Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Eis aqui Labatut. Aguiar, Siqueira, Jacome, abraçai vosso irmão d'armas! Eis vosso General!! Mortos soldados, que sem campas errais, das andrajosas fardas que vos serviram de mortalha a terra sacudi! vinde prostrar-vos aqui em continência ante seus manes, veteranos da nossa independência! Braços cortados do possante corpo que o trono levantou da liberdade, vinde, vinde verter sobre esta pedra uma lágrima, vinde! Enfeita o pranto um semblante tostado nos combates, quando é vertido assim. Povo, se és grato, só te não satisfaças com trazê-lo, dentro em teu coração leva este túmulo. Já do batel da vida sinto tomar-me o leme a mão da morte: E perto avisto o porto imenso nebuloso, e sempre noite, VII Adeus ao mundo I Poesias completas 46
chamado -Eternidade! Como é tão belo o sol! Quantas grinaldas não tem de mais a aurora!! Como requinta o brilho a luz dos astros! como são recendentes os aromas que se exalam das flores! Que harmonia não se desfruta no cantar das aves, no embater do mar, e das cascatas, no sussurrar dos límpidos ribeiros, na natureza inteira, quando os olhos do moribundo, quase extintos, bebem seus últimos encantos! Quando eu guardava, ao menos na esperança, para o dia seguinte o sol de um dia, de uma noite o luar para outras noites; quando durar contava mais que um prado, mais que o mar, que a cascata erguer meu canto, e murmurá-lo num jardim de amores; quando julgava a natureza minha, desdenhava os seus dons: ei-la vingada: Cedo de vermes rojarei ludíbrio, e vida alardearão fracos arbustos sobre meu lar de morto! A noite, o dia, o inverno, o verão, a primavera, a aurora, a tarde, as nuvens, e as estrelas, a rir-se passarão sobre meus ossos! Não importa: não é perder o mundo o que me azeda os pálidos instantes que conto por gemidos. Meu tormento, II Poesias completas 47
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chamado -Eternida<strong>de</strong>!<br />
Como é tão belo o sol! Quantas grinaldas<br />
não tem <strong>de</strong> mais a aurora!!<br />
Como requinta o brilho a luz dos astros!<br />
como são recen<strong>de</strong>ntes os aromas<br />
que se exalam das flores! Que harmonia<br />
não se <strong>de</strong>sfruta no cantar das aves,<br />
no embater do mar, e das cascatas,<br />
no sussurrar dos límpidos ribeiros,<br />
na natureza inteira, quando os olhos<br />
do moribundo, quase extintos, bebem<br />
seus últimos encantos!<br />
Quando eu guardava, ao menos na esperança,<br />
para o dia seguinte o sol <strong>de</strong> um dia,<br />
<strong>de</strong> uma noite o luar para outras noites;<br />
quando durar contava mais que um prado,<br />
mais que o mar, que a cascata erguer meu canto,<br />
e murmurá-lo num jardim <strong>de</strong> amores;<br />
quando julgava a natureza minha,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhava os seus dons: ei-la vingada:<br />
Cedo <strong>de</strong> vermes rojarei ludíbrio,<br />
e vida alar<strong>de</strong>arão fracos arbustos<br />
sobre meu lar <strong>de</strong> morto! A noite, o dia,<br />
o inverno, o verão, a primavera,<br />
a aurora, a tar<strong>de</strong>, as nuvens, e as estrelas,<br />
a rir-se passarão sobre meus ossos!<br />
Não importa: não é per<strong>de</strong>r o mundo<br />
o que me azeda os pálidos instantes<br />
que conto por gemidos. Meu tormento,<br />
II<br />
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