Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
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O que eu sou -<strong>de</strong>cifrai- sou todo anelos.<br />
Se uma palavra <strong>de</strong>r-me, à semelhança<br />
das palavras, do céu,<br />
do coração rasgai-me o tênue véu,<br />
e aí le<strong>de</strong> o que sou -sou todo esp'rança!<br />
Contemplai a que amo. -Ora em langores<br />
quase <strong>de</strong>sfalecida;<br />
ora toda expressão, incêndio e vida-<br />
e dir-me-eis se hei-<strong>de</strong>, ou não, morrer <strong>de</strong> amores.<br />
Homens! Eis o que sou! -Dos trovadores<br />
o que mais sofre e sente;<br />
por este coração, por esta mente,<br />
sou todo inspirações, sou todo amores!<br />
Mas perguntais-me vós, porqu'inda triste<br />
vou caminho da vida pensativo,<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> o ente achar, que único <strong>de</strong>ve<br />
por áureas sendas ao porvir levar-me?!<br />
Por quê? Porque inda resta-me a incerteza,<br />
essa inimiga certa da esperança,<br />
que se me antolha horrenda em meus transportes!<br />
Di-lo-ei todavia, homens (embora<br />
traia o meu coração neste segredo,<br />
que a mim só confiou), di-lo-ei -é força,<br />
pois o exigis, é força confessar-vo-lo-<br />
o que serei, ouvi... é vaticínio<br />
<strong>de</strong> um coração, a quem tornou profeta<br />
a luz <strong>de</strong> uns olhos lá do céu <strong>de</strong>scidos.<br />
III<br />
<strong>Poesias</strong> completas<br />
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