Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
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minha dor, é morrer longe da pátria,<br />
da mãe, e dos irmãos que tanto adoro.<br />
Quando da pátria me ausentei, não tinha<br />
nada, que lhes <strong>de</strong>ixar, que lhes dissesse<br />
o que eram eles <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> minh'alma.<br />
mendigo, a quem cedi pequena esmola,<br />
<strong>de</strong>u-me quatro sementes <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s;<br />
ao meu jardim doméstico levei-as,<br />
cavei, reguei a terra com meu pranto,<br />
e plantei as sauda<strong>de</strong>s. Soluçando<br />
chamei ali os meus: «Aqui vos <strong>de</strong>ixo<br />
(disse apontando à plantação) em flores<br />
minh'alma toda inteira; aqui vos <strong>de</strong>ixo<br />
um tesouro enterrado. Jóias, oiro,<br />
riquezas, não, não tem, porém na terra<br />
estéril não será.» Ondas <strong>de</strong> pranto<br />
afogaram-me a voz: houve silêncio;<br />
palpei <strong>de</strong> novo o chão; vi que <strong>de</strong> novo<br />
cavado estava! A terra se afundara,<br />
e as sementes nadavam sobre lágrimas,<br />
que minha mãe e minha irmã choravam...<br />
Replantei-as, orei, beijei a terra,<br />
e parti... Trouxe d'alma só meta<strong>de</strong>;<br />
e o coração?... <strong>de</strong>ixei-o num abraço.<br />
Certo estou <strong>de</strong> que a planta, já crescida,<br />
III<br />
IV<br />
<strong>Poesias</strong> completas<br />
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