Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Glosas Quem Feliz-asno se chama de-certo é asno feliz. Se Camões cantou Gama por seus feitos de valor, também merece um cantor quem Feliz-asno se chama. Qualquer burro pela lama enterra pata e nariz, mas este, que com ardis chegou a ser senador, é besta d'alto primor, é decerto asno feliz. Beijo a mão que me condena a ser sempre desgraçado; obedeço ao meu destino, Glosa Mote Glosa Mote Poesias completas 166
espeito o poder do Fado. (Pe. José Maurício) Como a adorei, não exprime, não diz humana linguagem; ninguém traçar pode a imagem; daquele amor tão sublime! A cruel, por este crime, eterno pranto me ordena. E eu, vítima da pena da minha amorosa ofensa, sem argüir a sentença beijo a mão que me condena! Sentindo a perseverança da paixão que me domina, de achar ao mal medicina não alimento esperança, não sinto a menor mudança neste amor tão malfadado; se este amor exagerado a mil desgraças me liga, esta constança me obriga a ser sempre desgraçado! Há um destino. -A razão da paixão na imensa vaga de pronto seu facho apaga, e nos deixa a escuridão! Desse destino a impulsão eu sinto se me examino: sem luz, sem guia e sem tino, nada cogito, nem quero; não penso, não delibero, obedeço ao meu destino. Poesias completas 167
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Glosas<br />
Quem Feliz-asno se chama<br />
<strong>de</strong>-certo é asno feliz.<br />
Se Camões cantou Gama<br />
por seus feitos <strong>de</strong> valor,<br />
também merece um cantor<br />
quem Feliz-asno se chama.<br />
Qualquer burro pela lama<br />
enterra pata e nariz,<br />
mas este, que com ardis<br />
chegou a ser senador,<br />
é besta d'alto primor,<br />
é <strong>de</strong>certo asno feliz.<br />
Beijo a mão que me con<strong>de</strong>na<br />
a ser sempre <strong>de</strong>sgraçado;<br />
obe<strong>de</strong>ço ao meu <strong>de</strong>stino,<br />
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