irAcemA - Dom Bosco
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<strong>irAcemA</strong><br />
JOSÉ MARTINIANO DE<br />
AlencAr Júnior
ol1c - 08 1. Contexto soCial e HistÓRiCo<br />
79<br />
iracema<br />
A vinda de d. João vi para o brasil e as conseqüentes transformações ocorridas<br />
em nosso quadro cultural, como a inauguração da biblioteca pública (hoje<br />
biblioteca nacional), a criação de cursos médico-cirúrgicos na bahia e no rio de<br />
Janeiro, a Academia da marinha e a Academia militar, o real Horto (Jardim<br />
Botânico) e o Museu Real, contribuíram para a inserção de um ensino técnico e<br />
científico em nosso meio, embora visasse sobretudo à reorganização do Exército e<br />
da Marinha. A criação de escolas e de cursos profissionais visava a uma resposta<br />
imediata para os problemas do governo português recém-transladado ao brasil.<br />
A nova configuração do meio brasileiro, que adquiria aspectos urbanos, necessitava<br />
de determinados profissionais. A independência política, realizada quatorze<br />
anos após a chegada de d. João vi, e as lutas para sustentá-la contra portugal,<br />
como os problemas militares externos (a Cisplatina) e internos (a Confederação<br />
do equador), colocaram a questão política e militar em primeiro plano, apresentando<br />
como único empreendimento cultural do primeiro império a criação das<br />
Faculdades de ciências Jurídicas e sociais, em 1827, em olinda e em são paulo.<br />
no período da regência (1831-1840), foi criado o colégio pedro ii.<br />
no dia 13 de maio de 1808, começou a funcionar no brasil a primeira tipografia,<br />
que imprimia livros científicos e um jornal, A gazeta do rio de Janeiro.<br />
Aos poucos, numa terra de analfabetos, foram-se criando um público leitor e as<br />
condições necessárias para a consolidação de uma literatura.<br />
Após a independência do brasil, em 1822, cresceu entre os intelectuais brasileiros<br />
o sentimento de nacionalismo e o desejo de criar uma literatura identificada com<br />
as raízes históricas do país e do seu povo, com o intuito de diferenciá-la da literatura<br />
portuguesa. Os escritores românticos brasileiros ansiavam por criar uma literatura<br />
que contivesse os elementos essenciais da cultura brasileira; surgiu, então, a primeira<br />
geração romântica, que trabalhava os temas do indianismo e do nacionalismo.<br />
O teatro romântico brasileiro surgiu dentro do programa de nacionalização<br />
da literatura.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
2. estilo liteRáRio da époCa<br />
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ol1c - 08<br />
81<br />
iracema<br />
A palavra romântico deriva do latim romanice e significa “à maneira dos<br />
romanos”. no século Xii, o termo rommant referia-se à língua vulgar, ou seja,<br />
toda língua que não fosse o latim.<br />
das acepções da palavra romantismo, convém distinguir: 1) a palavra romantismo<br />
deriva de romântico (romantic), que, por sua vez, deriva de romance<br />
(roman). O adjetivo romântico designava, na Inglaterra do século XVII, as narrativas<br />
fantasiosas das novelas de cavalaria; 2) no século Xviii, na França, designava<br />
paisagens selvagens e pitorescas; 3) no século XiX, na Alemanha, designava uma<br />
tendência artística contrária ao classicismo.<br />
Como o adjetivo romântico é empregado sem muito rigor, normalmente<br />
ocorrem algumas confusões, porque ora designa um estado de espírito, uma<br />
atitude, e, portanto, está presente em todas as épocas, ora designa uma escola<br />
literária do início do século XiX.<br />
como escola literária, o romantismo surgiu na Alemanha, com a publicação<br />
da revista Athenäeum, editada pelos irmãos schlegal, de 1798 a 1800, em iena,<br />
espalhando-se daí para o restante do mundo.<br />
na inglaterra, o romantismo teve início em 1798, com a edição de lyrical<br />
ballads, de autoria conjunta de Wordsworth e coleridge. na França, o romantismo<br />
passou a ter plena aceitação em 1820, com méditations, do poeta lamartine.<br />
em portugal, o ano de 1825, com a publicação de camões, de Almeida Garrett,<br />
marcou o início do Romantismo português. O Romantismo no Brasil teve<br />
início em 1836, com a publicação de suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves<br />
de magalhães.<br />
o romantismo valoriza, sobremaneira, o idealismo e o espiritualismo. por<br />
idealismo, entenda-se o primado do sujeito sobre o objeto, ou seja, o universo<br />
interior é mais importante que a realidade exterior e, por isso, as emoções importam<br />
mais que a realidade, a subjetividade vale mais que a realidade externa,<br />
e as emoções falam mais alto que a razão. por espiritualismo, entenda-se que a<br />
realidade é o espírito e a matéria (o real) é inferior ao espírito, devendo apenas<br />
servi-lo.<br />
o romantismo valoriza a noite, o sonho, a dor, a arte e a natureza como<br />
formas de fugir da realidade, de negar a razão. Para os românticos, em oposição<br />
ao iluminismo do século Xviii, não é a razão que leva o homem ao conhecimento<br />
do infinito, mas o sentimento e a fantasia. Por isso, cabe ao poeta, e não ao<br />
racionalista, a descoberta do sentido da vida.<br />
O homem romântico encontra-se no limiar de dois mundos: pela alma está<br />
ligado ao divino, e aí reside sua grandeza; pelo corpo está preso à matéria, e aí
José martiniano de Alencar Júnior<br />
reside sua desgraça. sua metade matéria o prende ao mundo físico, o que faz<br />
com que ele sinta uma profunda nostalgia do infinito e do divino, e toda separação,<br />
seja da infância, do lar, da amada ou da pátria, desperta nele a saudade do<br />
infinito. Por isso, para ele a vida é insuportável, e a morte é vista como solução<br />
para o sofrimento. como os cristãos chamam o mundo terreno de século, vem<br />
daí o “mal do século”, isto é, a consciência de que este mundo é apenas sofrimento<br />
e, portanto, o melhor a fazer é abandoná-lo, seja através do sonho, seja<br />
através da morte, vista como “a recompensa da vida”. o homem nasceu para a<br />
dor, não para a alegria.<br />
Para o romântico, o sentimento mais importante é o amor, porque liga o<br />
homem ao infinito. Todo o amor terreno é apenas a superfície do amor infinito,<br />
que só pode ser alcançado pela morte. daí a morte completar o amor, pois só<br />
no infinito o homem pode viver a plenitude do sentimento amoroso. Por isso,<br />
o final feliz não é importante, porque a única felicidade possível reside na comunhão<br />
com o infinito. O sentimento elevado ao infinito é o que o romântico<br />
chama de sublime.<br />
