, o<br />

que permitiu antecipar a abordagem, sempre profícua,<br />

das populações ao meio militar, que se verificou,<br />

durante o exercício, através do acompanhamento<br />

atento, constante e entusiástico das actividades.<br />

A reportagem conduzida no interior do<br />

aquartelamento focalizou a missão do Batalhão, a<br />

sua actividade, o seu contingente, as condições e<br />

infra-estruturas dos militares. O Comandante do 1BI,<br />

Tenente-Coronel Fernando Teixeira, concedeu uma<br />

entrevista à RTP 1, durante a qual falou sobre a<br />

missão que se avizinhava, caracterizando o cenário<br />

de actuação das forças no TO, bem como a contínua<br />

interacção que foi sendo mantida com a Força então<br />

presente no Kosovo – o Agrupamento MIKE –,<br />

sublinhando que o conhecimento das forças amigas<br />

é um factor importante para a preparação dos militares,<br />

orientada para a missão nas suas múltiplas<br />

vertentes, designadamente em caso de agravamento<br />

de tensões, com a eventual ocorrência de tumultos,<br />

situações face às quais a Força apresenta capacidades<br />

de resposta através das acções de controlo de<br />

tumultos.<br />

O Comandante do 1BI, Tenente-Coronel Fernando<br />

Teixeira, concede uma entrevista à RTP 1; Dr. José Maria<br />

Silvano, Presidente da Câmara de Mirandela.<br />

Numa outra vertente de actuação da Força, a<br />

reportagem incidiu no módulo sanitário. A prestação<br />

de cuidados de saúde, integrada nas designadas<br />

“acções CIMIC” (cooperação civil-militar),<br />

unanimemente valorizada como muito estimulante<br />

pelos militares que a exercem, tem permitido granjear<br />

um grande reconhecimento por parte das<br />

populações, desde logo no Território Nacional, onde<br />

se exerce, no âmbito destes exercícios, mediante a<br />

actuação de equipas médico-sanitárias, sobretudo<br />

em localidades mais isoladas e afastadas dos centros<br />

de saúde. Mas é sobretudo nos teatros de operações<br />

que esta área de actuação se afirma como muito<br />

meritória, junto de povos cujas carências são mais<br />

evidenciadas.<br />

A reportagem abrangeu quase todos os aspectos<br />

da vivência dos militares do 1BI, durante o Exercício<br />

“Pristina 091”, tendo para isso sido conduzida uma<br />

visita às diversas áreas funcionais do aquartelamento.<br />

Numa vertente de índole cultural, complementar<br />

ao exercício, decorreu, no segundo dia de permanência<br />

em Mirandela, a inauguração das exposições<br />

temporárias “Brigada de Intervenção”, Exercício<br />

“Pristina 091” e “Pelourinhos do Distrito de Bragança”,<br />

iniciativa conjunta da BrigInt e da Câmara<br />

Municipal de Mirandela, tendo a presidi-la o<br />

Comandante da Brigada de Intervenção, Major-General<br />

Martins Ferreira, e o Presidente da Câmara<br />

Municipal, Dr. Silvano.<br />

A anteceder a abertura da exposição temática<br />

sobre a Brigada de Intervenção, e como<br />

contextualização no Município de Mirandela, foi<br />

proferido um briefing pelo Major-General Martins<br />

Ferreira, perante um auditório composto pelo<br />

Presidente da Câmara Municipal e pelos presidentes<br />

das juntas de freguesia locais, para além de diversos<br />

órgãos de comunicação social regionais e outras<br />

entidades do meio civil. O Major-General Martins<br />

Ferreira realçou uma vertente de cidadania, ao<br />

mencionar os principais objectivos da realização<br />

do Exercício “Pristina” em Mirandela, que passaram<br />

pela divulgação do <strong>Exército</strong>, para além do objectivo<br />

prioritário de validação do aprontamento da força.<br />

A imagem do <strong>Exército</strong> relaciona-se, em grande parte,<br />

com a projecção de Forças Nacionais Destacadas.<br />

Para o sucesso das missões no estrangeiro muito<br />

contribui, segundo o Major-General Martins<br />

Ferreira, uma característica única do militar<br />

português – a sua capacidade de adaptação a<br />

qualquer força e a qualquer país, o que, nas suas<br />

palavras e de acordo com a sua experiência, não é<br />

fácil. A imagem externa do País é, pois, em grande<br />

parte, veiculada pelos nossos militares ou, na<br />

expressão do Comandante da Brigada, “o nosso<br />

17


militar tem sido o nosso embaixador junto das<br />

populações mais carenciadas e a presença dos<br />

nossos estandartes tem sido uma constante desde<br />

Timor ao Iraque passando pela Bósnia, Afeganistão<br />

e Kosovo”.<br />

A actividade operacional<br />

nas suas múltiplas vertentes<br />

Após a fase de deployment das forças para<br />

Mirandela, teve lugar, (em 13 de Fevereiro), o startex<br />

do Exercício “Pristina 091”, tendo os militares do<br />

1BI iniciado a sua missão, orientada em múltiplas<br />

vertentes. As operações conduzidas, em tudo<br />

semelhantes às implementadas no TO do Kosovo,<br />

foram operacionalizadas a partir de uma matriz que<br />

incluía os designados “incidentes”, a serem<br />

injectados, e aos quais os militares tinham de dar<br />

resposta adequada. Estes incidentes envolveram,<br />

por exemplo, tumultos entre as populações civis<br />

do Kosovo, cujas diferenças étnicas estão na origem<br />

de conflitualidade latente ou declarada. Tendo a<br />

garantia da segurança e da mobilidade das<br />

populações como principal móbil, as forças podem<br />

ser chamadas a intervir em operações de controlo<br />

de tumultos (CRC - Crowd and Riot Control), na<br />

escolta e segurança a pessoas e a instalações, em<br />

operações de cerco e busca a locais indiciados<br />

como podendo albergar matérias ou ser cenário de<br />

transacções ilícitas, ou no controlo de movimentos<br />

na via pública, através do controlo de itinerários.<br />

Patrulhamentos e check points<br />

Diariamente foram sendo realizadas patrulhas<br />

apeadas e motorizadas, nas estradas do Concelho<br />

de Mirandela, simulando as acidentadas estradas<br />

que de Pristina conduzem a Mitrovica, a Norte, e a<br />

outros locais. Se do ponto de vista da situação<br />

política os cenários português e kosovar não são<br />

comparáveis, já do ponto de vista geográfico as<br />

estradas e aldeias transmontanas em algo se<br />

assemelham às do teatro de operações, com as suas<br />

paisagens rurais de montanha, semeadas de<br />

povoações dispersas.<br />

Acompanhámos uma dessas patrulhas, com os<br />

militares a iniciarem a sua viagem de Chaimite rumo<br />

à localidade de Abambres. A missão consistia num<br />

patrulhamento pelas estradas que dão acesso<br />

àquela localidade e à de Mascarenhas, inserida no<br />

mesmo itinerário. O deslocamento, transformado<br />

num agradável percurso pela serra, conduziu-nos<br />

por diversas aldeias, cuja segurança, bem como a<br />

da circulação por estrada, os militares do 1BI tinham<br />

18<br />

por missão garantir, e decorreu sem incidentes.<br />

Esclareça-se que todo e qualquer patrulhamento<br />

tem por objectivos, definidos em regulamento<br />

próprio, “vigiar zonas não cobertas entre postos<br />

de observação, postos de controlo e outras<br />

posições assumidas por uma unidade militar,<br />

investigar eventuais incidentes, mostrar a presença<br />

da unidade às partes e à população, recolher<br />

informações e efectuar uma interposição ou<br />

intervenção em situações de crise”. Implica um<br />

efectivo mínimo de uma secção e duas viaturas,<br />

para além de diverso armamento e equipamento individual<br />

e colectivo.<br />

À chegada ao local, foi montado um check point<br />

ou posto de controlo. Um check point corresponde<br />

a um ponto ocupado, usado como meio de controlo<br />

de movimento e verificação de veículos e pessoas,<br />

com vista a reforçar medidas, ordens e<br />

regulamentos. No teatro de operações do Kosovo,<br />

os check points têm por objectivo a manutenção<br />

do SASE (Safe and Secure Environment, a<br />

manutenção de um ambiente estável e seguro),<br />

nomeadamente através do controlo de movimentos<br />

e acessos, capturando bens proibidos, como armas<br />

ilegais e explosivos, e travando actividades ilícitas<br />

como o contrabando. O check point pode ser móvel<br />

ou fixo. No caso da acção desenvolvida em<br />

Abambres, tratou-se de um check point móvel, cuja<br />

modalidade se reveste de eficácia devido ao<br />

desconhecimento, pelas partes, sobre a sua<br />

localização, que é temporária, o que permite à força<br />

empenhada prevenir movimentos e actividades<br />

ilícitas como o tráfego de armamento, munições e<br />

Acompanhámos uma dessas patrulhas, com os militares a<br />

iniciarem a sua viagem de Chaimite rumo à localidade de<br />

Abambres.


Uma das principais missões cometidas a uma FND, no apoio<br />

à Paz, consiste na garantia da segurança de pessoas e bens<br />

explosivos. Chegadas ao local as duas Chaimites,<br />

o pessoal apeou, ficando os veículos a uma<br />

distância de cerca de 50 metros, em cada um dos<br />

extremos da faixa de rodagem, por forma a impedir a<br />

circulação de qualquer veículo, caso fosse<br />

necessário.<br />

As secções foram distribuídas por áreas<br />

distintas, tais como a de detecção e identificação<br />

de viaturas e respectivos ocupantes e uma área de<br />

cobertura e protecção. Na estrada, os<br />

automobilistas depararam com material de<br />

sinalização, designadamente pinos e placas<br />

indicadoras de limite de velocidade. À passagem<br />

das viaturas militares designadas para o efeito,<br />

efectuou-se a sua imobilização, seguindo-se a<br />

revista aos ocupantes e à viatura, um procedimento<br />

que, no teatro de operações, é extremamente<br />

minucioso, com vista a garantir que, por exemplo,<br />

uma arma seja interceptada e que a circulação de<br />

bens e pessoas se faça segundo estritas normas de<br />

segurança. Paralelamente, foi realizado um<br />

patrulhamento apeado à aldeia de Mascarenhas,<br />

por outra secção. O patrulhamento apeado tem<br />

essencialmente os mesmos objectivos do<br />

patrulhamento motorizado, sendo composto por<br />

uma secção de atiradores, dotada de armamento e<br />

equipamento individual e colectivo. A patrulha e o<br />

check point decorreram conforme o previsto, tendo<br />

as populações simpaticamente manifestado a sua<br />

colaboração com os militares, em simples e<br />

significativos gestos como o da oferta de café ou<br />

comida. Entre o real e o fictício, entre a componente<br />

de exercício e o convívio salutar com as populações,<br />

a coluna seguiu a sua marcha, dando continuidade<br />

ao patrulhamento motorizado.<br />

Segurança a itinerários<br />

e controlo de tumultos<br />

Uma das principais missões cometidas a uma<br />

FND, no apoio à Paz, consiste na garantia da<br />

segurança de pessoas e bens, bem como da<br />

mobilidade em territórios potencialmente afectados<br />

pela conflitualidade inter-étnica ou por qualquer tipo<br />

de ameaças à ordem pública e à liberdade de<br />

movimentos. No caso no Kosovo, os conflitos<br />

radicam nas oposições étnicas e religiosas,<br />

designadamente entre as etnias sérvia e albanesa,<br />

com a existência de enclaves sérvios afirmando-se<br />

sobretudo a Norte e a Noroeste.<br />

Uma das acções desenvolvidas no contexto do<br />

Exercício “Pristina 91” foi o acompanhamento de uma<br />

peregrinação religiosa a um mosteiro ortodoxo,<br />

levada a cabo por um grupo de populares sérvios. O<br />

lugar sagrado (no mapa nacional correspondente a<br />

N.ª Sr.ª de Jerusalém do Romeu) onde os sérvios<br />

pretendiam realizar o culto religioso encontrava-se<br />

inserido no território do Kosovo, tornado<br />

independente há um ano atrás, pelo que o<br />

deslocamento dos peregrinos poderia ser perturbado<br />

pela presença de kosovares e a sua eventual<br />

resistência. Para os militares, a missão consistia em<br />

garantir a segurança do itinerário, através de pontos<br />

de controlo de movimentos, acção que, não sendo<br />

embora uma escolta, visava garantir a total protecção<br />

dos civis em deslocamento, evitar os confrontos<br />

directos entre as partes e garantir um clima de paz e<br />

de liberdade religiosa.<br />

A acção envolveu pessoal e meios materiais,<br />

designadamente uma viatura blindada Chaimite, que<br />

seguiu à frente dos peregrinos, e duas Pandur,<br />

estacionadas junto ao santuário, para garantir a<br />

segurança no local, para além de outras viaturas,<br />

seguindo no trajecto da peregrinação, e que tinham<br />

sobretudo por objectivo fornecer informação sobre<br />

o estado do itinerário e assegurar que após a<br />

passagem dos sérvios a segurança estava garantida.<br />

As forças militares deslocaram-se inicialmente à<br />

localidade de Jerusalém do Romeu, no sopé no monte<br />

onde se ergue o santuário de Nossa Senhora com o<br />

mesmo nome. Aí tomaram um primeiro contacto com<br />

os elementos sérvios, que seguiram, ordeiramente e<br />

sempre acompanhados por militares apeados, em<br />

peregrinação rumo ao santuário.<br />

O percurso decorreu sem incidentes durante<br />

algum tempo, cadenciado pelo trote da Chaimite e<br />

19


20<br />

pela marcha dos peregrinos, ao som de cânticos<br />

religiosos sérvios, convidativos à meditação e à<br />

espiritualidade, tendo por pano de fundo a bela e<br />

plácida paisagem transmontana. Porém, de súbito,<br />

depararam-se elementos kosovares, empunhando<br />

a recente bandeira do País proclamado<br />

independente e ocupando a estrada de acesso ao<br />

santuário. A uma distância de segurança, a Chaimite<br />

interrompeu a sua marcha, impedindo os peregrinos<br />

de avançarem mais. Os militares tiveram então de<br />

adoptar uma atitude mais activa, pois a paragem<br />

originou reacções e tentativas, por parte dos<br />

sérvios, de ultrapassar a viatura e prosseguir. A<br />

viatura que seguia à frente procedeu a uma primeira<br />

abordagem aos kosovares no local, tendo os<br />

militares estabelecido diálogo com os manifestantes,<br />

que demonstraram indisponibilidade para<br />

desimpedirem o percurso. A tentativa de diálogo,<br />

com vista à desmobilização dos indivíduos,<br />

prosseguiu sem sucesso, com o grupo, liderado<br />

por um autarca local, manifestando-se irredutível<br />

ante as pretensões dos sérvios de efectuarem uma<br />

visita ao lugar sagrado. Entre os seus argumentos<br />

constava a memória de massacres e da guerra, o<br />

conflito próximo que opôs vizinhos e espalhou<br />

sementes de ódio inter-étnico. Uma característica<br />

geral e, neste ponto bastante realista, foi a<br />

receptividade para com os militares da KFOR, ali<br />

bem representados pelos portugueses do 1BI, que<br />

demonstraram uma hábil capacidade de diálogo.<br />

Após algum tempo e de sucessivas tentativas<br />

de negociação, a tensão foi-se instaurando, o que<br />

levou ao posicionamento, à retaguarda dos<br />

manifestantes, de um pelotão de controlo de<br />

tumultos, pronto a entrar em acção. Entretanto, do<br />

lado sérvio a tensão agudizou-se igualmente, com<br />

os peregrinos a tentarem passar a barreira interposta<br />

pelos militares. A Chaimite avançou em direcção ao<br />

santuário. Atrás dela agitavam-se as bandeiras<br />

sérvias, odiadas pelos kosovares, que dirigiam<br />

insultos aos peregrinos que se aproximavam,<br />

brandindo energicamente as suas bandeiras. O<br />

confronto parecia inevitável. O pelotão de controlo<br />

de tumultos (CRC) interpôs-se entre as duas<br />

facções, colocando-se à frente dos manifestantes.<br />

Quando a Chaimite avançou, seguida pelos sérvios,<br />

os kosovares lançaram-se contra os elementos de<br />

CRC, procurando por todas as formas alcançar os<br />

peregrinos. Os militares de CRC actuaram no sentido<br />

de travar a violência, permitindo a passagem dos<br />

sérvios que, entretanto, ladeados por outros<br />

militares e com a Chaimite a constituir uma barreira<br />

de segurança móvel, seguiram o seu percurso,<br />

chegando enfim ao silêncio do santuário onde iam<br />

rezar aos seus mortos.<br />

Numa acção exemplar do ponto de vista das<br />

operações a desenvolver no Kosovo. Note-se que<br />

este tipo de incidente requer, sobretudo, por parte<br />

das forças de controlo, uma capacidade de<br />

adaptação constante do dispositivo da força à<br />

dinâmica dos manifestantes. Um incidente destes<br />

ilustra igualmente uma boa capacidade de comando<br />

e controlo, ao nível dos vários escalões de comando,<br />

desde o mais imediato, acrescida da capacidade<br />

de tomar decisões rápidas consentâneas com o<br />

evoluir da situação.<br />

A injecção de diversos incidentes de controlo<br />

de tumultos – CRC – ao longo do Exercício “Pristina<br />

091” justificou-se, no âmbito da missão atribuída<br />

ao Batalhão Português no Kosovo, dado que,<br />

apesar de a segurança pública ser uma missão da<br />

polícia local e/ou da polícia internacional, o Batalhão<br />

pode ser chamado a desempenhar temporariamente<br />

aquela função ou, em casos extremos, utilizar<br />

técnicas de controlo de tumultos para a sua<br />

salvaguarda. O Teatro de Operações do Kosovo,<br />

em termos de CRC, caracteriza-se por poder<br />

envolver a resposta a armas de fogo e granadas de<br />

mão, bem como a utilização das unidades, tanto em<br />

espaços apertados, em zonas urbanas, como em<br />

espaços abertos, no campo. A nossa Força Nacional<br />

Destacada (designada localmente por KTM) é,<br />

aliás, uma das duas únicas unidades com<br />

capacidade para executar e dirigir operações de CRC.<br />

A essa acção subjaz o princípio de que toda e<br />

qualquer modificação do estado de normalidade da<br />

vida social pode motivar uma súbita alteração da<br />

ordem pública, devendo por isso constituir<br />

preocupação para toda a Unidade militar. Na origem<br />

dos distúrbios podem encontrar-se diversas<br />

causas, designadamente razões de índole social e/<br />

ou psicológica, motivos económicos, políticos,<br />

desastres e calamidades públicas, indefinição<br />

quanto ao estatuto final do território, falta ou quebra<br />

de autoridade, etc., uma panóplia de motivos, a<br />

maioria dos quais está na base dos conflitos no<br />

território e da própria guerra, cuja memória é recente.<br />

Enquanto esta acção decorria, na zona<br />

delimitada pela ManBox Blue, houve necessidade<br />

de proceder ao deslocamento de uma companhia<br />

para norte, para a região que representava<br />

Mitrovica, onde residia um enclave sérvio. Tratouse<br />

de uma acção que encenou uma das operações<br />

que poderá ser atribuída ao 1BI no Kosovo, ou<br />

seja, a sua actuação em Mitrovica, com vista a<br />

garantir a segurança do ICTY – Tribunal Internacional<br />

da ex-Jugoslávia. A operação agora desencadeada,<br />

no aniversário da independência do Kosovo,<br />

simulou e transpôs para o treino a situação ocorrida<br />

há um ano atrás, quando tiveram lugar as acções


A par da missão geral que lhe é cometida, o <strong>Exército</strong> afirmase<br />

