Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes

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18.04.2013 Views

Ai quando, bem adorado, minha alma daqui se for, disfarça teu dissabor, resiste à força veemente, mas nunca risques da mente lembranças do nosso amor. Nada tenho que deixar-te de fortuna nem de glória, nada me aponta a memória que possa morto legar-te; se nada deve ficar-te mais que saudades e dor, bálsamo consolador à dolorosa ferida hão de ser-te nesta vida lembranças do nosso amor. Lembrar um bem adorado na dor da saudade ausente, é mesmo sê-lo presente, inda que seja passado. ser por ti sempre lembrado, como em vida morto for, por influxo encantador deste mistério profundo, hão de ser-te nesse mundo lembranças do nosso amor. Despe as nuvens que encobrem sol da minha f'licidade Ao avistar o Rio de Janeiro Poesias completas 164

que abre a flor dos meus prazeres santo orvalho da amizade. Respiro os ares da pátria contemplo os encantos seus; os meus contentes me abraçam, eu contente abraço os meus. Meu Deus, meu Deus, não consintas que a pátria torne a deixar; que da segunda ferida talvez não possa escapar! Se no íntimo a primeira feria-me d'alma a raiz, bem pode inteira cortá-la segunda na cicatriz. Completa a cura, não deixes de novo o mal renascer; que amarga mais que a desgraça a negaça do prazer. Não suceda à cruz rojada mais pesada nova cruz, não condenes mais às trevas o cego a quem deste a luz. Poesias completas 165

Ai quando, bem adorado,<br />

minha alma daqui se for,<br />

disfarça teu dissabor,<br />

resiste à força veemente,<br />

mas nunca risques da mente<br />

lembranças do nosso amor.<br />

Nada tenho que <strong>de</strong>ixar-te<br />

<strong>de</strong> fortuna nem <strong>de</strong> glória,<br />

nada me aponta a memória<br />

que possa morto legar-te;<br />

se nada <strong>de</strong>ve ficar-te<br />

mais que sauda<strong>de</strong>s e dor,<br />

bálsamo consolador<br />

à dolorosa ferida<br />

hão <strong>de</strong> ser-te nesta vida<br />

lembranças do nosso amor.<br />

Lembrar um bem adorado<br />

na dor da sauda<strong>de</strong> ausente,<br />

é mesmo sê-lo presente,<br />

inda que seja passado.<br />

ser por ti sempre lembrado,<br />

como em vida morto for,<br />

por influxo encantador<br />

<strong>de</strong>ste mistério profundo,<br />

hão <strong>de</strong> ser-te nesse mundo<br />

lembranças do nosso amor.<br />

Despe as nuvens que encobrem<br />

sol da minha f'licida<strong>de</strong><br />

Ao avistar o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>Poesias</strong> completas<br />

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