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4." E 5." A N N O S D O C U R S O D E S C 1 E N C I A S<br />

E L E M E N T O S<br />

DE<br />

P Â N I C A<br />

COORDENADOS<br />

E D I Ç Ã O I L L U S T R A D A C O M 200 G R A V U R A S<br />

2/ EDIÇÃO, MUITO MELHORADA<br />

L E M O S & C A<br />

\ : •<br />

P O R T O<br />

— E D I T O R E S<br />

149- RUA DB S. VICTOR - 149,<br />

1894


P O R T O<br />

XYP. DE ARTHUR JOSÉ DE SOUSA & IRMÃO<br />

1894<br />

-j4 — Largo de S. Domingos — 76


B O T Â N I C A<br />

I . B i o l o g i a . S u a s d i v i s õ e s . Dá-se o n o m e de<br />

biologia á parte da historia natural que estuda os seres<br />

vivos.<br />

1<br />

Dividindo-se estes e m animaes e plantas, a bio­<br />

logia deve t a m b é m naturalmente separar-se e m duas see-<br />

e ò e s : o estudo dos animaes compete í\ zoologia: o das<br />

plantas á botânica.<br />

Os seres vivos p o d e m ser estudados debaixo do<br />

ponto de vista da sua f o r m a e dos seus caracteres ex­<br />

ternas ; ou no que respeita ao funccionamento dos seu&<br />

differentes ó r g ã o s . A estes dois pontos de vista corres­<br />

p o n d e m duas divisões da biologia: a m o r p h o l o g i a e a<br />

p h y s i o l o g i a .<br />

f<br />

Ha u m a m o r p h o l o g i a e u m a p h y s i o l o g i a vegetaes ;<br />

c o m o ha u m a m o r p h o l o g i a e u m a p h y s i o l o g i a a n i m a e s .<br />

logia.<br />

1<br />

Vejam-se as Noções geraes dos nossos Elementos de geo


BOTÂNICA<br />

0 conhecimento dos seres vivos faz estabelecer en­<br />

tre ellés similhanças e diílerenças que permittem- dtstri-<br />

buil-os em grupos, isto é, classiíical-os. A parte da biologia -.<br />

que tem em vista aggrupar os seres pelas suas manifestas<br />

2. Vegetaes. Partes<br />

Fig. 1-Desenvolvimento d'um feijão P<br />

analogias dá-se o nome<br />

de t a x i n o m i ü . Ila classi­<br />

ficações dos animaes: ha<br />

classificações dos. vege-<br />

taes.<br />

q u e os c o n s t i t u e m . Para<br />

b e m se formar idéia d'um<br />

vegetal, observe-se uma<br />

semente, u m feijão, por<br />

exemplo, quando, lança­<br />

da á terra ou conservada<br />

e m musgo Imundo, come-<br />

ça a desenvolver-se. A se­<br />

mente augmenta de volu­<br />

m e ; e, rompendo a cas­<br />

ca, sae cPelIa u m corpo de<br />

f ô r m a couica e de -cor cla­<br />

ra que se dirige de cima<br />

a i<br />

^ baÍXO. MaiS tarde,


BOTÂNICA 7<br />

A parte cTesse eixo que procura introduzir-se no<br />

solo é a r a i z ; a que se desenvolve e m d i r e c ç ã o opposta<br />

é o caule, e este é acompanhado d ' e x p a n s õ e s m e m b r a n o -<br />

sas, de c ô r verde, dispostas c o m regularidade, que se<br />

c h a m a m folhas. As primeiras que apparecem t è m o n o m e<br />

de f o l h a s cotyledonares o u cotylédones. *<br />

Os ó r g ã o s que acabamos d'indicar servem para a<br />

n u t r i ç ã o o u vegetação da planta ; mais tarde, p o r é m , as<br />

folhas modificam-se de m o d o a constituirem a flor, e m<br />

que estão encerrados os ó r g ã o s destinados a perpetua­<br />

r e m a espécie ( r e p r o d u c ç ã o ) . Da flor procede o f r u c t o<br />

que encerra as s e m e n t e s .<br />

As plantas que apresentam flores t è m o n o m e de<br />

P h a n e r o g a m i c a s ; por o p p o s i ç ã o , d á - s e 0 n o m e de C r y -<br />

p t o g a m i c a s ás plantas que as n ã o t è m .<br />

•>.<br />

f 3. T y p o s vegetaes. A d e s c r i p ç ã o s u m m a r i a que<br />

fizemos d ' u m vegetal n ã o p ô d e servir p á r a todos. H a<br />

plantas m u i t o mais simples do que o Feijoeiro. A l g u m a s<br />

n ã o t è m raizes, e este caracter permitte dividir os vege-<br />

taes e m plantas c o m raizes e sem raizes.<br />

As plantas sem raizes, c o m o as Tubaras c os Mus-<br />

gos, c o m p o r t a m ainda u m a divisão, conforme apresen­<br />

t a m o u n ã o folhas. As que n ã o t è m folhas, c o m o as T u ­<br />

baras, estão reduzidas a u m a e x p a n s ã o de f ô r m a v a r i á ­<br />

vel que se c h a m a thallo e denominam-se T h a l l o p h y t a s ;<br />

as que possuem folhas, c o m o os Musgos, chamam-se<br />

M u s c i n e a s . Estes dois typos correspondem ás C r y p t o g a -<br />

m i c a s s e m raizes o u n ã o vasculares d'alguns b o t â n i c o s .<br />

Por outro lado, as plantas c o m raizes dividem-se<br />

« m C r y p t o g a m i c a s vasculares e e m P h a n e r o g a m i c a s .<br />

i


8 BOTÂNICA<br />

Os typos vegetaes são, portanto, quatro : Thallophy­<br />

tas, Muscineas, C r y p t o g a m i c a s vasculares e P h a n e r o g a -<br />

micos.<br />

divisão:<br />

0 seguinte quadro permitte abranger facilmente a<br />

, í ordinariamente i Thallophytas. ex. a Tu-<br />

f \ sem folhas I<br />

b a r a<br />

Sem raizes <<br />

/ordinariamente j Muscineas. ex. o Polytri-<br />

[ com folhas í<br />

Plantas 1 _ . J ,<br />

i Sem flores .... Cryptogamicas vascula-<br />

Com raizes {<br />

l \ res. ex. o Feto macho.<br />

c t l<br />

Com llôres .... Phanerogamicas. ex. o<br />

:. "i 1<br />

"•-<br />

° -<br />

Goivo.<br />

A. D i v i s ã o das P h a n e r o g a m i c a s . As Phanero­<br />

gamicas (2) dão flores que produzem sementes. A maior<br />

parte t è m as sementes encerradas n' u m a cavidade fecha­<br />

da ; outras n ã o t è m as sementes encerradas e m cavidade<br />

fechada. Dá-se ás primeiras o nome de A n g i o s p e r m i c a s ,<br />

e ás segundas o de G y m n o s p e r m i c a s .<br />

NPalgumas A n g i o s p e r m i c a s , a planta ao desenvol­<br />

ver-se apresenta, como no Feijoeiro, duas cotyledones (2):<br />

são as Dicotyledoneas. N'outras, como no Lyrio, apenas<br />

se' vè u m a cotyledon: são as Monocotyledoneas.<br />

' As G y m n o s p e r m i c a s n ã o se prestam a divisão equi­<br />

valente, por apresentarem numero variável de cotyle­<br />

dones-<br />

-


I<br />

BOTÂNICA 9<br />

R E S U M O<br />

1. Biologia é a parte da historia natural que estuda, os se­<br />

res vivos. E m attenção ao seu objecto, divide-se em zoologia e bo­<br />

tânica, conforme se occupa dos animaes ou das plantas. Con­<br />

forme o seu ponto de vista, assim se divide em morphologia e<br />

physiologia. Ha morphologia e physiologia animaes e vegetaes. Cha­<br />

ma-se taxinomia à parte da historia natural que tem em vista<br />

classificar os seres.<br />

2. As plantas contêm órgãos de nutrição e de reproducção.<br />

São órgãos de nutrição a raiz, o caule, e as folheis. São órgãos de<br />

reproducção a flor, o frueto e a semente. As plantas que dão<br />

flores são as Phanerogamicas. As que as não tem são as Cry­<br />

ptogamicas. Y<br />

3. As plantas podem reduzir-se a quatro typos fundamen-<br />

taes : Thallophytas, Muscineas, Cryptogamicas vasculares e Phane­<br />

rogamicas.<br />

í. As Phanerogamicas dividem-se em Angiospermicas e<br />

Gymnospermicas, conforme as sementes estão ou não encerradas<br />

e m cavidades fechadas.<br />

As Angiospermicas dividem-se em Dicotyledoneas e Monoco-<br />

tyledoneas, conforme o numero de cotyledones que apresentam.


Ccllula vegetal: sua vida e formas<br />

C A P I T U L O - 1<br />

!<br />

Princípios iinmedialos elaborados nos vegetaes. Tecidos vegetaes:.<br />

5.° Protopiasina. Esmague-se entre os dedos uma<br />

sua classificação e caracteres<br />

escama do bolbo da Assucena, e experimenhir-se-ha u m a<br />

sensação especial de viscosidade. Essa matéria adherente<br />

tem uma importância extrema e recebeu o nome de pro­<br />

toplasma. Apresenta certa s i m ü h a n ç a c o m a clara d'ovo,<br />

mas a s i m ü h a n ç a não vae a l é m da que existe entre u m<br />

h o m e m vivo e uma estatua de pedra. A clara d'ovo e a<br />

estatua de pedra são h o m o g ê n e a s , isto ó, t è m todas as<br />

suas "partes de c o m p o s i ç ã o eguai. Protoplasma e h o m e m<br />

não são h ò m o g e n e o s , n ã o tèm nas suas diversas parles a<br />

mesma composição. Esta mesmo varia constantemente.<br />

0 limite do protoplasma ó marcado por uma camada<br />

delgada e elástica, sem duplo contorno,.mas que é ex­<br />

tensível, e apresenta maior ou menor consistência, se­<br />

gundo a quantidade d'agua que encerra.<br />

Na sua c o m p o s i ç ã o , variável e instável, entram, pelo<br />

menos, o carbonio, o hydrogenio, o oxygehio e o azote.


Pertence portanto ao grupo das substancias quaternárias,<br />

CELLULÂ VEGETAL 11<br />

albuminoides o u plasmaticas. Dissolvido pelo ácido azo-<br />

tico cristallisavel e pela potassa diluída, é coagulado pelo<br />

calor, pelo álcool e pelo sublimado corrosivo.<br />

0 protoplasma vivo existe nas plantas sob a f ô r m a<br />

de massas limitadas, que crescem segundo leis determi­<br />

nadas. Cada u m a d'essas massas é u m a celkilá. }<br />

Desenvolvem-se nas águas, que servem para o ciir-<br />

t í m e n t o das peites curiosos Fungos chamados M y x o m i -<br />

cetos (ftg. 2). S ã o formados de massas de protoplasma,<br />

Fig. 2 — Cellulas de Rlyxomiceto soldando-se para constituírem uma plasmodia<br />

— 3. Esporo de Myxomieeto desenvolveudo-se — 4. Duas cellulas<br />

soldando-se — 5. 0. Massas formadas pela soldadura de grande numero<br />

de cellulas.<br />

susceptíveis de se aggregarem, constituído uma plmmo-<br />

d i a . E x e c u t a m ligeiros m o v i m e n t o s de r e p t a ç ã o , f o g e m<br />

da Uiz, nutrem-se das partículas que encontram e respi­<br />

r a m , absorvendo oxygenio.<br />

6. Núcleo. Na immensa maioria dos casos, o pro­<br />

toplasma apresenta no seu interior u m a massa mais<br />

densa, de contornos limitados por u m a m e m b r a n a mais<br />

refringente do que a substancia envolvente: é o núcleo.<br />

Esta parte i m p o r t a n t í s s i m a da cellula precede o seu nas­<br />

cimento, e-portanto o apparecimento da m e m b r a n a cel-<br />

lular. Encontram-se algumas vezes na sua espessura gra-


{% BOTÂNICA<br />

nulos, e até um ou mais núcleos mais pequenos ou nu-<br />

cleolos. A matéria "do núcleo é diversa do protoplasma,<br />

apezar d'uma e outra serem de natureza albuminoide;<br />

ç o m p o r t a - s e ditTerentemente sob a acção dos differenles<br />

reagentes, e a analyse chimica revela n'esse corpo u m a<br />

grande p r o p o r ç ã o de phosphoro.<br />

0 núcleo (íig. S, n ) move-se lentamente no interior<br />

da cellula mudando constantemente de f ô r m a . P ô d e es-<br />

Fig. 3 — Cellulas vegetaes, a da esquerda está viva : a da direita foi morta<br />

, pelo aicool : p protoplasma; n núcleo ; m membrana cTinvolucro.<br />

tuclar-se bem nas cellulas novas, nomeadamente na epi-<br />

derme das folhas de Tradescantia: pòr-se-ha e m eviden­<br />

cia com o álcool, picro-carmim e ácido acetico.<br />

7. Leucitos. Além do núcleo, encontram-se no<br />

protoplasma granulos de f ô r m a arredondada, dotados<br />

(ruína actividade própria e chamados leueitos. Estes sao<br />

de tres cathegorias : amylo-leucitos, c h l o r o - l e u c i t o s e h y -<br />

dro-lèncitos.<br />

Os amylo-leucitos sào incolores e produzem u m a


CELLULA VEGETAL 13<br />

/ ,<br />

substancia ternaria que tem por f o r m u l a (C<br />

é o a m i d o .<br />

1<br />

1 2<br />

II<br />

1 0<br />

0<br />

1 0<br />

) 5<br />

que<br />

Os chloro-leucitos produzem, sob a influencia da luz,<br />

ura principio corante verde chamado c h l o r o p h y l l a , cuja<br />

f o r m u l a é CTPAzO 4<br />

e p o d e m t a m b é m produzir amido.<br />

Os hydro-leucito§ n ã o s ã o m a s s i ç o s c o m o os prece­<br />

dentes, mas apresentam no centro<br />

u m a cavidade cheia de liquido, a que<br />

se d á o n o m e de vacuolo (fig. 4 v). Os<br />

hydro-lcucitos s ã o a origem da agua<br />

que o protoplasma, c o m os seus n ú ­<br />

cleos e hydro-leucitos m a s s i ç o s , ab-<br />

sorve / / ?para entreter a sua actividade,<br />

e s ã o t a m b é m o r e s e r v a t ó r i o e m que<br />

elle lança as m a t é r i a s solúveis que re­<br />

sultam da sua actividade. 0 liquido<br />

resultante chama-se sueco cellular.<br />

i<br />

• - • A l


u<br />

BOTÂNICA<br />

a sua forma é a de parallepipedos rectangulares, apre­<br />

sentando o conjuncto o aspecto d'um m u r o de tijolos.<br />

As cellulas podem desenvolver-se consideravelmente<br />

no sentido do eixo do vegetal e f o r m a m então o que se<br />

chama fibras. N'este caso, as suas paredes são geral­<br />

mente muito espessas, e n ' u m corte transversal apresen­<br />

tam u m contorno polygonal e u m a pequena cavidade<br />

central. São ellas que ^constituem pela sua r e u n i ã o as fi­<br />

bras textís (Linho, Canhamo, Ürtiga, etc), empregadas<br />

na fabricação das cordas e d'algumas pastas de papel.<br />

A membrana cellular pode apresentar no seu ínte-<br />

rior augmentos d'espessura. As vezes, engrossando e m<br />

toda a sua extensão excepto n'alguns pontos, dá a estes<br />

a configuração de poços, cavados de dentro para fora;<br />

n'outros casos, o engrossamento parcial da parede cel­<br />

lular dá-lhe a figura d'uma rede de malhas mais ou me-<br />

nos apertadas (cellula reticulada); d'anneis regulares<br />

( a n n e l a d f O ; d'um fio espiral único, estendendo-se d'uma<br />

extremidade a outra da cellula (espiralada ou trachea);<br />

de traços parallelos, que lhe d ã o aspecto d'escada (es-<br />

calariforme). As vezes esse deposito de m a t é r i a orgânica<br />

limita-se a pontos disseminados ( p o n t u a d a ) ou a riscos<br />

separados (raiada).<br />

A membrana cellular pode l a m b e m romper-se e m<br />

parte, de m o d o que u m a serie de cellulas, ao principio<br />

independentes, acaba por formar u m tubo continuo, pela<br />

ruptura dos septos intermediários. Estes tubos ou vasos<br />

s ã o : os tubos crivados, os tubos lenhosos e os canaes se-.<br />

cretores.<br />

Os tubos, crivados são vasos cujas cellulas c o m m u n i - '<br />

cam entre si por meio cl'orificios estreitos praticados nos


CELLULA VEGETAL 15<br />

septos transversaes ou o b l í q u o s (üg. 5). Estes tubos<br />

contem m a t é r i a s azotaclas que circu­<br />

lam, durante o estio, atravez dos o r i -<br />

íicios dos c r i v o u N o o u t o m n o e inver­<br />

no, os crivos fecham-se.<br />

Os tubos lenhosos s ã o vasos de pa­<br />

redes m u i t o resistentes, apresentando<br />

diversas i n c r u s t a ç õ e s : servem para o<br />

transporte da agua e substancias mine-<br />

raes. Estes tubos estão abertos quando<br />

todas as cellulas c o m m u n i c a m entre si,<br />

e fechados quando os septos que as separam n ã o estão<br />

inteiramente reabsorvidos.<br />

Fig. 5 — Fragmento de<br />

tubo crivado, examinado<br />

no inverno. Os<br />

crivos cr acham-se<br />

obturados pela intumescencia<br />

do rebordo<br />

ca.<br />

Fig 6 - Corte longitudinal da porção lenhosa d'um fasciculo ãe Silva; va<br />

vasos annelados ; v.sp vasos espiralados; vr vasos raiados; vp vasos pon­<br />

tuados.<br />

As principaes fôrmas a distinguir nos tubos lenho­<br />

sos s ã o : os vasos annelados (fig. 0, v á ) ; espiralados<br />

(fig. 6, e s p ) ; raiados (fig. 6, v r ) ; escalariformes "(fig. 7).<br />

v. a


16 r BOTÂNICA<br />

Finalmente, os canaes secretores (fig. 8) são tubos<br />

mais ou menos regulares, k anastomosados entre si e dis­<br />

tribuídos pelo corpo da planta, e e m que certas cellulas<br />

Fig. 7 - Vaso escalorifomie do Fig. 8 — Vasos laticiferos da Celicaule<br />

d'uiri Feto donia<br />

chamadas secreloras e destinadas á elaboração de líqui­<br />

dos especiaes, l a n ç a m o, seu c o n t e ú d o . Taes são por<br />

exemplo, os canaes laticiferos, que encerram u m sueco<br />

leitoso branco ou córado, como se observa nas Euphor-<br />

biaceas, na Celidonia, etc. f<br />

Quanto á c o m p o s i ç ã o chimica da m e m b r a n a cellular,<br />

é formada pela cellulosa, que é u m hydrato de carboneo,


CELLULA VEGETAL 17<br />

c o m o hydrpgenra e oxygenio, nas p r o p o r ç õ e s e m que<br />

estes elementos e n t r a m na f o r m a ç ã o da agua] A sua for­<br />

m u l a é ( C 6<br />

H<br />

1 0<br />

0 5<br />

) 6<br />

As suas principaes propriedades s ã o<br />

as seguintes. É quasi inatacável pelos suecos digestivos.<br />

O seu dissolvente é a s o l u ç ã o ammoniacal d'oxydo de<br />

cobre. Pela a c ç ã o da agua a ferver, a que se junte u m a<br />

pequena quantidade d'acido suífurico, a cellulosa d á pro­<br />

ductos de t r a n s f o r m a ç ã o que s ã o c o r a d ò s d'azul por u m a<br />

p e q u e n í s s i m a quantidade d'iodo.<br />

. C o m o chloreto de zinco, o b t è m - s e t r a n s f o r m a ç õ e s<br />

a n á l o g a s ás que se realisam c o m a agua e c o m o ácido<br />

s u í f u r i c o ; por isso, empregando o chloreto de zinco<br />

iodado, p ô d e obter-se t a m b é m a m e s m a c ô r azul.<br />

A m e m b r a n a d'involucro p ô d e soíírer m o d i f i c a ç õ e s .<br />

Nas partes do vegetal expostas á a c ç ã o dos agentes ex­<br />

teriores, as camadas superficiaes transformam-se e m cu-<br />

tina, substancia ternaria pobre de oxygenio, cuja com­<br />

p o s i ç ã o p ô d e ser representada por C 6<br />

A m e m b r a n a exterior das raizes e dos caules trans-<br />

forma-se e m s u b e r i n a , cujas propriedades são a n á l o g a s<br />

á s da cutina.<br />

9. Productos elaborados pelo protoplasma. Encontram-<br />

se no interior da.cellula, além das substancias que a constituem,<br />

(protoplasma, núcleo, leucitos) outros productos que são o re­<br />

sultado da actividade do protoplasma. Uns apresentam-se no es­<br />

tado solido, outros em dissolução no sueco cellular.<br />

\ § Chlorophylla. (C<br />

1 8<br />

H<br />

3 0<br />

H<br />

1 0<br />

0.<br />

Az02) C=12,0==16. A côr verde<br />

que a maior parte dos vegetaes apresentam, e que só excepcio­<br />

nalmente se encontra nos animaes, é devida á presença de chlo-<br />

roleucitos no interior das cellulas verdes. Esses granulos faltam<br />

nos Fungos.<br />

2


BOTÂNICA<br />

Na maior parte das plantas, os ehloroleucilos são arredon­<br />

dados, ellyptieos ou ovaes. Muito pequenos ao principio, vão aug-<br />

mentando com as dimensões da planta, e, quando attingem um<br />

certo volume, cada um d'elles divide-se em dois.<br />

No seu interior formam-se ás vezes grãos (famido que, tendo<br />

ao principio pequeno volume, augmentam depois.<br />

A chlorophylla é solúvel no álcool, no etlier e na benzina.<br />

Evaporando-se a solução, pode obter-se no estado crystallino,<br />

sob a forma d'agullias verdes.<br />

Na cellula parece estar naturalmente dissolvida if um prin­<br />

cipio immediato chamado hypochlorina.<br />

A chlorophylla viva gosa da propriedade notabilissima de<br />

reduzir ò anhvdrido carbônico, lixando o earboneo.<br />

%° Amido. (C*R l0<br />

0 ,i<br />

V i<br />

O amido é uma das substancias<br />

mais abundantes no reino vegetal. Apresenta-se sob a forma<br />

de granulos, de dimensões variáveis, com as plantas de que<br />

11 i*n v i k<br />

m<br />

Estes granulos (lig. 9]><br />

são formados de cama­<br />

das concentricss (jue<br />

se acham dispostas em<br />

torno (rum.núcleo som­<br />

brio a que se chama<br />

hilo.<br />

O amido, insoluvel<br />

na agua fria, incha na<br />

agua a ferver, de modo<br />

que se transforma n'u-<br />

ma pasta chamadagom-<br />

ma, o que também se<br />

pôde conseguir a frio,<br />

juntando á agua potas-<br />

sa ou soda.<br />

Os grãos d'amido có-<br />

T?i„ o n»ii i A v, ram-se de azul pelo<br />

Fig. 9 — Cellula do parenchyma d'um tuber- . "<br />

culo de Batata encerrando grãos d'amido, iodtt, e esta reacçãO C


tão sensível que permitte reconhecer os menores vestígios<br />

d'aquella substancia.<br />

CELLULA VEGETAL ff$<br />

Quando submetlido á ebullição em presença dos ácidos,<br />

soffrexima serie de modificações e dá logar á formação de corpos<br />

isom^ffieos ou mais hydratados, taes como a deririna (C*H<br />

e a maltose (C«H2âO«), sendo o resultado final a transformação<br />

em glacose (CM«06). A esta transformação dá-se o nome do<br />

saccluo ifica çuo.<br />

Fig. 10—Cellula do parenchyina da raiz da Dahlia, mostrando a inulinacrystallisada<br />

em esphero-erystaes.<br />

Este pheoomeno produz se também pela acção de substan­<br />

cias azoladas, chamadas fermentos soluceis ou diastases, como<br />

por exemplo o da saliva, actdando a uma temperatura de «38.°<br />

3.° Imilina. A inulina (lig. 10) encontra-se em dissolução<br />

no sueco cellular da Dahlia. E um composto isomerico do amido;<br />

tem por formula C 6<br />

Hio()5, e existe nos tecidos em que falta<br />

aquella substancia.<br />

A inulina não pode ver-se n u m tecido vivo, por se achar<br />

em solução no sueco cellular; mas, como tem a propriedade de<br />

•<br />

1 0<br />

0*)


BOTÂNICA<br />

formar grupos de cristaes arredondados chamados esphero-crys- *<br />

taes, quando aquelle liquido perde agua, pode fazer-se apparecer<br />

p . * i exsieação, ou pondo as raizes da Dahlia no álcool.<br />

4.° Assucar Acha se muito espalhada o assucar de canua<br />

«ou saccharose. Existe nas escamas da Cebola, na Betarraba, no<br />

caule da Ganná d'assucar, etc.<br />

É solúvel na -agua e facihnenle crystaUisaveK mas não se<br />

dissolve no álcool.<br />

A saccharose é assimilada quer pelos vegetaes quer pelos ani-<br />

•maes depois de transformada^pela acção dos fermentos em glu-<br />

cosa e levulosa, espécies (fassucarés (pie se encontram em abun­<br />

dância nos friíctos maduros.<br />

5.o Matérias gordas. As substancias gordas acham-se em<br />

suspensão no sueco cellular, podendo ser examinadas ao mi­<br />

croscópio. Comquanto sejam ordinariamente em pequena quanti­<br />

dade, torna-se considerável a sua proporção ífalgumas sementes,<br />

como no Ricino, na Nogueira, etc. Basta, para reconhecer a exis­<br />

tência d'estas gorduras, esmagar as sementes u uma folha de pa­<br />

pel ; observam-se entío nodoas similhantes ás do azeite e que o<br />

calor não faz desappareeer.<br />

As substancias gordas são solúveis no ether e no sulfureto<br />

de carboneo; são as mais das vezes líquidas e formam óleos;<br />

mais raras vezes, tem a consistência da manteiga ou do cebo,<br />

constituindo as graxas. Debaixo do ponto de vista chimico, as<br />

gorduras são ethers da glycerina: oleina, palmitina e stearina.<br />

A primeira predomina nos óleos, e as duas ultimas nas graxas.<br />

6.° Substancias azotadas. As substancias azotadas en­<br />

contram-se principalmente nas sementes oleaginosas, formando<br />

massas ovoides que se designam pelo nome de grãos de alenrona.<br />

Para se verem bem, devem ser examinados em azeite ou gl\ce-<br />

dna, porque S3 dissolvem rapidamente na agua. Apresentam to­<br />

das as reacções das substancias albuminoides, e tingem-se facil­<br />

mente com as cores d aniiina.<br />

Os diííerentes princípios que compõem o grão d^ileurona


CELLULA VEGETAL 2 t<br />

estão por vezes intimamente misturados; mais freqüentemente^<br />

poíYmj, estão separados e veem-se no pequeno grão d'aleurom%<br />

ou no protoplasma que o<br />

cerca, pequenos corpos si-<br />

milhantes a ensines, a que<br />

se dá o nome de crystulloi-<br />

des profeicos. porque, tendo<br />

fôrma apparente de crys-<br />

laes, são inteiramente for­<br />

mados por substancias albu-<br />

minoides (fig. 11, Cr). Estes<br />

corpos distinguem-sé facil­<br />

mente dos verdadeiros crys-<br />

taes em se dilatarem e de­<br />

formarem absorvendo agua.<br />

~ o nAhl \ Fi<br />

£- 11—Cellula do álbum en da semente-<br />

/. iToninias AS (jom- do Kicirro, mostrando os grãos d'aleu-<br />

mas Sào productOS 11Ü0 azoo<br />

*<br />

n a a l<br />

' Veem-se também os cristalloi-<br />

1<br />

des cr e os globoides gl.<br />

tados, solúveis na agua ou<br />

que pelo menos formam com ella um liquido viscoso. Submetli-<br />

das á acção do ácido azolico, transformam-se em ácido maciço.<br />

As principaes gommas são a gomma da terra, (pie se encontra nas<br />

Amendoeiras e Pecegueiros ; a gomma arábica, produzida por<br />

algumas Acácias exóticas, e a gomma adragantba, fornecida por<br />

alguns Aslragahts.<br />

Approximam-se das gommas as mwHagens que ditlerein<br />

em não se dissolverem, más apenas intunieseerem na agua; estas<br />

mucilagens existem nas Malvas, nas sementes do Marmeteiro, etc<br />

H.° Substancias mineraes. Além das substancias orgâni­<br />

cas, existem no interior da cellula alguns corpos mineraes. Taes<br />

são o oxalato de cálcio, a silica e o carbonato de cálcio que se^<br />

apresentam por vezes com as fôrmas cnstallinas (pio lhes são<br />

peculiares (crystaes'das cellulas). Encontram-se também nas cellu­<br />

las, no interior dos grãos (Paleurona, concreções globulosas, cha­<br />

madas globoides, (fig. t l , gl) formadas, ao querparece, de phos-<br />

phato calcareo-magnesiano.


BOTAXI CA<br />

10. V i d a c e l l u l a r . As cellulas vegetaes t è n r d u a s<br />

ordens de /uucções a desempenhar. Por u m lado, eneor-<br />

p o r a m na sua substancia elementos vindos do exterior<br />

(nutrição); por outro, multiplicam-se, renovam-se (repro-<br />

ducção).<br />

A nutrição eíleelua-se á custa dos líquidos que le­<br />

v a m a toda a parte matérias nutritivas. A membrana cel-<br />

3?ig. 12 — Pbases diversas da formação das cellulas—1. Cellula mostrando o<br />

núcleo pn visto de perfil — 1. Cellula mostrando o núcleo visto de frente<br />

— 2. Núcleo dividido — 3. Núcleos separados — 4. 5. Apparição do septo<br />

das cellulas.<br />

lular deixa-se atravessar facilmente por esses líquidos, e<br />

os elementos que elles c o n t é m sào enlào transformados,<br />

graças a complicadas operações de t r a n s f o r m a ç ã o e syn-<br />

ihese biológica.<br />

A r e p r o d u c ç à o das cellulas vegetaes c o m e ç a pelo<br />

núcleo que se divide e m duas partes, formando cada<br />

uma d'el!as como (pie u m centro d^altracràp e m torno<br />

4 o qual se junta o protoplasma (ííg. 12, 1, V v<br />

2). Mais


CELLULA VEGETAL %$<br />

I<br />

I<br />

tarde a p p à r e c e entre os dois n ú c l e o s u m a parede d i v i ­<br />

sória e m tudo similhante á s paredes primitivas (fig. H ,<br />

3, 4, 5). x\s novas cellulas licam ligadas umas ás outras,<br />

crescem, dividem-se de novo e assim f o r m a m u m corpo<br />

c o n s t i t u í d o por elementos cellulares reunidos. \ esse<br />

grupo de cellulas '-chama-se tecido.<br />

11. Eisti a<br />

uctura homogênea e heterogênea.<br />

U m a s vezes as cellulas, a p é z à r de desempenharem actos<br />

differentes, n ã o m u d a m de constituição, sendo similhan-<br />

tes umas ás outras. Outras vezes, p o r é m , c o m a divisão<br />

do trabalho, e c o m a espeeialisação das ftmcções v è m<br />

m o d i f i c a ç õ e s da estructura da planta, cujas diversas par­<br />

tes (lilíerenciadas se encarregam cada u m a da sua func-<br />

c ã o . No primeiro caso, diz-se que a planta tem u m a es­<br />

tructura h o m o g ê n e a , no segundo heterogênea.<br />

\i. Tecidos novos e adultos. Os tecidos são for­<br />

mados por u m conjunclo de cellulas da m e s m a f ô r m a<br />

que desempenham u m m e s m o papel. A primeira divisão<br />

a estabelecer entre elles é e m novos e adultos. Os p r i ­<br />

meiros enaontram-se e m todas as partes do vegetal que<br />

e s t ã o e m via de crescimento; os segundos constituem<br />

os ó r g ã o s do vegetal quando complelamente desenvol­<br />

vido.<br />

I;). Tecidos novos. Examinando-se um córte lon­<br />

gitudinal da extremidade superior do caule (Fuma planta,<br />

v è - s e que é constituído por cellulas pequenas, apertadas<br />

umas contra as outras, sem deixarem intervallos ou la­<br />

cunas. Estas cellulas estão e m via de multiplicação mais


n<br />

BOTÂNICA<br />

ou menos rápida, e assim determinam o crescimento da<br />

planta. Dá-se a estes tecidos o nome de m e r i s t e m m .<br />

(fig. 13). Debaixo do ponto de vista morphologico, o<br />

mcristema é caracterisado por cellulas intimamente uni­<br />

das entre si, e m que a divisão é activa e a r e n o v a ç ã o<br />

constante; debaixo do ponto de vista physiologico, cara-<br />

cterisa todas as regiões e m via de crescimento.<br />

Fig. 13 — Corte longitudinal do topo d'um caule de Lyrio, mostrando<br />

a região terminal formada pelo meristema.<br />

14 Tecidos adultos Os tecidos adultos ou está­<br />

veis são constituídos por grupos de cellulas cuja evolu­<br />

ção está terminada. Podemos ífelles distinguir dois gru­<br />

pos: o primeiro é constituído por cellulas que conser­<br />

v a m o seu protoplasma e que só quando vivas podem<br />

desempenhar a sua f u n c ç ã o : são propriamente os cha-


CELLULA VEGETAL 25<br />

macios tecidos vivos o u de cellulas v i v a s ; o segundo en­<br />

cerra os tecidos e m que as cellulas perderam o proto­<br />

plasma, e e m cpie essa d e s a p p a r i ç ã o é u m a c o n d i ç ã o in­<br />

d i s p e n s á v e l do seu funccionamento: s ã o os chamados<br />

tecidos m o r t o s o u de cellulas m o r t a s . Os primeiros s ã o<br />

susceptíveis de se transformarem e m meristemas; os se­<br />

gundos n ã o t è m esta faculdade.<br />

15. Tecidos vivos. Convém distinguir os tres mais<br />

importantes: o p a r e n c h y m a , a e p i d e r m e e o tecido secre-<br />

tor,<br />

\.° O p a r e n c h y m a é u m tecido a b u n d a n t í s s i m o e m<br />

todas as plantas; é f o r m a d o de cellulas de paredes del­<br />

gadas, mais ou menos adherentes entre si, e constitue<br />

as partes molles da planta. O p a r e n c h y m a apresenta<br />

grande n u m e r o de variedades. Se as paredes das cellu­<br />

las se t r a n s f o r m a m e m suberina (8), forma-se o paren­<br />

c h y m a suOeroso, destinado a proteger o corpo da planta<br />

e a subtrahil-o á influencia directa do meio. éSe o proto­<br />

plasma desenvolve chlorophylla, constitue o parenchyma<br />

verde. Se as cellulas se dissociam, deixando entre si<br />

grande n u m e r o de intervallos chamados meatos ou lacu­<br />

n a s , o parenchyma diz-se lacunoso, e serve, ou para as­<br />

segurar a circulação dos gazes no corpo da planta, o u<br />

para sustentar á .tona cia agua os vegetaes a q u á t i ­<br />

cos, etc.<br />

2.° A e p i d e r m e (fig. 14), que cobre o thallo (3) ou<br />

o caule e as folhas, é constituída ordinariamente por<br />

cellulas estreitamente unidas entre si, cuja camada ex­<br />

terior se acha transformada e m cutina (8). A epiderme<br />

apresenta orifícios, chamados estomatos, que servem para


2 6<br />

BOTÂNICA<br />

assegurar a renovação dos gazes no interior da planta ;<br />

n'clla se desenvolvem t a m b é m p r o d u c ç õ e s especiaes cha­<br />

=<br />

madas .peitos. K u m tecido<br />

essencialmente protector.<br />

3. 0 tecido secretor é<br />

constituído ora por tubos,<br />

. ora por cellulas destinadas a<br />

y<br />

< encerrarem diversos ma te­<br />

m e s , alguns d'elles muitas<br />

vezes imiteis para a planta,<br />

e que cValgum modo 1<br />

são re­<br />

síduos da a l i m e n t a ç ã o ; os ca­<br />

naes resinosos e os laticife­<br />

ros (8) são exemplos d'este<br />

tecido.<br />

16. T e c i d o s m o r t o s .<br />

D'entre os tecidos mortos<br />

Fig. 11 - Fragmentos da epiderme m e r c c e mCllCãO especial O leão<br />

Lyrio, mostrando os estorna- « 1<br />

tos distribuídos por entre as cel- f . ^ „ COlldllClOr (lUC fÒriTUl OS<br />

lulas epidérmicas. , 1<br />

differentes vasos destinados<br />

a disseminarem no corpo db vegetal as matérias nutri­<br />

tivas: agua, matérias sólidas, etc. Este tecido c caracte-<br />

risado por duas espécies de vasos: os tubos crivados, de<br />

membrana formada sempre de cellulosa, e os tubos le­<br />

nhosos, de membrana sempre muito resistente. P ó d e m<br />

juntar-se a este grupo os vasos annelados, espiralados,<br />

raiados, etc. Os vasos formam-se, como dissemos, (8)<br />

pela resorpeão dos septos intermediários d'uma fila de<br />

cellulas (fig. 15).<br />

•>:> v<br />

A l é m do tecido conducíor, temos o x d e r e n c h y m a ,


(fig. 16) formado por cellulas de paredes muito espessas<br />

CELLULA VEGETAL 27<br />

e cuja cavidade interna desapparece ou se restringe enor-<br />

memente, e m virtude do engrossatnonto das paredes. Es-<br />

tas cellulas d ã o grande resistência e solidez ás regiões<br />

e m que se desenvolvem.<br />

Fig. 15*--Formação dos vasos no caule do Bambu. 1- Fig. 16 — Cellulas de<br />

CC, filas de cellulas destinadas a formarem um paredes muito esvaso:<br />

cl septos recentemente formados ; cV septos pessas, formando' o<br />

engrossados, em via de resorpção. — 2. Vaso pon- sclerenchyina<br />

tuado formado ; bb restos dos septos; p poros.<br />

17. A s s o c i a ç ã o d o s t e c i d o s : o r g a o s . a p p a r e -<br />

Ilios. Os difíerentes tecidos que acabamos de descrever<br />

associam-se de m o d o a c o n s t i t u í r e m i n s t r u m e n í o s desti­<br />

nados á e x e c u ç ã o de qualquer acto vital, que se c h a m a m<br />

órgãos,<br />

Á r e u n i ã o ( F o r g à o s destinados a u m m e s m o fim cha<br />

ma-se a p p a r e t h o . Tal e o a p p u r e l h o t e g u m e a i n r que sorve<br />

para proteger o corpo da planta, etc.<br />

Os ó r g ã o s das plantas dividem-se e m órgãos d n a -<br />

ricão ou vegetaçãoi e e m órgãos de reprodacção. Nas plan-


28<br />

BOTÂNICA<br />

tas d'organisação adiantada os primeiros sao a raiz, o<br />

caule e as folhas, os segundos, nas Phanerogamicas,<br />

constituem a parte mais importante da flor.<br />

Q u a d r o da d i v i s ã o dos tecidos<br />

5. O protoplasma é urna substancia azulada, similbante á<br />

clara (Povo, mas tem uma composição instável, nutre-se e res­<br />

pira, absorvendo oxygenio. Uma massa do protoplasma indivi-<br />

dualisada, com ou sem membrana limitante, é uma cellidu.<br />

6. Na grande maioria dos casos, o protoplasma apresenta<br />

no seu interior uma massa mais densa que é o núcleo. Este con­<br />

tem na sua espessura granulos, e ás vezes um ou mais núcleos<br />

mais pequenos ou nucleolos.<br />

R E S U M O<br />

7. Além do núcleo, eneoutram-sc no protoplasma granidos<br />

de fôrma arredondada cbamados leucilos. Sào de tros cathego-<br />

rias: amylo-leucitos, cltloro-leucitos e htylro-leucitos. Os .dois pri­<br />

meiros sào massiços; os últimos tèm no seu interior cavidades<br />

ebamadas vacuolos, cheias (Fum liquido chamado sueco cellular.<br />

s. Quasi sempre, o protoplasma cerca-se diurna membrana<br />

dMnvoluero, (pie alfeela ordinária mente fôrma arredondada, mas<br />

(jue é susceptível de modificações.<br />

\ Tecido conduetor.<br />

í Sclerencbyma.


CELLULA VEGETAL 29<br />

Desenvolvendo-se no sentido do eixo do vegetal, as cellulas<br />

formam as fibras. As paredes das fibras são geralmente espessas.<br />

A membrana cellular pôde apresentar internamente depó­<br />

sitos variáveis: por tal motivo recebe a cellula nomes diversos.<br />

A membrana cellular rompe-se ás vezes, de modo que as<br />

cellulas juntas formam tubos ou canaes. Estes são de tres espé­<br />

cies : tubos crivados, tubos lenhosos e canaes secretores.<br />

A membrana cellular é formada de cellulosa.<br />

9. Encontram-se no interior da cellula outras substancias,<br />

a saber: a chlorophylla, o amido, a inulina, o assacar, matérias<br />

gordas, substancias azotadas, gommas e substancias mineraes.<br />

10. As cellulas vegetaes nutrem-se e reproduzem-se. A nu­<br />

trição etlectua-se á custa dos líquidos que levam a toda a parte<br />

matérias nutritivas.<br />

A reproducçfio executa-se pela divisão das cellulas, cujo nú­<br />

cleo se divide em duas partes; cada uma das quaes forma como<br />

que u m centro (Uattracção em torno do. qual se junta o proto­<br />

plasma.<br />

I I . As cellulas podem ser similhantes umas às outras, ape-<br />

zar de desempenharem funcçòes differentes; mais freqüentemente,<br />

a especialisação fuuccional acarreta modificações morphologicas.<br />

No primeiro caso, a estructura é homogênea; no segundo, hetero­<br />

gênea.<br />

12. Os tecidos são formados por cellulas da mesma fôrma<br />

que desempenham o mesmo papel. Dividem-se em novos e adultos.<br />

13. Os tecidos novos formam os merislemas que secaracte-<br />

risam pela união estreita das cellulas e pela sua divisão activa.<br />

l i . Os tecidos adultos são constituídos por cellulas cuja<br />

evolução terminou. Dividem-se em vivos e mortos.<br />

15. Os tecidos vivos são de tres espécies: o parenchyma, a<br />

epiderme e o tecido secretor.<br />

O parenchyma é formado de cellulas de paredes delgadas,<br />

mais ou menos adherentes, e constitue as partes molles da planta.<br />

Pôde ser suberoso, verde ou lacunoso.<br />

A epiderme cobre o thallo ou o caule e as folhas, e é for­<br />

mada por cellulas cuja camada exterior se acha transformada<br />

em cutina. Apresenta grande numero d^stomatos.


30 BOTÂNICA<br />

O tecido secretor é constituído ora por tubos ora por cellu­<br />

las. contendo muita vez diversas matérias, algumas das quaes<br />

inúteis para a planta.<br />

16. Os tecidos mortos formam o tecido conduetor e o sele-<br />

renchgma. O primeiro é formado por duas espocies de vasos: os<br />

tubos crivados e os tubos lenhosos. O sclerenchgma è constituído<br />

por cellulas de paredes muito resistentes.<br />

17. Os tecidos formam órgãos; á reunião d'orgaos destina­<br />

dos á mesma funeção chama-se apparelho.