hodiernamente como uma instituição vocacionada para<br />

as designadas “outras missões de interesse público”.<br />

de protesto e os distúrbios, junto ao tribunal de Mitrovica,<br />

ao ser hasteada a recente bandeira nacional<br />

do Kosovo, levando a que as Nações Unidas fossem<br />

obrigadas a intervir, prendendo os dissidentes. Na<br />

acção desencadeada durante o Exercício “Pristina<br />

091”, uma das companhias foi deslocada, juntamente<br />

com um núcleo do estado-maior (que estabeleceu a<br />

ligação ao comando multinacional, já que a Força não<br />

fica, nestes casos, sob comando directo da multinacional)<br />

para uma região situada a norte (Torre de D.<br />

Chama), durante dois dias, tendo-se instalado numa<br />

escola secundária, que representava o tribunal, e desenvolvido<br />

a partir dali acções de controlo de tumultos,<br />

controlo de itinerários, patrulhamentos apeados<br />

e montados, etc., em defesa do “tribunal”/escola.<br />

Moral e bem-estar<br />

A manutenção do moral e bem-estar dos<br />

militares em missão é um desígnio que não deve ser<br />

descurado em qualquer missão e teatro de<br />

operações. A assistência religiosa é parte integrante<br />

e significativa da vertente de moral e bem-estar,<br />

com incidência, directa ou indirecta no estado<br />

psicológico das tropas e na manutenção do seu<br />

próprio nível de motivação. Nesta importante área,<br />

o capelão militar do Batalhão, Tenente Silva, exerceu,<br />

ao longo do exercício, uma importante acção, quer<br />

junto dos militares quer das populações. Estando<br />

prevista a celebração da missa dominical no TO do<br />

Kosovo, também em Mirandela se cumpriu o ritual<br />

religioso, com a celebração da eucaristia, na Igreja<br />

dos Salesianos. O capelão militar do Batalhão subiu<br />

ao altar como co-celebrante, enquanto na assembleia<br />

estavam presentes o Major-General Martins Ferreira,<br />

o Tenente-Coronel Teixeira, Comandante do 1.º<br />

Batalhão de Infantaria, e diversos militares do<br />

Batalhão e da Brigada de Intervenção, que assim<br />

tiveram a oportunidade de assistir à missa de Domingo,<br />

num espaço e num tempo de recolhimento e<br />

espiritualidade tão necessários para contrabalançarem<br />

o desgaste rápido das suas acções diárias. Ali<br />

se rezou pelos militares que iam partir em missão e<br />

por todos aqueles que, ao longo dos tempos, deram<br />

a sua vida ao serviço da Pátria e dos seus semelhantes.<br />

No final, diversas pessoas dirigiram-se carinhosamente<br />

aos militares, formulando votos de uma boa<br />

missão e oferecendo a sua oração a esta causa.<br />

O <strong>Exército</strong> junto<br />

das populações - Acções<br />

de Cooperação Civil-Militar<br />

O <strong>Exército</strong> Português, modernamente, mantendo<br />

embora a sua missão primordial de garantir a<br />

integridade do território e a soberania do Estado,<br />

encontra-se envolvido em outras missões,<br />

designadamente as que decorrem dos seus<br />

compromissos internacionais - de âmbito ONU,<br />

NATO e União Europeia - no quadro dos quais se<br />

inserem e justificam as missões de apoio à Paz. Por<br />

outro lado, a par da missão geral que lhe é cometida,<br />

o <strong>Exército</strong> afirma-se igualmente como uma<br />

instituição vocacionada para as designadas “outras<br />

missões de interesse público”, que se materializam<br />

em acções de âmbito civil, direccionadas para<br />

necessidades imediatas das populações. As<br />

chamadas “acções de cooperação civil-militar”<br />

(CIMIC, Civil and Military Cooperation) pressupõem,<br />

conforme o nome indica, a assunção de<br />

compromissos entre a Instituição Militar e a<br />

sociedade civil, com vista ao cumprimento de<br />

objectivos comuns.<br />

A Brigada de Intervenção vem, desde o início,<br />

estabelecendo uma estreita correlação com o meio<br />

civil envolvente, tanto no espaço de inserção do<br />

seu Comando, em Coimbra, como no das unidades<br />

regimentais sob a sua dependência hierárquica. Na<br />

sua fértil experiência como unidade aprontadora de<br />

FND, a Brigada tem procurado ramificar e potenciar<br />

as relações com o meio civil, designadamente ao<br />

integrar, no âmbito do treino operacional<br />

propriamente dito, acções paralelas direccionadas<br />

para o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida<br />

das populações. Neste sentido, os exercícios finais<br />

21


22<br />

de aprontamento das unidades enquanto FND têm<br />

integrado acções CIMIC em duas vertentes fundamentais<br />

- o apoio médico-sanitário e as actividades de<br />

cariz cultural.<br />

O apoio médico-sanitário concretizou-se, durante<br />

o “Exercício Pristina 091”, através da actuação do<br />

módulo sanitário do Batalhão junto das populações<br />

das freguesias do Concelho de Mirandela. O módulo<br />

sanitário é constituído por equipas de enfermeiros e<br />

socorristas, aos quais superintende o oficial médico,<br />

que integra o estado-maior técnico da Unidade.<br />

Esta missão decorreu dentro da normalidade,<br />

sendo de realçar a excelente receptividade às acções<br />

de apoio médico por parte das populações, que<br />

também receberam com apreço a visita do capelão<br />

militar. Este intercâmbio com a população civil das<br />

aldeias próximas de Mirandela foi muito gratificante<br />

para os militares que, através da sua presença,<br />

divulgaram o papel do <strong>Exército</strong> junto das populações.<br />

Se os militares se dirigiram às populações, muitas<br />

vezes ocorreu o movimento inverso, tendo o<br />

aquartelamento recebido diariamente diversas escolas<br />

e grupos de crianças, jovens e adultos, que procuraram<br />

conhecer mais de perto a actividade diária de uma<br />

unidade do <strong>Exército</strong>, ou que simplesmente entraram<br />

para recordar a sua própria experiência militar.<br />

As visitas ao aquartelamento do 1BI, que no final<br />

ascendiam ao número de 350, foram conduzidas pela<br />

Oficial CIMIC do Batalhão, Tenente Pereira, e por<br />

outros graduados, que percorreram as instalações e<br />

foram descrevendo os equipamentos e meios<br />

observados e prestando esclarecimentos acerca da<br />

missão do Batalhão e sobre a vida militar em geral. Os<br />

visitantes percorreram as áreas funcionais do<br />

aquartelamento, terminando junto à viatura Pandur 8<br />

X 8 estacionada junto à Porta de Armas que, pela sua<br />

modernidade e robustez, constituiu o cenário preferido<br />

para as fotografias de grupo.<br />

Visita do Comandante<br />

da KFOR ao 1BI/BrigInt/KFOR<br />

No decorrer do Exercício, o Major-General Martins<br />

Ferreira visitou as tropas aquarteladas em<br />

Mirandela. Tratou-se, na realidade, de mais uma acção<br />

realizada no contexto do “Exercício Pristina 091”, em<br />

que o Comandante da Brigada de Intervenção<br />

desempenhou o papel de Comandante da KFOR, em<br />

visita ao Batalhão Português.<br />

À sua chegada, o Major-General Martins Ferreira<br />

recebeu as honras militares devidas, designadamente<br />

uma Guarda de Honra e a continência prestada pelas<br />

forças em parada. As forças militares pertencentes às<br />

três companhias que compõem o Batalhão desfilaram<br />

O Comandante da Brigada de Intervenção desempenhou o<br />

papel de Comandante da KFOR, em visita ao Batalhão<br />

Português<br />

em continência ao Comandante da Brigada, numa<br />

cerimónia singela, mas muito significativa do ponto<br />

de vista simbólico da coesão, da disciplina e de outros<br />

valores militares que inspiram as nossas forças,<br />

concretamente este Batalhão, a mais recente força a<br />

ser aprontada pelo <strong>Exército</strong> Português para missões<br />

de apoio à Paz. A mística de união e de espírito de<br />

corpo que une estes 290 homens e mulheres<br />

transpareceu bem naquele acto solene, ao qual a<br />

população de Mirandela fez questão de se associar,<br />

deixando bem evidenciado o respeito, a admiração e o<br />

carinho que nutre pelos seus militares. Após o desfile<br />

militar e já no interior do aquartelamento, o Major-<br />

General Martins Ferreira assistiu a um briefing sobre<br />

o 1.º Batalhão de Infantaria, constituído como KTM<br />

(Kosovo Tactical Reserve Manoueuvre Batallion)<br />

da KFOR, no qual participaram o Comandante do 1BI,<br />

Tenente-Coronel Teixeira, o segundo Comandante,<br />

Major Sá, e os oficiais que compõem o Estado-Maior<br />

do Batalhão – Oficial de Pessoal, Informações,<br />

Logística, Manutenção, Finanças, Transmissões,<br />

Médico, Capelão, Oficial CIMIC, bem como os<br />

Comandantes das três companhias – Alfa Coy, Bravo<br />

Coy e Charlie Coy.<br />

DVD do Exercício “Pristina 091”<br />

No final do Exercício “Pristina 091” teve lugar,<br />

em 19 de Fevereiro, o Distinguish Visitors Day (DVD)<br />

do Exercício, evento presidido pelo Comandante<br />

Operacional, Tenente-General Artur Neves Pina<br />

Monteiro. Do programa do DVD destacam-se os<br />

briefings proferidos no auditório do Centro Cultural<br />

de Mirandela, pelo Major-General Martins Ferreira,<br />

Comandante da Brigada de Intervenção, pelo Chefe<br />

do Estado-Maior da Brigada de Intervenção, Tenente-<br />

Coronel Magalhães, e pelo Comandante do 1BI/


O momento mais significativo deste DVD foi, a<br />

demonstração de capacidades e meios do 1BI, à qual<br />

assistiram centenas de pessoas<br />

BrigInt/KFOR, Tenente-Coronel Teixeira, que<br />

descreveram genericamente o historial, a missão e<br />

possibilidades do Batalhão agora projectado para o<br />

Kosovo, a sua constituição modular, efectivos, meios<br />

e materiais, bem como aspectos relativos ao<br />

planeamento e condução do Exercício “Pristina 091”<br />

e ao conceito de treino operacional que lhe foi<br />

subjacente. Seguiu-se uma visita às exposições temporárias<br />

patentes no Centro Cultural de Mirandela.<br />

O momento mais significativo deste DVD foi,<br />

como seria de esperar, a demonstração de capacidades<br />

e meios do 1BI, à qual assistiram centenas de pessoas.<br />

Os militares do 1BI exemplificaram diversas acções<br />

desenvolvidas durante o exercício de preparação para<br />

a sua intervenção no Teatro de Operações, designadamente<br />

controlo de itinerários, patrulhamentos e<br />

check points, revista a viaturas e pessoas, apreensão<br />

de armamento, protecção a altas entidades e resgate<br />

de prisioneiros, operações de controlo de tumultos,<br />

inactivação de engenhos explosivos, escoltas, etc.<br />

A cerimónia militar que se lhe seguiu constituiu<br />

uma verdadeira apoteose, com o Batalhão a fazer a<br />

sua entrada triunfal no espaço onde decorrera a<br />

demonstração, ao som de uma marcha militar, ao<br />

mesmo tempo que três granadas de fumos<br />

desenhavam no ar as cores da Bandeira Nacional.<br />

Frente à tribuna de honra, o Batalhão prestou<br />

continência à Alta Entidade e escutou as palavras do<br />

Comandante Operacional, que expressou o seu voto<br />

de confiança nos militares do Batalhão e no seu<br />

Comando, relativamente a mais uma missão de<br />

prestígio para Portugal, no teatro de operações do<br />

Kosovo, testemunhando publicamente o seu apreço,<br />

enquanto Comandante Operacional, pelo meritório<br />

trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelos<br />

nossos militares em missão nos diversos teatros de<br />

operações para onde Portugal tem projectado forças.<br />

Os militares do 1BI entoaram o hino do Batalhão, num<br />

momento que concentrou grande carga emotiva e<br />

simbólica, cujo efeito se propagou à população que,<br />

no final, rompeu em fortes aplausos.<br />

A energia e a coesão de um Batalhão, força viva<br />

dos valores militares também se sente e transmite,<br />

especialmente, nestes momentos de elevado simbolismo.<br />

Os “Infantes do Marão” desfilaram e nesse<br />

movimento síncrono simbolizaram a sua marcha<br />

contínua e contumaz rumo à missão, através da qual<br />

vão continuar a cumprir Portugal, aguerridamente<br />

transpondo, se necessário, a fronteira do possível e<br />

do finito.<br />

Hino do 1BI/BrigInt<br />

(Refrão)<br />

Em terras de Trás-os-Montes,<br />

Nas encostas do Marão,<br />

Mulheres e Homens fortes<br />

Formam o 1.º Batalhão.<br />

Pelas cristas do Marão<br />

Nasceu um nobre ideal:<br />

A força de um Batalhão<br />

Para servir Portugal.<br />

Com honra e dignidade<br />

A Pátria defendem e amam,<br />

Com audácia e humildade<br />

P'la Bandeira sofrem e zelam.<br />

No escudo a neve prateada,<br />

O lobo negro rampante,<br />

Uma baioneta dourada<br />

Faixa vermelho brocante.<br />

Como lobos em alcateia,<br />

Assim age o Batalhão,<br />

Trabalhando em equipa<br />

Sempre cumprindo a missão.<br />

Fotos da 1 BI/BrigInt.<br />

JE<br />

1 A EULEX (European Union Rule of Law Mission in<br />

Kosovo) consiste na missão da NATO, no Kosovo,<br />

relacionada com o apoio à administração civil do território.<br />

Entrou em actuação em Julho de 2008, em substituição da<br />

UNMIK (A United Nations Interim Administration in<br />

Kosovo), criada em 10 de Junho de 1999, com base na<br />

Resolução 1244 do CSNU, que determinou o<br />

estabelecimento de uma administração civil interina na<br />

província do Kosovo, liderada pela NATO e tendo em vista<br />

assegurar a autonomia da população.<br />

23


Tenente RC Paulo Moreira<br />

No dia 14 de Agosto comemorou-se, em<br />

Mafra, o dia da Arma e da Escola Prática<br />

de Infantaria. A cerimónia, engalanada com os seus<br />

mais dignos motivos, foi presidida pelo Chefe do<br />

Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto<br />

Ramalho, acompanhado pelo Vice-Chefe do Estado-<br />

24<br />

Maior do <strong>Exército</strong> e Director Honorário da Arma de<br />

Infantaria, Tenente-General Mário de Oliveira<br />

Cardoso.<br />

A Cerimónia Militar teve início às 10h30, com as<br />

Honras Militares à Alta Entidade, com a integração<br />

do Estandarte Nacional e a Homenagem aos Mortos.