como a alma do homem não é deste mundo, ele se rebela contra toda regra<br />
que deseje prendê-lo, pois acredita que a sua alma é livre. nada, portanto,<br />
pode prendê-lo, nem as regras da sociedade nem as regras da criação literária.<br />
daí a idéia de ruptura com todas as regras da arte e com tudo o que aprisiona<br />
o homem.<br />
A relação do homem com sua parte divina pode ocorrer por intermédio da<br />
nação, que o romântico entende como um povo que se organiza politicamente<br />
num território, em decorrência de uma vontade divina. por isso, a inspiração<br />
vem do povo, e o artista é nacionalista, devendo saber traduzir, em seus textos,<br />
a “alma do povo”. não é por acaso que, no romantismo, surgiu uma ciência que<br />
procurava investigar a sabedoria popular, recebendo o nome de folclore.<br />
O individualismo romântico não é contrário ao sentimento nacionalista,<br />
porque, em sua solidão, o romântico sente simpatia por todos os seres do<br />
universo, e em particular pelo ser humano. em seu egocentrismo, ele se sente<br />
integrado ao cosmos.<br />
O movimento romântico brasileiro coincide com o momento decisivo de<br />
autonomia da pátria. os escritores tomam para si a missão de reconhecer e valorizar<br />
o passado brasileiro, conferindo à literatura cores locais e esforçando-se<br />
para criar uma literatura legitimamente brasileira, capaz de revelar as qualidades<br />
grandiosas da pátria que se tornara independente. neste sentido, José de Alencar<br />
aparece na literatura brasileira como o consolidador do romance, realizando, na<br />
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83<br />
iracema<br />
prosa de ficção, sobretudo em romances como o guarani e iracema, a tendência<br />
nacionalista que vinha sendo reclamada pela crítica.<br />
o gosto pelo teatro foi uma das características marcantes do romantismo<br />
em todos os países. no brasil, coube a Gonçalves de magalhães a encenação da<br />
primeira tragédia, intitulada Antônio José ou o poeta e a inquisição, no dia 13 de<br />
março de 1863, no palco do constitucional Fluminense, no rio de Janeiro, sob<br />
os cuidados do ator João caetano.<br />
O grande nome do teatro romântico brasileiro é Martins Pena, considerado<br />
o inventor da comédia de costumes brasileira.<br />
o teatro de José de Alencar é marcado por uma preocupação moral. A<br />
comédia o demônio familiar apresenta a figura do menino escravo Pedro, o “demônio<br />
familiar”, como um malandro e aproveitador, capaz apenas de fazer o<br />
mal para a família brasileira.<br />
Resumo das principais características românticas<br />
• Liberdade de expressão<br />
• Escapismo, fuga da realidade por meio de um retorno à infância e ao pas-<br />
sado histórico e por meio do sonho e da morte.<br />
• Individualismo, egocentrismo<br />
• Subjetivismo, valorização das emoções<br />
• Nacionalismo<br />
• Idealização da realidade
José martiniano de Alencar Júnior<br />
3. o aUtoR<br />
José martiniano de Alencar Júnior nasceu em<br />
mecejana, ceará, no dia primeiro de maio de<br />
1829. Era primogênito dos sete filhos de um<br />
padre que largou a batina, após conhecer<br />
uma prima, para se casar.<br />
seu pai, José martiniano de Alencar,<br />
foi um importante político, tendo sido senador<br />
e presidente da província do ceará.<br />
José de Alencar estudou direito<br />
na faculdade do largo são Francisco,<br />
em são paulo, onde travou amizade<br />
com álvares de Azevedo, Aureliano<br />
lessa e bernardo Guimarães, com<br />
quem fundou a famosa epicuréia,<br />
uma sociedade “etílico-literáriacharutesca”,<br />
que marcou época<br />
naquela faculdade.<br />
Formado em Direito, exerceu<br />
a advocacia, seguindo também<br />
uma promissora carreira política, sendo ministro da Justiça de pedro ii e<br />
deputado por vários mandatos. entretanto, teve o seu nome vetado pelo próprio<br />
imperador a uma cadeira no senado, em razão de uma desavença literária envolvendo<br />
o poeta Gonçalves de magalhães (1811-1882), que havia publicado o seu<br />
poema épico-indianista, confederação dos tamoios, sob as expensas de Pedro II.<br />
Ao declarar que sua obra se tornaria o símbolo da poesia brasileira (assim como<br />
os lusíadas, de camões, simbolizavam a poesia de portugal), recebeu críticas<br />
negativas de Alencar em artigos assinados sob o pseudônimo de Ig. Pedro II saiu<br />
em defesa do amigo poeta, com o artigo um outro Amigo do poeta. não satisfeito,<br />
proibiu Alencar de assumir o senado, alegando que ele ainda era jovem para tal<br />
cargo. inconformado, Alencar retrucou, perguntando ao imperador como alguém<br />
de 14 anos poderia, então, ter assumido o império.<br />
decepcionado com a política, passou a dedicar-se com mais freqüência<br />
à carreira literária (e também à jornalística), explorando o romance, a crônica,<br />
o teatro, a poesia e a crítica literária, tornando-se o mais completo escritor do<br />
romantismo brasileiro. José de Alencar morreu no rio de Janeiro, em 12 de dezembro<br />
de 1877, acometido pela tuberculose.<br />
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ol1c - 08<br />
obRas<br />
Romances sociais<br />
1856 – cinco minutos<br />
1857 – A viuvinha<br />
1862 – lucíola<br />
1864 – diva<br />
1870 – A pata da gazela<br />
1872 – sonhos d’ouro<br />
1875 – senhora<br />
1893 – encarnação<br />
Romances indianistas<br />
1857 – o guarani<br />
1865 – iracema<br />
1874 – ubirajara<br />
Romances regionalistas<br />
1870 – o gaúcho<br />
1871 – o tronco do ipê<br />
1874 – til<br />
1875 – o sertanejo<br />
Romances históricos<br />
1865 – As minas de prata<br />
1871 – guerra dos mascates<br />
1873 – Alfarrábios<br />
85<br />
Narrativa autobiográfica<br />
iracema<br />
1893 – como e por que sou romancista<br />
teatro<br />
1857 – o crédito<br />
1857 – verso e reverso<br />
1857 – o demônio familiar<br />
1858 – As asas de um anjo<br />
1860 – mãe<br />
1867 – A expiação<br />
1875 – o jesuíta<br />
Crítica literária e polêmica<br />
1856 – cartas sobre a confederação dos<br />
tamoios<br />
1865 – Ao imperador: cartas políticas de<br />
erasmo e novas cartas políticas de<br />
erasmo<br />
1866 – Ao povo: cartas políticas de erasmo<br />
1866 – o sistema representativo<br />
Crônica<br />
1874 – Ao correr da pena
José martiniano de Alencar Júnior<br />
4. a obRa<br />
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CaRaCteRístiCas geRais<br />
87<br />
iracema<br />
José de Alencar soube como ninguém explorar o espaço que lhe era concedido<br />
no jornal. Criou colunas para suas crônicas, publicou seus romances de<br />