ÓRGÃOS DE VEGETAÇÃO<br />

Rai%: formas, estructura e funccões<br />

18. Raizes: suas formas- Chama-se raiz a parte<br />

C A P I T U L O 11<br />

do eixo da planta desprovida de folhas e que o r d i n á r i a -<br />

mente cresce de cima para baixo, e se enterra no sólo.<br />

Se e x a m i n a r m o s u m Feijociro, quando c o m e ç a a des­<br />

envolver-se, vemos que cia semente sáe u m corpo d i r i ­<br />

gido verticalmente, e que se chama raiz p r i n c i p a l o u<br />

gavião. Dentro e m pouco, v ê e m - s e rebentar da primeira<br />

outras raizes dirigidas horisontalmente, ás quaes per­<br />

tence o n o m e de raizes s e c u n d a r i a s . Estas p o d e m ainda<br />

subdividir-se; as suas ultimas r a m i f i c a ç õ e s chamam-se<br />

r a d i c i d a s . 0 conjuncto das ultimas r a m i f i c a ç õ e s das rai­<br />

zes tem o n o m e de cabellame.<br />

Quando a raiz principal é m u i t o desenvolvida e m<br />

r e l a ç ã o ás r a m i f i c a ç õ e s , d á - s e ao conjuncto o n o m e de<br />

raiz a p r u m a d a ; se as raizes secundarias são tão desen-


3°2 BOTÂNICA.<br />

volvidas como a principal, temos uma n\\z fasciculaáa<br />

ou fibrosa.<br />

Ila plantas, como o Trigo etc, que perdem cedo a<br />

raiz principal, e v ê e m - s e desenvolver, do caule, novas<br />

raizes que a substituem e que se c h a m a m adventicias.<br />

O Lyrio roxo (fig. 17) apresenta raizes adventicias em-<br />

toda a superfície do caule subterrâneo.<br />

19. Duração das raizes. A raiz pode viver ape-<br />

Fig. 17 — Rhizoma do Lyrio roxo<br />

nas u m anno, assim como toda a planta a que per­<br />

tence, e diz-se a n n u a l , representando-se abreviadamente<br />

pelo symbolo a s t r o n ô m i c o do sol 0 . Tal é a Papoula, o<br />

Trigo, etc. P ô d e a raiz viver dois annos, dando a planta<br />

folhas no primeiro e as flores e fructos no outro. Recebe<br />

n'este caso o nome de biennal e representa-se pelo sym­<br />

bolo de Marte


RAIZ 33<br />

nos e e n t ã o diz-se v i v a z o u p e r e n n e , representando-se<br />

ordinariamente pelo s y m b o l o de J ú p i t e r 2|_ Tal é o caso<br />

d o Carvalho, do Bordo, etc.<br />

20. Conformação e estructura das raizes. Para<br />

se estudar a c o n f o r m a ç ã o das raizes, examinemos plan­<br />

tas que se f a ç a m germinar na agua oií e m sitio h u m i d o .<br />

Seja o Feijoeiro, que já nos serviu d'exemplo e que se<br />

d á b e m no m u s g o humedecido.<br />

• V e m o s que a extremidade de cada raiz termina e m<br />

ponta e apresenta u m a c ô r amareilada ; essa extremidade<br />

è coberta p ô r u m a m e m b r a n a que se applica sobre ella<br />

c o m o u m dedo de luva, e constitue a c o i f a o u p i l o r h i z a .<br />

A certa distancia d'essa extremidade^ observa-se e m<br />

toda a superfície u m a p e n n u g e m que, examinada ao m i ­<br />

c r o s c ó p i o , se reconhece que é constituída por uma 7<br />

quantidade de pellos, chamados pellos radicaes.<br />

grande<br />

E m f i m , as partes mais antigas da raiz n ã o t è m pel­<br />

los e apresentam u m a c ô r mais carregada.<br />

Quanto á estructura, se examinarmos ao m i c r o s c ó ­<br />

pio u m a s e c ç ã o transversal da raiz do Feijoeiro (íig. 18),<br />

v e m o s que é f o r m a d a por duas partes: u m a exterior, o u<br />

casca e outra interior o u c y l i n d r o central.<br />

A casca (fig. 18, E) é composta de tres camadas. A<br />

exterior, ou c a m a d a p i h f e r a , é f o r m a d a por cellulas alon­<br />

gadas, cuja m e m b r a n a está mais o u menos cutinisada (8).<br />

Interiormente fica o p a r e n c h y m a cortical, c o n s t i t u í d o por<br />

cellulas regularmente dispostas e m camadas, deixando<br />

entre si meatos maiores o u menores. Finalmente, a ca-<br />

m a d a mais interna da casca, que fica c o n t í g u a ao cylin­<br />

d r o central, é a e n d o d e r m e , e é formada por cellulas<br />

3


BOTÂNICA<br />

de paredes resistentes e lenhosas apertadas umas contra<br />

as outras.<br />

O cylindro central encerra exclusivamente o appare-<br />

Iho conductor da raiz. N ' u m córte transversal vè-se que<br />

formado de duas ordens de fasciculos: lenhosos e libe-<br />

rianos (fig. 48, F e V). Os primeiros, t a m b é m chamados lâ­<br />

m i n a s vasculares, acham-se dispostos e m f ô r m a de raios,<br />

de modo a formarem u m a estrella. Nos espaços deixados<br />

Fig. 18 — Corte transversal da raiz do feijão. Fe V representam<br />

os vasos da planta cortados.<br />

entre os fasciculos lenhosos ficam os fasciculos liberta-<br />

nos, formados de tubos crivados e cellulas alongadas.<br />

Finalmente, o intervallo que fica entre uns e outros é<br />

occupado por u m parenchyma (15) desprovido de vasos<br />

que se chama m e d u l l a .<br />

21. A raiz na serie das plantas. Ha plantas to­<br />

talmente desprovidas de raizes: taes são as Thallophytas<br />

e as Muscineas (3). Deve notar-se, p o r é m , que algumas


Algas terminam n uma espécie de discos que lixam 2<br />

RAIZ >'<br />

planta ao solo, mas n ã o t è m f u n c ç õ e s de raizes, e quí<br />

os Musgos t è m pellos originados no caule que substi­<br />

t u e m as raizes nas suas f u n c ç õ e s .<br />

Nas C r y p t o g a m i c a s vasculares (3) as raizes são sem­<br />

pre adventicias e raras vezes engrossam.<br />

As G y m n o s p e r m i c a s (3) t è m quasi sempre raizes<br />

m u i t o ramificadas, c o m u m g a v i ã o b e m desenvolvido, que<br />

se t o r n a m lenhosas c o m a edade.<br />

Nas A n g i o s p e r m i c a s (3) c o n v é m estudar a raiz nas<br />

M o n o c o t y l e d õ n e a s e nas Dicotyledoneas. Nas Monocotyle-<br />

doneas a raiz principal atrophia-se, apparecendo raizes<br />

íasciculadas (18). Nas Dicotyledoneas, é f r e q ü e n t e o des­<br />

envolvimento mais o u menos c o n s i d e r á v e l da raiz p r i n ­<br />

cipal que, nas plantas que v i v e m mais d ' u m anno, p ô d e<br />

engrossar e lenhificar-se bastante.<br />

22. Funcções das raizes. .São numerosas as fun­<br />

c ç õ e s das raizes. Taes s ã o a fixação do vegetal, a respi­<br />

r a ç ã o , a a b s o r p ç ã o , a digestão, e a a c c u m u l a ç ã o de re­<br />

servas alimentícias.<br />

l.° F i x a ç ã o do vegetal. E m grande n u m e r o de ve­<br />

getaes, as raizes servem para os fixar ao solo: tal é o que<br />

suecede c o m as raizes das arvores. Este resultado é de­<br />

vido á a c ç ã o da gravidade sobre a extremidade da raiz 7<br />

e é u m caso particular da influencia que esta força exerce<br />

sobre o vegetal para lhe i m p r i m i r a p r ó p r i a direcção e<br />

que se c h a m a geotropismo. 0 geotropismo p ô d e ser p o ­<br />

sitivo o u negativo, conforme a parte e m via de cresci­<br />

m e n t o segue o m e s m o sentido da força o u o opposto. Na<br />

raiz, o geotropismo é positivo.


36 BOTA MCA<br />

°2.° Respiração. As raizes precisam, para viver, de<br />

absorverem oxygenio e de exhalarem anhydrido c a r b ô ­<br />

nico. Respiram, portanto.<br />

Falte-lhes o ar e m o r r e m . Demonstram-n'o grande<br />

numero d'obscrvacões. Assim, quando o solo é muito<br />

duro e i m p e r m e á v e l aos gazes atmosphericos, as plantas<br />

c o m e ç a m a perdei- o vigor; mas, se o cavarmos para o<br />

tornarmos mais solto, recuperam o viço que tinham per­<br />

dido. É principalmente por causa d'esta impermeabilidade<br />

que os solos argilosos são i m p r ó p r i o s para a cultura. De<br />

resto, comprehende-se que u m terreno muito duro seja<br />

obstáculo ao desenvolvimento do vegetal e á circulação<br />

da agua carregada de matérias alimentares da planta.<br />

S.° Absorpção. Para podermos determinar esta fun-<br />

cção das raizes, comparemos differentes Feijoeiros e m<br />

plena g e r m i n a ç ã o , uns a que cortemos as raizes, outros<br />

plantados em areia lavada e sècca e outros e m terra vegetal<br />

humida. Ao passo que os dois primeiros grupos de plan­<br />

tas m o r r e m depressa, o terceiro desenvolve-se vigorosa­<br />

mente. As raizes tiram da terra humida os alimentos de<br />

que a planta precisa; são, portanto, órgãos de a b s o r p ç ã o .<br />

As partes da raiz que estão encarregadas d'esta fun-<br />

c ç ã o são as que se encontram na vizinhança da extremi­<br />

dade e que se reconhecem pelos pellos que as cobrem,<br />

os quaes por esse motivo receberam o nome de pellos<br />

•absorventes. Se, n ' u m Feijoeiro, cortarmos esta região, a<br />

planta morre tão rapidamente como aqucllas e m que as<br />

raizes se cortem por completo.<br />

A.° Digestão. 0 anhydrido carbônico emittido pela<br />

respiração da raiz exerce acção chimica sobre os saes do<br />

solo, tornando solúveis na agua alguns que o n ã o eram.


RAIZ 3 7<br />

Tal é o que suceede c o m os carbonates que passam ao<br />

estado de bicarbonatos. Por outro lado os pellos radi-<br />

caes t è m na camada mais exterior u m liquido ácido que,<br />

atravez da parede cellulosica, actua energicamente sobre<br />

as partículas sólidas da terra. Os carbonates de cal e<br />

magnesia, o phosphato de cal são assim dissolvidos e<br />

absorvidos. Esta f u n c c ã o cha-<br />

ma-se digestão, pela s i m ü h a n ç a<br />

(pie tem c o m a e l a b o r a ç ã o dos<br />

alimentos dos animaes.<br />

3.° R e s e r v a . - A s raizes po­<br />

d e m servir ainda para a r m a ­<br />

zenar alimentos de reserva.<br />

A s s i m , as raizes aprumadas da<br />

Betarraba (fig. 19), do Nabo,<br />

e t c , desenvolvem-se m u i t o du­<br />

rante os primeiros mezes de<br />

existência d'estas plantas, en-<br />

chendo-se de suecos e substan­<br />

cias que depois s à o consumi­<br />

das quando se desenvolvem as<br />

flores e fruetos. A estas raizes<br />

dá-se o n o m e de raizes-luber-<br />

culos.<br />

As Dhalias são t a m b é m rai-<br />

zes-tuberculos, mas as reser­<br />

vas alimentares a c e u m u í a m - s e<br />

e m raizes adventicias.<br />

F i<br />

f -<br />

E a<br />

\<br />

z d e<br />

betarraba co*<br />

tendo grande reserva a assucar.<br />

°2;>. A p p l i c í u ; õ e s . 0 desenvolvimento das raizes<br />

adventicias ó m u i t o utilisado nas praticas culturaes, para


38 BOTÂNICA<br />

reproduzir as plantas por estacas ou por mergulhia,<br />

-como adiante veremos.<br />

N'alguns paizes, costuma passar-se u m rolo pelo<br />

Trigo ainda novo, de m o d o que fica deitado, e, tocando<br />

assim a terra por vários pontos, desenvolve maior nu­<br />

mero de raizes adventicias. Cada planta de Trigo, rece­<br />

bendo então maiqr quantidade de alimentos, dá flores<br />

mais numerosas e maior numero de sementes.<br />

Vi. Usos das raizes. Um certo numero de raizes<br />

(Cenoura, Nabo, etc.) são empregadas na alimentação do<br />

h o m e m ou dos animaes. Outras são utilisadas ha indus­<br />

tria, como por exemplo a Betarraba, cultivada para a<br />

fabricação do assucar. Finalmente, algumas tem emprego<br />

na medicina, como a Jalapa, a Althea, etc.<br />

18 Chama-se raiz á parte da planta que ordinariamente<br />

R E S U M O<br />

cresce de cima para baixo, e se enterra no solo. Do corpo princi­<br />

pal ou raiz principal partem outras menos \olumosas ou raizes<br />

secundarias.<br />

As raizes podem ser aprumadas, fusciculadas e atleenticias.<br />

19. Quanto á duração, as raives podem sei' animaes, bien-<br />

mes. rivazes ou iirrennes, conforme duram um, dois ou mais an-<br />

nos.<br />

20. Examinando uma raiz. \è-se rjue a extremidade é co­<br />

berta por unia membrana especial chamada coifa e que as partes<br />

lateraes apresentam grande numero de pellos radicaes.<br />

iVum corte transversal distin»'uem-se duas camadas na raiz:<br />

a casca e o ajlindra central.<br />

A casca comprehcude a r((ma(la pilifera, o imrenchyma cor-


tical e a endoderme. O cyhndro central è formado por fasciculos<br />

RAIZ 39<br />

lenhosos e iiberianos, entre os quaes está uni parenchyma que con­<br />

stitue a medufla.<br />

21. As Thallophytas não tèm raizes. As Cryptogamicas vas­<br />

culares só as tèm adventicias e essas raras vezes engrossam. As<br />

Gymnospermicas tem Gavião bem desenvolvido e tornam-se lenho­<br />

sas com a edade. Das Angiospermicas, as Monocotyledoneas tèm<br />

raizes fasciculadas pela atrophia da raiz principal ; e as Dicotyle­<br />

doneas apresentam raizes que freqüentemente se desenvolvem<br />

ou lenhificam.<br />

22. As funcções ,das raizes são: a fixação do vegetal ao solo,<br />

a respiração, a absorpção, a digestão e a accumulaçào de reser­<br />

vas alimentícias.<br />

23. O desenvolvimento das raizes adventicias è empregado<br />

na cultura para reproduzir as plantas por estaca ou mergulhia.<br />

Fazendo-se deitar o Trigo, também se tem em vista produzil-as.<br />

24. Algumas raizes são empregadas na alimentação; ou­<br />

tras servem na industria; outras tèm applicações médicas.


C A P Í T U L O III<br />

Ó R G Ã O S D E V E G E T A Ç Ã O<br />

i<br />

C a u l e<br />

\<br />

: f e r i n a s » e s t r u c t u r a e f u n c ç õ e s<br />

45. Caule. Chama-se caule a parte do eixo da<br />

planta que ordinariamente se dirige de baixo para cima<br />

e supporta as folhas.<br />

Examinado no Feijoeiro ou no Amieiro (fig. 40),<br />

apresenta-se sob a f ô r m a d'um eixo central, tendo de<br />

distancia em distancia e x p a n s õ e s que se c h a m a m folhas.<br />

O angulo formado por estas e o caule chama-se axilla<br />

das folhas.-Denominam-se nós os pontos e m que se in­<br />

serem as folhas, e eu Ire-nós ou me filhai! os os espaços'<br />

que as separam.<br />

Na extremidade superior do caule, os eutre-uós sào<br />

cada vez mais curtos e de mais recente f o r m a ç ã o . O topo<br />

é coberto pelas folhas mais novas que o protegem, con­<br />

stituindo o chamado gomo terminal. Esta região deter­<br />

mina o allongamento do caule e a f o r m a ç ã o de novas ftn<br />

Jhas.


Além do gomo terminal, o caule apresenta, quasi<br />

CAULE M<br />

sempre aos lados, nos â n g u l o s formados entre elle e as<br />

folhas, pequenas f o r m a ç õ e s similhantes ao g o m o termi­<br />

nal e que se c h a m a m g o m a s axillares: estes gomos s ã o<br />

Fig. 20 — Fragmento de ramo cTAroieiro, mostrando o caule, as folhas<br />

e os^gomos.<br />

destinados a gerarem eixos secundários ou ramos, e<br />

observam-se e m grande n u m e r o na primavera.<br />

N e m todas as plantas t è m caule; n a l g u m a s , os en-<br />

tre-nós são tão pequenos que as folhas approximam-se


42<br />

BOTÂNICA<br />

muito, formando verdadeiras rosetas. Dá-se a essas plan­<br />

tas o nome de acaules, mas esta designação n ã o é rigo-:.<br />

rosa e apenas se emprega por abreviatura. As plantas<br />

que não tem caule, no sentido rigoroso da expressão,<br />

são as Thallophytas, em que t a m b é m se n ã o encontram<br />

raizes nem folhas.<br />

0 caule c o m e ç a a apparecer nas Muscineas, e todas<br />

as plantas dos typos mais adiantados o possuem.<br />

46. Estructura do caule. A eslructura do caule<br />

varia com o typo a que a planta pertence. Examinal-a-<br />

hemos successivamente nas Muscineas, nas Crvptogami-<br />

cas vasculares e nas Phanerogamicas.<br />

1.° Muscineas. Sendo estas plantas simplesmente<br />

cellulares, toda a planta, e portanto o caule, é consti­<br />

tuído por u m parenchyma que, nos Musgos mais simples,<br />

é h o m o g ê n e o , e nos mais perfeitos apresenta u m c o m e ç o<br />

de differenciação, sendo a parte central constituída por<br />

cellulas menores e de paredes mais delgadas. As cellulas<br />

exteriores, de paredes mais grossas, apresentam-se córa-<br />

das mais ou menos de vermelho, ao que devem estas<br />

plantas a còr que apresentam.<br />

4.° Cryptogamicas vasculares. T o m e m o s para exem­<br />

plo o Polypodio vulgar, tão abundante e m todas as pare­<br />

des. Se examinarmos ao microscópio o seu caule subter­<br />

râneo, vemos que 6 formado por u m parenchyma, cer­<br />

cado por u m certo numero de fibras e tubos crivados, a<br />

cuja associação se dá o nome de fasciculos libero-lenlio-<br />

sos. Estes fasciculos apresentam uma eslructura especial:<br />

a regiào lenhosa occupa o meio e forma, n u m corte<br />

transversal, uma espécie de oval allongada cujas extremi-


CAULE 43<br />

dades s ã o oecupadas por vasos annelados e espiralados<br />

m u i t o estreitos, ao passo que a região media,' de mais<br />

recente f o r m a ç ã o , apresenta largos vasos raiados ou es-<br />

calariformes. A região lenhosa é cercada por parenchyma<br />

liberiano associado a tubos crivados. T o d o o fasciculo é<br />

cercado por u m a camada de cellulas de paredes espessas,<br />

incrustadas de m a t é r i a s escu­<br />

ras, que f o r m a m u m a espécie<br />

de bainha.<br />

W a l g u n s Fetos, e m que o<br />

caule lica sempre m u i t o delga­<br />

do, p ô d e distinguir-se epider­<br />

me, casca e cylindro cen­<br />

tral.<br />

3.° Plia uerot/a m imts. A<br />

estructura do c a u l e n'estas<br />

plantas varia, podendo-se apre­<br />

sentar dois typos: u m p r ó p r i o<br />

das MonocotyJedoneas, e outro<br />

das D í c o t v l e d o n e a s e G v m n o s -<br />

permicas.<br />

Nas Monocotvledoneas, se<br />

examinarmos ao m i c r o s c ó p i o<br />

u m corte transversal do caule,<br />

temos a distinguir duas cama­<br />

das: a casca e o c y l i n d r o cen­<br />

tral.<br />

0 cylindro central encerra<br />

Fig. 2i - Kaòcieui 1. jero-lenhoso<br />

cVunia Monoe^ cyledonea (Aco-<br />

)-us) ; vb vasos lenhosos ; lib.<br />

liber ; g bainha de sclerenchyma<br />

; l lacunas.<br />

o sysfhema conckictor do caule que se c o m p õ e de lasct-<br />

culos libero-len/wsos, disseminados por f ô r m a mais o u<br />

menos regular. Os fasciculos lenhosos estão mais juntos


44 BOTÂNICA<br />

na peripheria, e vão-se tornando mais affastados na re4<br />

giào central, onde existe uma zona de parenchyma des*,<br />

provida de fasciculos, (pie constitue a m é d u l l a propria­<br />

mente dita.<br />

Pelo que respeita á constituição dos fasciculos<br />

(íig. 21), os tubos liberianos estão collocados no exte­<br />

rior, e os vasos do lenho f o r m a m , n'um corte transver­<br />

sal, u m crescente cuja concavidade os envolve, ás vezesj<br />

mesmo completamente, como se vè n ' u m grande numero<br />

de caules subterrâneos, e nomeadamente no Lírio roxo<br />

(fig. 22).<br />

A casca tem organisação simi-<br />

> < ^ C H ^ lhante á das Dicotyledoneas.<br />

X f ^ ^ ^ ^ ^ i . . / Nas Dicotyledoneas e Gymnos-i<br />

y ^ ^ ^ ^ m ^ . . V r permicas, se examinarmos u m corte<br />

X / S S j b ^ S c<br />

'°<br />

c a u<br />

'<br />

e<br />

-<br />

c o m u n l a<br />

f °<br />

r t e<br />

ampliação,;<br />

^ " ^ ^ ^ ^ G . j vemos que se c o m p õ e de duas re-<br />

> ^ giões: u m a externa, a casca ; outra<br />

Fig. 22-córte transversal<br />

cPum fasciculo li-<br />

interna, o cylindro central.<br />

bero-lenhoso cio caule A COSCO é COUStiluida POI' UITia<br />

cio Lyrio. vs vasos es- , - .<br />

piraiados; vr vasos camada mais ou menos espessa de^<br />

raiados, formando um<br />

1<br />

circulo em torno do parenclivma cujas cellulas externas<br />

liber l.<br />

1<br />

* rt<br />

estão muitas vezes cheias de chloro­<br />

phylla; não c o n t é m vasos, e apenas é atravessada pelos<br />

que vão do caule para as folhas e gomos.<br />

V camada exterior do caule, ò formada pela epi­<br />

d e r m e , cujas cellulas estão estreitamente unidas entre si<br />

e apresentam es toma tos (15) e pellos. A camada interna<br />

da casca, que limita a região central, é caracterisada por<br />

listarem as cellulas que a c o m p õ e m solidamente presas<br />

umas ás outras, constituindo o que se etíama a endo-


CAULE<br />

d e r m e . Muitas vezes, a,s cellulas da endoderme encerram<br />

numerosos g r ã o s d'amido.<br />

0 c y l i n d r o central encerra sempre o systhema con-<br />

ductor. É f o r m a d o por u m parenchyma e m que se acha<br />

u m certo n u m e r o de c o r d õ e s formados por vasos encos­<br />

tados uns aos outros e a que.se chama fasciculos vascu­<br />

lares.<br />

Os fasciculos estão dispostos ,á volta do eixo do<br />

caule e apresentam, n ' u m córte<br />

transversal, o aspecto d'ovaes<br />

que d e l i m i t a m pela sua r e u n i ã o<br />

uni circulo, cujo centro, occu-<br />

pado pelo parenchyma, recebeu<br />

o n o m e de m e d u l l a (fig. 23, m ) .<br />

A medulla emitte prolongamen­<br />

tos que separam os diversos fas­<br />

ciculos e se c h a m a m raios m e -<br />

dullares (fig. 23, r).<br />

Maior a m p l i a ç ã o mostra que<br />

os feixes vasculares são formados pela associação de te­<br />

cidos diíferentes. A parte interna de cada fasciculo é for­<br />

m a d a pelo lenho, a externa pelo liber (fig. 24). A região<br />

interna, l e n h o s a / é caracterisada por estarem todos os ele­<br />

mentos que a c o m p õ e m endurecidos, e comprehende va­<br />

sos annulares, espiralados, raiados, e pontuados, a que se<br />

j u n t a m fibras lenhosas, cellulas alongadas de paredes m u i<br />

grossas e parenchyma lenhoso.<br />

A parte liberiana de cada fasciculo é sempre externa,<br />

e c o m p õ e - s e de cellulas cujas.paredes são formadas de<br />

cellulosa pura, e m que se distinguem tubos crivados, es­<br />

palhados no meio da região, fibras liberianas e o paren-<br />

•ec<br />

45<br />

Fig. 23 — Córte the.orico d'urn<br />

caule dicotyledonGo ; ec casca;<br />

end endoderme; Ib, fasciculo<br />

libero-lenhoso ; r raios<br />

me dullares ; m medulla.


46<br />

BOTÂNICA<br />

chyma liberiano. A reunião d'estas duas espécies de te­<br />

cido conductor recebeu o nome, como d i s s é m o s , âejas-<br />

áculos vasculares ou Hbero-lenhosos.<br />

27. Funcções do caule. O caule serve para sup-<br />

portar as folhas, e tem outras funcções a desempe­<br />

n h a r : 1.° como ó r g ã o geotropico; 2.° como órgão de<br />

respiração; 3.° como órgão de ü x a ç ã o de carboneo; 4.°<br />

Fig- 24—Córte transversal d'um fasciculo libero-lenhoso d'uui caule de Silva<br />

en, endoderme ; Ib, liber ; v, vasos lenhosos ; ec, casca.<br />

como órgão de transpirarão e c h l o r o v a p o r i s a ç ã o ; 5.°<br />

como órgão conductor e 6.° como ó r g ã o de reserva.<br />

l.° 0 caule como órgão geotropico. Geotropismo é<br />

a influencia que a gravidade tem no desenvolvimento da<br />

planta (22). 0 geotropismo do caule é negativo, visto que<br />

o seu crescimento se eífectua e m sentido inverso ao da<br />

força que sobre elle influe. Se collocarmos ura caule ho-<br />

risontalmente, vemos que elle dentro e m pouco se curva


CAULE 47<br />

para c i m a na r e g i ã o terminal, até que a sua extremidade<br />

fica vertical. Demonstra-se que este facto depende da<br />

gravidade, porquanto, se subtrairmos o caule á a c ç ã o<br />

d'esta força, fixando-o por exemplo a u m disco que gire<br />

lentamente n ' u m plano vertical, cresce e m linha recta na<br />

d i r e c ç ã o , qualquer que ella seja, e m que o tenhamos<br />

collocado.<br />

Influencia a n á l o g a tem a luz ( p h o t o t r o p i s m o j , o calor<br />

( t h e r m o t r o p i s m o ) e a h u m i d a d e ( h y d r o t r o p i s m o ) .<br />

2.° 0 caule como órgão de respiração. As diversas<br />

f u n c ç õ e s que o caule t e m a desempenhar só p o d e m exer­<br />

cer-se, quando este ó r g ã o possa respirar, isto é, quando<br />

esteja n ' u m meio e m que exista oxygenio que elle absor­<br />

va, exhalando anhydrido c a r b ô n i c o .<br />

Introduzindo u m a planta a que se tirem as folhas,<br />

ficando reduzida ao caule, n ' u m a campanula que tenha<br />

ar, observa-se que o oxygenio vae desapparecendo, sendo<br />

s u b s t i t u í d o pelo anhydrido c a r b ô n i c o .<br />

3.° 0 'caule como órgão de fixação do carboneo. Na<br />

m a i o r parte dos caules, as cellulas da casca, directa-<br />

mente expostas á luz, contem chloroleucitos ( 7 ) ; po­<br />

d e m portanto concorrei' accessoriamente para a fixação<br />

do carboneo, visto c o m o sabemos que é propriedade<br />

fundamental da chlorophylla reduzir o anhydrido car­<br />

b ô n i c o para se apoderar do carboneo, pondo e m liber­<br />

dade o oxygenio (9). E m certos vegetaes (Espargo,<br />

Giesta) as folhas e s t ã o reduzidas a pequenas escamas o u<br />

s ó apparecem no v e r ã o , e verifica-se e n t ã o que as cellu­<br />

las c o m chlorophylla s ã o m u i t o numerosas na casca do<br />

caule.<br />

4.° O caule como órgão de t r a n s p i r a ç ã o e de chlora-


48<br />

BOTÂNICA.<br />

vaporisação. 0 caule lança incessantemente vapor d'agua<br />

na atmosphera. É isto o que se chama transpirarão.<br />

Quando as cellulas epidérmicas se cutinisam, (8) a transpi-<br />

raçào vae enfraquecendo.<br />

A l é m d'este phenomeno, dá-se nas plantas verdes<br />

uma vaporisação cia agua que contem, ligada a acção da<br />

luz e da chlorophylla. É o que se chama chlorovaporisa-<br />

cão, e não se observa nas plantas desprovidas de chloro­<br />

phylla, como os Fungos. A chlorovaporisação é muito<br />

mais intensa do que a transpiração.<br />

5.° 0 caule como órgão conductor. O caule serve<br />

para levar ás folhas, por meio dos vasos que encerra,<br />

as substancias alimentares tiradas do solo pelas raizes,<br />

e, inversamente, concorre para disseminar e m toda a<br />

planta os elementos preparados nas folhas.<br />

Basta cortar na base o caule d'uma planta e m plena<br />

vegetação para se ver que a superfície de córte da parte<br />

que fica na terra se cobre d ' u m liquido incolor que,<br />

sendo absorvido por meio de papel de chupar, se renova<br />

e m breve, tantas vezes quantas se repetir a experiência.<br />

Examinando a secção do caule, na occasião e m que re-<br />

apparece o liquido, percebe-se que as gottas s á e m dos<br />

vasos. Existem portanto no caule correntes de liquido,<br />

destinadas a disseminar as matérias alimentares: chama-<br />

se-lhes correntes de seiva.<br />

6.° 0 caule como órgão de reserva. E m varias plan­<br />

tas, o caule accumula alimentos que são aproveitados<br />

quando a vegetação se renova.<br />

Assim, no tronco das arvores do nosso paiz, accu-<br />

mulam-se os alimentos, na epocha da queda das folhas.<br />

Algumas partes do caule s u b t e r r â n e o da Batata dilatam-


CAULE 49<br />

se, enchem-se de fecula e constituem os tuberculos d'esta<br />

planta, vulgarmente chamados bakitas (fig. 25). N o caule<br />

da Canna d'assucar accumula-se o assucar o r d i n á r i o .<br />

Fig. 25 — Um pé de batata mostrando que o caule se dilata n'alguns pontos<br />

V para formar tuberculos.<br />

28. D i v e r s a s e s p é c i e s de caules. Podemos clas­<br />

sificar os -caules debaixo de pontos de vista differentes.<br />

Assim, attendendo á consistência e d u r a ç ã o , distinguem-se<br />

e m herbaceos e lenhosos. E m a t t e n ç ã o ao meio e m que se<br />

desenvolvem, ar o u terra, temos caules aéreos e caules<br />

subterrâneos.


50 BOTÂNICA<br />

29. Caules herbaceos e lenhosos. Os caules do<br />

Feijão e cia Batata são sempre verdes e molles, par­<br />

tindo-se facilmente. S é c c a m e m o r r e m todos os annos.<br />

São estes os, caules herlfaceos.<br />

N e m todos os caules são similhantes a estes. Se<br />

examinarmos os caules das arvores, do Carvalho, por<br />

exemplo, vemos que, sendo ao principio tenrõs como o<br />

do Feijão ou da Batata, se tornam ao cabo d ' u m ou dois<br />

annos mais escuros e adquirem maior dureza. Cortan-<br />

do-se transversalmente, vè-se que a maior parte da sua<br />

espessura é formada por u m a substancia dura a que se<br />

chama lenho. Denominam-se esses caules lenhosos, e per-<br />

t tencem a plantas que vivem mais d ' u m anno.<br />

.30. Engrossamento dos caules lenhosos. Os<br />

caules herbaceos n ã o augmentam muito e m grossura,<br />

por viverem -apenas u m anno; mas os caules lenhosos<br />

podem adquirir espessura muito considerável.<br />

Se examinarmos u m córte transversal do B o r d o com-<br />

m u m , (íig. 26) vemos que o seu centro é occupado pela<br />

medulla, que está envolvida por u m circulo de lenho, e<br />

que este ainda é rodeado por u m a camada delgada que<br />

é a casca. Entre a casca e o lenho existe u m a região de<br />

tecido em via de f o r m a ç ã o : é a zona geradora ou c a m ­<br />

bio, á custa da qual principalmente o tronco augmenta<br />

d'espessura. Esta região ó muito molle na primavera, o<br />

que permitte destacar c o m facilidade a casca do lenho.<br />

U tronco d ' u m Carvalho velho é formado quasi ex­<br />

clusivamente pelo lenho: a casca é muito delgada, e a<br />

medulla que occupa o centro é pouco desenvolvida. Or­<br />

dinariamente o lenho que está no centro d a tronco é es-


CAULE 51<br />

curo e duro, e constitue o x e r n e ; o que está junto á casca<br />

é amarello o u branco e f ô r m a o que se chama a l b u r u o .<br />

Esta p à r t e do caule, que representa sempre a r e g i ã o<br />

mais nova do lenho, é muitas vezes a ú n i c a viva e s ó<br />

ella é atravessada pelos líquidos da planta.<br />

A l é m d'eslas camadas, vê-se, n ' u m córte, que o<br />

tronco das arvores é sulcado de riscas que v ã o do centro<br />

Fig. 26 — Córte transversal do Bórão commum.<br />

á peripheria; estas regiões n ã o c o n t ê m vasos, são p o u c o<br />

resistentes, c t e m o n o m e cie raios m e d u l l a r e s .<br />

31. Caules aéreos. Os caules aéreos apresen­<br />

tam-se c o m aspectos cliíferentes.<br />

N a m a i o r parte das vezes são ereclos, dispostos ver­<br />

ticalmente ; os caules do Pinheiro, do Trigo, do Carvalho<br />

s ã o exemplo cio gue dizemos.<br />

\<br />

I


* J BOTÂNICA<br />

Convém, todavia, distinguir nos caules erectos algu­<br />

mas espécies. Assim, os caules do Pinheiro e do Carva­<br />

lho são mais largos na base do que no vértice tem forma<br />

cónica e dividem-se e m ramos numerosos: da-se-lhes o<br />

n o m e de troncos. Os caules do Trigo e do Centeio tem a<br />

mesma espessura em toda a sua extensão, salvo nos nos,<br />

onde são u m pouco mais grossos: são ordinariamente<br />

ò c o s nos entre-nós e massiços nos n ó s : da-se a estes<br />

caules o nome de colmos.<br />

Fig. 27 - Morangueiro : exemplo de caule reptante.<br />

Finalmente, os caules das Palmeiras t è m a mesma<br />

espessura na base que na parte superior; são cheios;<br />

rarissimamente se dividem e m ramos e só t è m folhas no<br />

vértice: dá-se-lhes o nome de espiques.<br />

Outras vezes, os caules são pouco consistentes para<br />

que se conservem verticaes, e então rastejam sobre o<br />

solo, recebendo o nome de reptantes. Taes são os esto-<br />

lhos do Morangueiro (líg. T t ) c de certos Rainunculos.<br />

Finalmente, u m certo numero de caules reptantes<br />

podem elevar-se quando encontrem na sua proximidade


CAULE<br />

pontos d'apoio, c o m o os que lhes fornecem os m u r o s o u<br />

arvores. Chamam-se esses caules trepadores. Uns trepam,<br />

enrolando-se e m torno de arvores o u estacas (Feijoeiro,<br />

L u p u l o , fig. 28), outros agarram-se por meio de c o r d õ e s<br />

resultantes da t r a n s f o r m a ç ã o das'folhas e que se c h a m a m<br />

g a v i n h a s (Ervilha, M e l ã o , fig. 29). Outros prendem-se<br />

por meio d'espinhos e aculeos, que s ã o d e p e n d ê n c i a s su-<br />

Pig. 28 —Lupulo. O caule está en- Fig. 29 — Ramo de Melão, apresentandorolado<br />

em torno d'uma estaca. • gavinhas.<br />

perficiaes da casca e ramos abortados (Roseira, Silva), o u<br />

por meio de raizes adventicias (Hera).<br />

."32. Caules subterrâneos. Os caules subterrâ­<br />

neos, estando mettidos na terra, s ã o confundidos c o m<br />

as raizes e por isso se c h a m a r a m r h i z o m a s . Distin-<br />

guem-se, todavia, d'ellas porque desenvolvem folhas e<br />

gomos, ao passo que as raizes nunca d ã o folhas e raras<br />

vezes gomos.


54 BOTÂNICA<br />

Um bello exemplo de rhizoma é o do Sello de Salo­<br />

m ã o (Convallaria p o l y g o n a l u m L ) . (fig. 30) Se arrancar­<br />

mos u m a d'estas plantas, vemos u m c o r d ã o bastante<br />

longo que apresenta de distancia e m distancia dilata-<br />

ções, e, no meio d'ellas, pequenas i m p r e s s õ e s ou cica-<br />

Fig- 30- Sello de Salomão, mostrando o rhizoma e o caule aeteo.<br />

Jrizes que foram comparadas ás I m p r e s s õ e s que u m si-<br />

nele deixa no lacre. O rhizoma é terminado por u m<br />

caule aéreo que tem folhas e flores. Na base do caule<br />

a é r e o , vê-se u m pequeno gomo.<br />

Nos fins do estio, o caule aéreo murcha, deixando


no rhizoma uma nova cicatriz, de modo que pelo nu­<br />

CAULE 55<br />

m e r o d'ellas fica indicado o dos annos da planta. O<br />

g o m o que existia na base do caule desenvolver-se-ha<br />

na primavera seguinte, f o r m a n d o u m novo caule a é r e o<br />

que terá a m e s m a sorte que o procedente.<br />

Os bolbos s ã o rhizomas de f ô r m a arredondada, or­<br />

dinariamente envolvidos por folhas modificadas.<br />

N o Colchico e no A ç a f r ã o , o eixo do bolbo dilata-se<br />

m u i t o e apresenta u m pequeno n u m e r o de folhas m o ­<br />

dificadas o u escamas, seccas e delgadas. D á - s e a esses<br />

bolbos o n o m e de -bolbos sólidos (fig. 31). *<br />

Na A ç u c e n a , no Jacintho, as escamas s ã o m u i t o nu­<br />

merosas e desenvolvidas, mas o caule que as sustenta<br />

é relativamente curto, recebendo o n o m e de prato. Na<br />

sua base desenvolvem-se raizes adventicias e m cada pe­<br />

r í o d o de v e g e t a ç ã o .<br />

U m a s v e z e s / c o m o na A ç u c e n a , as escamas repre­<br />

sentam, cada u m a , u m a folha inteira, e embricam-se umas<br />

á s outras; o bolbo chama-se e n t ã o escamoso (fig. 32).<br />

Outras ve^es, c o m o no Jacintho e na Cebola ordi­<br />

nária, as escamas largas e delgadas envolvem-se umas<br />

á s outras, e correspondem á base e f u m a folha cuja por­<br />

ç ã o superior é a é r e a e verde. D á - s e a esses bolbos o<br />

n o m e de e n t u n i c a d o s .<br />

Os bolbos regeneram-se todos os annos. Ora se for­<br />

m a m no interior dos antigos bolbos, ora lateralmente,<br />

sendo este o m o d o de f o r m a ç ã o mais c o m m u m .<br />

Quando collocados e m circumstancias favoráveis ao<br />

seu desenvolvimento, as escamas a í f a s t a m - s e pouco a<br />

pouco, m u r c h a m , e o caule vae-se elevando e cobrindo<br />

de folhas, e mais tarde de flores e fruetos.


56 BOTÂNICA<br />

Algumas plantas, como a Batata, t è m nos caules<br />

s u b t e r r â n e o s massas arredondadas, irregulares, cuja su­<br />

perfície apresenta depressões ou olhos d'onde partem ra­<br />

mos quando collocados e m condições convenientes. Dá-se<br />

a essas massas o nome de tuberculos.<br />

Fig. 31 - Açafrão : bolbo solido. Fig. 32 — Açucena: bolbo escamoso.<br />

A razão que ha para considerar os bolbos e os tu­<br />

berculos como caules, é que, examinando a sua super­<br />

fície, se descobrem n elles os restos das antigas folhas,<br />

sob a forma de cicatrizes ou escamas, e se v ê e m gomos<br />

na axilla das folhas.


CAULE 57<br />

33. U t i l i d a d e e e m p r e g o d o s caules. Os caules<br />

das plantas lenhosas d ã o a madeira que se emprega o u<br />

c o m o material de c o n s t r u c ç ã o ou c o m o c o m b u s t í v e l .<br />

Os caules do Canhamo, do L i n h o , etc, servem para<br />

a f a b r i c a ç ã o de cordas e tecidos.<br />

Outros caules t è m grande i m p o r t â n c i a debaixo do<br />

ponto de vista alimentar: do caule da Ganna d'assucar<br />

retira-se m u i t o do assucar o r d i n á r i o ; o caule s u b t e r r â ­<br />

neo da Batata constitue u m alimento hoje empregado por<br />

quasi todos os povos, etc.<br />

34. M o d i f i c a ç õ e s d o s r a m o s . iYalgumas plantas,<br />

os ramos t o m a m o aspecto de folhas e substituem-n'as<br />

nas suas f u n c ç õ e s ; d á - s e a estes ramos espalmados e<br />

muita vez terminados e m ponte aguda o n o m e de elado-<br />

des, e p o d e m observar-se na Gilbarbeira. Outras vezes,<br />

u m r a m o deixa de se desenvolver, sécca na extremidade<br />

e torna-se agudo, constituindo u m espinho, que pode ser<br />

s i m p l e s c o m o no À b r u n h e i r o bravo, ou composto c o m o<br />

no Tojo mollar.<br />

C o n v é m distinguir os espinhos dos aculeos que s ã o<br />

simples d e p e n d ê n c i a s m u i t o superflciaes da casca, da<br />

qual se p ó d e m separar c o m muita facilidade, ao contra­<br />

rio do que succede nos espinhos que só c o m l a c e r a ç ã o<br />

de tecidos se p o d e m arrancar.<br />

35. Gomos. 0 caule apresenta de distancia em<br />

distancia corpos ovoides que, pelo seu desenvolvimento,<br />

f o r m a m ramos o u folhas; são os g o m a s o u botões.<br />

Se e x a m i n a r m o s os b o t õ e s d ' u m a arvore, vemos que<br />

s ã o constituídos por pequenas escamas escuras, destina-<br />

• •


58<br />

BOTÂNICA<br />

das a protegerem contra o frio e a humidade os ramos<br />

e m via de f o r m a ç ã o (fig. 33, 34 e 35). Para melhor o<br />

realisarem, a parte inferior das escamas está coberta<br />

Fig. 33—Ramos Fig. 34 — Gomo cortado Fig. 35—Gomos de Chóucom<br />

gomos. longitudinalmente. po, representados no momento<br />

de desabrocharem.<br />

d'uma camada viscosa, como nos gomos do Clioupo, da<br />

Tilia e do Pinheiro, ou apresentam u m a pennugem se-'<br />

dosa, como nos do Salgueiro.<br />

Logo que se eleva a temperatura, e as plantas re­<br />

c o m e ç a m a vegetar, vêm-se as escamas alTastar-se para


deixarem passar o novo rebento, e as folhas que des-<br />

abrocham.<br />

CAULE 59<br />

E x a m i n a n d o os b o t õ e s das arvores na primavera,<br />

reconhece-se que as folhas e ramos que devem appare-<br />

cer no v e r ã o estão completamente e s b o ç a d o s no f i m do<br />

inverno, de m o d o que se l i m i t a m a crescer depois de<br />

desabrocharem os b o t õ e s .<br />

25. ' O caule é a parle da planta que ordinariamente se di­<br />

R E S U M O<br />

rige de baixo para cima e supporta as folhas. Forma uma espé­<br />

cie de eixo central, apresentando de distancia em distancia nós<br />

d'onde partem folhas. Os espaços que ficam entre as nós, ou en-<br />

tre-nós, são cada vez mais curtos á medida que se approximam<br />

do, topo do caule que remata pelo gomo terminal. Lateralmente<br />

formam-se gomos áxillares.<br />

Ha caules cujos entre-nós são tão pequenos que as folhas<br />

ficam muito juntas, formando rosetas; chainam-se estas plantas<br />

acàúles, por abreviatura. As únicas plantas realmente desprov i -<br />

dás de caule são as thallophytas.<br />

26. A estructura do caule varia nas Muscineas, nas Crypto­<br />

gamicas vasculares e nas Phanerogamicas.<br />

i.° Muscineas. N'eslas plantas, o caule é geralmente cons­<br />

tituído por um parenchyma homogêneo. Nos de mais elevada or-<br />

ganisação, a parte central é constituída por cellulas mais peque­<br />

nas e de membrana mais delgada.<br />

2.° Cryptogamicas vasculares* N'estes vegetaes, o caule é<br />

formado por um parenchyma cercado por u m certo numero de.<br />

fibras e tubos crivados, formando fasciculos libero-lenhosos.<br />

3." Phanerogamicas. Nas Monocotyledoneas, temos a dis­<br />

tinguir casca e cylindro central. O cxlindro central contém o s\s-<br />

thema conçluctor, composto cie fasciculos libero-lenhosos dissemi­<br />

nados, deixando no centro uma zona de parenchyma, a medulla.