Foto: Tenente Paulo Moreira<br />

Terminou com a Imposição de Condecorações, a<br />

entrega de prémios de “Patrulha D. Nuno Álvares<br />

Pereira” (primeiro prémio à Patrulha da Guarda<br />

Nacional Republicana; segundo prémio à Patrulha<br />

da Escola Prática de Infantaria; terceiro prémio à<br />

Patrulha do Centro de Tropas de Operações<br />

Especiais) e com o Desfile das Forças em Parada.<br />

Decorreu ainda uma demonstração de saltos de Páraquedistas.<br />

624 anos passados sobre a Batalha de Aljubarrota<br />

– 14 de Agosto de 1385 –, de onde saiu Portugal<br />

independente aos ombros do seu maior herói, a<br />

figura de D. Nuno Álvares Pereira, Patrono da<br />

Infantaria, no preciso ano da sua canonização, foi<br />

marcadamente incontornável nas celebrações de<br />

mais um aniversário daquela secular Escola. Em<br />

todas as alocuções que ilustraram a manhã do dia<br />

14 – pelo Coronel João Manuel Ormonde Mendes,<br />

Comandante da Escola Prática de Infantaria, pelo<br />

Director Honorário da Arma de Infantaria e pela<br />

Foto: Tenente Paulo Moreira<br />

mensagem do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong><br />

– foi lembrada a memória do Condestável, autor de<br />

vitais glórias dos infantes portugueses sobre<br />

cavaleiros castelhanos.<br />

Assim, associando as comemorações da Arma de<br />

Infantaria ao ano da canonização e celebração do Santo<br />

Condestável, foram promovidas algumas iniciativas<br />

em torno da vida e obra de D. Nuno Álvares Pereira.<br />

Inaugurada, precisamente, no dia 14 de Agosto,<br />

esteve patente, na Escola Prática de Infantaria, até<br />

27 de Setembro, a exposição “D. Nuno Álvares<br />

Pereira – O Legado, As Batalhas, As Representações”,<br />

onde foi reunido um interessante conjunto<br />

iconográfico do Santo, algumas referências à sua<br />

passagem pelo Convento do Carmo e uma maqueta<br />

com a encenação da Batalha de Atoleiros, elaborada<br />

e cedida pela Brigada Mecanizada. No dia 26 de<br />

Junho, a Escola Prática de Infantaria patrocinou a<br />

realização de um Colóquio intitulado “D. Nuno<br />

Álvares Pereira: o Homem, o Militar e o Santo”.<br />

Foto: Tenente Paulo Moreira<br />

25


26<br />

Colóquio sobre<br />

D. Nuno Álvares Pereira 1<br />

Nuno Álvares Pereira, Patrono da Arma de<br />

Infantaria, é uma figura incontornável da História<br />

Nacional, em todos os aspectos como se nos<br />

apresenta, em todas as formas como se nos revela.<br />

Nas suas diversas facetas surge-nos sempre como<br />

uma personagem muito à frente do seu tempo,<br />

contrapondo à sua juventude uma notável<br />

clarividência política e militar, contrapondo aos costumes<br />

da guerra medieval uma humanidade singular<br />

e contrapondo às usuais demonstrações de<br />

poder pessoal de então, e ainda de hoje, uma<br />

abnegação e caridade muito próprias. [...]<br />

Com o presente artigo pretende-se resumir as<br />

várias intervenções neste Colóquio, cuja versão<br />

integral está publicada na revista da Infantaria<br />

“Azimute”, na sua edição de Agosto de 2009.<br />

O Colóquio foi organizado em dois grandes<br />

painéis. O primeiro abordou a figura de D. Nuno<br />

Álvares Pereira como “Homem” comum, pelo<br />

Tenente-Coronel de Artilharia (Reserva) António<br />

Pires Nunes, como “Militar” de excepção, pelo<br />

Coronel de Infantaria (Reforma) Américo Henriques,<br />

e como pessoa sublime e insigne elevada a “Santo”,<br />

por D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa.<br />

O segundo painel abordou o “enquadramento<br />

Político-Militar e a Guerra dos Cem Anos”, pelo<br />

Tenente-Coronel de Infantaria Luís Barroso, “a<br />

Crise Dinástica de 1383/1385 e a Batalha de<br />

Atoleiros”, pelo Capitão de Infantaria Carlos<br />

Afonso e, por último, “a Invasão Castelhana e a<br />

Batalha de Aljubarrota”, pelo Tenente-Coronel<br />

Infantaria Lemos Pires.<br />

O Colóquio foi presidido pelo Vice-Chefe do<br />

Estado-Maior do <strong>Exército</strong> e Director-Honorário da<br />

Arma de Infantaria, Tenente-General Mário de<br />

Oliveira Cardoso, e contou com uma diversificada<br />

plateia de personalidades militares, religiosas e de<br />

entidades de alguma forma relacionadas com D.<br />

Nuno Álvares Pereira.<br />

“D. Nuno Álvares Pereira<br />

– O Homem”<br />

Desde cedo na sua infância que D. Nuno se<br />

revelou audaz e com uma grande autoconfiança,<br />

qualidades importantes que, anos mais tarde, se<br />

revelariam vitais para o desenrolar da situação de<br />

crise que se viveu entre 1383 e 1385.<br />

Feito cavaleiro aos 13 anos, foi como escudeiro<br />

da Rainha que fomentou o seu gosto pelos valores<br />

da cavalaria medieval, como são a Honra, a Coragem<br />

e a Lealdade. [...]<br />

No plano religioso, D. Nuno sempre tentou<br />

manter a pureza da sua alma e do seu corpo, sendo<br />

disso exemplo a sua relutância em contrair<br />

matrimónio, como se essa condição lhe retirasse a<br />

proximidade com Deus. [...] D. Nuno foi um homem<br />

de fé que sempre se voltou para Deus em todos os<br />

momentos, com particular incidência na parte final<br />

da sua vida, quando pôde dedicar o fim dos seus<br />

dias à Santa Igreja.<br />

Paralelamente a estas facetas, desenvolveu-se<br />

o mito de D. Nuno Álvares Pereira como Herói. “A<br />

imprevisibilidade de atitudes e a expectativa sobre<br />

o comportamento de D. Nuno, face aos<br />

acontecimentos deve ter generalizado a ideia de<br />

que ele era, no mínimo, diferente. Daí até à sua<br />

aceitação como Herói vai apenas a constatação de<br />

que essa diferença conduzia a actos superiores que<br />

não estavam ao alcance de qualquer um, sempre<br />

em favor da sua Pátria em perigo. Foi um herói<br />

consciente dos seus comportamentos, que jogou<br />

sempre incondicionalmente a vida e para quem a<br />

timidez, o medo e a hesitação o levavam<br />

frequentemente à exasperação.” 2<br />

“D. Nuno Álvares Pereira<br />

– O Militar”<br />

[...] O Patrono da Infantaria portuguesa foi<br />

desde cedo, junto da ordem do Hospital, adestrado<br />

para o superior desempenho da arte das armas,<br />

acompanhando esse treino prático com uma<br />

preparação adequada, designadamente ao nível dos<br />

valores que um chefe militar deverá seguir, como a<br />

Honra, a Lealdade e, acima de tudo, o amor inabalável<br />

à terra que o viu nascer – o Patriotismo.<br />

Em paralelo com a intangibilidade deste factor,<br />

foi igualmente importante a forma soberba como D.<br />

Nuno soube sempre ajustar as suas tropas por forma<br />

a tirar partido do valor do terreno, quer fosse pela<br />

influência Hospitalária, quer fosse pelo contacto<br />

com os Ingleses ou pelas leituras que fazia, o certo<br />

é que, como ninguém o havia feito na Península<br />

Ibérica até então, D. Nuno adequou criteriosamente,<br />

em todas as batalhas que travou, a sua hoste ao<br />

terreno, tornando uma aparente desvantagem em<br />

algo que lhe traria uma vitória segura. [...]<br />

Por outro lado, a relação de proximidade com os<br />

seus homens constituiu um importante elemento<br />

Moreira<br />

da singularidade do seu comando. O exercício do Paulo<br />

comando pelo exemplo, assumindo sempre o lugar<br />

de maior perigo nas batalhas que travou, levou a Tenente<br />

que os seus subordinados o seguissem cegamente. Foto:


Fotos: CAVE<br />

D. Nuno foi um Comandante à frente do seu<br />

tempo, na forma como estudou o terreno e o seu<br />

adversário, catapultando-o a um “altar” onde<br />

poucos ousaram chegar. Se a Infantaria, como nós<br />

a entendemos, nasceu muito tempo depois, aquilo<br />

que nasceu com Nuno Álvares Pereira foi o âmago<br />

da própria infantaria – o combate da humildade, o<br />

combate onde o chefe e os seus subordinados se<br />

ladeiam ombro a ombro, potenciando o terreno em<br />

seu proveito. O combate da sobriedade, o combate<br />

da aplicação de todas as armas, mas acima de tudo,<br />

o combate do empenhamento da própria alma. E aí,<br />

nesse empenhamento da própria alma, Nuno<br />

Álvares Pereira, o místico, aparecia como ninguém;<br />

uma bandeira que era um altar flutuante, uma<br />

palavra para cada um dos seus homens, a forma de<br />

se dirigir antes da batalha àqueles que se iam bater<br />

sobre as suas ordens, incentivando-os e incutindolhes<br />

uma confiança inabalável, “por mais que sejam<br />

não nos vencem, não só porque Deus está<br />

connosco mas porque somos muito melhores do<br />

que eles”. E rematou o Coronel Américo Henriques:<br />

“A causa mais justa e maior pela qual um Homem<br />

de Bem se pode e deve debater é a dignidade, a<br />

integridade, a liberdade, a independência e a<br />

soberania da terra onde nascemos. E porque o<br />

representou como ninguém é que Nuno Álvares<br />

Pereira, muito antes de subir aos altares de Deus,<br />

subiu aos altares da Pátria e garantiu, e Deus queira<br />

que para sempre, a perenidade da nação<br />

Portuguesa”.<br />

“D. Nuno Álvares Pereira<br />

– O Santo”<br />

Desde os tempos de infância que D. Nuno teve<br />

um contacto profundo com a religião. Em todos os<br />

seus passos o seu louvor a Deus esteve presente.<br />

Era apenas Deus que se sobrepunha às suas outras<br />

prioridades, Portugal e Família. [...]<br />

No exercício do poder como Comandante Militar,<br />

soube ser Chefe, soube liderar. Não castigava com<br />

destempero, mas com brandura, de modo que os<br />

seus homens tinham dele “mais reverência que<br />

temor” (Crónica de D. João I, 425.). Usava de<br />

fraternidade na relação com os soldados, no<br />

respeito pela sua dignidade humana, independentemente<br />

da função. Criava com os capitães e<br />

homens de armas uma família, capaz de alegria<br />

serena. Sabia repartir com generosidade, sem<br />

qualquer cobiça, o que resultasse das incursões e<br />

que fosse tomado ao inimigo. Quando terminada a<br />

guerra, fazia a distribuição dos ganhos pelos<br />

homens que o acompanhavam nos combates. [...]<br />

Arquivo JE<br />

A sua benignidade brilhava mesmo para com os<br />

inimigos, uma vez que não odiava os adversários,<br />

nem permitia que a paixão dominasse o ardor da<br />

luta. Por isso cuidava dos prisioneiros e dos feridos<br />

e não deixava que destruíssem aldeias ou campos<br />

cultivados. Amparava as mulheres, as crianças e<br />

os pobres. Em momento de especial carestia<br />

distribuiu pelos castelhanos 6400 alqueires de trigo.<br />

Era manifesto o respeito e consideração que estas<br />

atitudes de ética cristã geravam.” 3<br />

Como se constata, D. Nuno era extremamente<br />

devoto e o seu temor a Deus era tal que fazia questão<br />

de diariamente cumprir as suas obrigações<br />

religiosas. Após cada vitória dirigia-se em<br />

peregrinação ao templo mais próximo, dedicando<br />

esses sucessos a Deus.<br />

A partir de 1411, após a paz com Castela, D.<br />

Nuno despiu a pele de guerreiro e passou a crescer<br />

o monge que sempre houve dentro de si,<br />

ingressando no Convento do Carmo, como o<br />

simples Frade Nuno de Santa Maria. Nestes anos<br />

finais da sua vida “…a própria tença a que D. Duarte<br />

o obrigou distribuiu-a em esmolas e ele mesmo<br />

pediu para os pobres. Foi esta atitude radical<br />

daquele que fora o fidalgo mais poderoso do País,<br />

que conquistou o coração do povo de Lisboa.<br />

Optar por viver numa cela solitária e escura, com<br />

apenas uma mesa de pinho, catre e manta gasta,<br />

crucifixo e disciplinas, no silêncio e na<br />

contemplação, na humildade e no abandono a Deus,<br />

era prova de santidade.” 4<br />

D. Nuno morreu em 1431 na sua cela, ouvindo o<br />

evangelho de S. João e cerrando os olhos quando<br />

se identificou com as palavras de Jesus a Maria<br />

pronunciadas do alto da cruz: “Eis aí o teu filho”.<br />

27


28<br />

“Raras vezes na história, um herói que alterou a<br />

história de um povo é um santo, que não precisa de<br />

lenda para ser grande na integridade de carácter, na<br />

inteireza de costumes, na unidade de vida. Têm sido<br />

as lendas a reduzir a personagem a um sanhudo<br />

impetuoso, um Orlando furioso, dado a intervalos<br />

místicos. Estamos perante um extraordinário chefe<br />

militar, marcado pela ética cristã. Estamos diante de<br />

alguém com uma visão para o país, pautado por<br />

valores cristãos. Venceu nas armas por causas<br />

nobres, venceu-se a si mesmo pela entrega a Deus.<br />

São assim os santos: deslumbrantes, a dar carne à<br />

transcendência.” 5<br />

A Situação Político-Militar<br />

na Guerra dos Cem Anos<br />

(1337-1453)<br />

[...] Historicamente, as causas da Guerra dos<br />

Cem Anos remontam à conquista de Inglaterra, por<br />

Guilherme, o Conquistador, que manteve no<br />

continente europeu extensos domínios senhoriais,<br />

nomeadamente em França, algo que ameaçava o<br />

projecto de consolidação da monarquia francesa.<br />

Este conflito teve como oponentes, como<br />

referido, a Inglaterra de Eduardo III e a França de<br />

Felipe VI. Estes soberanos mantiveram durante anos<br />

um clima de aceso confronto, no que respeitava ao<br />

direito ao trono da França, do qual Eduardo III,<br />

neto de Felipe IV, foi afastado em detrimento de<br />

Felipe VI, sobrinho do anterior Rei; às pretensões<br />

aos territórios gauleses até então administrados<br />

pelo Rei de Inglaterra, e que Felipe queria tomar<br />

para si; à disputa pela influência sobre a Flandres,<br />

território de grande importância comercial, cujo<br />

controlo cada um dos Reis pretendia. Por outro<br />

lado, saliente-se o apoio da França aos rebeldes<br />

escoceses, que a norte pressionavam os Ingleses,<br />

numa constante tentativa de ganhar soberania; o<br />

declínio do sistema feudal que, com o surgimento<br />

de uma nova classe, a Burguesia, cada vez mais<br />

colocava em causa o poder dos grandes senhores<br />

feudais; o facto de, nesta altura, a igreja católica<br />

estar dividida, chegando mesmo a existir dois Papas<br />

em simultâneo. As duas nações respondiam a<br />

cada um deles (Inglaterra a Roma e França a Avignon).<br />

Do ponto de vista militar, o Tenente-Coronel<br />

Luís Barroso destacou as diferenças entre as duas<br />

forças em confronto. Por um lado, a França com um<br />

exército grande, com uma Cavalaria robusta, que<br />

assentava a sua conduta no seu grande poder de<br />

choque e protecção, mas que, em contrapartida,<br />

era demasiado dispendiosa e pouco ágil. Por outro<br />

lado, os ingleses com características mais ligeiras,<br />

combinando a cavalaria feudal com soldados de<br />

infantaria e, entre eles, soldados arqueiros cujo valor<br />

militar tinha já ficado demonstrado em Gales, no<br />

final do século XII (Eduardo I). Com terreno de<br />

montanhas, a cavalaria treinada para combate<br />

simétrico e em terreno aberto era pouco eficaz. 6<br />

Estes dois modelos<br />

de “máquinas de guerra”<br />

confrontaram-se durante<br />

os cerca de 116<br />

anos de guerra, sendo de<br />

realçar a importância<br />

crucial de duas batalhas<br />

em particular, a de Crecy<br />

e de Poitier. A Guerra<br />

dos Cem Anos, em particular<br />

estas duas<br />

batalhas, foi de particular<br />

importância para o<br />

que viria a acontecer em<br />

Aljubarrota, revelando o<br />

papel preponderante<br />

das informações no<br />

campo de batalha, da<br />

preparação do terreno,<br />

da unidade de comando<br />

e do elemento apeado<br />

fazendo frente a um<br />

adversário mais forte.<br />

A crise<br />

de 1383-1385<br />

e a Batalha<br />

de Atoleiros<br />

Vista a situação no<br />

plano Europeu, marcado<br />

pelo conflito, importa reflectir um pouco sobre o<br />

que se passava na Península Ibérica naquele tempo.<br />

Em Castela, desde a morte de D. Afonso XI,<br />

acalentava-se uma acesa disputa entre os vários<br />

pretendentes ao trono, que se alastrou aos países<br />

vizinhos, entre os quais D. Fernando, que subiu ao<br />

trono de Portugal em 1367 e que levou a que este<br />

soberano se envolvesse em guerras sucessivas com<br />

Castela – as guerras Fernandinas –, que se<br />

revelariam desastrosas para o Reino, pela forma<br />

como foram resolvidas, com o casamento da única<br />

filha de D. Fernando com o Rei de Castela, D. Juan<br />

I, em 1383.<br />

Neste ano morreu D. Fernando, deixando o<br />

Reino mergulhado numa dolorosa crise dinástica,


com vários pretendentes à Coroa nacional, sendo<br />

de destacar D. João Mestre de Avis, filho de D.<br />

Pedro I, que contava com o apoio do povo e de<br />

alguma nobreza, entre os quais D. Nuno, e D. Juan<br />

I, pelo casamento com D. Beatriz, com o apoio da<br />

alta nobreza.<br />

Ao longo do período de crise foram vários os<br />

confrontos e escaramuças<br />

entre os partidários<br />

das duas partes,<br />

mas a primeira batalha<br />

digna desse nome ocorreu<br />

perto de Portalegre,<br />

em Fronteira, Atoleiros,<br />

a 6 de Abril de 1384.<br />

Nesta Batalha, o<br />

nosso patrono comandou,<br />

com mestria, um<br />

exército manifestamente<br />

inferior ao castelhano,<br />

colocando em prática os<br />

ensinamentos retirados<br />

de Crecy e Poitier. Neste<br />

sentido, D. Nuno escolheu<br />

o terreno que<br />

mais lhe convinha para<br />

combater, usou de forma<br />

criteriosa o armamento de<br />

que dispunha, dispondo<br />

superiormente os seus<br />

besteiros e arqueiros e<br />

fazendo apear a sua<br />

cavalaria. Enfim, soube<br />

adaptar a sua força ao<br />

terreno, tirando proveito<br />

das suas vantagens.<br />

Após três investidas<br />

castelhanas, todas<br />

mal sucedidas, a hoste<br />

Portuguesa pôde cantar<br />

vitória, fazendo ressaltar a primazia da infantaria<br />

ligeira, ágil, fazendo frente a uma Cavalaria robusta<br />

e móvel, mas com pouca flexibilidade e utilidade<br />

num terreno que lhe era desfavorável.<br />

“[...] Do ponto de vista político, Atoleiros foi o<br />

primeiro sinal claro da determinação de defender<br />

Portugal e de que o partido do Mestre de Avis não<br />

se tratava de um conjunto de revoltosos<br />

desorganizados, mas sim de uma força com<br />

identidade nacional;<br />

Do ponto de vista psicológico, provou aos<br />

portugueses que os castelhanos não eram<br />

invencíveis e contribuiu para reforçar a ideia de<br />

que a legitimidade e a justiça estavam do lado do<br />

Mestre de Avis;<br />

In História do <strong>Exército</strong> Português, General Ferreira Martins<br />

