Orquestra Gulbenkian Marc-André Dalbavie maestro Yuriy Mynenko ...
Orquestra Gulbenkian Marc-André Dalbavie maestro Yuriy Mynenko ...
Orquestra Gulbenkian Marc-André Dalbavie maestro Yuriy Mynenko ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
14<br />
—<br />
15<br />
02<br />
quinta 14 Fevereiro 2013<br />
21:00h — Grande Auditório<br />
sexta 15 Fevereiro 2013<br />
19:00h — Grande Auditório<br />
<strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> <strong>maestro</strong><br />
<strong>Yuriy</strong> <strong>Mynenko</strong> contratenor<br />
sexta 15 Fevereiro 2013<br />
21:30h — Grande Auditório<br />
Solistas da <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> <strong>maestro</strong><br />
<strong>Yuriy</strong> <strong>Mynenko</strong> contratenor
MUSICA.GULBENKIAN.PT<br />
parceiro<br />
institucional<br />
parceiros<br />
media
<strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> <strong>maestro</strong><br />
<strong>Yuriy</strong> <strong>Mynenko</strong> contratenor<br />
Claude Debussy<br />
Gigues (Images I)<br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> *<br />
Color<br />
Claude Debussy<br />
Rondes de printemps (Images III)<br />
intervalo<br />
Duração total prevista: c. 2h<br />
Intervalo de 20’<br />
Estes concertos serão gravados pela RTP - Antena 2<br />
* Compositor em residência 12/13<br />
** Estreia mundial (encomenda da Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong>)<br />
quinta 14 Março 2013<br />
21:00h — Grande Auditório<br />
sexta 15 Março 2013<br />
19:00h — Grande Auditório<br />
14<br />
—<br />
15<br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong><br />
Sonnets sur un poème de Louise Labé<br />
I. Clere Venus (V)<br />
II. Ô beaux yeux bruns (II)<br />
III. Je vis, je meurs (VIII)<br />
IV. Lut, compagnon de ma calamité (XII)<br />
V. Pour le retour du soleil honorer (XV)<br />
VI. Ô longs désirs (III)<br />
Três canções populares<br />
[inspiradas em Images de Debussy]**<br />
The Keel Row<br />
Nous n’irons plus au bois<br />
Do, do l’enfant do<br />
Claude Debussy<br />
Ibéria (Images II)<br />
02<br />
03 3
15<br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> *<br />
Sextine Cyclus<br />
Claude Debussy<br />
Danse sacrée et danse profane<br />
As notas à margem para este concerto encontram-se na p. 11 e,<br />
parcialmente, nas páginas 9 e 10.<br />
Duração total prevista: c. 50’<br />
Este concerto será gravado pela RTP – Antena 2<br />
* Compositor em residência 12/13<br />
04<br />
02<br />
sexta 15 Março 2013<br />
21:30h — Grande Auditório<br />
Solistas da <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> direção<br />
<strong>Yuriy</strong> <strong>Mynenko</strong> contratenor<br />
Coral Tinoco Rodriguez harpa<br />
Felipe Rodriguez violino<br />
Oleguer Beltran-Pallarés violino<br />
Samuel Barsegian viola<br />
Varoujan Bartikian violoncelo<br />
<strong>Marc</strong> Ramirez contrabaixo<br />
Sophie Perrier flauta<br />
José Maria Mosqueda clarinete<br />
Abel Cardoso timbales<br />
José Manuel Brandão piano
Claude Debussy<br />
saint-germain-en-laye, 22 de agosto de 1862<br />
paris, 25 de março de 1918<br />
Images<br />
Gigues<br />
composição: 1909–1912<br />
estreia: paris, 26 de janeiro de 1913<br />
duração: c. 8’<br />
Ibéria<br />
Par les rues et par les chemins<br />
Les parfums de la nuit<br />
Le matin d’un jour de fête<br />
composição: 1908–1909<br />
estreia: paris, 20 de fevereiro de 1910<br />
duração: c. 20’<br />
Rondes de printemps<br />
composição: 1905–1909<br />
estreia: paris, 2 de março de 1910<br />
duração: c. 8’<br />
Devemos lembrar constantemente que a beleza<br />
de uma obra de arte é algo que permanecerá sempre<br />
misterioso; ou seja, ninguém poderá afirmar<br />
exatamente como é feito. Preservemos a todo<br />
o custo este elemento mágico peculiar da música.<br />
claude debussy<br />
La revue musicale S.I.M., 1913<br />
Images é uma das derradeiras composições<br />
orquestrais de Debussy, tendo curiosamente<br />
surgido como um projeto para dois pianos,<br />
iniciado em 1905, no mesmo ano em que<br />
Debussy concluíra a composição do primeiro<br />
dos dois livros de Images para piano solo.<br />
Contudo, a riqueza e complexidade contida<br />
nos primeiros esboços de Images terá<br />
naturalmente levado Debussy a repensar<br />
a obra num formato orquestral. Este tríptico,<br />
cujos títulos originais eram Gigues tristes,<br />
Ibéria e Valses, pretendiam ser imagens<br />
sonoras de três países: Inglaterra, Espanha<br />
e França, respetivamente. A lenta e reticente<br />
génese de Images, só definitivamente concluída<br />
oito anos após ter sido iniciada a sua composição,<br />
reflete, por parte de Debussy, a árdua busca<br />
por uma renovada via estética. Por outro lado,<br />
os graves problemas pessoais que afligiram<br />
o compositor durante todo este período –<br />
nomeadamente a devassa pública da sua vida<br />
matrimonial, coincidente com os primeiros<br />
sintomas do cancro que degradaria os restantes<br />
anos da sua vida –, constituíram obviamente<br />
um sério entrave à sua produtividade artística.<br />
Em carta ao seu editor Jacques Durand, datada<br />
de 1907, Debussy justificava a procrastinação<br />
na conclusão de Images: «Estou a tentar escrever<br />
algo de diferente – “realidades”, que é uma<br />
maneira de dizer o que os imbecis chamam<br />
“impressionismo”, termo empregue com<br />
a maior imprecisão, especialmente pelos<br />
críticos de Arte.». Lutando por afirmar uma<br />
música profundamente distinta de tudo<br />
05<br />
debussy © dr
o que tinha sido escrito até à data, Debussy<br />
afirmaria ainda nesse mesmo ano: «Sinto<br />
cada vez mais que a música, pela sua própria<br />
essência, não é algo que possa fluir dentro<br />
das rigorosas formas tradicionais. Consiste<br />
em cores e tempo ritmado.”». De facto,<br />
poder-se-ia definir a música de Debussy<br />
como uma espécie de panteísmo sonoro,<br />
na qual a totalidade das sensações é vertida<br />
em arabescos melódicos, numa subtil<br />
paleta tímbrica e harmónica, cuja singular<br />
organicidade está muito para além das<br />
estruturas musicais tardo-românticas –<br />
não deixando, no entanto, de revelar um<br />
pensamento artístico de excecional coerência.<br />
Porém, o que entenderia Debussy pelo termo<br />
“realidades”? Sabe-se, graças aos muitos textos<br />
que nos deixou, que declinava qualquer tipo<br />
de abordagem musical que implicasse<br />
a sujeição a um programa, a um discurso<br />
narrativo ou a uma descrição sonora mais direta<br />
da realidade exterior. É neste sentido<br />
que surge nos textos de Debussy uma crítica<br />
à música programática de compositores como<br />
Richard Strauss, por exemplo, na qual<br />
se denotasse qualquer tentativa demasiado<br />
06<br />
explícita, literal, de tradução musical.<br />
Opondo-se portanto a uma mimesis mais<br />
racionalista, a qual, segundo ele, não deixa<br />
espaço à imaginação do e spectador, Debussy<br />
antes propõe na sua música uma transposição<br />
sentimental e quimérica da realidade, tentando<br />
captar o que está para além da apreensão<br />
sensível. Através de uma evocação indireta,<br />
a sua música sugere-nos ambientes, sensações,<br />
paisagens, exóticas fragrâncias e cores,<br />
luminosidades… Concebendo a música<br />
enquanto espaço privilegiado de ficção –<br />
sublinhando-se aqui os fortes pontos de contacto<br />
da sua música com a estética literária de<br />
Mallarmé – Debussy propõe-nos a substituição<br />
da ineficaz tradução musical da realidade<br />
objetiva pela visão imaginária, não referencial,<br />
dessa mesma realidade.<br />
Gigues<br />
A profunda melancolia que percorre esta<br />
composição traz à memória a sua denominação<br />
original (Gigues tristes). Debussy retrata-nos<br />
aqui uma Escócia brumosa e sombria, evocada<br />
no melancólico lamento do oboé d’amore,<br />
antecedido pelas misteriosas intervenções<br />
pasto em flor, por vincent van gogh, 1887, rijksmuseum kröller-küller © dr
da orquestra. Uma cor local escocesa é veiculada<br />
através dos vivos ritmos pontuados, característica<br />
evidente da giga, dança tradicional, e pela<br />
breve citação da célebre canção popular<br />
daquele país, The Keel Row.<br />
Ibéria<br />
A secção central de Images é a mais extensa<br />
e também a mais conhecida das composições<br />
deste ciclo orquestral, e a primeira destas<br />
a ser estreada, tendo obtido desde então a plena<br />
aprovação do público. Ibéria é constituída por<br />
três andamentos, notáveis evocações sonoras<br />
de uma Espanha mais imaginada que vivida,<br />
considerando que todos os registos sugerem<br />
que durante a sua vida Debussy não terá passado<br />
mais do que uma memorável tarde em San<br />
Sebastian, localidade espanhola próxima<br />
da fronteira com França, onde assistiu<br />
a uma tourada. Porém, é notório o fascínio<br />
que o compositor nutria pela música espanhola,<br />
que escutou pela primeira vez na Exposição<br />
Mundial de 1889, em Paris. Mais tarde,<br />
em 1913, referindo-se à música hispânica,<br />
Debussy afirmou: «Esta admirável música<br />
popular, tão repleta de imaginação e ritmo,<br />
é uma das mais belas do Mundo».<br />