60<br />

BOTÂNICA<br />

Os fasciculos lenhosos formam crescentes, na concavidade dos<br />

quaes estão os liberianos.<br />

As Dicotyledoneas e as Gymnospermicas também apresen­<br />

tam casca e cylindro central. Os fasciculos do cylindro central<br />

formam um circulo que envolve a medulla.<br />

27. O caule, além de sustentar as folhas, serve como ór­<br />

gão geotropico, como órgão de respiração, como órgão de fixa­<br />

ção do carboneo, como órgão de transpiracão e chloro-vaporisa^<br />

ção, como órgão conductor e como órgão de reserva.<br />

terrâneos.<br />

28. Os caules podem ser herbaceos e lenhosos; aéreos e sub­<br />

29. Os caules herbaceos são tenros e pertencem a plantas<br />

que duram um anno; os lenhosos são duros e pertencem a plan­<br />

tas que duram mais.<br />

30. O engrossamento dos caules lenhosos faz-se pela ca­<br />

mada existente entre o lenho e a casca e chamada camada gera­<br />

dora ou cambio.<br />

31. Os caules aéreos podem ser: erectos, como o tronco, d<br />

colmo e o espique; reptantes; e trepaclores.<br />

32. Os caules subterrâneos ou rhizomas desenvolvem-se<br />

por baixo da terra. Qüando são arredondados, e o eixo é envol­<br />

vido por folhas modificadas, têm o nome de bolbos; os bolbos<br />

pórlem ser sólidos, escatnosos e entunicados. Quando, sendo tam­<br />

bém arredondados, apresentam depressões, cPonde partem ra­<br />

mos, chamam-se taberculos.<br />

33. Os caules servem como combustível e como madeira<br />

de construcçào; para a fabricação de tecidos e-cordas; e como<br />

alimentos.<br />

U . Os ramos podem tomar o aspecto de folhas, e tèm o<br />

nome de cladodes, ou tornar-se agudos .pela suspensão do seu<br />

desenvolvimento e formarem os espinhos. Os espinhos distin-<br />

guem-se dos aculeos por se não poderem arrancar sem laceração<br />

dos tecidos do vegetal.<br />

35. Os gomos são corpos ovoides que se desenvolvem no<br />

caule e formam ulteriormente folhas ou ramos.


C A P I T U L O I V<br />

Ó R G Ã O S D E V E G E T A Ç Ã O<br />

F o l h a : s u a s f o r m a s » e s t r u c t u r a e f u n c ç õ e s<br />

F o l h a s . As folhas são l â m i n a s verdes que ap-<br />

parecem de distancia a distancia no caule. Cada u m a<br />

d'ellas c o m p õ e - s e d'uma parte larga e achatada chamada<br />

l i m b o , ligada ao caule por u m<br />

prolongamento a que se d á o<br />

n o m e de peciolo.<br />

A base do peciolo, isto é,<br />

a parte que fica e m contado<br />

c o m o caule, alarga-se algumas<br />

vezes, c o m o se vê no M i l h o , e<br />

recebe o n o m e de b a i n h a . D a<br />

folha, diz-se e n t ã o que é i n v a -<br />

g i n a n t e (fig. 36).<br />

Outras vezes, a base do pe­<br />

ciolo apresenta aos lados duas<br />

Fig. 36 — Fragmento do caule do<br />

Milho mostrando folhas invagine.ntes.<br />

laihinas verdes, chamadas estipulas, e que e m ultima


62 BOTÂNICA<br />

analyse são apenas folhas modificadas: tal é o que sue- l<br />

cede nas folhas do L u p u l o , da Roseira (fig. 37), etc.<br />

D'estas diversas partes a mais importante é o limbo;<br />

e é mesmo a que ,falta mais raras vezes, ao passo que<br />

as outras n e m sempre existem. Quando, as folhas se<br />

acham reduzidas ao limbo, e n ã o t è m peciolo, diz-se que<br />

são sesseis ou rentes. Taes são as folhas do Goivo.<br />

37 Conformação e estructura das folhas.<br />

Examinemos u m a folha de Tilia, por exemplo (fig. 38).<br />

Fig. 37 — Folha de Roseira, apresentando na base duas estipulas, st.<br />

C o m p õ e - s e d'um tecido verde, no meio do qual se vêem,<br />

observando-a por transparência, grande numero de cor­<br />

dões dirigidos e m diversos sentidos e formando uma es­<br />

pécie de rede.<br />

Esses cordões partem do sitio e m que o peciolo<br />

continua c o m o limbo, e distribuem-se n'esta parte da<br />

folha, formando ramificações cada vez mais delgadas que<br />

vão terminar junto dos bordos. Dá-se a esses cordões o<br />

nome de nervnras.<br />

Examinadas a u m a grande a m p l i a ç ã o , vè-se que es-


FOLFTX<br />

?as nervuras s ã o formadas unicamente por tubos ou va­<br />

sos que penetram no peciolo e por seu i n t e r m é d i o no<br />

caule, servindo para Jevarem para o corpo da planta os<br />

alimentos preparados pelas folhas, o u para transporta-<br />

Fig. 38 — Limbo d'uma folha de Tilia mostrando as nervuras.<br />

r e m os l í q u i d o s e substancias alimentares que as raizes<br />

trazem incessantemente para a planta.<br />

0 tecido que fica nos intervallos é u m tecido verde,<br />

c ò r que deve á chlorophylla. É f o r m a d o por cellulas


64<br />

BOTÂNICA<br />

pouco modificadas na sua f ô r m a e tem o nome de paren­<br />

chyma (15). Este é coberto por u m a membrana delgada,<br />

crivada d'estomatos, que constitue a epiderme.<br />

i<br />

38. Funcções das folhas. As principaes funcções<br />

das folhas consistem no geotropismo e phototropismo;<br />

na respiração, na assimilação do carboneo, na transpira-<br />

ção e chlorovaporisação e ainda na f o r m a ç ã o da seiva<br />

elaborada.<br />

1.° Geotropismo e phototropismo. A gravidade in-<br />

flue sobre a folha do mesmo m o d o que sobre o caule<br />

(geotropismo). Qualquer que seja a sua direcção origina­<br />

ria, a folha dispõe o seu limbo de m o d o que a face ven-<br />

tral íica voltada para o ceu e a face dorsal para a terra.<br />

Se se modificar esta direcção, a folha retoma-a.<br />

Similhantemente, a luz inílue sobre a direcção e<br />

crescimento da folha (phototropismo). Se a illuminação é<br />

egual d'ambos os lados, o crescimento é retardado por<br />

egual. Se a illuminação é uni-lateral, a folha curva-se<br />

para o lado da origem da luz.<br />

2.° Respiração. As folhas absorvem oxygenio e des­<br />

envolvem anhydrido carbônico.<br />

Se collocarmos fóra, da acção luminosa u m a planta<br />

qualquer, o Feijoeiro por exemplo, por baixo d'uma<br />

campanula dentro da qual esteja encerrado u m vaso con­<br />

tendo agua de cal ou de baryta, esta torna-se leitosa, por<br />

causa do anhydrido carbônico que se fôrma. A o mesmo<br />

tempo reconhece-se, analysando o ar da campanula, que<br />

contem menos oxygenio do que ao principio.<br />

As folhas respiram, portanto, como todas as partes<br />

da planta. Quando, p o r é m , expostas á luz, o phenomeno


FOLHA 65<br />

da r e s p i r a ç ã o fica mascarado pelo da a s s i m i l a ç ã o do car­<br />

boneo mais intenso, porque as folhas c o n s o m e m m a i s<br />

a n h y d r i d o c a r b ô n i c o do que oxygenio, l a n ç a n d o de si<br />

mais oxygenio que a n h y d r i d o c a r b ô n i c o .<br />

3.° A s s i m i l a ç ã o d o carboneo. G r a ç a s ás folhas, p o ­<br />

d e m as plantas nutrir-se do carboneo que existe no ar,<br />

no estado d'anhydrido c a r b ô n i c o .<br />

Se collocarmos u m caule c o m folhas, depois de as<br />

termos b e m m o l h a d o , n ' u m a campanula cheia d'agua a<br />

que se addicione u m a pouca d'agua de Seltz, para lhe<br />

fornecer anhydrido c a r b ô n i c o , v e m o s que, sob a influen­<br />

cia da luz, se desenvolvem pequenas bolhas de gaz que<br />

se r e ú n e m na parte superior da campanula. Esse gaz é o<br />

oxygenio.<br />

A o m e s m o tempo^ o a n h y d r i d o c a r b ô n i c o encerrado<br />

na agua que banha as folhas desapparece ao cabo d'al-<br />

g u m a s horas.<br />

Esta e x p e r i ê n c i a prova que as folhas absorvem o<br />

anhydrido c a r b ô n i c o que as cerca, f i x a m nos seus teci­<br />

dos o carboneo, e desenvolvem oxygenio.<br />

Para que este p h e n o m e n o se produza s ã o precisas,<br />

todavia, duas c o n d i ç õ e s :<br />

r o p h y l l a .<br />

1,° A s f o l h a s d e v e m ser verdes, isto é, conterem chlo­<br />

A s s i m , succede que as raizes e os ó r g ã o s que n ã o<br />

possuem c ô r verde s ã o incapazes d'absorver o anhydrido<br />

c a r b ô n i c o e d'exhalar exygenio. O m e s m o se d á c o m as<br />

folhas descoradas.<br />

2.° D e v e m as f o l h a s estar e x p o s t a s á luz.<br />

Se a campanula f ò r posta na obscuridade, nunca se<br />

observa o mais pequeno desenvolvimento d'oxygenio.


66<br />

BOTÂNICA<br />

Quando se deixa licar u m a planta durante muito<br />

tempo na obscuridade, n ã o p ô d e absorver o anhydrido<br />

carbônico, nem fixar o carboneo. Destróe-se então a ma­<br />

téria corante, e as plantas tornam-se amarellas: diz-se<br />

que essas plantas se estiolam.<br />

4.° Transpiração. Chlorovaporisação. As folhas des­<br />

e m b a r a ç a m a planta d'uma parte da agua existente no<br />

corpo da planta, e trazida pelas raizes.<br />

Se puzermos u m a planta c o m folhas no prato d'uma<br />

balança, e a equilibrarmos, notamos que, ao cabo de<br />

pouco tempo, tem d i m i n u í d o de peso. Se se repetir a ex­<br />

periência, collocando por cima do vegetal u m a campa­<br />

nula, vè-se que dentro e m pouco está coberta de agua<br />

na sua face interna, mantendo-se o equilíbrio e perma­<br />

necendo portanto o peso o mesmo.<br />

E por as folhas expulsarem o vapor d'agua que os<br />

ramos conservados e m agua a consomem logo que lh'a<br />

deitam. É por causa da extialação do vapor cfagua que<br />

muitas plantas m o r r e m quando ha estiagem.<br />

C o n v é m distinguir no facto bruto da perda d'agua<br />

dois phenomenos differentes: a transpiração que se efíe-<br />

ctua constantemente lia planta e a chlorovaporisação que<br />

apenas se dá sob a influencia da luz e tem p ô r sede os<br />

chloroleucitos. Assim, u m a folha de Trigo que transpira<br />

1<br />

C C<br />

d'agua na obscuridade e 2,5<br />

tiolada, vaporisa mais cie I00<br />

c c<br />

C C<br />

ao sol quando está es-<br />

ao sol quando está verde.<br />

97,5 são portanto a parte da chlorovaporisação e 2,5 a<br />

da transpiração.<br />

5.° F o r m a ç ã o da seiva elaborada. A seiva trazida<br />

pelo caule segue pelos vasos contidos nas nervuras da<br />

planta e espalha-se no limbo. A chlorovaporisação faz con-


FOLHA 07<br />

centrar este liquido pela perda da agua, mas ao m e s m o<br />

tempo formam-se no parenchyma hydralos de carboneo,<br />

a m i d o e substancias albuminoides<br />

que s ã o retomadas pelos tubos cri­<br />

vados existentes na parte inferior<br />

de cada nervura, e, dissolvidas<br />

n ' u m a pequena quantidade d'agua,<br />

constituem a seiva elaborada.<br />

39. Differentes espécies<br />

de f o l h a s . As folhas t è m appa-<br />

rencias m u i t o variadas, devidas<br />

principalmente á f ô r m a do l i m b o ,<br />

e á disposição das nervuras. Dis-<br />

p õ e m - s e ,tambem difterentemente<br />

no caule. D'abi se t i r a m elemen­<br />

tos valiosos para a distincção das<br />

d inerentes espécies de folhas.<br />

40. D i s p o s i ç ã o das ner­<br />

v u r a s . N'algumas plantas, sendo<br />

as folhas m u i t o estreitas, só t è m<br />

u m a nervura que as percorre e m<br />

toda a sua e x t e n s ã o . Na maior<br />

parte das plantas, as folhas pos­<br />

suem varias nervuras que p ó d e m<br />

apresentar duas disposições diffe­<br />

rentes :, o u s ã o parallelas umas<br />

as outras, c o m o succede no L y r i o pig. 39-Foihaa de Lyrio, mos-<br />

-» n N m i - trando as nervuras paralleroxo<br />

(íig. 39), na Tulipa, e e m ias.<br />

geral nas Monocotyledoneas; ou são reticuladas, isto (%


68<br />

BOTÂNICA<br />

dirigidas e m todos os sentidos, formando u m a rede, como<br />

se dá na TUia, e e m geral em todas as Dicotyledoneas.<br />

\s folhas reticuladas ainda podem apresentar-se de<br />

dois modos. Umas vezes, são atravessadas por u m a ner­<br />

vura principal, d'onde partem outras mais pequenas,<br />

€ 0 r a o as barbas d'uma penna. Dá-se o nome de p e n m -<br />

jiervadas ás folhas que, como as do Castanheiro e da<br />

Tilia, apresentam essa disposição.<br />

Fig 40—Folha de malva: palmatinervada.<br />

N'outras plantas, as folhas de nervuras reticuladas<br />

n ã o apresentam nervura mediana, mas do ponto e m que<br />

o peciolo se liga ao limbo partem nervuras divergentes<br />

d'egual valor. Chamam-se essas folhas p a l m a l i n e r v a á a s :<br />

taes são as da Hera e da Malva (fig..40).<br />

41. Folhas simples e compostas. O bordo do<br />

limbo d'uma folha pode ser continuo, indiviso e então<br />

a folha tem o nome d'inteira, como succede no Lilaz.


FOLHA 61)<br />

Outras vezes, p o r é m , os bordos da folha são mais o u m e ­<br />

nos divididos, recebendo e n t ã o esta o n o m e de: c r e n a d a ,<br />

se o bordo tem pequenas divisões mais ou menos arre­<br />

dondadas, n ã o inclinadas, para a base o u para o vértice<br />

da f o l h a ; serreada; se as divisões são agudas e inclina­<br />

das c o m o os dentes d ' u m a serra; denteadas, se as d i v i -<br />

Fig. 41 —Folha palmatipavtida do Canhamo.<br />

s õ e s são agudas, mas n ã o inclinadas; lobadas, se as d i ­<br />

visões s ã o arredondadas e n ã o chegam ao meio do l i m b o .<br />

C o n f o r m e a profundidade das fendas, a folha chama-se<br />

f e u d i d a , se as divisões chegam até ao meio do l i m b o ;<br />

e p a r t i d a , se as divisões chegam quasi á nervura media<br />

( p i n n a l i p a r t i d a j ou ao peciolo ( p a l m a t i p a r t i d a ) , (fig. 41).<br />

Das folhas de l i m b o recortado approximam-se as fo­<br />

lhas compostas, c o m o são as da Accacia e do Castanheiro-


70<br />

BOTÂNICA<br />

da índia. N'estas folhas, o peciolo é dividido, dando in­<br />

s e r ç ã o a pequenas expansões ou foliolos, que simulam<br />

pequenas folhas com u m supporte c o m m u m .<br />

Estes foliolos estão umas vezes dispostos a direita<br />

e á esquerda das nervuras principaes, como suecede na<br />

Accacia e na Sensitiva, e então a folha recebe o nome de<br />

p e n u a d a (fig. 42); outras vezes estão aggrupados e m torno<br />

da extremidade do peciolo, como nos Oxalis, ou no Casta­<br />

nheiro da índia; essas folhas denominam-se digitadas.<br />

A f ô r m a do contorno da foi lia simples é muito va­<br />

riável. Por esse motivo recebe esta o nome de oval; ellt/-<br />

ptica; cordi forme, se tem a f ô r m a d ' u m c o r a ç ã o ; reni-<br />

j o r m e , se tem a fôrma d'um r i m ; espatulada, lanceolada;<br />

•mtjitttula, se tem a fôrma do ferro da seita, etc, etc.<br />

M. Disposição das folhas no caule. A maneira<br />

como as folhas se acham inseridas no caule n ã o é sem­<br />

pre a mesma. Umas vezes a cada n ó corresponde u m a


FOLHA 71<br />

folha, c o m o no Trigo, no F e i j ã o , no Pecegueiro (fig. 43).<br />

As folhas chamam-se e n t ã o alternas.<br />

Outras vezes, as plantas apresentam varias folhas<br />

Fig. 43— Ramo de Pecegueiro mostrando a disposição das folhas no caule.<br />

presas no m e s m o n ó do caule, f o r m a n d o e n t ã o geral­<br />

mente u m a coroa, cujo centro é occupado pelo caule.<br />

Essa coroa constitue o que se chama u m verticilio.<br />

É variável o n u m e r o das folhas d ' u m verticilio t


72<br />

BOTÂNICA<br />

quando ha duas, inseridas nas extremidades d ' u m mesmo<br />

diâmetro, as folhas recebem o nome ftoppostas, como<br />

Fig- 44—Ramo de Lupulo mostrando as folhas oppostas.<br />

Fig. 45 —Ramo de Loendro.<br />

são as do Lupulo (fig. 44); quando são tres, como no<br />

Loendro, chamam-se ter n a d a s (fig. 45).


FOLHA<br />

Quando se e x a m i n a m c o m a t t e n ç ã o as folhas alter­<br />

nas, reconhece-se que a sna d i s p o s i ç ã o apresenta notável<br />

regularidade. Se t o m a r m o s para exemplo o Pecegueiro,<br />

e t r a ç a r m o s no caule u m a linha que una os pontos d'in­<br />

s e r ç ã o das folhas successivas, descrevemos u m a espiral<br />

que encerra cinco folhas e m cada cluas voltas completas<br />

da espira. Descobre-se e n t ã o que as folhas estão dispos­<br />

tas ao longo do caule e m cinco filas longitudinaes. A 6. a<br />

folha está sobreposta á á 7. a<br />

vamente.<br />

á 2,. a<br />

73<br />

e assim successi-<br />

Examinando-se u m r a m o d'Amieiro, vè-se que a es­<br />

piral t r a ç a d a do m e s m o m o d o t è m tres folhas por cada<br />

volta completa, de maneira que as suas folhas estão dis­<br />

postas segundo tres filas ao longo do caule, ficando a<br />

4 .<br />

a<br />

folha por cima da l .<br />

a<br />

, a 5. a<br />

por cima da 2. a<br />

, etc.<br />

E m f i m , n ' u m r a m o cFOlmo, as folhas estão alterna­<br />

tivamente collocadas á direita e á esquerda d ' u m m e s m o<br />

plano. Dá se-lhes o n o m e de disticadas.<br />

43. Folhas modificadas. As folhas acham-se al­<br />

gumas vezes m u i t o modificadas.<br />

Assim, já vimos (36) que as folhas p ó d e m estar re­<br />

duzidas á bainha, faltando o peciolo e o limbo. Essas fo­<br />

lhas, que se encontram nos caules s u b t e r r â n e o s , t è m o<br />

n o m e tfescamas.<br />

Outras vezes, o peciolo apresenta na sua base appen-<br />

dices lateraes, chamados estipulas.<br />

Nas v i s i n h a n ç a s das flores encontram-se por vezes<br />

folhas modificadas que lhes servem de p r o t e c ç ã o . Dá-se-<br />

lhes o nome de bracleas. Quando ha muitas bracteas por<br />

baixo d ' u m grupo de flores, recebe o conjuncto o n o m e


74, BOTÂNICA<br />

d'invólucro. Quando existe u m a só bractea, muito des­<br />

envolvida, e que envolve grande numero de flores, cha-<br />

ma-se-lhe espalha.<br />

Temos t a m b é m a considerar as g a v i n h a s que são-<br />

órgãos filiformes contornados e m espiral, e enrolados<br />

e m torno dos corpos que sustentam a planta. Obser­<br />

vam-se na Ervilha, no Melão, etc.<br />

44 A folha na serie vegetal. Os Fungos, as<br />

Algas e algumas Hepaticas n ã o t è m folhas. C o m e ç a m a<br />

apparecer nos Musgos, e n'estas plantas são sesseis, al­<br />

ternas, muito approximadas e destituídas de nervuras.,<br />

Nas Cryptogamicas vasculares, as folhas são simples e<br />

muito pequenas, nos Lycopodios; e m forma d'escamas<br />

e adherentes, formando uma bainha dentada nos Equi-<br />

setos; freqüentes vezes compostas, comquanto possam<br />

ser simples, nos Fetos (frondes). Nas Gymnospermicas,<br />

as folhas são ordinariamente lineares, mas n algumas<br />

plantas d'este grupo são grandes e tèm o limbo dividido<br />

-ou composto. Nas Angiospermicas, as folhas são clifferen-<br />

tes, conforme a planta pertence ás Monocotyledoneas ou<br />

ás Dicotyledoneas. Nas Monocotyledoneas, predominam as<br />

folhas de limbo allongado e de nervuras para!leias; nas<br />

Dicotyledoneas, predominam as folhas de limbo largo e<br />

de nervuras ramificadas.<br />

lá .


36. Folhas são lâminas verdes que apparecem de distancia<br />

R E S U M O<br />

em distancia no caule. Compõetn-se de limbo e peciolo. Quando a<br />

base do peciolo é larga chama-se bainhu, e a folha invaginante.<br />

Na base da folha apparecem ás vezes lâminas membranaceas cha-<br />

rnadas estipulas. Quando o peciolo falta, chamam-se as folhas ses-<br />

seis.<br />

37. A folha é formada por um pareuchyma verde, em que<br />

estão disseminadas nervuras anastomosadas. As nervuras são for­<br />

madas por vasos ou tubos que vêm do caule atravez do peciolo.<br />

O parenchyma da folha é coberto pela epiderme.<br />

38. As funcções das folhas consistem no geotropismo e<br />

phototropismo, na respiração, na assimilação do carboneo, na<br />

transpiração e chlorovaporisação e na formação da seiva ela­<br />

borada.<br />

39. As folhas tèm apparencias diversas devidas á forma<br />

do limbo e á disposição das nervuras. A sua disposição no caule<br />

é lambem variável.<br />

40. As nervuras podem ser parallelas, ou reticuladas. Es­<br />

tas ultimas dividem-se em penninervarias e patmatincr radas.<br />

41. As folhas podem ser inteiras, crenadas, serreadas, (/en­<br />

teadas ou lobadas, consoante as divisões do limbo. Conforme a<br />

profundidade d'essas divisões, podem ser fendidas ou partidas.<br />

Dizem-se compostas quando o peciolo se divide, dando inserção aos<br />

foliolos. As folhas compostas podem ser pennadas e digitadas. A<br />

folha simples tem nomes variados, conforme a fôrma do limbo :<br />

oval, ellyptica, cordiforme, reniforme. espalulada, lanceotada, sa-<br />

gitada, etc, etc.<br />

41. As folhas são alternas quando de cada nó parte uma só<br />

folha, e verticüadas quando parte mais d'um:j. Se cada verticilio<br />

é composto de duas folhas chamam-se oppostas: se é formado<br />

por tres ternadas, etc As folhas alternas estão dispostas no caule<br />

segundo uma espiral. Quando as folhas estão collocadas alterna­<br />

tivamente á direita e á esquerda d'um mesmo plano, chamam-se<br />

disticadas*<br />

75


76<br />

BOTÂNICA<br />

43. As folhas modificadas recebem nomes especiaes: esca­<br />

mas, estipulas, bracteas e gavinhas.<br />

4i. Algumas plantas não tem folhas. Nos Musgos são ses-<br />

seis, alternas, muito approximadas. Nas Cryptogamicas vascula­<br />

res, são simples e pequenas (Lycopodios); em forma d'escamas<br />

e formando bainha (Equiselos); compostas e excepcionalmente<br />

simples (Fetos). Nas Gymnospermicas são geralmente lineares.<br />

Nas Angiospermicas, as folhas das Monocotyledoneas tèm o limbo<br />

alongado e as nervuras parallelas, e as folhas das Dicotytedoneas<br />

tèm o limbo largo e as nervuras ramificadas.


C A P I T U L O V<br />

I d é i a H U m i n a r i a d a n u t r i ç ã o e r e s p i r a ç ã o<br />

Circulação da seiva. Funcção chlorophyllina.<br />

45. Absorpção. As raizes absorvem da terra<br />

d a s p l a n t a s<br />

Látex. Crescimento das plantas<br />

grande quantidade d'agua, tendo e m s o l u ç ã o substan­<br />

cias mineraes. A agua e os saes circulam na planta por<br />

meio dos vasos e s ã o levados ás folhas.<br />

Estas fabricam, g r a ç a s á m a t é r i a verde que encer­<br />

ram, e á custa do anhydrido c a r b ô n i c o da atmosphera<br />

e das substancias que lhes trazem as raizes, princípios<br />

immediatos n e c e s s á r i o s para o desenvolvimento do ve­<br />

getal: a m i d o , assucar, substancias azotadas, etc. Estes<br />

princípios immediatos, depois de elaborados, s ã o disse­<br />

minados por toda a planta, quer para serem utilisados<br />

immediatamente, quer para se armazenarem e m certos<br />

ó r g ã o s (bolbos, tuberculos, sementes) e f o r m a r e m diver­<br />

sas reservas alimentícias que o vegetal mais tarde apro­<br />

veita.


78<br />

BOTÂNICA<br />

As substancias de que a planta se nutre são tiradas<br />

do ar e do solo.<br />

46. Alimentos das plantas. As substancias que o vegetal<br />

tira do ar são o oxygenio e o anhydrido carbônico.<br />

As que o solo contém, muito mais numerosas, são consti­<br />

tuídas por differentes saes em dissolução na agua; taes são: azo<br />

tatos e nomeadamente o de cal; saes ammoniacaes, e principal­<br />

mente o chloreto d^mmonio; sulfatos, phosphatos e carbonatos<br />

de potássio, cálcio ou ferro.<br />

As substancias contidas no ar e a sua proporção não se al­<br />

teram, existindo sempre em quantidade necessária para a ali­<br />

mentação da planta, o que é devido á grande extensão da atmos­<br />

phera e á clilfusão. O cultivador não tem, portanto, motivo de<br />

preoccupaçao por esse lado.<br />

Não succede o mesmo com os alimentos encerrados no solo<br />

que vão desapparecendo com as culturas successivas.<br />

Convém portanto fornecer ao terreno adubos mineraes ou<br />

orgânicos que lhe restituam as propriedades alimentares que te­<br />

nha perdido.<br />

Pelo mesmo motivo se deve alternar a cultura de plantas<br />

cuja raiz se enterra profundamente. (Betarraba, etc.) com vege­<br />

taes cujas raizes fiquem supeiiiciaes (Gramineas: Trigo, Aveia,<br />

Cevada).<br />

47. Circulação da seiva. Se cortarmos transversalmente, a<br />

pequená distancia de solo, um caule d'uma arvore nova ou d'uma<br />

planta herbacea, vemos que a superfície de secção começa a co­<br />

brir-se d'um liquido incolor e que esse liquido se renova com ra­<br />

pidez, visto que, se o tirarmos com papel de chupar, reappa-<br />

rece (27).<br />

Se examinarmos ao microscópio a secção do caule, vè-se<br />

que as gotas do liquido saem dos vasos do lenho. Servem estes<br />

portanto de conductores de líquidos que, vindos da raiz, se dk<br />

rigem para as folhas.<br />

Verifica-se que só os fasciculos lenhosos são encarregados<br />

dVsse transporte, cortando um ramo e mergulhando-o i^úma


NUTRIÇÃO DAS PLANTAS 79<br />

O<br />

/<br />

solução córada; não tardamos a reconhecer que o liquido vae<br />

subindo pouco a pouco, e por meio de secções transversaes suc-<br />

cessivas, podemos assegurar-nos de que só os vasos do lenho o<br />

conduzem.<br />

A' corrente que, atravez dos vasos do lenho, se dirige para<br />

as folhas chama-se seiva ascendente ou bruta.<br />

Por outro lado, examinando-se os tubos crivados do liber<br />

durante o período d'actividade do vegetal, reconhece-se que são<br />

percorridos por u m liquido em que ha substancia azotada e gra-<br />

nulos d'amido. Suppõe-se que os tubos crivados do liber são des­<br />

tinados a conduzir da folha para as raizes substancias elabora­<br />

das á custa dos materiaes arrastados pela seiva ascendente e por<br />

isso se dá o nome de seiva descendente ou elaborada a essa cor-<br />

rente em sentido inverso da primeira.<br />

Este modo de ver tem a seu favor a experiência seguinte:<br />

Se, n um ramo mettido no sólo, se destacar u m retalho circular<br />

de casca até á zona geradora, de modo que fique o lenho a des­<br />

coberto, forma-se u m rebordo por cima do córte, desenvolven­<br />

do-se raizes n'esta região.<br />

Admittia-se que a seiva ascendente, depois de elaborada,<br />

voltava ás raizes, dando-se a este movimento total o nome de<br />

circulação da seiva; é certo, porém, que a corrente de substan­<br />

cias plásticas que circula nos vasos do liber, não tem a regulari­<br />

dade da que circula no lenho. Essa corrente dirige-se sempre<br />

das folhas, onde os princípios immediatos são fabricados, para o<br />

logar em que tem de ser utilisados, isto é, para as raizes, para<br />

os caules ou para as folhas; podendo a direcção ser ascendente<br />

ou descendente.<br />

48. Respiração das plantas. Já precedentemente<br />

indicamos quaes os ó r g ã o s que desempenham esta func-<br />

ção. A r e s p i r a ç ã o das plantas consiste na a b s o r p ç ã o<br />

d'oxygenio e na e x h a l a ç ã o d'anhydrido c a r b ô n i c o . Prova-<br />

se este facto, c o m o dissemos, (27) introduzindo n ' u m a<br />

campanula u m r a m o qualquer guarnecido de folhas e u m<br />

copo contendo agua de cal o u m e l h o r agua de baryta.


80<br />

BOTÂNICA<br />

Dentro em pouco a agua de baryta apresenta u m preci­<br />

pitado de carbonato de bario que se formou á custa do<br />

anhydrido carbônico exhalado. Esta experiência dá o<br />

mesmo resultado, quer a planta esteja exposta á luz quer<br />

na obscuridade.<br />

A respiração diífere da funcção clüorophyllina em se<br />

exercer continuamente e e m todas as plantas, ao passo<br />

que esta ultima funcção só se exerce nas plantas que<br />

tem chlorophylla, e quando expostas á luz.<br />

49. Funcção chiorophyllina. Logo que os materiaes nu­<br />

tritivos estão encerrados nas cellulas verdes, a planta faz a syn-<br />

these das substancias orgânicas; de princípios mineraes fabrica<br />

substancias azotadas, hydratos de carboneo, etc.<br />

A formação dos hydratos de carboneo e em geral das subs­<br />

tancias ternarias é devida unicamente á chlorophylla. A funcção<br />

d^sta substancia consiste na fixação do carboneo. Vimos que, se<br />

introduzirmos n um provete cheio d'agua ou melhor d'agua que<br />

tenha em dissolução anhydrido carbônico (agua de Seltz) um<br />

ramo guarnecido de folhas, se junta na parte superior do pro­<br />

vete oxygenio quasi puro. Este phenomeno só se realisa quando a<br />

planta está exposta d luz (38). A funcção chloropkyllina, que assim<br />

se denomina este phenomeno, varia muito com a intensidade lu­<br />

minosa, modiiicando-se egualmente com as differentes espécies<br />

vegetaes, algumas das quaes exigem luz muito viva para a de­<br />

composição do anhydrido carbônico, ao passo que outras operam<br />

a mesma acção a uma luz fraca.<br />

Quanto á formação dos hydratos de carboneo, se examinar­<br />

mos com o microscópio folhas de Musgos que hajam sido conser­<br />

vados durante algumas horas na obscuridade, nota-se que os<br />

granulos de chlorophylla são perfeitamente homogêneos e trans­<br />

parentes, ao passo que, expostos á luz, se vão carregando de<br />

corpusculos incolores, que o iodo tinge d^izul, reacção caracte­<br />

rística do amido. O numero e volume destes granulos varia com<br />

a duração da exposição á luz.


0 mechanísmo de formação das substancias albuminoides é<br />

i<br />

NUTRIÇÃO DAS PLANTAS 81<br />

pouco conhecido: suppõe-se que sào devidas á combinação doá<br />

hydratos de carboneo com uma substancia azotada. Para a syn-<br />

these dos azotados não parece, todavia, indispensável a presença<br />

da chlorophylla, visto que taes substancias se formam nos Fungos.<br />

50. Plantas sem chlorophylla. As plantas que não têm<br />

substancia verde não podem viver n u m meio exclusivamente<br />

mineral: tèm de obter os seus elementos nutritivos no estado<br />

de substancias orgânicas, tirando-as doutros seres vivos, ani­<br />

maes ou plantas. Taes sao os Fungos, as Bactérias, etc.<br />

Umas vezes, essas plantas vivem no corpo dos vegetaes ou<br />

animaes e recebem o nome de parasitas, como é por exemplo a<br />

Ferrugem do Trigo; outras vezes vivem nas matérias orgânicas<br />

provenientes da decomposição do corpo dos seres vivos, rece­<br />

bendo o nome de saprophytas ou hamicolas; taes são os Fungos<br />

da madeira, etc.<br />

51. Transpiração e chlorovaporisação. Dá-se o nome de<br />

transpiração á funcção em virtude da qual a planta deixa evolver<br />

vapor d'agua.<br />

A quantidade de vapor d'agua perdido por uma planta é<br />

muito variável e depende da temperatura, da luz, da consistência<br />

herbacea ou lenhosa do vegetal, e, í f u m a mesma planta, da abun­<br />

dância de suecos existente n'este ou u'aquelle órgão.<br />

A perda de vapor d'agua dá-se em todas as partes não mer­<br />

gulhadas dos vegetaes, e são as folhas, nas plantas que as têm,<br />

os órgãos especialmente encarregados d'esta funcção. A saida<br />

do vapor d'agua dá-se principalmente pelos estomatos.<br />

Uma parte da agua exhalada é devida á,acção da chloro 1<br />

-phylla. Por este motivo se dá o nome de chlorovaporisação á<br />

funcção em virtude da qual a planta perde agua pela influencia<br />

da luz. Como ficou dito (38), esta funcção é muito mais activa do<br />

que a transpiração.<br />

52. Exsudação e digestão. Algumas vezes a planta, atra-<br />

vez da sua membrana exterior molle e permeável, deixa passar<br />

6


82<br />

BOTÂNICA<br />

uma pequena quantidade dXgua lendo em dissolução diversas<br />

matérias. É o que se chama exsudação.<br />

Se este liquido se põe em contado com partículas sólidas,<br />

ataca-as, dissolve-as, sendo depois absorvidas como se previa­<br />

mente houvessem sido dissolvidas. Esta transformação (Puma<br />

substancia insolnvel iruma matéria solúvel, seguida da absorpção<br />

da substancia assim transformada, chama-se digestão.<br />

53. Seereçôes: látex. Os princípios elaborados pela planta<br />

e destinados a formar novos tecidos soffrem, antes de utilisados,<br />

modificações chimicas ainda mal determinadas. Como, porém/<br />

nem todas as substancias são utilisadas, ficani os chamados resí­<br />

duos da nutrição, que pintem circular em canaes particulares,<br />

constituindo a grande massa do látex.<br />

O látex é um liquido leitoso, branco, amarello ou averme­<br />

lhado, conforme as espécies vegetaes em que se observa, for­<br />

mado de diversas substancias e tendo em suspensão pequenos<br />

glóbulos (pie lhe são a opacidade e a côr. Esses glóbulos são for­<br />

mados por resinas, eautehouc etc, e ifalgumas plantas, taes<br />

como as Euphorbiaeeas, contém amido. As funcções do látex são<br />

ainda mal conhecidas: parece (pie em grande parte é inútil para<br />

a j>lauta.<br />

O late.r circula em tubos anasloniosados entre si e forma­<br />

dos á cusla do parenchyma, como suecede na Celidonia, ou em<br />

canaes formados por um pequeno numero de cellulas que emit-<br />

tem ramificações para todas as parles do corpo, como acontece<br />

nas Euphorbiaeeas. O látex d'algumas plantas é objecto (Pactiva<br />

exploração. O rmitchouc é o látex solidificado d'um grande nu­<br />

mero (rEuphorbiaceas : o apio é o lalex das Papavoraceas, etc.<br />

5i. Assimilação e desassimilaçao. O resultado final das<br />

funcções descriptas é a incorporação nos tecidos das plantas de<br />

elementos estranhos, e a elaboração que solírem è um acto pre­<br />

paratório da svnlhese que o protoplasma efiectua, e se chama<br />

assimilação.<br />

Os inateriaes assim incorporados ao protoplasma alimentam<br />

o .crescimento. Mais tarde, sofirevn uma serie de decomposições.


chiftricas que os fazem tornar a descer Iodos os graus da escala<br />

NUTRIÇÃO DAS PLANTAS 8.S<br />

><br />

que tinhanrsubido ; este trabalho de decomposição chama-se


84<br />

BOTÂNICA<br />

Por outro lado, a dureza das camadas do lenho vae<br />

augmentando da peripheria para o centro, ao contrario<br />

do que succede nas Monocotyledoneas.<br />

O crescimento dos vegetaes c modificado pela acção<br />

da gravidade, da luz e do calor.<br />

A gravidade tendi 1<br />

a collocar o eixo da planta se­<br />

gundo a sua própria direcção e a restabelecel-o n'essa<br />

direcção quando haja sido desviado d'ella. Esta acção<br />

dirigente da gravidade chama-se geotropismo e pôde ser<br />

positivo ou negativo. Diz-se (pie o geotropismo é posi­<br />

tivo quando o crescimento se eflectua no sentido da gra­<br />

vidade, como na raiz, e negativo quandQ se etfectua no<br />

sentido contrario, como no caule.<br />

A luz egual mente modilica o crescimento da planta,<br />

de modo que o eixo do vegetal lique na direcção dos raios<br />

incidentes. K o que se chama phototropismo. O phototro­<br />

pismo varia com a intensidade luminosa. N u lio abaixo<br />

d'uma certa intensidade, cresce c o m ella, attinge o seu<br />

m á x i m o n'uma intensidade mediana, a partir da qual<br />

decresce, á medida que a intensidade augmenta.<br />

Emtim, a temperatura exerce uma acção decisiva so­<br />

bre o crescimento da planta. Ksta acção varia com o<br />

grau de calor. Xullo abaixo d'um certo limite, o cres­<br />

cimento accelera-se á medida que a temperatura se ele­<br />

va, até que cessa n u m certo ponto. Se o aquecimento<br />

não se eflectua por egual, a planta inílecle-se, tornando-se<br />

eonvexa do lado em que a temperatura se avisinha da<br />

mais favorável ao crescimento, e concava do lado op-<br />

posfo. Chama-se thcrmotropismo a acção dirigente do ca­<br />

lor sobre o crescimento da planta.<br />

Note-se (pie a temperatura mais favorável ao des-


NUTRIÇÃO DAS PLANTAS 85<br />

envolvimento das plantas varia c o m a espécie vege­<br />

tal.<br />

50. Resumo da nutrição. Tendo em attencão<br />

tudo o que levamos dito, a n u t r i ç ã o vegetal compre-<br />

h c m l e :<br />

J . ° A absorpção dos princípios nutritivos, f u n c ç ã o<br />

que se executa principalmente pelas raizes;<br />

4.° 0 transporte da seiva (circulação) desde a raiz<br />

até á s folhas : atra vez dos fasciculos lenhosos no seu<br />

m o v i m e n t o asceucional, e dos fasciculos liberianos no<br />

descendente;<br />

3.° A respiração que fornece á planta o oxygenio,<br />

e se exerce e m todo o vegetal;<br />

.4,° A f u n c ç ã o chlorophyllina que tem por l i m a f i ­<br />

x a ç ã o do carboneo; é peculiar da chlorophylla;<br />

5.° A transpiração e a chlorovaporisação, e m vir­<br />

tude das quaes a planta deixa evolver vapor d ' a g u à . A<br />

primeira eHectua-so e m todas as partes n ã o submersas<br />

do vegetal ; a segunda apenas por influencia da luz nas<br />

partes verdes da planta ;•<br />

0.° ' A c x s u d a ç ã o que v e m a ser a passagem de lí­<br />

quido atravez da m e m b r a n a externa da planta. Este l i ­<br />

quido p ô d e , c o m o na raiz, exercer a c ç ã o sobre as sub­<br />

stancias sólidas e m contado c o m a planta e dMnsoluveis<br />

tornal-as e m solúveis (digestão) '<br />

7.° As secreções, que t è m e m vista a f o r m a ç ã o do<br />

líquidos especiaes, que circulam' e m canaes p r ó p r i o s o<br />

dos quaes o principal é o l á t e x ;<br />

8.° A assimilação, phenomeno de synthese dos<br />

princípios immediatos da planta, e a d e s c m i m ü a ç ã o , e m


86 BOTÂNICA<br />

virtude da qual esses princípios immediatos são decom­<br />

postos e restituidos ao reino mineral;<br />

0.° Como conseqüência do p r e d o m í n i o da assimi­<br />

lação sobre a desassimilarão, o crescimento da planta.<br />

15. O vegetal tira da terra e do ar substancias que são<br />

R E S U M O<br />

elaboradas pelas folhas e constituem princípios immediatos que<br />

elle utilisa immediatamente ou armazena.<br />

Mu Os alimentos que a planta tira do ar sào o oxygenio e<br />

o anhydrido carbônico. Os que lira do solo sào azotatos, chlore-<br />

los, sulfates, phosphatos e carbonates»<br />

Como o solo empobrece, devem-se-lhe fornecer substancias<br />

aljmentares sob a fôrma (Tadubos. Além disto, nas culturas, de­<br />

vem alternar-se plantas de raizes que se enterrem profunda­<br />

mente, com outras de raizes superficiais.<br />

H. Ha nos vegetaes unia corrente de liquido que, alravez<br />

dos \asos do lenho, vae das raizes ás Tolhas: é a seiva ascendente.<br />

Atravez fios tubos do liber dá-se outra corrente em sentido con­<br />

trario que se chama seira descendente<br />

íN. A respiração das plantas consiste na absorpção (foxy-<br />

iienio e na exhalação d*anh>drído carbônico.<br />

4U. A lixarão do carboneo nas cellulas é devida á ehloro-<br />

pJnlla que, em presença da luz, decompõe o anhydrido carbô­<br />

nico. Assim se formam os Imlralos de carboneo. e talvez as<br />

-substancias azotadas.<br />

50. As plantas sem vChloroplnlta precisam d*obter os seus<br />

elementos nutritivos no estado de substancias orgânicas..<br />

51. As plantas deixam evolver vapor (Pagua ejn quinti-<br />

dade maior ou menor por meio da transpiração. l T<br />

ma grande<br />

parle do vapor d\gua exhalado deve-se á acção da \vu sobre a<br />

chloroph> lia. phenomeno a que se chama chlnrornporixação.<br />

53. As plantas deixam lambem passar uma certa quanti­<br />

dade d'agua carregada de saes alravez da sua membrana limi-


NUTRIÇÃO DAS PLANTAS 87<br />

taute. É o que se chama exsadação. O liquido exsudado pode<br />

aetuar sobre partículas sólidas que estejam em eoutacto com a<br />

planta e transformal-as de insoluveis em solúveis (digestão).<br />

5o\ Os princípios immediatos elaborados pelas plantas são<br />

depois incorporados na massa do vegetal. Como nem todas as<br />

substancias são utilisadas, ficam os resíduos de nutrição que<br />

podem circular em canaes especiaes, formando a maior parte do<br />

látex. O látex é um liquido leitoso, branco, ama rei Io ou averme­<br />

lhado, formado de di He rentes substancias e tendo em suspensão<br />

glóbulos de resina, cautchouc, etc,<br />

54. O termo tinal das funcções de nutrição é a incorpora­<br />

ção das substancias absorvidas e elaboradas no protoplasma cel­<br />

lular (assimilação). Por outro lado, os principies immediatos das<br />

plantas são desaggregados e decompostos (desassimilação), Do<br />

predomínio da primeira sobre a segunda resulta o auginento da<br />

massa do vegetal.<br />

55. O crescimento das plantas dá-se em altura e espessura.<br />

<<br />

O crescimento em altura faz-se á custa do gomo terminal.<br />

O crescimento em diâmetro varia nas Wonocotvledoneas e<br />

nas Dicotyledoneas. Nas primeiras, é pela formação de novos fas­<br />

ciculos que recalcam os já formados. Nas segundas faz-se o cres­<br />

cimento á custa da camada situada entre o liber e o lenho.<br />

T è m importância considerável no crescimento da planta a<br />

gravidade, a luz-e o calor. A influencia de cada um dVsles agen­<br />

tes tem respectivamente o nome de geotropismo. photolropismo e<br />

thermotropismo.<br />

5(i. A nutrição das plantas eomprehende: a absorpção ; a<br />

circulação da seira; a respiração; a funcção chlorophyllina ; a trans­<br />

piração e a chlorovaporisação: a exsadação e digestão ; as secreçoes<br />

e a assimilação.