Do ponto de vista militar, foi a primeira<br />

experiência portuguesa nos campos de batalha da<br />

Europa. A infantaria, armada de piques, em formação<br />

cerrada e com um adequado aproveitamento do<br />

terreno, conseguia ser um adversário à altura da<br />

cavalaria pesada;<br />

Do ponto de vista do comando, a acção de D.<br />

Nuno revelou-se intocável, conseguindo quebrar<br />

as opiniões mais cépticas de que se tratava de um<br />

jovem inconsciente e um pouco alucinado,<br />

reforçando a sua imagem como comandante militar<br />

de ciência e de valor.” 7<br />

A invasão Castelhana<br />

e a Batalha de Aljubarrota<br />

Após as derrotas de Atoleiros e de Trancoso,<br />

D. Juan decide invadir Portugal para colocar um<br />

ponto final nesta contenda. Assim, em Julho de<br />

1385, entra no território nacional, à frente de um<br />

poderoso exército, em direcção a Lisboa,<br />

encontrando-se a sua Armada ao largo da capital<br />

desde o mês de Junho. O seu avanço processou-se<br />

naturalmente e em 7 de Agosto já se encontrava a<br />

sul de Coimbra.<br />

A hoste nacional, sob o comando do Mestre de<br />

Avis, encontrava-se em Abrantes, onde foi reunido<br />

um Conselho de Guerra para decidir sobre a<br />

modalidade a adoptar: fazer frente a D. Juan,<br />

impedindo-o de chegar a Lisboa, ou atacar a sua<br />

retaguarda, em território castelhano.<br />

A primeira opção, do agrado do Condestável,<br />

foi posta de parte pelo Conselho, levando a que D.<br />

Nuno tomasse uma decisão inesperada,<br />

abandonando o Conselho e partindo com os seus<br />

homens ao encontro de D Juan I. Esta acção, muito<br />

discutida, levou a que o Rei voltasse atrás na sua<br />

decisão e seguisse o seu Condestável, provocando<br />

uma dramática batalha real, que colocaria em jogo a<br />

sua própria Coroa.<br />

[...] À semelhança de Atoleiros, D. Nuno<br />

começou por escolher o terreno que lhe era mais<br />

conveniente, resultado de um reconhecimento<br />

minuciosamente conduzido. Esta foi, talvez, a<br />

decisão mais consequente que terá tomado, dada a<br />

clara vantagem que o terreno conferia à hoste<br />

Lusitana. Demonstrando um elevado conhecimento<br />

da forma de actuar do seu adversário, antevê a sua<br />

manobra e, numa operação de decepção, dá a<br />

entender que pretende enfrentar o seu adversário<br />

por norte, quando na realidade já havia mandado<br />

preparar o terreno para um ataque por sul.<br />

Organizou as suas forças para o combate,<br />

adoptando “uma formação de quadrado a duas azes<br />

29


(batalhas), com uma Vanguarda que ele próprio (D.<br />

Nuno Álvares Pereira) comandava, a seiscentas<br />

lanças; uma Ala direita de duzentas lanças de<br />

cavaleiros, cujo comando seria atribuído a Mem<br />

Rodrigues, coadjuvado por seu irmão Rui Mendes;<br />

uma Ala esquerda de duzentos homens de armas<br />

que Antão Vasques comandaria; e, recuada, uma<br />

Retaguarda, com el-Rei, de setecentas lanças,<br />

montadas tanto quanto possível para maior<br />

mobilidade como Reserva, pronta para contra-atacar<br />

ou reforçar a Vanguarda, a Ala esquerda e a Ala<br />

direita, por esta ordem; os arqueiros ingleses<br />

atribuídos à Ala esquerda; os besteiros guarneciam<br />

todas as faces do dispositivo, com prioridade para<br />

as Alas e, juntamente com os peões, montariam<br />

guarda à carriagem, esta colocada por trás da<br />

Reserva, com excepção de um reduzido trem de<br />

apoio ao combate dos arqueiros e besteiros que se<br />

situaria dentro do quadrado”. 8<br />

Na conduta da operação revelou uma grande<br />

flexibilidade, deixando perceber que a recusa de<br />

Castela em dar-lhe combate por norte não lhe era<br />

estranha, dada a rapidez com que reajustou o<br />

dispositivo fazendo face ao movimento e acções<br />

de Castela. “Quanto à composição e articulação<br />

das forças, pensara não serem necessárias grandes<br />

alterações. Desde logo pondera que talvez tivesse<br />

que reforçar a Frente à custa da Reserva, aí com<br />

umas oitenta a cem lanças, porque o terreno era<br />

mais fraco e mais extensa a frente a cobrir mas, face<br />

à possibilidade do inimigo empregar em qualquer<br />

direcção, mesmo pela retaguarda, a sua cavalaria<br />

ligeira sob o comando do Mestre de Alcântara (…)<br />

optara por manter a Reserva forte (…) esta última<br />

posição permitia-lhe, também, criar um saco (uma<br />

bolsa), uma zona de morte onde nos derradeiros<br />

momentos antes do contacto, o inimigo aí entrado,<br />

seria sujeito a um potencial de tiro das armas de<br />

arremesso que queria devastador”. [...]<br />

A Batalha de Aljubarrota foi “a batalha mais<br />

brilhante, a mais decisiva nos seus resultados e<br />

aquela que maior eco teve em Portugal e no<br />

mundo”. 9<br />

Jornadas de Infantaria 2009 10<br />

A Escola Prática de Infantaria (EPI) promove<br />

anualmente uma actividade designada por Jornadas<br />

de Infantaria, envolvendo-se directamente em debates<br />

e estudos sobre temáticas da actualidade.<br />

No sentido de dar continuidade a este desígnio,<br />

realizaram-se entre 18 e 22 de Junho de 2009 as<br />

Jornadas de Infantaria 2009 (JI09), subordinadas<br />

ao tema geral “As Pequenas Unidades de Infantaria<br />

no Combate em Áreas Edificadas”. Os trabalhos<br />

30<br />

integraram naturalmente os representantes de todas<br />

as Unidades de Infantaria, dos Comandos Funcionais<br />

e do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, passando<br />

pela Academia Militar, pela Escola de Sargentos do<br />

<strong>Exército</strong> e pelo Instituto de Estudos Superiores<br />

Militares.<br />

As temáticas abordadas e as respectivas<br />

conclusões, que foram apresentadas a uma vasta<br />

audiência presidida pelo Tenente-General Mário de<br />

Oliveira Cardoso, Director Honorário da Arma de<br />

Infantaria e Vice-Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />

farão parte integrante da Revista Azimute n.º 188, a<br />

publicar em Dezembro de 2009.<br />

A principal finalidade das Jornadas de Infantaria<br />

é a promoção da reflexão ao nível da Arma, sobre<br />

temas e assuntos que directa ou indirectamente<br />

poderão influenciar a Infantaria Portuguesa,<br />

nomeadamente sobre os aspectos doutrinários,<br />

técnicos e de emprego das pequenas Unidades de<br />

Infantaria. [...]<br />

A este evento, anualmente integrado no<br />

programa das Comemorações do Dia da Arma de<br />

Infantaria e da EPI, sucederam-se outros dois que<br />

começaram logo no dia do encerramento das<br />

Jornadas, nomeadamente a inauguração da<br />

“Exposição Fotográfica alusiva à Primeiras Guerra<br />

Mundial”, que foi preparada e apresentada na Sala<br />

de Honra da Infantaria, e ainda a abertura da<br />

tradicional Prova de Patrulhas, representativas das<br />

unidades de Infantaria do <strong>Exército</strong>, da Guarda<br />

Nacional Republicana e do Corpo de Fuzileiros – a<br />

Patrulha D. Nuno Álvares Pereira.<br />

Sessão de Abertura,<br />

em 18 de Junho de 2009<br />

A sessão de abertura foi presidida pelo<br />

Presidente do Conselho da Arma de Infantaria,<br />

Major-General António Noé Pereira Agostinho. [...]<br />

Os trabalhos iniciaram-se com a intervenção do<br />

Comandante da EPI, Coronel de Infantaria João<br />

Ormonde Mendes, que deu as Boas-Vindas a todos<br />

os presentes e fez a introdução ao tema das<br />

Jornadas de Infantaria 2009.<br />

Seguidamente, o Presidente do Conselho da<br />

Arma de Infantaria usou da palavra para salientar a<br />

actualidade e a pertinência do Combate em Áreas<br />

Edificadas, tendo em conta que os conflitos actuais<br />

se desenvolvem maioritariamente tendo como pano<br />

de fundo este tipo de ambientes, complexos e física<br />

e psicologicamente exigentes.<br />

No primeiro dia, após a apresentação de um<br />

conjunto de palestras que permitiram enquadrar o<br />

tema geral acima referido e que seguidamente


apresentaremos em resumo, foram debatidos os<br />

temas propostos no seio de Grupos de Trabalho<br />

(GT) com representação das diferentes Unidades,<br />

Estabelecimentos e Órgãos, na modalidade de<br />

workshop. [...]<br />

A primeira apresentação, feita pelo Tenente-<br />

Coronel Martin Farenfield, do <strong>Exército</strong> dos Estados<br />

Unidos da América, da Embaixada dos EUA em<br />

Lisboa, focou o tema “The tactical Employment at<br />

Squad and Platoon Level and the Infantry Tactics<br />

in MOUNT/FIBUA” e as lições retiradas da<br />

Operação Phantom Fury em Fallujah, Iraque –<br />

Novembro 2004. Na sua apresentação destacou<br />

quatro ensinamentos que o exército americano<br />

colheu e que rapidamente introduziu na doutrina<br />

e programa de cursos:<br />

O combate urbano combina infantaria e carros<br />

de combate (CC). Além da necessidade, utilidade<br />

e complementaridade dos CC e da Infantaria, o<br />

orador alertou para o problema dos ângulos mortos<br />

dos CC e que são ainda mais evidentes nas áreas<br />

edificadas;<br />

A Infantaria deve ser treinada para fazer<br />

abertura de brechas com explosivos. A formação e<br />

manejo de explosivos eram matéria exclusiva da<br />

engenharia. O aumento que se fez sentir para o<br />

emprego de explosivos impôs que a formação nesta<br />

área passasse a ser extensível a todos os militares;<br />

O maior perigo para a infantaria é a passagem<br />

entre edifícios. Foi apresentada a grande<br />

dificuldade sentida na progressão em área<br />

edificadas, sendo consequentemente a passagem<br />

entre edifícios o período que expõe mais a<br />

infantaria e transforma a força militar num alvo<br />

vulnerável;<br />

Técnicas de limpeza de compartimentos e treino<br />

Foto: CAVE<br />

de tiro em ambiente urbano. Foram apresentadas<br />

algumas técnicas de entrada em edifícios, tendo<br />

sido dado grande realce ao tiro como factor fundamental<br />

para o sucesso de qualquer unidade de<br />

combate.<br />

A segunda apresentação, feita pelo Tenente-<br />

Coronel Niels Windeuser, do JALLC, tratou o tema<br />

“The Interoperability within NATO Urban Operations<br />

at Small tactical Units” e organizou a<br />

sua apresentação nos seguintes pontos:<br />

O processo de lições aprendidas do JALLC;<br />

O relatório sobre The Dismounted Soldier System<br />

– DSS (Soldado do Futuro) efectuado por<br />

militares do JALLC que acompanharam uma força<br />

do exército do Reino Unido no Afeganistão;<br />

Lições Aprendidas nas operações correntes<br />

da NATO.<br />

Da sua apresentação, preparada em coordenação<br />

com o Tenente-Coronel de Infantaria<br />

Jorge Costa Campos, são de salientar as seguintes<br />

conclusões:<br />

Com o DSS pretende-se a integração de tudo<br />

o que o soldado utiliza, transporta e consome para<br />

potenciar as suas capacidades individuais e<br />

colectivas (Pequenas Unidades) dentro da sua<br />

estrutura nacional de Comando e Controlo;<br />

A Interoperabilidade é fundamental e a<br />

Infantaria Ligeira desempenha um papel<br />

predominante, pois o combate é conduzido<br />

praticamente sempre apeado e em terreno<br />

complexo, com as Áreas Edificadas e os IED<br />

(Engenhos Explosivos Improvisados) sempre<br />

omnipresentes, levando as operações a<br />

caracterizarem-se por grande intensidade;<br />

O peso dos equipamentos é um factor-chave.<br />

Como não é possível à Infantaria Ligeira<br />

transportar todos os equipamentos disponíveis,<br />

o soldado tem sempre a preocupação de ajustar e<br />

decidir quais os equipamentos a transportar para<br />

cada Missão.<br />

No que se refere à multinacionalidade das<br />

operações foram destacados os aspectos culturais<br />

e linguísticos (críticos nos baixos escalões), a<br />

existência de diferentes Tácticas, Técnicas e<br />

Procedimentos nos diferentes países da NATO e<br />

a exagerada confiança na tecnologia (que se<br />

começa a sentir).<br />

A terceira apresentação feita pelo Capitão<br />

Rafael Lopes, Comandante da Companhia de Apoio<br />

à Formação da EPI e representante português no<br />

Urban Operations Working Group (UOWG), foi<br />

sobre o “ UOWG – Situação Actual e Perspectivas<br />

Futuras”.<br />

O Grupo de Trabalho depende directamente<br />

do Army Sub-Group (ASG) que está subordinado<br />

31


32<br />

ao NATO Training Group (NTG) e recebe apoio<br />

das nações representadas no GT no treino e<br />

documentação relativa ao Combate em Áreas<br />

Edificadas (CAE); analisa Técnicas, Tácticas e<br />

Procedimentos de forma a criar um conceito comum<br />

e integrado de CAE; e assegura que a formação e<br />

treino do CAE se mantém actualizado de acordo<br />

com as mais recentes missões e ameaças.<br />

No que diz respeito às perspectivas de futuro,<br />

destacou:<br />

O CAE como base da formação do Infante;<br />

Promover a discussão do emprego de armas<br />

combinadas no CAE (já iniciado);<br />

Apoiar no Desenvolvimento do Projecto de<br />

Ampliação do “ALDEIA CAMÕES”, situado na<br />

Tapada Militar de Mafra e contribuir para a<br />

actualização dos programas de instrução dos<br />

cursos ministrados na EPI;<br />

Análise do Cap. V do Urban Operations Tactical<br />

Handbook (UOTH), no que diz respeito às<br />

funções de Combate;<br />

Aprovação do Vol. II do UOTH e passagem do<br />

Vol. I a ATP;<br />

Decorrerá em Portugal, entre 26 a 30 de Abril de<br />

2010, a Reunião do UOWG no âmbito das<br />

“Informações no CAE”.<br />

A quarta apresentação feita pelo Capitão de<br />

Infantaria Alexandre Capote, da Brigada Mecanizada,<br />

tratou o tema “As Pequenas Unidades de<br />

Infantaria no Combate em Áreas Edificadas –<br />

Perspectiva do emprego de meios mecanizados e<br />

blindados”. Da sua apresentação destacam-se uma<br />

série de apontamentos (a desenvolver na próxima<br />

edição da Revista Azimute) e que são o resultado<br />

do estudo e da experiência feita pelo Agrupamento<br />

em NRF. A apresentação debruçou-se sobre:<br />

O emprego de meios mecanizados e blindados;<br />

O treino da Força em Áreas Edificadas.<br />

Cerimónia de Encerramento e<br />

Apresentação das Conclusões<br />

A Cerimónia de Encerramento das JI09 contou<br />

com a presença dos Comandantes das Unidades<br />

de Infantaria e foi presidida pelo Director Honorário<br />

da Arma de Infantaria, Tenente-General Mário de<br />

Oliveira Cardoso.<br />

Nesta sessão foi feita a apresentação das<br />

conclusões por parte dos GT, efectuadas pelos seus<br />

coordenadores, que seguidamente se resumem:<br />

O Tenente-Coronel de Infantaria Jorge Gamito<br />

Torres (GT1), que trabalhou o tema “A Condução<br />

de Operações de Combate em Ambiente Urbano –<br />

Requisitos de Capacidades de Informação nos<br />

Foto: CAVE<br />

Baixos Escalões (Companhia, Pelotão e Secção) ”,<br />

apresentou as conclusões de acordo com os<br />

seguintes tópicos:<br />

Doutrina – As Técnicas, Tácticas e<br />

Procedimentos de combate em áreas edificadas<br />

devem ser conjugadas com a doutrina ISTAR<br />

(impacto dos novos meios);<br />

Treino – Aplicação dos meios – Impacto no<br />

treino individual e colectivo, (integração e gestão<br />

de sensores e C 2);<br />

Organização – As células de gestão de sensores<br />

(UAV’s/UGV’s) deverão ser orgânicas da UEB;<br />

Meios – Requisitos de capacidades dos<br />

sistemas para actuarem de forma autónoma;<br />

Liderança – Planeamento centralizado, execução<br />

descentralizada – maior exigência e responsabilidades<br />

na coordenação das Operações aos baixos<br />

escalões;<br />

Pessoal – Necessidades de novas competências:<br />

selecção; especialização; ambiente multinacional/língua;<br />

Interoperabilidade – Uso do SICCE na integração<br />

de todos os meios C4ISR até ao escalão secção.<br />

O Major de Infantaria Jorge Varanda Pinto (GT2),<br />

que tratou o “Emprego Táctico de uma Unidade de<br />

Escalão Companhia, em todo o Espectro das<br />

Operações, num Cenário de Contra-subversão Urbana”,<br />

apresentou as conclusões que se destacam<br />

nos seguintes tópicos:<br />

Doutrina – foi proposto que fossem elaborados<br />

dois manuais pela EPI, coadjuvada pela FOPE, sobre<br />

Combate Urbano;<br />

Treino e material – proposta de algumas alterações<br />

e aquisições de novas tecnologias;<br />

Liderança – área essencial para os novos quadros;<br />

Quanto às infra-estruturas, a proposta vai no<br />

sentido de se ampliar e melhorar as infra-estruturas<br />

existentes para o CAE pois estas devem permitir a<br />

execução de tiro real, a utilização de viaturas<br />

mecanizadas e blindadas e alterar as situações de


treino, para o tornar mais realista;<br />

A interoperabilidade – as propostas vão no sentido<br />

de a doutrina ser comum ou, no mínimo, compatível e<br />

possibilitar o emprego combinado de forças;<br />

O treino deve ser do tipo Cross Training para<br />

adaptação e integração. É no entanto no material<br />

(Armamento, Transmissões, etc.) onde existem mais<br />

sistemas que requerem compatibilidade. Quanto ao<br />

pessoal, deve ter as competências para participar em<br />

operações combinadas (Linguística).<br />

O Tenente-Coronel de Infantaria Rui Mendes Dias<br />

(GT3), que teve como objectivo trabalhar o tema<br />

“Requisitos Operacionais e Técnicos de Simulação<br />

para os Sistemas de Combate de Infantaria dos baixos<br />

escalões tácticos (Companhia, pelotão e Secção) em<br />

ambiente urbano”, apresentou os seguintes tópicos<br />

de conclusões:<br />

A definição de uma política de simulação nacional<br />

deve ser construída com base nos conceitos basilares<br />

da NATO (Simulação, Interoperabilidade e Reutilização),<br />

bem como nos seus princípios guia, a normalização de<br />

tácticas e procedimentos fruto das lições aprendidas e<br />

a revisão dos diversos referenciais de curso;<br />

Quanto à organização, a proposta vai no sentido<br />

de se criarem dois níveis de Simuladores: o primeiro<br />

nível nas EPR, para que todos tenham acesso aos<br />

sistemas; o segundo nível, para material específico de<br />

uma unidade da FOPE, ficando neste caso o simulador<br />

na unidade utilizadora, destinado ao treino do pessoal;<br />

No que diz respeito às infra-estruturas, as<br />

recomendações vão no sentido de haver uma avaliação<br />

custo/eficácia, de o sistema de simulação estar<br />

associado à infra-estrutura real, da criação de infraestrutura<br />

para acolher sistemas de simulação e da<br />

rentabilização das infra-estruturas reais, permitindo o<br />

seu desenvolvimento;<br />

As propostas respeitantes ao pessoal vão no<br />

sentido da criação de órgãos ou entidades<br />

responsáveis pela gestão da formação de quadros<br />

qualificados (Operar, Manter e Reparar), da<br />

vinculação/permanência dos militares e da<br />

contratualização de formação, manutenção e<br />

reutilização, com análise custo/eficácia, relativamente<br />

a estes equipamentos mais específicos.<br />

Sítio da Infantaria<br />

No final da sessão de Encerramento das JI09 foi<br />

ainda apresentado, pelo Comandante da EPI, uma<br />

proposta de sítio da Infantaria. Este sítio terá como<br />

objectivo constituir-se num repositório dos<br />

documentos relacionados com a infantaria portuguesa<br />

e estará disponível na internet. Foi com muito agrado<br />

e receptividade que este assunto foi visto, pois permite<br />

ocupar uma lacuna existente e será um local de debate<br />