O primeiro andamento, Par les rues et par les<br />
chemins, é, no essencial, uma alusão à jota,<br />
dança tradicional espanhola, refletida no ritmo<br />
incisivo das castanholas, dos bruscos acentos<br />
e rápidas articulações em tercinas do tecido<br />
orquestral – sugerindo o rasgueado da guitarra –<br />
e das linhas melódicas, de sabor árabe-andaluz,<br />
cuja ornamentação e timbre evocam por vezes<br />
o estridente pitu montañés. Ora envolto numa<br />
aura de mistério, ora veemente e enérgico,<br />
sugerindo uma dialética de luz e sombra,<br />
o discurso é bruscamente interrompido<br />
por fanfarras de metais, que insinuam<br />
o preâmbulo da fiesta.<br />
Les parfums de la nuit, como o próprio título<br />
sugere, trata-se de um enigmático e sinestésico<br />
interlúdio, o qual respira uma refinada<br />
sensualidade sonora.<br />
A sua índole fluída e vaga e a diáfana orquestração<br />
reproduzem na imaginação do ouvinte a suave<br />
brisa noturna que arrasta consigo ecos<br />
de longínquas melodias.<br />
Em Le matin d’un jour de fête, secção final de<br />
Ibéria, regressam em pleno os instrumentos<br />
de percussão (castanholas, sinos, pandeireta…)<br />
que corporizam o ambiente festivo que sobrevém.<br />
A música sugere a lenta transição da noite<br />
para a luminosidade diurna, efeito musical<br />
soberbamente alcançado, do qual Debussy<br />
muito se vangloriava. As cordas, em pizzicato,<br />
sugerem uma vez mais o idioma guitarrístico.<br />
Acerca de Ibéria, o compositor espanhol<br />
Manuel de Falla escreveu: «[Debussy] preservou<br />
na sua memória aquela peculiar luz da Praça<br />
de Touros [da tarde passada em San Sebastian]:<br />
o forte contraste entre a parte inundada de luz<br />
e a que estava coberta pela sombra. [...] Os ecos<br />
das vilas, uma espécie de sevillana – o tema<br />
musical genérico da obra, que parece flutuar<br />
numa atmosfera de luz cintilante; a magia<br />
inebriante das noites da Andaluzia, a alegria<br />
festiva das pessoas dançando ao som de uma<br />
banda de guitarras e bandurrias... tudo isto<br />
rodopia no espaço, aproxima-se e retrocede, e a<br />
nossa imaginação mantém-se continuamente<br />
desperta e deslumbrada com o poder de uma<br />
música intensamente expressiva e variada.».<br />
Rondes de printemps<br />
O incipit textual que antecede a partitura<br />
da última composição de Images – «Viva o mês<br />
de Maio! Bem-vindo o mês de Maio, com o seu<br />
estandarte rústico!» – retirado de um poema<br />
italiano quinhentista, fornece desde logo o mote<br />
à obra. A música, cristalina e fluída, sugere<br />
o moroso despertar da Primavera, emergindo<br />
do torpor invernal até à sua plenitude.<br />
À semelhança do que acontece em Gigues,<br />
a França é evocada através de vagas referências<br />
à canção infantil francesa Nous n’irons plus au bois,<br />
tema musical que Debussy já tinha utilizado<br />
em composições anteriores (como, por exemplo,<br />
na peça para piano Jardin sous la pluie)<br />
e à canção de embalar Do, do, l’enfant, do.<br />
Estes temas são apenas sugeridos de forma<br />
não literal, subliminarmente apresentados,<br />
como se a sua evocação partisse de uma fonte<br />
sonora distante, expostos em breves e fugidios<br />
fragmentos.<br />
luís raimundo<br />
077
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong><br />
<strong>Dalbavie</strong><br />
neuilly-sur-seine, 10 de fevereiro de 1961<br />
Sextine Cyclus<br />
composição: 2000<br />
estreia: minneapolis, 27 de julho de 2000<br />
duração: c. 35’<br />
Color<br />
composição: 2001<br />
estreia: nova iorque, 30 de janeiro de 2002<br />
duração: c. 22’<br />
Sonnets<br />
composição: 2008<br />
estreia: lyon, 6 de março de 2008<br />
duração: c. 20’<br />
Três canções populares<br />
composição: 2013<br />
em estreia mundial<br />
duração: c. 8’<br />
[...] gostava também de te dizer que organizámos<br />
este concerto como uma canção: Refrão (Debussy),<br />
Copla (a minha música), Refrão (Debussy)...<br />
à imagem das canções populares que Debussy<br />
integrou nas suas próprias Images pour orchestre!<br />
marc-andré dalbavie 1<br />
«Coplas»<br />
Obra emblemática do repertório orquestral<br />
do século XX, Images pour orchestre, de Claude<br />
Debussy, faz ecoar, em cada uma das suas<br />
três partes, uma região geográfica, as suas<br />
sonoridades, a sua cultura: a Inglaterra no<br />
primeiro andamento, a Ibéria no segundo<br />
e a França no terceiro. No concerto de hoje,<br />
onde os três andamentos serão ouvidos<br />
pela ordem inversa das respetivas datas de<br />
composição, cada uma destas telas sonoras,<br />
a que acrescem ainda as Danse sacrée et danse<br />
profane, constituem, a um século de distância,<br />
eixos fundamentais que irão enquadrar quatro<br />
808<br />
peças de <strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong>, compositor<br />
em destaque na temporada <strong>Gulbenkian</strong><br />
2012/13: Sextine Cyclus, Color, Sonnets e Três<br />
canções populares.<br />
Sextine Cyclus é um conjunto de pequenas<br />
peças, escritas a partir de poesia trovadoresca<br />
dos séculos XII e XIII, estreadas no ano 2000<br />
pela soprano Joanna Mongiardo e a <strong>Orquestra</strong><br />
de Minneapolis. É uma obra peculiar,<br />
embora não isolada no catálogo de <strong>Dalbavie</strong>,<br />
onde melodias medievais, magnificamente<br />
orquestradas, são sujeitas a uma série de<br />
colorações e desfocagens, como se nos fosse<br />
dado a ler um pergaminho de tempos feudais<br />
através de lentes modernas, com um brilho<br />
pós-impressionista. No concerto de hoje,<br />
a linha vocal será cantada não por uma soprano<br />
mas por um contratenor, <strong>Yuriy</strong> <strong>Mynenko</strong>,<br />
sublinhando a relação entre esta obra e duas<br />
outras do mesmo programa, Sonnets e Três<br />
canções populares, nas quais, como veremos,<br />
“clere venus...”, de louise labé, 1 a edição (1555) © gallica.bnf.fr (bibliothèque nationale de france)
a voz tem a mesma função de enunciar uma<br />
melodia original amplamente retrabalhada<br />
pela orquestra (embora de modos muitos<br />
diversos em cada uma das obras).<br />
Estreada pela <strong>Orquestra</strong> de Paris sob a direção<br />
de Christoph Eschenbach, no Carnegie Hall<br />
de Nova Iorque, Color é uma obra cujo título<br />
explora uma curiosa duplicidade entre<br />
a denotação direta da palavra (a peça assenta<br />
numa notável profusão de colorações)<br />
e a complexa ressonância histórica que lhe<br />
subjaz. Porque, por um lado, “color” é um<br />
termo medieval que indica especificamente<br />
a dimensão melódica, opondo-se a “talea”<br />
(dimensão rítmica) nos motetos da Ars Nova,<br />
no século XIV, e cuja técnica foi recuperada<br />
por Messiaen em pleno século XX,<br />
influenciando as gerações de compositores<br />
franceses que se lhe seguiram. Mas, por<br />
outro lado, “Talea” é também o título de uma<br />
admirável peça de Gérard Grisey – um mestre<br />
do espectralismo e predecessor direto<br />
de <strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong>. Na espessura<br />
dos significados possíveis, a ambivalência<br />
deste título, Color, evoca, deste modo, tanto<br />
a denotação direta da palavra (em inglês<br />
norte-americano), como os inalienáveis ecos<br />
históricos que, com ironia e cultura, se lhe<br />
associam.<br />
A peça propõe uma alternância entre momentos<br />
de uma pulsação rítmica absolutamente<br />
imperiosa, e momentos nos quais, literalmente,<br />
perdemos a noção do tempo, da triagem<br />
do tempo, e os objetos sonoros se inscrevem<br />
numa temporalidade “lisa”, aparentemente –<br />
mas só aparentemente – liberta da contagem<br />
linear. Boulez não está longe...<br />
Estreados pela <strong>Orquestra</strong> Nacional de<br />
Lyon e pelo contratenor Philippe Jaroussky, os<br />
Sonnets partem de versos da poetisa quinhentista<br />
Louise Labé (nascida na cidade em que a obra<br />
foi estreada, Lyon, em 25 de Abril de 1524).<br />
Mulher fascinante, apaixonada, idealista<br />
e absolutamente irreverente para os cânones<br />
sociais da época, deixou uma marca indelével<br />
no ideário feminista e na poesia francesa<br />
renascentista.<br />
Na leitura que <strong>Dalbavie</strong> propõe de seis dos<br />
sonetos de Labé, veremos desenvolver-se<br />
amplamente a ideia mestra do Sextine<br />
Cyclus, entre uma linha melódica “arcaica”<br />
e uma leitura instrumental através de lentes<br />
contemporâneas, com toda uma proliferação<br />
permanente de desfocagens e estereoscopias.<br />
Encomenda da Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong>,<br />
em estreia mundial, as Três canções populares<br />
são, na verdade, melodias populares que Debussy<br />
utilizou na composição das suas Images pour<br />
orchestre: uma canção tradicional inglesa,<br />
The Keel Row, possivelmente datada do século<br />
XVII e que aparece em Gigues, e duas canções<br />
francesas, Nous n’irons plus au bois e Do, do<br />
l’enfant do, integradas por Debussy em Rondes<br />
de Printemps.<br />
A ideia de <strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> foi recuar<br />
às canções na sua forma tradicional e propor<br />
uma moderna visão sinfónica, sem desconhecer<br />