Flor: organisação e formas. Icleia summaria<br />

C A P I T U L O V I<br />

Ó R G Ã O S D E R E P R O D U C Ç Ã O<br />

57. Flores: inflorescencia. Collocadas as plantas<br />

d a f e c u n d a ç ã o<br />

e m cireuinstâncias favoráveis, o seu corpo vae-se desen­<br />

volvendo pela f o r m a ç ã o de novos ó r g ã o s : nas de orga-<br />

nisaçao superior, ao cabo d ' u m certo tempo, surgem ap-<br />

parelhos especiaes, ordinariamente coloridos, destinados<br />

á reproducção, que se c h a m a m flores.<br />

Os órgãos de reproducção, que as tlores encerram,<br />

são os estantes e os car pellos.<br />

Se estes órgãos se acham reunidos na mesma tlor,<br />

chama-se-lhe h e r m a p h r o d i t a ; no caso contrario, diz-se<br />

a ílor n a isentada.<br />

Dá-se o nome de ia florescência á disposição cias 11o-<br />

res sobre o caule.<br />

Algumas vezes, mas raras, as llores estão immcdia-<br />

tamente applicadas e como que colladas n u m eixo: di­<br />

zem-se então sesseis ou rentes.


FLOR<br />

Matis f r e q ü e n t e s vezes, t è m c o m o supporte u m corpo<br />

mais ou menos allongado que se chama p e d u n e u l o , di­<br />

zendo-se as flores pedit n a d a d a s .<br />

O pedunculo, e m vez de ser simples, pode dividir-se<br />

em. eixos s e c u n d á r i o s , terciarios, etc, (pe-<br />

dicellos). Se d á i n s e r ç ã o a muitas flores, di­<br />

lata-se e tem o n o m e de receptaculo.<br />

Ha inflorescencias nnifloraes, isto é, e m<br />

que as flores que as constituem são solitárias;<br />

outras são bifloraes, trifloraes. multifloraes.<br />

As inflorescencias multifloraes são divi­<br />

didas e m i n d e f i n i d a s , d e f i n i d a s e m i x t a s .<br />

58. I n f l o r e s c e n c i a s u n i i l o r a e s . As<br />

llores solitárias p o d e m occupar a extremi­<br />

dade superior d ' u m caule ou d ' u m r a m ò o u<br />

estar collocadas na axilla d'uma folha ou<br />

d ' u m ramo.<br />

No primeiro caso a iuflorescencia, a l é m<br />

de imi/loral,ê t e r m i n a l ; no s e g u n d o , é axillar.<br />

E x e m p l o de inílorescencia terminal temol-o<br />

na Tulipa; de inílorescencia axillar na Violeta.<br />

59. I n f l o r e s c e n c i a s m u l t i f l o r a e s<br />

i n d e f i n i d a s . Pertencem a este grupo a es­<br />

p i g a , a espadice, o a m e n l i l h o , o capitulo, o<br />

cacho, o c o r g m b o e a u m h e l l a .<br />

A espiga apresenta u m eixo c o m m u m<br />

único, n ã o articulado n e m carnoso, e m (pie estão cclladas<br />

as flores, inseridas lateralmente cada u m a na axilla d'uma<br />

bractea. Tal é o que succede na Verbena ofíicinal (fig. 46).<br />

14<br />

4 r<br />

8 9<br />

Fig. 46-Verbena<br />

officinal-<br />

Espiga."


90<br />

BOTÂNICA<br />

O amentilho c uma espiga formada de flores unise-<br />

ir l g. 47-Amíeiro. 0<br />

xuadas, cujo eixo esta articulado de ma­<br />

neira que se destaca facilmente (fig. 47).<br />

E á família das Amentaceas que mais<br />

particularmente pertence esta forma d'in-<br />

florescencia.<br />

A espadicc (fig. i8) é uma espécie<br />

d'espiga d'eixo carnoso cujas flores uni-<br />

sexuadas, e muitas vezes eslerejs, são en­<br />

volvidas por u m a grande bractea (espa­<br />

lha), ás vezes colorida. Pertence esta in­<br />

ílorescencia á família das Aroidaceas.<br />

^ P ü<br />

'<br />

f l<br />

° (üg- Pde ser conside-<br />

Amentuho. P a ( j 0 c o m o u m a espiga cujo eixo é dilatado<br />

e globuloso, (receptando) e envolvido pelas bracteas que<br />

Fig 48 — Espadicc da Calla. Fig. 49 — Alcacbofra : capitulo.<br />

f o r m a m u m invólucro ás Mores sesseis. Tal é a inflores-


FLOR m<br />

cencia da Alcaehofra, e das outras plantas pertencentes<br />

á família das Compostas.<br />

O cacho (fig. 50) é uma espiga cujas flores, em vez<br />

Fig. 50 — Cacho da líeseda de cheiro.<br />

de serem sesseis, s ã o supporladas cada u m a por u m


92<br />

eixo secundário ou pe.diccllo. Ha cachos simples e cachos<br />

compostos: alguns mesmo sào terminados por umallor.<br />

Esta inílorescencia encontra-se n'algumas Cruciferas, etc.<br />

O c o n j m b o (fig. 51) é u m a espécie de cacho cujos<br />

eixos secundários partem de dillerentes alturas do eixo<br />

principal, mas vão terminar todos a u m mesmo ntvel,<br />

formando uma superlicie horisontal. Encontra-se no Sa-<br />

hugueiro, no Azereiro, etc.<br />

Fig. 51 — Corymbo de peduneulos Fig. 52 - Cerefolio: uiubella<br />

deseguaes do Azereiro. composta.<br />

A umbella (üg. 52) é uma espécie de Gorymbo cu­<br />

jos eixos partem da mesma altura, e são eguaes em<br />

dimensões. As IIores podem estar collocadas na axilla<br />

d'uma bractea, mas ás vezes faltam estes órgãos. Quando<br />

existem, f o r m a m e m torno dos eixos secundários uma<br />

espécie de collar que se chama invólucro.<br />

Esta f ô r m a d'inílorescencia pertence á família das


FLOR<br />

Urabelliferas, de que é exemplo a S a l s á ; mas ahi, a u m -<br />

bella é ordinariamente composta, quer dizer, Os eixos<br />

, . . v li ; */v v i / o<br />

s e c u n d á r i o s t e r m i n a m por umbellas mats-pt^-rèiras, o u<br />

u m b e l l u l a s , cercada cada u m a por u m pequeno invólu­<br />

cro chamado involucello.<br />

Fig. 53 — Cimeira da Centaurea<br />

menor.<br />

93<br />

Fig. õi — Leucoium- Cimeira<br />

unipara.<br />

00. I n f l o r e s c e n c i a s m u l t i f l o r a e s d e f i n i d a s . As<br />

inflorescencias definidas c o m p r e h e n d e m apenas as c i m e i -<br />

ras, nas quaes o eixo p r i m á r i o e os s e c u n d á r i o s t e r m i ­<br />

n a m cada u m por u m a flor.<br />

A cimeira p ô d e ser b i p a r a o u unipara._ No p r i m e i r o<br />

caso, (fig. 53) encontram-se por baixo da ílor que p r i -


94<br />

BOTÂNICA<br />

meiro desabrochou e que termina o eixo principal, duas<br />

folhas ou bracteas oppostas, da axilla de cada uma das<br />

quaes parte u m eixo secundário terminado por uma flor.<br />

É isto o que succecle na Esteva, etc.<br />

No segundo, (fig. 54) o eixo primário que termina<br />

por u m a flor, apresenta u m a bractea da axilla da qual<br />

parte u m eixo secundário que termina t a m b é m por uma<br />

Fig. 55 — PivUtrim. Inílorescencia mixta : corymbo de cimeiras.<br />

' •"..•> :<br />

flor e assim sueeessivamente. E esta a intloresccncia da<br />

Borragem, etc.<br />

01. Inflorescencias mistas. A inílorescencia é<br />

mixta quando se acham reunidas algumas f ô r m a s de iu-<br />

iloresecneia n'uma mesma planta. Assim, por exemplo,<br />

u m corymbo formado de cimeiras (fig. 55) etc.<br />

:•


FLOR<br />

Q U A D R O D A S I N F L O R E S C E N C I A S<br />

Uma só flor \Na extremidade do caule — Inflor. unifloral terminal-<br />

{Infloresc. uniflora.es) |Na axilla das folhas —Inflor- unifloral axillar.<br />

as «<br />

I<br />

Eixo não articulado nem carnoso...<br />

} Eixo articulado : flores sesseis<br />

Espiga.<br />

Amentilho.<br />

§<br />

o to<br />

l 0 3 \s: « J Eixo carnoso: envolvido por espatha Espadicc.<br />

o 1 cS 1 ' Eixo desenvolvido: r receptaculo) .... Capitulo.<br />

u ^ H - c/3<br />

O V 1 E o<br />

I -<br />

(Espiga de flores pedieelladas Cacho.<br />

S *• ws —E I 1 Cacho tendo pedicel. á mesma altura Corymbo.<br />

T3 -2 \-S«ê*S §^1 Corymbo dè pedicellos eguaes par­<br />

to ~<br />

*5<br />

tindo do mesmo ponto Umbclla.<br />

, x o<br />

£ I - terminado ( u m<br />

ã f n'uma flor (In-i_ .<br />

ramo inferiormente a<br />

. . > *<br />

flor...... Cimeira<br />

•<br />

unipara.<br />

D o i a<br />

1 flor. definidas)'<br />

r a m o s<br />

interiormente a flor.... Cimeira bipara.<br />

Inflorescencias mixtas.<br />

62. A flor: partes constituintes. Se tomarmos<br />

uni goivo, vemos que cada flor se acha presa á planta<br />

pelo p e d u n c a l ó .<br />

Na base da llor, vemos primeiro quatro l â m i n a s ver­<br />

des, similhantes ás folhas, mas mais pequenas. D á - s e -<br />

lhes o nome de sepalas, e á sua r e u n i ã o o de calix.<br />

Tirando as sepalas, vemos que c o b r e m quatro l â m i ­<br />

nas maiores, cheirosas e de tecido mais delicado, diver­<br />

samente coradas, que se c h a m a m pétalas e cuja r e u n i ã o<br />

tem o n o m e de corolla (fig. 56 e 57).<br />

Se tirarmos ainda a corolla, vemos por dentro u m<br />

certo n u m e r o de filamentos, que 110 sen t o p o apresen­<br />

tam u m a dilatação: s à o os estames, cuja r e u n i ã o cons­<br />

titue o a n d r o c m . Finalmente, no centro da flor, e conv><br />

tinuando o pedunculo, encontra-se u m corpo arredon­<br />

dado, rematado por u m tubo cylindrico, cpie é o píslillo,<br />

95


96 BOTÂNICA<br />

o qual a seu turno ó composto de peças chamadas car-<br />

pellos.<br />

U m a flor, quando completa, compõe-se, portanto,<br />

de quatro partes que são, indo de fora para dentro, o<br />

a d i r , a corolla, os estornes e o pislilfo.<br />

X reunião das sepalas, das pétalas, etc, dá-se o<br />

nome de verticiiios da flor, e as peças que os constituem<br />

apresentam freqüentes vezes disposição alternada, cor­<br />

respondendo, por exemplo, as pétalas ao intervallo das<br />

Fig. 56 - Flor do Goivo. Fig. 57 Pétala do Goivo.<br />

sepalas, etc. Ha, porém, numerosas exeepções a esta<br />

disposição.<br />

O numero das peças de cada verticilio é variável.<br />

Nas Dicotyledoneas, este numero é dois ou cinco ou múl­<br />

tiplo d'estes algarismos, e a flor diz-se então dimera ou<br />

p e n t a m e r a ; nas Monocotyledoneas, e tres ou múltiplo de<br />

tres, e a flor diz-se trimcra.<br />

63. Flores incompletas. As flores não são sem­<br />

pre compostas de todas asVpartes que mencionamos.<br />

Examinando as flores do Salgueiro ou da Betula,


FLOR 97<br />

vemos que algumas só contem os estames e outras o<br />

pistillo. S ã o tlores incompletas de duas e s p é c i e s : ílores<br />

d'estames e ilores de pistillo.<br />

O Carvalho, a Betula, (üg. 58) etc, t è m duas e s p é ­<br />

cies de Ilores no m e s m o i n d i v í d u o ; dá-se-lhes o n o m e de<br />

plantas m o n o i c a s .<br />

O Salgueiro, o Canhamo, etc, só t è m u m a espécie<br />

de Ilores no m e s m o indivíduo, e existem e n t ã o i n d i v í d u o s<br />

só c o m ílores de estames, e i n d i v í d u o s só c o m tlores de<br />

pistillo. Dá-se a estas plantas o n o m e de dioicas.<br />

Fig. 58 — Flores de Betula. Um grupo de flores de estames<br />

e uma flor isolada.<br />

As ílores de estames e pistillo reunidos tèm ordi­<br />

nariamente as duas espécies de invólucros — calix e co­<br />

rolla. Já n ã o succede o m e s m o , por exemplo, na flor do<br />

Jacintho, e m que ha apenas u m i n v ó l u c r o formado pela<br />

corolla e calix reunidos: d á - s e a este i n v ó l u c r o o n o m e<br />

de p e r i a n t h o . As Ilores do Salgueiro e do Choupo n ã o<br />

t è m i n v ó l u c r o e m torno dos estames o u do pistillo: cha-<br />

ma-se-lhes a pela Ias.<br />

64. Calix. O calix é o invólucro externo da tlòr.<br />

As p e ç a s que o constituem, ou sepalas, p ó d e n i es-<br />

7


98<br />

BOTÂNICA<br />

tar separadas ninas das outras, como ho Goivo, e o ca­<br />

lix -recebe o nome de d y a l y s e p a l o ou polysepalo, ou es­<br />

tar reunidas, e o calix chama-se gamosepálo ou m o n w -<br />

palo.<br />

Ha ílores em que o calix falta (fig. 59 e 60) e que<br />

se chamam aseyulas.<br />

O n u m e r o das sepalas varia muito d'uma .flor para<br />

Fig. 59 — Carão tia isca.<br />

Fior asepala.<br />

Kig. 60 — Suiva dos tintureit<br />

os. Flor asepala.<br />

outra. Ha as que t è m uma sepala e duas. Mais c o m m u m -<br />

mente, apresentam tres, quatro ou cinco, podendo mesmo<br />

ser este numero superior.<br />

As sepalas são, ou simílhantes umas ás outras, ou<br />

dissimilhantes: no primeiro caso, o calix è regular; n o<br />

segundo, irregular<br />

Algumas formas de calix gamosepalo regular tèm


nomes espeeiaes: o f f l i n d r i c o ; c a m p a a u l u d o , q u a n d ò e m<br />

forma de sino; t u r b i n a d o , quando e m turma de peru;<br />

vesiculoso, prismático, auguloso.<br />

Quanto á d u r a r ã o , o calix pode ser caduco, se çáe<br />

pouco tempo depois de desabrochar; e persistente n o<br />

caso contrario.<br />

Quapto á côr, o calix é ordinariamente verde, apre-<br />

sentamto estructura a n á l o g a á das folhas. Algumas ve-<br />

zes, porem, apresenta cores variadas, como no L y r i o ;<br />

diz-se e n t ã o pelaloide.<br />

05. C o r o l l a . A corolla c o invólucro interno da<br />

llor. K formada por foliolos geralmente coloridos, m e m -<br />

branosos, delicados, que se c h a m a m pé­<br />

talas (fig. 01). As Ilores (pie as tem cha- ^<br />

mam-se p e t a l a d a s ; aquellas em' que fal­<br />

tam chamam-se apetalas.<br />

As pétalas, quando completas, com­<br />

p õ e m - s e de duas partes: u m a expandida,<br />

chamada l i m b o ou l a m i n a , e outra es-<br />

treita chamada u n h a . Quando esta falta,<br />

a pétala diè-se sessil.<br />

Da m e s m a f o r m a que as sepalas,<br />

podem as pétalas estar livres ou unidas<br />

entre si; no primeiro caso, a corolla é<br />

F i g<br />

* 6 1<br />

~ U m a<br />

? e t a r<br />

*-<br />

diali/petala ou p o l y p e t a l a ; no segundo, g a m o p e t a l a o u<br />

monopetala. ~ ,<br />

O n u m e r o das pétalas é m u i t o v a r i á v e l ; algumas<br />

corollas t è m apenas u m a o u duas; mais c o m m u m m e n t e r<br />

apresentam tres, quatro, cinco ou até mais.<br />

As pétalas p o d e m ser s i m i l h á n l e s umas ás outras^


BOTÂNICA<br />

Algumas formas de corolIas receberam nomes espe­<br />

eiaes. Das corollas dialypetalas regulares, chamam-se:<br />

rosacea a que é formada por cinco pétalas, d'unha muito<br />

curta, como na Agrimonia (iig. 62); cruciforme a que<br />

é constituída por quatro pétalas d'unhas allongaclas, in­<br />

clinadas sobre o limbo, como na Gouve; ou no Goivo<br />

(lig. 03); cravinosa, a que é formada por cinco péta­<br />

las, cujo limbo está disposto como na rosacea, mas<br />

cujas unhas allongadas e perpendiculares ao limbo es­<br />

Fig: 62 —Agrimonin : Corolla rosacea Fig. 63 — Goivo : corolla çrueiforine.. -<br />

tão encerradas no tubo do calix: tal é o que suecede no<br />

Gravo.<br />

Das corollas gamopolalas regulares, dá-se o nome<br />

de: fabulosa, á (pie c cylindrica, ou (piasi cyTmdrica,<br />

n ã o só no tubo da base, mas ainda no limbo que é di­<br />

latado, como suecede no Girasot (fig. O í ) : r a m p a n u fada<br />

á que lem a forma (Tuma campanula, dilatando-se regu­<br />

larmente desde a base, como se vè nas Gampainhas e<br />

na A b ó b o r a ; a f u n i l a d a a (pie tem a f ô r m a d r<br />

um funil,<br />

tubulosa ou não inferiormente, como suecede na,Cor-


FLOR 401<br />

riolla (fig. 05), etc.; a s a l r e a d a (fig. 06) a que tem u m<br />

tubo cylindrico, bruscamente dilatado no cimo, e m fôr­<br />

m a de taça, como no J a s m i m e no Lilaz (fig. 66) ; ro­<br />

d a d a , a que tem u m tubo m u i t o curto, e o limbo dila-<br />

lado e m fôrma de roda, c o m o se observa na B o r r a r e m ;<br />

Fig*. G4 — Gira sol. Corolla Fig. 65— Corriola. Corolla Fig. 66—Lilaz. Corolla<br />

tubulosa- afunilada. asalveada.<br />

g o m i l o s a , a que se alarga e m fôrma (Puma estreitada na<br />

parle superior, c o m o na Urze.<br />

Das corollas irregulares polypelalas d á - s e o n o m e<br />

de p a p i l m m m e a á (pie e formada por cinco pétalas, u m a<br />

das quaes, a superior e bastante larga, se chama estan­<br />

darte ;/AS duas lateraes se c h a m a m a z a s . e as duas i n -


\ 0 2 BOTÂNICA<br />

fcriores f o r m a m pela sua reunião a navela ]<br />

(í\g. 67). À<br />

corolla ])apilionaceá observa-se no Feijão, na Ervilha, etc.<br />

Das corollas gamopelalas irregulares, cbama-so per-<br />

Fig. 07 — Corolla papilionacea : E estandarte ; A azas ; c naveta.<br />

l j<br />

'ig. tiÜ-Papào. Corolla personada Fig. ü (<br />

J — Salva . Corolla bilabiada.<br />

sanada ou muscarina (tig, 68) a que representa a fôrma<br />

tio ibeinho tl\um animal, como na llerva bezerra ;<br />

hindu á que lenr u m tubo miais ou menos longo dilatado<br />

e m dois lábios desoguaes, como na Salva (tig. 60) ; Hgi^;


FLOR<br />

103<br />

losa, aquella cujo tubo se dilata n ' u m l i m b o tendido ao<br />

c o m p r i d o e l a n ç a d o para traz, c o m o se observa no T a -<br />

raxaco o u Dente de leão.<br />

Pelo que diz respeito á d u r a ç ã o , ha corollas que v i ­<br />

v e m m u i t o pouco tempo, assim c o m o as ha que p o d e m<br />

persistir.<br />

As cores das pétalas são variadissimas e por vezes<br />

muito vivas.<br />

tíb\ Androceu. Chama-se mutmeu a reunião dos<br />

estames.<br />

Cada."estame c o m p õ e - s e essencialmente d ' u m sacco<br />

chamado aníhertt que contem o pollen ou pó fecun­<br />

da u te. ,<br />

A anthera p ô d e ser supportada por u m corpo allon-<br />

gado chamado fllete; quando este falta, diz-se (pie a an­<br />

thera é sessil.<br />

A a n t h e m vé. ordinariamente allongada no sentido<br />

vertical ou transversal, mas p ô d e ser globulosa. P ô d e ter<br />

u m a cavidade única e m que está encerrado o pollen, e<br />

diz-se e n t ã o n n i l o c u l a r ; mas é mais f r e q ü e n t e s vezes<br />

formada por dois compartimentos encostados, reunidos<br />

Cntre si por u m pequeno corpo de f ô r m a m u i t o variável<br />

chamado eonueclivo. Diz-se e n t ã o a anthera b i i o m U i r .<br />

Mais excepcionalmente, p ô d e ser maior o n u m e r o de<br />

compartimentos.<br />

A anthera abre-se ordinariamente por u m a lenda<br />

longitudinal situada no lado opposto ao da, i n s e r ç ã o do<br />

tilete. Se essa tenda está voltada para o interior da flor,<br />

a anthera é i n f r o r s a ; se está voltada para o exterior,<br />

diz-se e r l r o r m ; n'alguns casos, o m o d o c o m o o tilete se


104<br />

BOTÂNICA<br />

insere no conneclivo permitte á anthera voltar-se para<br />

fora ou para dentro e tem então o nome de versátil<br />

Clig. 70).<br />

Outras antheras abrem-se por orifícios situados no<br />

vértice ou na base do compartimento, como se observa<br />

na Urze e na Batata (tig. 71); ou ainda por espécies<br />

de válvulas q u è se abrem lateralmente, como suecede<br />

nas Laurineas (fig. 72).<br />

Fig 70 — AmaryUis<br />

anthera versátil-<br />

() pollen è formado por granulos muito finos, de<br />

cor variável, as mais das vezes amarellos, e de fôrmas<br />

egual mente muito variáveis (esphericos, ellypsoides, cú­<br />

bicos, etc).<br />

Fig. 71 — Batata. Anthera<br />

abrindo-se por meio d'orifícios<br />

do vértice.<br />

Fig. 72 — Berbens-<br />

Anthera que se<br />

abre por válvulas<br />

lateraes.<br />

Cada u m dos granulos de pollen é u m a cellula, tendo<br />

ordinariamente duas membranas: u m a interna, muito<br />

elástica, a que se chama i atina, e outra externa e inex-<br />

tensivel, a que se dá o nomeVle extina. A superfície cVesta


FLOR 105<br />

p ô d e ser raiada, armeilada, facetada ou lisa, ou carre­<br />

gada de papillas e até de a c i ü e o s (fig. 73-78).<br />

Fig. 73-8 — Grãos de pollen : á direita, um tubo pollinico.<br />

i<br />

N^ilgumas plantas, os granulos de pollen ficam adhe-<br />

rentes por meio d'uma substancia elástica (pie se p ô d e<br />

distender c o m ligeira traccao. As mas-<br />

sns assim formadas chamam-se poíli-<br />

n i d i a s (fig. 79).<br />

Aberta a anthera, o pollen sae<br />

para o exterior, e, se encontra con­<br />

dições favoráveis de temperatura e<br />

humidade, desenvolve-se, g e r m i n a e m<br />

p r e s e n ç a do oxygenio do ar. Absorve<br />

agua e entumesce, e a i n t i n a , de­<br />

baixo (Festa influencia, alonga-se, passa<br />

atra vez dos poros ou aberturas da<br />

Fig. 79- Herva contraveneno.<br />

Follinidias.<br />

exina e constitue assim u m tubo que se chama tubo<br />

pollinico e é muito maior do que o granido que o pro-


106<br />

BOTÂNICA<br />

duziii. A cellula polünica allongada é a cellula.masculina<br />

de fecundação.<br />

O fdete é o supporte da anthera. T e m ordinaria­<br />

mente a forma d'um filamento cylindrico ou ligeiramente<br />

adelgaeado desde a base até ao vértice. Algumas vezes,<br />

é largo e similhante ás pétalas, com as quaes tem grande<br />

analogia morphologica. K effectivamente c o m m u m trans­<br />

formarem-se os íiletes das .Idosas, Cravos, ele, em pé­<br />

talas.<br />

Fig. 80 — Malva. Estames Fig. BI — Mil furada. Estames<br />

monadelphos. triadelphos.<br />

(Js estames sào muitas vezes livres em toda a sua<br />

extensão, mas podem unir-se pelos tiletes. Ha então<br />

(ulelphiü.<br />

Se os íiletes se r e ú n e m n ' u m só feixe, ha monadel-<br />

phia, como suecede na Malva (íig. 80); se se unem em<br />

dois, diudelpkiit, como na Polygala, na Fumaria etc ;<br />

se f o r m a m Ires ou mais, dá-se a polyudelphiu, como na<br />

Milfurada, (íig, 81) ele.


FLOR<br />

107<br />

Os estames p o d e m t a m b é m unir-se pelas anlberas;<br />

a essa r e u n i ã o dá-se o nome de syngenesia. Podem egual-<br />

mente estar colhidos ao estylete; e as plantas que apre­<br />

sentam esta disposição f o r m a m u m a classe que L i n n e u<br />

designou c o m o nome de G y u a o t l r i n .<br />

O n u m e r o d'estames ( f u m a flor é muito variável.<br />

Assim a Valeriana apresenta apenas u m estame, ao passo<br />

que a Papoula pode ter algumas centenas.<br />

As d i m e n s õ e s relativas t a m b é m são variáveis. As<br />

Labiadas apresentam quatro estamos, dois maiores e dois<br />

mais pequenos, ao que se chama d i d y n o m i a ; e as Gru-<br />

ciferas tem seis, dois dos quaes mais curtos, ao que se<br />

d á o nome de telradyoooiio.<br />

Quantq á sua inserção e m relação ao ovaricf, os es­<br />

tames são h y p o g i n o s , pen',yiw>s'ou epigioos, conforme se<br />

inserem por baixo, e m torno ou por cima d'elle.<br />

07 Gyneceu. Chama-se gyneceu ou pistillo á re­<br />

união dos carpellos, isto e, ao quarto verlicillio da flor.<br />

A parle essencial do carpello è u m a cavidade, e m<br />

que estão encerrados os óvulos, que mais tarde d a r ã o<br />

as sementes, e que se chama õvnrio (íig. 82, o) sobre<br />

i,<br />

elle assenta u m corpo a I longa do, que é u m prolonga-<br />

mento filitorine do vértice do ova ri o, e (pie se chama es­<br />

tylete (fig. 82, s t g ) ; e finalmente o estylete termina por<br />

u m corpo glandular, que se chama e s t y g m n (fig. 82, stig).<br />

O pistillo é formado^ pela m o d i f i c a r ã o de folhas,<br />

que se soldam nos bordos e se c h a m a m carpellares:<br />

pode ser s i m p l e s ou composto.<br />

Assim, por exemplo, na Ervilha ou no Feijão, o pis-<br />

lillo é f o r m a d o apenas por u m a folha carpellar J<br />

e, por-


108<br />

BOTÂNICA<br />

tanto, si w pies. Na Violeta, ou na Papoula, é constituído<br />

Fig. 82 — Gyneceu.<br />

Sty est-y-'<br />

lete ; stig estigma<br />

; o ovario.<br />

por mais do que uma folha carpellar, e<br />

compete-lhe o nome de composto. Quando<br />

dois ou mais carpellos estão approximados<br />

para constituírem o gyneeeu, podem uào<br />

eontrahir" adherencia, ou unir-se por al­<br />

guma das suas parles. Algumas vezes é<br />

pelos estyletes, como suecede no Loendro,<br />

mas mais f r e q ü e n t e m e n t e é pelos ovarios.<br />

N'este caso, os estyletes ficam independen­<br />

tes ou unidos total ou parcialmente.<br />

O estr/gma (íig. 82, stig) é u m corpo<br />

glandular (pie termina o estylete ou as-<br />

senta directamente sobre o ovario quando<br />

este falta. P ô d e ser simples, ou formado<br />

pela reunião dos estygmas de vários car­<br />

pellos.<br />

A sua f ô r m a é extremamente variáveli<br />

globular, achatada, em f ô r m a de helice,<br />

etc. Seja p o r é m qual for essa f ô r m a , a superfície é ir­<br />

regular e glandulosa, e coberta d 1<br />

viscoso.<br />

u m indueto levemente<br />

O estylete (íig. 82, sty) f é u m corpo mais ou me­<br />

nos allongado que tica superior ao ovario. Pôde faltar<br />

e diz-se então o estvgma sèssil.<br />

Se o pistillo é simples, t a m b é m o estylete o é; mas,.<br />

quando o pistillo é composto, existem tantos estyletes<br />

como carpellos, podendo estar todos livres, soldados in­<br />

completamente, ou totalmente reunidos.<br />

O ovario (lig. 82, o) é uma espécie de" sacco desti­<br />

nado a alojar os óvulos.


FLOR 109<br />

Pode ser s i m p l e s ou composto, conforme o n u m e r o<br />

de folhas carpellares que entram na sua f o r m a ç ã o .<br />

Quando simples, tem apenas u m a cavidade e m que<br />

estão os ó v u l o s e diz-se u n i locutor mas, se se reuni­<br />

r e m dois carpellos pelos ovarios, ficando intactas as pa­<br />

redes de ambos elles, forma-se u m ovario de dois c o m ­<br />

partimentos: diz-se e n t ã o bilocuíar Do mesmo m o d o ,<br />

se tres, quatro, cinco ou mais carpellos se r e ú n e m nas<br />

mesmas c o n d i ç õ e s , o ovario recebe o n o m e de Irilocu-<br />

lar, q u a d r i l o c u l a r , q u i n q u e l o c u l a r . pluriloculor.<br />

Pode t a m b é m succeder que, reunindo-se vários car­<br />

pellos n u m só corpo, d e s a p p a r e ç a m as paredes de se­<br />

p a r a ç ã o , de m o d o que o ovario tenha apenas u m a cavi­<br />

dade, apesar de formado por vários carpellos.<br />

A posição do ovario e m relação aos outros ó r g ã o s<br />

da flor ó variável: Assim, p ô d e estar livre no fundo da<br />

ílor, inserindo-se os estames por baixo d'eí)e, e diz-se<br />

entãor s u p e r i o r , recebendo os estames o n o m e de hypo-<br />

ginos; outras ve^es, acha-se mais ou menos soldado ao<br />

calix, quando os estames se inserem sobre ou e m torno<br />

d'elle, e recebe o n o m e de inferior, chamando-se os es^<br />

tames epigynos ou perigynos.<br />

Dentro da cavidade do ovario Encontram-se os óvu­<br />

los. Estes acham-se tixos a u m a superfície mais ou me­<br />

nos saliente que se chama p l a c a d a ; esta fixação p ô d e<br />

fazer-se directamente, e dizem-se então sesseis, mas or­<br />

dinariamente acham-se presos, por meio d ' u m c o r d ã o<br />

alongado o u f u n i c u l o . A maneira como se acham distri­<br />

b u í d a s as placentas chama-se placeatação.<br />

As placentas p o d e m occupar a parte interna das pa­<br />

redes periphericas do ovario, e diz-se n este caso que a


110<br />

BOTÂNICA<br />

^ placentação é parietal, como se dá na Papoula, eíc.<br />

Mais freqüentes vezes, p o r é m , as placentas occupam a<br />

superfície dos septos de separação, como nas Solanaceas,<br />

ou os ângulos formados entre estes, como nos Geramos:<br />

diz-se então que a placentação e ariul. Algumas vezes o<br />

ovuio está inserido no fundo do ovario, ao que chama<br />

placentação basillar.<br />

Finalmente, os óvulos podem estar inseridos n'uma<br />

coiumna que se erga no centro do ovarip, como no Pão<br />

e queijo, e então diz-se a placentação central.<br />

08. Óvulo. Os óvulos são rudimentos de sementes.<br />

Consistem i f u m a massa arredondada de parenchyma, sem<br />

dilferenciaeão, chamada nucella. No centro da nucella<br />

existe uma grande cellula que constitue o sacco embryo-<br />

nario dentro do qual se desenvolvem ulteriormente ou­<br />

tras cellulas, uma das quaes constitue a oosphèra, e é<br />

a cellula feminina de r e p r o d u c ç ã o .<br />

Quando se arranca o óvulo da placenta, vé-se no<br />

seu ponto d'inserção u m a eicatriz que se chama hilo.<br />

N ' u m óvulo h o m o g ê n e o , a extremidade.do e m b r y ã o op-<br />

posta ao hilo apresenta u m pequeno orifício destinado á<br />

passagem do tubo pollinico, e chamado nricropylo. Ao<br />

nível do micropylo, observa-se muitas vezes uma de­<br />

pressão rodeada por u m rebordo. Este rebordo é o atlo-<br />

ramento, ao nível do micropylo, do invólucro ou tegth\<br />

mento da nucella.<br />

Quasi sempre este invólucro é formado por duas túni­<br />

cas: uma externa — a p r i m i n a , e outra interna — a secun-<br />

dinu. Estes invólucros só adherem entre si e á nucella pof<br />

u m ponto, opposto ao micropylo e chamado chalazio.


FLOR 1íI<br />

i<br />

Os ó v u l o s prendem-se por meio d ' u m pequeno cor­<br />

d ã o chamado f m k u l o . Este por vezes n ã o é visível : di­<br />

zem-se e n t ã o os ó v u l o s sesseis.<br />

0 micropylo está no vértice de todos os ó v u l o s mos<br />

primeiros tempos da sua existência; e esta. disposição<br />

Fig. 83 — Óvulo orthotropico. Estados successivos de desenvolvimento;<br />

n nucella; s secundina; p primina ; ch chalazio-<br />

conserva-se e m muitos cFelles quf\ se c h a m a m rcctos ou<br />

ortholrqpicos, c o m o na Ortiga.<br />

Na maior parte dos casos, e m virtude d ' u m desen­<br />

volvimento desigual, a situação do micropylo muda.<br />

Fig. 84—Óvulo campylotropico; á Fig. 85-Ovulo anatropico ; á esesquerda<br />

o hilo e o micropylo. querda o raphe.<br />

Crescendo só um dos lados do óvulo, o micropylo íica<br />

p r ó x i m o do hilo e chama-se o ó v u l o recorro ou c a m p y ­<br />

lotropico (íig. 84), c o m o é o das Cruciferas.<br />

Outras vezes o eixo da nucella conserva-se rectili-


1 J°2 BOTÂNICA<br />

neo, e todavia o micropylo fica p r ó x i m o do hilo em vir­<br />

tude d'uma desigualdade de crescimento, que produz um<br />

reviramento da nucella. Ao longo do óvulo forma-se en­<br />

tão uma espécie de c o r d ã o vascular que se chama raphe,<br />

e vae das paredes do ovario ao chalazio. É o óvulo re­<br />

virado ou analropico (íig. 85). Tal é o que suecede na<br />

Nogueira, etc. Os óvulos estão encerrados na cavidade<br />

Fig. 8G-87 - Peonia. Disco formando um saccopetaloide.<br />

do ovario (Angiospermicas) ou ficam a descoberto (Gym­<br />

nospermicas).<br />

69. Disco. Nectarios. O disco é uma protuberan-<br />

cia annular que circunda o ovario d'algumas flores.<br />

(fig. 86-87). Dimensões, consistência e côr variam mui­<br />

tíssimo.<br />

São diversas as suas f u n c ç õ e s ; geralmente espesso<br />

e carnoso, segrega u m liquido doce chamado nectar que<br />

4


FLOR 113<br />

attráe os insectos. Por isso foi eomprehendido na cathe-<br />

goria dos ó r g ã o s que se c h a m a m nectarios.<br />

Ha, todavia, muitos outros nectarios glandulosos<br />

que pertencem, n ã o ao eixo, mas aos appendices íloraes.<br />

As sepalas, as pétalas (íig. 88), os estames abortados<br />

t è m muitas vezes, no fundo de ca­<br />

vidades, ó r g ã o s glandulosos que se-<br />

gregam o nectar. Os Rainunculos,<br />

etc. t è m na base das peças do seu<br />

periantho u m a fosseta interna ta­<br />

petada de tecido glandular. Os es­<br />

tames das Laurineas s ã o m u i t a vez<br />

acompanhados de g l â n d u l a s late-<br />

raes secretoras do nectar. E m m u i ­<br />

tas Monocotyledoneas, este liquido<br />

é segregado por g l â n d u l a s septaes,<br />

assim chamadas porque estão si­<br />

tuadas na espessura dos septos do<br />

ovario. 0 nectar vae d'ahi para o<br />

interior da ílor onde os insectos o<br />

sugam. 0 estygma pode algumas<br />

vezes ser assimelhado a u m nectario.<br />

E'ig. 88-Rainunculo-. Pétala<br />

com fosseta nectariíera-<br />

70. P a p e l d a flor: f e c u n d a ç ã o . Examinando u m<br />

Goivo na oceasião e m que vae florir, vemos que nas<br />

ílores e m b o t ã o c o m e ç a m as p e ç a s do calix e da co­<br />

rolla a aífastar-se, apparecendo depois os estames e car­<br />

pellos.<br />

Está aberta a f l o r ; mas dentro e m pouco o calix e<br />

a corolla m u r c h a m ; c á e m os estames; e fica apenas o<br />

pistillo. Este n ã o conserva o aspecto que tinha na flor ^<br />

8


114<br />

BOTÂNICA<br />

alonga-se, dilata-se e toma o nome de fructo (íig. 89).<br />

Terminando o crescimento, sécca t a m b é m e fende-se ao<br />

comprido, deixando cair as sementes, que se formaram<br />

á custa dos óvulos.<br />

Portanto, a flor do Goivo é destinada á formação do<br />

fructo: I o ovario que f ô r m a o fructo, e são os óvulos<br />

que f o r m a m as sementes.<br />

v Infere-se d'aqui que o pistillo é in-<br />

' dispensável para a f o r m a ç ã o do fructo;<br />

resta saber se basta para o formar.<br />

Se, na occasião e m que os Goivos<br />

vão desabrochar, cortarmos com thesou-<br />

ras finas, a uns o calix e a outros o calix<br />

*<br />

e a corolla, vemos que o fructo se forma<br />

nas mesmas condições que nas flores<br />

n ã o mutiladas. Portanto, calix e corolla<br />

n ã o são precisos para a formação do<br />

fructo.<br />

Se, n'outras flores, cortarmos, além<br />

do calix e da corolla, todos os estames,<br />

pig. so-Fructo do n ã o vemos m u d a n ç a alguma no*pistillo<br />

em^uas vXutas* das flores mutiladas, ao passo que nas<br />

v e m regularmente.<br />

que o não foram os fructos se desenvol­<br />

Portanto, os estames são precisos para a formação<br />

do fructo. Androceu e gyneceu concorrem para a fecun­<br />

dação. Os estames fornecem o pollen e os carpellos ou<br />

©vario o óvulo, existindo n'aquelle o protoplasma mas­<br />

culino e n'este o feminino.<br />

O pollen cáe no estygma, cuja superfície irregular a<br />

r e t é m , fornecendo-lhe líquidos nutritivos. Á custa d'elles


FLOIl m<br />

e tio ar que respira, o granido de pollen desenvolve-se<br />

e produz u m longo tubo, chamado Uiho pollinico, ou<br />

cellula rnascnlina que, formado pela inlinn que passa<br />

atra vez das rupturas da erliiui, (66) desce atravez do es­<br />

tylete, entra no ovario, penetra pelo micropylo do ó v u l o<br />

e chega ale ao sacco embryonario, pondo-se e m contado,<br />

c o m a oospheva, (68) o que constitue a f e c u n d a ç ã o . A<br />

ooyphertf fecundada constitue o ovo.<br />

Na ílor está tudo disposto para que esta f u n c ç ã o se<br />

possa dar. Nas ílores completas, t a m b é m chamadas hcr-<br />

n u t p h r o d i t n s por terem ó r g ã o s d'ambos os sexos, é fre­<br />

q ü e n t e a f e c u n d a ç ã o do ó v u l o diurna flor pelo pollen da<br />

m e s m a flor. Quando os estames n ã o estão na m e s m a flor<br />

que o pistillo (flores n n i x e s u a d a s ) , ou n ã o estão na<br />

m e s m a planta, o pollen é transportado até ao estygma<br />

pelo vento, ou pelos insectos.<br />

A f e c u n d a ç ã o d'uma ílor pelo pollen da mesma ílor<br />

chama-se a u t o - f e c u n d n ç ã o ; quando esse phenomeno se<br />

d á á custa do pollen d^outra ílor, recebe o nome de fe­<br />

c u n d a ç ã o c r u z a d a .<br />

A l é m do seu papel na f e c u n d a ç ã o , a ílor desempe­<br />

nha as f u n c ç õ e s geraes da vegetação. G o m o os ó r g ã o s<br />

^ vegetativos, respira; transpira; chlorovaporisa e assi­<br />

mila carboneo, quando t e m parenchymas verdes; é per­<br />

corrida por correntes de seiva; e elabora productos de<br />

secreção.


116<br />

BOTÂNICA<br />

f E S I É 1 M O<br />

57. As tlores sào apparelhos destinados á reproducção üas<br />

'plantas. Os órgãos reproductores são os estames e os carpellos.<br />

:Se se acham reunidos na mesma llor, diz-se que esta é termo-.<br />

iphrodita: no caso contrario è uuisexuada.<br />

Chama-se inflorescência á disposição das tlores no caule.<br />

As flores estão inseridas no caule ou ramos por um corpo<br />

allongado chamado pedunculo. Quando falta, a ílor é w / 7 . Ha ín-<br />

florescencias unifloraes, bifloraes... multifloraes. Estas podem<br />

ser indefinidas, definidas e mixtas.<br />

axitlares,<br />

58. As intlorescencias unifloraes podem ser terminaes ou<br />

59. As inflorescencias indefinidas são a espiga, a espadicc,<br />

o amentilho, o capitulo, o cacho, o corymbo e a umbella.<br />

80. As inflorescencias definidas comprehendem apenas as<br />

cimeiras. Estas podem ser uni paras ou biparas.<br />

61. A inílorescencia é mixta quando se acham reunidas<br />

algumas turmas de inílorescencia u'uma mesma planta.<br />

0*2. A flor, quando completa, è composta de calix. corolla,<br />

estames e carpellos.<br />

63. Ha Ilores que só tèm estames ou só carpellos. Se se<br />

acham reunidas no mesmo indivíduo, chamam-se as plantas mo-<br />

noicas. Quando estão em indivíduos dilTerentes, as plantas sào<br />

dioicas.<br />

IValgumas Ilores, não é possível distinguir calix e corolla no<br />

invólucro floral. Chama-se então ao invólucro únicoperiantha. As<br />

ílores que não tèm invólucro chamam-se apetalas.<br />

64. O calix è o invólucro externo da llor. Pôde *evdiahi$e-<br />

palo ou gamosepalo conforme o numero das suas peças (sepalas).<br />

O numero das sepalas è variável. Conforme a simühança ou dis-<br />

similhanca d ellas, è regular ou irregular.<br />

O calix gamosepalo, quanto â forma, pode ser cglindrico,<br />

vampana/ado, turbinado, eesiculoso, prismático, angulam. Quanto<br />

á duração, è caduco ou persistente.<br />

65. A corolla è o invólucro interno da flor. É formado por


FLOR<br />

pétalas: o pôde ser diahipetala ou gamopetala. O numero de pela­<br />

das é variável. Conforme a sua similhança ou dissimilhança, é re­<br />

gular QM irregular.<br />

As corollas dial>pétalas regülares sHo as rosaceas, crucifor­<br />

mes e cracinosus.<br />

As corollas gamopetalas regulares podem ser fabulosas, cam-<br />

paualadas, afuniladas, astdreadas e rodadas.<br />

lionacea.<br />

Das corollas irregulares polypetalas mereço menção a papi-<br />

Das corollas gamo|)etatas irregulares são notáveis as perso-<br />

nadas, as labiadas e as ligulosus.<br />

C>C). Chama-se androcen á reunião dVstamcs. Cada estamc<br />

eompòe-so de tres parles: anthera, pollen e /ilete.<br />

A anthera é uni ou hiloculur. Conforme o modo d'abertura.<br />

em relação á llor, chama-se inlrorsa, e.rlrorsá ou versátil.<br />

O pollen ó formado geralmente de granulos. Cada um dVllos<br />

ó uma cellula com duas membranas: intina o ertinu.<br />

O /ilete ó um filamento que sustenta a anthera. Quando os<br />

íiletes se reúnem, diz-se que ha adelphia. S" formam um só<br />

feixe, ha monadelphia : se dois, diadelphia\: se mais, potgadelphia.<br />

Quando os estames se reúnem pelas an th eras, dá-se a syngenesia.<br />

Se se reúnem os estames e os estyletes, ha gynundriu.<br />

W . Gyneceu ou pistillo ó a reunião de carpellos. Compóe-se<br />

cada um destes de tres parles: ovario, estglete e estjpjma.<br />

O pistillo pôde ser simples ou composto.<br />

O estggma é um corpo glandular, de forma irregular. Ter­<br />

mina o estylete ou assenta directamente sobre o ovario.<br />

O estglete é um. corpo mais ou menos allongado. i<br />

que lica.<br />

superior ao ovario.<br />

O ovario é uma cavidade que encerra os óvulos que mais<br />

tarde formarão as sementes. Pode ser uni. bi, tri


118<br />

BOTÂNICA<br />

mam as sementes. Compõem-se da nucella em cujo interior está<br />

o sacco embrijonario, e sào envolvidos pela primina e secnndina.<br />

Dentro, do saceo embryonario existe a oosphera. ou cellula femi­<br />

nina de reproducção. Os óvulos podem ser orthotropicos, campy-<br />

Jotropicos e a na trópicos. >.<br />

69. 0 receptaculo, quando coberto d'um tecido glandular<br />

que fôrma anuel em torno do ovario, constitue o disco. Nectarios<br />

são glândulas que segregam um liquido doce, chamado nectar.<br />

70. O destino da llor è para a fecundação. O ovario, depois<br />

de desenvolvido, fôrma o fructo. O óvulo desenvolvido e fecun­<br />

dado fôrma a semente. A fecundação etfectua-se por meio do pol­<br />

len que, caindo sobre o estxgma, dá togar a um tubo comprido<br />

{tubo pollinico) que, atraxez do eshlete, vae pôr-se em contado<br />

com os óvulos. Sr a fecundarão se faz pelo pollen da mesma llor<br />

dá-se a a ato-fecundação: se é pelo pollen doutra, é a fecundação<br />

cruzada.<br />

A flor tem, além d*esta função especial, as communs aos<br />

órgãos vegetativos.


