Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

cervantesvirtual.com
from cervantesvirtual.com More from this publisher
18.04.2013 Views

Descidas lá do céu, Virgens do Empírio, têm vestes de cristal, temem manchá-las. Bem fechadas nos claustros de meus olhos, dentro em meu coração hei de escondê-las, guardá-las bem de vós, contentes, hei-de, porque a dor me não traia neste empenho, zelosa e vigilante sentinela, em meus lábios trazer constante um riso. Hei de fingir-me ante vós, porque sei que o desgraçado, se a desgraça não oculta, é de todos desprezado: Que o feliz, que goza os frutos dos pomares da ventura, não conhece o gosto acerbo da peçonha da amargura; que aos tristes consoladoras, palavras nos lábios seus, são as palavras de Cristo na boca dos Fariseus. Nestes versos vos dou minha vida: Minha vida, mortais, é assim: Ante os homens um riso mentido, longe deles um pranto sem fim. III IV Poesias completas 54

É veneno de arábico aroma, entre fumo sutil disfarçado; é cadáver de carnes despido, com vestidos de gala trajado. É sepulcro, onde, o escárnio da morte, mausoléu majestoso se arvora; morte, trevas e terra por dentro: Vida, luzes e pompa por fora. Nestes versos vos dou minha vida, minha vida, mortais, é assim: Ante os homens um riso mentido, longe deles um pranto sem fim. Homens, que vedes-me a passar sombrio pela estrada que vai da vida à morte! Talvez buscais saber meu que de vida- o que sou, que serei, qual é meu norte. Caso oculto de amor -certo- supondes, que um moço trovador é sempre amores: nem pode outro condão sobre seu peito, nem se acurva -tão cedo- a outras dores. Julgais bem; -porém pouco... que em minha alma O que sou, e o que serei! 3 I 3 Poesia de Antônio Joaquim Rodrigues da Costa oferecida a Laurindo Rabelo. Poesias completas 55

Descidas lá do céu, Virgens do Empírio,<br />

têm vestes <strong>de</strong> cristal, temem manchá-las.<br />

Bem fechadas nos claustros <strong>de</strong> meus olhos,<br />

<strong>de</strong>ntro em meu coração hei <strong>de</strong> escondê-las,<br />

guardá-las bem <strong>de</strong> vós, contentes, hei-<strong>de</strong>,<br />

porque a dor me não traia neste empenho,<br />

zelosa e vigilante sentinela,<br />

em meus lábios trazer constante um riso.<br />

Hei <strong>de</strong> fingir-me ante vós,<br />

porque sei que o <strong>de</strong>sgraçado,<br />

se a <strong>de</strong>sgraça não oculta,<br />

é <strong>de</strong> todos <strong>de</strong>sprezado:<br />

Que o feliz, que goza os frutos<br />

dos pomares da ventura,<br />

não conhece o gosto acerbo<br />

da peçonha da amargura;<br />

que aos tristes consoladoras,<br />

palavras nos lábios seus,<br />

são as palavras <strong>de</strong> Cristo<br />

na boca dos Fariseus.<br />

Nestes versos vos dou minha vida:<br />

Minha vida, mortais, é assim:<br />

Ante os homens um riso mentido,<br />

longe <strong>de</strong>les um pranto sem fim.<br />

III<br />

IV<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

54

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!