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Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

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chega a crer que partiu, a crer n'ausência,<br />

que já não tem presente o bem querido;<br />

quando, ce<strong>de</strong>ndo à força da evidência,<br />

nem lhe resta uma nuvem <strong>de</strong> esperança<br />

para os olhos vendar da consciência;<br />

não é <strong>de</strong>certo um tempo <strong>de</strong> bonança!<br />

Longe a certeza acorda a tempesta<strong>de</strong>,<br />

que perto sobre a dúvida <strong>de</strong>scansa!<br />

E quanto mais conhece-se a verda<strong>de</strong>,<br />

mais funda, mais pungente e mais dorida,<br />

se vai abrindo a chaga da sauda<strong>de</strong>!...<br />

É esta aqui, meu Brito, a minha vida!<br />

Nem exagera a pena meu tormento,<br />

em poéticas tintas embebida!<br />

Tenho n'alma um cruel pressentimento<br />

(talvez não mui remota profecia<br />

que não posso apagar do pensamento!)<br />

Espero cedo o meu extremo dia;<br />

e a morte, da pátria tão distante,<br />

é quadro que me abate <strong>de</strong> agonia!<br />

A sauda<strong>de</strong> tornou-me tolerante!<br />

Que importa ser da pátria <strong>de</strong>sprezado?<br />

Serei sempre da pátria filho amante.<br />

Se outrora, contra ela conspirado,<br />

os males que me fez lancei-lhe em rosto,<br />

hoje tudo lhe tenho perdoado.<br />

Dos lances em que a sorte me tem posto<br />

esquecido, o <strong>de</strong>sgosto <strong>de</strong> não vê-la<br />

é dos <strong>de</strong>sgostos meus maior <strong>de</strong>sgosto!<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

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