folhetim, já que era muito difícil conseguir quem os editasse em livros – vale<br />
a pena lembrarmos que a primeira editora nacional só surgiu no começo do<br />
século XX, fundada por Monteiro Lobato (1882-1948). Também não se deixou<br />
intimidar, escrevendo críticas e criando polêmicas, que fizeram dele um dos<br />
nomes mais respeitados, admirados e temidos no meio jornalístico da época.<br />
Alguns de seus romances, como senhora e lucíola, já deixavam transparecer,<br />
devido aos temas tratados, características realistas; já outros, como o<br />
guarani e iracema, fizeram de Alencar o maior romancista romântico de nossa<br />
literatura. o primeiro, quando publicado no diário do rio de Janeiro, sob a forma<br />
de folhetim, causou tanto impacto, furor e frenesi na época que era comum<br />
ver pessoas em círculo escutando um leitor de boa voz contar o capítulo do<br />
dia. Já iracema, uma das obras-primas de nossa literatura, é considerada um<br />
verdadeiro poema em prosa (ou uma prosa poética?), devido à beleza e à rara<br />
sensibilidade com que nos é contada a história de martim e iracema.<br />
conhecedor de nossa cultura indígena – assim como Gonçalves dias<br />
(1823-1864) na poesia –, Alencar, como vimos, escreveu três romances indianistas:<br />
o guarani (este também com valor histórico, daí ser considerado o introdutor do<br />
romance histórico na literatura brasileira), iracema e ubirajara. em o guarani, temos<br />
a figura do índio assimilando a cultura européia de Ceci e de sua família; em iracema,<br />
temos o contrário, isto é, a figura do europeu, no caso Martim, assimilando<br />
a cultura indígena de poti e iracema. em ubirajara, temos somente a presença do<br />
índio, já que, ao contrário das duas anteriores, que se passam por volta de 1600,<br />
esta se passa antes de 1500, portanto sem a presença do elemento branco. por<br />
isso, consideramos ubirajara o mais aborígene romance de Alencar.<br />
Quanto à linguagem, Alencar adotou a coloquial. Assim, encontramos<br />
alguns erros que não ferem gravemente a nossa gramática, mas que foram duramente<br />
criticados pelo seu conterrâneo Franklin Távora (1842-1888), autor de<br />
o cabeleira e iniciador da literatura regionalista nordestina. távora, que lutava<br />
por uma literatura tipicamente brasileira (e essa literatura, para ele, obrigatoriamente<br />
tinha de ser a nordestina, única região que não havia sido influenciada<br />
pelos costumes europeus, apesar das invasões holandesas e francesas),<br />
não se conformava que um cearense, assim como ele, escrevesse de maneira<br />
europeizada. Trocaram, então, farpas literárias: Távora sob o pseudônimo de<br />
Semprônio, Alencar, sob o de Cincinato.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
CaRaCteRístiCas de iRaCema<br />
o poeta modernista manuel bandeira (1886-1968), em seu livro louvações, homenageou<br />
José de Alencar e sua obra iracema pelo centenário de sua publicação:<br />
louvo o padre, louvo o filho<br />
e louvo o espírito santo.<br />
idem louvo, exalto e canto<br />
O prosador, grande filho<br />
do norte, e que no deserto<br />
do romance nacional<br />
ergueu, escorreito e diserto,<br />
seu mundo, – um mundo imortal.<br />
Além, muito além da serra<br />
Que lá azula no horizonte,<br />
inventou a donzela insonte,<br />
símbolo da nossa terra,<br />
e escreveu o que é mais poema<br />
Que romance, e poema menos<br />
Que um mito, melhor que vênus:<br />
A doce, a meiga iracema.<br />
e o mito inda está tão jovem<br />
Qual quando o criou Alencar.<br />
debalde sobre ele chovem<br />
os anos, sem o alterar.<br />
nem uma ruga no canto<br />
dos olhos de moço brilho!<br />
louvo o padre, louvo o filho<br />
e louvo o espírito santo<br />
para muitos, a palavra iracema é o anagrama de América, isto é, o novo<br />
mundo nascido do cruzamento do velho mundo com o mundo selvagem. temos<br />
então a seguinte equação:<br />
velho mundo (europa / martim) + mundo selvagem (indígena / iracema)<br />
= novo mundo (América / moacir).<br />
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89<br />
iracema<br />
tendo como subtítulo lenda do ceará, daí não possuir o mesmo valor<br />
histórico contido em o guarani (que trata da fundação do rio de Janeiro), iracema<br />
é, portanto, uma obra alegórica sobre a colonização do ceará, podendo,<br />
perfeitamente, representar toda a colonização brasileira. desse modo, podemos<br />
considerar Moacir, o filho do sofrimento, não só o primeiro cearense, mas o<br />
primeiro brasileiro.<br />
São características românticas presentes em iracema: nacionalismo; idealização<br />
do índio como um herói (aí entra também a figura do guerreiro branco,<br />
Martim); sentimentalismo exagerado; retorno ao passado e sentimento de religiosidade<br />
cristã, como podemos perceber neste trecho:<br />
o cristão repeliu do seio a virgem indiana. ele não deixará o rastro da desgraça<br />
na cabana hospedeira. cerra os olhos para não ver, e enche sua alma com o nome e a<br />
veneração de seu deus:<br />
– cristo!... cristo!...<br />
Quanto ao foco narrativo<br />
narrado em terceira pessoa, o narrador, dotado de onisciência, isto é, sabe<br />
de tudo o que acontece com os seus personagens, mostra-se tão inspirado quanto<br />
qualquer exaltado poeta do período, deixando pelo caminho de sua narrativa<br />
um rastro de mensagens de amizade, amor, sabedoria, felicidade e família, que<br />
podemos sintetizar nesta fala de poti:<br />
– o guerreiro sem amigo é como a árvore solitária que o vento açouta no meio do<br />
campo; o fruto dela nunca amadurece. A felicidade do varão é a prole, que nasce dele e<br />
faz seu orgulho; cada guerreiro que sai de suas veias é mais um galho que leva seu nome<br />
às nuvens, como a grimpa do cedro. Amado de tupã, é o guerreiro que tem uma esposa,<br />
um amigo e muitos filhos; ele nada mais deseja senão a morte gloriosa.<br />
Quanto à linguagem<br />
como bem disse manuel bandeira, Alencar escreveu um romance que<br />
se parece mais com um poema. isso porque o romancista-poeta se utilizou de<br />
recursos estilísticos, principalmente de símiles e metáforas da fauna e da flora<br />
de nossa natureza, para a caracterização de seus personagens, tanto no aspecto<br />
físico quanto no emocional, fazendo com que eles surgissem amalgamados a<br />
essa natureza.<br />
– o gavião paira nos ares. Quando o nambu levanta, ele cai das nuvens e rasga as<br />
entranhas da vítima. O guerreiro tabajara, filho da serra é o gavião.<br />
– o guerreiro pitiguara é a ema que voa sobre a terra; nós o seguiremos como suas<br />
asas – disse iracema.<br />
– As lágrimas da mulher amolecem o coração do guerreiro, como o orvalho da<br />
