Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
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presente <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong> ti,<br />
na hora da <strong>de</strong>spedida<br />
em que tudo (exceto a vida<br />
para chorar-te) perdi!<br />
Se d'alma a essência celeste<br />
pu<strong>de</strong>sse ser transmitida,<br />
o retrato que me <strong>de</strong>ste<br />
não fora um corpo sem vida<br />
que, ao vê-lo, minh'alma ar<strong>de</strong>nte,<br />
no transporte mais veemente,<br />
sente ao semblante subir,<br />
e nos olhos con<strong>de</strong>nsada,<br />
em lágrimas transformada,<br />
sobre o retrato cair.<br />
Aos tormentos que já sobram<br />
novos reúne a sauda<strong>de</strong>;<br />
os seus negrumes redobram<br />
as sombras da soleda<strong>de</strong>.<br />
na mente a imagem se agita<br />
<strong>de</strong>ssa ventura infinita<br />
que junto a ti <strong>de</strong>sfrutei,<br />
em quadros tão sedutores,<br />
quais nunca dos meus amores,<br />
nem nos sonhos divisei.<br />
O amor com que me abraças,<br />
então não posso dizer!<br />
Da sauda<strong>de</strong> sinto as asas<br />
no coração me bater;<br />
e contemplando os espaços<br />
que te roubam aos meus braços,<br />
e que não posso transpor,<br />
perco a luz, e <strong>de</strong>smaiada<br />
cai-me a fronte atordoada<br />
<strong>Poesias</strong> completas<br />
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