C A P I T U L O V I I<br />

F r u c t o : d i v e r s a s e s p é c i e s fie f r u c t o s<br />

71. Fructo. Depois que o pollen eáe sobre o es-<br />

S e m e n t e : s u â e s t r u c t u r a<br />

tygma e se opera o acto da fecundação-, os i n v ó l u c r o s<br />

da ílor e os estames m u r c h a m e caem. Suecede o m e s m o<br />

ao estygma e ao .estylete, mas o ovario n ã o só persiste,<br />

mas toma notável desenvolvimento. Esse ovario desen­<br />

volvido e chegado á m a t u r a ç ã o constitue o f r u c t o . As<br />

paredes do ovario f o r m a m o pericarpo ; os ó v u l o s fecun­<br />

dados d ã o Jogar ás sementes.<br />

U m a flor (pie encerra u m só carpello produz u m s ó<br />

fructo, e o m e s m o suecede quando alguns carpellos es­<br />

tão soldados de m o d o a f o r m a r e m u m s ó ' o v a r i a : no p r i ­<br />

meiro caso, porem, o fructo é s i m p l e s ; no segundo c o m ­<br />

posto.<br />

Nas ílores que t è m muitos carpellos livres, p r o d u ­<br />

z e m - s ç vários fruetos, -agrupados, e o fructo diz-se a g r e *<br />

g a d o ou polycarpico. - v


120<br />

BOTÂNICA<br />

72. P e r i c a r p o . ü pericarpo serve para proteger e<br />

conter as sementes, e é formado pelas paredes do ovario.<br />

C o m p õ e - s e geralmente de tres partes: epicarpo, meso-<br />

m r p o e endocarpo.<br />

O epicarpo é a membrana exterior que envolve o<br />

fructo. 0 ruesocarpo é a parte vascular que fica por baixo<br />

do epicarpo: attinge n'alguns fructos, como na cereja, ou<br />

na m a ç a (Íig. 90), grande desenvolvimento, recebendo<br />

Fig. \)0 — Fructo da Macieira.<br />

então o nome de sareocar-<br />

po. O endocarpo è a mem­<br />

brana interna que forra a<br />

cavidade e m que estão en­<br />

cerradas as sementes; u'al-<br />

guns fructos, como na ce-~<br />

reja, etc, adquire grande<br />

dureza e espessura, e cons­<br />

titue o caroço.<br />

O pericarpo pode ser sim­<br />

ples ou composto, conforme<br />

o numero de folhas carpel-<br />

lares (pie entram na, sua formação. Quando constituído<br />

por u m só carpello, é unilocular; no caso contrario, tem<br />

ordinariamente tantas cavidades quantos os carpellos sol­<br />

dados, mas expecionalmente p ô d e ter u m a só, quando<br />

os carpellos se tenham reunido lateralmente pelos bordos.<br />

13. Sementes. A semente e a parte essencial do<br />

fructo, e a que pela sua g e r m i n a ç ã o dá logar a u m novo<br />

vegetal. " ,<br />

C o m p õ e - s e de duas partes: o legumerdo, e a amêndoa.<br />

O tegumento é formado por duas membranas sobre-


FRUCTO<br />

postas, a mais exterior das quaes,. resistente e espessa,<br />

se chama testa, ao passo que a interna, m u i t o mais del­<br />

gada, tem o n o m e de l e g m e n . A testa é o desenvolvi­<br />

mento da p r i m i n a , e o tegmen o da s e c u n d i n a (08). A s<br />

d nas membranas p o d e m algumas vezes estar soldadas,<br />

reduzidas a u m a ou faltarem por completo. O tegumento<br />

exterior apresenta muitas vezes na superfície arestas,<br />

pregas, pellos, sedas e filamentos; assim, no Algodoeiro,<br />

as sementes são envolvidas n'uma pennugem "sedosa, que<br />

se presta facilmente á fiação.<br />

Mg. 91—Âmeibãoeira.<br />

Embrião.<br />

Fig. 92 — Amenâoeira. Embrião,<br />

cujas cotyledones C<br />

estão affastadas e deixam<br />

ver o eauliculo T, a radicula<br />

R e a plutuula G.<br />

1-21<br />

Fig- 93 —Amenãoeira.<br />

Embryão (ampliado)<br />

cujas cotyledones foram<br />

tiradas em C.<br />

K, radicula. _C eauliculo.<br />

G. plumula.<br />

A a m ê n d o a comprehende o a l b u m e n e o e m b r y ã o . O<br />

albumen é u m a reserva nutritiva de amido, substancias<br />

gordas e m a t é r i a s albuminoides, destinada a nutrir o<br />

e m b r y ã o . - X ' u m grande n u m e r o de plantas pode, todavia,<br />

faltar .. ;<br />

A natureza do a l b u m e n é v a r i á v e l : é farinareo, no<br />

Trigo, na Cevada-, no M i l h o ; oleoso, no Ricino, no C rolou<br />

t i g l i u m ; corneo, no Cafe^eiro, etc.<br />

0 e m b r y ã o é u m vegetal e m miniatura (fig. 91-93),


122<br />

BOTÂNICA<br />

e resulta da divisão do ovo ou cellula primordial da<br />

planta. Distingue-se n'elle u m rudimento de caule, ou<br />

cauliculo, terminado d'um lado por uma pequena raiz,<br />

ou r a d i a d a , e do outro por u m gomo chamado gem~<br />

m u l a ou pia m u la. Do cauliculo, entre a radicula e a<br />

gemmula, nasce u m ou dois corpos mais ou menos vo­<br />

lumosos que se chamam cotyledones, ou folhas cotyledo-<br />

nares. 0 e m b r y ã o é monocotyledoneo, quando apenas tem<br />

u m a cotyledon, e dicotyledoneo se tem duas. Nos Pinhei­<br />

ros encontram-se de 3 a IA cotvledones verticilladas em<br />

torno da gemmula. 1<br />

Nas sementes que n ã o tem albumen, as cotyledo­<br />

nes sào espessas e carnosas, como suecede na Ervilha,<br />

na Fava, etc. São as reservas nutritivas armazenadas<br />

n'estas cotyledones (pie fornecem ao vegetal os mate-,<br />

riaes de que carece, durante os primeiros tempos da sua<br />

existência. Nas sementes em que o albumen c muito<br />

desenvolvido, é esle que fornece os primeiros alimen­<br />

tos.<br />

As sementes provenientes dos óvulos acham-se como<br />

elles presas ás placentas, por intermédio cios funkulós<br />

ou pados per me , ^ s e m e n t e S 611-<br />

contram-se producções superüciaes devidas ao desenvol­<br />

vimento ctrcumscripto ou generalisado do invólucro. Dá-<br />

st>-lhes o nome de arilhos (íig. 0 W I 5 ) .


' 74. Classificação dos fructos. Os fructos divi­<br />

dem-se e m serros e carnosos.<br />

FRUCTO 123<br />

Os primeiros t è m o pericarpo delgado e m e m b r a -<br />

noso, ou espesso e lenhoso; os segundos, chegando á<br />

m a t u r a ç ã o , t è m u m pericarpo carnoso, e ás vezes m u i t o<br />

suceulento.<br />

A . Fructos seccos. Os fructos seccos podem dividir-se<br />

e m dois grupos. Uns, quando maduros, abrem-se e dei-<br />

Fig. 96-97 — Trigo. Fructo inteiro e cortado ao comprido.<br />

i<br />

x a m cair as sementes, ao passo que as outras parles fi­<br />

c a m adherentes á planta : são os dehiscentes. Outros n ã o<br />

se a b r e m e c á e m inteiros no solo; são os indehiscenfes.<br />

a ) F r u c t o s seccos iudehiscentes. Os fructos seccos in-<br />

dehiscentes p ó d e m ^ e o n t ç r u m a ou mais sementes. Os<br />

que c o n t é m u m a só semente são a cariopse, o aehenio e<br />

a s a m a r o . Os que c o n t é m mais do que u m a semente são<br />

a disa nutra e o p o h j ü c h t n i o .<br />

A cariopse ou grão (fig. 96-97) é u m fructo indehis-


424 BOTÂNICA<br />

cente d'uma só semente, que possue um pericarpo seceo<br />

e coriaceo, adherente á semenle, da qual difficihnente se<br />

separa. Tal é o fructo das Gramhieas : Trigo, Cevada,<br />

Aveia, Milho, etc.<br />

0 achenio (fig. 98) é u m fructo indehiscente, d'uma<br />

só semente, e possue u m pericarpo lenhoso ou coriaceo<br />

que n ã o adhere á semente, de modo que esta fica intacta<br />

Fig. 08 —Oardo. Achenio, com seu pappilho.<br />

depois da destruição do invólucro. Tal é o fructo do<br />

Cardo, do Cirasol, da Chicorea, ele. Alguns acheniçs tèm<br />

superiormente espécies de plumas, ou papillws que dào<br />

presa ao vento para a sua disseminação.<br />

A s a m t u a (íig. 99, 100) é u m fructo secco indehis­<br />

cente, d'uma só semente, cujo pericarpo, coriaceo, se<br />

desenvolve de maneira a formar uma espécie de aza em<br />

torno do fructo: Tal é o fructo do Ulmeiro, etc.


FRUCTO<br />

À d i s a m a r a (fig. 101) differe do precedente e m ler<br />

duas sementes. Chegando á m a t u r a ç ã o , o fructo fende-se<br />

e m diias metades, tendo cada u m a sua aza, mas unidas<br />

Fig. 99, 100 - Ulmeiro. Fructo (samara) inteiro e aberto na sua<br />

porção central dilatada e que encerra a semente.<br />

por um pediculo. Mais tarde, cada metade do fructo cáe<br />

Fig. 101 — Bórdo. Disamara.<br />

separadamente. A disamara é característica dos Bordos.<br />

0 p o l y a c h c n i o é u m fructo secco, indehiscente, for-<br />

125


1<br />

BOTA M C A<br />

mado pela reunião de vários achenios u'um só corpo.<br />

Chegando á m a t u r a ç ã o , esses achenios separam-se uns<br />

Fig. 102-Salsa.<br />

diaclienio<br />

dos outros. Segundo o numero de achenios<br />

reunidos, o polyachenio recebe o nome de<br />

diaclienio, triachenio, etc. O fructo de todas<br />

as Umbelliferas (fig. 102) (Salsa, Cenoura,<br />

Funcho, etc.) e ura diaclienio.<br />

b) Fructos seccos dehiscentes. Os fructos<br />

seccos dehiscentes podem ser simples ou<br />

compostos, conforme o numero de 'carpellos que entram<br />

na sua f o r m a ç ã o . Os fructos simples são o follilho e a<br />

v a g e m ; os compostos a siliqua e a cápsula.<br />

Fig. 103 — Aconito. Follilhos<br />

dehiscentes.<br />

Fig. 104 — HeUeboro. Follilhos<br />

dehiscentes. »<br />

0 follilho v. u m fructo secco, dehiscente, sempre<br />

simples e composto d'um só carpello, contendo uma oü<br />

mais sementes. A abertura ou d e h i s c e n c i a ò o follilho<br />

faz-se por uma só fenda longitudinal. Tal é o fructo da<br />

A n é m o n a . 0 do Aconito (fig. 103), do HeUeboro (fig. 104),<br />

etc, ó formado de tres follilhos.


127<br />

A v a g e m (íig. 105) é u m fructo simples, sècco, de-<br />

hiscente, f o r m a d o por u m só carpello e lendo varias se­<br />

mentes. Abre-se ao longo de duas suturas. É este o<br />

fructo das Papilionaceas, Feijão, Ervilha, Krvilhaca, etc<br />

Fig. 105 — Ervilha. Vagem. Fig. 100 — Couve. Siliqua.<br />

A siliqua (fig. 106), é um fructo sècco, dehiscente,<br />

formado de dois carpellos, e tendo duas cavidades, que<br />

encerram varias sementes. Abre-se por duas lendas, de<br />

baixo para cima, o u de c i m a para baixo, ficando o septo<br />

preso ao pedunculo. .Quando a siliqua é m u i t o curta


BOTÂNICA<br />

chama-se s i t i a d a . É este o fructo característico das Cru-<br />

ciferas, taes como o Goivo, a Couve, a Mostarda, etc.<br />

A. cápsula é u m fructo secco, dehisceute, formado<br />

de vários carpellos, contendo muitas sementes, e cara-<br />

cterisada pela forma arredondada, ou pouco .allongada.<br />

A sua dehiscencia faz-se por válvulas, por poros ou por<br />

u m operculo.<br />

Fig. 107-Fructo do Jacintho; Fig. 106 —Figueira do inferno. Dehiscencia<br />

Dehiscencia loculicida. septifragá,<br />

A dehiscencia valvular faz-se e m direcção longitu­<br />

dinal, e pôde ser septicida, loculicida e septifragá. E' se­<br />

pticida quando cada uni dos septos de separação se di­<br />

vide e m dois, ficando distinctos os diílerentes carpellos.<br />

E loculicida quando a divisão se effectua pelo meio de<br />

cada carpello, arrastando cada u m a das válvulas u m se-<br />

pto com sementes á' m a r g e m (íig. 107). E' septifragá<br />

quando as paredes do fructo se separam e m válvulas<br />

sem arrastarem os septos que licam intactos no centro,<br />

onde f o r m a m outras tantas l â m i n a s verticaes (íig. 108).


FRUCTO 129<br />

A dehiscencia valvular septicida encontra-se na D e -<br />

daleira, no R h o d o d e n d r o n , etc.; a loculicida no L y r i o p<br />

na T u l i p a ; a s e p t i f r a g á na Urze, na Figueira do inferno,<br />

etc.<br />

A dehiscencia por poros o u p o r i c i d a d á - s e quando se<br />

f o r m a m na parede da c á p s u l a aberturas pequenas por onde<br />

s á e m as sementes, c o m o se v è na Papoula (íig. 109) etc.<br />

Fig. 109 - Fructo da Papoula :<br />

dehiscencia poricida.<br />

' A dehiscencia por operculo o u circular, dá-se quando<br />

se f ô r m a u m sulco a toda a cirenhiferencia da c á p s u l a ,<br />

pelo qual se effectua a s e p a r a ç ã o da parte superior, o u<br />

operculo, da inferior. Esta f o r m a de c á p s u l a observa-se no<br />

Morrião vermelho (fig. 110), etc.<br />

Fig. 110 — Fructo de<br />

Morrião vermelho :<br />

dehiscencia circular.


130<br />

BOTÂNICA<br />

B. Fructos carnosos. Os fructos carnosos dividem-se<br />

esmalmente è m indehiscenles e dehiscentes.<br />

a) Fructos carnosos indehiscenles. Estes fructos po­<br />

d e m ter u m a ou mais cavidades. Os que tem apenas<br />

u m a cavidade s ã o : a d r u p a , a baga e o peponidio. Os<br />

que t è m varias cavidades f o r m a m u m a só espécie, o<br />

p o m o .<br />

Fig. 111-112. Cerejeira. Drupas inteiras, e uma Fig. 113. —Grozelha<br />

cortada ao comprido. Baga.<br />

A d r u p a (fig. 111-112) é u m fructo carnosq, simples,<br />

indehiscente, d'uma só semente. 0 pericarpo acha-se<br />

dividido em tres camadas: a externa membranosa, a<br />

media succulenta e a interna lenhosa. Esta ultima en­<br />

volve a semente. São drupas todos os fructos de caroço:<br />

pecego, ameixa, cereja, etc.<br />

A baga (fig. H á ) é u m fructo carnoso, indehiscente,<br />

ordinariamente simples, mas contendo varias sementes.


FHUCTO 131<br />

0 pericarpo tem apenas duas camadas, u m a exlerna del­<br />

gada e u m a interna succulenla. As sementes n ã o são<br />

envolvidas pela parte lenhosa do pericarpo. Taes são as<br />

uvas, ã grozelha, etc. As laranjas perdem ser considera­<br />

das como bagas pluriloculares, tendo as cavidades cheias<br />

d'uma polpa que cerca as sementes.<br />

0 peponidio é uma grande baga com pericarpo bas­<br />

Fig. 114. — Melão. Fepoüidio.<br />

tante espesso e suceulento. Contem grande numero do<br />

sementes, presas a placentas que f o r m a m u m a espé­<br />

cie de septos. Taes s ã o os fructos da A b ó b o r a , do Me­<br />

lão, (fig. Í U ) e das outras plantas da família das Cucur-<br />

bitaceas.


132<br />

BOTÂNICA.<br />

O pomo (fig. 115) é u m fructo carnoso, de varias.<br />

cavidades, encerrando muitas sementes, e indehiscente.<br />

E' formado de tres camadas, a externa membranosa, a<br />

media carnosa e a interna mais ou menos dura. Entram<br />

neste grupo a m a ç ã , a pera, etc.<br />

b) Fructos carnosos dehiscentes. São raros os fru­<br />

ctos que f o r m a m este grupo e podem ser reduzidos a<br />

duas espécies: a cápsula drupacea e a cápsula carnosa.<br />

A cápsula drupacea e uma cápsula deuiscente, cujas<br />

Fig. 115 — Fructo da Macieira.<br />

paredes são molles e succulentas, e cuja semente é en­<br />

volvida pela camada lenhosa do pericarpo. Tal é o fructo<br />

da Nogueira.<br />

A. cápsula carnosa é u m fructo plurilocular, tendo<br />

cada u m dos compartimentos u m a semente, e cujo peri­<br />

carpo molle se abre na m a t u r a ç ã o , deixando sair as se­<br />

mentes. Tal é o fructo do Castanheiro da Índia.<br />

75. Infructescencias. Dá-se o nome de infruetes-<br />

cencia á reunião de fructos n u m mesmo eixo. Resulta


FRUCTO 133<br />

n ã o d ' u m a ílor, mas d'uma inílorescencia. Taes são : a pi­<br />

n h a , a g a l b u l a , a sorose e o sycone.<br />

A p i n h a (íig. 1 lf>) é u m a infructescencia de forma<br />

couica, formada pela r e u n i ã o de escamas mais ou menos<br />

resistentes. Tal é o fructo do Pinheiro, do L u p u l o , etc.<br />

Fig. 110 — Pinheiro. Pinha. Fig. 117 — Amoreira. Sorose.<br />

A galbula c uma espécie de pinha cujas escamas,<br />

longas na parte superior, lhe d ã o u m a f ô r m a arredon­<br />

dada. É este o fructo do Cypreste.<br />

A sorose (fig. 117) é constituída por vários fructos<br />

soldados pela base n u m a só massa succulenta. Tal é o<br />

fructo da A m o r e i r a , do Ananaz, etc.


134<br />

BOTÂNICA<br />

0 sycone (fig. 118) é formado por u m receptaculo<br />

earnoso, cuja parte interna, concava, é forrada pelos fru-<br />

ctos que são achenios. E typo tf esta infructescencia o figo.<br />

76. Funcções geraes dos fructos. Os fructos,<br />

do mesmo modo que as flores, tem as funcções vegeta-<br />

Fig. 118 - Figueira. Sycone.<br />

tivas: respiram, transpiram, sào atravessados por cor­<br />

rentes de seiva, chlorovaporisam e assimilam carboneo<br />

-eraquanto verdes, e elaboram secreeões.<br />

77. Utilidade dos fructos. Muitos fructos, e<br />

principalmente os fructos carnosos, são empregados na<br />

alimentação do h o m e m .


C A P I T U L O V I I I<br />

f t c p r o i I u c ç Â o d a s p l a n t a s<br />

Noções sobre os typos de reproducção uas Cr>plogamicas. Re­<br />

producção das Phanerogamicas por semente e pelos órgãos<br />

de vegetação.<br />

78. Reproducção das plantas. A reproducção das plan­<br />

tas pode ser asexaal ou sexual. Diz-se que a reproducção è ase­<br />

xaal quando a nova planta resulta da divisão da primeira, e se­<br />

xual quando para a formação d'um novo vegetal se torna neces­<br />

sário o concurso de dois elementos diflerenciados. Como inter­<br />

médio entre a reproducção sexual e asexual ha a reproducção<br />

por conjugação, em que é necessário o concurso de dois elemen­<br />

tos, mas em que estes não estão diflerenciados.<br />

79. Reproducção das Cryptogamicas. Dá-se o nome de<br />

Cryptogamicas ás plantas que não tèm Ilores. l^ellas formavam<br />

os antigos botânicos uma só classe; mas o seu estudo mais des­<br />

envolvido fez com que se dividissem em tres t> pos.<br />

Algumas d 1<br />

estas plantas são d ^ m a estructura perfeitamente<br />

homogênea, formadas ás vezes d'uma só cellula, e, quando for-


140<br />

BOTÂNICA<br />

macias por muitas, o parenchyma não se dilferenciã. D'estas plan­<br />

tas, algumas sào inteiramente privadas de chioropiiyUa, outrâs<br />

tèm esta substancia, acompanhada ou não de pigmentos corantes.<br />

Comprehende este ty po as Algas (fue se encontram nas águas,<br />

os Fungos, que vivem como parasitas sobre os seres vivos, e os Li-<br />

chens, que se desenvolvem sobre as arvores, sobre as pedras e<br />

sobre a terra.<br />

O corpo d'estas plantas chama-se thalto, e ellas tém o nome<br />

de Thallophytas.<br />

Outras Cryptogamicas, as Muscineas, tèm ainda unia estru­<br />

ctura bastante simples, mas já se encontra nVJIas um eixo com<br />

folhas chlorophylladas, mas sem raizes. São os Musgos que vivem<br />

nos muros, na terra; e as Hepaticas que st; encontram nos loga-<br />

res humidos.<br />

Ambos estes typos formam as plantas sem vasos ou não vas­<br />

culares. Os vasos começam a apparecer nas Cryptogamicas vas­<br />

culares, cujo corpo apresenta raiz, caule e,folhas, encontrando-se<br />

em todas estas partes um conjuncto de tecidos protectores, além<br />

de fasciculos libero-lenhosos com os quaes eommunicam os que<br />

estão encerrados nas nervuras das tolhas. O caule é cylindrico e<br />

as folhas possuem uma organisação bastante adiantada. Perten­<br />

cem a este typo os Fetos que tomam por vezes grande desenvolvi<br />

vimento.<br />

A reproducção das Cryptogamicas pode ser sexual ou ase-<br />

xual. Nas Thallophytas mais elementares, a reproducção effectua-se<br />

por divisão ou segmentação do corpo da planta. Outras apresen­<br />

tam á superfície gomos, e a reproducção è por gemmação. Mui­<br />

tas d'ellas, porém, produzem no interior das cellulas ou.dos fila­<br />

mentos ocos que as formam, pequenos corpos reproductores cha­<br />

mados esporos, (Mg. 119) que, depois de livres, podem reproduzir<br />

novas plantas.<br />

Estes esporos, podem também formar-se á superfície de cel­<br />

lulas que lhes servem de supporte e se chamam hasidios. Cada<br />

basidio sustenta um ou vários esporos.<br />

Freqüentes vezes, os esporos, em vez de serem nus, estào<br />

envolvidos em saccos chamados esporaãgios, thecas ou ascas, sac-<br />

cos que podem estar livres, mas que mais ordinariamente estão


REPRODUCÇÃO DAS PLANTAS 141<br />

alojados em cavidades chamadas conccptaculos. imuts ou arche-<br />

gonios, segundo as plantas em qu3 se consideram.<br />

Na grande maioria (festas plantas ha também reproducção<br />

sexual. A primeira fôrma de reproducção sexual é por meio'de<br />

elementos não (Merendados. Assim, n'algumas Algas, unem-se<br />

Fig. 119 - Bodelha. Esporos em germinação.<br />

duas cellulas para formarem outra que depois se fragmenta e<br />

desenvolve. Chama-se a este phenomeno conjugação (íig. 120).<br />

Mais geralmente, os elementos sexuaes são diflerenciados.<br />

0 órgão masculino é geralmente uma cellula, cujo protoplasma<br />

Fig. 120 — Algas conjugadas. Zignema e Spirogyra.<br />

se divide em fragmentos eguaes, cada um dos quaes toma uma<br />

fôrma ovoide ou espiralada. Saindo da cellula-mãe, estes corpos<br />

movem-se na agua como se fossem animaes, com o auxilio de<br />

celhas vibràteis: tèm o nome


142<br />

BOTÂNICA<br />

Tanto os oogonios como os antherozoides que lhes devem<br />

fecundar o conteúdo apresentam-se ás vezes separados ou reuni­<br />

dos em pequenos corpos vegetativos, chamados prothallos, proto-<br />

ventas ou proembryões.<br />

Da fecundação da oosphera pelo anlherozoide resultam os<br />

ovos, também chamados oosporos.<br />

80. Reproducção das Phanerogamicas. A reproducção<br />

das Phanerogamicas pode eliectuar-se de dois modos: ou por<br />

meio de sementes ou por meio dos órgãos de vegetação.<br />

A reproducção por meio de sementes è muito mais geral do<br />

que a outra. A reproducção pelos órgãos de vegetação, menos fre­<br />

qüentemente observada na natureza, emprega-se para multiplicar<br />

as arvores de fructo ou as plantas ornamentaes dos nossos climas.<br />

81. Reproducção por semente. Germinação<br />

das sementes. Quando a semente chega á maturação, o<br />

e m b r y ã o (pie encerra deixa de desenvolver-se e passa ao<br />

estado de vida latente, em que pode ficar por muito<br />

tempo. Quando, p o r é m , a semente fòr collocada em con­<br />

dições favoráveis, o e m b r v ã o continuará o seu desenvol-<br />

vimento interrompido, 1<br />

nutrindo-sc das reservas, que tem<br />

e m torno de si e f o r m a r á e n t ã o o vegetal adulto. Quando<br />

a semente sáe d'este estado de vida latente diz-se que<br />

g e r m i n a e o conjuncto de phenomenos que n'ella se dão<br />

n'esle momento tem o nome de germinação da semente.<br />

82. Condições necessárias á germinação. Para<br />

que se eifectue a g e r m i n a ç ã o é preciso que se realisem<br />

certas eondições, u.mas inherentes á própria semente,<br />

outras dependentes do meio. As primeiras chamam-se<br />

internas ; as segundas e.cfenms.<br />

Condições internas. Para que u m a semente seja ca­<br />

paz de germinar, é preciso, e m primeiro logar, que seja


oa, isto é, que encerre por baixo dos tegumentos um<br />

REPRODUCÇÃO DAS PLANTAS \ M<br />

e m b r y ã o b e m c o n f o r m a d o e m todas as suas partes.<br />

E m segundo logar, é n e c e s s á r i o que a semente es­<br />

teja madura, isto é que as suas reservas nutritivas se­<br />

jam assimiláveis immediatamente.<br />

E m í i m , é preciso que esteja viva, isto é, que ainda<br />

se ache n o estado de vida latente que lhe é p r ó p r i o . As<br />

sementes que t è m reservas amylaceas ou aleuronicas con­<br />

servam-se vivas durante m u i t o tempo, mas as que t è m<br />

u m a l b u m e n corneo resistem pouco, bastando a exsica-<br />

ção para m o r r e r e m .<br />

Condições externas. Para que u m a semente germine,<br />

precisa, a l é m dos requisitos que acabamos d'enumerar r<br />

d'agua, oxvsenio e calor.<br />

A a


BOTÂNICA<br />

lho germina entre 9 o<br />

,5 e 46°,2, mas desenvolve-se me­<br />

lhor a 33°,7<br />

Phenonienos d a g e r m i n a ç ã o - Quando se<br />

r e ú n e m estas condições, a semente c o m e ç a a germinar,<br />

e dão-se n'ella phenome-<br />

nos d'ordem chimica e<br />

d'ordem morphologica.<br />

Plienomenos chimicos.<br />

Quando c o m e ç a a germi­<br />

nação, a respiração tor­<br />

na-se muito activa, e d'ahi<br />

resulta uma grande quan­<br />

tidade de calor que é fá­<br />

cil de reconhecer. IVeste<br />

momento, formam-se na<br />

semente fermentos espe-<br />

ciaes chamados diastases,<br />

destinados a concorrerem<br />

para u m a espécie de di­<br />

gestão das reservas ali­<br />

mentares, tornando-as so­<br />

lúveis e assimiláveis.<br />

Plienomenos morpho-<br />

logicos. A o mesmo tempo,<br />

Fig. 121-Desenvolvimentod'um feijão. Q e m b r y ã o modífl-<br />

cações de forma. Examinemos o phenomeno no Feijoeiro<br />

(íig. 121). Sob a inlluencia da humidade, a semente in­<br />

cha e a epiderme rasga-se ao nivel do micropylo, saindo<br />

por essa abertura a radicula que se enterra no solo e<br />

vae constituir a raiz da nova planta. Quando a raiz


REPRODUCÇÃO DAS PLANTAS<br />

adquire u m certo c o m p r i m e n t o , o cauliculo t a m b é m se<br />

allongae dirige-se e m sentido inverso ao da raiz. A o p r i n ­<br />

cipio forma u m a ansa, mas depois ergue-se, levantando<br />

as cotyledones que se aftastam, t o m a n d o grosseiramente<br />

u m aspecto de folhas. Mais tarde a p l u m u l a desenvolve-se<br />

e produz as primeiras folhas normaes.<br />

N e m sempre os phenomenos da g e r m i n a ç ã o se d ã o<br />

exactamente c o m o indicamos. As cotyledones do feijão<br />

saem fora da terra e por isso se c h a m a m e p i g e a s ; outras<br />

vezes, p o r é m , as cotyledones ficam soterradas e diz-se<br />

então que são h y p o g e a s .<br />

84. Reproducção pelos órgãos de vegetação. A repro­<br />

ducção pelos órgãos de vegetação pode eífectuar-se pelos gomos,<br />

(35) pelos bolbos (32) e por meio dos ramos, constituindo a re­<br />

producção por estacas ou por mergulhia. N<br />

íazer-se por meio das folhas.<br />

85. Reproducção por estacas. Se cortarmos um ramo de<br />

T ,<br />

alguns casos, pode<br />

•Geranio ou de Loendro, e mergulharmos a sua extremidade na<br />

terra ou na areia humida, e algumas vezes até em agua pura,<br />

esse ramo continua a viver durante alguns dias. Durante esse<br />

tempo, veem-se desenvolver, na parte inferior do ramo, raizes<br />

adventicias que podem tornar-se bastante numerosas para nutri­<br />

rem o ramo que as formou. Chama-se estaca ao ramo que dá ori­<br />

gem, quando plantado, a uma nova planta.<br />

Esta operação é empregada freqüentemente para a repro­<br />

ducção de plantas ornamentaes e d'algumas fructeiras; para a<br />

realisar, lança-se m ã o ordinariamente dos ramos, mas podem<br />

aproveitar-se n'alguns casos as folhas. Assim se conseguem mul­<br />

tiplicar as Begonias.<br />

86. Estacas naturaes. A natureza offerece grande numero<br />

d'exemplos d'estacas naturaes. As batatas, por exemplo, (íig. 122)<br />

10


BOTÂNICA<br />

reproduzem-se geralmente d'este modo. Os caules subterrâneos<br />

d*esta planta dilatam-se em tuberculos que se separam pela<br />

destruição dos caules que os uniam. Plantados na primavera;<br />

obtem-se tantas novas plantas, quantos olhos apresenta o tuber-<br />

culo. D*ahi nasce o processo de partir as batatas ao plantal-as.<br />

Fig. 122— Um pó de batata.<br />

87. Mergulhia. Ha plantas que se não podem reproduzir<br />

por meio dVstacas, porque os ramos que se separam da planta<br />

mãe morrem antes de terem produzido raizes adventicias desti­<br />

nadas a sustenlal-as. Podem, todavia, reproduzir-se pela opera­<br />

ção chamada mergulhia.


REPRODUCÇÃO DAS PLANTAS<br />

A mergulhia (íig. 123) consisto cm enterrar os ramos que<br />

devem dar novas plantas, sem os separar da planta mãe. Estes<br />

ramos desenvolvem raizes adventicias na parle enterrada ; quando<br />

estão bastante desenvolvidas, cortam-se os ramos e oblem-se tan­<br />

tos vegetaes disLinctos quantos eram os ramos enterrados. A<br />

mergulhia é muito empregada nas vinhas.<br />

Fig. 123 — Mergulhia.<br />

88. Mergulhia natural. Existem na natureza muitos exem­<br />

plos de mergulhia. Assim, os morangueiros emittem caules muito<br />

delgados (estolhos) que rastejam pela terra, e produzem de dis­<br />

tancia em distancia raizes adventicias, Apparecem depois as fo­<br />

lhas e forma-se uma planta distincta. Os Rainunculos e as Silvas<br />

multiplicam-se t a m b é m por estacas naturaes.<br />

89. Enxertos. O enxerto é uma operação que tem em vista<br />

a multiplicação das arvores ou arbustos e consiste em transplan<br />

tar para o caule d'um vegetal u m ramo ou gomo d'outra planta.<br />

1 1


148<br />

BOTÂNICA.<br />

P,r. uuc o enxerto dê resultado, é preciso que fique em relação<br />

oTsbeí dos dois indivíduos,.para que a seiva descendente una<br />

nromptameule as partes que foram postas em contado.<br />

1<br />

O enxerto não pode produzir-se indiferentemente d'uma<br />

Fig- 124 - Enxertia de approxe.<br />

arvore para outra; nunca se effectua entre uma Macieira e uma<br />

Pereira, ao passo que esta se enxerta bem no Marmelleiro bravo,<br />

no Espinheiro, e na Sorveira.<br />

As principaes espécies denxeilia são: a enxertia (Yapproxe,<br />

de garfo e de borbjdfui.<br />

A enxertia iVapproxe ou por appro.n maçao, (hg. w>»


REPRODUCÇÃO DAS PLANTAS 149<br />

siste em unir duas plantas próximas por meio de entalhes que se<br />

correspondam, até que esteja completa a união, depois do que se<br />

separam.<br />

A enxertia de garfo (tig. 125) consisto em implantar u m<br />

ramo d'um vegetal ifoutro, de modo que o liber d*um corres­<br />

ponda ao outro.<br />

A enxertia de borbulha ou (Vescudo (íig. 12(5) consiste em<br />

transplantar d'uma planta para outra uma porção de casca com<br />

um olho ou borbulha.


150<br />

BOTÂNICA<br />

R E S U M O<br />

78. A reproducção das plantas pode ser sexual ou asexuat.<br />

Ha outra forma intermedia de reproducção que se chama por<br />

conjugação.<br />

sexual.<br />

79. Nas Cnptogamieas, a reproducção pode ser asexuat e<br />

Nas TballophUas, pôde eifectuar-se por segmentação das<br />

cellulas que as constituem, pela producção de gomos, e ainda<br />

pelo desenvolvimento de esporos. Estes podem estar supportados<br />

pelos basidios; mas acham-se mais vezes em saccos chamados es-<br />

porangios, thecas, ou ascas, encerrados em cavidades chamadas<br />

conceptaculos, urnas ou archegonios<br />

Na maioria destas plantas ha também geração sexual. Esta<br />

pode elfecluar-se por meio dVlementos não ditferenciados; mas<br />

geralmente os elementos sexuaes são apparentes. O elemento de<br />

fecundação masculino é representado pelos anthera :o ides. O oi\<br />

gão feminino é o oogonio, que contém o protoplasma fecundavel<br />

(oospkera). Oogonio e anlherozoide podem existir n'um corpo ve-<br />

getativo (prothallo, protouema ou proembryão).<br />

80. A reproducção das Phanerogamicas etfeclua-se por<br />

meio de sementes e dos órgãos da vegetação.<br />

81. Chegando a semente á maturação, passa ao estado de<br />

vida latente. Quando, depois, colloeada em condições favoráveis,<br />

o e m b n ã o desenvolve-se nulrindo-se das reservas alimentares<br />

que tem em lorno de si. É o que se chama germinação.<br />

81. Para a germinação são precisas condições internas e<br />

r.clernas. Como condições internas, é preciso que a semente seja<br />

J)oa, madura o viva. Como condições externas, sào indispensáveis<br />

para o desenvolvimento da semente a agua, o oxygenio e o calor.<br />

Ho. Quando a semente começa a germinar, dão-se n'ella.<br />

plienomenos chimicos e morpholo^ieos Os plienomenos chimicos<br />

consistem principalmente na formação de diastases que tornam<br />

solúveis as reservas alimentares. Os plienomenos morphologieos<br />

consistem na laceração do episperma, na saida da raiz e no des­<br />

envolvimento do caule e das Colhas.


REPRODUCÇÃO DAS PLANTAS 151<br />

84. A reproducção pelos órgãos de vegetação pode effe-<br />

ctuar-se pelos gomos, pelos bolbos e por meio dos ramos. Tam­<br />

bém pode eífectuar-se pelas folhas.<br />

85. A reproducção por estaca consiste na separação d*um<br />

ramo da planta-mãe o qual, enterrado na terra, ganha raizes<br />

adventicias e dá logar a u m novo vegetal.<br />

86. A natureza offerece grande numero d'exemplos desta­<br />

cas naturaes. Tal é o que suecede na Batata, etc.<br />

87. A mergulhia consiste em enterrar os ramos que devem<br />

dar novas plantas sem os destacar da planta-mãe.<br />

88. Existem na natureza exemplos de mergulhia. Assim<br />

suecede no Morangueiro que emitte estolhos que ganham raizes<br />

adventicias.<br />

89. O enxerto consiste em transplantar para o caule cTum<br />

vegetal um ramo ou gomo cToutra planta. Para (pie de resultado,<br />

é preciso que fique em contacto o liber das duas plantas. Ha tres<br />

espécies principaes cTenxerto: de approxe, de garfo, e de bor­<br />

bulha.


90. Nomenclatura e classificação botânicas.<br />

C A P I T U L O I X<br />

T a v i n o m i a<br />

Para distinguirmos as plantas umas das outras e nos po­<br />

dermos referir a ellas, torna-se necessário, n ã o só dar-<br />

lhes nomes, mas dispol-as e m grupos constituídos pelas<br />

que t è m caracteres de maior ou menor s i m ü h a n ç a , ao<br />

que se chama classificar. 0 conjuncto de regras a que<br />

obedecem os nomes scienti ticos dos vegetaes. chama-se<br />

nomenclatura botânica ; as regras seguidas na classifica­<br />

ção constituem a l a x i n o m i a .<br />

91. Indivíduo. Todo o ser vivo é mn individuo.<br />

Esta palavra que, lilteralmente, quer dizer indivisível,<br />

applica-se com o l i m de fazer sentir que cada ser vivo<br />

forma ordinariamente uma entidade distincta isolada. U m<br />

Carvalho, u m Choupo, u m p é de Trigo são outros tantos<br />

indivíduos.


TAXINOMIA<br />

/i<br />

153<br />

92. R a ç a s : v a r i e d a d e s . Se c o m p a r a r e m p é s dif-<br />

ferentes de Trigo, cultivados e m sitios diíTerentes, notam<br />

que n ã o s ã o todos eguaes; mas, apezar d'isso, u ã o os<br />

confundem n e m c o m a Cevada, n e m c o m a Aveia, n e m<br />

com qualquer outra planta.<br />

A r e u n i ã o cfindividuos c o m caracteres c o m m u n s<br />

constitue u m a v a r i e d a d e . Quando esta tem caracteres<br />

de constância que se transmittem á posteridade toma o<br />

nome de raça.<br />

93. Espécie. Por muito que se distanciem as va-<br />

riedadés e as raças, e m todo o caso n i n g u é m deixa de<br />

reconhecer que d e r i v a m d ' u m a f o r m a mais ou menos<br />

constante. Pessoa alguma deixa de differençar o Milho,<br />

do Trigo, da Cevada; s ã o outras tantas espécies.<br />

Chamam-se assim os grupos de seres que c o m -<br />

quanto dissemilhantes debaixo d'alguns pontos de vista<br />

secundários, s ã o completamente idênticos nos seus cara­<br />

cteres fundamentaes que se transmittem e m g e r a ç õ e s<br />

successivas e portanto se perpetuam.<br />

Excepcionalmente, duas espécies p o d e m fecundar-se,<br />

ao que,se chama h y b r i d a ç à o , recebendo o produeto o<br />

nome de h j/br ido. O h y b r i d o tem ordinariamente cara­<br />

cteres i n t e r m é d i o s aos das espécies que lhe deram ori­<br />

gem ; se se reproduz, parte da d e s c e n d ê n c i a assimelha-se<br />

á planta que forneceu a cellula masculina; outra parte<br />

assimelha-se á que deu a cellula feminina, e a restante<br />

é constituída por i n d i v í d u o s dissemilhantes entre si. Se<br />

ainda se eflectua segunda g e r a ç ã o dá-se o m e s m o , e den-<br />

tro e m pouco a fórma h y b r í d a desapparece, absorvida<br />

pelas espécies que a p r o d u z i r a m .