manhã amolece a terra.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
Quanto ao tempo<br />
o romance iracema se passa por volta de 1600, já com a presença do colonizador<br />
europeu. essa é uma época de lutas entre portugueses e os invasores<br />
franceses e holandeses.<br />
tempos depois, quando veio Albuquerque, o grande chefe dos guerreiros brancos,<br />
martim e camarão partiram para as margens do mearim a castigar o feroz tupinambá<br />
e expulsar o branco tapuia.<br />
Quanto ao espaço<br />
As ações se passam no território cearense. A tribo tabajara (senhor das<br />
aldeias) domina o interior da província. Já a tribo pitiguara ou potiguara (senhor<br />
dos vales) domina o litoral (daí uma tribo de pescadores ou, pejorativamente, os<br />
comedores de camarão, segundo os seus inimigos).<br />
poti saudou o amigo e falou assim:<br />
– Antes que o pai de Jacaúna e poti, o valente guerreiro Jatobá mandasse sobre todos<br />
os guerreiros pitiguaras, o grande tacape da nação estava na destra de batuireté, o maior<br />
chefe, pai de Jatobá. foi ele que veio pelas praias do mar até o rio do jaguar, e expulsou<br />
os tabajaras para dentro das terras, marcando a cada tribo seu lugar; depois entrou pelo<br />
sertão até a serra que tomou seu nome.<br />
enRedo<br />
O primeiro capítulo, na verdade, é o último, em que Martim, seu filho,<br />
moacir, e o cão partem para portugal, logo após a morte de iracema. mas vamos<br />
ao enredo:<br />
martim, o guerreiro branco, vive entre os índios pitiguaras e tem o guerreiro<br />
poti como um irmão. os pitiguaras vivem no litoral, daí serem chamados<br />
também de senhores das palmeiras. numa caçada com poti, martim se perde do<br />
amigo, entrando na área habitada pelos inimigos tabajaras, tribo da índia iracema.<br />
e é justamente ela, ao sair do seu banho, quem o encontra e, pensando ser<br />
talvez ele algum mau espírito da floresta, atira nele sua flecha, acertando-o de<br />
raspão no rosto.<br />
Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha embebida no arco partiu.<br />
gotas de sangue borbulham na face do desconhecido .<br />
mas iracema percebe que martim não era um espírito, tampouco um inimigo,<br />
e o amor entre eles nasce de maneira repentina. preocupada com o ferimento,<br />
iracema leva martim para sua tribo, apresentando-o ao pajé e seu pai, Araquém,<br />
como um convidado de tupã.<br />
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A virgem aponta para o estrangeiro e diz:<br />
– ele veio, pai.<br />
– veio bem. É tupã que traz o hóspede à cabana de Araquém.<br />
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iracema<br />
Assim dizendo, o pajé passou o cachimbo ao estrangeiro; e entraram ambos na<br />
cabana.<br />
iracema era a responsável por preparar o licor da jurema, uma bebida alucinógena<br />
que, segundo a crença, fazia com que os índios entrassem em contato<br />
com tupã, o seu deus, e com outros sonhos. mas para isso ela tinha que se<br />
manter virgem.<br />
iracema voltara com as mulheres chamadas para servir o hóspede de Araquém, e<br />
os guerreiros vindos para obedecer-lhe.<br />
– guerreiro branco – disse a virgem –, o prazer embale tua rede durante a noite;<br />
e o sol traga luz a teus olhos, alegria à tua alma.<br />
e assim dizendo, iracema tinha o lábio trêmulo, e úmida a pálpebra.<br />
– tu me deixas?<br />
– As mais belas mulheres da grande taba contigo ficam.<br />
– Para elas a filha de Araquém não devia ter conduzido o hóspede à cabana do Pajé.<br />
– estrangeiro, iracema não pode ser sua serva. É ela que guarda o segredo da jurema<br />
e o mistério do sonho. sua mão fabrica para o pajé a bebida de tupã.<br />
por estar martim com saudade de sua pátria e de seus pais, e sabendo ainda<br />
que ele deixara a sua noiva em Portugal, Iracema lhe prepara a bebida, para que<br />
ele os visse e matasse assim a sua saudade.<br />
– bebe!<br />
martim sentiu perpassar nos olhos o sono da morte; porém logo a luz inundou-lhe<br />
os seios d’alma; a força exuberou em seu coração. reviveu os dias passados melhor do que<br />
os tinha vivido: fruiu a realidade de suas mais belas esperanças.<br />
ei-lo que volta à terra natal, abraça a velha mãe, revê mais lindo e terno o anjo<br />
puro dos amores infantis.<br />
irapuã, chefe dos tabajaras, ao saber da presença do branco em sua tribo<br />
e de seu envolvimento com Iracema, por quem era apaixonado, enciúma-se e o<br />
desafia para um combate.<br />
– O coração aqui no peito de Irapuã ficou tigre. Pulou de raiva. Veio farejando a<br />
presa. o estrangeiro está no bosque, e iracema o acompanhava. Quero beber-lhe o sangue<br />
todo: quando o sangue do guerreiro branco correr nas veias do chefe tabajara, talvez o<br />
ame a filha de Araquém.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
iracema protege martim da ira de irapuã. mas o seu desejo é vê-lo longe<br />
dos campos tabajaras e revela-lhe o seu segredo:<br />
– Guerreiro branco, Iracema é filha do Pajé, e guarda o segredo da jurema. O<br />
guerreiro que possuísse a virgem de tupã morreria.<br />
caubi é destinado por seu pai, Araquém, a ser o guia de martim, levandoo<br />
em segurança até a presença de poti. entretanto, os tabajaras os perseguem e<br />
iracema tem de voltar à cabana de seu pai, onde martim é escondido.<br />
Quem seus olhos primeiro viram, martim, estava tranqüilamente sentado em<br />
uma sapopema, olhando o que passava ali. contra, cem guerreiros tabajaras com irapuã<br />
à frente, formavam arco. o bravo caubi os afrontava a todos, com o olhar cheio de ira e<br />
as armas valentes empunhadas na mão robusta.<br />
o chefe exigira a entrega do estrangeiro, e o guia respondera simplesmente:<br />
– matai caubi antes.<br />
A filha do Pajé passara como uma flecha: ei-la diante de Martim, opondo também seu<br />
corpo gentil aos golpes dos guerreiros. irapuã soltou o bramido a onça atacada na furna.<br />
– filha do pajé – disse caubi em voz baixa –, conduz o estrangeiro à cabana: só<br />
Araquém pode salvá-lo.<br />
iracema prepara novamente o licor da jurema para martim, que desta vez<br />
sonha em possuir a bela índia.<br />
– vai, e torna com o vinho de tupã.<br />
Quando iracema foi de volta, já o pajé não estava na cabana; tirou a virgem do<br />
seio o vaso que ali trazia oculto sob a carioba de algodão entretecida de penas. martim<br />
lhe arrebatou das mãos, e libou as gotas do verde e amargo licor.<br />
Agora podia viver com Iracema, e colher em seus lábios o beijo, que ali viçava<br />
entre sorrisos, como o fruto na corola da flor. Podia amá-la, e sugar desse amor o mel e o<br />
