Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Ai quando, bem adorado, minha alma daqui se for, disfarça teu dissabor, resiste à força veemente, mas nunca risques da mente lembranças do nosso amor. Nada tenho que deixar-te de fortuna nem de glória, nada me aponta a memória que possa morto legar-te; se nada deve ficar-te mais que saudades e dor, bálsamo consolador à dolorosa ferida hão de ser-te nesta vida lembranças do nosso amor. Lembrar um bem adorado na dor da saudade ausente, é mesmo sê-lo presente, inda que seja passado. ser por ti sempre lembrado, como em vida morto for, por influxo encantador deste mistério profundo, hão de ser-te nesse mundo lembranças do nosso amor. Despe as nuvens que encobrem sol da minha f'licidade Ao avistar o Rio de Janeiro Poesias completas 164
que abre a flor dos meus prazeres santo orvalho da amizade. Respiro os ares da pátria contemplo os encantos seus; os meus contentes me abraçam, eu contente abraço os meus. Meu Deus, meu Deus, não consintas que a pátria torne a deixar; que da segunda ferida talvez não possa escapar! Se no íntimo a primeira feria-me d'alma a raiz, bem pode inteira cortá-la segunda na cicatriz. Completa a cura, não deixes de novo o mal renascer; que amarga mais que a desgraça a negaça do prazer. Não suceda à cruz rojada mais pesada nova cruz, não condenes mais às trevas o cego a quem deste a luz. Poesias completas 165
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Ai quando, bem adorado,<br />
minha alma daqui se for,<br />
disfarça teu dissabor,<br />
resiste à força veemente,<br />
mas nunca risques da mente<br />
lembranças do nosso amor.<br />
Nada tenho que <strong>de</strong>ixar-te<br />
<strong>de</strong> fortuna nem <strong>de</strong> glória,<br />
nada me aponta a memória<br />
que possa morto legar-te;<br />
se nada <strong>de</strong>ve ficar-te<br />
mais que sauda<strong>de</strong>s e dor,<br />
bálsamo consolador<br />
à dolorosa ferida<br />
hão <strong>de</strong> ser-te nesta vida<br />
lembranças do nosso amor.<br />
Lembrar um bem adorado<br />
na dor da sauda<strong>de</strong> ausente,<br />
é mesmo sê-lo presente,<br />
inda que seja passado.<br />
ser por ti sempre lembrado,<br />
como em vida morto for,<br />
por influxo encantador<br />
<strong>de</strong>ste mistério profundo,<br />
hão <strong>de</strong> ser-te nesse mundo<br />
lembranças do nosso amor.<br />
Despe as nuvens que encobrem<br />
sol da minha f'licida<strong>de</strong><br />
Ao avistar o Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
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