BOTÂNICA<br />

! H . G ê n e r o s . Se compararmos a Couve e o Nabo,<br />

reconhecemos que são duas espécies distinetas; mas<br />

t a m b é m notamos que entre ellas existem notáveis simi-<br />

lhanças. O mesmo se dá com o Trevo de cheiro e o Trevo<br />

branco.<br />

Á reunião (Testas espécies que t è m entre si simi-<br />

Ihanças evidentes dá-se o nome .de gêneros. A Couve e o<br />

Nabo pertencem ao mesmo g ê n e r o ; e o Trevo de cheiro<br />

e o Trevo branco estão nas mesmas condições.<br />

Muito excepcionalmente, dois gêneros próximos, po­<br />

dem produzir Jrgbridos.<br />

95. Famílias, ordens, classes, typos. Quando<br />

se comparam os differentes gêneros, reconhece-se que<br />

alguns t è m e m c o m m u m certo numero de caracteres<br />

importantes, ao passo que outros differem em quasi<br />

tudo: os gêneros mais similhantes entre si t è m o nome<br />

de famílias. As famílias (pie apresentam entre si laços<br />

de s i m ü h a n ç a agrupam-se para constituírem ordens /as<br />

ordens, a seu turno, reunindo-se, f o r m a m classes; e es­<br />

tas por sua vez f o r m a m , pelo agrupamento, typos.<br />

Das detinições que acabam de dar-se, conclue-se<br />

que a maior s i m ü h a n ç a existe entre as plantas da mesma<br />

variedade. Ainda é grande entre plantas da mesma es-<br />

pecie, mas* vae diminuindo cada vez mais quando se<br />

passa para o gênero, para a família, para a ordem, para<br />

a classe, para o typo. Para se fixarem estas idéias, sir-<br />

vamo'-nos do artiücio apresentado por Vau-Thieghem,<br />

A d m i t í a m o s que haja na planta dez caracteres ou gru­<br />

pos de caracteres a comparar; representemos cada u m<br />

d'estes caracteres pelo algarismo 1 quando seja constante


TAXIN0M1A 155<br />

e por 0 quando seja v a r i á v e l , e disponhatnos os signaes<br />

da esquerda para a direita, segundo o valor decrescente<br />

do caracter, representando o primeiro á esquerda o grupo<br />

de caracteres mais importante, e o u l t i m o á direita o m e ­<br />

nos valioso. P o d e m e n t ã o resumir-se os quadros da clas­<br />

sificação d'cste m o d o :<br />

Planta.. ., .. ... 11111111II<br />

Variedade 1111111 MO<br />

..Espécie J111III 100<br />

G ê n e r o : 111II11000<br />

Família... 11II110000<br />

Ordem 1111100000<br />

Classe .. .. 1111000000<br />

Typo 1110030000<br />

Reino 1100000000<br />

Seres vivos 1000000000<br />

9o. N o m e n c l a t u r a . A nomenclatura adoptada e m<br />

botânica, c o m o de resto e m tocla a historia natural, ba-<br />

sea-se na a d o p ç ã o de dois termos para a i n d i c a ç ã o de<br />

cada.espécie: é portanto u m a nomenclatura binaria. U m<br />

d'csses termos designa o g ê n e r o , e o outro a espécie.<br />

A Couve e o Nabo, pertencendo a ura m e s m o gê­<br />

nero, terão c o m o e x p r e s s ã o g e n é r i c a a palavra Brassica ;<br />

as espécies s e r ã o designadas respectivamente pelas pa­<br />

lavras Oleracea e N a p u s .<br />

Como se vê, os nomes do g ê n e r o e da espécie s ã o<br />

em latim, o que é devido a ser u m a língua universal­<br />

mente ccmliecida. Os nomes vulgares de m o d o a l g u m<br />

se poderiam aproveitar, visto que v a r i a m c o m as re­<br />

g i õ e s .<br />

1<br />

"<br />

0 norhe especifico é seguido da inicial o u primeiras


BOTÂNICA<br />

lettras do botânico (jiie primeiro descreveu a espécie.<br />

Assim, por exemplo, se escreve: Rosa C a n i n a L . (Linneu).<br />

97. Classificações. Classificar é distribuir em gru­<br />

pos. Conforme a base adoptada para essa divisão, podem<br />

as classificações ser naturaes ou artificia es. Estas, cha­<br />

madas t a m b é m systhemas, adoptam bases variadissimas;<br />

as mais vulgarisadas tomaram como elemento de dis-<br />

tincção as modificações d'um só órgão. Aquellas, tam-<br />

bem chamadas methodos, baseam-se sobre caracteres ti­<br />

rados de todos os órgãos.<br />

Os systhemas tem a vantagem de serem .d'um uso<br />

muito €ommodo, determinando-se com facilidade o grupo<br />

e m (pie tèm de ser collocado o objecto a classificar, mas v<br />

aparte o conhecimento do caracter e m que o systhema<br />

assenta, nada mais se fica sabendo.<br />

Com os methodos dá-se o inverso; a classificação é<br />

mais diflicil, mas o objecto classificado fica conhecida<br />

completamente.<br />

98. Systhemas vegetaes. Systhema de Linneiu<br />

0 que acabamos de dizer das classificações e m geral ap-<br />

plica-se e m toda a sua extensão ás classificações vege­<br />

taes. I/entre os systhemas botânicos, o mais notável é o<br />

de Linneu, celebre naturalista sueco. Basea-se nas modi­<br />

ficações importantes dos ó r g ã o s de r e p r o d u c ç ã o das plan­<br />

tas, estames e carpellos, e comprehende M divisões pri­<br />

marias ou classes, que depois se dividem e m ordens ou<br />

divisões secundarias.<br />

As treze primeiras classes são fundadas n a numera<br />

dos estames; a decima-qnarta e a decima-quinta na sua


grandeza relativa; as tres seguintes, na reunião dos es­<br />

TAX1N0MIA 157<br />

tames pelos íiletes; a decima-nona na r e u n i ã o dos esta­<br />

mes pelas antheras; a v i g é s i m a na r e u n i ã o dos estames<br />

com os earpeltos ; a vigesima-primeira, vigesima-segunda<br />

e vigesima-terceira na s e p a r a ç ã o das .flores masculinas e<br />

das ílores femininas; a vigesima-quarta na a u s ê n c i a de<br />

estames e carpellos.<br />

SYSTHEMA DE LINNEU<br />

l. a<br />

classe: Monandria. Comprehende as plantas<br />

que l è m u m estame, ex. a Valeriana.<br />

2. a<br />

3. a<br />

4 a<br />

dos lintureiros.<br />

tata.<br />

5. a<br />

6. a<br />

7. a<br />

classe: D i a n d r i a . Dois estames, ex. o Lilaz.<br />

classe: T r i a n d r i a . Tres eslames, ex. o Trigo.<br />

classe: T e t r a n d i a . Qualro estames, ex. a Ruiva<br />

classe: P e n t a n d r i a . Cinco estames, ex. a Ba­<br />

classe: H e x a n d r i a . Seis estames, ex. a Tulipa.<br />

classe: H e p t a n d r i a . Sete estames, ex. o Cas­<br />

tanheiro da índia.<br />

8. a<br />

9. a<br />

10. a<br />

l l .<br />

a<br />

classe: O c t a n d r i a . Oito eslames, ex. a Urze.<br />

classe: E n n e a n d r i a . Nove estames, ex. o Junco.<br />

classe: D c c a n d r i a . Dez estames, ex. o Gravo.<br />

classe: D o d e c a n d r i a . De onze a vinte estames,<br />

ex. a Rezeda de cheiro.<br />

12. a<br />

classe: l e o s a n d r i a . Mais de vinte estames, in­<br />

seridos sobre o calix, ex. a Roseira.<br />

13. a<br />

classe: P o l y a n d r i a . De vinte a cem estames,<br />

inseridos por baixo do ovario, ex. a Papoula.<br />

14. a<br />

classe: D i d y i i a i í i i a . Quatro estames, dois dos<br />

quaes mais pequenos do que os outros, ex. a Digital.


158<br />

15. a<br />

BOTÂNICA<br />

classe : T è t r a d y n a n i i f l . Seis estames, dois dos<br />

quaes mais pequenos do que os outros quatro,, ex,. a<br />

Couve.<br />

l(>. a<br />

classe: M o n a d e l p h i a . Estames em numero va­<br />

riável, reunidos pelos íiletes n ' u m só feixe, ex. a Malva.<br />

17. a<br />

classe: D i a d e l p h i a . Estames e m numero va­<br />

riável soldados pelos íiletes e m dois feixes distinetos, ex.<br />

a Polygala.<br />

18. a<br />

classe: P o l y a d e l p h i a . Estames reunidos pelos<br />

íiletes em tres ou mais feixes distinetos, ex. a Laran­<br />

jeira.<br />

19. a<br />

classe: Syngenesia. Cinco estames reunidos e<br />

soldados pelos antheras: flores ordinariamente compos­<br />

tas : ex. o Malmequer.<br />

20. a<br />

classe: G y n a n d r i a . Estames reunidos n'um só<br />

corpo com os carpellos, ex. as Orchideas.<br />

2 1 .<br />

a<br />

classe : M o n e c i a . Flores masculinas e flores<br />

femininas distinetas, mas reunidas n ' u m mesmo indiví­<br />

duo, ex. o Carvalho.<br />

22.<br />

i l<br />

classe: Diecia. Flores masculinas e tlores fe­<br />

mininas em indivíduos difterentes, ex. a Mercurial.<br />

23. a<br />

classe: P o l y g a m i a . Flores hermaphroditas,<br />

tlores masculinas e flores femininas reunidas n ' u m mesmo<br />

indivíduo ou em indivíduos difterentes, ex. a Parietaria.<br />

24. a<br />

classe: C r y p t o g a m i a . Plantas cujas Ílores sào<br />

invisíveis, ou muito pouco distinetas, ex. o Feto macho.<br />

0 systherna de Linneu tem o defeito de n ã o atten-<br />

der ás analogias existentes entre as difterentes espécies<br />

de vegetaes, reunindo n ' u m mesmo grupo plantas muito<br />

dissemilhantes, ou distribuindo e m classes diílerentes<br />

plantas dY)rganisação muito parecida. As únicas classes


em que os vegetaes estão grupados Éituralmente são: a<br />

TAXIXOMIA 159<br />

Didynamia, a Tetradynamia e a Syngcnesia (14. a<br />

, 15. a<br />

19. a<br />

classes) que correspondem á s famílias naturaes das<br />

Cruciferas, das Labiadas e das Synantheraceas.<br />

99. Systhema de Brotero. Uma das modilicaeões<br />

mais notáveis do systhema de L i n n e u foi devida ao cele­<br />

bre botânico portuguez Brotero. A base d'esse systhema<br />

é a contagem dos* estames férteis pelo n u m e r o das an-<br />

theras. Gomprehende \'i classes, a saber:<br />

l .<br />

a<br />

classe: M o n a n t h e r i a . Gomprehende as plantas<br />

que t è m u m a anthera, ex. a C h a r a vulgaris.<br />

2. a<br />

maninho. }<br />

3. a<br />

4. a<br />

Verbena.<br />

5. a<br />

: Genciana.<br />

lipa.<br />

6. a<br />

7. a<br />

classe: D i a n t h e r i a . Duas antheras, ex. o llos-<br />

classe: T V i a n t h e r i a . Tres antheras, ex. o Trigo.<br />

classe: T e t r a n t h e r i a . Quatro antheras, ex. a<br />

classe: P e n t a n t h e r i a . Cinco antheras, ex. a<br />

classe: H e x a n t h e c i a . Seis antheras, ex. a T u -<br />

classe: H e p t a n t h e r i a . Sete antheras, ex. o Cas­<br />

tanheiro da índia. v<br />

leira.<br />

8. a<br />

9. a<br />

Loureiro.<br />

queja.<br />

10. a<br />

classe: O c t a r i t h e r i a . Oito antheras, ex. a Avel-<br />

classe: E n n e a n t h e r i a . Nove antheras, ex. o<br />

classe: D e c a n t h e i i a . Dez antheras, ex. a Car­<br />

1 1 / classe: P o l y a n t h e r i a . Mais de dez antheras,<br />

ex. a Rosa.<br />

e


160<br />

12. a<br />

BOTÂNICA<br />

classe: C r y p t a n t h e r i a . Plantas sem órgãos<br />

sexuaes apparentes, ex. o Feto macho.<br />

100. Methòdos. Methodo de Jussieu. 0 me-<br />

thoclo natural de Jussieu, tem e m vista agrupar os vege­<br />

taes pelas suas analogias. Para isso, é necessário estu-<br />

dal-os em todas as suas particularidades, determinar os<br />

seus caracteres, e graduar-lhes a importância, isto é<br />

subordinal-os. Quer dizer isto que o caracter que servir<br />

para o estabelecimento da família, deve ter mais impor­<br />

tância do que o que serviu para se estabelecer o gênero<br />

e assim successivamente.<br />

Jussieu estabeleceu tres typos fundamentaes, tirando<br />

os caracteres do e m b r y ã o . Esses typos s ã o :<br />

as A c o t y l e d o n e a s ou C r y p t o g a m i c a s , eompre-<br />

hendendo as plantas que n ã o t è m e m b r y ã o , e portanto<br />

sem cotyledones;<br />

as M o n o c o t y l e d o n e a s , comprehendendo todas as<br />

plantas cujo e m b r y ã o tem apenas u m a cotylédon;<br />

as D i c o t y l e d o n e a s , comprehendendo as plantas<br />

cujo e m b r y ã o tem duas cotyledones.<br />

Divisão e m classes. Estes tres typos foram divididos<br />

e m classes, tendo e m vista caracteres de segunda ordem,<br />

tirados da inserção dos estames e da f ô r m a da corolla.<br />

Às Acotyledoneas, que n ã o t è m tlores distinetas, for­<br />

m a r a m apenas u m a classe : a Acotyledonia.<br />

O typo das Monocotyledoneas f o r m o u tres classes,<br />

segundo os estames eram hypogynos, perigynos ou epigy-<br />

nos, denominadas respectivamente M o n o h y p o g i n i a , Mo-<br />

noperigynia, e M o n o e p i g y n i a .<br />

O typo das Dicotyledoneas foi primeiro dividido em


TAXINOMIA 161<br />

tres grupos s e c u n d á r i o s : D i c o t y l e d o n e a s apetalas, m o n o -<br />

petalas, e p o l y p e t a l a s . Depois, cada u m d'estes grupos<br />

foi dividido e m classes, segundo o m o d o d'inserção dos<br />

estames, a saber:<br />

as Dicotyledoneas apetalas e m tres classes: E p i s t a -<br />

m i n i a , P e r i s t a m i n i a e H y p o s t a m i n i a ;<br />

as Dicotyledoneas m o n o p e l a l a s e m quatro classes:<br />

HypoGorollía, Pericorollia, E p i c o r o l l i a - s y n a n t h e r i a e E p i -<br />

corollia-corysantheria;<br />

as Dicotyledoneas p o l y p e t a l a s e m tres classes: E p i -<br />

petalia, H y p o p e t a i i a e P e r i p e t a l i a .<br />

E m f i m , a ultima classe, chamada D i c l i i d a , eompre-<br />

hende todàs as plantas de flores unisexuadas.<br />

Divisão e m f a m í l i a s , etc. A divisão das classes e m<br />

famílias, _ d'estas e m g ê n e r o s , etc. repousa sobre o m e s m o<br />

principio da s u b o r d i n a ç ã o dos caracteres. Se, para a di­<br />

visão e m typos, se l a n ç o u m ã o dos caracteres tirados<br />

do e m b r y ã o , e, para a divisão e m classes, de caracteres<br />

da corolla e dos estames, para se f o r m a r e m as famílias,<br />

tomaram-se os que se referem á estructura do fructo, ao<br />

numero dos estames, á sua r e u n i ã o pelos filetes, etc.<br />

Caracteres menos importantes tirados da f ô r m a das<br />

flores, da inílorescencia, e t c , servem para a divisão das<br />

famílias e m g ê n e r o s ^ d'estes e m e s p é c i e s e ainda para a<br />

distineção entre variedades.


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BOTÂNICA<br />

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TAX1N0M1A<br />

101. C l a s s i f i c a ç õ e s m o d e r n a s . C l . de V a n T i e -<br />

g h e m . 0 m e t h o d o de Jussieu foi diversamente m o d i f i ­<br />

cado pelos b o t â n i c o s que se lhe seguiram; de Candolle,<br />

Richard, Brogniart, etc. O conhecimento mais perfeito<br />

dos vegetaes permittiu estabelecer grupos, e accentuar<br />

separações n ã o entrevistas no tempo de Jussieu. N ó s<br />

adoptamos n'este livro a classificação de V a n T h i e g h e m ,<br />

que é a seguinte :<br />

Divisão e m typos. Van T h i e g h e m divide o reino v e ­<br />

getal e m dois sub :reinos: p l a n t a s n ã o vasculares, ou s e m<br />

raizes e p l a n t a s vasculares ou c o m raizes.<br />

Cada u m d'estes sub-reinos é dividido e m dois typos.<br />

As plantas n ã o vasculares f o r m a m dois typos: as<br />

Thallophytas, o u plantas sem folhas; e as M u s c i n e a s , que<br />

já apresentam estes appendices.<br />

As plantas vasculares dividem-se e m dois typos, con­<br />

forme apresentam o u n ã o ílores: são as C r y p t o g a m i c a s<br />

vasculares e as P h a n e r o g a m i c a s .<br />

Divisão dos t y p o s e m classes — 1. As T h a l l o p h y t a s s ã o<br />

divididas e m duas classes, correspondendo á a u s ê n c i a o u<br />

presença, nas plantas que constiluem o typo, d'algum p i -<br />

gmento c ó r a d o . S ã o os F u n g o s , e m que ha a u s ê n c i a de<br />

chlorophylla; e as A l g a s , e m que existe u m pigmento<br />

córado.<br />

I I . As M u s c i n e a s dividem-se e m duas classes: H e -<br />

paticas e M u s g o s . Nas primeiras, os esporos resullanles<br />

da divisão do ovo ficam encerrados no archegonio alé a<br />

maiuração ; as segundas apreseniam pedunculos que sup-<br />

portam u m a c á p s u l a cheia d'esporos.<br />

I I I . As C r y p t o g a m i c a s vasculares dividem-se e m<br />

tres classes: F i l i c i n e a s , E q u i s e t i n e a s e L y c o p o d i n e a s .


m<br />

BOTÂNICA<br />

As Filicincas são caracterisadas por apresentarem<br />

folhas grandes, chamadas frondes, enroladas e m fôrma<br />

de baculo quando novas; as Equisetineas, por apresen­<br />

tarem grande numero de ramos verticillados: as Lyeopo-<br />

dineas por terem raizes e caules diehotomos.<br />

IV. Finalmente, as P h a n e r o g a m i c a s dividem-se em<br />

Gymnospermicas e Angiospermicas, conforme as semen­<br />

tes estão ou n ã o encerradas n'uma cavidade fechada. As<br />

G y m n o s p e r m i c a s constituem u m a sô classe: as Angios­<br />

permicas dividem-se e m duas classes: Monocotyledoneas<br />

e Dicotyledoneas.


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TAX1M0NIA<br />

P 2<br />

8<br />

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£ p<br />

a<br />

s o 5<br />


166<br />

R E S U M O<br />

90. Para distinguir as plantas é necessário dar-lhes nomes<br />

a distribuil-as em grupos. O conjuncto de regras para nomear<br />

scientiíicamente os vegetaes tem o nome de nomenclatura botâ­<br />

nica ; as regras seguirias na classificação constituem a taxinomia.<br />

91. Todo o ser vivo é um indicai ao.<br />

92. Chama-se variedade á reunião dMudividuos com cara­<br />

cteres communs; e raça á variedade que tem caracter de perma­<br />

nência.<br />

93. Espécie ó um grupo de seres idênticos nos caracteres<br />

fundamcntaes que se transmittem á posteridade.<br />

Excepcionalmente, duas espécies podem fecundar-se, ao que<br />

se chama lit/bridação, dando-se ao producto o nome de hybrido.<br />

91. A reunião de espécies similhantes chama-se gênero.<br />

Ainda excepcionalmente, pôde haver hybridos de gêneros.<br />

95. A reunião de gêneros similhantes é uma família; a<br />

reunião de famílias é uma ordem; a reunião cTordens é uma<br />

classe; a reunião de classes é um typo.<br />

96. O conjuncto de regras adoptadas para a designação dos<br />

vegetaes chama-se nomenclatura botânica. A adoptada e binaria.<br />

designando um termo o gênero e outro a espécie.<br />

97. Classificar é distribuir em grupos. As classificações po­<br />

dem ser naturaes ou methodos ; e artificiaes ou systemus.<br />

98. O syslema de Linneu baseia-se no numero, grande/a<br />

relativa, etc. dos estames Comprehende 2í classes: Monandria,<br />

Diandriu, Triundria, Tetrandin, Pentandria, Hccandria, Heptan-<br />

dria, Octandria, Enneandria, Decandria, Dodeeandria, Icosandria,<br />

Polyandria, Didgnamia, Tetrudynumia, Monadelphia, Biadelphia,<br />

Polyadetphia, Sgngenesiu, Gyuandriu, Monecia. Diecia, Poiggamia<br />

e Cryplogamiu.<br />

99. O sxsthema de Brotero basea-se no numero dos esta­<br />

mes férteis, eontamb-se pelas antheras. Comprehende 12 classes :<br />

Monantheria, Diantheria } Triantheria, Tclrantheria, Pentantheria.<br />

He.rantheria, Heptuntheriu, Octanlheria, Enneantheria, Decanthe-<br />

r m , Potguntheria e Cryptantheria.


100. O methòdo de Jussieu mira a aggrupar os vegetaes<br />

TAXINOMIA i 67<br />

•r'<br />

pelas suas manifestas analogias. Comprehende quinze classes :<br />

Acotyledonia, Monohypogynia, Monoperiyynia, Monoepgiyniu, Epis-<br />

taminia, Petístaminia, Hypostaminia. Hypocorollia, Pericorollia,<br />

Synanthrria, Corysantheria, Epipetalia, Hypopetaluu Peripetalia e<br />

Diclinia.<br />

101. A classificação de Van Tieghem está em harmonia com<br />

os mais recentes conhecimentos botânicos. Comprehende quatro<br />

typos: Thallophytas, Muscineas. Cryptogamicas vasculares e Pha­<br />

nerogamicas.<br />

As Thallophytas formam duas classes : Fungos e Algas*<br />

As Muscineas formam outras duas: Hepaticas e Musgos-<br />

As Cryptogamicas vasculares comprehendem as Filiei nius, as<br />

Equisetineas e as Lycopodineas.<br />

As Phanerogamicas dividem-se em Gymnospermicas e Angios­<br />

permicas. As primeiras formam uma só classe ; as segundas divi­<br />

dem-se èm Monocotyledoneas e Dicotyledoneas.


TitalBopliytas<br />

102. Caracteres geraes. As Thcdlophylas caracte-<br />

C A P I T U L O X<br />

I T Y P O<br />

risam-se pela ausência completa de vasos. 0 apparelho<br />

vegétativo é formado por u m a cellula só, ou por vá­<br />

rias ; mas, ainda n'esse caso, o parenchyma é quasi ho­<br />

m o g ê n e o , n ã o se dilTerenciando e m tecidos. Este appa­<br />

relho vegétativo tem o nome de thallo.<br />

A r e p r o d u c ç ã o faz-se por esporos e por ovos.<br />

Os esporos podem formar-se exteriormente ao corpo<br />

e chamam-se cxogenicos, ou interiormente e denomi­<br />

nam-se endogenkos. 0 sacco que os contem recebe, n^ste<br />

caso, o nome de esporangio.<br />

A l e m d'estes esporos que se podem chamar f u n d a -<br />

meutaes, ha outros accessorios que se f o r m a m e m con­<br />

dições determinadas, e só germinam e m meios espe-<br />

ciaes: são os conidios.<br />

t


Os ovoá ou oosporos formam-se pela reunião de dois<br />

THALLOPHYTAS 469<br />

germens que p o d e m ser similhantes o u differentes. N'este<br />

ultimo caso, o elemento masculino é o a n t h e r o z o i á e e o<br />

feminino a oosphera. A cellula e m que se f o r m a m os an-<br />

therozoides é u m a n t h e r i d i o e aquella e m que se f o r m a<br />

a oosphera é u m oogonio.<br />

As Thallophytas dividem-se em duas classes, ca-<br />

Fig. 127 — Cogumelo das iguarias.<br />

racterisadás pela p r e s e n ç a o u a u s ê n c i a de chlorophylla.<br />

As Thallophytas sem chlorophylla s ã o os F u n g o s ; as<br />

que são providas cTesta m a t é r i a corante chamam-se A l ­<br />

gas.


170<br />

103. l .<br />

a<br />

BOTÂNICA<br />

classe: F u n g o s . Os Fungos são Thallo­<br />

p h y t a s sem chlorophylla, sem raizes, sem caules, sem<br />

folhas, e cuja r e p r o d u c ç ã o se effectua geralmente por<br />

esporos.<br />

Se examinarmos u m dos mais conhecidos represen­<br />

tantes d'esta classe, o Cogumelo das iguarias (fig. 127),<br />

vemos que é formado por uma parte exterior ao sólo,<br />

Fig. 128 - Basidios com os<br />

esporos.<br />

em f á r m a de guarda-sol, a que<br />

se chama chapéu, supportado por<br />

u m cabo grosso, que tem o no­<br />

me de pé.<br />

O chapéu é por cima branco<br />

e liso, mas por baixo é cor de<br />

rosa, castanho ou negro, apre­<br />

sentando grande numero de pe­<br />

quenas l â m i n a s verticaes salien­<br />

tes, que irradiam do centro para<br />

os bordos, e são pregas {Puma<br />

espécie de membrana chamada"<br />

h y m c n i o . Examinadas essas lâmi­<br />

nas c o m u m vidro d'augmento,<br />

vê-se que o aspecto avelludado<br />

que t è m é devido a grande quan-<br />

tidade'de pequenas saliências, cha­<br />

madas basidios (fig. 128) algumas<br />

das quaes são coroadas por qua­<br />

tro pequenos esporos.<br />

Quando estes corpos se desprendem, germinam, mas<br />

n ã o dão logar a Cogumelos, como os que acabamos de<br />

indicar.<br />

0 esporo, desenvolvendo-se, dá logar a uma serie


THALLOPHYTAS<br />

de filamentos ramificados, e que se c h a m a m m y c e l i o<br />

(fig. 129). O mycelio mais tarde desenvolve á superfície<br />

os guarda-soes e m que f a l í a m o s e que constituem o a p -<br />

parelho esporifero.<br />

N e m todos os Fungos t è m a fôr­<br />

ma que indicamos, mas todos etles<br />

apresentam mycelio, c o n s t i t u í d o geral­<br />

mente por filamentos m u i t o t ê n u e s ,<br />

simples ou ramificados. Este mycelio<br />

insinua-se, para se nutrir, quer no<br />

sólo, quer e m certos ó r g ã o s dos vege­<br />

Fig. 129 — Mycelio.<br />

taes ou animaes, porquanto os Fungos, n ã o tendo chlo­<br />

rophylla, e sendo, portanto, incapazes de formar os<br />

hydrocarbonados, precisam encontrar estas substancias<br />

já formadas. Os filamentos do mycelio p o d e m reunir se<br />

n'um corpo duro chamado sceleroto, c o m o se d á por exem­<br />

plo na Cravagem de centeio, empregada e m medicina.<br />

104. E s p é c i e s p r i n c i p a e s . K espantoso o n u ­<br />

mero d'especies que encerra esta classe. A l g u m a s d'ellas<br />

são comestíveis, taes s ã o o C a p ã o dos pobres, a T u -<br />

bara, o Cogumelo das iguarias, etc. Outras, p o r é m , en­<br />

cerram venenos violentos; e infelizmente n ã o é fácil se-<br />

paral-as das que servem para a nossa a l i m e n t a ç ã o .<br />

0 Agarico do carvalho, o u Isca de couro, serve para<br />

a preparação da isca, etc.<br />

Pertencem t a m b é m aos Fungos os diíferentes Bolores<br />

que se f o r m a m no p ã o , nos l í q u i d o s assucarados, etc.;<br />

a Cravagem de centeio que, misturada c o m os alimentos,<br />

produz a gangrena das extremidades; difterentes f e r m e n -<br />

tos figurados que s ã o agentes de f e r m e n t a ç õ e s , e d'entre


172<br />

BOTÂNICA<br />

os quaes citaremos o Saccharomyces cerevisiae, ou leve­<br />

dura de cerveja (fig. 130) que determina a transforma­<br />

ção do assucar e m álcool; a flor do vinho, a do vina­<br />

gre, etc.<br />

105. 2 a<br />

Fig. 130 — Levedura da cerveja.<br />

classe: A l g a s . C a r a c t e r e s geraes. As<br />

A l g a s são Thallophytas, qtiasi sempre aquáticas, e provi­<br />

das de chlorophylla. O seu thallo<br />

affecta f ô r m a s muito variadas,<br />

ramifieando-se freqüentemente e<br />

constituindo outras vezes lâmi­<br />

nas delgadas e frágeis (fig. 131).<br />

Tomaremos, como exemplo,<br />

a Bodelha ou Carvalho marinho<br />

que o mar arremessa á praia e<br />

cobre as penedias e m todo o<br />

nosso littoral (fig. 132). A sua<br />

cor é verde-bronze carregado, e<br />

a sua forma ó a de lâminas acha-<br />

Fi g. isi - capea. tadas e recortadas. Sustenta-se na


THALLOPHYTAS<br />

agua # custa de cavidades cheias d'ar; o que fez dar á<br />

Bodelha o n o m e de F u ç o vesiculoso. A l é m d'estas dilata-<br />

ções, a planta que descrevemos apresenta outras cavi-<br />

dades que se abrem para o exterior por meio de poros<br />

Fig. 132 — Bodelha.<br />

guarnecidos de pellos. Estas cavidades, chamadas conce-<br />

pkteulos, encerram ó r g ã o s femininos o u masculinos. Os


174 BOTÂNICA<br />

primeiros (íig. 133) são oogomos, que encerram oosphe-<br />

4<br />

o_><br />

•<br />

Fig. 13.-* — Bodelha. Coneeptaculo feminino.<br />

Fig. 134 — Bodelha. Conceptaeulo masculino-<br />

ras, os segundos (fig. 134) são antheridios, e m que estão


contidos antherozoides que<br />

THALLO<br />

nadam por meio de celhas<br />

vibrateis e vão fecundar a<br />

oosphera.<br />

N e m todas as Algas s ã o<br />

similhantes na f ô r m a e no<br />

modo de r e p r o d u c ç ã o . Ha-as<br />

extremamente simples, for­<br />

mando massas gelatinosas,<br />

eomo os Nostocs (fig. 135).<br />

Os limos que v i v e m na agua<br />

Fig 135 — Nostoc.<br />

doce são formados apenas<br />

por tubos c o m septos que os<br />

dividem n ' u m certo n u m e ­<br />

ro de cavidades, n'algumas<br />

das quaes se desenvolvem<br />

os esporos, e n'outras" os<br />

an|herozoides (fig. 136). A l ­<br />

gumas d'ellas apresentam<br />

uma f ô r m a especial de* re­<br />

producção, por c o n j u g a ç ã o .<br />

Os seus tubos divididos<br />

unem-se dois a dois, esta-<br />

TAS J75<br />

Fig. 136 — Limo. Tubos divididos encerrando<br />

órgãos reproductores mas­<br />

culinos e femininos.


176<br />

BOTÂNICA<br />

belece-se c o m m u n i c a ç ã o fmtre elles nos pontos de con-<br />

tacto, e o c o n t e ú d o d'um dos segmentos de tubo vasa-se<br />

no outro, fundindo-se com o seu conteúdo, resultando<br />

da fusão a f o r m a ç ã o d'um ovo (fig. 137).<br />

106. Espécies principaes. Algumas Algas mari­<br />

nhas são úteis. Ricas e m matérias gelatinosas, algumas<br />

d'ellas são alimentares : assim a A l g a perlada serve para<br />

fazer u m a espécie de geleia. Outras, pela sua riqueza<br />

e m soda e iodo, servem para a p r e p a r a ç ã o d'estas subsr<br />

Fig. 137 — Algas conjugadas. Zignema e Spirogyra.<br />

tancias. Os Fucos são empregados e m toda a costa como<br />

adubos, e podem servir como alimento ao gado.<br />

0 chamado Musgo da Corsegaj} u m a reunião d'Al­<br />

gas vermifugas. 0 F . saccharinas que apparece nas nos­<br />

sas praias encerra u m principio assucarado, a m m -<br />

nite, etc.<br />

As Bactérias são espécies de algas que determinam<br />

plienomenos curiosissimos: umas fabricam substancias<br />

corantes, como a que dá a côr ao pus azul; outras pro­<br />

duzem luz; outras segregam fermentos solúveis-; outras


THALLOPHYTAS<br />

produzem pelo seu desenvolvimento no organismo do<br />

homem ou .dos animaes d o e n ç a s terríveis (tuberculose,<br />

carbnnculo, etc.)<br />

107. Lichens. Caracteres gera es. Os Lichens<br />

são, por muitos b o t â n i c o s , considerados c o m o associações<br />

d'Algas e Fungos. Observados no estado perfeito, são for-<br />

Fig. 138 — Pulmonaiia dos Carvalhos.<br />

177<br />

mados de crustas, placas o u m e m b r a n a s , fixas aos ro­<br />

chedos, ou aos troncos das arvores. As suas p o r ç õ e s l i ­<br />

vres podem ser mais o u menos ramificadas, ou recor­<br />

tadas, de m o d o que representam filamentos arborescen-<br />

tes. T è m côr cinzenta, amareila ou anegrada. A sua<br />

consistência é ^ecca e raras vezes molle e carnosa. A<br />

massa dos seus ó r g ã o s vegetativos chama-se íhallo, e é<br />

12


178 BOTÂNICA<br />

unicamente cellulosa, mas o tecido cortical é mais denso,<br />

ao passo que o interior, chamado h y p h a , é filamentoso<br />

e molle. E' entremeado de glóbulos ordinariamente nu­<br />

merosos, muitas vezes esverdeados, que se chamam go-<br />

nidios, e por alguns botânicos são considerados como<br />

algas unicellulares.<br />

Os órgãos de fructiíicação são e m forma de taças<br />

escavadas, de contorno f r e q ü e n t e m e n t e circular, e rece­<br />

beram o nome de apothecias. A sua concavidade é tape­<br />

tada por u m hymenio que supporta cellulas (ascas) em<br />

cujo interior se desenvolvem esporos. Entre as ascas<br />

acham-se filamentos estéreis, ou paraphgses. Os esporos,<br />

depois de saírem das ascas, germinam e formam u m<br />

prothallo.<br />

108. Espécies principaes. A Pulmonar ia dos<br />

Carvalhos (fig. Iá8) e o chamado impropriamente Musgo<br />

islandico t è m applicações m é d i c a s , como calmantes. As<br />

Rocellas fornecem matérias corantes e nomeadamente a<br />

urzella. Nas regiões polares, crescem lichens que os ani­<br />

maes d'essas regiões aproveitam para a sua alimentação.<br />

I0°2. As Thallophytm earaclerisam-se pela ausência de va­<br />

R E S U M O<br />

sos. O apparelho vegétativo ê formado por uma ou varias cellu­<br />

las ; mas, mesmo ifesle caso, o parenchyma é quasi homogêneo.<br />

A reproducção faz-se por esporos e ovos. Dividem-se em Fungos e<br />

Algas.<br />

103. Os Fungos sào plantas sem chlorophylla, sem raizes,<br />

sem caules, sem folhas e cuja reproducção se eflectua por espo-


THALLOPHYTAS<br />

ros. Estes geralmente sào supporlados pelos basidios. O esporo<br />

desenvolvendo-se íopna o mycelio.<br />

104. Alguns Fungos são comestíveis; outros encerram ve­<br />

nenos violentos. O Agarico serve para a preparação da isca. Per­<br />

tencem também aos Fungos os dilterentes Bolores, a Cr ar agem de<br />

centeio e alguns fermentos figurados.<br />

105. As Algas são Thallophytas quasi sempre aquáticas e<br />

providas de chlorophylla. A reproducção etlectua-se pela acção<br />

dos antherozoides sobre as oospheras; algumas, porém, repro-<br />

duzem-se por conjugação.<br />

106. Algumas Algas são ricas em matérias gelatinosas, e<br />

alimentares. Os Fucos são empregados como adubo e para a ali­<br />

mentação dos animaes. As Bactérias produzem luz, matérias co­<br />

rantes etc, ou determinam pelo seu desenvolvimento doenças<br />

terríveis.<br />

107. Os Lichens são associações d^Algas e Fungos í) seu<br />

thallo é entremeado de glóbulos ^sverdeados, chamados gonidios.<br />

Os órgãos de fructiíicação tem a forma de taças, chamadas apo­<br />

thecias.<br />

108. Alguns Lichens são empregados na medicina. Outros<br />

dão matérias corantes appreciadas. Nos pólos, alguns servem<br />

para a alimentação dos animaes.


II TYPO<br />

Muscineas<br />

109. Caracteres geraes. 0 apparelho vegétativo<br />

C A P I T U L O X I<br />

das Muscineas acha-se diferenciado e m caule e folhas,<br />

excepto 11'algumas f ô r m a s inferiores.<br />

A r e p r o d u c ç ã o é sexual e asexual.<br />

A r e p r o d u c ç ã o asexual elíectua-sc por meio de pro-<br />

pagulos, corpo* achatados e de contornos arredondados<br />

que se f o r m a m n'urna espécie de cestas que se desenvol-<br />

v e m á superfície do thallo.<br />

A geração sexual efíectua-se por meio (Yantheridios<br />

e oogonios, mas estes o r g à o s apresentam disposições es-<br />

peciaes.<br />

0 antheridio é uma espécie de sacco ovoide dilatado<br />

e m forma de m a ç a , cuja parte interior 6 formada pelas<br />

cellulas m à e s dos anlherozoides.<br />

0 oogonio toma o nome de urc/iegonio e tem a forma


d'uma garrafa de gargalo allongado o ordinariamente<br />

MUSCINEAS | 8 |<br />

torcido. O bojo da garrafa, ou venlre, encerra a oos­<br />

phera.<br />

Depois da f e c u n d a ç ã o , forma-se u m e m b r y ã o espo-<br />

rifero o u esporogonio. Postos os esporos e m liberdade,<br />

por dehiscencia d'estc ó r g ã o , g e r m i n a m , formando u m<br />

-filamento chlorophyUiano c h a m a d o prol on em a. K nas ra­<br />

mificações d'este p r o l o n e m n que apparecem ao cabo d ' u m<br />

certo tempo gomos que se desenvolvem formando caule<br />

c folhas.<br />

110. 3. a<br />

classe: Hepaticas. Caracteres gera es.<br />

Tomaremos c o m o exemplo a H e p a l i c a d a s fontes, que<br />

cresce nos logarcs h u m i d o s . Apresenta-se sol) a f ô r m a<br />

de placas membranosas verdes, recortadas, d'uma estru­<br />

ctura simplicissima.<br />

A superfície do thallo v è e m - s e ó r g ã o s reproduetores<br />

asexuados c sexuados. Os primeiros, chamados concepta-<br />

culos, acham-se situados a certa distancia des bordos<br />

do thallo. N o fundo de cada conccptaculo encontra-se<br />

u m certo n u m e r o de pequenas l â m i n a s pluricellulares,<br />

chamadas p r o p a gaios. Quando chegam a u m certo des­<br />

envolvimento, destacam-se do conceptaculo e c á e m no<br />

solo h u m i d o , onde p r o d u z e m u m thallo similhante ao<br />

primitivo.<br />

Os ó r g ã o s reproduetores sexuados .são representados<br />

por ramos d ' u m centimetro, que nascem á beira do<br />

( thallo. Estes ramos, que t è m o n o m e de reccpluailos,<br />

são de "duas e s p é c i e s : uns t è m os ó r g ã o s masculinos ou<br />

antKendios, e os outros os ó r g ã o s femininos ou arche-<br />

gonios. Uns e outros s ã o formados d ' u m pedunculo cy-


m<br />

BOTÂNICA<br />

lindrico, terminado, por u m prato que supportâ os órgãos<br />

reproduetores.<br />

Os receptaeulos masculinos (íig. \ 3 9 ) tem a forma<br />

d'um disco lenticular, c m cuja espessura estão os aiithe-<br />

ridios, contendo os antherozoides.<br />

Os receptaeulos femininos (íig. 140) t è m u m prato<br />

o u chapéu profundamente recortado e m oito a dez lobu-<br />

los differentes, em que se f o r m a m os órgãos femininos<br />

ou archegonios. Depois de fecundada, a cellula feminina<br />

Fig. 139 — Hepatica das fontes. Fig. 140 Hepatica das fontes<br />

Órgãos masculinos Órgãos femininos.<br />

do archegonio ou oosphera desenvolve-se n'um embryão<br />

esporiíero ou esporogonio que fica incluído no archegonio<br />

até á maturação, dos esporos. E este ultimo caracter que<br />

distingue as Hepatieas dos Musgos.<br />

A Hepatica das fontes foi e m tempo empregada como<br />

diurelico, e para combater as d o e n ç a s do fígado.<br />

111. 4. a<br />

classe: Musgos. Caracteres gemes.<br />

Tomemos como exemplo o Polgtricho ou A vença d o u r o ,<br />

musgo extremamente c o m m u m .


MUSCINEAS<br />

1 m<br />

Os seus caules delgados e m u i t o numerosos (íig. 141)<br />

são vestidos de pequenas folhas alternas, de o r g a n i s a ç ã o<br />

Fig. 141 —Avenca cVouro. Pés masculinos e femininos.<br />

tào delicada, que atravez d'ellas se vè a luz. Durante al-<br />

>. guns meze's a planta n ã o apresenta mais nada, mas n ' u m


1$4 BOTÂNICA<br />

momento determinado, vèem-se if alguns pés de Polytrn<br />

cho longas sedas rígidas terminados por saceos verdes<br />

chamados urnas ou cápsulas, cuja tampa ou parte su­<br />

perior se chama operculo (fig. 141, 2, 3, 4). A urna é<br />

cpiasi sempre coberta por uma espécie de barrete cha­<br />

mado coifa. Dentro da urna estão uns saccos (esporan-<br />

gios) contendo os esporogonios.<br />

Outros pés de Polytricho n ã o tem urnas: formam,<br />

com as folhas, umas pequenas rosetas, q u ê depois v ê m<br />

a ciar u'uma espécie de cestas, contendo saccos que são<br />

os antheridios d'onde mais tarde se escapam os anthe-<br />

rozoides fecundantes (íig. 141). Ha portanto pés mascu­<br />

linos e femininos. Os Musgos são plantas dioicas.<br />

0 que diííerencia os Musgos das tlepaticas é que os<br />

esporogonios cedo abandonam o órgão e m que se for­<br />

maram, ao contrario do que suecede n'aquellas plantas.<br />

Os Musgos tèm poucas applicações. Cobrem a terra,<br />

conservando-lhe a verdura, servem para formai\camas<br />

dos gados e acondicionar objectos frágeis. Algumas es­<br />

pécies aquáticas decompondo-se f o r m a m a t u r f a . (Geolo­<br />

gia, 69).<br />

R E S U M O<br />

109. í) apparelho vegétativo das Muscineas acha-se dilfe-<br />

reneiado em caule e folhas. A reproducção é sexual e asexual.<br />

Esta faz-se por propagulos; aquella por meio de anlheridios e oogo-<br />

nios.<br />

Pela fecundação torma-se um embryão esporifero, o esporo-<br />

gonio ; libertos os esporos, germinam, formando, o protonenm.<br />

As Muscineas comprehendem as Hepalicas e os Musgos.<br />

\ 10. Nas Hepaticas, a reproducção asexual faz-se por meio


MUSCINEAS 185<br />

de propagulos, encerrados em conceptaculos. A reproducção se­<br />

xual effectua-se por meio de receptaeulos, uns dos quaes tem os<br />

órgãos masculinos e outros os femininos. A cellula feminina de­<br />

pois de fecundada fica encerrada no archegonio até á maturação<br />

dos esporos.<br />

111. Nos Musgos, os esporogonios estão encerrados em ar*<br />

nas ou cápsulas cobertas por coifa*. Os anlheridios formam uma<br />

espécie de cestas. Os esporogonios cedo abandonam o órgão em<br />

que se formam.


Cryptogamicas vasculares<br />

112. Caracteres gcraes. As Cryptogamicas vas­<br />

C A P I T U L O X I I<br />

I I [ T Y P O<br />

culares distinguem-se dos outros typos até agora estu­<br />

dados por apresentarem uni apparelho vegétativo em que<br />

se dislingue caule, folhas e raizes. A existência de raiz<br />

arrasta comsigo a d'um systhema libero-lenhoso, e por­<br />

tanto a presença de vasos.<br />

O esporo das Cryptogamicas vasculares produz sem­<br />

pre uma espécie de corpo achatado, parecido com um<br />

thallo, e que se chama prol índio. Veste corpo desenvol­<br />

vem-se os orgàos reproduetores, antheridios e arehego-<br />

nios. iValgumas d'estas plantas, estas duas espécies ^ór­<br />

gãos encontram-se no mesmo prothallo, mas ifoutras os<br />

dois sexos estão e m prolhallos diversos. A estructura do<br />

antheridio varia com os difterentes grupos. O archegonio<br />

é bastante símilhante ao das Muscineas.<br />

As Cryptogamicas vasculares dividem-se em tres<br />

classes: Filieincas, L y c o p o d i n e â s e Equisetineas, cara-<br />

eterisadas, a l é m de particularidades no modo de repro-


C RYPT0GA MIC AS V ASC ULAUES<br />

ducção: por apresentarem as primeiras, grandes folhas<br />

com nervuras abundantes; as segundas por conterem<br />

geralmente ramos verticillados; e as ultimas por terem<br />

as plantas (jue a c o m p õ e m raizes e caules forquilliados.<br />

Fig. 142 - Feto macho- A. Planta inteira — B Fronde — C. Farte d'esta arapliada,<br />

com dois soros - B. Esporangio — F. O mesmo abrindo-se — G-<br />

Prothallo amplificado — G' Prothallo - H. Porção mais amplificada do<br />

prothallo, mostrando os archegonios e antbcridios — l. Antheridio.<br />

W S . 5. a<br />

J87<br />

classe F i l i c i n c a s . Os Fetos sào plantas<br />

providas de caule c raizes. Nas que se encontram nos<br />

nossos climas, e o Feio m a c h o (fig.. H i ) p ô d e servir-nos


188<br />

BOTA MCA<br />

de typo de referencia, o caule é s u b t e r r â n e o : é ü m rhi­<br />

zoma. Tem raizes delgadas que se enterram no solo, e<br />

grande numero de frondes. Chamam-se frondes as folhas<br />

d* estes vegetaes (pie de ordinário c o n t é m e m determina­<br />

das épocas os órgãos de r e p r o d u c ç ã o asexuada. Nos pri­<br />

meiros tempos da existência, apparecem ordinariamente<br />

enroladas em forma de baculo.<br />

A posição dos órgãos reproduetores é bastante va­<br />

riável nos Fetos. Xo Feto macho apparecem em grupos,<br />

chamados soros, na face interior das frondes (fig. 142, C).<br />

Estes soros estão cobertos por uma lamina, o induzio.<br />

Cada soro comprehende vários saccos ou esporangios que<br />

se abrem na m a t u r a ç ã o pela acção d'um pequeno rebordo<br />

elástico (fig. 142, E). Saem então os esporos que,-pela<br />

g e r m i n a ç ã o , produzem u m a pequena lamina verde que<br />

se chama prothallo e em que se desenvolvem os órgãos<br />

da reproducção sexuada que são anlheridios e arckego-<br />

nios (fig. K 2 , d, G \ II). Nos anlheridios, estão os an-<br />

therozoides, munidos de colhas vibrateis, que penetram no<br />

archegonio para lhe fecundarem o conlheudo (fig. 142,1).<br />

Assim se f o r m a m os ovos que, pelo seu desenvolvi­<br />

mento dão logar a frondes similhantes ás do Feto adulto.<br />

m e n s õ e s .<br />

Os Fetos, nos paizes querpes, attingem grandes di­<br />

114. Espécies prineipaes. Alguns Fetos tèm uti­<br />

lidade. O Velo macho é empregado para matar a bicha<br />

solitária; a Aeenca utilisa-sc para o fabrico de xaropes<br />

peitoraes. Outras espécies que tiveram applicações mé­<br />

dicas estão hoje abandonadas. Muitas cultivam-se come<br />

plantas ornameutaes.