e encontro entre Infantes.JE<br />

1 Texto da Escola Prática de Infantaria.<br />

2 António Pires Nunes, Tenente-Coronel – “D. Nuno<br />

Álvares Pereira – o Homem”.<br />

3 D. Carlos Azevedo, “São Nuno de Santa Maria: um santo<br />

condestável e carmelita”.<br />

4 Idem.<br />

5 Ibidem.<br />

6 Tenente-Coronel Barroso, “A Situação Político-Militar<br />

na Guerra dos Cem Anos (1337-1453) ”.<br />

7 Capitão Afonso, “A crise de 1383-1385 e a Batalha de<br />

Atoleiros”.<br />

8 Tenente-Coronel Lemos Pires, “A invasão Castelhana e<br />

a Batalha de Aljubarrota”.<br />

9 General Themudo Barata.<br />

10 Texto da Escola Prática de Infantaria.<br />

Foto: Tenente Paulo Moreira<br />

33


Texto e Fotos do TCor. Art. Eng.º Geógrafo<br />

António Jaime Gago Afonso<br />

A<br />

Cartografia Militar Portuguesa na sua<br />

escala 1:25000, por ser a escala base de<br />

Portugal, sempre serviu de suporte ao <strong>Exército</strong>, às<br />

Forças Armadas e, duma forma mais lata, o<br />

desenvolvimento do país como base no estudo e<br />

planeamento dos projectos mais importantes dos<br />

últimos anos. A forma de obtenção dos dados para<br />

a sua elaboração acompanha a evolução dos tempos.<br />

O Instituto Geográfico do <strong>Exército</strong> (IGeoE),<br />

desenvolve estudos e metodologias para a<br />

actualização da sua Cartografia Militar de forma<br />

rápida e exacta, uma vez que terminou em 2006 a<br />

aquisição em formato vectorial de todo o Território<br />

Nacional. O método de posicionamento em modo<br />

de Base – RTK, constituía a forma tradicional da<br />

Secção de Topografia do IGeoE para adquirir<br />

informação geo-referenciada, necessária aos<br />

diversos processos de produção dessa Cartografia.<br />

Actualmente, com a utilização do projecto<br />

SERVIR (Sistema de Estações de Referência GNSS<br />

VIRtuais), permite reduzir os quantitativos em meios<br />

humanos, materiais e logísticos, melhorar<br />

significativamente a realização do apoio topográfico<br />

e optimizar drasticamente o tempo consumido por<br />

parte das equipas topográficas do IGeoE quando<br />

comparado com a tradicional metodologia RTK para<br />

apoio topográfico em WGS84 (World Geodetic<br />

System 1984).<br />

34<br />

Figura 1<br />

Figura 2


Este projecto, liderado pelo Instituto Geográfico<br />

do <strong>Exército</strong>, utiliza a rede de comunicações do<br />

<strong>Exército</strong>, Marinha e Força Aérea sob supervisão do<br />

SICOM (Sistema Integrado de Comunicações das<br />

Forças Armadas) e do Regimento de Transmissões<br />

do <strong>Exército</strong>, numa perspectiva de optimização das<br />

infraestrutras existentes, diminuindo assim os<br />

custos em comunicações entre as Estações de<br />

Referência e o centro de controlo e monitorização<br />

do sistema, optimizando desta forma o investimento<br />

efectuado pelo Estado e o Erário Público. Conta<br />

ainda com o apoio das Unidades Militares onde as<br />

Estações de Referência GNSS (Figura 1) estão<br />

instaladas, facilitando a manutenção e o apoio<br />

logístico, além de aumentar a segurança física das<br />

mesmas. Desde o iníco deste projecto que o seu<br />

parceiro estratégico é a Faculdade de Ciências da<br />

Universidade de Lisboa e mais recentemente a<br />

Universidade da Beira Interior.<br />

Actualmente a rede tem 26 estações em<br />

funcionamento (GPS + GLONASS) e uma na fase e<br />

resolução de problemas de comunicações.<br />

Arquitectura do Projecto<br />

SERVIR<br />

A arquitectura da rede deste projecto foi<br />

concebida de forma a garantir a maior segurança<br />

possível, fiabilidade e rapidez de funcionamento,<br />

através da redundância de cálculo (dois<br />

computadores em simultâneo); assim, em caso de<br />

alguma ocorrência inoportuna com um deles, o<br />

outro assegura automaticamente o fornecimento<br />

das correcções da rede aos utilizadores. Pode<br />

assegurar até 50 utilizadores em simultâneo (ver<br />

Figura 2).<br />

É uma plataforma electrónica assente em 4<br />

componentes fundamentais:<br />

- As estações de referência GNSS localizadas em<br />

instalações da Marinha, Força Aérea e <strong>Exército</strong>;<br />

- A rede de dados do <strong>Exército</strong> e das Forças<br />

Armadas;<br />

- O centro de monitorização e cálculo do sistema<br />

localizado no IGeoE;<br />

- A rede de comunicações nacional GPRS das<br />

operadoras nacionais.<br />

Esta plataforma permite ao utilizador estabelecer<br />

uma comunicação com o SERVIR, o qual identifica a<br />

sua posição no terreno enviando-lhe as correcções<br />

diferencias em tempo real, permitindo ao utente obter<br />

coordenadas exactas de acordo com os serviços<br />

disponibilizados: RTK - 10 cm; DGPS - 80 cm e ainda<br />

efectuar análise de dados em pós-processamento<br />

com o download dos ficheiros RINEX.<br />

Serviços disponibilizados<br />

pelo Projecto SERVIR<br />

Para aceder aos serviços disponibilizados é<br />

preciso ter permissão de acesso, pelo que o IGeoE<br />

deverá ser contactado através de mailto:igeoe-<br />

@igeoe.pt?subject=ProjectoSERVIR, ou endereço<br />

electrónico geral: igeoe@igeoe.pt, disponibilizado<br />

na página Web do IGeoE (www.igeoe.pt), ou fazer a<br />

inscrição através da página Web das Estações de<br />

Referência (http://213.63.136.12).<br />

Figura 3<br />

Rede servir − Loja RENEX<br />

Os serviços disponibilizados são:<br />

- DGPS: as correcções diferenciais são disponibilizadas<br />

no formato de mensagem RTCM 2.3;<br />

- RTK: As correcções diferenciais são disponibilizadas<br />

nos formatos de mensagens CMR, CMR+,<br />

cujos formatos são proprietários, ou RTCM 2.3 cujo<br />

formato é padrão, e RTCM 3.0;<br />

- A análise de dados em pós-processamento é<br />

possível com o download dos ficheiros RINEX (Receiver<br />

Independent Exchange Format) directamente<br />

da respectiva página Web (http://213.63.136.12)<br />

Benefícios do Projecto<br />

SERVIR<br />

O projecto SERVIR permitiu obter mais valias na<br />

componente interna das Forças Armadas e na<br />

componente externa ao nível do cidadão e de<br />

organizações empreendedoras.<br />

Na componente interna destaca-se o facto de:<br />

- Contribuir para a melhoria das comunicações<br />

da rede de dados do <strong>Exército</strong>;<br />

- Reduzir o tempo e custos de operação na aquisição<br />

dos dados por parte das equipas topográficas<br />

do IGeoE e do IH (Instituto Hidrográfico);<br />

- Aumentar a produtividade com a optimização<br />

dos recursos humanos permitindo o seu emprego<br />

35


Apoio Campo para obter coordenadas de 160 pontos em<br />

WGS84 antes de Abril de 2006<br />

noutras tarefas (planeamento e execução doutros<br />

trabalhos);<br />

- Contribuir para a melhoria da imagem junto do<br />

cidadão quer do IGeoE em particular, quer do<br />

<strong>Exército</strong> e das Forças Armadas em geral.<br />

Conclusão: Para a mesma necessidade de apoio<br />

de campo houve um ganho de 4 semanas e 9 militares.<br />

Na componente externa permitiu:<br />

- Partilhar a informação para todos os intervenientes<br />

(Universidades, Empresas, Organismos Públicos);<br />

- Disponibilizar os serviços 24h por dia / 365<br />

dias por ano;<br />

- Aumentar a produtividade em mais de 50%<br />

para cidadãos empreendedores;<br />

- Reduzir em mais de 25% os custos globais de<br />

operação para os utilizadores;<br />

- Melhorar o serviço prestado ao cidadão<br />

reduzindo os tempos na aquisição de dados;<br />

- Maior celeridade nos processos disponibilizando<br />

a informação online;<br />

- Acompanhar as melhores práticas internacionais<br />

na disponibilização da informação em formato digital;<br />

- Fornecer serviços inovadores acompanhando<br />

a evolução tecnológica e de utilidade pública.<br />

O Projecto SERVIR ganha<br />

o Prémio das Boas Práticas<br />

no Sector Público<br />

Conforme noticiado no passado mês de Julho, no<br />

JE n.º 586, o Projecto Servir do IGeoE foi<br />

galardoado, na categoria de Melhoria de<br />

Processos, com o Prémio Boas Práticas.<br />

Aproveitamos o ensejo para partilhar com os<br />

36<br />

leitores a carta enviada ao IGeoE pela organização<br />

do evento (uma iniciativa da Deloitte e do Diário<br />

Económico, tendo como parceiros a Fundação<br />

Luso-Americana e o Instituto Nacional de<br />

Administração, IP).<br />

“O Prémio Boas Práticas no Sector Público,<br />

reconhecido pela sua independência, visa divulgar<br />

anualmente iniciativas de relevo que sirvam de<br />

exemplo para os diversos organismos e cujas ideias<br />

possam ser reaproveitadas para o aumento de<br />

eficácia, eficiência e externalidades positivas dos<br />

serviços do Estado.<br />

Face ao galardão de excelência alcançado por<br />

V. Exas. na 7ª edição desta iniciativa, vimos por<br />

este meio reforçar as nossas felicitações pela<br />

inovação, empenho e perseverança aplicados no<br />

desenvolvimento da vossa actividade,<br />

ingredientes obrigatórios para a consolidação de<br />

boas práticas.<br />

Esta distinção, é um importante sinal de<br />

reconhecimento público do valor do V. projecto e<br />

um claro sinal da importância da replicação dessa<br />

boa prática. Estamos, pois, convictos que<br />

continuarão a percorrer o caminho da mudança e


Após Abril de 2006, para mesma necessidade de apoio de<br />

campo, houve um ganho de quatro semanas e nove militares<br />

que, como vencedores, irão incentivar outros na<br />

persecução de boas ideias e na implementação de<br />

boas práticas, contribuindo activamente como<br />

mentores da excelência.”<br />

Para obter mais informação consulte http://<br />

www.boaspraticas.com/.<br />

Conclusão<br />

A rede SERVIR, cujo acesso é livre e gratuito desde<br />

Abril de 2006 para qualquer utilizador (enquanto o<br />

orçamento do IGeoE puder suportar os custos de<br />

manutenção), permitiu ao IGeoE efectuar os seus<br />

trabalhos de topografia de forma mais rápida,<br />

económica e com menos recursos humanos,<br />

aumentando assim a sua produtividade. De uma média<br />

de 8 pontos fotogramétricos (PF´s), por dia e por<br />

equipa, passámos para 20 PF´s.<br />

Portugal Continental, nos dias de hoje, pode-se<br />

orgulhar de ter uma das mais modernas redes de<br />

estações de referência GNSS a funcionar em modo<br />

rede - RTK, a nível Europeu.<br />

Tal como a Cartografia Militar, a rede SERVIR está<br />

disponível para quem necessite de a utilizar.<br />

Este importante Prémio e Reconhecimento Público<br />

premeia não só o IGeoE, mas todos os parceiros acima<br />

referidos, assim como ao nível individual de todos<br />

aqueles que directa e indirectamente contribuíram para<br />

a realização deste projecto que hoje é uma<br />

realidade.JE<br />

37


38<br />

Exercício “ZARCO 091”<br />

Exercício “PRISTINA 092”<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

A<br />

Zona Militar da Madeira (ZMM) participou no<br />

Exercício Conjunto “ZARCO 091”, que decorreu, numa<br />

primeira fase, sob a forma de CPX/CAX, entre 22 a 23 de Abril,<br />

no Comando Operacional da Madeira e, numa segunda fase,<br />

como LIVEX, entre 25 e 27 Maio, na região do Caniçal, no<br />

Concelho de Machico.<br />

No cenário do exercício, as Forças Armadas colaboraram<br />

com as Forças e Serviços de Segurança na realização de uma<br />

operação de segurança a uma cimeira na Ilha da Madeira, sobre<br />

a qual pendia um grau de ameaça credível, referente a ataques<br />

No âmbito do aprontamento do 1.º Batalhão de<br />

Infantaria Mecanizado (1.º BIMec), que constitui a<br />

Força Nacional Destacada a enviar para o Kosovo em<br />

Setembro de 2009, realizou-se, entre 15 e 23 de Julho, o<br />

terroristas, num período de normalidade constitucional.<br />

O exercício foi planeado de acordo com o novo<br />

enquadramento legal (Lei n.º 53/2009 – lei de Segurança Interna)<br />

e contou, na fase do CPX, com participação de todas as Forças<br />

e Serviços de Segurança, assim como com o próprio Presidente<br />

do Gabinete Coordenador de Segurança da Região Autónoma<br />

da Madeira, na qualidade de observador.<br />

O exercício “ZARCO 091” teve como objectivos específicos<br />

para o <strong>Exército</strong> treinar os procedimentos tácticos e a proficiência<br />

das forças terrestres em operações, nomeadamente: na<br />

prontidão e acção de comando por parte dos postos de<br />

comando da ZMM (Batalhão de Infantaria e Bateria de Artilharia<br />

Anti-aérea); no emprego de regras de empenhamento (ROE’s)<br />

até ao escalão táctico mais baixo; no Sistema de Defesa Antiaérea<br />

da Madeira, na capacidade de detecção de alvos aéreos a baixa<br />

e muito baixa altitude, nos procedimentos de reporte da BAAA<br />

ao Comando Operacional da Força Aérea e na utilização<br />

adequada das respectivas ROE.<br />

Nos últimos dois anos, a ZMM tem treinado com afinco<br />

estas operações num cenário virtual, o que tem permitido testar<br />

a interoperabilidade de procedimentos operacionais e tácticos<br />

com os outros Ramos das Forças e Serviços de Segurança<br />

sediados na região. O Exercício “ZARCO 091” demonstrou,<br />

novamente, a excelente cooperação existente, quer a nível<br />

operacional, quer a nível táctico, entre a Zona Militar da Madeira,<br />

os outros comandos militares e as entidades primariamente<br />

responsáveis pela segurança interna na Região.<br />

exercício “PRISTINA 092”.<br />

O exercício representou a fase final do aprontamento, onde<br />

foram avaliados os níveis de treino do aperfeiçoamento<br />

operacional alcançado, ministrados durante a aplicação do Plano<br />

de Treino Operacional. Assim, foram praticados, neste exercício,<br />

o planeamento, o controlo e a conduta de Operações Tácticas,<br />

associadas às Operações de Apoio à Paz, no quadro das missões<br />

e tarefas passíveis de serem desempenhadas pelo 1.º BIMec/<br />

KTM, tendo como referencial o ambiente operacional que se<br />

vive no Kosovo e as evoluções possíveis que tal ambiente<br />

pode assumir. Para tal, foi criado um cenário realístico, em<br />

conformidade com a avaliação dos riscos e ameaças do Teatro<br />

de Operações do Kosovo, de forma a permitir à Unidade praticar<br />

as acções militares relacionadas com a missão.<br />

O exercício culminou no dia 23 de Julho de 2009 com o<br />

Distinguished Visitors Day (DVD), estando presente o Comandante<br />

Operacional do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Pina Monteiro,<br />

e diversas entidades militares e civis convidadas.<br />

Entretanto, em paralelo com o exercício, desenvolveram-se<br />

actividades prioritariamente dirigidas à população local, como<br />

uma exposição que decorreu na Sala de Exposições do Centro<br />

Cultural de Fronteira, entre 15 e 23 de Julho, e um Concerto pela<br />

Orquestra Ligeira do <strong>Exército</strong>, em 16 Julho, na Praça do Coreto<br />

de Fronteira.


Lançamento do Livro “Um Certo<br />

Oriente”<br />

Realizou-se, no dia 5 de Junho, no Salão Nobre do<br />

Palácio da Independência, em Lisboa, o lançamento<br />

do livro Um Certo Oriente, da autoria do Sargento-Ajudante<br />

António José Rodrigues.<br />

O livro transporta-nos à cultura Árabe-Islâmica, às<br />

ligações Árabes com Portugal, aos primeiros passos da<br />

Sociedade Islamita. “Cada Crónica é uma janela vista por um<br />

Ocidental, onde não existe uma visão do Oriente e Ocidente,<br />

existe um Ponto de Vista”.<br />

A obra foi apresentada pelo Jornalista Alexandre Guerra,<br />

contando com a presença do Editor da Prefácio, Dr. Nuno<br />

Carvalho, e com uma especial participação do filho do autor,<br />

André Rodrigues.<br />

Faleceu o Tenente-General Lopes<br />

dos Santos<br />

No dia 1 de Agosto de 2009<br />

faleceu o Tenente-General<br />

António Adriano Faria Lopes dos<br />

Santos.<br />

Nascido na freguesia da Sé, concelho<br />

de Bragança, em 28 de Dezembro<br />

de 1919, o Tenente-General António<br />

Adriano Faria Lopes dos Santos iniciou o seu percurso militar<br />

a 6 de Agosto de 1939. Formado com o curso de Engenharia,<br />

foi colocado no desempenho de funções na Escola Prática de<br />

Engenharia em Abril de 1944, após ter sido promovido ao<br />

posto de Alferes, em 1 de Abril de 1944.<br />

Destacou-se no comando dos pelotões de sapadores de<br />

assalto, facto que lhe valeu um louvor aquando da inauguração<br />

das novas instalações da Escola Prática de Engenharia.<br />

Ao serviço da Pátria foi por 4 vezes destacado para<br />

representar as nossas forças além fronteiras, tendo participado<br />

em missões em Macau, Moçambique, Guiné e Cabo-Verde,<br />

durante as décadas de 1950 e 1960.<br />

Foi promovido ao posto de General em 12 de Setembro de<br />

1974, passando à situação de reserva 4 anos mais tarde.<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

39


40<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Leopard motiva visita do Presidente<br />

da Comissão de Defesa Nacional<br />

A<br />

Brigada Mecanizada (BrigMec) recebeu no dia 6 de<br />

Julho de 2009 a visita do Presidente da Comissão de<br />

Defesa Nacional, Dr. Miranda Calha, para assistir à<br />

apresentação do Carro de Combate (CC) Leopard.<br />

Acompanhado pelo Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />

General Pinto Ramalho, e pelo Comandante Operacional,<br />

Tenente-General Pina Monteiro, a visita iniciou-se com a<br />

prestação das honras militares pela Guarda de Polícia à entrada<br />

do Comando da BrigMec.<br />

Após a apresentação, seguiu-se para o Quartel de Cavalaria<br />

para assistir a um briefing sobre os Carros de Combate, seguido<br />

de uma apresentação do CC Leopard e um passeio, para o qual<br />

estavam disponíveis 2 CC Leopard 2 A6.<br />

A visita terminou com a oferta de livros da Brigada ao<br />

Presidente da Comissão de Defesa Nacional.<br />

Nota da Redacção<br />

Um leitor assíduo e atento do Jornal do <strong>Exército</strong>, a quem<br />

agradecemos desde já, identificou, num artigo publicado recentemente<br />

– JE n.º 585, de Junho de 2009, “A Biblioteca do <strong>Exército</strong>” –, uma<br />

afirmação que escapava ao máximo rigor pretendido por esta publicação.<br />

Em causa estava o facto ali transcrito onde se assegurava que o Pe.<br />

Ernesto Augusto Pereira de Salles, Patrono da Biblioteca do <strong>Exército</strong>,<br />

exercera “funções de docência no Instituto dos Pupilos do <strong>Exército</strong> de<br />

Terra e Mar”. Primeiro: o Pe. Perreira de Salles, conforme o Decreto de<br />

17 de Junho de 1911 (Diário do Governo n.º 172, I Série, 26 de Julho<br />

de 1911), foi nomeado como professor para o Instituto Profissional<br />

dos Pupilos dos <strong>Exército</strong>s de Terra e Mar; no entanto, um Diploma de<br />

19 de Agosto de 1911 (Diário do Governo n.º 211, I Série, 9 de Setembro<br />

de 1911) mostra um pedido de exoneração do Pe. Salles daquelas<br />

funções; ora, se os primeiros alunos daquele Instituto só foram<br />

admitidos em Janeiro de 1912, o Pe. Pereira de Salles não exerceu ali, de<br />

facto, funções de docência. Segundo: deve ser esclarecida também a<br />

designação correcta do referido Instituto, que será Instituto Profissional<br />

dos Pupilos dos <strong>Exército</strong>s de Terra e Mar.<br />

No Editorial, do JE nº 585, onde se lê “Igreja do Bom João” deve<br />

ler-se “Basílica do Bom Jesus de Goa”.<br />

Pelas imprecisões, o JE apresenta um pedido de desculpas.