o que Debussy construiu a partir delas – parte<br />
incontornável da sua própria genealogia,<br />
enquanto compositor francês –, mas sem<br />
o citar diretamente.<br />
Ao mesmo tempo que as melodias tradicionais<br />
são enunciadas pelo contratenor, prosseguindo<br />
a senda estética e as soluções técnicas<br />
de Sextine Cyclus e Sonnets, a (re)composição<br />
orquestral das canções aproxima-se do trabalho<br />
a que já assistimos nas Variations orchestrales<br />
sur une œuvre de Janácek 2 , onde <strong>Dalbavie</strong> parte<br />
de uma peça para piano do mestre checo<br />
(o último dos quatro andamentos de Nas Brumas,<br />
de 1912) e nos propõe uma imagem sinfónica<br />
puramente subjetiva da página original: não<br />
tanto a peça de partida, mas uma anamorfose<br />
sonora, uma impressão possível da sua escuta<br />
numa acústica puramente imaginária. Assim<br />
são estas Três canções populares de que Debussy<br />
se apropriou, há um século, e de que <strong>Dalbavie</strong><br />
nos propõe agora uma escuta renovada.<br />
pedro amaral<br />
1 Correspondência com Pedro Amaral.<br />
2 Vide os concertos dos dias 13 e 14 de Dezembro último,<br />
na temporada <strong>Gulbenkian</strong>.<br />
09<br />
9
Claude Debussy<br />
saint-germain-en-laye, 22 de agosto de 1862<br />
paris, 25 de março de 1918<br />
Danses sacrée et profane<br />
para harpa e orquestra de cordas<br />
composição: 1904<br />
estreia: paris, 6 de novembro de 1904<br />
duração: c. 9’<br />
A harpa, um dos instrumentos mais antigos<br />
da História da Humanidade, cuja origem<br />
se perde no tempo, teria de esperar muitos<br />
séculos até sofrer as suas primeiras modificações<br />
estruturais. Foi apenas nos alvores do séc. XIX,<br />
na tentativa de adaptar este instrumento a um<br />
repertório musical de crescente complexidade,<br />
que o famoso fabricante de pianos Sebastian<br />
Érard lhe adaptou um sistema de pedais –<br />
que permitia a utilização do total cromático –,<br />
o que representava um substancial progresso<br />
técnico num instrumento tradicionalmente<br />
diatónico. Contudo, no final do século XIX,<br />
Gustave Lyon, diretor da firma Pleyel,<br />
e concorrente mais direto de Érard, criou<br />
uma alternativa ao sistema de pedais inventado<br />
por este último, apresentando a harpa cromática,<br />
um instrumento sem pedais, com dois planos<br />
cruzados de cordas — um para as notas diatónicas<br />
o outro para as notas alteradas – tendo começado<br />
a produzir este novo instrumento a partir<br />
de 1897. Em 1904, Pleyel conseguiu mesmo<br />
que fossem criados cursos de harpa<br />
nos Conservatório de Bruxelas e de Paris.<br />
De forma a promover o seu produto, a firma<br />
Pleyel encomendou a Debussy uma composição<br />
que pudesse servir como peça de exame final<br />
10<br />
para os alunos deste curso e, paralelamente,<br />
pusesse em evidência o potencial do então<br />
recente instrumento.<br />
As Danses sacrée et profane foram estreadas<br />
sob a direção de Édouard Colonne, tendo como<br />
solista a harpista Lucille Wurmser-Delcourt.<br />
A primeira das danças (Danse sacrée), por<br />
sugestão de Francisco de Lacerda (1869-1934),<br />
foi baseada numa peça para piano deste<br />
compositor português e amigo de Debussy.<br />
No geral, transmite um ambiente etéreo<br />
e solene, dominado por uma escrita fortemente<br />
pentatónica – que sublinha o carácter arcaico<br />
da dança. Excluindo a secção central, a harpa<br />
utiliza essencialmente uma escrita em blocos<br />
de acordes paralelos, tendo as cordas como pano<br />
de fundo ou seus coadjuvantes melódicos.<br />
A mais extrovertida e virtuosista dança profana<br />
surge sem interrupção, utilizando as notas<br />
conclusivas da primeira dança como pulsação<br />
rítmica desta gentil valsa em Ré maior<br />
que partilha alguns elementos melódicos com<br />
o prelúdio para piano La sérénade interrompue<br />
de Debussy. Em ambas as danças evidencia-se<br />
a textura transparente e a riqueza harmónica<br />
distintivas da sua música.<br />
luís raimundo<br />
carruagem de apolo, por odilon redon, c. 1914, musée d’orsay © dr
Sonetos de Louise Labé<br />
V<br />
Clere Venus, qui erres par les Cieus,<br />
Entens ma voix qui en pleins chantera,<br />
Tant que ta face au haut du Ciel luira,<br />
Son long travail et souci ennuieus.<br />
Mon oeil veillant s’atendrira bien mieus,<br />
Et plus de pleurs te voyant getera.<br />
Mieus mon lit mol de larmes baignera,<br />
De ses travaus voyant témoins tes yeus.<br />
Donq des humains sont les lassez esprits<br />
De dous repos et de sommeil espris.<br />
J’endure mal tant que le Soleil luit :<br />
Et quand je suis quasi toute cassee,<br />
Et que me suis mise en mon lit lassee,<br />
Crier me faut mon mal toute la nuit.<br />
II<br />
O beaus yeus bruns, ô regars destournez,<br />
O chaus soupirs, ô larmes espandues,<br />
O noires nuits vainement atendues,<br />
O jours luisans vainement retournez :<br />
O tristes pleins, ô desirs obstinez,<br />
O tems perdu, ô peines despendues,<br />
O mile morts en mile rets tendues,<br />
O pires maus contre moy destinez.<br />
O ris, ô front, cheveus, bras, mains et doits :<br />
O lut pleintif, viole, archet et vois :<br />
Tant de flambeaus pour ardre une femmelle !<br />
De toy me plein, que tant de feus portant,<br />
En tant d’endrois d’iceus mon coeur tatant,<br />
N’en est sur toy volé quelque estincelle.<br />
V<br />
Vénus tão clara, que erras pelo firmamento,<br />
Escuta a minha voz que em lamentos cantará,<br />
Enquanto o teu rosto no alto Céu cintilará,<br />
O seu infindo trabalho e custoso tormento.<br />
O meu olho vela enternecido a contento,<br />
E ao ver-te muitas lágrimas verterá,<br />
Sobre o meu leito húmido, e o banhará,<br />
Disso teus olhos têm conhecimento.<br />
Pois são dos humanos as almas cansadas<br />
Em seu repouso e sono apaixonadas.<br />
Não suporto mais o Sol em seu fulgor:<br />
E quando estou quase toda desfeita,<br />
E o meu corpo exangue no leito se deita,<br />
Toda a noite eu choro a minha dor.<br />
II<br />
Ó belos olhos castanhos, ó olhares fugidios,<br />
Ó quentes suspiros, ó lágrimas jorradas,<br />
Ó negras noites em vão desperdiçadas,<br />
Ó luminosos dias que em vão vi repetidos!<br />
Ó queixas febris, ó tempos perdidos,<br />
Ó desejo obstinado, ó penas sufocadas,<br />
Ó mil mortes aguardando em mil ciladas,<br />
Ó males piores contra mim acontecidos!<br />
Ó risos, ó fronte, cabelos, braços, mãos e dedos!<br />
Ó alaúde dolente, viola, arco, voz que diz segredos!<br />
Quanta chama neste peito de fêmea nasce!<br />
E quanto mais me queima, mais lamento<br />
Que desse fogo que arde tão violento<br />
Nem uma só fagulha te alcançasse.<br />
11
VIII<br />
Je vis, je meurs : je me brule et me noye.<br />
J’ay chaut estreme en endurant froidure :<br />
La vie m’est et trop molle et trop dure.<br />
J’ay grans ennuis entremeslez de joye :<br />
Tout à un coup je ris et je larmoye,<br />
Et en plaisir maint grief tourment j’endure :<br />
Mon bien s’en va, et à jamais il dure :<br />
Tout en un coup je seiche et je verdoye.<br />
Ainsi Amour inconstamment me meine :<br />
Et quand je pense avoir plus de douleur,<br />
Sans y penser je me treuve hors de peine.<br />
Puis quand je croy ma joye estre certeine,<br />
Et estre au haut de mon desiré heur,<br />
Il me remet en mon premier malheur.<br />
XII<br />
Lut, compagnon de ma calamité<br />
De mes soupirs témoin irreprochable,<br />
De mes ennuis controlleur veritable,<br />
Tu as souvent avec moy lamenté :<br />
Et tant le pleur piteus t’a molesté<br />
Que commençant quelque son delectable,<br />
Tu le rendois tout soudein lamentable,<br />
Feingnant le ton que plein avoit chanté.<br />
Et si te veus efforcer au contraire,<br />
Tu te destens et si me contreins taire :<br />
Mais me voyant tendrement soupirer,<br />
Donnant faveur à ma tant triste pleinte :<br />
En mes ennuis me plaire suis contreinte,<br />
Et d’un dous mal douce fin esperer.<br />
12<br />
VIII<br />
Eu vivo, eu morro: queimada ou em agonia.<br />
Sinto calor extremo ou tremo de frio:<br />
O mundo ora me é duro ora dele me rio.<br />
Tenho grande tristeza e momentos de alegria:<br />
Tanto rio como choro ao mesmo tempo,<br />
No prazer sofro tormento e grande tortura:<br />
O meu bem vai para sempre e nunca dura:<br />
Tão depressa seco como logo tomo novo alento.<br />
Assim o inconstante Amor me domina:<br />
E quando penso que sofro dor aumentada<br />
Vejo de repente que o meu mal me finda.<br />
Mas quando penso que a minha alegria se descortina,<br />
E estou no auge da felicidade ansiada,<br />
Logo ele me devolve a dor vivenciada.<br />
XII<br />
Alaúde, companheiro da minha calamidade,<br />
Testemunha fiel dos meus suspiros,<br />
Ouvinte sincero das minhas dores,<br />
Comigo tantas vezes lamentaste:<br />
Com tantos lamentos te perturbava,<br />
Que, buscando tu som deleitado,<br />
De súbito soltavas grito lamentado,<br />
Fingindo o tom que te cantava.<br />
E quando te quero pôr alegre a tocar,<br />
Ficas mais brando e a mim me fazes calar:<br />
Mas vendo-me ternamente a suspirar,<br />
Com esta tristeza outra coisa não me resta<br />
Senão render-me a uma miséria como esta,<br />
De um doce mal doce fim esperar.