CRYPTOGAMICAS VASCULARES 180<br />

Os Fetos fizeram parte integrante da v e g e t a ç ã o dos<br />

primeiros p e r í o d o s g e o l ó ­<br />

gicos e nomeadamente do<br />

permo-carbonico. Nas suas<br />

camadas encontram-se ves­<br />

tígios numerosos de S p h e -<br />

nopleris, Pecopteris (fig.<br />

143) e Névropteris.<br />

115. 6. a<br />

Classe. Kqili- Fig. 143 - Pecopteris.<br />

setineas. Tomemos como typo de descripeíio a Camíünha (E,<br />

Fig. Ui — Cavallinha. Germinação e apparecimento das primeiras folhas.<br />

jluciatüe L) que entre nós se encontra nos lugares li úmidos,<br />

desde o fim do inverno (íig. 144;.<br />

%


190<br />

BOTÂNICA<br />

Fig. 145 - Cavallinha. A. Planta inteira — B. Espiga - CG. Uma das suas<br />

escamas vista por cima e por baixo - D. Esporangio — E. Esporo cercado<br />

pelos seus elasterios— F. O mesmo com os elasterios abertos.


GKYPT0UAM1GAS VASCULARES 191<br />

Pela germinação dos esporos (Festa planta, fórmam-se pro-<br />

Ihallos masculinos e femininos.<br />

O prothallo masculino tem grandes antheridios que deixam<br />

sair numerosas vesiculas contendo cada uma o seu anlherozoide<br />

volumoso, formado por duas ou tres voltas despira.<br />

O prothallo feminino tem archegonios em que se distingue<br />

um collo e uma cavidade que contém a oosphera. Esta, em vir­<br />

tude da acção dos antherozoides que penetram no archegonio,<br />

transforma-se n'um oosporo.<br />

O oosporo fôrma primeiro o embryão que desenvolvendo-se<br />

dá uma cavallinha. Mais tarde, o caule c formado por artículos<br />

ocos prolongados para cima por uma bainha foliacea, de dentes<br />

verticillados, em numero variável (iig. 115-A). Cada eutre-nó é<br />

formado por um tubo central, e por um invólucro exterior cons­<br />

tituído por tubos numerosos, e cannelado á superfície. Do nó<br />

nascem muitas vezes ramos verticillados similhantes ao caule, e<br />

ífestes ramos ou em ramos especiaes apparecem os órgãos da<br />

reproducção asexuada. Formam espigas (fig. lío-B) cujo eixo tem<br />

uma espécie de cravos (Íig. U5-CG), por baixo da cabeça dos<br />

quaes se vêem saccos que são esporangios (fig. 145-D). bestes<br />

saccos estão encerrados os esporos que sào notáveis pelos movi­<br />

mentos bruscos que apresentam e que<br />

são devidos a filamentos elásticos ou<br />

elasterios que os envolvem (tig. 145-EF).<br />

N"algumas Equisetineas pôde o mesmo<br />

prothallo conter órgãos masculinos e<br />

femininos.<br />

116. Espécies principaes Os<br />

Equisétos actuaes têm poucas applica-<br />

ções; apenas as paredes duras e incrus­<br />

tadas de silica dos seus caules os fazem<br />

procurar para polir a madeira eos me-<br />

taes.<br />

Nos períodos geológicos, os Equi­<br />

Fig. 146 " Annularia.<br />

sétos desempenharam um papel muito mais importante do que<br />

hoje têm. Esta classe era então representada por arvores, ás


192 BOTAM CA<br />

vezes muito grandes, cujos vestígios se encontram em especial<br />

nas rochas do systhema permo-carbonico. Taes eram por exem­<br />

plo as Annalarias (fig. 146) e as Calamites (fig. 147).<br />

117. 7. a<br />

classe : Lyeopodineas. As Lyco-<br />

podineas sào plantas que tèm prothallo e apre­<br />

sentam, ora uma, ora duas espécies d'espo-<br />

ros: os pequenos ou vücrosporos e os grandes<br />

ou macrosporos. Ordinariamente são de peque­<br />

nas dimensões, e tèm ramos cobertos de folhas<br />

Fig. 147 - caiamites p e ( j u e i i a S i alternas, iuibricadas, além d'um<br />

rhizoma commum<br />

Fig. 148 = SelaKiuella.<br />

Nas Selaginellas, (fig. 148) pequenas L\copodineas de folhas<br />

imhricadas e de compridas raizes, observam-se nas extremidades


CRYPTOGAMICAS VASCULARES 493<br />

dos ramos férteis da planta normal espigas (fig. 140' na axilla de<br />

cujas escamas se vêem saccos de duas grandezas: uns maiores<br />

(macrosporangios) contém os macrosporos, e outros mais pequenos<br />

(microsporangios) contém os microsporos (fig. 150-1 r>2).<br />

Os macrosporos germinando dão logar a um pequeno pro­<br />

thallo onde se desenvolvem apenas urchegonios ou órgãos fe­<br />

mininos.<br />

Os microsporos dáo origem a u m rudimento de prothallo em<br />

que formam.os unthcrozoides. Estes penetrando no archegonio<br />

Fig. li^-Lycopodio.<br />

Espiga cTesporangiosi<br />

— Lycopoãio. Esporangios.<br />

fecundam a oosphera que n elle existe, e dão logar á formação do<br />

embryão, o qual desenvolvendo-se produz uma planta egual á<br />

primitiva Selagiaetta.<br />

N'algumas Lycopadineas produz-se apenas uma única espé­<br />

cie de esporangios que germinando dão um prothallo com arche-<br />

gonios e antheridíos.<br />

•118. Espécies principaes. Os esporos d^ma espécie de<br />

Lycopodio, o Lyeopodiam clàvatnm formam um pó susceptiyel de


194<br />

BOTÂNICA<br />

se inílammar quando projectado sobre um corpo em ignição, pro­<br />

priedade que se aproveita para produzir nos theatros clarões e<br />

relâmpagos. O mesmo pó serve para polvilhar as escoriações da<br />

pelle das creanças, e para envolver as pillulas com o fim d'im-<br />

pedir a sua adhesão.<br />

As Lycopodineas tem geralmente pequenas dimensões, o<br />

que não succedia nos períodos geológicos. Encontram-se nas ro­<br />

chas (jue lhes correspondem e nomeadamente no permo-carbo-<br />

nico, vestígios de granàes Lycopodineas (Sigillaria e Lepidoden-<br />

dronj cujo caule chegava a adquirir 1 metro de diâmetro.<br />

R E S U M O<br />

112. As Cryptogamicas vasculares tem apparelho vegéta­<br />

tivo composto de caule, folhas e ramos. O esporo d'estas plan­<br />

tas produz um prothallo em que se desenvolvem antheridios e<br />

archegonios. IValguns casos, os órgãos sexuaes são supportados<br />

por prothallos dilferentes. Dividem-se em tres classes: Filiei-<br />

neas, Equisetineas e Lycopodineas.<br />

113. Os Fetos tèm caule e raizes. Os seus órgãos reprodu­<br />

etores estão na face, inferior das frondes, formando soros que fre­<br />

qüentemente se acham cobertos pelo induzia. Dos soros saem<br />

os esporos que pelo desenvolvimento dão logar ao prothallo em<br />

que se encontram antheridios e archegonios.<br />

114, Alguns Fetos tem applicaçòes úteis. O Feto macho ê<br />

tenifugo; a acenca é empregada para a fabricação de xaropes<br />

peitoraes. Os Fetos tiveram grande desemolvimenlo no systhema<br />

permo-earbonico.<br />

115. Nas Equisetineas, a germinação dos esporos dá geral­<br />

mente logar a prothallos masculinos e femininos/ Nos primeiros<br />

formam-se anlherozoides volumosos; nos segundos desenvol­<br />

vem-se archegonios aguçados. Pela acção do antherozoide sobre<br />

o archegonio formam-se oosporos que, desenvolvendo-se, dão lo­<br />

gar a um caule formado dVarliculos ocos, de cujos nós nascem<br />

ramos verticillados. ^algumas plantas d^sta classe o mesmo<br />

prothallo tem órgãos masculinos e femininos.


CRYPTOGAMICAS VASCULARES 195<br />

116. As paredes duras e incrustadas de silica dos caules<br />

dos Equisetineas serveiji para polir a madeira e os metaes.<br />

Nos períodos geológicos os Equisetos tiveram grande des­<br />

envolvimento (systhema permo-carbonico.<br />

117. Nos Lycopodineas encontram-se duas espécies de es­<br />

poros: microsporos e macrosporos. Todos são plantas de pequenas<br />

dimensões, de folhas alternas e imbricadas.<br />

118. Os esporos do L. clacatum formam u m pó que se in-<br />

llamma ao contacto d'uma chamma. E empregado nos theatros<br />

para imitar relâmpagos. O mesmo pó serve para polvilhar as es­<br />

coriações e para envolver as pillulas. Os Lycopodios tiveram no­<br />

táveis dimensões n'alguns períodos geológicos (permo-carbonico).


Phanerogamicas<br />

119. Caracteres geraes. As Phanerogamicas sao.<br />

C A P I T U L O X l l l<br />

I V T Y P O<br />

plantas que tem Ílores e cuja r e p r o d u c ç ã o se eflectua por<br />

meio cie sementes.<br />

Todas as Phanerogamicas apresentam raiz, caule e<br />

folhas, mas cliíferem principalmente pela c o n f o r m a ç ã o da<br />

ílor e do fructo.<br />

Assim, no lioivo e no Lyrio, o pistillo apresenta<br />

sempre na base u m sacco, o ovario, contendo no seu<br />

interior u m a ou muitas cavidades, dentro das quaes es­<br />

tão encerrados os óvulos, que depois se transformam<br />

e m sementes. A todas as plantas que, como estas, tèm<br />

u m ovario fechado, cabe o nome de A n g i o s p e r m i c a s , Para<br />

n'ellas se verem os óvulos, é preciso cortar ao comprido<br />

ou transversalmente o ovario.<br />

N ã o suecede «isto no Pinheiro. N'esta planta ha flo­<br />

res de duas espécies: umas contem apenas os eslames,<br />

outras os pistillos. Estas apresentam-se reunidas debaixo


PHANEROGAMICAS 197<br />

da f ô r m a de pequenas massas ovoides eollocadas na ex­<br />

tremidade dos ramos. S ã o as p i n h a s . A pinha é formada<br />

por grande n u m e r o de l â m i n a s delgadas ou escamas,<br />

cada uma das quaes apresenta dois ó v u l o s completamente<br />

a descoberto. Cada escama f ô r m a u m a llor; os ó v u l o s ,<br />

e mais tarde as sementes, n ã o estão encerrados n ' u m ova-<br />

»<br />

rio; são n u s .<br />

As plantas que, c o m o o Pinheiro, n ã o t è m ovario<br />

chamam-se G y m n o s p e r m i c a s . Basta tirar-lhes as escamas<br />

para se avistarem os ó v u l o s . Pertencem ás Gymnosper­<br />

micas os Gyprestes, os Abetos, os Teixos, etc.<br />

Ha c o n v e n i ê n c i a , ainda, e m estabelecer u m a divisão*<br />

nas Angiospermicas. Se examinarmos u m a semente de<br />

Feijoeiro,- vemos que o e m b r y ã o apresenta duas cotyle­<br />

dones; o m e s m o suecede no Goivo, na Batata, etc. Mas<br />

se estudarmos u m a semente de Trigo vemos que ella<br />

possue u m a só c o t y l e d ò n . D'ahi a distineção e m Dico­<br />

tyledoneas e M o n o c o t y l e d o n e a s , conforme o e m b r y ã o pos­<br />

sue duas o u u m a c o t y l e d ò n .<br />

0 Feijão, a Batata, o Carvalho são exemplos de D i ­<br />

cotyledoneas ; o Jacintho, o Trigo, a Cevada pertenceu*<br />

ás Monocotvledoneas.<br />

3.<br />

•c| -<br />

* Sementes nuas j Classe v m ~ Gymnospermicas.<br />

t ] f \ cotyledòn — Classe<br />

g I i ix': Monocotyle-<br />

* 1 Sementes contidas l i m , i í W l l p l , m i p a s V doneaa.<br />

* i iVum ovario Angiospei nucas < 2 c o L yi edones—Clas-<br />

6 I x<br />

p.| í iieas.<br />

> \<br />

/ sex: Dicotyledo


l u<br />

V I I I CLASSE<br />

C S y m n o s p c r m i c a s<br />

20. Coniferas. 0 P i n h e i r o . Se examinarmos ura<br />

Pinheiro na primavera, vemos que tem ílores masculi­<br />

nas e femininas. As primeiras f o r m a m u m a espécie de<br />

a m m t i l h o , e acham-se reduzidas<br />

aos estames cujas antheras tem<br />

duas cavidades.<br />

As llóres femininas (fig. 153)<br />

estão encerradas nas pinhas, for­<br />

madas por bracteas que apresen­<br />

tam na face superior lâminas mais<br />

delgadas que se chamam esca­<br />

m a s ; é sobre ellas que se encon­<br />

tram os óvulos.<br />

Fig. 153-pinha de üores de Ouando os eslames compleyistillo,<br />

com uma d'eásas . ,<br />

üores isolada, mostrando os taram o seu desenvolvimento,<br />

óvulos.<br />

rompem-se as antheras, e o pol­<br />

len, arrastado^pelo vento, é levado ás pinhas femininas;<br />

introduz-se entre as escamas e determina a sua transfor­<br />

m a ç ã o em sementes.<br />

E m seguida a este momento, as ílores d'estames<br />

m u r c h a m e c á c m , ao passo que as outras crescem e en-


GYMNOSPERMICAS<br />

190<br />

grossam. De delgadas que eram, as escamas tornam-se<br />

espessas e applicam-se de encontro u m a s ás outras, de<br />

modo que protegem as sementes (fig. 154).<br />

Quando estas chegam á m a t u r a ç ã o , as escamas da<br />

pinha affastam-se e as sementes c á e m no sólo.<br />

Examinando-se u m curte transversal do Pinheiro,<br />

vê-se u m a casca delgada que cerca u m lenho muito de­<br />

senvolvido, dividido e m cama­<br />

das concentricas.<br />

As folhas do Pinheiro s ã o<br />

geralmente largas, estreitas e pi­<br />

cantes, e t è m o n o m e de a g u ­<br />

lhas. Persistem durante o i n ­<br />

verno.<br />

0 Pinheiro apresenta canaes<br />

particulares e m que se amontoa<br />

uma m a t é r i a resinosa, , que ás<br />

vezes escorre pelas tendas da<br />

casca.<br />

121. Caracteres geraes<br />

das C o n i f e r a s . Se estudarmos<br />

comparativamente o Pinheiro, o<br />

Abeto, o Cypreste, e t c , encon­<br />

tramos entre estas plantas dif- ^<br />

ferentes pontos de contacto. Todas s ã o arvores de caule<br />

ramificado, de folhas simples e pequenas, muitas ve­<br />

zes em. f ô r m a s d'agulhas, tendo sementes c o m tegu-<br />

mento lenhoso o u m e m b r a n o s o e f r e q ü e n t e s vezes ala­<br />

das. O fructo p ô d e ser u m a pinha acuminada (Abieli-<br />

neas); ou globosa ( C u p r e s s i n e a s ) , ou ser u m a espécie


200<br />

BOTÂNICA<br />

de baga, formada pela reunião de escamas rarnosas<br />

(Taxineas).<br />

H l . E s p é c i e s principaes. A madeira das Coni­<br />

feras é muito empregada e m toda a ordem de constru-<br />

cções. O Pinheiro braço serve principalmente para a ex-<br />

fracçao do alcatrão e do pez e fornece a maior parte da<br />

therebentina empregada no commercio. O Pinheiro lari-<br />

cio dá a chamada therebentina de Veneza. O P i n a s bal-<br />

samen produz o balsamo de Canadá, empregado em me­<br />

dicina e na montagem das p r e p a r a ç õ e s microscópicas- O<br />

Zirnbro serve para a p r e p a r a ç ã o de bebidas aromaticas e<br />

tem emprego medico como diuretico e expectorante. A<br />

Sabina tem applicacòes medicinaes, etc, etc. São co­<br />

mestíveis as sementes d'algumas espécies, taes como o<br />

Pinheiro manso.<br />

Fig. 155 — Walchia.<br />

No período permo carbonico, as Coniferas, como em<br />

geral as Gymnospermicas, tiveram notável representação<br />

e m numero e d i m e n s õ e s . Sirvam de exemplo as W a l c h i a<br />

(íig. 155), representadas na flora fóssil do Bussaco.


GYAJNOSPERNICAS 201<br />

R E S U M O<br />

119. As Phanerogamicas sào planlas com Ilores, cuja repro­<br />

ducção se eltectua por sementes. Dividem-se em Angiospermicas<br />

e Gymnospermicas. As Angiospermicas dividem se em Monocotyle­<br />

doneas e Dicotyledoneas.<br />

120. O Pinheiro apresenta na primavera ílores masculinas<br />

e femininas. As flores femininas, que estão collocadas na axilla<br />

de escamas, desenvolvem-se uiteriormente, adquirindo as esca­<br />

mas grande dureza. As folhas do Pinheiro são muito estreitas e<br />

persistentes.<br />

121. As Coniferas são arvores de caule ramilicado, de fo­<br />

lhas simples e pequenas, muita vez em forma cPagulhas, tendo<br />

sementes com invólucro lenhoso ou memhranoso e ; freqüentes<br />

vezes alado. O fructo é geralmente uma pinha, mas pôde ser uma<br />

baga.<br />

122. A madeira das Coniferas é empregada nas eonstru-<br />

cçòes. D'algumas ^espécies de Pinheiro extrae-se o pez, a there­<br />

bentina, o alcatrão. O Pinas- balsamea produz o balsamo do Ca­<br />

nadá. O Zimbro serve para a preparação de bebidas aromalicas.<br />

Esta planta e a Sabina tèm applicações médicas. Comem-se as se­<br />

mentes do Pinheiro manso. As Coniferas tiveram grande desen-<br />

volvimenlo no systhema permo-carbonico.


IX CLASSE. MONOCOTYLEDONEAS<br />

12á. Caracteres geraes. As plantas (Testa classe<br />

C A P I T U L O X I V<br />

A n g i o s p e r m i c a s<br />

são caraeterisadas pela existência d'um e m b r y ã o d'uma<br />

só cotyledòn, pela estructura das raizes que são fibro-<br />

sas, sem formações secundarias, pela eslructura interna<br />

do caule, cujo tecido fundamental se n ã o divide em me­<br />

dulla e casca, estando os feixes fibro-vasculares disse­<br />

minados no tecido fundamental, pelas folhas de nervaçào<br />

não reticulada, e finalmente pelas ílores trimeras (62).<br />

Estudaremos, d'cntre as Monocotyledoneas, as L i -<br />

liaceas, as tridiaceas, as Juncaceas, as Gramineas, e as<br />

Palmeiras.<br />

124. Liliaeeas. As Açucenas (JJUnm) que deram o nome<br />

a esta família servirão também para estudar os seus caracteres.<br />

Se desenterrarmos um pé de Açucena, encontramos a uma certa


MONOCOTYLEDONEAS<br />

203<br />

profundidade u m bolbo, que apresenta na base uma coroa de<br />

raízes. Cortando-se • este bolbo longitudinalmente, vè-se uue a<br />

parte central é occupada pelo caule, muito curto, e de fôrma co<br />

nica. Aos lados do caule estão inseridas as escamas, mas estas só<br />

estão lixas na metade inferior do caule, a parte superior acha-se<br />

coberta por folhas pequeníssimas, e termina por um cacho uue<br />

representa as ílores rudimentares<br />

.;-\<br />

Vè-se que o bolbo da Açucena è uma planta inteira. Si «a-<br />

Fig. 156 —Flor cTAçucena.<br />

mos o seu desenvolvimento. Na primavera, veremos sair do<br />

meio das escamas superiores o vértice do caule que já estava<br />

formado no bolbo, e as folhas que o cobriam espandem-se. O<br />

caule cresce muito rapidamente e chega a ter um metro d'al-<br />

tura, as ílores desabrocharn, e, como sào terminaes, o caule ou<br />

os ramos deixam de crescer logo que se abrem as flores do vér­<br />

tice.<br />

Se examinarmos uma d'estas flores (íig. 156), vemos que é<br />

formada de seis lâminas brancas, dispostas era dois verticilios,


BOTÂNICA<br />

de tres cada um, e que constituem o único invólucro da llor ou<br />

perianlho.<br />

Tirando as ditíerentes perus do perianlho, encontramos íio<br />

interior seis estamos eguaes. Em Um, no centro da flor, encon­<br />

tra-se o pistillo, constituído por um ovario globuloso, por urn'es­<br />

tylete muito longo, e por um est\gma dilatado, dividido em Ires<br />

partes. Cortando o ovario transversalmente, vcem-se tres cavi­<br />

dades que encerram os óvulos. O fructo é uma cápsula de tres<br />

compartimentos. loculicida.<br />

IÍJ, Caracteres das Liliaeeas. Se compararmos as Açu-<br />

cenas com as Tulipas, com os Jacinthos^ com o Colchico, etc.<br />

|2fi. Espécies principaes. Sào nume­<br />

encontramos entre estas plantas analogias<br />

que levaram os botânicos a juntal-as na<br />

mesma família, que tem os caracteres se­<br />

guintes :<br />

Sào plantas cujo caule é um rhizoma ou<br />

um bolbo, e cujas Ilores petaloid.es apresen­<br />

tam seis divisões, seis estames, um ovario<br />

de ires cavidades e cujas sementes tem um<br />

albumen desenvolvido.<br />

rosíssimas as Liliaeeas e podem estabele-<br />

Fig. 157 —Fructo do eor-so diílereutes grupos uVsta família.<br />

Jacintho<br />

1<br />

-<br />

O primeiro grupo tem por typo a Açu­<br />

cena: encerra as Liliaeeas de fructo secco (lig. 157) e d*um só<br />

estvlote. Comprehende plantas ornamentaes, taes como ás Tu­<br />

lipas, os Jaeinlhos, as Coroas de rei ; pertencem-lhe as Lilia­<br />

eeas alimentares, do gênero Ali htm, taes .como o Alho, (Aíliitm<br />

salivam), a Cebolla (A, cepa) etc. cujos bolbos sào comestíveis<br />

por encerrarem grande quantidade d assucar misturado com sub­<br />

stancias aromalieas de sabor picante. Fazem parte egualmente<br />

(Feste grupo Liliaeeas medieinaes, conio as difterentes espécies<br />

d'Aloes, cujas folhas deixam sair, quando se cortam, um sueco<br />

amargo que, resinilicando-se, constitue o aloes dos pharmaceu-<br />

ticos.


Finalmente, outro grupo é consti­<br />

MONOCOTYLEDONEAS<br />

205<br />

Outro grupo é constituído pelos Col-<br />

chicos (fig. 158) que dilTerem das Lilia^<br />

ceas precedentes em possuírem tres es­<br />

tyletes. Estas plantas dão ílores cor de<br />

rosa ou de lilaz no outomno, appare-<br />

cendo as folhas e os fructos na primavera<br />

seguinte. O caule é um bolso escamoso,<br />

e é venenoso.<br />

Fig. 159-Ramo florido d'Espargo.<br />

tuído pelos Espargôs (fig. 150) que se dis­<br />

tinguem da Açucena e do Colchico pelos<br />

fructos que sào bagas e pelo estylete que<br />

é único. O Espargo tem um rhizoma que<br />

158-coichico officinai. desenvolve caules aéreos cujas folhas es-


200<br />

BOTÂNICA-<br />

tão reduzidas a pequenas escamas collocadas na base dos ramos.<br />

A parte comestível do Espargo é a extremidade do caule, ainda<br />

tenra e não desenvolvida.<br />

Pertencem também a este grupo plantas oruamentaes taes<br />

Fig. 160 - Flor do Lyrio cortada longitudinalmente.<br />

como o L\rio convalle, que também tem applieaçoes em medi­<br />

cina, o Sello de Salomão, etc.<br />

127. Família das Irhliaceas. O Lyrio. Se examinarmas<br />

um Lyrio (tig. IGO), vemos que apresenta um periantho de seis di­<br />

visões, tres das quaes estão erectas e tres recurvadas. Pelo côrle<br />

do periantho, vèem-se tres estames. No centro da ílor encontra-se


o pistillo cujo ovario tem tres cavi<br />

riantho. Os estygmas estão livres e<br />

formam tres lâminas bastante lar­<br />

gas, da mesma côr que as peças do<br />

periantho.<br />

O caule do Lyrio é um rhí-<br />

zhoma, em que se desenvolvem ra­<br />

mos animaes, com folhas em forma<br />

cPespada (ensiformes). Ficam collo­<br />

cadas alternativamente á direita e<br />

á esquerda dos rebentos aéreos:<br />

são, portanto, folhas dislicadas.<br />

Se examinarmos o Açafrão<br />

(lig. 161), encontramos" um bolbo<br />

solido formado pelo engrossamento<br />

do caule, mas as tlores apresentam<br />

a mesma disposição.<br />

128. Caracteres das Iridia-<br />

ceas. O exame comparativo do Ly­<br />

rio, do Açafrão, da Crista de gallo,<br />

etc, permitte estabelecer os se­<br />

guintes caracteres das Iridiaceas:<br />

MONOCOTYLEDONEAS 207<br />

São plantas cujailor têm u m<br />

periantho de seis divisões, tres es­<br />

tames e u m ovario inferior de tres<br />

cavidades.<br />

129. Espécies principaes.<br />

Quasi todas as Iridiaceas são plan­<br />

tas ornamentaes: taes são o Lyrio,<br />

a Espadana, a Jxia, etc.<br />

O Açafrão, de que entre nós<br />

se encontram duas espécies, é cul­<br />

tivado por causa da côr araarella<br />

que se extràe dos estygmas d'esta<br />

planta. O rhizoma do Lyrio, secco<br />

ig. 161 —Açafrão Planta inteira,<br />

cortada longitudinalmente.


208<br />

BOTÂNICA<br />

e pulverisado, tem um cheiro característico, algum tanto simi-<br />

Ihante ao da Violeta» e é empregado pelos perfumistas.<br />

130. Juncaceas. O Junco. 0<br />

131. Caracteres das Jun-<br />

Junco (íig. 162) é uma planta her~<br />

bacea que vive nos logares humi-<br />

dos, á beira dos ribeiros, ou nos<br />

pântanos.<br />

O Junco apresenta um caule<br />

subterrâneo ou rhizoma, um caule<br />

aéreo verde e muitas vezes folhas<br />

muito estreitas, invaginantes. As<br />

flores, muito pequenas e numero­<br />

sas, apparecem no verão; cada<br />

uma d'ellas compõe-se d'um pe­<br />

riantho de seis divisões verdes, ou<br />

escuras, envolvendo seis estames<br />

dispostos em dois verticilios. No<br />

centro encontra-se j) pistilLo, for­<br />

mado por um ovario globuloso de<br />

tres cavidades, terminado por tres<br />

estyletes allongados. O fructo é uma<br />

cápsula de tres cavidades.<br />

Os Juncos parecem-se pela<br />

constituição da llor e pela fôrma<br />

do fructo, com as Liliaeeas, de<br />

que se distinguem pelo perian­<br />

tho. <br />

cacéas. Os Juncos e as Luzulas, por<br />

apresentarem notáveis similhanças v<br />

Fig. 162-Junco. foram reunidas n^uma mesma fa­<br />

mília cujos caracteres são os seguintes: plantas vivazes de ílores<br />

pequenas, com um periantho verde ou castanho, de tres ou seis<br />

estames, e um ovario com uma ou tres cavidades, terminado por<br />

Ires estyletes.


MONOCOTYLEDONEAS 209<br />

As Juncaeeas são representadas pelos Juncos e pelas L u -<br />

zulas (Íig. 163). "<br />

132. Espécies principaes. Os Juncos são empregados<br />

para atilhos, colmados e para a fabricação de cestos, estei­<br />

ras, etc.<br />

133. Palmeiras.<br />

A p a l m e i r a l e q u e . As<br />

flores da Palmeira le­<br />

que t è m u m periantho<br />

de seis divisões, con­<br />

tendo seis estames, e,<br />

no centro, o pistillo de<br />

tres carpellos solda­<br />

dos; o ovario t e m tres<br />

cavidades. A p r e s e n t a<br />

portanto flores comple- Fig. íes-Fior da Luzuia.<br />

tas.<br />

^'outras Palmeiras, como, por exemplo, na Palmeira<br />

anã, as flores s ã o incompletas, tendo umas apenas os<br />

seis estames, e as outras o pistillo, mas sempre o pe­<br />

riantho apresenta seis divisões.<br />

As folhas das Palmeiras s à o formadas d*um l i m b o<br />

e d ' u m peciolo alongado. O l i m b o é ao principio in­<br />

teiro, mas crescendo lacera-se. O caule das Palmeiras<br />

é cylindrico e n ã o apresenta ramificações. \] u m cs-<br />

pique.<br />

134. Caracteres das Palmeiras. As plantas que<br />

acabamos d'estudar f o r m a m u m a familia — a das Palmei­<br />

ras, — cujos caracteres s ã o os seguintes: arvores o r d i -<br />

14


210<br />

BOTA MCA<br />

nariamenle de grande porte, de caule eyiindrico, não ra­<br />

mificado, guarnecido de folhas no cimo. As flores são<br />

verdes, muito pequenas, tendo uni periantho de seis di­<br />

visões, Ires, seis ou mais estames e u m ovario trilocu-<br />

lar, com tres eslyletes e tres estigmas.<br />

As Palmeiras habitam os paizes quentes, mas podem<br />

cultivar-se entre nós e e m geral no sul da Europa. No<br />

Algarve ha uma palmeira espontânea, a C h a m m r o p s Jiu-<br />

D I M s L. ou P a l m e i r a das vassouras.<br />

•135. Espécies principaes. Sua utilidade. As<br />

Palmeiras tem grande utilidade para os habitantes das<br />

regiões tropicaes. A madeira e empregada para os mes­<br />

mos usos que as dos nossos climas; as folhas servem<br />

para fabricar vassouras, esteiras, cestos e cordas. Os to­<br />

pos dos ramos (palmitos) são comestíveis, assim como<br />

os fructos e sementes. Taes são as tamaras, fructos da<br />

Pitam ix duri gli fera, e as nozes de Coco, fructo do Co­<br />

queiro (Coros irucifera)\<br />

Da medulla do S a g a s f a r i n i f e r a e\trae-se uma es­<br />

pécie do fecula, chamada sagn. Outras Palmeiras, taes<br />

como a A r e n g a sacchnrifera, fornecem, poi incisões no<br />

caule, u m liquido 1<br />

muito rico e m asswcar, que pode<br />

transformar-se em vinho e agua-ardente.<br />

Outras Palmeiras fornecem cera, (pie se desenvolve<br />

nas folhas, como a Arvore da Cera (Ceroxilon andicola)<br />

ou u m oleo, o oleo de Palma, fornecido pelo E l m s Gai-<br />

neensis. E m f i m , a semente da Phitelephas 6 tão dura<br />

que se emprega, com o nome de m a r f i m vegetal, para os<br />

mesmos usos que o m a r f i m ordinário.


}\0.\ O COT YLE 1)0 N E A S<br />

211<br />

136. G r a m i n e a s . O T r i g o . Se examinarmos u m a<br />

Pig. 164 — Espiga do Trigo.<br />

espiga


2 H BOTÂNICA<br />

mcllas (fig. 106). Ordinariamente, a glumella exterior é<br />

maior do que a ou ti a, terminando, n'algumas espécies<br />

de Trigo, por u m a aresta comprida f p r a g a a a j .<br />

No interior das glumeilas encontram-se tres estames<br />

(íig. 167), cujas anlheras tem u m tilete bastante com­<br />

prido. No centro acha-se o pistillo que é formado por<br />

u m ovario globuloso d'uma só cavidade, terminado por<br />

dois estygmas cobertos de pellos.<br />

As glumas e glumeilas são bracteas; o periantho é<br />

Fig. 166—Flor de Trigo isolada Fig. 167 — Flor de trigo sem<br />

e envolvida pelas glumeilas. gluinellas.<br />

representado por duas pequenas lâminas difficeis de ver<br />

e chamadas g l u m e l h d a s .<br />

Quando o pollen cáe sobre o e s l y g m a ^ q ovariô<br />

transfortna-se n u m fructo que, na m a t u r a ç ã o , enche<br />

todo o intervallo deixado enlre as glumeilas. Este fructo<br />

contem apenas uma semente. O (pie se chama u m grão<br />

de Trigo é o fructo completo.<br />

Cortando-se u m grão de Trigo ao comprido, (fig.<br />

168-169) vè-se a a m ê n d o a no interior dos invólucros do<br />

fructo.e da semente. Esjji é formada pelo e m b r y ã o e pelo<br />

albumen.


Quando o Trigo está maduro, separam-se os grãos<br />

MÒXOCOTYLEDOMÍAS áfrl<br />

dá espiga por meio de mangoaes ou machinas. É o que<br />

se chama bater o trigo.<br />

Os g r ã o s s ã o todavia acompanhados das glumeilas<br />

que se apartam por meio da peneira.<br />

O caule do Trigo é cylindrico, e apresenta de dis­<br />

tancia a distancia n ó s d'onde partem folhas invaginantes.<br />

Fig. 168-1G9 — Trigo. Fructo inteiro e cortado ao comprido.<br />

O íntervallo que fica entre os n ó s é oco. Esta espécie de<br />

caule pertence a todas as (Iramineas e tem o nome de<br />

colmo.<br />

• lo7. Caracteres das Gramineas. Comparando o<br />

Trigo, c o m o Centeio, c o m a Aveia, vemos que estas<br />

«i • ><br />

plantas possuem á m e s m a c o n f o r m a ç ã o , motivo porque<br />

foram reunidas í f u r n a família — a dos (rramineas — cujos<br />

caracteres se p o d e m reduzir aos seguintes:<br />

S ã o plantas de flores dispostas e m espigas ou e m<br />

cachos d'espigas, de periantho pouco visível. 0 caule é


Í 1 4 BOTAMCA<br />

aéreo, ordinariamente oco, e apresenta de distancia éín<br />

distancia nós, d'onde partem folhas invaginantes. A flor<br />

tem Ires estames e u m ovario simples. 0 fructo c uma<br />

cariopse.<br />

1;>8. Espécies principaes. Nenhuma família, bo­<br />

tânica tem tanta importância na alimentação do homem<br />

e dos animaes.<br />

Assim o Trigo, o Centeio, o Milho e o Arroz são<br />

cultivados quasi por toda a parte, e diariamente empre­<br />

gados para nosso sustento. A Cevada, em germinação,<br />

.serve para a preparação da cerveja. A Aveia, as Poas,<br />

as Feslucas, etc, são utilisadas como forragens. Com<br />

u m certo Azevem forma-se geralmente a relva dos jar­<br />

dins. A Catina d'Assucar, originaria da índia, fornece o<br />

assucar, a aguardente de eanna e o Rh u m . 0 Bambu,<br />

graminea arborescente das regiões equatoriaes, tem cau­<br />

les de mais de vinte metros d'altura, c o m que se fabri­<br />

c a m esteiras, cestas, etc. A Alfa ( S t i p a tenacisuma), além<br />

de servir para os mesmos fins, o empregada para o fa­<br />

brico do papel. A Grama serve para preparar uma tisana<br />

emolliente. Alguns Oramineas, taes como os Fenos, tèm<br />

Jim cheiro agradável.<br />

R E S U M O<br />

143. As McHücohjlrdoneas são plantas cujo embryão tem<br />

apenas uma cotvledon, cujas rai/es sào lihrosas, cujo caule.se<br />

nâo pode distinguir em casca e medulla, cujas Tolhas não sào re­<br />

ticuladas e iinalmcnle cujas Ilores sào trimeras.<br />

lií. A Açucena ó o t\po das Liliaeeas.


135. Os caracteres das Liliaeeas são os seguintes: são plan­<br />

MONOCOTYLEDONEAS 215'<br />

tas cujo caule é u m rhizoma ou u m bolbo, cujas Ilores polaloides<br />

apresentam seis divisões, seis estames. e um ovario de tres cavi­<br />

dades e cujas sementes tèm u m albumen desenvolvido.<br />

P2(>. Podem estabelecer-se diüerentes grupos n'esta famí­<br />

lia. 0 primeiro tem por typo a Açucena. e pertencem a elle plan­<br />

tas ornamentaes, como as Tulipas, os Jaeinthos e as Coroas de<br />

rei ; plantas alimentares como o Alho e a Ceholla; c plantas me-<br />

diçinaes, como o Alues. Outro grupo tem j)or typo os Colehicos<br />

que differem do grupo precedente, por terem tres estyletes. Fi­<br />

nalmente, outro grupo é formado pelos Espargos, cujos fructos<br />

são bagas e (|ue tem um estylete único. A este.grupo pertence o<br />

L>rio couvalle e o Sello de Salomão.<br />

I w<br />

27. O Lyrio pude ser considerado o typo das Iridiaceas.<br />

128. Os caracteres das Iridiaceas são os seguintes: sào<br />

plantas cuja flor tem u m periantho de seis divisões, tres esla­<br />

mes, e u m ovario inferior de tres cavidades.<br />

129. A maior parte das Iridiaceas sào ornamentaes: taes<br />

sào o Lyrio, a Espadana, etc. O Açafrão é cultivado pela cor ama-<br />

rella que se extrae dos estygmas. O rhizoma do Lyrio reduzido a<br />

pó é empregado pelos perfumistas.<br />

'Ceas.<br />

130. O Junco pode ser considerado como typo das Junca-<br />

131. As Juncaceas são plantas vivazes, de Ilores pequenas.<br />

com periantho verde ou castanho, de seis estames. com um o\a-<br />

rio cPuma ou tres cavidades, terminado por Ires estyletes.<br />

132. Os Juncos empregam-se para atilhos. colmados e para<br />

fabricar esteiras, cestos, etc.<br />

íeque.<br />

133. Consideramos como typo das Palmeiras a Palmeira<br />

134. As Palmeiras são arvores de grande porte, de caule<br />

c\lindrico, com folhas no cimo (espique). As Ilores são verdes,<br />

muito pequenas, tendo, um periantho de seis divisões, 3, (> ou<br />

mais estames, ovario trilocular. com tres estygmas. Sào originá­<br />

rias dos paizes quentes, mas pódem cultivar-se em todo o sul da<br />

Europa. No Algarve, cresce espontaneamente uma espécie.<br />

135. As Palmeiras têm grande utilidade. A madeira é em-


BOTA M C A<br />

pregada para eonslhicçòes: as tolhas para fabricar esteiras. Os<br />

lopos dos ramos, os fructos e as sementes d'algumas espécies são<br />

comestíveis. D'algumas tira-se assucar e fecula; doutras, cera e<br />

oleo de palma. A semente da Phitdephas é dura como o marfim.<br />

130. O Trigo é o typo das Gramineas.<br />

137. Os caracteres das Gramineas'sào os seguintes: suo<br />

plantas cujas Ílores se acham dispostas em espigas ou cachos<br />

d^spigas, de periantho pouco visível, de 3 eslames e ovario sim­<br />

ples, cujo caule é geralmente um colmo, cujas folhas são inva-<br />

ginan|es e cujo fructo é uma cariopse.<br />

138. Nenhuma família tem a importância que esla tem na<br />

alimenlaçào do homem. A Cevada, o Centeio, o Milho e o Arroz^<br />

sào cultivadas com esse fim. A Cevada em germinação serve para<br />

a fabricação da cerveja. A Cauna do Assucar fornece o assucar,<br />

a aguardente de canna e o rhum. Do Bambu fazem-se esteiras e<br />

cestos. A Grama tom emprego em medicina.


X CLASSE. DICOTYLEDONEAS<br />

139. Caracteres geraes. As plantas d'esta classe<br />

C A P I T U L O X V<br />

.1 n g i o s p e r m i c a s<br />

são earacterisadas pela existência d ' n m e m b r y ã o de duas<br />

cotyledones; pela o r g a n i s a ç ã o da raiz cujo cylindro cen­<br />

tral engrossa, f o r m a n d o novo lenho e novo liber; pela<br />

o r g a n i s a ç ã o interna do caule que é formado de casca,<br />

zona geradora e lenho de camadas concentricas; pelas<br />

folhas de nervuras anastomosadas; e pelas ílores que<br />

são pentameras o u tetrameras.<br />

As Dicotyledoneas dividem-se e m dois grupos: ! °<br />

as C à m o p e t a l a s ; l.° as Dialypetalas e Apetalas.<br />

Dicotyledoneas gamopelalas<br />

H O . Solanaceas. A B a t a t a . A llatata (Íig. 170),<br />

floresce no v e r ã o . Cada u m a das suas tlores c o m p õ e - s e<br />

d'um calix de cinco divisões, envolvendo u m a corolla ro­<br />

dada que apresenta o m e s m o n u m e r o de divisões. A co­<br />

rolla dá i n s e r ç ã o aos estames que são l a m b e m cinco. As


218 BOTÂNICA<br />

antheras (Testes estames estão juntas umas contra as<br />

outras, de modo que f o r m a m uma espécie de tubo que<br />

cerca o pistillo (íig. 171, B). A dehiscencia das antheras<br />

eíTectua-se pelo vértice (íig. 171, C). No eixo cio tubo<br />

Fig. 170 — Batata. Kaino florido.<br />

constituído pelos estames encontra-se o pistillo que tem<br />

a forma d'uma garrafa, cuja parte dilatada corresponde<br />

ao ovario.<br />

Eslc v duplo, encerra grande numero çTovulos, e<br />

V


DICOTYLEDONEAS 219<br />

transforma-se depois n ' u m a baga (üg. 1 7 1 , D, E) que<br />

c o n t é m numerosas sementes, cada u m a das quaes en­<br />

cerra u m e m b r y ã o recurvado (íig. 1 7 1 , F G).<br />

A Batata é u m a herva americana, introduzida na<br />

Europa, pouco tempo depois da descoberta da America.<br />

V i * 171 - Batata A. Flor — B A mesma cortada longitudinalmente — C.<br />

^ ' V i ^ l S d ^ - D: Fructo E. o mesmo cortado transversalmente<br />

— F. Semente—G- a mesma cortada longitudinalmente;<br />

K uma planta vivaz. A parte aérea é constituída por vá­<br />

rios ramos verdes, guarnecidos de folhas alternas e ter­<br />

minados por tlores dispostas e m f ô r m a de cimeira. A<br />

parte s u b t e r r â n e a é c o n s t i t u í d a , a l é m da raiz, por cau­<br />

les s u b t e r r â n e o s e m que se desenvolvem tuberculos, nos


220<br />

BOTÂNICA<br />

quaes existe grande quantidade de íeeula. Sào esses lu-><br />

berculos que constituem a parte comestível da Batata. ;<br />

Ao terminar o estio, murcha a planta. Só ficam os'<br />

tuberculos que podem passar o inverno no solo para se<br />

desenvolverem na primavera. Então, de cada u m dos<br />

olhos, nascem rebeníos, grelos, cada u m dos quaes é u m<br />

ramo. A Batata é u m dos vegetaes mais úteis ao homem.<br />

141. Caracteres dos Solanaceas. A llerva-moura,<br />

a Dulcamara, o Tomateiro apresentam notáveis similhan-<br />

ças com a Batata, no que respeita ã constituição daílòr,<br />

e ainda e m relação a outros caracteres. São todas plan­<br />

tas de folhas alternas, simples, sem estipulas. Nas flores,<br />

regalares, predomina o numero de cinco pecas. 0 ova­<br />

rio apresenta ordinariamente dois compartimentos com<br />

muitas sementes. O fructo é uma baga ou uma cápsula.<br />

142. Espécies principaes. As Solanaceas contém<br />

grande numero de plantas proveitosas.<br />

Algumas d'ellas s ã o alimentares: taes são, além da<br />

Batata, a Beringella, o Tomate, e o Pimento.<br />

Outras, m u i t o r m e u o s u s , tèm grande, emprego na<br />

medicina: taes são a Belladoua, o Meimcndro, a Figueira<br />

do inferno e o Tabaco. As folhas (festa planta, depois<br />

de.preparadas, constituem o ,tahaeo de f u m o , d'uso tão<br />

geueralisado. São egualmente usadas c o m fim therapeu-<br />

tico a Dulcamara e a llerva-moura que são menos tóxi­<br />

cas. A acção das Solanaceas venenosas dirige-se princi­<br />

palmente aos centros nervosos.<br />

Outras, finalmente, são cultivadas como plantas or­<br />

namentaes; taes são as Petunias.


