Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

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18.04.2013 Views

Eu era ente da terra, eras um querubim! Deus tirou-te dos seus anjos, não nasceste para mim. Perdoa a meus amores esta estulta elevação; perdão para os meus carinhos, aos meus amores -perdão! O crime que cometi foi muito punido já, castigou-me o teu desprezo, maior castigo não há. Castigado, reconheço quanto é justa a punição. Perdão -para os meus carinhos, aos meus amores -perdão! Pouca vida já me resta! Eu sinto que esta amargura tão intensa muito cedo há de abrir-me a sepultura. Do crime que fiz de amar-te, vem dar-me a absolvição: Perdão -para os meus carinhos, aos meus amores -perdão! Se me adoras, se me queres, como dizes com ardor, dá-me um beijo tão-somente em prova do teu amor... A paixão em que me abraso Poesias completas 182

dilacera o peito meu... Dá-me prazer, dá-me vida, dá-me, dá-me, um beijo teu. Amor anima e acende em chamas do céu nascidas... Dois corações num abraço, em um beijo duas vidas. Uma vida que me falta..., a metade do meu ser quero num beijo amoroso dos teus lábios receber. Sumiu-se, mas ainda escuto, seus gemidos, que aflição! E esta mancha deste sangue não se apaga. Oh! maldição! Espectro, descansa, que ao triste homicida as dores do inferno começam na vida. Ei-lo ali com o mesmo ferro. Oh! que terror! que tortura! Cavando junto a meu leito, a abrir-me a sepultura. Espectro, piedade; não caves assim... Eu dei-te um só golpe tu mil sobre mim. Acabou-se a minha crença, sem crença devo morrer: Quando deixei de crer nela, Poesias completas 183

dilacera o peito meu...<br />

Dá-me prazer, dá-me vida,<br />

dá-me, dá-me, um beijo teu.<br />

Amor anima e acen<strong>de</strong><br />

em chamas do céu nascidas...<br />

Dois corações num abraço,<br />

em um beijo duas vidas.<br />

Uma vida que me falta...,<br />

a meta<strong>de</strong> do meu ser<br />

quero num beijo amoroso<br />

dos teus lábios receber.<br />

Sumiu-se, mas ainda escuto,<br />

seus gemidos, que aflição!<br />

E esta mancha <strong>de</strong>ste sangue<br />

não se apaga. Oh! maldição!<br />

Espectro, <strong>de</strong>scansa,<br />

que ao triste homicida<br />

as dores do inferno<br />

começam na vida.<br />

Ei-lo ali com o mesmo ferro.<br />

Oh! que terror! que tortura!<br />

Cavando junto a meu leito,<br />

a abrir-me a sepultura.<br />

Espectro, pieda<strong>de</strong>;<br />

não caves assim...<br />

Eu <strong>de</strong>i-te um só golpe<br />

tu mil sobre mim.<br />

Acabou-se a minha crença,<br />

sem crença <strong>de</strong>vo morrer:<br />

Quando <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> crer nela,<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

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