XV<br />
Pour le retour du Soleil honorer,<br />
Le Zephir, l’air serein lui apareille :<br />
Et du sommeil l’eau et la terre esveille,<br />
Qui les gardoit l’une de murmurer,<br />
En dous coulant, I’autre de se parer<br />
De mainte fleur de couleur nompareille.<br />
Ja les oiseaus es arbres font merveille,<br />
Et aus passans font l’ennui moderer :<br />
Les Nynfes ja en mile jeus s’esbatent<br />
Au cler de Lune, et dansans l’herbe abatent :<br />
Veus tu Zephir de ton heur me donner,<br />
Et que par toy toute me renouvelle ?<br />
Fay mon Soleil devers moy retourner,<br />
Et tu verras s’il ne me rend plus belle.<br />
III<br />
O longs désirs, O esperances vaines,<br />
Tristes soupirs et larmes coutumieres<br />
A engendrer de moy maintes rivieres,<br />
Dont mes deus yeus sont sources et fontaines :<br />
O cruautez, o durtez inhumaines,<br />
Piteus regars des celestes lumieres :<br />
Du coeur transi o passions premieres,<br />
Estimez vous croitre encore mes peines ?<br />
Qu’encor Amour sur moy son arc essaie,<br />
Que nouveaus feus me gette et nouveaus dars :<br />
Qu’il se despite, et pis qu’il pourra face :<br />
Car je suis tant navree en toutes pars,<br />
Que plus en moy une nouvelle plaie,<br />
Pour m’empirer ne pourroit trouver place.<br />
XV<br />
Para o regresso do Sol honrar,<br />
O Zéfiro agita o ar perfeito:<br />
E faz água e terra saltar do leito,<br />
Pondo uma delas a murmurar,<br />
Correndo suave, e a outra a brotar<br />
Flores e cores sem par.<br />
Os pássaros as árvores encantam<br />
Deleitam os viajantes que passam.<br />
Já as Ninfas em mil danças desatam,<br />
Ao luar saltando, as ervas abatem<br />
Zéfiro, queres-me tu para a festa convidar,<br />
Para que eu, por ti, me possa renovar?<br />
Faz o Sol regressar a esta donzela<br />
E verás se não fica mais bela.<br />
III<br />
Ó esperanças vãs, o desejos vazios,<br />
Tristes suspiros, lágrimas tão choradas<br />
Saindo de mim em longas cascatas,<br />
Fazendo dos meus olhos nascentes e rios:<br />
Ó crueldades, o desumanos rigores,<br />
Olhares impiedosos dos céus trazidos:<br />
Das primeiras paixões o coração transido,<br />
Quereis vós aumentar mais as minhas dores?<br />
Que Amor me atinja de setas o coração<br />
E continue a atirar fogo e dardos,<br />
Que dele venha o despeito e o rancor:<br />
Pois sangro tanto, por tantas partes<br />
Que mais uma procuraria em vão,<br />
Que mais me ferisse na minha dor.<br />
13
Três Canções Populares<br />
The Keel Row<br />
As I came thro’ Sandgate,<br />
Thro’ Sandgate, thro’ Sandgate,<br />
As I came thro’ Sandgate,<br />
I heard a lassie sing:<br />
14<br />
‘O, weel may the keel row,<br />
The keel row, the keel row,<br />
O weel may the keel row<br />
That my laddie’s in.’<br />
‘O wha’s like my Johnnie,<br />
Sae leish, sae blithe, sae bonnie?<br />
He’s foremost ‘mang the mony<br />
Keel lads o’ coaly Tyne;<br />
He’ll set or row sae tightly<br />
Or, in the dance sae sprightly,<br />
He’ll cut and shuffle slightly,<br />
‘Tis true, were he nae mine.’<br />
‘He wears a blue bonnet,<br />
Blue bonnet, blue bonnet,<br />
He wears a blue bonnet<br />
A dimple in his chin.<br />
And weel may the keel row,<br />
The keel row, the keel row,<br />
And weel may the keel row<br />
That my laddie’s in.’<br />
Nous n’irons plus au bois<br />
(Théodore de Banville, 1823-1891)<br />
Nous n’irons plus au bois, les lauriers sont coupés.<br />
Les Amours des basins, les Naïades en groupe<br />
Voient reluire au soleil en cristaux découpés<br />
Les flots silencieux qui coulaient de leur coupe.<br />
Les lauriers sont coupes et les cerfs aux abois<br />
Tressaille au son du cor; nous n’irons plus au bois,<br />
Où des enfants charmants riait la folle troupe<br />
Sous les regards des lys aux pleurs du ciel trempés,<br />
Voici l’herbe qu’on fauche et les lauriers qu’on coupe.<br />
Nous n’irons plus au bois, les lauriers sont coupés.<br />
Dá ao remo<br />
Quando passava por Sandgate,<br />
Por Sandgate, por Sandgate,<br />
Quando passava por Sandgate,<br />
Ouvi uma rapariguita cantar:<br />
Dá ao remo no barco,<br />
Ao remo no barco, ao remo no barco,<br />
Dá ao remo no barco<br />
Que vem aí o meu amor.<br />
Como é o meu rapaz,<br />
Será bom, será alegre, será gentil?<br />
É o mais belo de todos os<br />
Barqueiros do rio Tyne;<br />
No barco não há quem mais reme<br />
A dançar não há quem mais dance<br />
A dar e a baralhar não há quem o alcance<br />
Ou não fosse ele o meu amor.<br />
Ele tem um gorro azul,<br />
Um gorro azul, um gorro azul<br />
Ele tem um gorro azul<br />
E uma covinha no queixo.<br />
Dá ao remo no barco,<br />
Ao remo no barco, ao remo no barco,<br />
Dá ao remo no barco<br />
Que vem aí o meu amor.<br />
Ao bosque não iremos mais<br />
Ao bosque não iremos mais, os loureiros estão cortados.<br />
Os Amores dos baixios, as Náiades em grupo feito<br />
Vêem reluzir o sol em cristais recortados<br />
As águas silenciosas que corriam do seu leito.<br />
Os loureiros estão cortados e os cervos, temerosos<br />
por demais,<br />
Estremecem ao som da trompa; ao bosque não<br />
iremos mais,<br />
Onde em alegre bando crianças encantadoras se<br />
riam a preceito.<br />
Sob o olhar das flores-de-lis, de lágrimas de céus<br />
molhados,<br />
Eis a erva que se ceifa e os loureiros que se cortam<br />
a eito.<br />
Ao bosque não iremos mais, os loureiros estão cortados.
Dodo, l’enfant do<br />
Dodo, l’enfant do,<br />
L’enfant dormira bien vite<br />
Dodo, l’enfant do<br />
L’enfant dormira bientôt.<br />
Une poule blanche<br />
Est là dans la grange.<br />
Qui va faire un petit coco<br />
Pour l’enfant qui va fair’ dodo.<br />
Dodo, l’enfant do,<br />
L’enfant dormira bien vite<br />
Dodo, l’enfant do<br />
L’enfant dormira bientôt.<br />
Tout le monde est sage<br />
Dans le voisinage<br />
Il est l’heure d’aller dormir<br />
Le sommeil va bientôt venir.<br />
Óó, meu menino, óó<br />
Óó, meu menino, óó<br />
O menino vai dormir já<br />
Óó, meu menino, óó<br />
Vai dormir de um sono só.<br />
A galinha branca<br />
Está ali na granja.<br />
Vai pôr um ovo pro<br />
Menino que vai fazer óó.<br />
Óó, meu menino, óó<br />
O menino vai dormir já<br />
Óó, meu menino, óó<br />
Vai dormir de um sono só.<br />
Toda a gente da vizinhança<br />
Sabe que é assim a usança<br />
Está na hora de ir dormir<br />
O sono já está quase a vir.<br />
15
Sextine Cyclus<br />
Lo ferm<br />
arnaut daniel<br />
Lo ferm voler q’el cor m’intra. no-m pot jes becs<br />
escoissendre ni ogla. de lausengier qui pert per maldir<br />
s’arma. e car non l’aus batr’ab ram ni ab verga. silvals a<br />
frau lai o non aurai oncle. jauzirai joi en vergier o dinz<br />
cambra.<br />
Ce fu en Mai<br />
moniot d’arras<br />
Ce fu en Mai,<br />
Au douz tens gai,<br />
Que la sesons est bele ;<br />
Main me levai<br />
Joser m’alai<br />
Lez une fontenele ;<br />
En un vergier<br />
Clos d’esglantier,<br />
Oï une viële.<br />
La, vi dancer<br />
Un chevalier<br />
Et une damoisele.<br />
Cors orent gent<br />
Et avenant<br />
Et moult tres biau dançoient<br />
En acolant<br />
Et en besant<br />
Mult biau se deduisoient.<br />
En un destor,<br />
Au chief du tour,<br />
Dui et dui s’en aloient ;<br />
Desor la flor<br />
Le gieu d’amor<br />
A leu plesir fesoient.<br />
J’alai avant<br />
Trop redoutant<br />
Que nuls d’els ne me voie,<br />
Mat et pensanz<br />
Et desirant<br />
D’avoir autre tel joie !<br />
Lors vi lever<br />
Un de leur per<br />
De si loing com g’estoie :<br />
16<br />
A firme vontade<br />
arnaut daniel<br />
A firme vontade que no coração me entra / nem<br />
língua a pode quebrar nem unha de maledicente/<br />
que por maldizer perde a sua alma / não ousando<br />
bater-lhe com ramo ou verga / a sós e às escondidas<br />
onde não tenho nenhum tio / gozarei o meu prazer<br />
em vergel ou quarto.<br />
Foi em Maio<br />
moniot d’arras<br />
Foi em Maio,<br />
No tempo alegre e doce,<br />
Foi na bela estação,<br />
Que cedo me levantei<br />
E brincar eu fui<br />
Perto de uma fonte.<br />
Num vergel<br />
Cheio de roseiras-bravas,<br />
Ouvi uma sanfona.<br />
Ali vi dançar<br />
Um cavaleiro<br />
E uma donzela.<br />
Ambos bem parecidos<br />
E graciosos<br />
Que bem os dois dançavam<br />
Que bem se abraçavam<br />
E beijavam<br />
E grande era o seu prazer.<br />
Mas depois foram<br />
Os dois embora<br />
Os dois dali para fora<br />
Em cima das flores<br />
o jogo de amor<br />
Fizeram a seu belo prazer.<br />
Fui à frente<br />
Cheio de medo<br />
Que algum deles me visse,<br />
Triste e pensativo<br />
E desejando<br />
Ter também tais prazeres!<br />
Depois vi<br />
Levantar-se um deles<br />
Falando de longe
Et apeler<br />
Et demander<br />
Qui suit, et que queroie.<br />
J’alai ver aus,<br />
Di lor mes maus,<br />
Que une Dame amoie<br />
A qui, loiaux<br />
Sans estre faus,<br />
Tout mon vivant seroie ;<br />
Por qui plus sent<br />
Paine et torment<br />
Que dire ne porroie !<br />
Las ! Or morrai,<br />
Car bien le sai,<br />
S’ele ne m’i ravoie !<br />
Cortoisement<br />
et gentiment<br />
Chascuns d’els me ravoie,<br />
Et dient tant<br />
Que Diex, briément,<br />
M’envoit de cele joiepour qui j’atent<br />
Grant marrement !<br />
Et je leur en rendoie<br />
Merciz mult grant ;<br />
Et en plorant<br />
A Dieu les commandoie<br />
Desjosta…<br />
peire d’alvernhe<br />
Desjosta’ls breus jorns e’ls loncs sers<br />
qan la blanc’aura brunezis,<br />
vuoill que branc e que bruoill mos sabers<br />
d’un nou joi qe’m fruich’e’m floris ;<br />
car del doutz fuoill vei clarzil los garrics,<br />
per qe’s retrai entre’ls enois e’ls freis le rossignols<br />
e’l tortz e’l gais e’l pics.<br />
