Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

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18.04.2013 Views

de duas redenções; mostrando um'alma limpa do crime primitivo no corpo de um cativo que quebra os seus grilhões. Que assunto mais merece um hino de poesia? Que dia tem mais dia? Que feito tem mais Luz? Do cativeiro um anjo quebrando infames laços, à cruz estende os braços e os braços lhe abre a cruz. Perfilha Deus o anjo na filiação da graça, e o ser que o crime embaça puniu a redenção! E o homem, dissipando do berço insano agravo, em menos um escravo abraça um novo irmão! Que foras, inocente, que foras, nesta vida, da escravidão perdida no bárbaro bazar!? Pobre rola ferida da infâmia pelo espinho, em que ramo, em que ninho te havias de aninhar? Infante, sem afagos, temendo-te altiveza, Poesias completas 82

querendo-te a vileza plantar no coração, dariam-te nos gestos, nas vestes, no aposento, na mesa, no alimento, somente -escravidão! Donzela (oh! sacrilégio!) amor, qual flor sem viço, mil vezes é serviço que fero senhor quer! É dor que o fel requinta, que a ímpia sorte agrava daquela que é escrava depois de ser mulher! Se mãe (é mãe escrava!) Quem sabe se verias teu filho mãos ímpias do seio te arrancar? E surdos ao teu pranto mandarem-te com calma do seio da tua alma a outro alimentar?! Criança mas sem veres da infância as verdes cores, donzela sem amores, talvez alam sem Deus! Não foras arrastada da vida pelos trilhos, nem tu, e nem teus filhos seriam filhos teus. Ó vós que hoje lhe destes Poesias completas 83

querendo-te a vileza<br />

plantar no coração,<br />

dariam-te nos gestos,<br />

nas vestes, no aposento,<br />

na mesa, no alimento,<br />

somente -escravidão!<br />

Donzela (oh! sacrilégio!)<br />

amor, qual flor sem viço,<br />

mil vezes é serviço<br />

que fero senhor quer!<br />

É dor que o fel requinta,<br />

que a ímpia sorte agrava<br />

daquela que é escrava<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser mulher!<br />

Se mãe (é mãe escrava!)<br />

Quem sabe se verias<br />

teu filho mãos ímpias<br />

do seio te arrancar?<br />

E surdos ao teu pranto<br />

mandarem-te com calma<br />

do seio da tua alma<br />

a outro alimentar?!<br />

Criança mas sem veres<br />

da infância as ver<strong>de</strong>s cores,<br />

donzela sem amores,<br />

talvez alam sem Deus!<br />

Não foras arrastada<br />

da vida pelos trilhos,<br />

nem tu, e nem teus filhos<br />

seriam filhos teus.<br />

Ó vós que hoje lhe <strong>de</strong>stes<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

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