Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes Poesias líricas - Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes
Amarga como o fel sempre a verdade Quando do amor é o erro, mas não cospem-na Lábios que a ingratidão beijar rejeitam. Sim, hei de consumar o sacrifício; nem súplicas, nem queixas há de ouvir-me; do Coração no fundo hei de trancá-las ao vê-la, ao vê-los, e saudar contente do amor de ambas a ventura e os gozos! Daquele olhar d'arcanjo cujos raios, como punhais de fogo, do coração as fibras me laceram, hei de fitar a luz sem perturbar-me; e morrer impassível, quando nos olhos dele minha vida em delíquio amoroso depuserem! Nobre altivez as preces me proíbe, assim como a razão proíbe as queixas que lhe posso pedir que dar-me possa? Desejava um amor puro, espontâneo, desses que nascem nos segredos d'alma que ao simples choque de um olhar acordam para não mais dormir. Queria os vôos desse amor desvelado, procurando dentro em meu coração fazer um ninho; III IV Poesias completas 156
observar em êxtase os milagres do proteísmo ser; colhê-lo em rosas nas chamas do rubor que acende um beijo senti-lo gelo após alguma ausência num susto de saudades, e no doce apertar de um longo abraço no seio me cair, tépida lágrima. Não me pode dar tanto. Da vontade os domínios amor nas asas prende; se quando se quisesse amor nascesse, quando se não quisesse amor findara! Inda que a minhas preces comovida, dissesse-me tudo que desejo agora, faltava em tudo o mel que amor destila e unicamente amor!... Anjo inocente, não queixo-me de ti, regem os fados das sensações o mundo; aos afetos o céu a cada um deu seu destino; o tesouro que guardas no teu seio Foi destinado a outrem; os desígnios do céu foram cumpridos e assim tu, sem querer, me deste a morte!... Grosseiros corações, almas estreitas mancham o querubim que os encantara, porque as asas lhe nega; generoso, inimitável, crescente o meu afeto das ânsias no martírio se acrisola; por cada golpe que me dás no peito, nova chama de amor me acendes n'alma, extinta a minha última esperança no árido deserto em que me arrojas. Poesias completas 157
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observar em êxtase os milagres<br />
do proteísmo ser; colhê-lo em rosas<br />
nas chamas do rubor que acen<strong>de</strong> um beijo<br />
senti-lo gelo após alguma ausência<br />
num susto <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>s,<br />
e no doce apertar <strong>de</strong> um longo abraço<br />
no seio me cair, tépida lágrima.<br />
Não me po<strong>de</strong> dar tanto. Da vonta<strong>de</strong><br />
os domínios amor nas asas pren<strong>de</strong>;<br />
se quando se quisesse amor nascesse,<br />
quando se não quisesse amor findara!<br />
Inda que a minhas preces comovida,<br />
dissesse-me tudo que <strong>de</strong>sejo agora,<br />
faltava em tudo o mel que amor <strong>de</strong>stila<br />
e unicamente amor!...<br />
Anjo inocente,<br />
não queixo-me <strong>de</strong> ti, regem os fados<br />
das sensações o mundo; aos afetos<br />
o céu a cada um <strong>de</strong>u seu <strong>de</strong>stino;<br />
o tesouro que guardas no teu seio<br />
Foi <strong>de</strong>stinado a outrem;<br />
os <strong>de</strong>sígnios do céu foram cumpridos<br />
e assim tu, sem querer, me <strong>de</strong>ste a morte!...<br />
Grosseiros corações, almas estreitas<br />
mancham o querubim que os encantara,<br />
porque as asas lhe nega; generoso,<br />
inimitável, crescente o meu afeto<br />
das ânsias no martírio se acrisola;<br />
por cada golpe que me dás no peito,<br />
nova chama <strong>de</strong> amor me acen<strong>de</strong>s n'alma,<br />
extinta a minha última esperança<br />
no árido <strong>de</strong>serto em que me arrojas.<br />
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