Batalha de Ourique<br />

O<br />

870.º aniversário da Batalha de Ourique celebrouse<br />

em São Pedro das Cabeças e Castro Verde, no<br />

dia 25 de Julho, numa iniciativa conjunta da Câmara Municipal<br />

de Castro Verde e do <strong>Exército</strong> Português.<br />

A Batalha de Ourique foi travada entre D. Afonso<br />

Henriques e um vasto exército muçulmano comandado por 5<br />

reis mouros, a 25 de Julho de 1139, dia de Santiago, que a<br />

lenda popular tinha tomado como patrono da luta contra os<br />

mouros. Conta a lenda que a batalha terá ocorrido nos então<br />

chamados “Campos de Ourique”, sendo São Pedro das<br />

Cabeças uma referência constante na historiografia<br />

portuguesa, como um dos possíveis locais onde terá<br />

decorrido o mítico confronto entre as tropas portuguesas e<br />

muçulmanas. As vitórias militares que D. Afonso Henriques<br />

obteve na sua incursão para sul, partindo de Coimbra, e que<br />

culminaram na Batalha de Ourique, asseguraram-lhe um vasto<br />

território, suficiente para que o Reino de Portugal fosse<br />

conhecido além-fronteiras e para se intitular de Rei de Portugal.<br />

Esta dimensão histórica e cultural foi relembrada nas<br />

palavras do Major José Martinho, do Regimento de Infantaria<br />

n.º3 de Beja, ao referir que a Batalha de Ourique “é um evento<br />

histórico fundamental à consolidação da monarquia lusitana<br />

e alicerce da independência de Portugal.”<br />

Na opinião do presidente da autarquia, Sr. Francisco<br />

Duarte, a celebração do dia 25 de Julho associa o nascimento<br />

de Portugal “enquanto reino independente e autónomo” e<br />

“pode funcionar como uma plataforma de diálogo, de<br />

aprofundar de conhecimentos, de discussão de ideias entre<br />

a sociedade civil, o poder local e o <strong>Exército</strong>, enquanto ramo<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

terrestre das Forças Armadas, encarregado da defesa militar<br />

do País e na participação e representação de Portugal em<br />

diversas missões de paz no estrangeiro.”<br />

A efeméride foi lembrada com um conjunto de iniciativas<br />

que tiveram início pela manhã, com a deposição de flores em<br />

São Pedro de Cabeças, seguida de uma cerimónia militar em<br />

homenagem aos mortos no confronto. A homenagem<br />

prolongou-se pela manhã com nova cerimónia militar frente<br />

à Igreja dos Remédios, cuja tradição indica que foi ali que D.<br />

Afonso Henriques mandou construir uma pequena capela<br />

depois da vitória das suas forças.<br />

Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas celebrado<br />

em Espanha<br />

O<br />

contingente português no NATO Rapid Deployable<br />

Corps, Espanha (NRDC-SP) comemorou a 10 de<br />

Junho, em Bétera, Valência, o dia de Camões, de Portugal e<br />

das Comunidades.<br />

A cerimónia a que assistiram todos os militares colocados<br />

no NRDC-SP e a que presidiu o seu comandante, General<br />

Sánches-Lafuente Caudevilla, teve início com um breve<br />

discurso alusivo à efeméride, proferido pelo Coronel<br />

Carvalhão Tavares. De seguida, procedeu-se à rotação das<br />

bandeiras dos países representados no NRDC-SP, momento<br />

em que as bandeiras foram arreadas ao som do hino nacional<br />

português para serem içadas novamente, depois de rodadas<br />

para a sua nova posição no conjunto dos mastros.<br />

A cerimónia terminou com uma homenagem aos mortos<br />

ao serviço da NATO, após o que os cerca de 80 convidados<br />

do contingente português se dirigiram ao Maestrazgo, um<br />

pavilhão pertencente à messe militar de Bétera, anexo às<br />

instalações do NRDC-SP.<br />

O Major-General Diamantino Correia, “Deputy Commander”<br />

do NRDC-SP e, simultaneamente, “Senior National<br />

Representative” português, recebeu os convidados com<br />

uma curta intervenção onde sublinhou a ligação entre o 10<br />

de Junho e a diáspora portuguesa, após o que presidiu a um<br />

brinde que uniu o país anfitrião e Portugal.<br />

41


42<br />

UNIFORMES MILITARES<br />

Manuel A. Ribeiro Rodrigues<br />

Os Uniformes da Guerra Peninsular (1806 – 1815) (VI)<br />

Oficiais-Generais e Brigadeiros<br />

Marechal-do-<strong>Exército</strong> (1)<br />

Grande-Uniforme<br />

Grande bordadura em fio de ouro por toda a farda<br />

(2), sendo a parte da frente (lado direito e<br />

esquerdo) conforme as fig. 1 e 2, e os canhões das mangas<br />

como a fig. 3.<br />

Figura 1 Figura 2<br />

Figura 3<br />

Pequeno-Uniforme<br />

Somente a bordadura na gola e canhões das mangas.<br />

General<br />

Curiosamente, este é um posto em que existem poucas<br />

referências iconográficas, uma vez que, geralmente, a maioria<br />

dos textos, quando se referem ao posto de General, estão a<br />

referir-se ao posto de Tenente-General, como é ainda hoje<br />

hábito na Armada chamar-se “Almirante” à maioria dos Vice-<br />

Almirantes e, no <strong>Exército</strong>, os Tenentes-Generais e Majores-<br />

Generais serem tratados simplesmente por “General”.<br />

Contudo é necessário distinguir muito bem estes postos.<br />

Neste posto existiam três qualidades a saber: General de<br />

Infantaria, Cavalaria ou Artilharia.<br />

Grande-Uniforme<br />

Grande bordadura em fio de ouro (2), sendo o lado direito<br />

conforme a fig. 4 e o oposto como a fig. 5. Canhão das mangas<br />

bordado como se vê na fig. 6.<br />

Figura 4 Figura 5<br />

Figura 6


Pequeno-Uniforme<br />

Bordadura em fio de ouro igual à do grande uniforme,<br />

mas somente na gola e nos canhões das mangas.<br />

Dragona<br />

Como sinal distintivo, os Generais de qualquer uma das<br />

três Armas, além da bordadura particular do seu posto, ainda<br />

ostentavam, no ombro esquerdo, um sinal distintivo extremamente<br />

curioso, que era uma dragona entrançada a torçal de<br />

fio de ouro, de onde, da sua extremidade, saía um cordão de<br />

fio de ouro entrançado, tendo nas duas extremidades uma<br />

agulheta de metal dourado a fogo, tudo conforme a figura 7.<br />

Estas dragonas com cordão utilizavam-se no Grande e<br />

Pequeno uniforme.<br />

(1) Este posto tem criado certas confusões, nomeadamente com<br />

o de Marechal-de-Campo. O fundador do Real Colégio Militar tinha<br />

este último posto, o que quer dizer que, hierarquicamente, situava-se<br />

entre o Brigadeiro e o General.<br />

(2) Conforme o esquema da fig. 1, publicado no JE n.º 582, de<br />

Março deste ano, p.56.<br />

Ilustrações<br />

Figuras 8, 9 e 10<br />

Trata-se de três gravuras<br />

do Marechal-do-<strong>Exército</strong><br />

e Comandante-em-Chefe do<br />

<strong>Exército</strong> Português William<br />

Carr Beresford, em todas<br />

envergando o Grande Uniforme.<br />

A última gravura foi<br />

dedicada aos Voluntários<br />

Reais do Comércio, por<br />

Henrique José da Silva, e<br />

esculpida por F. Bartolozzi,<br />

em Lisboa no ano de 1812.<br />

Figura 7<br />

Figura 8<br />

UNIFORMES MILITARES<br />

Figura 9<br />

Figura 11<br />

Figura 10<br />

Primeira página da Ordem do Dia publicada com a<br />

nomeação do Marechal-do-<strong>Exército</strong> Beresford, datada de 15<br />

de Março de 1809. Note-se que as Ordens do Dia começaram<br />

a ser publicadas precisamente com esta nomeação, continuando<br />

a ser publicadas até mudarem para o nome que<br />

actualmente têm: Ordens do <strong>Exército</strong>.JE<br />

Todos os desenhos, gravuras e documentos são da colecção do<br />

autor.<br />

43


O<br />

Jornal do <strong>Exército</strong> organiza um concurso de fotografia tendo<br />

por principal objectivo a obtenção de trabalhos fotográficos<br />

para publicação no JE, principalmente para as suas capas/<br />

contracapas, ao qual poderão concorrer todos os amadores e profissionais<br />

de fotografia (militares ou civis).<br />

1. TEMA DO CONCURSO<br />

Ao concurso podem ser apresentados trabalhos fotográficos em papel, a<br />

preto e branco ou a cores, alusivos ao seguinte tema: «O <strong>Exército</strong>, a sua vivência<br />

e o seu património».<br />

Deverão ser abordados aspectos relacionados com a vida militar, privilegiando-se<br />

os trabalhos que valorizem o ramo <strong>Exército</strong>, embora se admitam<br />

trabalhos que foquem acções conjuntas do <strong>Exército</strong> com os outros ramos das<br />

Forças Armadas.<br />

2. QUANTIDADE DE TRABALHOS E FORMATO<br />

Cada participante pode apresentar até 4 trabalhos que deverão ter o formato<br />

mínimo de 15X20 e o máximo de 24X30. Por razões de enquadramento, serão aceites<br />

ainda formatos com outras proporções, desde que não sejam inferiores à área do<br />

formato mínimo nem superiores à área do formato máximo.<br />

3. IDENTIFICAÇÃO DOS TRABALHOS<br />

a) No verso de cada trabalho deverão constar em letra bem legível:<br />

- Nº e Título do trabalho (de acordo com o boletim de inscrição)<br />

- Pseudónimo do autor<br />

b) Juntamente com os trabalhos, deverá ser entregue um envelope<br />

fechado contendo no exterior apenas o pseudónimo do autor e no interior<br />

o boletim de inscrição devidamente preenchido.<br />

4. ENVIO E DEVOLUÇÃO DOS TRABALHOS<br />

a) Os trabalhos poderão ser entregues em mão ou enviados por<br />

correio para:<br />

JORNAL DO EXÉRCITO<br />

“XIII Concurso de Fotografia”<br />

Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />

1069-020 Lisboa<br />

B O L E T I M D E I N S C R I Ç Ã O<br />

P s e u d ó n i m<br />

N o m e<br />

o<br />

M o r a d a<br />

T e le fo n e c ivil T e le fo n e m ilita r U n id a d e<br />

Posto/Profissão ( riscar o q u e n ã o in te re ssa )<br />

N º .F o t o T ítu lo L oc a l/ D e sc r iç ão sum ária<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

b) Os concorrentes terão 30 dias, após a divulgação dos resultados, para<br />

fazer o levantamento dos trabalhos nas instalações do JE.<br />

5. JÚRI DO CONCURSO<br />

a) Os trabalhos recebidos serão apreciados por um júri, a designar pela<br />

organização.<br />

b) As decisões do júri são inapeláveis.<br />

6. PRÉMIOS<br />

a) Serão atribuídos os seguintes prémios:<br />

1º - • 500 / 2º - • 350 / 3º - • 250<br />

b) Os trabalhos premiados ficam na posse da organização.<br />

c) O júri poderá decidir a não atribuição de quaisquer dos prémios ou a sua<br />

atribuição ex aequo e, ainda, as menções honrosas que entender.<br />

7. DIVERSOS<br />

a) O JE poderá utilizar trabalhos seleccionados mas não premiados para<br />

efeitos de publicação, sendo devida, nestes casos, remuneração por colaboração.<br />

b) Será tomado o maior cuidado com os trabalhos recebidos, mas a<br />

organização não se responsabiliza por danos ou extravios que eventualmente<br />

venham a ocorrer.<br />

c) A participação no concurso implica a aceitação integral deste regulamento.<br />

d) Os casos omissos no regulamento serão analisados e esclarecidos pela<br />

organização de cuja decisão não há recurso.<br />

e) Com os trabalhos premiados e seleccionados poderá vir a ser efectuada<br />

uma exposição em local e data a comunicar, caso a quantidade e qualidade dos<br />

trabalhos o justifique.<br />

8. CALENDÁRIO<br />

- Recepção dos trabalhos até 20 de Novembro de 2009<br />

- Reunião do Júri: 27 de Novembro de 2009<br />

- A comunicação dos resultados aos premiados será feita no primeiro<br />

Jornal do <strong>Exército</strong> após a reunião do júri.


O<br />

<strong>Exército</strong>, sob a coordenação da Comissão<br />

Coordenadora para as Comemorações dos 200 Anos<br />

da Guerra Peninsular, dinamizou e apoiou actividades, em<br />

colaboração, nomeadamente, com a Assembleia da República,<br />

autarquias, universidades, escolas e associações cívicas,<br />

relativamente aos acontecimentos correspondentes à 1.ª<br />

Invasão Francesa, estando em curso um conjunto de acções<br />

relativas à 2.ª Invasão e com a participação de diversas<br />

unidades do <strong>Exército</strong>.<br />

Pretende-se organizar, no fim das Comemorações dos<br />

acontecimentos alusivos a cada Invasão, uma publicação com<br />

o título “O <strong>Exército</strong> Português e as Comemorações dos 200<br />

Anos da Guerra Peninsular”, dando relevo às actividades do<br />

<strong>Exército</strong>, nas Comemorações dos 200 Anos dos principais<br />

acontecimentos da Guerra Peninsular, cuja publicação, em<br />

quatro volumes, deverá, em primeira instância, reportar as<br />

diferentes modalidades de apoio ou participação do <strong>Exército</strong><br />

nas Comemorações, levadas a efeito por iniciativa do ramo ou<br />

de outras entidades.<br />

Livros<br />

“O <strong>Exército</strong> Português e as Comemorações dos 200 Anos da Guerra Peninsular<br />

(I Volume − 2007-2008)”<br />

Pretende-se que o “I Volume<br />

- 2007-2008”, relativo às<br />

“Comemorações da 1.ª Invasão”,<br />

espelhe e registe, para<br />

memória futura, os eventos<br />

realizados nos Concelhos e<br />

Autarquias onde ocorreram<br />

comemorações correspondentes<br />

aos acontecimentos<br />

desta Invasão, acompanhados<br />

das correspondentes<br />

análises históricas temáticas,<br />

contando com a colaboração<br />

de especialistas, civis e<br />

militares.<br />

A publicação mencionada, uma obra com mais de 300<br />

páginas, é ilustrada com fotografias dos eventos e iconografia<br />

alusiva aos acontecimentos, numa co-edição do <strong>Exército</strong><br />

Português com a Tribuna da História.JE<br />

45


46<br />

PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS<br />

in Jornal do <strong>Exército</strong> n.º 10 de Outubro de 1960<br />

Soluções deste número:<br />

1 - Base da guarita; 2 - Granadas no portão; 3 - Mãos da sentinela; 4 - Degraus do edifício; 5 - Baioneta da espingarda do rapaz; 6 - Meias<br />

do rapaz; 7 - Burro e moleiro no caminho; 8 - Chaminé no edifício central.<br />

Pretendo assinar o Jornal do <strong>Exército</strong><br />

Para encomendar basta fotocopiar o cupão e enviar para ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO – Secção de<br />

Logística, Rua dos Remédios, n.º 202 – 1140-065 LISBOA<br />

Nome: ____________________________________________________ Profissão: _________________<br />

Morada: ______________________________________________________________________________<br />

Código Postal: __________________ Localidade: ___________________ Telefone: _______________<br />

(Só para Militares) Posto: _________________ Ramo das FA: _______________ NIF: _____________<br />

Assinatura Anual – Continente e Ilhas: € 20.00 - Via Aérea: Países Europeus € 45.00 - Restantes Países € 65.00<br />

Para pedido de números atrasados, ou encadernações, contacte-nos para: Largo S. Sebastião da Pedreira - 1069-020 Lisboa,<br />

Tel: 213 567 700 ou via email: jornal.exercito@sapo.pt<br />

PARA PAGAMENTO DA MINHA ASSINATURA<br />

TRANSFERÊNCIA BANCÁRIA: Nacional 0781 0112 0112 0011 6976 9 – D.G.T.<br />

CHEQUE: junto envio o Cheque n.º - ________________ s/Banco - ______________________ à ordem da<br />

Secção de Logística do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>.<br />

VALE POSTAL: junto envio o vale postal n.º ______________ no valor de ___________________________