perfume, sem deixar veneno no seio da virgem.<br />
(...)<br />
A filha de Araquém escondeu no coração a sua ventura. Ficou tímida e inquieta,<br />
como a ave que pressente a borrasca no horizonte. Afastou-se rápida, e partiu.<br />
As águas do rio banharam o corpo casto de recente esposa.<br />
tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras.<br />
os guerreiros tabajaras vão ao encontro de Araquém no bosque sagrado<br />
para o ritual do mistério da jurema. o pajé decreta a cada guerreiro um sonho<br />
enquanto distribui a bebida de tupã preparada por iracema:<br />
este, grande caçador, sonha que os veados e as pacas correm de encontro às suas<br />
flechas para se transpassarem nelas (...).<br />
92
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93<br />
iracema<br />
outro, fogoso em amores, sonha que as mais belas virgens tabajaras deixam a<br />
cabana de seus pais e o seguem cativas de seu querer (...).<br />
o herói sonha tremendas lutas e horríveis combates, de que sai vencedor, cheio de<br />
glória e fama.<br />
enquanto estão sob o efeito da bebida, iracema, proibida de presenciar o<br />
ritual, aproveita para levar martim ao encontro de poti. Ao transporem as terras<br />
dos tabajaras, pisando já na dos pitiguaras, a índia dos lábios de mel revela a<br />
martim que o que houve entre eles não tinha sido um sonho, portanto ela não<br />
era mais virgem, muito menos a protegida de tupã. e já se considerava mulher<br />
de martim, que a aceita como tal. mas os índios tabajaras, já refeitos do ritual<br />
sagrado, perseguem-nos novamente. Quando tudo parecia perdido, surgem os<br />
guerreiros pitiguaras, chefiados por Jacaúna, irmão de Poti, que derrotam os<br />
tabajaras. iracema se entristece ao ver os cadáveres de seus irmãos no campo de<br />
batalha, enquanto os sobreviventes fugiam envergonhados.<br />
iracema silvou como a boicininga; e arrojou-se contra a fúria do guerreiro tabajara.<br />
A arma rígida tremeu na destra possante do chefe e o braço caiu-lhe desfalecido.<br />
soava a pocema da vitória. os guerreiros pitiguaras conduzidos por Jacaúna e poti<br />
varriam a floresta. Fugindo, os tabajaras arrebataram seu chefe ao ódio da filha de Araquém<br />
que o podia abater, como a jandaia abate o prócero coqueiro roendo-lhe o cerne.<br />
Os olhos de Iracema, estendidos pela floresta, viram o chão juncado de cadáveres de seus<br />
irmãos; e longe o bando dos guerreiros tabajaras que fugiam nuvem negra de pó. Aquele sangue<br />
que enrubescia a terra, era o mesmo sangue brioso que lhe ardia nas faces de vergonha.<br />
o pranto orvalhou seu lindo semblante.<br />
martim afastou-se para não envergonhar a tristeza de iracema.<br />
Ao chegarem ao litoral, martim e iracema se hospedam na tribo pitiguara.<br />
mas a índia não se sente à vontade vivendo numa tribo inimiga da sua. partem,<br />
então, à procura de uma terra que não fosse dominada pela grande nação “dos<br />
comedores de camarão”. Com o auxílio de Poti, Martim constrói a cabana na<br />
terra em que nasceria o próprio Alencar, mecejana.<br />
– estes campos são alegres, e ainda mais serão quando iracema neles habitar. Que<br />
diz teu coração?<br />
– o coração da esposa está sempre alegre junto de seu guerreiro e senhor.<br />
seguindo pela margem do rio, o cristão escolheu um lugar para levantar a cabana.<br />
Poti cortou esteios dos troncos da carnaúba; a filha de Araquém ligava os leques<br />
da palmeira para vestir o teto e as paredes; martim cavou a terra e fabricou a porta das<br />
fasquias da taquara.<br />
Quando veio a noite, os dois esposos armaram a rede em sua nova cabana; e o amigo<br />
no copiar que olhava para o nascente.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
iracema dá a martim a notícia de sua gravidez:<br />
travou da mão do esposo, e impôs no regaço:<br />
– Teu sangue já vive no seio de Iracema. Ela será mãe de teu filho.<br />
– filho, dizes tu? – exclamou o cristão em júbilo.<br />
Ajoelhou ali e cingindo-a com os braços, beijou o seio fecundo da esposa.<br />
mas um mensageiro pitiguara, mandado por Jacaúna, convoca poti para<br />
uma grande batalha: irapuã havia feito uma aliança com os brancos tapuias,<br />
como eram chamados os franceses pelos pitiguaras, para combater a grande<br />
nação de Jacaúna. Martim, guerreiro branco, deixa Iracema grávida, partindo<br />
ao lado de poti.<br />
caminhando, caminhando, chegaram os guerreiros à margem de um lago, que<br />
havia nos tabuleiros.<br />
o cristão parou de repente e voltou o rosto para as bandas do mar: a tristeza saiu<br />
de seu coração e subiu à fronte.<br />
– Meu irmão – disse o chefe –, teu pé criou raiz na terra do amor, fica: Poti voltará<br />
breve.<br />
– teu irmão te acompanha – ele disse –; e sua palavra é como a seta de teu arco:<br />
quando soa, é chegada.<br />
– Queres tu que iracema te acompanhe às margens do Acaracu?<br />
– nós vamos combater seus irmãos. A taba dos pitiguaras não terá para ela mais<br />
que tristeza e dor. A filha dos tabajaras deve ficar.<br />
novamente os pitiguaras derrotam os tabajaras, irmãos de iracema:<br />
martim e seu irmão haviam chegado à taba de Jacaúna, quando soava a inúbia: eles<br />
guiaram ao combate os mil arcos de poti. Ainda dessa vez os tabajaras, apesar da aliança<br />
dos brancos tapuias do mearim, foram levados de vencida pelos valentes pitiguaras.<br />
nunca tão disputada vitória e tão renhida pugna, se pelejou nos campos que regam<br />
o Acararu e o camucim; o valor era igual de parte a parte, e nenhum dos dois povos fora<br />
vencido, se o deus da guerra, o torvo Aresqui, não tivesse decidido dar estas plagas à raça<br />
do guerreiro branco, aliada dos pitiguaras.<br />
Ao retornar, martim encontra iracema triste, pois percebe que o seu amado<br />
tem o pensamento em sua terra natal e na noiva que deixara por lá:<br />
– o que espreme as lágrimas do coração de iracema?<br />
– Chora o cajueiro quando fica tronco seco e triste. Iracema perdeu sua felicidade,<br />
depois que te separaste dela.<br />
– não estou eu junto de ti?<br />
94
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95<br />
iracema<br />
– teu corpo está aqui; mas tua alma voa à terra de teus pais, e busca a virgem<br />
branca, que te espera.<br />
martim doeu-se. os grandes olhos negros que a indiana pousara nele o tinham<br />
ferido no íntimo.<br />
– o guerreiro branco é teu esposo, ele te pertence.<br />
sorriu em sua tristeza a formosa tabajara:<br />
– Quanto tempo há que retiraste de iracema teu espírito? dantes, teu passo te<br />
guiava para as frescas serras e alegres tabuleiros: teu pé gostava de pisar a terra da<br />