Contr’aisso m’agrada’l parers<br />
D’amor loindan’e devezis<br />
Car pauc val levars ni jazers<br />
A lui ses lieis cui es aclis ;<br />
C’amors vol gaug e guerpis los enics,<br />
E qui s’esgau a l’ora q’es destreis,<br />
Be’m par q’a dreit li vol esser amics.<br />
Per qu’ieu mi pens : ja no t’en desrazics,<br />
quan mi conquis en loc on ilh me seis<br />
plus que se’m des Franssa lo reis Loics.<br />
E chamando-me<br />
Para me perguntar<br />
Quem era e o que procurava.<br />
Fui ao encontro deles<br />
E falei-lhes dos meus males<br />
Que amava uma donzela<br />
A quem seria leal,<br />
Sem ser falso,<br />
Por toda a minha vida.<br />
Por ela sofria<br />
Penas e tormentos<br />
Mais do que sabia dizer<br />
Ai! Decerto morreria<br />
E bem o sei<br />
Se prestes não fosse minha.<br />
Com cortesia<br />
E simpatia<br />
Ambos me confortaram<br />
E disseram<br />
Que agora<br />
Deus me traria alegria<br />
De quem esperava<br />
Penas e tormentos!<br />
E desde então me senti<br />
A eles muito obrigado,<br />
E chorando<br />
Deles me despedi.<br />
Quando os dias…<br />
peire d’alvernhe<br />
Quando os dias são breves e as noites longas<br />
e quando a branca brisa se torna sombria,<br />
quero que o meu saber crie ramos e rebentos,<br />
e que brote uma nova alegria que me faça ter frutos<br />
e flores.<br />
Pois vejo os carvalhos despirem-se das suas doces<br />
folhas…<br />
E é por isso que se escondem, de dor e de frio,<br />
o rouxinol, o tordo, o gaio e o picanço-verde.<br />
Tudo isto me parece semelhante<br />
Ao amor, longínquo ou próximo,<br />
porque pouco importa estar de pé ou deitado<br />
a quem está privado daquela que ele ama.<br />
Porque o Amor quer alegria e foge das pessoas tristes,<br />
e aquele que se alegra por um momento da sua<br />
infelicidade,<br />
parece-me que tem o direito de ser seu amigo.<br />
É por isso que eu penso: não te afastes do lugar onde,<br />
quando ela me conquistou, me coroou<br />
mais do que se o Rei Louis me tivesse dado a França.<br />
17
Lo ferm<br />
Qan mi soven de la cambra. on a mon dan sai que<br />
nuills hom non intra. anz me son tuich plus que<br />
Fraire ni oncle. non ai membre no-m fremisca neis<br />
l’ongla. aissi cum fai l’enfas denant la verga. tal<br />
paor ai no-l sia trop de l’arma.<br />
Under der Linden<br />
walther von vogelweide<br />
Under der linden an der heide.<br />
dâ unser zweier bette was,<br />
Da mugt ir vinden schône beide liebevoll<br />
gebrochen<br />
gebrochen blumen unde gras.<br />
Vor dem walde in einem tal,<br />
tandaradei,<br />
schône sanc diu nahtegal.<br />
Ich kam gegangen zuo der ouwe:<br />
dô was mîn friedel komen ê.<br />
Dâ wart ich enpfangen, hêre frouwe, daz ich bin<br />
sælic iemer mê.<br />
daß es mich immer glücklich machen wird<br />
Kuste er mich? Wol tûsentstunt:<br />
Kuste er mich? Wol tûsentstunt:<br />
tandaradei,<br />
seht wie rôt mir ist der munt.<br />
Dô het er gemachet âlso rîche in aller Pracht<br />
von bluomen eine bettestat.<br />
Des wird noch gelachet inneclîche<br />
kumt iemen an daz selbe pfat<br />
Bî den rôsen er wol mac, er = iemen<br />
tandaradei,<br />
merken wâ mirz houbet lac.<br />
Daz er bî mir læge, wessez iemen wüsstees jemand<br />
(nu enwelle got!), sô schmt ich mich.<br />
Wes er mit pflæge, niemer<br />
niemen niemals soll jemand bevinde daz wan er<br />
und ich – als<br />
Und ein kleinez vogellîn,<br />
tandaradei,<br />
daz mac wol getriuwe sîn.<br />
Lo ferm<br />
Del cors li fos non de l’arma. e cossentis m’a celat<br />
dinz sa cambra. quel plus mi nafra-l cor que colps<br />
de verga. car lo sieus sers lai on ill es non intra.<br />
totz temps serai ab lieis cum carns et ongla. e non<br />
creirai chastic d’amic ni d’oncle.<br />
18<br />
A firme vontade [continuação]<br />
Quando me lembro do quarto / onde para meu<br />
mal sei que nenhum homem entra / mas todos me<br />
são piores do que irmão ou tio / [todos os meus<br />
membros tremem até às unhas] / como sucede à<br />
criança perante a verga / tal é o medo de não ser seu<br />
na minha alma.<br />
Sob as Tílias<br />
walther von vogelweide<br />
Sob as Tílias, lá no prado,<br />
Onde fizemos a nossa cama.<br />
Ainda podeis ver:<br />
As flores partidas e a erva pisada,<br />
Na orla do bosque, lá no vale –<br />
Tralalala! –<br />
Como era belo o canto do rouxinol!<br />
Fui para o prado,<br />
O meu amor também.<br />
E recebeu-me como mulher, ai Nossa Senhora!,<br />
Oh, como me fez feliz.<br />
Se me beijou? Mil vezes sim, sim!<br />
Tralalala!<br />
Vede como os meus lábios estão rubros!<br />
De flores<br />
Fez um leito<br />
Depois dos risos, o amor…<br />
Se por ali alguém passasse,<br />
Compreenderia, ao ver as rosas<br />
Tralalala!<br />
Aquilo que fizemos.<br />
Se alguém soubesse que se deitou comigo,<br />
– Deus me livre! – teria vergonha.<br />
Aquilo que ele fez, jamais,<br />
Jamais o direi, fica entre nós.<br />
E as nossas brincadeiras –<br />
Tralalala!<br />
Ficarão em segredo.<br />
A firme vontade [continuação]<br />
Ah, que eu seja seu no corpo e não na alma / e que<br />
ela me acolha em segredo no seu quarto<br />
/ antes me fira o coração que o golpe de verga / de<br />
ser o seu servo que não entra sempre lá onde ela<br />
está / estarei sempre perto dela como unha e carne<br />
/ sem ouvir acusação nem de amigo nem de tio.
Chançon ferai<br />
thibaut de champagne<br />
Chançon ferai, que talenz m’en est pris,<br />
De la meilleur qui soit en tout le mont.<br />
De la meilleur, je cuit que j’ai mespris.<br />
S’ele fust teus, se Deus joie me dont,<br />
De moi li fust aucune pitié prise,<br />
Qui sui touz siens et sui a sa devise.<br />
Pitiez de cuer, Deus ! que ne s’est assise<br />
En sa biauté ? Dame, qui merci proi,<br />
Je sent les maus d’amer por vos.<br />
Sentez le vos por moi ?<br />
Douce dame, sanz amor fui jadis,<br />
Quant je choisi vostre gente façon ;<br />
Et quant je vi vostre tres biau cler vis,<br />
Si me raprist mes cuers autre reson :<br />
De vos amer me semont et justise,<br />
A vos en est a vostre conmandise.<br />
Li cors remaint, qui sent felon juïse,<br />
Se n’en avez merci de vostre gré.<br />
Li douz mal dont j’atent joie<br />
M’ont si grevé<br />
Morz sui, s’ele m’i delaie.<br />
Lo ferm<br />
Anc la seror de mon oncle. non amei plus ni tant<br />
per aqest’arma. c’aitant vezis cum es lo detz de<br />
l’ongla. s’a liei plagues volgr’esser de sa cambra. de<br />
mi pot far l’amors q’inz el cor m’intra.<br />
mieills a son vol c’om fortz de frevol verga.<br />
Canção farei<br />
thibaut de champagne<br />
Vou compor uma canção, porque me veio tal desejo,<br />
Para a melhor? Parece-me que estou enganado.<br />
Fosse ela tal (que Deus me livre!),<br />
Teria um pouco de piedade de mim<br />
Que sou todo seu e entregue à sua vontade.<br />
A piedade que vem do coração, meu Deus! Não se<br />
acolheu ela<br />
Na sua beleza! Senhora, eu vos imploro,<br />
Sinto por vós mal de amor,<br />
Sentis o mesmo por mim?<br />
Doce senhora, eu vivi em tempos sem amor,<br />
Mas quando me surgiu a vossa graciosa pessoa;<br />
Quando vi o vosso belo e claro rosto,<br />
O meu coração ensinou-me uma lição bem diferente:<br />
Exorta-me a amar-vos e dá-me essa ordem,<br />
Ele é vosso, todo em vosso poder.<br />
O meu corpo continua submisso a um cruel tormento,<br />
Se dele não tiverdes piedade de bom grado.<br />
Os doces males de que espero uma alegria<br />
Oprimiram-me tanto<br />
Que morro se ela me fizer esperar.<br />
A firme vontade [continuação]<br />
Nunca a irmã do meu tio / amarei tanto ou mais<br />
com a minha alma / tão perto como estão dedo e<br />
unha / se ela quisesse estaria no seu quarto / ele<br />
pode fazer de mim o amor que no meu coração<br />
entra / à sua vontade como homem forte de fraca<br />
verga.<br />
19
No posc<br />
guiraut de bornelh<br />
No posc sofrir c’a la dolor<br />
De la den la lenga no vir<br />
E’l cor ab la novela flor,<br />
Lancan vei los ramels florir<br />
E’lh chan son pel boschatge<br />
Dels auzeletz enamoratz,<br />
E si tot m’estauc apensatz<br />
Ni pres per mal auratge<br />
Can vei chans e vergers e pratz,<br />
Eu renovel e m’assolatz.<br />
Qu’eu no m’esfortz d’altre labor<br />
Mas de chantar e d’esjauzir;<br />
C’una noch somniav’en pascor<br />
Tal somnhe que’m fetz esbaldir<br />
D’un esparver ramatge<br />
Que m’era sus el ponh pauzatz<br />
E si’m semblav’adomesgatz<br />
Anc no vi tan salvatge,<br />
Mas pois fo maners e privatz<br />
E de bos getz apreizonatz.<br />
Lo ferm<br />
Pois flori la seca verga. ni d’En Adam mogron<br />
nebot ni oncle. tant fin amors cum cella q’el cor<br />
m’intra. non cuig fos anc en cors ni eis en arma.<br />
on q’ill estai for sen plaz’o dins cambra. mos cors<br />
no-is part de lieis tant cum tem l’ongla.<br />
C’aissi s’enpren e s’enongla. mos cor sen lei cum<br />
l’escross’en la verga. q’ill m’es de joi tors e palaitz<br />
e cambra. e non am tant fraire paren ni oncle. q’en<br />
paradis n’aura doble joi m’arma. si já nuills hom<br />
per bem amar lai intra.<br />
20<br />
Não posso<br />
guiraut de bornelh<br />
Não posso impedir que a minha língua<br />
se volte quando me dói um dente,<br />
e que o meu coração não faça o mesmo,<br />
quando aparece a nova flor<br />
e quando vejo os ramos florir<br />
e quando cantam nos bosques os pássaros<br />
enamorados;<br />
e mesmo que fique preocupado<br />
e presa da infelicidade,<br />
quando aparecem os cantos, os vergéis e os prados,<br />
renovo-me e reencontro a alegria.<br />
Não me esforço por fazer outro trabalho<br />
que não seja cantar e alegrar-me, porque,<br />
numa noite de Primavera,<br />
