Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

cervantesvirtual.com
from cervantesvirtual.com More from this publisher
18.04.2013 Views

corrente do ribeiro, das flores o grato cheiro nada achava então suave era qual dos mortos ave à sombra de seu salgueiro. Toquei a laje pesada penetrado de agonia, sentiu essa pedra fria minha alma, triste, gelada. Eis que a voz descompassada ouvi do canto da morte; pareceu-me em um transporte seu triste acento escutando, que também 'stava chorando, lamentando a minha sorte. Então, já desesperado, entregue a pungente dor, conheci todo o rigor de meu desumano fado; e nesse penoso estado, à sombra desse salgueiro que me era tão lisonjeiro por exprimir minha sorte, em tristes hinos de morte chorei o meu cativeiro. Glosa Mote Poesias completas 172

Quebrou amor por despeito as cordas da minha lira. Porque me não viu sujeito de Marília aos ternos braços, de minha ventura os laços quebrou amor por despeito. Com isto não satisfeito, cego nume aceso em ira, do estro o fogo me tira e desde o fatal momento rebentaram sem alento as cordas da minha lira. Um cartucho de confeito, num dia de patuscada, nas ventas da minha amada, quebrou amor por despeito. Ela, vendo o tal sujeito, com uma pedra lhe atira; mas amor, p'ra que o não fira, faz o corpo desviar e a pedra foi quebrar as cordas da minha lira. Pagode sem bebedeira Não é coisa de rapazes. Glosa Mote Poesias completas 173

corrente do ribeiro,<br />

das flores o grato cheiro<br />

nada achava então suave<br />

era qual dos mortos ave<br />

à sombra <strong>de</strong> seu salgueiro.<br />

Toquei a laje pesada<br />

penetrado <strong>de</strong> agonia,<br />

sentiu essa pedra fria<br />

minha alma, triste, gelada.<br />

Eis que a voz <strong>de</strong>scompassada<br />

ouvi do canto da morte;<br />

pareceu-me em um transporte<br />

seu triste acento escutando,<br />

que também 'stava chorando,<br />

lamentando a minha sorte.<br />

Então, já <strong>de</strong>sesperado,<br />

entregue a pungente dor,<br />

conheci todo o rigor<br />

<strong>de</strong> meu <strong>de</strong>sumano fado;<br />

e nesse penoso estado,<br />

à sombra <strong>de</strong>sse salgueiro<br />

que me era tão lisonjeiro<br />

por exprimir minha sorte,<br />

em tristes hinos <strong>de</strong> morte<br />

chorei o meu cativeiro.<br />

Glosa<br />

Mote<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

172

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!