felicidade, e seguir o rasto da esposa. Agora só buscas as praias ardentes, porque o mar<br />
que lá murmura vem dos campos em que nasceste; e o morro das areias, porque do alto<br />
se avista a igara que passa.<br />
iracema tem consciência de que faz do seu amado um infeliz. martim parte<br />
novamente para guerrear ao lado dos pitiguaras. enquanto martim guerreia,<br />
nasce o seu filho. Iracema dá-lhe o nome de Moacir:<br />
iracema, sentindo que se lhe rompia o seio, buscou a margem do rio, onde crescia<br />
o coqueiro.<br />
estreitou-se com a haste da palmeira. A dor lacerou suas entranhas; porém logo o<br />
choro infantil inundou sua alma de júbilo.<br />
A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tomou o tenro filho nos braços e com<br />
ele arrojou-se às águas límpidas do rio. depois suspendeu-o à teta mimosa; seus olhos o<br />
envolviam de tristeza e amor.<br />
– tu és moacir, o nascido de meu sofrimento.<br />
caubi, irmão de iracema, aparece, dando-lhe notícias de Araquém,<br />
que nunca mais ergueu a cabeça depois que a filha partiu. iracema pede<br />
a caubi que conte ao pai sobre a morte da filha, para, assim, aliviar o seu<br />
sofrimento.<br />
Iracema não tem leite para amamentar o seu filho. Filhotes de cachorro<br />
sugam o seu peito e:<br />
A feliz mãe arroja de si os cachorrinhos, e cheia de júbilo mata a fome ao filho. Ele<br />
é agora duas vezes filho de sua dor, nascido dela e também nutrido.<br />
Ao retornar para iracema, martim a encontra enfraquecida e ela, com grande<br />
esforço, entrega-lhe moacir. Antes de morrer, faz um último pedido:<br />
– enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que tu amavas. Quando o<br />
vento do mar soprar nas folhas, iracema pensará que é tua voz que fala entre seus<br />
cabelos.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
Martim, seu filho, Moacir, e o cão partem para Portugal. Algum tempo<br />
depois, voltam e colonizam o ceará.<br />
o primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da pátria. Havia aí a predestinação<br />
de uma raça.<br />
(...)<br />
Afinal volta Martim de novo às terras, que foram de sua felicidade, e são agora de<br />
amarga saudade.<br />
(...)<br />
era sempre com emoção que o esposo de iracema revia as plagas onde fora tão feliz,<br />
e as verdes folhas a cuja sombra dormia a formosa tabajara.<br />
peRsonagens<br />
iracema (lábios de mel) – Índia tabajara, responsável por preparar o licor<br />
da jurema, bebida que provoca alucinações em seus guerreiros. Apaixona-se por<br />
martim, colonizador português, com quem perde a sua virgindade, quebrando a<br />
tradição da jurema. iracema representa o amor e a abnegação, morrendo em favor<br />
da colonização européia. como sabemos, iracema é o anagrama de América. na<br />
descrição abaixo, notem que a natureza serve de recurso para a caracterização<br />
da índia, entretanto a índia é superior à natureza:<br />
iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da<br />
graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.<br />
o favo da jati não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque<br />
como seu hálito perfumado.<br />
mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do<br />
ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. o pé grácil e nu, mal<br />
roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.<br />
martim (filho de guerreiro) – Português que passa a viver entre os índios<br />
pitiguaras. Seu nome deriva de Marte, deus da guerra, daí dar mais importância<br />
às batalhas do que propriamente ao amor que nutria por iracema.<br />
e é a própria iracema quem o batiza com o nome indígena de coatiabo,<br />
isto é, guerreiro pintado.<br />
Aliás, martim não sente remorso nenhum em lutar contra os tabajaras, tribo<br />
a que pertencia iracema. Historicamente, martim soares moreno participou das<br />
lutas contra os holandeses e franceses que invadiram o nordeste brasileiro.<br />
diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e<br />
não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar,<br />
nos olhos o azul triste das águas profundas. ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe<br />
o corpo.<br />
96
ol1c - 08<br />
97<br />
iracema<br />
poti (camarão) – Guerreiro pitiguara, amigo de martim. convertido ao<br />
cristianismo, recebeu o nome de Antônio Filipe Camarão. Historicamente,<br />
participou, ao lado dos portugueses, da guerra contra os invasores holandeses,<br />
com a patente de capitão-mor dos índios. em iracema, poti simboliza a amizade<br />
sincera e inquebrantável.<br />
o valente poti, resvalando pela relva, como o ligeiro camarão, de que ele tomara<br />
o nome e a viveza, desapareceu no lago profundo. A água não soltou um murmúrio, e<br />
cerrou sobre ele sua onda límpida.<br />
araquém – pajé dos tabajaras e pai de iracema. recebe martim em sua tribo,<br />
julgando-o ser um convidado de tupã. simboliza a sabedoria adquirida com a<br />
velhice (como todo pajé em uma tribo). É o responsável, no bosque sagrado, por<br />
distribuir os sonhos no momento em que os guerreiros tabajaras bebem o licor<br />
da jurema, preparado por Iracema. Com a partida da filha, sua cabeça vergou para<br />
o peito e não se ergueu mais.<br />
o ancião fumava à porta, sentado na esteira de carnaúba, meditando os sagrados<br />
ritos de tupã. o tênue sopro da brisa carmeava, como frocos de algodão, os compridos e<br />
raros cabelos brancos. de imóvel que estava, sumia a vida nos olhos cavos e nas rugas<br />
profundas.<br />
Caubi (senhor do caminho) – Irmão de Iracema. É designado por seu<br />
pai, Araquém, para ser o guia de martim até o encontro com poti. mais tarde,<br />
reencontra a irmã, quando pela primeira vez Martim a deixara para guerrear,<br />
trazendo-lhe notícias de seu pai Araquém.<br />
– filha de Araquém, escolhe para teu hóspede o presente da volta e prepara o moquém<br />
da viagem. se o estrangeiro precisa de guia, o guerreiro caubi, senhor do caminho,<br />
o acompanhará.<br />
andira (morcego) – Índio tabajara, irmão do pajé Araquém. Assim como<br />
o irmão, é prudente, mas acaba sendo ofendido por irapuã, por este não aceitar<br />
o seu conselho de não ir atrás dos pitiguaras e esperá-los para o combate.<br />
– Andira, o velho Andira, bebeu mais sangue na guerra do que já beberam cauim<br />
nas festas de tupã, todos quantos guerreiros alumia agora a luz de seus olhos. ele viu mais<br />
combates em sua vida, do que as luas lhe despiram a fronte. Quanto crânio de potiguara<br />
escalpelou sua mão implacável, antes que o tempo lhe arrancasse o primeiro cabelo? e o<br />