tive um sonho tal que me encheu de alegria.<br />
Sonhei com um jovem gavião<br />
que havia pousado no meu punho e,<br />
embora me parecesse domesticado,<br />
nunca tinha visto um tão selvagem.<br />
Porém, depois tornou-se familiar e confiante<br />
e bem mantido em boas rédeas.<br />
A firme vontade [continuação]<br />
Depois de ter florido a seca verga / que do senhor<br />
Adão descendeu sobrinho ou tio / um amor que<br />
como aquele que no meu coração entra / não creio<br />
que tenha estado em corpo ou alma / esteja ela<br />
onde estiver, na praça ou no quarto / o meu coração<br />
estará mais perto que a espessura de uma unha.<br />
Que assim enraizado se torne unha / o meu coração<br />
nela como uma crosta na verga / ela deu-me alegria<br />
em torre e palácio e quarto / não amo tanto irmão,<br />
parente ou tio / no paraíso terá dupla alegria / a<br />
minha alma se algum dia homem ali entrar por ter<br />
amado.<br />
tradução: linguaemundi
marc-andré dalbavie © roger mastroianni<br />
Notas Biográficas<br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong><br />
<strong>Dalbavie</strong><br />
<strong>maestro</strong> e compositor<br />
Nascido nos arredores de Paris, em 1961,<br />
<strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong> é um dos compositores<br />
mais notáveis da sua geração. As notas<br />
biográficas dão conta de uma formação sólida:<br />
após uma aprendizagem musical iniciada<br />
na infância, ingressa aos dezanove anos no<br />
Conservatório Nacional Superior de Música de<br />
Paris e cedo começa a colaborar com o IRCAM<br />
(Institut de Recherche et Coordination<br />
Acoustique/Musique). Até finais da década<br />
de oitenta, irá aprofundar neste instituto a<br />
aprendizagem dos meios eletrónicos, os quais<br />
virá a combinar regularmente com o domínio<br />
instrumental – como por exemplo em Diadèmes,<br />
para viola, ensemble e eletrónica, e Seuils,<br />
para soprano, ensemble e eletrónica.<br />
Terá o privilégio de conhecer e trabalhar com<br />
Pierre Boulez, de quem se virá a tornar um dos<br />
raríssimos discípulos. A prática da direção de<br />
orquestra, que abordará com Boulez, permitir-<br />
-lhe-á não apenas colocar-se na perspetiva do<br />
intérprete mas, sobretudo, desenvolver uma<br />
visão pragmática sobre a acuidade da escrita<br />
orquestral; esse transpirar da experiência<br />
interpretativa para o ato composicional<br />
constituirá uma das marcas fundamentais do<br />
seu estilo e da sua técnica, fá-lo-á conquistar<br />
rapidamente o interesse das grandes orquestras<br />
internacionais e permitir-lhe-á aceder,<br />
desde 1996, ao prestigioso lugar de Professor<br />
de <strong>Orquestra</strong>ção no já referido conservatório<br />
parisiense.<br />
Entretanto, acumulará distinções e residências<br />
artísticas. Em 1994 é um dos três galardoados<br />
com o prémio Ernst von Siemens, em 1996<br />
conquista o Prémio de Composição do Festival<br />
de Páscoa de Salzburgo e, dois anos mais tarde,<br />
o USA Today declara-o Jovem Compositor<br />
do Ano.<br />
Residirá em Berlim (DAAD) e em Roma (Villa<br />
Medici), e associar-se-á como compositor,<br />
sucessivamente, às <strong>Orquestra</strong>s de Cleveland,<br />
Minneapolis e Paris. Ao longo da presente<br />
temporada na Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong>,<br />
entre Novembro e Março, distribuídas<br />
por cinco programas de concerto, teremos<br />
oportunidade de ouvir várias peças do<br />
compositor francês, todas escritas na última<br />
década.<br />
21
22<br />
<strong>Yuriy</strong> <strong>Mynenko</strong><br />
contratenor<br />
<strong>Yuriy</strong> <strong>Mynenko</strong> nasceu em Radomyshl,<br />
Ucrânia. Começou por estudar piano e direção<br />
coral, sendo depois admitido como barítono<br />
na classe de canto lírico de <strong>Yuriy</strong> Teteryana,<br />
na Academia Musical do Estado de Odessa<br />
(A. V. Nezhdanova). Terminou o curso como<br />
contratenor e tornou-se professor na mesma<br />
instituição entre 2007 e 2010.<br />
Tem participado em inúmeras competições<br />
internacionais, sendo o primeiro cantor<br />
ucraniano – e o primeiro contratenor – a chegar<br />
à final do Carfiff Singers of the World, em 2009.<br />
Como membro do Coro Capella da Universidade<br />
Nacional de Odessa, apresentou-se na Bulgária,<br />
Alemanha, Grécia, Itália e França. Como<br />
solista, pisou alguns dos mais prestigiados<br />
palcos da Rússia, Reino Unido, Alemanha,<br />
Espanha, Israel e Estados Unidos da América,<br />
tendo trabalhado com os <strong>maestro</strong>s Alan<br />
Curtis, Paul Daniel, Vladimir Dikiy, Dan<br />
Ettinger, Diego Fasolis, Grant Gershon,<br />
Simon Halsey, Roman Kofman, Andrea<br />
<strong>Marc</strong>hiol, Andris Nelsons, Vassily Petrenko,<br />
Andrey Reshetin, Igor Shavruk, Mikhail<br />
Yurovsky e Vladimir Yurovsky.<br />
O seu repertório inclui obras dos períodos<br />
barroco e clássico, bem como óperas<br />
e oratórias românticas. Interpretou, dentre<br />
muitos outros, os papéis de Annio, em<br />
La Clemenza di Tito e Lisímaco em Temístocles<br />
de J. C. Bach (Teatro Nacional de Mannheim),<br />
Eustazio em Rinaldo de Händel (Ópera de<br />
Lausana), Corrado em Griselda de Vivaldi<br />
(Ópera de Santa Fé, E.U.A.), Ratmir em<br />
Ruslan e Lyudmila de Glinka (Teatro Bolshoi,<br />
Moscovo), e contralto no Messias de Händel.<br />
Destaca-se ainda a sua interpretação<br />
dos Sonnets sur un poème de Louise Labé,<br />
de <strong>Marc</strong>-<strong>André</strong> <strong>Dalbavie</strong>.<br />
No futuro próximo interpretará Megabise em<br />
L’Artaserse de Leonardo Vinci numa tournée<br />
por França, Suíça, Luxemburgo e Alemanha,<br />
bem como o papel principal de Rinaldo de<br />
Händel na Ópera de Zurique.<br />
yuriy mynenko © dr
coral tinoco rodriguez © dr<br />
Coral Tinoco<br />
Rodriguez<br />
harpa<br />
Natural de Saragoça, terminou com a classificação<br />
máxima – como bolseira do Ministério<br />
da Educação espanhol – a licenciatura no<br />
Conservatório Superior de Música de Aragão,<br />
sob a orientação de Gloria Martinez e Michael<br />
Granados.<br />
Como bolseira da Deputação da Província de<br />
Saragoça, aperfeiçoou-se no Conservatorio<br />
Superior de Música del Gran Teatro del Liceo,<br />
Barcelona, com Abigail Prat.<br />
Continuou os seus estudos na Universidade<br />
de Música de Detmold, tendo aulas com<br />
Godelieve Shrama. Como bolseira do BBVA,<br />
concluiu o curso de pós-graduação com<br />
Gabriella Dall’olio, Park Strikney e Fabrice<br />
Pierre,no Conservatório Superior de Música<br />
de Aragão. Frequentou masterclasses com os<br />
prestigiados harpistas Petra van der Heide,<br />
Alece Guiles, Elisabeth Fontain-Binoche,<br />
Anna Loro, Catherine Williams, Celine<br />
Landelle, Frederique Cambreling, Catherine<br />
Michel, Isabella Moretti, Giselle Herbet,<br />
Magdalena Barrera e Park Strickney.<br />
Foi membro da Jovem <strong>Orquestra</strong> Nacional<br />
de Espanha, da Jovem <strong>Orquestra</strong> Nacional<br />
da Catalunha e da <strong>Orquestra</strong> Sinfónica Juvenil<br />
de Castellón. Tem colaborado regularmente<br />
com as Filarmónica da Grande-Canária,<br />
<strong>Orquestra</strong> del Gran Teatro del Liceo de<br />
Barcelona, <strong>Orquestra</strong> do Palácio da Música de<br />
Valência, <strong>Orquestra</strong> do Principado das Astúrias,<br />
Real Filarmónica da Galiza, <strong>Orquestra</strong><br />
Filarmónica de Málaga, <strong>Orquestra</strong> Sinfónica<br />
de Tenerife, <strong>Orquestra</strong> Metropolitana de Lisboa<br />
e <strong>Orquestra</strong> Sinfónica Portuguesa, entre outras.<br />
Lecionou no Conservatório de Música de<br />
Coimbra e, atualmente, integra a <strong>Orquestra</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong>.<br />
Felipe<br />
Rodriguez<br />
violino<br />
Felipe Rodriguez nasceu em Salamanca<br />
em 1982. Estudou no Conservatório Superior<br />
de Música de Las Palmas, na Grande-Canária,<br />
no Conservatório de Cartagena e em Madrid<br />
com José Luis García Asensio e Vicente Huerta.<br />
Paralelamente, participou nos cursos<br />
de aperfeiçoamento de Pinchas Zukerman,<br />
Maxim Vengerov, Vadim Repin, Mikhail<br />
Kopelman e Mauricio Fuks.<br />
No domínio da música de câmara, trabalhou<br />
com Sir Yehudi Menuhin, Luciano Berio,<br />
Walter Levine, Rainer Schmidt e Piero Farulli,<br />
tendo atuado na Europa e nos Estados Unidos<br />
da América.<br />
Venceu vários concursos em Espanha,<br />
tendo em 2004 recebido o prémio de violino<br />
do 2º Concurso Internacional Joaquín Rodrigo,<br />
além dos prémios para a melhor interpretação<br />
de uma obra do compositor espanhol e para<br />
melhor músico espanhol em competição.<br />
No mesmo ano, foi 4º classificado no Concurso<br />
Internacional de Violino Tibor Varga, na Suíça.<br />
Colaborou com várias orquestras espanholas<br />
e deu recitais no Auditório Nacional de Música,<br />
em Madrid, e no Palácio da Música Catalã,<br />
em Barcelona. Tocou com a <strong>Orquestra</strong> UBS<br />
Verbier, sob a direção de <strong>maestro</strong>s como<br />
James Levine, Cristoph von Dohnányi e Yuri<br />
Temirkanov. Na temporada 2006-07, foi<br />
membro da <strong>Orquestra</strong> Sinfónica da Cidade<br />
de Birmingham.<br />
Atualmente, desempenha paralelamente<br />
as funções de 1º Concertino Auxiliar<br />
da <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong> e as suas atuações<br />
como solista e como membro do Trio Arriaga.<br />
felipe rodriguez © dr<br />
23
oleguer beltran-pallarés © dr<br />
