Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
tanta fertilidade ao pátrio solo, seca total sorveu! Por que, ó Pátria, não pôde o pranto teu de novo enchê-lo? Por que não pôde férvido caindo sobre a fatal mordaça derretê-la, e de novo acordar da tuba as vozes? As entranhas da morte são de pedra; coração jamais teve a hidra ímpia; carnes humanas come, bebe lágrimas; só respira suspiros dolorosos e ais agonizantes; comovê-la não pode a tua dor aflita, Pátria! Hás de vê-la dormindo aos ecos dela, e o mostro rir-se de prazer cruento ao ver o pranto teu banhar-lhe o sólio. Mas não te desesperes, Mãe querida, há nos cofres da dor certos segredos que os míseros só sabem. São amigos, amigos bem fiéis da mágoa os filhos. Um gemido consola outro gemido, uma lágrima outra. Desde o berço para eterno chorar n'alma cavou-me da desgraça o punhal fontes de pranto, que de Assis pela morte transbordaram. Pátria! seremos sócios na amargura! baga com baga juntas, nossas lágrimas- cristalina torrente de saudades- unidas regarão do Herói a campa. Fatal pressentimento deste golpe III Poesias completas 36
três vezes tive; adivinhei três vezes do sábio moço a prematura morte! Eu o vi inda imberbe num combate desses em que são almas -combatentes, e a intel'gência -espada: os sacros foros da ciência da vida defendia, dando vida à ciência. Extasiado, qual uma ave rasteira, que contempla condor gigante, que nos vôos roça no semblante do sol soberbas asas, bebi-lhe os rasgos da atrevida mente; e concentrado em mim, disse comigo:- Não pode viver muito! Correm tempos: Para o campo da imprensa denodado se arroja o lidador. D'entusiasmo aceso e de prazer, banhei minh'alma na luz dos seus escritos. Cada linha que deles lia atento me mostrava uma estrada de glória ao novo Gênio! Cada palavra sua era uma pegada do progresso a correr, e cada sílaba de patriotismo ardente uma centelha que do saber ao sopro cintilava. Vi-o, e pasmei de o ver, assim tão jovem; IV V Poesias completas 37
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tanta fertilida<strong>de</strong> ao pátrio solo,<br />
seca total sorveu! Por que, ó Pátria,<br />
não pô<strong>de</strong> o pranto teu <strong>de</strong> novo enchê-lo?<br />
Por que não pô<strong>de</strong> férvido caindo<br />
sobre a fatal mordaça <strong>de</strong>rretê-la,<br />
e <strong>de</strong> novo acordar da tuba as vozes?<br />
As entranhas da morte são <strong>de</strong> pedra;<br />
coração jamais teve a hidra ímpia;<br />
carnes humanas come, bebe lágrimas;<br />
só respira suspiros dolorosos<br />
e ais agonizantes; comovê-la<br />
não po<strong>de</strong> a tua dor aflita, Pátria!<br />
Hás <strong>de</strong> vê-la dormindo aos ecos <strong>de</strong>la,<br />
e o mostro rir-se <strong>de</strong> prazer cruento<br />
ao ver o pranto teu banhar-lhe o sólio.<br />
Mas não te <strong>de</strong>sesperes, Mãe querida,<br />
há nos cofres da dor certos segredos<br />
que os míseros só sabem. São amigos,<br />
amigos bem fiéis da mágoa os filhos.<br />
Um gemido consola outro gemido,<br />
uma lágrima outra. Des<strong>de</strong> o berço<br />
para eterno chorar n'alma cavou-me<br />
da <strong>de</strong>sgraça o punhal fontes <strong>de</strong> pranto,<br />
que <strong>de</strong> Assis pela morte transbordaram.<br />
Pátria! seremos sócios na amargura!<br />
baga com baga juntas, nossas lágrimas-<br />
cristalina torrente <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s-<br />
unidas regarão do Herói a campa.<br />
Fatal pressentimento <strong>de</strong>ste golpe<br />
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