velho Andira nunca temeu que o inimigo pisasse a terra de seus pais; mas alegrava-se<br />
quando ele vinha, e sentia com o faro da guerra a juventude renascer no corpo decrépito,<br />
como a árvore seca renasce com o sopro do inverno. A nação tabajara é prudente. ela<br />
deve encostar o tacape da luta para tanger o membi da festa. celebra, irapuã, a vinda<br />
dos emboabas e deixa que cheguem todos aos nossos campos. então Andira te promete o<br />
banquete da vitória.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
irapuã (mel redondo) – Chefe dos tabajaras e apaixonado por Iracema. Daí<br />
o seu ciúme doentio, o seu ódio por martim e o desejo de matá-lo a qualquer<br />
custo. Assim como poti e martim, irapuã também é um personagem histórico, só<br />
que é inimigo declarado dos portugueses e aliado dos franceses que invadiram<br />
o maranhão.<br />
Desabriu, enfim, Irapuã a funda cólera:<br />
– Fica tu, escondido entre as igaçabas de vinho, fica, velho morcego, porque temes<br />
a luz do dia, e só bebes o sangue da vítima que dorme. irapuã leva a guerra no punho de<br />
seu tacape. o terror que ele inspira voa com o rouco som do boré. o potiguara já tremeu<br />
ouvindo o rugir na serra, mais forte que o ribombo do mar.<br />
Jacaúna (jacarandá preto) – Grande chefe dos pitiguaras e irmão de poti.<br />
outro personagem histórico, foi amigo de martim soares moreno, lutando ao seu<br />
lado contra os holandeses e franceses. Assim como Araquém, Jacaúna representa<br />
a boa hospitalidade. Seu colar de guerra fazia voltas em seu pescoço, exibindo<br />
os dentes dos inimigos por ele derrotados.<br />
– Jacaúna é um grande chefe, seu colar de guerra dá três voltas ao peito. o tabajara<br />
pertence ao guerreiro branco.<br />
moacir (filho do sofrimento) – Filho de Iracema e Martim, simboliza não<br />
só o primeiro cearense, mas o primeiro brasileiro. com a morte de iracema,<br />
martim o leva para portugal, para depois retornarem, dando início à colonização<br />
européia.<br />
o primeiro cearense, ainda no berço, emigrava da terra da pátria. Havia aí a predestinação<br />
de uma raça?<br />
QUatRo índias e Um sÓ destino<br />
O sofrimento que só vê o seu alívio com a morte não é exclusivo da índia<br />
iracema. outras três índias também foram marcadas em nossa literatura por essa<br />
tragicidade: lindóia, moema e ci.<br />
lindóia, personagem de o uraguai, poema épico do árcade José basílio<br />
da Gama (1740-1795), protagoniza a parte mais importante da obra ao se deixar<br />
picar por uma serpente no seio. Após a morte de seu marido e chefe cacambo,<br />
envenenado a mando do padre balda, lindóia não se submete às ordens do sacerdote,<br />
que a obrigava a ser casar com Baldeta (filho do padre Balda com uma<br />
índia), optando então por morrer.<br />
o mesmo acontece com moema – personagem de caramuru, outro poema<br />
épico do também árcade Frei José de santa rita durão (1722-1784) –, que se deixa<br />
afogar quando seguia a nado o navio que levava o seu grande amor, Diogo<br />
álvares correia, e a índia paraguaçu para a França, onde se casariam.<br />
98
ol1c - 08<br />
99<br />
iracema<br />
ci – personagem de macunaíma, do modernista mário de Andrade<br />
(1893-1945) –, chefe das amazonas, é seduzida por Macunaíma, apaixona-se por<br />
ele, mas “sobe ao céu por um cipó” após perder o seu filho recém-nascido, que<br />
mamara em seu peito envenenado pela grande cobra preta.<br />
portanto, quatro índias unidas pelo mesmo sofrimento, que se desencadeia,<br />
inevitavelmente, para a morte, como podemos notar nos três trechos a seguir:<br />
cansada de viver, tinha escolhido<br />
para morrer a mísera lindóia.<br />
(...)<br />
o desgraçado irmão, que ao despertá-la<br />
conhece, com que dor! no frio rosto<br />
os sinais do veneno, e vê ferido<br />
pelo dente sutil o brando peito.<br />
(...)<br />
e por todas as vezes repetido<br />
o suspirado nome de cacambo.<br />
inda conserva o pálido semblante<br />
um não sei quê de magoado e triste,<br />
Que os corações mais duros enternece<br />
tanto era bela em seu rosto a morte.<br />
tão dura ingratidão menos sentira<br />
e esse fado cruel e doce me fora,<br />
se o meu despeito triunfar não vira<br />
o uraguai<br />
essa indigna, essa infame, essa traidora.<br />
por serva, por escrava, te seguira.<br />
se não temera de chamar senhora<br />
A vil paraguaçu, que, sem que o creia,<br />
sobre ser-me inferior, é néscia e feia.<br />
Enfim, tens coração de ver-me aflita,<br />
flutuar, moribunda, entre estas ondas;<br />
A um ai somente, com que aos meus respondas.<br />
bárbaro, se esta fé teu peito irrita,<br />
nem o passado amor teu peito incita
José martiniano de Alencar Júnior<br />
(Disse, vendo-o fugir) ah, não te escondas<br />
dispara sobre mim teu cruel raio...”<br />
e indo a dizer o mais, cai num desmaio.<br />
perde o lume dos olhos, pasma e treme,<br />
pálida a cor, o aspecto moribundo;<br />
com a mão já sem vigor, soltando o leme,<br />
entre as salsas escumas desce ao fundo.<br />
mas na onda do mar, que, irado, freme<br />
tornando a aparecer desde o profundo,<br />
– Ah, diogo cruel! – disse com mágoa, –<br />
e sem mais vista ser, sorveu-se na água<br />
caramuru<br />
terminada a função a companheira de macunaíma toda enfeitada ainda, tirou do<br />
colar uma muiraquitã famosa, deu-a pro companheiro e subiu pro céu por um cipó. É<br />
lá que ci vive agora nos trinques passeando, liberta das formigas, toda enfeitada ainda,<br />
toda enfeitada de luz, virada uma estrela. É a beta do centauro.<br />
5. exeRCíCios<br />
100<br />
macunaíma<br />
1. UFmg<br />
todas as personagens de iracema, de José de<br />
Alencar, estão corretamente explicadas, exceto:<br />
a) A filha de Araquém escondeu no coração a sua<br />
ventura. ficou tímida e quieta como a ave que<br />
pressente a borrasca no horizonte.<br />
= iracema entrega-se a martim.<br />
b) iracema preparou as tintas. o chefe, embebendo as<br />
ramas da pluma, traçou pelo corpo os riscos vermelhos e pretos, que ornavam a grande<br />
nação pitiguara.<br />
= o chefe pinta martim, preparando-o para o combate com os tabajaras.<br />
c) iracema, sentindo que se lhe rompia o seio, buscou a margem do rio, onde crescia o coqueiro.<br />
= iracema prepara-se para dar à luz moacir.<br />
d) o guerreiro branco é hóspede de Araquém. A paz o trouxe aos campos do ipu, a paz<br />
o guarda.<br />
= iracema protege martim da fúria de irapuã.<br />
e) rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. ergue a virgem os olhos, que o sol<br />
não deslumbra, sua vista perturba-se.<br />
= martim aparece pela primeira vez a iracema, que saía do banho.