Cronologia<br />

1291 (8 de Fevereiro) –<br />

D. Afonso IV nasce em<br />

Lisboa.<br />

1320-1324 – Como<br />

príncipe, desencadeia<br />

uma guerra civil contra<br />

o pai, reclamando direitos<br />

de sucessão.<br />

1325 – É aclamado rei<br />

de Portugal.<br />

1326-1329 – Guerra contra<br />

Afonso Sanches.<br />

1336 – Guerra contra<br />

Afonso XI de Castela.<br />

Descoberta do Arquipélago<br />

das Canárias.<br />

1340 – Assinatura da<br />

paz com Castela, em<br />

Sevilha (10 de Julho).<br />

Comanda a hoste portuguesa<br />

na batalha do<br />

Salado, combatendo os<br />

muçulmanos ao lado de<br />

Afonso XI (30 de Outubro).<br />

1353 – Tratado de comércio<br />

com Inglaterra<br />

(válido por 50 anos).<br />

1355 – Provável envolvimento<br />

no assassinato<br />

de Inês de Castro; o<br />

príncipe herdeiro D.<br />

Pedro desencadeia guerra<br />

contra D. Afonso IV.<br />

D. Pedro é nomeado cogovernador<br />

do reino.<br />

1357 (28 ou 29 de Maio)<br />

– Morre em Lisboa.<br />

Afonso IV<br />

e a Batalha do Salado<br />

Última grande batalha da Reconquista Peninsular,<br />

a Batalha do Salado é um dos mais<br />

importantes episódios de guerra da História,<br />

atendendo à presença de quatro soberanos, ao<br />

desenvolvimento táctico operado e às suas<br />

consequências. Uma batalha onde a presença<br />

militar portuguesa e o comando do rei D. Afonso<br />

IV foram decisivos.<br />

O Comandante<br />

Sétimo rei de Portugal, D. Afonso IV é, ainda hoje,<br />

um monarca com contornos biográficos pouco<br />

definidos, algo “obscurecido” pelo reinado<br />

exaltante de D. Dinis, a montante, e pela tragicomédia<br />

do de D. Pedro I, a jusante. No entanto, reinou<br />

durante 32 anos, um dos mais longos e<br />

conseguidos reinados da História de Portugal.<br />

Começou e terminou o seu magistério em ambiente<br />

de guerra civil “no seio familiar”: ainda príncipe,<br />

contra o pai para sustentar os direitos de sucessão,<br />

pois D. Dinis pretendia entregar a coroa ao filho<br />

bastardo Afonso Sanches; após ser aclamado rei,<br />

quando Afonso Sanches, exilado em Castela,<br />

invade Portugal por Bragança devido ao confisco<br />

dos seus bens; no final, contra o herdeiro da coroa,<br />

decorrente do assassinato de Inês de Castro (1355),<br />

a que terá anuído por razões de Estado, que impeliu<br />

D. Pedro a uma guerra que assolou o País.<br />

Internamente, dedicou-se à centralização do poder<br />

régio e ao desenvolvimento social, legislando<br />

profusamente em termos administrativos e de<br />

justiça, enquanto preceitos de boa governação,<br />

procurando esbater o espartilho municipal do reino<br />

e a ingerência da nobreza senhorial.<br />

Em termos peninsulares, as relações com Castela<br />

estiveram no centro das preocupações de D. Afonso<br />

IV, onde a manutenção de liberdade de acção era o<br />

normativo estratégico, como o provam as políticas<br />

de casamento: casado com D. Beatriz, irmã do rei<br />

Afonso XI, acordou o casamento deste com sua<br />

filha, D. Maria; e foi também em Castela que acertou<br />

casamento para o herdeiro D. Pedro, com D.<br />

Constança, filha de João Manuel, rival político de<br />

Afonso XI. Estes dois últimos casamentos<br />

estiveram na origem da guerra entre os dois Reinos<br />

(1337-1340). No primeiro caso, D. Afonso IV acusou<br />

o genro de repudiar e maltratar a filha; no segundo,<br />

de reter D. Constança em Castela, pois o rei castelhano<br />

opunha-se ao casamento desta em Portugal.<br />

Mas o perigo do inimigo comum muçulmano, que<br />

cercou Tarifa, ameaçando o comércio mediterrânico<br />

D. Afonso IV.<br />

Fonte: http://fotos.sapo.pt<br />

a partir do Estreito de Gibraltar e colocando em<br />

causa o status quo cristão na Península, favoreceu a<br />

paz (Julho de 1340) e viabilizou a guerra combinada<br />

contra Granada e os berberes Benimerines.<br />

Claramente, para D. Afonso IV a defesa das<br />

fronteiras portuguesas ligava-se ao conceito mais<br />

amplo que envolvia o quadro estratégico peninsular.<br />

Daí ter acedido ao pedido de auxílio de Afonso<br />

XI, não sendo de negligenciar o prestígio de<br />

participar numa cruzada com o patrocínio espiritual<br />

de Bento XII, e terá mesmo ganho o cognome de<br />

“O Bravo” na Batalha do Salado, onde a sua<br />

actuação é considerada militarmente decisiva.<br />

Garantida a segurança peninsular e as boas relações<br />

com Castela, D. Afonso IV impulsiona o<br />

desenvolvimento da Marinha, conjugando a<br />

importância da linha de costa com a capacidade<br />

naval. A este facto não são alheios os conflitos<br />

navais recorrentes com os berberes, a reclamação<br />

de soberania das Canárias, descobertas em 1336,<br />

conforme carta enviada ao Papa, em 1345,<br />

lembrando que “os nossos naturais foram os<br />

primeiros que acharam as mencionadas ilhas” e<br />

o importante tratado comercial celebrado com a<br />

Inglaterra, em 1353. Portanto, qual paradoxo, D.<br />

Afonso IV lavrou um próspero reinado de cariz<br />

medieval conjugando uma postura política que<br />

assenta na razão de Estado a visão estratégica que<br />

o coloca nos alvores da modernidade em Portugal.<br />

37


38<br />

Enquadramento<br />

Político-Estratégico da Época<br />

Depois de séculos de dilatação e retracção das<br />

fronteiras peninsulares, no início do séc. XIV, o<br />

mosaico ibérico conta com três reinos cristãos e o<br />

reino muçulmano de Granada.<br />

Em Leão e Castela, vive-se um período de<br />

instabilidade desde que Afonso XI subiu ao<br />

trono, em 1325 (precisamente no mesmo ano que<br />

D. Afonso IV). Instabilidade que encontra raízes<br />

na guerra civil que opõe membros da alta<br />

nobreza, que aproveita os governos de regência<br />

para dominar, e a coroa, que se procura afirmar. A<br />

agravar a situação, Afonso XI tem ameaças<br />

muçulmanas a Sul que impedem a segurança das<br />

fronteiras e obriga o monarca a uma acção<br />

“itinerante” pelo território.<br />

Em Portugal, D. Afonso IV reafirma o papel<br />

centralizador da coroa, sendo o início do seu<br />

reinado marcado pelo conflito interno contra o<br />

seu irmão bastardo, Afonso Sanches. A nível<br />

externo, a cooperação existente entre Portugal e<br />

Castela sustentada no “Acordo de Confirmação”<br />

(1328), pelo qual Afonso XI casa com D. Maria,<br />

filha de D. Afonso IV, cessa quando o rei<br />

português acusa o rei de Castela de<br />

comportamento indigno perante a rainha sua<br />

filha. O resultado é a guerra entre os dois Estados<br />

(1336-1340), marcada por operações terrestres e<br />

navais de reduzida envergadura, confinadas às<br />

fronteiras do Minho, do Alentejo-Estremadura<br />

hispânica e do Algarve.<br />

A coroa de Pedro IV de Aragão atravessa um dos<br />

períodos mais profícuos, mantendo boas relações<br />

com a França e de relativa acomodação com<br />

Castela, que lhe permite uma influência e dinamismo<br />

comercial no Mediterrâneo consideráveis.<br />

Granada é o último bastião muçulmano na<br />

Península. É um enclave ameaçado externamente<br />

pelos cristãos, por um lado, e por Abu-l-<br />

Hasan’Ali, que desde 1331, é sultão do povo<br />

berbere benimerine, ou merínida (substituta da<br />

dinastia dos almóadas no Norte de África).<br />

Na segunda metade da década de 1330, enquanto<br />

os reinos cristãos se digladiam numa guerra de<br />

desgaste sem resultados práticos, Yssuf-Abu-<br />

Hajiab, rei de Granada, firma uma aliança com o<br />

sultão de Marrocos, Abu-l-Hasan’Ali. Se, para<br />

Granada, a motivação é a expansão dos seus<br />

territórios, aproveitando a oportunidade que a<br />

debilidade política (dificuldade de firmar alianças)<br />

e militar (desgaste nos exércitos) oferece, para o<br />

sultão benimerine o status quo que se vive na<br />

Reino de Granada.<br />

Fonte: http://1.bp.blogspot.com<br />

Península, permite-lhe a possibilidade de<br />

concretização do sonho de reedição do al-<br />

Andaluz, edificado por Tarik sete séculos antes.<br />

Acresce que o controlo do Estreito e a importância<br />

que os portos de Málaga, Algeciras<br />

(domínios de Granada), Gibraltar e Tarifa (praças<br />

de Castela) têm no controlo do comércio<br />

marítimo entre o Mediterrâneo e o Atlântico<br />

justificam por si só uma intervenção militar<br />

marroquina na Hispânia.<br />

Assim, em 1338, começam a sentir-se grandes<br />

movimentações navais (equipamento, forças<br />

militares, abastecimentos e, inclusivamente,<br />

famílias) no Estreito de Gibraltar sob o comando<br />

de Abu Malik, filho do sultão de Marrocos. No<br />

ano seguinte, o rei de Granada, com o apoio de<br />

Abu Malik, conquista Gibraltar e outros<br />

territórios no sul da Andaluzia, obrigando<br />

Afonso XI, perante a exaustão das suas forças,<br />

a firmar tréguas com os muçulmanos. Com esta<br />

pausa operacional, o rei de Castela procura<br />

regenerar as suas forças e garantir o tempo<br />

necessário para arregimentar aliados para a<br />

contra ofensiva. Perante as notícias de uma<br />

aliança entre granadinos e benimerines, aproximase<br />

politicamente de Pedro IV de Aragão e de D.<br />

Afonso IV de Portugal e solicita ao Papa Bento<br />

XII as indulgências para a guerra.


Então, quando em princípios de<br />

1340, o sultão de Marrocos<br />

intensifica a transferência de<br />

tropas para Granada, Afonso XI<br />

assina, em Sevilha, um tratado de<br />

paz com Portugal e Aragão de<br />

modo a permitir a estabilidade das<br />

fronteiras a oeste e, assim, orientar<br />

o seu esforço militar para a frente<br />

sul, estabelecendo uma liga<br />

ofensiva e defensiva entre os<br />

reinos cristãos contra a aliança<br />

benimerine. Reúne, então, uma<br />

frota com o apoio de Aragão que<br />

destrói a esquadra muçulmana no<br />

Estreito. A par deste sucesso, em<br />

terra as hostes castelhanas dão<br />

combate a uma hoste marroquina,<br />

na região de Librija (celeiro da<br />

Andaluzia) matando, nesta peleja,<br />

Abu Malik. Este facto é o<br />

catalisador específico que<br />

precipita o desembarque de Abu-l-<br />

Hasan’Ali na Península Ibérica.<br />

Abu-l-Hasan envia forças militares<br />

para a Andaluzia e põe cerco a<br />

Tarifa, cuja defesa se encontra,<br />

apenas, nas mãos de uma reduzida<br />

guarnição. Em resposta, Afonso<br />

XI envia a armada conjunta de<br />

Castela e Aragão para controlar o<br />

espaço naval do Estreito de<br />

Gibraltar, porém, frente a uma<br />

armada mais numerosa e com<br />

superioridade táctica, a armada<br />

cristã sofre uma retumbante derrota, em 16 de<br />

Abril de 1340. Com as linhas de comunicação<br />

marítimas desimpedidas, Abu-l-Hasan’Ali<br />

atravessa o estreito e desembarca o seu exército<br />

em Algeciras, onde as forças do rei de Granada se<br />

lhe reúnem.<br />

Com Tarifa sob assédio e o controlo do estreito<br />

ameaçado, Afonso XI solicita o auxílio do sogro,<br />

através da rainha D. Maria. D. Afonso IV, que<br />

até então negara o auxílio ao genro, perante a<br />

reunião de um poderoso exército muçulmano<br />

nas costas da Andaluzia e a provável<br />

incapacidade da aliança castelhano-aragonesa<br />

para lhe fazer frente, reconhece o risco que um<br />

fracasso cristão pode representar para as<br />

fronteiras portuguesas, pelo que, diante dos<br />

rogos da sua filha, acede em se aliar a Afonso<br />

XI. Mas, impõe como condições que o rei<br />

castelhano expulse da corte a amante Leonor de<br />

Guzman, conceda à rainha D. Maria, sua filha, a<br />

Fonte: http://images.google.pt<br />

Afonso XI de Leão e Castela.<br />

dignidade exigível e permita que D. Constança<br />

viaje para Portugal para materializar os esponsais<br />

previstos com o príncipe D. Pedro de Portugal.<br />

Aceites as condições, Portugal e Castela assinam<br />

a paz em 10 de Julho de 1340.<br />

Portanto, a Batalha do Salado decorre das<br />

recorrentes pressões militares fronteiriças contra<br />

Castela efectuadas pelo rei de Granada, Yusûf I,<br />

em 1339, das dificuldades de navegação cristã<br />

no Estreito e na transferência de um<br />

considerável volume de tropas do sultão de<br />

Marrocos, Abu-l-Hassan’Ali, para Granada, em<br />

inícios de 1340. Esta conjuntura fez soar as<br />

“campainhas de alarme” na cristandade pois<br />

estava em curso uma guerra santa muçulmana<br />

com objectivo de reconquistar o espaço<br />

peninsular cristão. Como resposta, o Papa Bento<br />

XII lança a Bula Exultamus in Te, recuperando o<br />

espírito de cruzada na Península Ibérica e<br />

exortando os reinos cristãos à cooperação.<br />

39


40<br />

A Arte da Guerra<br />

e a Caracterização<br />

do Aparelho Militar Português<br />

Quando, em 1325, D. Dinis morre, a Dinastia<br />

Afonsina está consolidada e a estrutura de<br />

defesa nacional coerente com os superiores<br />

desígnios do Estado. Enquanto a conquista<br />

definitiva do Algarve, ainda no reinado de D.<br />

Afonso III, culmina a reconquista em território<br />

português e fixa as suas fronteiras a Sul, o<br />

Tratado de Alcanises (1297), ajusta questões<br />

territoriais pendentes a Leste, definindo a limes<br />

do reino. Entretanto, cerceando o livre arbítrio do<br />

poder nobiliárquico, as leis promulgadas, em<br />

1290, proíbem as construções de cariz militar<br />

(torres e paços acastelados) nas terras ou solares<br />

de fidalgos, iniciando-se a construção e o<br />

restauro de castelos, onde a introdução de uma<br />

torre de menagem lhes confere um carácter<br />

defensivo mais dinâmico.<br />

Paralelamente, D. Dinis adapta à realidade<br />

portuguesa o Libro de las Siete Partidas de seu<br />

avô, Afonso X de Castela, sendo a Segunda<br />

Partida, referente à organização e doutrina<br />

táctica, a que tem maior influência na<br />

reestruturação da componente militar portuguesa<br />

do século XIV, designada Regimento de Guerra.<br />

Surgem, então, reestruturações na hoste de<br />

grande amplitude, constituindo a organização<br />

dos besteiros de conto o facto inovador. Reflexo<br />

de um corpo militar permanente e profissional em<br />

Portugal, os besteiros de conto assentam o<br />

recrutamento no alistamento regular da antiga<br />

peonagem, preferencialmente mesteirais (homens<br />

de ofícios), estando sujeitos a um treino regular<br />

contínuo. Chamam-se besteiros por combater<br />

com a besta e de conto (ou número), por ser<br />

obrigatório cada concelho fornecer para a hoste<br />

um efectivo previamente fixado.<br />

Assim, a partir de D. Dinis, a hoste real é<br />

constituída por três tipos de cavalaria: a dos<br />

nobres (pesada e paga); a dos cavaleiros vilões<br />

(ligeira e gratuita); a das Ordens Militares (Avis,<br />

Hospital, Santiago, Cristo), com orgânica<br />

específica e carácter profissional. Relativamente à<br />

tropa apeada, existem os besteiros de conto e a<br />

peonagem dos concelhos (arqueiros, lanceiros e<br />

fundibulários). A hoste podia ainda ser<br />

aumentada, em caso de necessidade, pelo sistema<br />

de contratação estipendiária, mercenários e<br />

homiziados. A contratação estipendiária, realizada<br />

internamente à medida das necessidades,<br />

estipulava o número de homens a admitir, o<br />

Fonte: Damião Peres, História de Portugal.<br />

O Armamento no século XIV<br />

Para além das alterações verificadas pelo<br />

Regimento de Guerra, verifica-se por toda a<br />

Europa um aperfeiçoamento na tecnologia<br />

militar. A besta generalizou-se, colocando nas<br />

mãos de peões uma arma que permite atingir<br />

o adversário à distância, em que formações<br />

regulares (aumentando a coesão e o espírito<br />

ofensivo) podem fazer frente, de forma<br />

eficaz, à cavalaria.<br />

O desenvolvimento na arte de trabalhar o<br />

ferro é outra das inovações que garantem<br />

uma alteração significativa neste período da<br />

História. O uso da armadura completa<br />

(arneses) generaliza-se e os elmos passam a<br />

ter debaixo do queixo uma cinta metálica<br />

(barbote ou baveira), a que se articula a<br />

viseira móvel (que se pode erguer acima<br />

deste). Por sua vez, o escudo torna-se mais<br />

pequeno e leve. Os cavalos de guerra são<br />

equipados com caparazões de ferro, o que<br />

aumenta, substancialmente, o peso a<br />

suportar, diminuindo, por isso, a sua<br />

mobilidade no campo de batalha.<br />

armamento a utilizar e o tempo de serviço,<br />

mediante soldo acordado. Quanto aos<br />

homiziados, tratavam-se de indivíduos a contas<br />

com a justiça, que podiam beneficiar da<br />

remissão das penas em situações de guerra,<br />

sendo normalmente orientados para o<br />

Equipamento do séc XIV.


