Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

cervantesvirtual.com
from cervantesvirtual.com More from this publisher
18.04.2013 Views

É uma visão divina, que a vida nos ilumina, e nos segue até morrer; mas também o porto amigo onde nos braços consigo a amizade nos levou, e d'alma, toda chagada, as feridas consternada uma por uma curou; onde destras apertamos em que pasmados achamos o calor só natural a chama que o céu ateia, quando veia, sobre veia sente sangue paternal; essa terra benfazeja, inda que pátria não seja, igual atrativo tem; e o estranho protegido pode, sendo agradecido, chamá-la pátria também. lisonja, adulação, alcunhe embora, o vulgo o puro amor que te consagro, o culto que te rendo; recebeste o meu pranto no teu seio, da fortuna enjeitado perfilhaste-me, pátria, teu filho sou, e assim te adoro. Do retiro claustral cisne sagrado o vôo desprendeu! À morte de Junqueira Freire Poesias completas 72

Enchendo os ares pátrios de harmonias cantou, depois morreu! Mistério! -Ave criada entre os altares, acaso a turba impura do mundo com seu bafo envenenado abriu-te a sepultura?! Punindo-te o desprezo de seus lares o Anjo de Sião por ordem do Senhor tão presto deu-te a morte, em punição?! Preso o espírito, acaso, nas cadeias do voto eterno e forte teve, na luta acerba espedaçando-as, por liberdade a morte?! Mistério! -Respeitemos nesta campa decretos divinais! Sobre as cinzas do morto ao vivo toca o pranto e nada mais! Rei que fora! -Era um servo que devia a vida ao Senhor seu! Seu Senhor o chamou, a voz ouviu-lhe e pronto obedeceu! Duvidais do que digo? -Erguei a campa... Esse corpo o que é?! E negareis ainda que era um servo?! Aí tendes a libré! Viveu como poeta, de poeta deixou o canto e a fama. inda no crânio morto tem -bem vedes- do louro verde a rama! Poesias completas 73

Enchendo os ares pátrios <strong>de</strong> harmonias<br />

cantou, <strong>de</strong>pois morreu!<br />

Mistério! -Ave criada entre os altares,<br />

acaso a turba impura<br />

do mundo com seu bafo envenenado<br />

abriu-te a sepultura?!<br />

Punindo-te o <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> seus lares<br />

o Anjo <strong>de</strong> Sião<br />

por or<strong>de</strong>m do Senhor tão presto <strong>de</strong>u-te<br />

a morte, em punição?!<br />

Preso o espírito, acaso, nas ca<strong>de</strong>ias<br />

do voto eterno e forte<br />

teve, na luta acerba espedaçando-as,<br />

por liberda<strong>de</strong> a morte?!<br />

Mistério! -Respeitemos nesta campa<br />

<strong>de</strong>cretos divinais!<br />

Sobre as cinzas do morto ao vivo toca<br />

o pranto e nada mais!<br />

Rei que fora! -Era um servo que <strong>de</strong>via<br />

a vida ao Senhor seu!<br />

Seu Senhor o chamou, a voz ouviu-lhe<br />

e pronto obe<strong>de</strong>ceu!<br />

Duvidais do que digo? -Erguei a campa...<br />

Esse corpo o que é?!<br />

E negareis ainda que era um servo?!<br />

Aí ten<strong>de</strong>s a libré!<br />

Viveu como poeta, <strong>de</strong> poeta<br />

<strong>de</strong>ixou o canto e a fama.<br />

inda no crânio morto tem -bem ve<strong>de</strong>s-<br />

do louro ver<strong>de</strong> a rama!<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

73

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!