Oleguer<br />
Beltran-<br />
-Pallarés<br />
Oleguer Beltran-Pallarés nasceu em Prat<br />
de Comte, em Espanha, em 1984. Em 1998<br />
recebeu o primeiro prémio na categoria de<br />
violino no Concurso Vila de Salou. A partir<br />
de 2007 beneficiou de uma bolsa Wardwell-<br />
-Stipendium, da Fundação Alexander von<br />
Humboldt, para prosseguir a sua formação<br />
musical na Alemanha com Axel Gerhardt<br />
e o Quarteto Artemis. Diplomou-se pela<br />
Universität der Künste, em Berlim, em<br />
fevereiro de 2011.<br />
Apresentou-se com vários agrupamentos<br />
de música de câmara – como Noga Quartett,<br />
Quartet Prisma, Plural Ensemble, Músics<br />
en residència Alella e Almodis Quintet –<br />
em diferentes salas de espectáculo, concursos<br />
(Alice-Samter-Wettbewerb) e gravações<br />
(Col Legno, Columna Música).<br />
Foi membro de várias orquestras juvenis,<br />
como a Gustav Mahler Jugendorchester ou<br />
a European Union Youth Orchestra, com as<br />
quais tocou em salas de grande prestígio.<br />
Colaborou também com orquestras profissionais<br />
espanholas e berlinenses.<br />
Oleguer Beltran-Pallarés é primeiro solista dos<br />
segundos violinos da <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
desde maio de 2009.<br />
24<br />
violino<br />
Samuel<br />
Barsegian<br />
viola<br />
Samuel Barsegian nasceu em 1971 na Arménia.<br />
Aos seis anos de idade começou a estudar<br />
violino na classe do professor Erkanian,<br />
na Escola Especial de Música Tchaikovsky,<br />
mas aos quinze anos decidiu mudar para<br />
a viola de arco. Diplomou-se em 1989,<br />
prosseguindo o seu aperfeiçoamento<br />
no Conservatório Nacional de Yerevan,<br />
com Albert Brutian. Entre 1989 e 1991,<br />
foi solista da <strong>Orquestra</strong> Sinfónica da Rádio<br />
da Arménia e recebeu o Grande Prémio no<br />
Concurso Nacional da Arménia. Em 1990<br />
participou no curso de música de câmara<br />
Villa Musica, com János Starker e Joseph<br />
Silverstein. Entre 1991 e 1995, estudou<br />
na Escola Superior de Música de Freiburg,<br />
na Alemanha, com Kim Kashkashian.<br />
Neste período tocou sob a direção de <strong>maestro</strong>s<br />
como Sir Georg Solti, Valery Gergiev, Semyon<br />
Bychkov e Daniel Barenboim e atuou como<br />
solista com a Filarmónica da Arménia no<br />
Festival de Schleswig-Holstein. Realizou<br />
estudos de pós-graduação, com Madeline<br />
Prager, na Escola Superior de Música de<br />
Karlsruhe. Tem colaborado com a Sinfónica<br />
da Rádio de Basileia, a Sinfónica de Basileia<br />
e a Filarmónica de Friburgo desde 1996.<br />
Atualmente, desenvolve a sua carreira<br />
artística com o professor Rudolf Barshai.<br />
samuel barsegian © dr
varoujan bartikian ©dr<br />
Varoujan<br />
Bartikian<br />
violoncelo<br />
Varoujan Bartikian nasceu na Arménia<br />
e iniciou os seus estudos na Escola<br />
Especializada de Música Tchaikovsky,<br />
sob a orientação de Alexander Tchauchian.<br />
De 1978 a 1983, frequentou o Conservatório<br />
Superior de Música Komitas, de Yerevan.<br />
Em 1977 venceu o Concurso Transcaucasiano<br />
de Violoncelo, em Tbilissi, e em 1981 participou<br />
no Concurso das Repúblicas Soviéticas, sendo<br />
galardoado com o 3º Prémio e com um prémio<br />
especial pela execução dos 24 Prelúdios<br />
do compositor georgiano Sulkan Tsintsadze.<br />
Depois de se ter licenciado, em 1983, prosseguiu<br />
o seu aperfeiçoamento, tendo obtido o grau<br />
de Mestre em Violoncelo e em Ciências Musicais,<br />
nas áreas de Teoria da Interpretação<br />
e Metodologia do Ensino.<br />
Em 1988 começou a lecionar violoncelo<br />
no Conservatório Komitas, lugar que ocupou<br />
até se deslocar para Portugal, em 1989, quando<br />
passou a integrar a <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
com a qual tem atuado também como solista.<br />
Tocou com a <strong>Orquestra</strong> Filarmónica da Arménia,<br />
sob a direção de John Nelson e gravou para<br />
a Antena 2 da RDP.<br />
Em 1991 formou o Trio Bartikian, com<br />
o pianista Michel Gal e a clarinetista Esther<br />
Gerogie. Desde 2001, é violoncelista<br />
do Quarteto Capela. Gravou várias obras de<br />
António Victorino d’Almeida para a etiqueta<br />
Numérica.<br />
Atualmente, é 1º Violoncelo Solista da <strong>Orquestra</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong> e leciona violoncelo e música<br />
de câmara no Instituto Piaget.<br />
<strong>Marc</strong><br />
Ramirez<br />
contrabaixo<br />
De ascendência filipina, <strong>Marc</strong> Ramirez<br />
nasceu em 1972 em Nova Iorque. Iniciou<br />
os seus estudos de contrabaixo com Timothy<br />
Cobb, solista da <strong>Orquestra</strong> da Metropolitan<br />
Opera. Concluiu a licenciatura e o mestrado<br />
na Manhattan School of Music e em 1996 foi<br />
galardoado por Marta Casals Istomin com<br />
o prestigiado Prémio Pablo Casals. Veio<br />
para Portugal em 1996, após um convite<br />
para colaborar com a <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong>.<br />
A música de câmara ocupa também um lugar<br />
importante na sua atividade. Participou em<br />
vários concertos no Carnegie Hall de Nova<br />
Iorque, no Kitara Hall do Japão, e no Ozawa<br />
Hall de Tanglewood, nos Estados Unidos<br />
da América.<br />
Como solista, apresentou-se nos palcos<br />
nacionais e internacionais. Em janeiro<br />
de 2012 gravou um CD com a <strong>Orquestra</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong>, sob a direção do <strong>maestro</strong><br />
Pedro Neves, tendo interpretado o Grande<br />
Duo Concertante de Giovanni Bottesini,<br />
conjuntamente com o violinista Bin Chao.<br />
Como professor de contrabaixo, orientou<br />
cursos de aperfeiçoamento nos Estados<br />
Unidos da América e em Portugal. Atualmente,<br />
é docente no Instituto Universitário Piaget,<br />
em Almada.<br />
<strong>Marc</strong> Ramirez é 1º Solista / Chefe de Naipe<br />
da <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong> e toca num<br />
contrabaixo italiano Giovanni Cavani<br />
di Spilamberto (c.1851).<br />
25<br />
marc ramirez © dr
sophie perrier © dr<br />
Sophie<br />
Perrier<br />
Estreou-se como instrumentista na <strong>Orquestra</strong><br />
Nacional de Lyon, sob a direção de Serge Baudo,<br />
com apenas dezoito anos de idade.<br />
Em 1982 foi selecionada para o Conservatório<br />
Nacional Superior de Música de Paris, onde<br />
estudou com Michel Debost e obteve um<br />
primeiro prémio por unanimidade em 1985.<br />
Nesse mesmo ano, fez parte da <strong>Orquestra</strong><br />
Francesa da Juventude, sob a direção de<br />
Emmanuel Krivine, tendo tocado também<br />
na <strong>Orquestra</strong> de Paris e no Ensemble<br />
Intercontemporain, dirigido por Pierre<br />
Boulez. Em 1987 foi selecionada pela Fundação<br />
Karajan, em Berlim, onde se aperfeiçoou com<br />
Karlheinz Zoeller, flauta solo da <strong>Orquestra</strong><br />
Filarmónica de Berlim. Entre 1987 e 1989,<br />
teve oportunidade de trabalhar com esta<br />
orquestra sob a direção de Yuri Temirkanov,<br />
Ricardo Muti, Claudio Abbado, James Levine,<br />
Sir Georg Solti, Daniel Barenboim, Seiji<br />
Ozawa e Herbert von Karajan.<br />
Foi membro de vários conjuntos de câmara,<br />
em particular do Junge Bläser Europas,<br />
com o qual participou no Festival de Hitzacker<br />
(Alemanha) e realizou digressões no Oriente<br />
e na Europa. Apresentou-se frequentemente<br />
como solista com vários agrupamentos franceses<br />
e, após ter sido premiada pela Fundação Georges<br />
Cziffra, deu os seus primeiros recitais<br />
no estrangeiro, no Festival de Primavera<br />
de Budapeste e no Festival de Verão de Keszthely<br />
(Hungria). É 1º Solista na <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
desde 1989.<br />
26<br />
flauta clarinete<br />
José Maria<br />
Mosqueda<br />
José Maria Mosqueda nasceu em Valverde-<br />
-del-Camino, onde iniciou os seus estudos<br />
de música aos oito anos de idade. Continuou a<br />
estudar em Cádis, com Juan Carlos Armentia,<br />
obtendo o prémio do Conservatório. Em 1994<br />
ingressou no Conservatório Superior<br />
de Música de Córdova, na classe de Francisco<br />
González, tendo sido premiado. Em 1996<br />
prosseguiu os seus estudos de clarinete<br />
e clarinete baixo no Conservatório Real<br />
de Antuérpia, com Walter Boeykens e Jan Guns,<br />
integrando o prestigioso Ensemble de Clarinetes<br />
Walter Boeykens, com o qual gravou um CD<br />
e realizou várias digressões na Holanda e na<br />
Bélgica. Durante os dois anos de permanência<br />
na Bélgica, fez vários estágios com a <strong>Orquestra</strong><br />
Filarmónica da Flandres. Posteriormente,<br />
concluiu em Londres uma pós-graduação com<br />
Thea King, Julian Farrel (clarinete) e Ruth<br />
MacDowell (clarinete baixo) na Guildhall<br />
School of Music and Drama.<br />
Representou esta escola no Festival de Canterbury<br />
com a História do Soldado de Stravinsky<br />
(versão original). Tocou sob a direção<br />
de <strong>maestro</strong>s como Sir Simon Ratlle e Leonard<br />
Slatkin. Desde 1999, é 2º Clarinete Solista<br />
da <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong>.<br />
josé maria mosqueda © dr
abel cardoso © dr<br />
Abel<br />
Cardoso<br />
percussão<br />
Abel Cardoso concluiu o curso na Escola de<br />
Música e Bailado de Nossa Senhora do Cabo,<br />
em Linda-a-Velha, tendo como professor<br />
Carlos Voss. Na Escola Superior de Música<br />
de Lisboa obteve a Licenciatura com nota<br />
máxima, tendo estudado com os professores<br />
Richard Buckley e Carlos Voss. Obteve os graus<br />