ol1c - 08<br />
101<br />
iracema<br />
2. ime-RJ<br />
Na visão romântica de José de Alencar, o índio é:<br />
a) descrito como um ser preguiçoso, que passa o tempo sentado à porta da cabana.<br />
b) um defensor árduo dos animais que são por ele atraídos.<br />
c) idealizado para assumir características européias.<br />
d) exterminado para que os cristãos povoem as nossas terras.<br />
e) nenhuma das repostas anteriores.<br />
3. Fatec-sp<br />
em iracema, de José de Alencar, observa-se que o autor:<br />
a) procurou ser fiel à tradição histórica, e suas personagens foram participantes<br />
de episódios reais da colonização brasileira.<br />
b) procurou basear-se na história da colonização para recompor, em termos<br />
poéticos, as origens do ceará.<br />
c) procurou explorar o lado pitoresco e sentimental da vida dos índios, na época<br />
em que os portugueses ainda não haviam chegado.<br />
d) procurou enfatizar o problema da destruição da cultura indígena pelo domínio<br />
português.<br />
e) procurou negar a existência de conflitos culturais entre colonizadores e nativos.<br />
4. pUC-sp<br />
iracema constitui com o guarani e ubirajara a trilogia dos romances indianistas<br />
de José de Alencar. Na poesia, Gonçalves Dias também exaltou o índio em textos<br />
como i-Juca pirama, leito de folhas verdes, marabá, o canto do piaga, além do poema<br />
épico os timbiras. pergunta-se: o que representou o indianismo na literatura<br />
romântica brasileira?<br />
5.<br />
Leia o trecho abaixo:<br />
estreitou-se com a haste da palmeira. A dor lacerou suas entranhas; porém logo o choro<br />
infantil inundou sua alma de júbilo. A jovem mãe, orgulhosa de tanta ventura, tomou o<br />
tenro filho nos braços e com ele arrojou-se às águas límpidas do rio. Depois suspendeu-o<br />
à teta mimosa; seus olhos então o envolviam de tristeza e amor.<br />
– tu és moacir, o nascido de meu sofrimento.<br />
Considere atentamente as seguintes afirmações, que se referem não só ao texto<br />
anterior como também ao contexto do romance iracema.<br />
i. A protagonista divide-se entre a tristeza e a alegria: esta, pelo nascimento do<br />
filho mestiço; aquela, por sentir que não viverá para vê-lo crescer.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
ii. um dos procedimentos estilísticos de Alencar em seu romance está nas sugestivas<br />
aproximações entre expressões em tupi e o significado em português,<br />
como a que se dá na fala da protagonista.<br />
iii. o nascimento de moacir representa, simbolicamente, a heróica, mas inútil,<br />
resistência dos guerreiros tabajaras à colonização do branco europeu.<br />
Das afirmações anteriores:<br />
a) apenas ii é verdadeira.<br />
b) apenas iii é verdadeira.<br />
c) apenas i e ii são verdadeiras.<br />
d) apenas ii e iii são verdadeiras.<br />
e) i, ii e iii são verdadeiras.<br />
6. Fuvest-sp<br />
Sobre o romance indianista de José de Alencar, pode-se afirmar que:<br />
a) analisa as reações psicológicas da personagem como um efeito das influências<br />
sociais.<br />
b) é um composto resultante de formas originais do conto.<br />
c) dá forma ao herói, amalgamando-o à vida da natureza.<br />
d) representa contestação política ao domínio português.<br />
e) mantém-se preso aos modelos legados pelos clássicos.<br />
7. Unisul-sC<br />
Assinale a alternativa incorreta a respeito de iracema, de José de Alencar.<br />
a) Nela aponta-se a confluência dos gêneros literários lírico e épico.<br />
b) É uma exaltação da flora, da fauna e da terra brasileiras.<br />
c) retrata a luta pela colonização do ceará, no início do século Xvii.<br />
d) É uma obra essencialmente lírica, pois é repleta de elementos sonoros.<br />
e) iracema pode ser considerada a personagem-símbolo da terra-mãe que seduz<br />
o estrangeiro.<br />
8. Fuvest-sp<br />
iracema faz parte da tríade indianista de José de Alencar, juntamente com outros<br />
dois romances.<br />
a) Quais?<br />
b) Cada um desses romances teria uma finalidade histórica. Qual teria sido a<br />
intenção do autor com iracema?<br />
102
ol1c - 08<br />
103<br />
iracema<br />
9. UFmg<br />
Leia a afirmativa a seguir, em que José de Alencar critica a visão dos cronistas<br />
europeus sobre os indígenas:<br />
os historiadores, cronistas e viajantes da primeira época, se não de todo o período<br />
colonial, devem ser lidos à luz de uma crítica severa (...) Homens cultos, filhos de uma<br />
sociedade velha e curtida por longo trato de séculos, queriam esses forasteiros achar nos<br />
indígenas de um mundo novo e segregado da civilização universal uma perfeita conformidade<br />
de idéias e costumes.<br />
Apesar de sua visão crítica, Alencar, em iracema, adota a mesma atitude, quando:<br />
a) apresenta metaforicamente o índio como representante do homem brasileiro.<br />
b) atribui às personagens indígenas um comportamento baseado em códigos<br />
europeus.<br />
c) recupera para a literatura a memória da fauna, da flora e da toponímia indígenas.<br />
d) tenta ser fiel ao espírito da língua indígena na composição das imagens.<br />
10.<br />
Assinale a alternativa incorreta a respeito de iracema, de José de Alencar.<br />
a) o livro faz parte de um painel que mostra a contribuição de brancos, índios e<br />
negros na constituição da nacionalidade brasileira, ao lado de romances como<br />
o gaúcho e As minas de prata.<br />
b) esta obra corresponde ao desejo de José de Alencar de escrever um livro que<br />
tratasse das origens da nacionalidade brasileira, característica comum aos<br />
projetos românticos brasileiros.<br />
c) As personagens indígenas são idealizadas como boas ou más, conforme o<br />
apoio que davam ou não ao colonizador português, num maniqueísmo bastante<br />
comum ao romantismo.<br />
d) “– senhor de iracema, cerra seus ouvidos para que ela não ouça.” – esta é<br />
uma fala de iracema. o uso da terceira pessoa dirigida a ela própria é um<br />
recurso do autor para tentar recriar a linguagem que ele considerava próxima<br />
à indígena.<br />
e) símiles de elementos da terra – vegetais e animais – e da linguagem indígena<br />
dão à narrativa um certo exotismo buscado pelo autor, aproximando-a, ao<br />
mesmo tempo, do mito.
José martiniano de Alencar Júnior<br />
gabaRito<br />
1. b<br />
2. c<br />
3. b<br />
4. o índio, para o romantismo brasileiro, tem a<br />
mesma simbologia que o cavaleiro medieval<br />
para o romantismo português, isto é, o símbolo<br />
da nacionalidade, do heroísmo de uma<br />
pátria livre.<br />
5. c<br />
6. c<br />
104<br />
7. d<br />
8.<br />
a) o guarani e ubirajara.<br />
b) narrar a lenda da fundação do ceará e a<br />
mistura das raças indígena (iracema) e branca<br />
(martim), criando o primeiro brasileiro<br />
(moacir).<br />
9. b<br />
10. A