DICOTYLEDONEAS 2 2 1<br />

U3. Rubiaceas. A Ruiva dos tintureiros. Cultiva-se tud-<br />

guns pontos do nosso<br />

paiz esta 1<br />

planta que<br />

aliás pouco diiíere tia<br />

Grania brava (íig. 172)<br />

que cresce esponta­<br />

neamente em quasi<br />

todos os lugares.<br />

As pequenas Ilo­<br />

res da Granza só po­<br />

dem examinar-se bem<br />

€om uma lente. A co­<br />

rolla apresenta quatro<br />

ou cinco divisões, mas<br />

T r<br />

destaca-se diurna só<br />

peça quando se arran­<br />

ca: é portanto gaino-<br />

pelala. Alternas com<br />

as suas divisões, es­<br />

tão outros-tantos pe­<br />

quenos estames que<br />

também se despren-<br />

_ dem com a corolla<br />

(íig. 173). Destacados,<br />

porém, corolla e esla­<br />

mes, não se observa<br />

o ovario; fica por baixo, e apenas o estylete. dividido em dois<br />

ramos terminados cada um por uma<br />

/ dilatação stygniatica, se vè no centro<br />

da.flor. A Ruiva dos tintureiros não<br />

tem calix a envolver a corolla.<br />

Cortando-se transversalmente<br />

o 0\ario, vè-se que é formado por<br />

dois comparlinientos, cada um dos<br />

quaes encerra um óvulo. 0 mesmo<br />

suecede ao fructo que suecede ao<br />

ovario. Quando maduro, é earnoso,<br />

Fig. 172 — Granza ou Bmva dos Tintureiros-<br />

P i<br />

*<br />

1<br />

] ^ t ^ Z ^<br />

u i v a


222 BOTÂNICA<br />

e apresenta duas divisões, contendo cada qual uma semente,<br />

a menos que uma d'essas divisões deixe de desenvolver-se. As<br />

sementes tèm um albumen duro o corneo, e um embryão<br />

grande.<br />

A Ruiva dos tintureiros e uma planta herbacea, cujo caule<br />

é prismático, e apresenta verticilios formados por seis folhas.<br />

1U. Caracteres das Rubiaeeas. O Amor do hortelào e a<br />

Raspa-lingua que cresce espontaneamente no nosso paiz e se<br />

emprega pai a promover, a coagulaeãodô leite apresentam grande<br />

similhança com as Granza*. Da comparação com estas plantas e<br />

ainda com outras, menos conhecidas mas não menos uleis, re­<br />

sulta o estabelecimento de caracteres communs.<br />

As Bubiaceas são plantas lierbaceas. arbustos ou-arvores, de<br />

folhas oppostas ou verlicilladâs. sendo no primeiro caso. acom­<br />

panhadas de estipulas. O calix, quando não adhereuie ao ovario.<br />

apresenta quatro ou cinco sepalas pequeníssimas; a corolla, re- v<br />

guiar, tem ordinariamente cinco pétalas ; é o mesmo o numero<br />

distamos; o ovario è sempre inferior, tendo, um estxlete e dois<br />

estygmas. O fructo, ordinariamente secco, pode ser carnoso.<br />

1 i-5. Espécies principaes. As Rubiaeeas dos nossos cli­<br />

mas são pouco importaiiles, a nao ser a Baica dos tintureiros que<br />

é cultivada, especialmente em Franca, porque da raiz se extrae<br />

uma substancia corante vermelha muito apreciada.<br />

Xao suecede o mesmo com as espécies exóticas, havendo<br />

tres que prestam grandes serviços ao homem: o Cafezeiro, a<br />

Quina e a Ipoeaeuauha,<br />

O Cafezeiro (fig. 17í) é um arbusto originário da Abyssinia.<br />

e cultivado em muitas outras regiões, de Ilores brancas, dispos­<br />

tas em cymeiras, com os caracteres das outras Rubiaeeas, e cujo<br />

fructo è uma drupa contendo duas pequenas sementes applica-<br />

das uma contra a outra pela sua face inlerna, que é achatada. K<br />

a semente que, depois de torrada o moída, serve para preparar<br />

a infusão agradibilissima chamada café, conhecida de todos.<br />

A Quina é a casca de vários arbustos ou arvores do gênero<br />

Cinchona. originários da America meridional (fig. 175). A Cm-<br />

i


DICOTYLEDONEAS<br />

Fig. 174 — Cafezeiro,


BOTÂNICA<br />

clionirCáhmirl a mais rica em qainina, é uma arvore, cuja aí-<br />

Fig. 175 — Çinchotui liarno Üorido.<br />

Ura pôde ser dupla da do homem, de folhas oblongas, de flores


DIGOTYLEDONEAS 225<br />

dispostas em eymeiras, acompanhadas de bracteas. A corolla, ga-<br />

mopetala,apresenta cinco divisões; os estames são t a m b é m cinco<br />

e açlia-m-*e inseridos no tubo da corolla. O estylete é do mesmo<br />

comprimento que este possue. O fructo é uma cápsula oval.<br />

Fig. 176 — Ipecacuanha.<br />

A Quina e o seu principal alcalóide, a qnimna, são medica­<br />

mentos preciosos no tratamento das febres. Tanto ella como o<br />

Cafezeiro são boje cultivados nas nossas possessões ultramarinas.<br />

A Ipecdcaanha (fig. 176) tem as tlores em capitulo, o calix


226 BOTÂNICA<br />

go mosepaJo, a corolla afunilada^ dividida superiormente em cinco<br />

lobulos. O fructo é uma drupa pouco carnosa, encerrando as se­<br />

mentes que se separam na maturação.<br />

en ergicas.<br />

A raiz rt-esta planta é dotada de propriedades vomitivas<br />

Ií6. Cucurbitaeeas. O Melão. O Melão é cultivado por<br />

causa do seu fructo carnoso.<br />

Fig. 177 — Melão.<br />

É uma planta cujo caule rasteja pelo solo ou trepa agar-<br />

rando-se por meio de gavinhas, e cujas folhas, muito grandes,<br />

estão, como o caule, cobertas de pellos rudes (íig. 177).


As ílores do Melão são lambem bastante grandes, e ha-as<br />

DICOTYLEDONEAS 2 2 7<br />

de ditas espécies: umas coulèm apenas os eslames e outras en­<br />

cerram apenas o pistillo. A corolla lauto (rumas como doutras.<br />

é formada de cinco pétalas soldadas na base.<br />

As ilores masculinas (fig. 178) contem tres eslames, um dos<br />

quaes é mais pequeno que os outros. Os dois primeiros tèm as<br />

antheras contornadas e alfectando a fôrma de dois SS encosta­<br />

dos ; o outro tem uma anthera cuja fôrma é d uni S simples.<br />

As tlores femininas (íig. 179) apresentam um ovario inferior,<br />

Fig. 178—Melão. Flor masculina, Fig. 179 — Melão. Flor feminina,<br />

cortada longitudinalmente. cortada longitudinalmente.<br />

d'um só compartimento, em que os óvulos estão dispostos em<br />

tres filas. O ovario apresenta superiormente um estylete curto<br />

que tem tres estygmas. ^<br />

Quando o pollen ê transportado pelos insectos ou pelo venlo^<br />

o ovario transfórma-se n'um fructo volumoso (peponidio), coria­<br />

ceo no exterior, carnoso no interior, e contendo grande numero-<br />

de sementes.


BOTÂNICA<br />

147. Caracteres geraes das Cacurbitaceas. A A bobeia,<br />

o Pepino, a Coloqumtida, cultivada nos jardins botânicos, a Norça<br />

branca oa Bryonia, que cresce espontaneamente, tèm caracteres<br />

muito similhantes: por isso formata uma mesma família, a das<br />

Cacurbitaceas. J(<br />

Sào todas plantas herbaceas, cujo caule ora se estende pelo<br />

solo. ora se prende por meio de gavinhas, cujas folhas e caule<br />

são cobertas de pellos ásperos, tendo ordinariamente o$ estâmes<br />

Fig. 180 — Melão.<br />

m o pistillo em Ilores separadas. Os estames tem as antheras"coi<br />

tornadas em fôrma de S. O fructo é quasi sempre um peponidi<br />

(fig. 180), apresentando uma cavidade central em que as semei<br />

tes, muito numerosas, estão prezas por meio de filamentos.<br />

14-8. Espécies prineipaes. O homem emprega na sua %\<br />

mentação algumas espécies de Cacurbitaceas: taes são a Afy<br />

hora, o Pepino, o Melão e a Melancia.


Outras espécies tèm applicaeòes médicas. Assim a Coloquin-<br />

DICOTYLEDONEAS 229<br />

tida tem um fructo cuja polpa é muito amarga e purgativa; o<br />

• Pepino de S. Gregorio, que cresce espontaneamente na Beira e<br />

na Estremadura, serve paia a preparação d'um purgante enér­<br />

gico: a Norça branca ou Bryonia, t a m b é m espécie indígena, gosa<br />

de propriedades análogas.<br />

v Finalmente, a Cabaça, que t a m b é m é comestível, serve para<br />

fazer reservatórios em que se guarda o vinho.<br />

Fig. 181 — Raiz de Cenoura brava.<br />

D f e o t y l e d o n e a t i p o l y p e t a l a s<br />

149. Ümbelliferas. A Cenoura. A Cenoura (íig. 181), qu< -<br />

é cultivada por causa da sua raiz amarei Ia ou avermelhada, ali­<br />

mentar, encontra-se t a m b é m espontaneamente, tendo então o<br />

nome de Cenoura brava. Floresce no estio.


230<br />

BOTA MCA<br />

As suas tlores apresentam bastante simühança com as da<br />

Ruiva dos tintureiros: como cilas, tèm um ovario inferior, de<br />

dois compartimentos, um óvulo em cada divisão, cinco pétalas e<br />

cinco estames.<br />

Fig. 182 — Flor de Cenoura (ampliada).<br />

Mas ha difTerenças: o calix. comquanto muito curto, tem<br />

cinco pequenas peças que cercam a parte superior do ovario: e<br />

as cinco pétalas, em vez distarem reunidas n'uma só peça, estào<br />

Fig. 183 — Cenoura. Flor (ampliada) cortada longitudinalmente.<br />

livres, sendo todas eguaes ifalgumas Ilores e deseguaes n outras.<br />

Ha, portanto, Ilores de cenoura de corolla polgpetala regular e<br />

outras de corolla irregular (Íig. 182 e 183).


DICOTYLEDONEAS 231<br />

Os cinco estames sào alternos com as pétalas e iuscrem-se<br />

nos intervallos que estas deixam entre si, por cima do ovario.<br />

0 estylete, único, divide-se em dois ramos, cada um dos<br />

quaes tem uma pequena cabeça stigmalica. A base do estylete<br />

ó acompanhada' d'um disco glanduloso que cobre o ovario.<br />

0 fructo é muito especial; compòo-sc de duas partes, co­<br />

bertas por lâminas espinhosas, sois das quaes sào grandes e ou­<br />

tras seis mais pequenas. 5jTa maturação, as duas metades do<br />

fructo separam-se uma da outra. Cada uma dVHas é um achenio,<br />

eo fructo total u m tiiachenio. A semente encerra um pequeno em­<br />

bryão, e um albumen corneo. A raiz da Cenoura é aprumada; o<br />

caule é herbaceo e as folhas, muito delicadamente recortadas, são<br />

odoriferas.<br />

Cada uma das Ilores é provida d"um pequeno pé ou pednn-<br />

tulot Todos os pedunculos partem d"um ponto, no vértice do<br />

eixo secundário, e chegam quasi á mesma altura, lista inílores­<br />

cencia chama-se uma umbella e é característica d*esta famila. Na<br />

base da umbella véem-se bracteas cuja reunião constituí 1<br />

lucro.<br />

150. Caracteres geraes das Umbelliferas. Camparan-<br />

t<br />

o invó­<br />

do-se o Aipo e a Salsa com a Cenoura, reconhecem-se notáveis<br />

sirnilhauças que de resto se encontram n outras espécies. Formam<br />

a família das Umbeliiferas, cujos caracteres sào os seguintes. Sào<br />

plantas aromaticas, com as tlores dispostas em fôrma (Fumbelhr<br />

d^vario adhereute, de folhas alternas sem estipulas, e cujo fru­<br />

cto é formado por dois achenios soldados, (jiiachenio).<br />

151. Espécies principaes. A família das Umbelliferas,<br />

^pezarde muito natural na sua organisação, apresenta espécies<br />

de muito dilferentes propriedades.<br />

As raizes d'algumas plantas dV.sta família são carnosas e<br />

alimentares: taes sào a Cenoura e o Aipo, etc: outras.são em­<br />

pregadas'como condimentos: taes são a Salsa, a Alcaraua, o<br />

Funcho, o Endro, o Aniz, o Coeulro, o Oerefolio, os Comiuhob,<br />

«te; finalmente outras, são venenosas, como a grande e a pe­<br />

quena Cicuta, que tèm algum emprego na medicina.


232<br />

BOTÂNICA<br />

152. Ribesiaceas. A Groselheira. É hoje bastante culti­<br />

vada entre nós esta planta cujo fructo serve para a preparação<br />

d'um xarope apreciado. É um arbusto de folhas palmatiloba-<br />

dás. Floresce na primavera, e as suas flores formam cachos pen­<br />

dentes. Cada flor e composta dTini calix gamosepalo de cinco di­<br />

visões, (Fuma corolla de cinco pétalas, e de cinco estames. O<br />

pistillo apresenta um ovario inferior, soldado ao tubo do calix.<br />

Este ovario tem apenas uma cavidade,,em que existem duas fi-<br />

Fig. 184 — Groselha. Baga Fig. 185 — Cacho de fructos<br />

de groselha.<br />

Ias crovulos inseridos por meio de placentas pariotaes. Fica-lhe<br />

suprajacente um estylete biiido. O fructo da groselheira ê uma<br />

baga globulosa (pie encerra varias sementes (tig 184 e 185).<br />

153. Caracteres das Ribesiaceas. São cultivadas egual-<br />

mente a Groselheira preta, e a Groselheira espim, das quaes a<br />

primeira é empregada lambem para a fabricação de licores. Os<br />

caracteres comparados (Festas plantas são os seguintes: arvores<br />

ou arbustos de folhas alternas palmatilobadas; tlores dispostas<br />

ordinariamente em cachos; calix gamosepalo, com cinco divi-


sões ; cinco pétalas e cinco estames; o ovario adh crente; o fructo<br />

uma baga.<br />

154. Espécies principaes. lndicamol-as já: sao a Grose­<br />

DICOTYLEDONEAS 238<br />

lheira vermelha, a negra e a espim ou uva do norte. Servem para<br />

a preparação de xaropes ou de licores.<br />

Fig- 186 — Videira* Cacho em rlor.<br />

455. A m p e l l i d e a s . A V i d e i r a . N ã o são fáceis<br />

de ver as ílores da Videira, planta que n i n g u é m ha<br />

que d e s c o n h e ç a (fig. '186). I 7<br />

, todavia existem, e a el-


BOTÂNICA<br />

Ias é devido ô perfume que em junho se exhala das.vi­<br />

nhas.<br />

Colhendo então u m cacho e m tlor e examinando-o<br />

com u m microscópio, vè-se que cada ílòr tem u m cálice<br />

curto, e u m a corolla de cinco pétalas esverdeadas, colhi­<br />

das pelos bordos. Ordinariamente, estas pétalas n ã o se<br />

separam umas das outras quando a flor desabrocha,<br />

mas destacam-se todas ao mesmo tempo pela base, e<br />

Fig. 187-Videira- Flor muito Fig. 188 — Videira. Flor muito ampliada,<br />

ampliada, cuja corolla se depois da queda da corolla.<br />

destaca pela base.<br />

f o r m a m .uma espécie de coita (íig. 187). Este levanta­<br />

mento das pétalas é produzido pelos estames que são<br />

cinco, oppostos ás pétalas, e cujos íiletes ao principio<br />

estão enrolados, mas depois se levantam. As antheras<br />

t è m dois compartimentos e abrem-se por duas tendas<br />

lonuitudinaes.<br />

Tirando-se as pétalas e os estames, apenas se vc na<br />

llor o pistillo, sendo fácil reconhecer


Fig. 189 — Videira. líamos com folhas e


236<br />

BOTÂNICA<br />

estygma. Dentro do ovario encontram-se quatro peque­<br />

nos óvulos que se observam b e m c o m u m a lente.<br />

Quando o ovario é fecundado, transforma-se n ' u m<br />

fructo, primeiro pequeno, verde e duro, mas que, de­<br />

pois de maduro, se torna maior, molle e muito suma-<br />

rento. E" a m m . Entre a peite delgada que a cobre e as<br />

sementes e m pequeno numero que encerra, ha u m a<br />

poípa molle e assucarada: portanto é u m a baga. E o<br />

sumo d'esta polpa, obtido pelo esmagamento das uvas,<br />

que, depois de fermentado, constitue o viaho.<br />

A Videira (fig. 189) & u m arbusto de longos ra­<br />

mos flexíveis que se c h a m a m sarmentos. As folhas<br />

são alternas, palmadas ou digitadas. E m frente da<br />

maior parte das folhas, a Videira tem gavinhas ou<br />

abraços.<br />

- ' . 156. Caracteres das Ainpellideas. Examinando<br />

as difterentes variedades de Videiras, e a Vinha virgem,<br />

cultivada nos jardins, estabelecem-se os caracteres d'esta<br />

família. São os seguintes :<br />

Arvores ou arbustos, de folhas alternas, tendo ga­<br />

vinhas oppostas ã maior parte d'ellas; tlores esverdeadas<br />

e m cachos pendentes; calix muito curto; corolla de<br />

cinco pétalas, soldadas entre si e m f ô r m a de coita; ciuco<br />

estames oppostas ás pétalas; ovario superior de dois com­<br />

partimentos, tendo cada u m dois óvulos ; estylete muito<br />

curto, terminado por u m estyma deprimido.<br />

157 Espécies principaes. A Vinha virgem me­<br />

rece apenas m e n ç ã o por ser cultivada nos jardins para<br />

r<br />

cobrir as paredes e caranmnclieis. E a Videira p r ó p r i a -


mente dita a única espécie importante d'esta família. O<br />

DICOTYLEDONEAS 237<br />

n u m e r o das suas variedades chega a 1500. .lulga-se que<br />

é originaria da A r á b i a . A cultura d'esta planta occupa<br />

e m todos os paizes larga superticie de terreno. N i n g u é m<br />

ignora que o v i n h o é u m dos ramos mais importantes<br />

d o nosso c o m m e r c i o .<br />

458. Rosaceas. O Morangueiro. Ninguém ha<br />

que d e s c o n h e ç a o Morangueiro que floresce durante a<br />

m a i o r parte da primavera e do estio.<br />

Cada u m a das suas flores c o m p õ e - s e d ' u m calix.<br />

Fie. 190 — Flor de Morangueiro Fig- 191 - Flor de Morangueiro cortada<br />

inteira. ao comprido.<br />

de cinco sepalas patentes, e d ' u m a corolla de cinco p é ­<br />

talas que alternam c o m as primeiras (íig. 190 e 191).<br />

As p é t a l a s s ã o brancas e t a m b é m patentes, de m o d o<br />

que a corolla é r o d a d a . Os estames, m u i t o numerosos,<br />

o c c u p a m o centro da flor e cercam o pistillo. Este<br />

f ô r m a u m a massa dilatada e m bola, coberta d ' u m<br />

grande n u m e r o de carpellos contendo cada u m apenas<br />

u m ó v u l o .<br />

A o chegarem á m a t u r a ç ã o , estes carpellos transfor­<br />

m a m - s e e m fructos seccos (achenios) m u i t o pequenos.


238<br />

Mas, cmquanto os lVuctos amadurecem, o receptaculo<br />

e m que estão inseridos dllaia-se, e torna-se carnoso,<br />

apresentando ligeiras depressões,<br />

cada uma das quaes serve para<br />

anichar u m fructo (fig. 192). Este<br />

receptaculo desenvolvido constitue<br />

o morango.<br />

0 Morangueiro é u m a planta<br />

herbacea cujas folhas compostas<br />

são formadas por tres foliolos. O<br />

caule emitte numerosos ramos<br />

Fig. 192 — Fructo do Moraiin chamados braços, (estolhos) que<br />

gueiro: achenios supportá- - , , ' .<br />

dos por um receptaculo em cada no desenvolvem raízes<br />

caruoso. , . , 1 „<br />

adventicias, de m o d o que se for­<br />

m a m n ?<br />

esses pontos novos Morangueiros (íig. 193).<br />

A l é m do fructo, de tão agradável sabor, o Moran-<br />

Fig. 193 — Morangueiro: caule reptaute.<br />

gueiro presta serviços ao h o m e m . A raiz e as folhas<br />

t è m usos médicos, como diurelicos e levemente adstrin­<br />

gentes.


159. A Roseira. Á Roseira brava (íig. 194) co­<br />

m e ç a a florir e m maio ou j u n h o .<br />

DICOTYLEDONEAS 2 3 9<br />

0 calix é f o r m a d o de cinco sepalas verdes collo­<br />

cadas por cima do receptaculo. A corolla é composta<br />

egualmente de cinco pétalas que alternam com as pe­<br />

Fig. 194 - Roseira. Ramo florido.<br />

ç a s do calix. T i r a n d o as pétalas, licam dentro do ca­<br />

lix, que é persistente, os estames que são m u i t o n u -<br />

eomnondo-se cada u m d'elles d ' u m tilete m u i t o


240<br />

BOTÂNICA<br />

delgado e de u m a pequena anthera de dois comparti-<br />

mentos (fig. 195).<br />

Tirando-se todos os estames, vè-se apenas o rece­<br />

ptaculo e m f ô r m a cie taça, mas pela sua abertura sáe<br />

u m corpo e s b r a n q u i ç a d o , allongado, co­<br />

berto de pennugenr (íig. 196). Esse cor­<br />

po é formado pela reunião dos estyletes<br />

que se continuam c o m os ovarios en­<br />

cerrados no receptaculo. Cada u m dos<br />

ovarios, na m a t u r a ç ã o , v e m a formar<br />

Fig. 195 — Moseira. Flor cortada ao comprido.<br />

um achenio. O receptaculo desenvolve-<br />

se, tornando-se carnoso.<br />

As ílores das Roseiras que se cul­<br />

tivam nos jardins n ã o t è m apenas a s ^ ^ ^ - i T m ^ p t e .<br />

cinco pétalas de que f a l í a m o s : são do- tá aberto para mos-<br />

I 1 t r a r 0 0 V U j o q u e c o n .<br />

bradas, isto é os estames m o d i ü c a m - s e , tem,<br />

tornam-se estéreis, e desenvolvem-se como se fossem<br />

verdadeiras pétalas.<br />

Mas, sejam as tlores simples ou dobradas, as Ro-


DICOTYLEDONEAS 241<br />

seiras t è m os m e s m o s caules e as mesmas folhas. S ã o<br />

ordinariamente arbustos cuja casca está coberta de acu-<br />

leos triangulares. Per outro lado, as folhas s ã o compostas,<br />

formadas ordinariamente por cinco foliolos, e apresen­<br />

t a m n o ponto d ' i n s e r ç ã o sobre o caule pequenas l â m i n a s<br />

allongadas, que s ã o estipulas (fig. 197).<br />

160. Caracteres das Rosaceas. Tanto o Moran­<br />

gueiro, c o m o a Roseira s ã o Rosaceas. A esta familia per­<br />

tencem outras plantas m u i t o conhecidas: a Macieira, a<br />

• - •«.<br />

Fig. 197 — Folha de roseira, apresentando na base duas estipulas, sU<br />

Pereira, a A m e n d o e i r a , etc. Estes vegetaes differem al­<br />

g u m tanto nos seus.caracteres, mas os mais i m p o r t a n ­<br />

tes p o d e m reduzir-se aos seguintes. S ã o plantas de flo­<br />

res regulares, de estames numerosos e d'ovario livre.<br />

A s flores s ã o simples o u compostas, e f r e q ü e n t e m e n t e<br />

providas de estipulas. O fructo é v a r i á v e l : p ô d e ser u m<br />

achenio, u m follilho, u m a baga, u m a drupa o u u m p o m o .<br />

161. Espécies principaes. Grande numero ^ar­<br />

vores frueteiras cultivadas nos nossos pomares perten-


cem ás Rosaceas. Taes são a Macieira, a Pereira, a.<br />

BOTÂNICA<br />

Amendoeira, a Cerejeira, o Pecegueiro, etc.<br />

O gênero Rosa tem varias espécies que se encon­<br />

tram nos jardins como plantas ornamentaes. Algumas<br />

d'ellas são empregadas na medicina, e m virtude do tan-<br />

nino que c o n t é m .<br />

O Louro-cerejo, a Potentilha, etc, tem egualmente<br />

usos médicos. A primeira c o n t é m u m veneno m u i t o<br />

enérgico, o ácido cyanhydrico, que t a m b é m se encontra<br />

n'outras plantas da mesma família.<br />

Finalmente, algumas plantas d'esta família fornecem<br />

madeiras muito apreciadas. Haja vista a Cerejeira, a Pe­<br />

reira e a Sorveira, muito empregadas na marcenaria.<br />

162. Papilionaceas. O Feijoeiro. O Feijoeiro é extrema­<br />

mente cultivado por toda a parte: ninguém deixará de coube-<br />

cel-o. As suas flores (fig. 198) dispostas em eachos habitualmente<br />

FÍ*. im-Feijoeiro. Flor ampüada.<br />

axillares ou lateraes são irregu­<br />

lares e tèm o npme de papilio­<br />

naceas. O calix è curto, com<br />

quatro ou cinco divisões. A co­<br />

rolla é eomposta de cinco péta­<br />

las: na parte superior da flor.<br />

encontra-se uma pétala grande,<br />

estendida que se cliama.^/u-<br />

darte (fig. 199); aos lados ficam<br />

d u M<br />

P l e n a s pétalas, eguaes,<br />

chamadas azas; e finalmente, por<br />

baixo, uma ou duas soldadas para formarem uma saliência maior<br />

ou menor, tèm o nome de naveta (fig. 200).<br />

Tiradas as pétalas, encontram-se os estames cuja fôrma è<br />

torcida em espiral e moldada sobre a da naveta. São dez os es­<br />

tames e diadelphos, estando nove reunidos pelos filetes e um se­<br />

parado.


O pistillo o formado por um ovario em fôrma de sacco al­<br />

DICOTYLEDONEAS 2 4 3<br />

longado, terminado por um estylete curvado e u m estygma co­<br />

berto de pellos.<br />

Fig. 199 — Corolla papilionacea : E estandarte ; A azas ; c naveta.<br />

Effectuada a fecundação,/o pistillo transforma-se no fructo<br />

que é uma vagem pendente, achatada, cujas duas metades ou<br />

válvulas se separam, deixando em liberdade as sementes, N'estas<br />

sementes em fôrma de rhim, a amêndoa constitue todo o em­<br />

bryão ; não tèm albumen (fig. 201).<br />

Fig. 200 — Feijoeiro. Naveta. Fig. 201 — Semente do Feijoeiro.<br />

As folhas do Feijoeiro tèm ordinariameute tres foliolos gran­<br />

des, ovaes e acuminados, com u m peciolo comprido/<br />

O Feijoeiro é geralmente uma planta trepadeira e portanto<br />

não pôde sustentar-se verticalmente. Por esse motivo se lhe col-<br />

9


244<br />

BOTÂNICA<br />

locam a par estacas em que se enrola. As .sementes são comes­<br />

tíveis e mesmo todo o fructo quando está tenro.<br />

163. Caracteres das Papilionaceas. A Fava, a Ervilha, o<br />

Trevo, etc., tèm notáveis similhanças com o Feijão, no que res­<br />

peita â constituição da ílor e do fructo. Por este motivo foram<br />

englobadas na mesma família que recebeu o nome de Papiliona­<br />

ceas pela simühança que se quiz ver entre a sua ílor e uma bor­<br />

boleta. Os seus caracteres são os seguintes :<br />

São plantas de folhas quasi sempre compostas, com estipu­<br />

las ; o calix gámosepalo tem 5 divisões deseguaes; a corolla é<br />

formada por cinco pétalas e irregular; os estames são geralmente<br />

dez, e diadelphos; o pistillo tem um ovario (filma cavidade; o<br />

fructo é uma vagem; as sementes não têm albumen.<br />

i -<br />

X<br />

164. Espécies principaes. Poucas famílias botânicas en­<br />

cerram plantas de tanta utilidade, tanto debaixo do ponto de<br />

vista alimentar, como debaixo do ponto industrial.<br />

A Ervilha, a Fava, o Feijão, a Lentilha, o Grão de bico, são<br />

empregadas na alimentação do homem/<br />

A Luzerna, o Trevo, o Sanfeno, são excellentes forragens<br />

para os animaes.<br />

Algumas plantas, d'està família fornecem madeiras aprecia­<br />

das: haja vista o Palissandro e o Pau rosa, provenientes de Pa­<br />

pilionaceas arborescentes.<br />

A tintura ria aproveita a árvore do anil cultivada na Índia,<br />

China, etc, cujas folhas fornecem pela fermentação uma maté­<br />

ria corante muito apreciada, e o Piorno dos Tintureiros, espon­<br />

tânea entre nós, que dá uma substancia amareíla.<br />

Algumas plantas (festa família têm emprego em medicina.<br />

Tal é o Alcaçuz, cujo caule subterrâneo encerra um principio as-<br />

sucarado, espectorante; o Physostyyma cenenosum, cujo fructo, a<br />

fava do Calabar, encerra um veneno violento, a eserina ; a Al-<br />

quitira, que fornece uma gomma muito empregada, etc<br />

Finalmente, algumas plantas são cultivadas nos nossos jar­<br />

dins. Tal é, para não mencionarmos outras menos conhecidas, a<br />

Glycinia.


DICOTYLEDONEAS 2 4 5<br />

-165. C r u c i feras. A C o u v e . A Couve cultivada<br />

(fjg. 202) t e m flores regulares e hermaphroclitas, u m<br />

calix de quatro sepalas onguiculadas, quatro g l â n d u l a s<br />

oppostas ás duas sepalas internas, u m a corolla polype-<br />

tala regular, de quatro pétalas<br />

oppostas duas a duas, e seis<br />

estames tetradynamicos, isto<br />

é, quatro grandes e dois pe­<br />

quenos. Ò gyneceu é for­<br />

mado por dois carpellos u n i ­<br />

dos n ' u m ovario p r i m i t i v a ­<br />

mente u n i l o c u l a r c o m duas<br />

placentas parietaes, mas que<br />

se torna biloCular pela for­<br />

m a ç ã o tardia d ' u m falso se-<br />

pto. 0 fructo é u m a siliqua<br />

allongada, e m que estão dis­<br />

postas sementes desprovidas<br />

d'albumen.<br />

166. Caracteres ge-<br />

raes ü a s C r n c i f e r a s . A<br />

Couve, o Pastel dos tintu­<br />

reiros, o Nabo, o Goivo apre­<br />

sentam, pelo que diz respeito<br />

á OrganisaçãO da flor e dO , F i g. m - C o u v e . Cachos de flores.<br />

fructo, s i m i l h a n ç a s n o t á v e i s .<br />

Por este m o t i v o f o r a m reunidas ir*uma m e s m a família<br />

sob o n o m e de C r u á f e r a s que lhe v e m da f ô r m a espe­<br />

cial da corolla.<br />

Os seus caracteres p ô d e m reduzir-se aos seguintes:


246 BOTÂNICA<br />

São plantas herbaceas cujas flores estão dispostas em<br />

cacho; o calix apresenta quatro sepalas; a corolla regu­<br />

lar t a m b é m é formada de quatro pétalas; os estames são<br />

seis, sendo quatro grandes e dois, pequenos; o ovario<br />

tem dois estygmas. 0 fructo é uma siliqua (fig. 203)- e<br />

as sementes não tem albumen.<br />

Fig. 203 — Couve. Siliqua. Fig. 204— Babanete bravo o cultivado.<br />

Na organisação do fructo notam-se algumas diíTe-<br />

renças nos Gmciferas; assim no Pastel dos tintureiros é<br />

u m a silicula. A sua dehiscencia que se eflectua geral­<br />

mente por lendas longitudinaes pôde, no Rabanete bravo,<br />

fazer-se por estrangulamentos correspondentes aos espa­<br />

ços existentes entre as sementes.


167. Espécies principaes. As Cruciferas encer­<br />

DICOTYLEDONEAS 347<br />

ram m a t é r i a s sulfuradas que lhes d ã o u m sabor acre e<br />

picante. Muitas d'ellas s ã o anti-escorbuticas, e nomeada­<br />

mente o Rabano, c o m cuja raiz se prepara u m xarope<br />

com estas propriedades.<br />

A maior parte das Cruciferas são alimentares. Os<br />

Nabos e os Rabanetes caracterisam-se pela quantidade<br />

d'alimentos de reserva que a r m a z e n a m nas raizes. Nas<br />

Couves, as reservas accumulam-se no g o m o terminal,<br />

nos gomos axillares, ou na inílorescencia.<br />

As sementes d'algumas plantas d'esta família encer­<br />

ram m a t é r i a s oleosas, e nomeadamente o Colza fornece<br />

u m oleo empregado na i l l u m i n a ç ã o .<br />

cação d J<br />

0 Pastel dos tintureiros foi empregado para a fabri­<br />

uma substancia corante azul; a .Mostarda é e m ­<br />

pregada na meza e t e m a p p l i c a ç õ e s m é d i c a s . Outras<br />

Cruciferas cultivam-se c o m o plantas ornamentaes, eomo<br />

suecede c o m o Goivo.<br />

168. Amentaceas. O Carvalho. Se examinarmos<br />

u m Carvalho na primavera, veremos n'alguns ramos, no<br />

meio de b o t õ e s meios abertos, filamentos delgados que<br />

supportam ílores masculinas.<br />

Estas ílores abrem-se gradualmente, e cada u m a<br />

d'ellas se c o m p õ e d ' u m certo n u m e r o de pequenas esca­<br />

mas, contendo seis^a dez estames, de íiletes m u i t o delga­<br />

das; os filamentos que lhes d ã o i n s e r ç ã o são amenfi­<br />

lhos (fig. 205). As ílores d'estames estão collocadas ao<br />

longo dos ramos e s ã o as primeiras a apparecer quando<br />

se, abrem os b o t õ e s .<br />

Alguns dias mais tarde, vè-se na extremidade dos


248<br />

BOTÂNICA<br />

ramos e na axilla das folhas outra ordem de flores que<br />

são as flores femininas (fig. 206). Estão dispostas e m es­<br />

pigas maià ou menos allongadas, estando cada u m a d'el-<br />

—f; V,<br />

Fig. 205 — Ramo de carvalho, sup^portando amentilhos<br />

coin ílores masculinas.<br />

Ias cercada pelo que se chama cúpula. No centro encon­<br />

tra-se o pistillo, constituído por u m ovario de tres cavi­<br />

dades, tendo cada u m a dois óvulos, ovario que é termi­<br />

nado por u m estylete c o m tres estygmas (fig. 207 e 208).


DICOTYLEDONEAS<br />

.' A o cabo de pouco tempo,' depois do pollen ter caldo<br />

sobre as ílores femininas, os amentilhos s é c c a m . e c á e m ,<br />

e o pistillo transforma-se<br />

n ' u m fructo secco, con­<br />

tendo u m a ú n i c a semen­<br />

te, porque todos os ó v u ­<br />

los menos u m abortam.<br />

0 fructo, cercado na base<br />

pela c ú p u l a , constitue a<br />

g l m u l e (fig". 209).. . .<br />

A semente está exa-<br />

ctamente cheia pelo e m ­<br />

b r y ã o , sendo ambas as<br />

cotyledones carnosas.<br />

As folhas do Carva-<br />

Fig. 206 — Ramo de Carvalho com flores<br />

femininas.<br />

, -i a -<br />

lho s ã o alternas, recortadas e providas d'estipulas: o<br />

Fig. 207--Carvalho: flor<br />

feminina cortada ao<br />

comprido.<br />

Fig. 208—Carvalho.<br />

flor feminina inteira.<br />

Fig. 209 —Fructo do Car<br />

valho.-<br />

tronco p ô d e adquirir espessura considerável e altura de<br />

quarenta a cincoenta. metros.


250<br />

BOTÂNICA<br />

169. Caracteres das A n i e n t a ç e a s . Se comparar­<br />

mos o Carvalho, a Nogueira e o Salgueiro, encontramos<br />

notáveis similhanças entre estas plantas, motivo porque<br />

foram incluídas n'uma só família, sob o nome de A m e n -<br />

taceas, nome que deriva da inílorescencia. Os seus cara­<br />

cteres podem resumir-se e m que são apetalas, sempre, :<br />

arborescentes, e em que as Ílores masculinas estão sem­<br />

pre dispostas e m amentilho. ; %<br />

170. Espécies principaes. As arvores que fazem<br />

parte" cTesta família, (o Carvalho, a Faya, o Castanheiro)<br />

são excellentes materiaes de construcção, eu fornecem<br />

b o m combustível. Algumas sementes servem para a sus­<br />

tentação do h o m e m , graças á quantidade de fecula que<br />

encerram, como suecede c o m o Castanheiro ; outras ser­<br />

v e m para a p r e p a r a ç ã o de certos óleos, como a No­<br />

gueira, e a Faya. A casca espessa e esponjosa do Sove-<br />

reiro (Quercas saber) depois de preparada, forma a cor-<br />

tiça. Do Salgueiro estrae-se a salicina e o ácido salici-<br />

Uco, empregado e m medicina, no tratamento do rheu-<br />

matismo.<br />

0 Vimieiro que fornece os vimes é u m a espécie de<br />

Salgueiro. Do Carvalho d'Alepo p r o v é m a noz de galha,<br />

excrescencia arredondada produzida pela picadeüa d'um<br />

insecto, empregada para a fabricação dá tinta d'escre-<br />

cre, etc.


RESUMO<br />

139. As Dicotyledoneas são caracterisadas por ,um em­<br />

D I C O T Y L È D Ò J X E A S 251<br />

bryão de duas-cotyledones; pela organisação da raiz que en­<br />

grossa formando novo lenho e novo liber; pela disposição do<br />

caule em que se distingue casca, zona geradora e lenho; pelas<br />

folhas de nervuras anastomosadas e pelas tlores que são penta-<br />

meras ou tetrameras.<br />

Dividern-se em : l.°Gamopetalas; 2.° Diah pétalas e Apetalas.<br />

140. A Batata é o typo das Solanaceas.<br />

-14K Os caracteres das Solanaceas são os seguintes. São<br />

plantas de folhas alternas,, simples e sem estipulas. As Ilores têm<br />

ordinariamente cinco peças. O ovario apresenta duas cavidades.<br />

O fructo è uma baga ou uma cápsula. v<br />

142. Algumas Solanaceas são alimentares (Batata, Berin-<br />

gella, etc.) Outras, muito venenosas, sào empregadas na medi­<br />

cina, (Meim_endro, Belladona, etc) onde também se applicam ou-^<br />

tras menos tóxicas (Dulcamara, etc.) Outras sào ornamentaes (Pe-<br />

tunias).<br />

143. A Granza ou Rateados tintureirospode ser conside­<br />

rada como typo das Rubiaeeas.<br />

144. As. Rubiaeeas são plantas herbaoeas, arbustos ou ar­<br />

vores, de .folhas oppostas ou vertici liadas, sendo no primeiro<br />

caso acompanhadas de estipulas. O calix, se não ó adherente ao<br />

ovario, tem quatro ou cinco sepalas pequeníssimas ; a corolla<br />

tem cinco pétalas; ovario, sempre inferior, temu m estylete e<br />

dois estygmas.<br />

145. A Granza é cultivada pela matéria corante, vermelha<br />


252 BOTÂNICA<br />

J 18, Algumas Cucurbitace&s são empr egadas na alimenta­<br />

ção do homem (Abóbora, Pepino, etc.) Outras têm emprego em<br />

medicina (Coloquintida, Pepino de S. Grego rio, etc.)<br />

feras.<br />

149. A Cenoura pode ser lida como typo das Umbelli­<br />

150 As Umbelliferas são plantas aromaticas, de ílores dis­<br />

postas em umbella, d^ovario adherente, de folhas alternas sem<br />

estipulas, e cujo fructo é um diaclienio.<br />

151. Algumas Umbelliferas sào alimentares (Cenoura, Aipo,<br />

etc.); outras são empregadas como condimentos, (Salsa, Coentro,.<br />

etc); oiitras ainda são venenosas (Cicuta).<br />

152. A Groselheira pode ser considerada como typo das<br />

Ribesiaceas.<br />

153. As Ribesiaceas sào'arvores ou arbustos de folhas al­<br />

ternas palmadas; tem as flores dispostas ora cacho; o calix ga­<br />

mosepalo, com cinco divisões ; cinco pétalas e cinco estames;<br />

ovario adherente; como'fructo* uma baga.<br />

154. Differentes espécies de Groselheira'servem, para a fa­<br />

bricação de xaropes.<br />

155. A Videira é o typo das Ampellideas.<br />

156. As Ampellideas são arvores ou arbustos, de-folhas al­<br />

ternas, tendo gavinhas oppostas á maior parle dVlIas; têm flores.<br />

esverdeadas de cachos pendentes, e calix muito curto, a corolla<br />

de cinco pçtalas sóldadas*em fôrma de coifa ; os estamos são op-<br />

postos ás pétalas; o ovario superior de duas cavidades, tenda<br />

cada uma dois óvulos; o estylete muito curto, terminado por<br />

um estygma deprimido.<br />


cPesta família são ornamentaes (Roseiras) e outras tem usos me-<br />

dicinaes (Louro-cérejo, Potentilha).<br />

DICOTYLEDONEAS 253<br />

\ r<br />

162. O Feijão é typo das Papilionaceas.<br />

\í 163. As Papilionaceas tem folhas compostas, com estipulas.<br />

O calix é gamosepalo e tem cinco divisões deseguaes; a corolla,<br />

irregular, tem cinco pétalas, os estames são geralmente dez e<br />

diadelphos, o fructo é uma vagem; as sementes não têm albu-<br />

merí.<br />

164. Muitas Papilionaceas servem para a alimentação do<br />

homem (Ervilha, Fava, Feijão) ou dos animaes (Luzerna, Trevo 9<br />

Sanfeno). Algumas espécies fornecem madeira muito apreciada<br />


BOTÂNICA.<br />

Í N D I C E )<br />

CAPITULO I<br />

Cellula vegetal: sua vida e fôrmas, princípios immediatos<br />

elaborados nos vegetaes. Tecidos vegetaes: sua classifi­<br />

Pagina?<br />

cação e caracteres . . .. 10<br />

CAPITULO I I<br />

Raiz: fôrmas, estructura e funcções . 31<br />

CAPITULO III<br />

Caule: turmas r estructura e funcções . . . 40<br />

CAPITULO IV<br />

Folhas: suas fôrmas, estructura e funcções . . 61<br />

- CAPITULO V<br />

ldeia summaria da nutrição e respiração das plantas. Cir­<br />

culação da seiva. Funcção chlorophyllina. Látex. Cresci­<br />

mento das .plantas 77<br />

CAPITULO VI<br />

Flor : organisação e fôrmas. Idéia summaria da fecundação 88


256<br />

BOTÂNICA<br />

CAPITULO VII<br />

Fructo: diversas espécies de fructos. Semente: sua estru­<br />

ctura . . . . .<br />

CAPITULO VIII<br />

Reproducção das plantas. Noções sobre os typos de repro<br />

ducção nas Cryptogamicas. Reproducção das Pheneroga-<br />

micas por semente e pelos órgãos de vegetação<br />

CAPITULO IX<br />

Taxinomia . . .<br />

I Typo: Thallophytas — l .<br />

CAPITULO X<br />

a<br />

classe: Fungos — 2 .<br />

Algas . . . .<br />

II Typo: Muscineas — 3. a<br />

Musgos<br />

CAPITULO XI<br />

classe: Hepaticas — 4. a<br />

CAPITULO XII<br />

III Typo: Cryptogamicas vasculares—5. a<br />

neas — 6. a<br />

neas . * .<br />

classe: Equisetineas — 7. a<br />

IV Typo: Phanerogamicas — 8. a<br />

Angiospermicas — 9. a<br />

Angiospermicas — 10. a<br />

CAPITULO XIII<br />

CAPITULO XIV<br />

a<br />

classe:<br />

classe:<br />

classe: Filiei-<br />

classe: Lycopodi­<br />

classe : Gymnospermicas.<br />

classe : Monocotyledoneas.<br />

CAPITULO XV<br />

classe: Dicotyledoneas . ,


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