de Mestre em Ensino da Música e Performance<br />
sob orientação de Pedro Carneiro.<br />
Ao longo da sua formação apresentou-se<br />
com a <strong>Orquestra</strong> da Juventude e a <strong>Orquestra</strong><br />
Sinfónica Juvenil, entre outras. Enquanto<br />
profissional, colaborou com a <strong>Orquestra</strong><br />
Metropolitana de Lisboa, a <strong>Orquestra</strong> Sinfónica<br />
Portuguesa, a <strong>Orquestra</strong> de Câmara de Cascais<br />
e Oeiras, a <strong>Orquestra</strong> do Algarve e a City of<br />
London Orchestra. Participou ainda em diversos<br />
concertos com os Percussionistas de<br />
Estrasburgo, o Ensemble Intercontemporain<br />
(Paris), o Ensemble Xenakis (U.S.A.)<br />
e o Remix Ensemble.<br />
No âmbito da musica de câmara é membro<br />
fundador do sexteto de percussão Rhythm<br />
Method e diretor artístico dos Percussionistas<br />
de Lisboa, tendo recentemente gravado o CD<br />
Bach Marimbas.<br />
Como docente, foi professor na Escola<br />
Profissional de Música de Évora, nos<br />
Conservatórios de Almada, Alhandra,<br />
Palmela e Linda-a-Velha e na Escola Superior<br />
de Música de Lisboa.<br />
José<br />
Brandão<br />
piano<br />
Natural do Porto, fez os seus estudos de piano<br />
sob a orientação de Helena Sá e Costa.<br />
Diplomado em 1986, foi ainda nesse ano<br />
premiado com o 2º lugar ex-æquo no Concurso<br />
Nacional de Piano da Juventude Musical<br />
Portuguesa. Licenciou-se em Ciências<br />
Musicais pela Universidade Nova de Lisboa.<br />
Na Guildhall School of Music and Drama,<br />
onde estudou com Graham Johnson, realizou<br />
a pós-graduação em Acompanhamento<br />
ao Piano, e obteve os prémios para melhor<br />
pianista acompanhador nos concursos John<br />
Ireland’95 e Schubert Lieder’96.<br />
Complementou os estudos com Paul Hamburger,<br />
Martin Katz e Ruben Lifschitz. Foi-lhe conferido<br />
o grau de Mestre em Música pela Universidade<br />
de Aveiro, com uma tese sobre as canções<br />
de Filipe de Sousa. É professor na Escola<br />
de Música do Conservatório Nacional.<br />
Tocou nos Festivais de Royaumont, Estoril,<br />
Coimbra, no Museu e na Temporada<br />
de Música da Fundação <strong>Gulbenkian</strong>, CCB,<br />
Ópera de Lille, RDP, entre outros, sempre<br />
acompanhando um vasto leque de cantores<br />
entre os quais se incluem Teresa Gardner,<br />
Wagner Diniz, Ana Quintans, Sónia Alcobaça,<br />
Inês Madeira, Mário Redondo e Sónia Grané.<br />
Nesta temporada apresentará O Guardador<br />
de Canções, em parceria com o pianista João<br />
Vasco (dois recitais para quarteto vocal)<br />
n’Os Dias da Música (CCB) e, no Museu<br />
<strong>Gulbenkian</strong>, um recital sobre o verão,<br />
com Joana Seara e Hugo Oliveira.<br />
27<br />
josé brandão © dr
28<br />
<strong>Orquestra</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong><br />
Em 1962 a Fundação Calouste <strong>Gulbenkian</strong><br />
decidiu estabelecer um agrupamento<br />
orquestral permanente, no início constituído<br />
apenas por doze elementos (Cordas e Baixo<br />
Contínuo), originalmente designada por<br />
<strong>Orquestra</strong> de Câmara <strong>Gulbenkian</strong>. Na<br />
temporada 2012-2013 a <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong><br />
(denominação adotada desde 1971) celebra<br />
50 anos de atividade, período ao longo do<br />
qual foi sendo progressivamente alargada,<br />
contando hoje com um efetivo de sessenta e seis<br />
instrumentistas que pode ser pontualmente<br />
expandido de acordo com as exigências dos<br />
programas executados.<br />
Esta constituição permite à <strong>Orquestra</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong> a abordagem interpretativa de um<br />
amplo repertório que abrange todo o período<br />
Clássico, uma parte significativa da literatura<br />
orquestral do século XIX e muita da música do<br />
século XX. Obras pertencentes ao repertório<br />
corrente das grandes formações sinfónicas<br />
tradicionais, nomeadamente a produção<br />
orquestral de Haydn, Mozart, Beethoven,<br />
Schubert, Mendelssohn ou Schumann, podem<br />
assim ser dadas pela <strong>Orquestra</strong> <strong>Gulbenkian</strong> em<br />
versões mais próximas dos efetivos orquestrais<br />
para que foram originalmente concebidas,<br />
no que respeita ao equilíbrio da respetiva<br />
arquitetura sonora interior.<br />
Em cada temporada, a <strong>Orquestra</strong> realiza uma<br />
série regular de concertos no Grande Auditório<br />
<strong>Gulbenkian</strong>, em Lisboa, em cujo âmbito tem<br />
tido ocasião de colaborar com alguns dos<br />
maiores nomes do mundo da música (<strong>maestro</strong>s<br />
e solistas), atuando igualmente em diversas<br />
localidades do País, cumprindo desta forma<br />
uma significativa função descentralizadora.<br />
No plano internacional, por sua vez, a <strong>Orquestra</strong><br />
tem vindo a ampliar gradualmente a sua<br />
atividade, tendo até agora efetuado digressões<br />
na Europa, Ásia, África e Américas.<br />
No plano discográfico, o nome da <strong>Orquestra</strong><br />
<strong>Gulbenkian</strong> encontra-se associado às editoras<br />
Philips, Deutsche Grammophon, Hyperion,<br />
Teldec, Erato, Adès, Nimbus, Lyrinx, Naïve<br />
e Pentatone, entre outras, tendo esta sua<br />
atividade sido distinguida desde muito cedo<br />
com diversos prémios internacionais de<br />
grande prestígio. O mais recente lançamento<br />
é dedicado a obras de Piazzolla, Bottesini e<br />
Mouquet, sob a direção de Pedro Neves.<br />
Desde a temporada de 2002-2003, Lawrence<br />
Foster é o seu Maestro Titular. Claudio<br />
Scimone, que ocupou este último cargo entre<br />
1979 e 1986, foi nomeado em 1987 Maestro<br />
Honorário. Joana Carneiro é Maestrina<br />
Convidada desde a temporada de 2006-2007.<br />
Paul McCreesh está nomeado como Maestro<br />
Titular a partir da temporada 2013-2014.<br />
orquestra gulbenkian © pedro ferreira
Lawrence Foster <strong>maestro</strong> titular<br />
Joana Carneiro maestrina convidada<br />
Claudio Scimone <strong>maestro</strong> honorário<br />
primeiros violinos<br />
David Lefèvre<br />
Concertino Principal *<br />
Felipe Rodriguez<br />
1º Concertino Auxiliar<br />
Bin Chao 2º Concertino Auxiliar<br />
Pedro Meireles<br />
2º Concertino Auxiliar<br />
Vasco Broco<br />
António José Miranda<br />
António Veiga Lopes<br />
Pedro Pacheco<br />
Alla Javoronkova<br />
David Wahnon<br />
Ana Beatriz Manzanilla<br />
Elena Riabova<br />
Maria Balbi<br />
Otto Pereira<br />
segundos violinos<br />
Alexandra Mendes 1º Solista<br />
Oleguer Beltran-Pallarés<br />
1º Solista<br />
Cecília Branco 2º Solista<br />
Jorge Lé<br />
Leonor Moreira<br />
Stephanie Abson<br />
Jorge Teixeira<br />
Tera Shimizu<br />
Maria José Laginha<br />
Stephan Shreiber<br />
Luciana Cruz *<br />
Istvan Balazs *<br />
Zofia Pajak *<br />
violas<br />
Barbara Friedhoff 1º Solista<br />
Samuel Barsegian 1º Solista<br />
Isabel Pimentel 2º Solista<br />
<strong>André</strong> Cameron<br />
Patrick Eisinger<br />
Leonor Braga Santos<br />
Christopher Hooley<br />
Maia Kouznetsova<br />
Lu Zheng<br />
Thu Nguyet Nguyen *<br />
violoncelos<br />
Maria José Falcão 1º Solista<br />
Varoujan Bartikian 1º Solista<br />
Martin Henneken 2º Solista<br />
Levon Mouradian<br />
Jeremy Lake<br />
Raquel Reis<br />
<strong>Marc</strong>o Pereira *<br />
Maria Vaz *<br />
Flora Camuzet *<br />
contrabaixos<br />
<strong>Marc</strong> Ramirez 1º Solista<br />
Manuel Rêgo 2º Solista<br />
Marine Triolet<br />
Maja Plüddemann<br />
Ricardo Tapadinhas 1º Solista *<br />
Margarida Ferreira *<br />
flautas<br />
Sophie Perrier 1º Solista<br />
Cristina Ánchel<br />
1º Solista Auxiliar<br />
Amália Tortajada 2º Solista *<br />
oboés<br />
Pedro Ribeiro 1º Solista<br />
Nelson Alves 1º Solista auxiliar<br />
Alice Caplow-Sparks 2º Solista<br />
Corne inglês<br />
clarinetes<br />
Esther Georgie 1º Solista<br />
José Maria Mosqueda 2º Solista<br />
Clarinete baixo<br />
Gonzalo Esteban<br />
1º Solista Auxiliar *<br />
fagotes<br />
Ricardo Ramos 1º Solista<br />
Vera Dias 1º Solista auxiliar<br />
José Coronado 2º Solista<br />
Contrafagote<br />
trompas<br />
Jonathan Luxton 1º Solista<br />
Kenneth Best 1º Solista<br />
Eric Murphy 2º Solista<br />
Darcy Edmundson-Andrade<br />
2º Solista<br />
Gabriel Correia 2º Solista *<br />
trompetes<br />
Stephen Mason 1º Solista<br />
David Burt 2º Solista<br />
Paulo Carmo 1º Solista Auxiliar *<br />
trombone<br />
Rui Fernandes 2º Solista<br />
Pedro Canhoto 2º Solista<br />
Jordi Rico 1º Solista *<br />
tuba<br />
Amílcar Gameiro 1º Solista<br />
timbales<br />
Rui Sul Gomes 1º Solista<br />
percussão<br />
Abel Cardoso 2º Solista<br />
João Pacheco 2º Solista *<br />
Pedro Góis 2º Solista *<br />
João Ramalho 2º Solista *<br />
piano<br />
Karina Aksenova 1º Solista *<br />
harpa<br />
Coral Tinoco Rodriguez 1º Solista *<br />
* instrumentistas convidados<br />
coordenação<br />
José Manuel Edmundson-Andrade<br />
produção / arquivo musical<br />
António Lopes Gonçalves<br />
e Américo Martins<br />
29
Não é permitido tirar fotografias<br />
nem fazer gravações sonoras ou filmagens<br />
durante os concertos.<br />
Desligue o alarme do seu relógio<br />
ou telemóvel antes do início dos concertos.<br />
Programas e elencos sujeitos a alteração<br />
sem prévio aviso.<br />
direção criativa<br />
Ian Anderson<br />
design e direção de arte<br />
The Designers Republic<br />
design gráfico<br />
AH–HA<br />
impressão e acabamento<br />
Textype - Artes Gráficas, Lda<br />
tiragem<br />
800 exemplares<br />
preço<br />
2€<br />
Lisboa, Fevereiro 2013
MUSICA.GULBENKIAN.PT