Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

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18.04.2013 Views

Eis aqui Labatut. Aguiar, Siqueira, Jacome, abraçai vosso irmão d'armas! Eis vosso General!! Mortos soldados, que sem campas errais, das andrajosas fardas que vos serviram de mortalha a terra sacudi! vinde prostrar-vos aqui em continência ante seus manes, veteranos da nossa independência! Braços cortados do possante corpo que o trono levantou da liberdade, vinde, vinde verter sobre esta pedra uma lágrima, vinde! Enfeita o pranto um semblante tostado nos combates, quando é vertido assim. Povo, se és grato, só te não satisfaças com trazê-lo, dentro em teu coração leva este túmulo. Já do batel da vida sinto tomar-me o leme a mão da morte: E perto avisto o porto imenso nebuloso, e sempre noite, VII Adeus ao mundo I Poesias completas 46

chamado -Eternidade! Como é tão belo o sol! Quantas grinaldas não tem de mais a aurora!! Como requinta o brilho a luz dos astros! como são recendentes os aromas que se exalam das flores! Que harmonia não se desfruta no cantar das aves, no embater do mar, e das cascatas, no sussurrar dos límpidos ribeiros, na natureza inteira, quando os olhos do moribundo, quase extintos, bebem seus últimos encantos! Quando eu guardava, ao menos na esperança, para o dia seguinte o sol de um dia, de uma noite o luar para outras noites; quando durar contava mais que um prado, mais que o mar, que a cascata erguer meu canto, e murmurá-lo num jardim de amores; quando julgava a natureza minha, desdenhava os seus dons: ei-la vingada: Cedo de vermes rojarei ludíbrio, e vida alardearão fracos arbustos sobre meu lar de morto! A noite, o dia, o inverno, o verão, a primavera, a aurora, a tarde, as nuvens, e as estrelas, a rir-se passarão sobre meus ossos! Não importa: não é perder o mundo o que me azeda os pálidos instantes que conto por gemidos. Meu tormento, II Poesias completas 47

chamado -Eternida<strong>de</strong>!<br />

Como é tão belo o sol! Quantas grinaldas<br />

não tem <strong>de</strong> mais a aurora!!<br />

Como requinta o brilho a luz dos astros!<br />

como são recen<strong>de</strong>ntes os aromas<br />

que se exalam das flores! Que harmonia<br />

não se <strong>de</strong>sfruta no cantar das aves,<br />

no embater do mar, e das cascatas,<br />

no sussurrar dos límpidos ribeiros,<br />

na natureza inteira, quando os olhos<br />

do moribundo, quase extintos, bebem<br />

seus últimos encantos!<br />

Quando eu guardava, ao menos na esperança,<br />

para o dia seguinte o sol <strong>de</strong> um dia,<br />

<strong>de</strong> uma noite o luar para outras noites;<br />

quando durar contava mais que um prado,<br />

mais que o mar, que a cascata erguer meu canto,<br />

e murmurá-lo num jardim <strong>de</strong> amores;<br />

quando julgava a natureza minha,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhava os seus dons: ei-la vingada:<br />

Cedo <strong>de</strong> vermes rojarei ludíbrio,<br />

e vida alar<strong>de</strong>arão fracos arbustos<br />

sobre meu lar <strong>de</strong> morto! A noite, o dia,<br />

o inverno, o verão, a primavera,<br />

a aurora, a tar<strong>de</strong>, as nuvens, e as estrelas,<br />

a rir-se passarão sobre meus ossos!<br />

Não importa: não é per<strong>de</strong>r o mundo<br />

o que me azeda os pálidos instantes<br />

que conto por gemidos. Meu tormento,<br />

II<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

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