18.04.2013 Views

Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

as dores cessam mal que chega a morte,<br />

sangue as feridas lhe não vertem mais.<br />

Desta ferida nada o sangue estanca...<br />

A dor recresce mais, e mais pungente;<br />

morta minha alma para os gozos todos,<br />

só vê que vive pela dor que se sente.<br />

O céu perdoe a quem assim compensa<br />

os sacrifícios <strong>de</strong>ste coração;<br />

porém a mágoa me <strong>de</strong>svaira a mente:<br />

se não há crime, como haver perdão?<br />

A fronte curva, <strong>de</strong>linqüente altivo,<br />

a fronte curva, não és mais que um réu;<br />

teu bafo impuro, que o pecado alenta,<br />

acen<strong>de</strong> o raio que te arroja o céu.<br />

Perdão!... mas seja para mim somente,<br />

nesse olhar terno que o perdão exprime;<br />

perdão te peço, Querubim celeste;<br />

une o culpado, mas perdoa o crime.<br />

Rola <strong>de</strong> bosque, da inocência ao ninho<br />

eu cego o verme da paixão levei-te;<br />

anjo risonho, sobre a fronte lisa<br />

a ruga acerba do cismar tracei-te!<br />

Turvei-te a face, nebulei-te os olhos,<br />

cobri <strong>de</strong> espinhos o teu santo leito,<br />

e da tristeza, que a minh'alma encobre,<br />

parte dos goivos te lancei no peito!<br />

Mas Deus puniu-me...! Da sentença austera<br />

tu escrevias a primeira parte,<br />

quando a meus rogos <strong>de</strong> extremoso amante<br />

só respondias -eu não posso amar-te!<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

79

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!