desempenho de acções arriscadas, revelandose<br />

combatentes temíveis, nomeadamente em<br />

África. O recurso a mercenários, prática<br />

generalizada na Europa a partir de finais do<br />

século XIII, consistia no recrutamento de<br />

elementos especializados além fronteiras.<br />

Para além da reestruturação operada ao nível da<br />

hoste real, D. Dinis nacionaliza as Ordens Militares<br />

cujas perceptorias respondem ante mestres<br />

instalados fora de Portugal. Os freires de Palmela<br />

(Santiago), são os primeiros, obtendo D.<br />

Dinis uma bula papal que autoriza os<br />

espatários por- tugueses a<br />

elegerem mes- tre próprio. A<br />

Ordem de Avis (fundada por D.<br />

Afonso Henriques<br />

como Ordem<br />

de Évora,<br />

mas sujeita ao<br />

mestrado castelhano<br />

de Calatrava)<br />

não é<br />

tão célere.<br />

Entretanto,<br />

num<br />

golpe<br />

Fonte: Michele Byam, Armas e armaduras, Editorial Verbo, 1997.<br />

Besteiro do séc XIV.<br />

diplomático de génio, obtém autorização papal<br />

para criar, partir das cinzas da Ordem do Templo<br />

(extinta por Clemente V, em 1312), a Ordem de<br />

Cristo, que marcaria a navegação portuguesa<br />

nos anos vindouros, dando corpo a uma<br />

estratégia naval.<br />

É ainda D. Dinis que regulamenta as seguintes<br />

funções/cargos militares: adaíl, chefe de troço da<br />

cavalaria vilã e dos batedores de terreno, a quem<br />

compete estudar o terreno e o inimigo e<br />

desenvolver acções de peonagem; coudel, que<br />

tem a tarefa de zelar pela boa organização da<br />

cavalaria vilã e da peonagem no seu distrito;<br />

coudel-mor, que fiscaliza esse serviço em todo o<br />

reino; anadel, o responsável pela organização e<br />

treino dos besteiros em cada concelho; anadelmor,<br />

que superintende ao alistamento e<br />

organização dos besteiros de conto em todo o<br />

reino (o anadel-mor e o coudel-mor são<br />

nomeados pelo Rei enquanto os anadeis e os<br />

coudéis pelos concelhos); mantiveram-se os<br />

altos cargos de alferes-mor, fronteiro-mor e<br />

alcaide.<br />

O sistema de convocação dos acontiados<br />

dos concelhos, que abrange as localidades<br />

não sujeitas aos direitos senhoriais, está<br />

regulamentado, cabendo ao coudel-mor e<br />

aos coudéis zelar pela mecânica do<br />

processo. Assim, o coudel avalia os<br />

bens de fortuna de cada residente para<br />

participar nas campanhas com o<br />

armamento e o equipamento prescritos. Esta<br />

informação, permanentemente actualizada,<br />

é passada ao coudel-mor, o responsável<br />

régio pela gestão dos recursos<br />

concelhios. Sempre que necessário, o<br />

coudel concentra os acontiados procedendo ao<br />

alardo (revista).<br />

Em termos de ordem de batalha, a hoste é<br />

organizada em três partes: dianteira, costaneiras<br />

e saga. A unidade táctica é a lança, que<br />

compreende um cavaleiro, um escudeiro, um ou<br />

dois besteiros e um pagem. 150 lanças formam<br />

uma companhia com pendão,<br />

comandada pelo capitão. Em<br />

marcha, a hoste deveria fazê-lo<br />

numa só coluna, não devendo a<br />

dianteira afastar-se mais que um tiro<br />

de besta. A escolha do terreno é tarefa<br />

dos guias que, sob o comando do adaíl,<br />

orienta a hoste. Porém, a orientação geral<br />

efectuada por estes guias é completada pelos<br />

almogávares, que têm o dever de “descobrir a<br />

terra dos inimigos por segurança da hoste”<br />

(Ordenações Afonsinas).<br />

41


44<br />

Descrição da Batalha<br />

Quando o sultão benimerine desembarca em<br />

Algeciras, a 14 de Agosto de 1340 e junta esforços<br />

avultados à intenção do rei granadino de cercar<br />

Tarifa em meados de Setembro, Afonso XI de<br />

Castela solicita apoio, contando com o concurso<br />

de Aragão e de Portugal. Uma frota naval<br />

aragonesa e uma armada de 10 galés portuguesas<br />

seguem, assim, para o Estreito de Gibraltar.<br />

Ao mesmo tempo, D. Afonso IV levanta um<br />

exército, auxiliado pelas sinergias, entre outros,<br />

do prior do Hospital, D. Álvaro Gonçalves<br />

Pereira, do Mestre de Santiago, D. Garcia Peres e<br />

do Mestre de Avis, D. Frei Gonçalo Vaz.<br />

Enquanto os homens convocados na<br />

Estremadura, no Alentejo e no Algarve se<br />

concentram em Elvas, os recrutados em Trás-os-<br />

Montes e Entre Douro-e-Minho seguem<br />

directamente para Sevilha, ponto de reunião dos<br />

efectivos portugueses e castelhanos. Para aí se<br />

dirige também D. Afonso IV, a partir de Évora, ao<br />

encontro do rei de Castela.<br />

Em Sevilha, os monarcas cristãos reúnem com os<br />

seus conselheiros e decidem combater os<br />

muçulmanos, enviando para o efeito “carta de<br />

desafio”. Deste modo, a 16 de Outubro, saem de<br />

Sevilha e marcham para Tarifa, demorando no<br />

percurso 15 dias, durante os quais recebem a<br />

aceitação em dar batalha pelos exércitos inimigos.<br />

Na manhã de 29 Outubro, as hostes cristãs<br />

chegam a Peña del Ciervo, uma pequena serra,<br />

com 400 metros de elevação, a cerca de 4 Km de<br />

Tarifa, onde bivacam, em segurança e a coberto<br />

das vistas inimigas. Neste local, de onde<br />

observam o colossal exército muçulmano, ocorre<br />

um novo conselho de guerra, onde a força<br />

combinada de 18000 cavaleiros e cerca de 40000<br />

peões (os números são muito varáveis consoante<br />

as fontes), maioritariamente castelhanas, onde se<br />

incluem 1000 lanças portuguesas e contingentes<br />

aragoneses e genoveses, é organizada para a<br />

batalha.<br />

Do lado muçulmano, alertados pela marcha do<br />

exército cristão, estes decidem-se pela batalha,<br />

antevendo que a derrota do inimigo não só lhes<br />

garantiria a posse de Tarifa como a necessária<br />

liberdade de acção para uma posterior ofensiva<br />

em larga escala na Península. Apoiam a sua fé na<br />

vitória no poder do número, três vezes superiores<br />

e na escolha do campo de batalha, um terreno<br />

dominante a nordeste de Tarifa, que tinha no rio<br />

Salado uma excelente OAZR, caso a iniciativa de<br />

ataque pertencesse aos cristãos, como<br />

aconteceu. Abu-l-Hasan e Yusûf I<br />

posicionam as suas forças ocupando uma frente<br />

de cerca de cinco quilómetros por dois de<br />

profundidade. No flanco esquerdo, perto do mar,<br />

os benimerines e no flanco direito, na serra, os<br />

granadinos. Enquanto aqueles devem fixar a<br />

frente inimiga e sustentar a posição, estes<br />

atacariam de flanco para envolver os cristãos, se<br />

tentassem forçar passagem pelo rio. No entanto,<br />

separados por um cotovelo do rio Salado, os dois<br />

exércitos carecem de apoio mútuo, além de não<br />

manifestarem preocupações de trabalho<br />

defensivo, o que se estranha num “grupo de<br />

exércitos” que concede a iniciativa da batalha ao<br />

adversário. Como se verificará, o dispositivo<br />

instalado obrigará os exércitos de Granada e<br />

benimerino a combater separados, como se cada<br />

um travasse a sua própria batalha, situação<br />

aproveitada tacticamente pela coordenação de<br />

esforços cristãos.<br />

Ainda na noite de 29 de Outubro, os cristãos<br />

desenvolvem um ardil destinado fragilizar a<br />

capacidade militar moura, enviando um troço<br />

“oculto” de 1 000 cavaleiros e 4 000 infantes pela<br />

linha de costa, que se infiltra em Tarifa. A praça é,<br />

assim, reforçada e sem disso ter conhecimento, o<br />

sultão berbere tem um considerável efectivo<br />

adversário nas suas costas.<br />

Na aurora de 30 de Outubro inicia-se, então, a<br />

Batalha do Salado, com uma ofensiva cristã<br />

coordenada. Afonso XI efectua um ataque<br />

frontal ao dispositivo de Abu-l-Hasan,<br />

secundando a vanguarda comandada pelo<br />

infante de Castela Juan Manuel e apoiado no<br />

flanco direito pelas embarcações fundeadas no<br />

Mediterrâneo, que desembarcam tropas na área.<br />

Complementando a ofensiva, D. Afonso IV,<br />

ataca a cavalaria de Granada, reforçado com a<br />

hoste do príncipe D. Pedro (herdeiro do trono de<br />

Castela) e as cavalarias de Calatrava e do mestre<br />

de Alcântara.<br />

Numa primeira fase, enquanto a vanguarda de<br />

Juan Manuel é travada pela centro dos<br />

benimerines, envolvendo-se em sangrentos<br />

combates corpo-a-corpo nas margens do<br />

Salado, Afonso XI procura forçar passagem<br />

mediante uma reiteração de esforços e D. Afonso<br />

IV, pese a resistência encontrada, consegue<br />

atravessar o rio e fixa as forças da parte central<br />

do dispositivo de Granada. Possibilita assim que<br />

Afonso XI, procurando resolver o impasse na<br />

sua zona de acção, manobre à retaguarda da<br />

vanguarda, que continua empenhada e sem<br />

capacidade de progressão, e ataque o flanco<br />

esquerdo de Abu-l-Hasan. É nesta fase que<br />

Afonso de Benavides, aproveitando a manobra


Esquema da Batalha do Salado.<br />

do rei de Castela, acomete a retaguarda do<br />

sultão com os homens que infiltrara em Tarifa<br />

apanhando-o de surpresa, obrigando-o a<br />

desviar forças e a combater em duas frentes.<br />

Nessa altura, D. Afonso IV contorna a serra e<br />

efectua um envolvimento montado ao<br />

dispositivo de Granada, beneficiando do<br />

ataque apeado que os asturianos, comandados<br />

por Pedro Nuñez de Guzmán, realizam ao<br />

centro. Esta acção instala o pânico no<br />

adversário, obrigando o rei Yusûf I a retirar.<br />

Consumada a derrota granadina, a situação<br />

entre os benimerines rapidamente se degrada.<br />

Fonte: adaptado de Esteves Pereira, Revista Militar, Nov-Dez 1970.<br />

As forças do sultão estão cercadas e o seu<br />

próprio arraial é atacado, culminando a<br />

resistência numa fuga desordenada.<br />

Os cristãos efectuam, de seguida, a<br />

perseguição, que termina na ribeira de<br />

Guadalmesí, regressando, então, ao campo de<br />

batalha, onde recolhem avultados despojos,<br />

enquanto os sobreviventes se refugiam em<br />

Algeciras. A avaliar pelas próprias fontes<br />

árabes, as baixas terão sido avultadas,<br />

considerando a Batalha do Salado “infausta e<br />

cruel para os fiéis que sofreram em grande<br />

número o martírio da espada”.<br />

45


Análise da Batalha<br />

O Salado é uma batalha que demonstra que a maior<br />

quantidade de meios e a boa escolha do terreno<br />

nem sempre são suficientes para a vitória. Da<br />

análise da batalha sobressai a importância da<br />

argúcia e da capacidade de liderança dos<br />

comandantes que, conjugadas eficazmente com a<br />

fundamental ponderação dos restantes factores de<br />

decisão – Missão, Inimigo, Terreno e Meios<br />

(humanos, materiais e de tempo) –, permitem<br />

Carga durante a batalha.<br />

Fonte: http://www.tarifaweb.com<br />

produzir resultados decisivos e alcançar uma vitória<br />

tão significativa.<br />

A vitória da coligação cristã encontra explicações<br />

diversas em factores de ordem táctica que<br />

resultaram da correcta visão e interpretação das<br />

variáveis de combate presentes. Se é certo que a<br />

aliança muçulmana possuía um contingente<br />

superior e colocou as suas tropas num terreno<br />

aparentemente mais vantajoso, apoiado por<br />

obstáculos naturais, a falta de apoio mútuo entre os<br />

dois exércitos, ampliada pela não organização<br />

defensiva do terreno e pela crença desmesurada na<br />

vitória, criaram as condições suficientes para que os<br />

cristãos explorassem da melhor forma as brechas do<br />

dispositivo inimigo. Efectivamente, a escolha da<br />

manobra cristã permitiu a capacidade para criar,<br />

aumentar e explorar as vulnerabilidades<br />

muçulmanas, ao encontrar os intervalos (fraquezas<br />

no sistema defensivo adversário) e,<br />

46<br />

consequentemente, penetrar, envolver e destruir o<br />

dispositivo inimigo.<br />

Inicialmente, a forma de ataque escolhido pelos<br />

cristãos (frontal), tirando partido da falta de apoio<br />

mútuo dos muçulmanos, que o terreno<br />

proporcionava, permitiu fixar a parte central de um<br />

dispositivo adversário com fraco poder de<br />

protecção. Estavam, então, criadas as<br />

circunstâncias para o envolvimento múltiplo do<br />

adversário, materializado num tridente devastador:<br />

Afonso XI ataca o flanco esquerdo de Abu-l-<br />

Hasan, D. Afonso IV efectua um envolvimento<br />

profundo pela direita, acometendo o dispositivo<br />

granadino e, simultaneamente, Afonso de<br />

Benavides desorganiza e provoca o caos na<br />

retaguarda do sultão com a sua infiltração vinda de<br />

Tarifa. Obrigados a combater em diversas frentes,<br />

sem capacidade para alterar o decurso da batalha,<br />

mais não resta aos muçulmanos que a fuga<br />

Torre de la Peña.<br />

Fonte: http://farm1.static.flickr.com<br />

desordenada. Apesar de uma já reduzida<br />

capacidade de apoio logístico, a perseguição<br />

sangrenta e a exploração do sucesso táctico<br />

levadas a cabo pelos cristãos, resultaram na derrota<br />

humilhante e destruição dos exércitos muçulmanos,<br />

com importantes consequências nos seus planos<br />

de reocupação da Península.<br />

Enfim, esta vitória permite aquilatar da presença e<br />

importância dos princípios das operações,<br />

fundamentais para o sucesso militar; realçam-se os<br />

do objectivo, da flexibilidade, da iniciativa, da<br />

surpresa e, principalmente, os da cooperação e da<br />

unidade de esforços. De facto, além do excelente<br />

resultado provocado pelo ardil criado em Tarifa e da<br />

iniciativa do envolvimento da hoste de D. Afonso<br />

IV, o sincronismo ocorrido nas diversas acções<br />

permitiu às forças cristãs coligadas a reunião das<br />

sinergias necessárias para arremeter um adversário<br />

numericamente superior.


Reinos da Península Ibérica à época do Salado.<br />

Consequências da Batalha<br />

A vitória no Salado anulou, em definitivo, a ameaça<br />

muçulmana na Península Ibérica e favoreceu a<br />

estreita colaboração entre Portugal e Castela,<br />

interrompida pelo conflito de 1337-1340. Se, o Reino<br />

de Granada ficou confinado a um espaço territorial<br />

falho de entreajuda externa, os benimerines<br />

perderam a iniciativa da guerra, embora Abu-l-<br />

Hassan’Ali ainda ataque, sem sucesso, as fronteiras<br />

castelhanas, na Primavera de 1341. Devido ao<br />

desastre do Salado, a cooperação estratégica entre<br />

granadinos e marroquinos ressentiu-se<br />

enormemente, a força anímica esvaiu-se e a<br />

capacidade de financiamento para sustentar a<br />

guerra em larga escala ficou comprometida. Aliás, o<br />

saque efectuado pelos cristãos ao arraial<br />

muçulmano em Tarifa foi de tal maneira proveitoso<br />

em metais preciosos que a cotação do ouro e da<br />

prata se ressentiu em algumas praças europeias.<br />

Entretanto, os dois reinos cristãos mantiveram a<br />

ofensiva, derrotando as forças do Crescente numa<br />

importante batalha naval, perto de Ceuta, em 1341,<br />

sendo as 10 galés portuguesas presentes<br />

comandadas pelo Almirante Manuel Pessanha.<br />

Seguiu-se o cerco da praça muçulmana de<br />

Algeciras, no ano seguinte, sitiada por forças<br />

terrestres de Castela e um destacamento de lanças e<br />

besteiros portugueses comandado pelo prior do<br />

Hospital D. Álvaro Pereira, apoiado por meios<br />

navais portugueses, castelhanos, aragoneses e<br />

genoveses. Com os abastecimentos à praça<br />

Fonte: http:// redul.wikispaces.com<br />

cortados, Algeciras, incapaz de resistir, rendeu-se a<br />

Afonso XI em 1344. Definitivamente, as linhas de<br />

comunicação navais de Granada ficaram<br />

estranguladas, embora sustente Gibraltar, onde,<br />

aliás, o rei de Castela perderia a vida em 1350,<br />

durante um cerco.<br />

Enquanto Afonso XI de Castela morria na<br />

reconquista da Andaluzia e passava à História como<br />

o monarca que derrotou a última grande ofensiva<br />

muçulmana na Península, D. Afonso IV<br />

apresentava-se à cristandade como um soberano<br />

capaz de trocar antagonismos seculares dinásticos<br />

pelo combate ao inimigo de fé, sendo enaltecido<br />

como um dos paladinos do Salado. Doravante,<br />

Portugal e Castela norteariam as suas relações pela<br />

acomodação, num respeito mútuo de vizinhança.<br />

Um status relacional que só quebrará nos reinados<br />

de D. Fernando de Portugal e Henrique II de<br />

Castela, no decénio de 1370, numa altura em que as<br />

ondas de choque da Guerra dos Cem Anos afectam<br />

o xadrez político peninsular.<br />

A par da conjuntural relação com Castela, D.<br />

Afonso IV mantém a ligação “estrutural” a Aragão e<br />

aproxima-se comercialmente da Inglaterra, num<br />

prenúncio da secular aliança que D. Fernando e D.<br />

João I firmarão em tratados posteriores. A razão de<br />

Estado impõe-se, à semelhança dos assuntos da<br />

governação que passam, então, a estar no centro<br />

das atenções de um rei que abandona a sela em<br />

proveito do “gabinete”. O passo seguinte é o mar,<br />

visto como elo de comunicação, fonte de riqueza e<br />

espaço de poder.<br />

47


48<br />

Curiosidades<br />

Uma das razões que explicam a firme disposição de<br />

D. Afonso IV em bramir armas em apoio de Afonso<br />

XI, numa altura em que os dois monarcas estavam<br />

em situação de guerra, encontra-se na personagem<br />

que terá motivado o corte de relações, D. Maria, a<br />

malquista rainha de Castela e filha do monarca<br />

português. Efectivamente, Afonso XI, necessitando<br />

do auxílio militar do sogro para anular a ameaça<br />

muçulmana junto às suas fronteiras, socorre-se da<br />

esposa que enviou como parlamentar à Coroa<br />

Portuguesa, onde o rei atendeu os argumentos que<br />

a «Formosíssima Maria» sua filha lhe expôs.<br />

Camões dedica ao episódio algumas estrofes no<br />

Canto III de Os Lusíadas.<br />

102<br />

Entrava a fermosíssima Maria<br />

Pelos paternais paços sublimados,<br />

Lindo o gesto, mas fora de alegria,<br />

E seus olhos em lágrimas banhados.<br />

Os cabelos angélicos trazia<br />

Pelos ebúrneos ombros espalhados.<br />

Diante do pai ledo, que a agasalha,<br />

Estas palavras tais, chorando, espalha:<br />

104<br />

“Aquele que me deste por marido,<br />

Por defender sua terra amedrontada,<br />

Co pequeno poder, oferecido<br />

Ao duro golpe está da Maura espada,<br />

E, se não for contigo socorrido,<br />

Ver-me-ás dele e do Reino ser privada;<br />

Viúva e triste e posta em vida escura,<br />

Sem marido, sem Reino e sem ventura”<br />

Como em outras batalhas entre a Cruz e o Crescente,<br />

também no Salado a lenda marca presença.<br />

O ataque português contra as forças granadinas<br />

revelou-se tarefa complicada, durando o combate<br />

desde a alva até ao pôr-do-sol. A resistência da<br />

hoste de Yusûf I foi de tal forma tenaz que a partir<br />

de determinado momento se temeu o pior do lado<br />

lusitano. Só que, entretanto, chegou ao campo de<br />

batalha a Vera Cruz de Marmelar, uma relíquia do<br />

Autores:<br />

Tenente-Coronel Abílio Pires Lousada, Professor de História Militar do IESM.<br />

Major Luís Falcão Escorrega, Professor de Estratégia do IESM.<br />

Major António Cordeiro Menezes, Professor de Táctica do IESM.<br />

Padrão da batalha do Salado em Guimarães.<br />

Santo Lenho (que tinha sido usado no dia de<br />

véspera durante as manifestações religiosas de<br />

preparação para a batalha). Empunhada pelo prior<br />

da Ordem do Hospital, a sua presença extasiou de<br />

tal forma o coração dos guerreiros portugueses que,<br />

próximo do crepúsculo do dia, a hoste comandada<br />

por D. Afonso IV desbaratou completamente o<br />

infiel, obrigando-o a retirar do campo de batalha.<br />

Afonso XI ordenou, então, que os imensos e<br />

riquíssimos despojos da peleja fossem divididos.<br />

Assim, o quinto real dos mesmos seguiu para Tarifa,<br />

com os prisioneiros, onde o rei de Portugal, a quem<br />

tanto se devia a vitória, podia escolher o que lhe<br />

aprouvesse. Contudo, o monarca português<br />

escolheu apenas uma cimitarra e um sobrinho de<br />

Abu-l-Hasan’Ali que levou para Portugal como<br />

prisioneiro. Com este gesto, D. Afonso IV vincava o<br />

preceito espiritual subjacente à Ordem de Cavalaria,<br />

onde a defesa da cristandade falava mais alto que a<br />

recolha de bens materiais.<br />

Bibliografia<br />

- CONDE, Lorenzo, Las Batallas Decisivas en la Historia del Mundo, San Sebastian, J. Gilbert Editor, 1941.<br />

- COSTA, Célia Pereira da, “A Participação Portuguesa na Batalha do Salado”, in Portugal e os Conflitos Militares<br />

Internacionais, XIV Colóquio de História Militar, CPHM, Lisboa, 2005.<br />

- FERNANDÉZ, Manuel López, “La batalla del Salado sobre la toponimia actual de Tarifa”, in Aljaranda, Nº. 67, año XVII,<br />

Deciembre 2007.<br />

- LEÃO, Duarte Nunes de, Chronica del Rei D. Afonso IV, Porto, Lello & Irmão, 1975.<br />

- PEREIRA, J. A. de Esteves, “Reconquista Cristã da Península Ibérica. Salado (30 de Outubro de 1340)”, in Revista Militar,<br />

Nov/Dez de 1970.<br />

- RIBEIRO, Major Jorge e VALENTE, Major Daniel, A Reconquista da Península e a Batalha do Salado, Trabalho de<br />

Investigação do Curso de Estado-Maior, Instituto de Estudos Superiores Militares, 2008.<br />

- SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, D. Afonso IV, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2005.<br />

Fonte http://www.cm-guimaraes.pt

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