Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
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Tudo é dor, tudo agonia,<br />
e queixumes contra o fado;<br />
suspiros e pranto ar<strong>de</strong>nte,<br />
<strong>de</strong>sespero no presente,<br />
sauda<strong>de</strong>s pelo passado!...<br />
Té que vai <strong>de</strong>sabrochando,<br />
pelo pranto d'aflição<br />
regada continuamente,<br />
do <strong>de</strong>sengano a semente<br />
nas cinzas do coração.<br />
Ergue a planta a fronte altiva,<br />
mas <strong>de</strong> tristonha aparência;<br />
folhas, tronco, é toda luto;<br />
tem mirrado raro fruto;<br />
esse fruto -é a experiência.-<br />
Das ruínas levantado,<br />
vê-se o espírito surgir;<br />
vem com passo fatigado,<br />
como guerreiro cansado,<br />
à sua sombra dormir.<br />
Presto acorda, e então, ce<strong>de</strong>ndo<br />
da fome aos cruéis assomos,<br />
alguns ramos segurando,<br />
vai colhendo, e vai tragando<br />
os amargos negros pomos.<br />
Comeu, ergueu-se, é já outro!<br />
foi-se do rosto a meiguice!<br />
do tronco um ramo quebrado<br />
serve ao triste <strong>de</strong> cajado-<br />
eis a imagem da velhice.<br />
<strong>Poesias</strong> completas<br />
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